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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS E AGRÁRIAS


PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS
AGROECOLOGIA

ENTRE IMBUZEIROS E QUIXABEIRAS: O CONHECIMENTO


LOCAL NA CONSTRUÇÃO AGROECOLÓGICA

JOSÉ ROMÉRIO SOARES BRITO

BANANEIRAS - PB
2014
JOSÉ ROMÉRIO SOARES BRITO

ENTRE IMBUZEIROS E QUIXABEIRAS: O CONHECIMENTO


LOCAL NA CONSTRUÇÃO AGROECOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ciências Agrárias
(Agroecologia) do Centro de Ciências
Humanas Sociais e Agrárias da Universidade
Federal da Paraíba, como parte das exigências
para obtenção de título de Meste em Ciências
Agrárias (Agroecologia)

Área de concentração: Agroecologia e


Desenvolvimento Rural Sustentável

Orientador: Prof. Dr. Daniel Duarte Pereira

Bananeiras – Paraíba
2014
Ficha Catalográfica elaborada na Seção de Processos Técnicos
Biblioteca Setorial de Bananeiras UFPB/CCHSA
Bibliotecária - Documentalista: KATIA FÉLIX DA SILVA – CRB 15/505

B562e Brito, José Romério Soares.

Entre imbuzeiros e quixabeiras: o conhecimento local na


construção agroecológica. /José Romério Soares Brito. –
Bananeiras, 2014.

140f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Duarte Pereira


Dissertação (Ciências Agrárias). CCHSA – UFPB.

1. Semiárido 2. Genealogia 3. .Saber local 4. Caatinga I.


Título.

UFPB/CCHSA/BS CDU: 504(043)


ENTRE IMBUZEIROS E QUIXABEIRAS: O CONHECIMENTO LOCAL NA
CONSTRUÇÃO AGROECOLÓGICA

JOSÉ ROMÉRIO SOARES BRITO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ciências Agrárias
(Agroecologia) do Centro de Ciências
Humanas Sociais e Agrárias da Universidade
Federal da Paraíba, como parte das exigências
para obtenção de título de Meste em Ciências
Agrárias (Agroecologia)

Dissertação aprovada em 29 de Agosto de 2014

Comissão Examinadora

________________________________________________
Prof. Dr. Daniel Duarte Pereira – UFPB/Campus II
Orientador

________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Eduardo de Araújo – UFPB/Campus III

_______________________________________________
Dra. Jucilene Silva Araújo – INSA/MCTI

________________________________________________
Prof. Dr. José Jonas Duarte da Costa – UFPB/CAMPUS I
“Quando as tiras do véu do pensamento
Desenrolam-se dentro de um espaço
Adquirem poderes quando eu passo
Pela terra solar dos Cariris
Há uma pedra estranha que me diz
Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé”

Zé Ramalho

iii
Dedico a meus pais, minha esposa e filhos. E a todos
aqueles que, perto ou longe, torceram pela realização
deste sonho.

iv
AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre a frente da minha vida guiando meus passos e ensinando-me a
buscar um caminho que conduza-nos a um mundo justo e perfeito

Ao Professor Daniel Duarte Pereira pela amizade, confiança e orientação

Aos componentes da Comissão Examinadora Professor Dr. Alexandre Eduardo de


Araújo, Pesquisadora Dra. Jucilene Silva Araújo, Professor Dr. José Jonas Duarte da
Costa pelas valiosas contribuições e por seus olhares sensíveis e perspicazes neste
trabalho, assim como são sensíveis e perspicazes os olhares das pessoas simples que
fazem agroecologia, sem terem a noção científica que já estão fazendo

A Coordenação do PPGCAG em especial ao Professor Dr. Fillipi Silveira Marini pelo


empenho e compromisso quando muito precisei

A Secretária do PPGCAG Marinalva Barbosa pela paciência e disponibilidade sempre


que precisamos

Aos professores do PPGCAG George Beltrão, Ítalo Aquino, Alexandre Eduardo,


Toninho, Silvestre, Daniel, Nair, Nivânia e Fillipi por terem contribuído nesta minha
trajetória de conquistas de formação pessoal e profissional

Aos colegas do mestrado em especial Ranyfábio, Verônica, Wênia, Dionúzia,


Cardozinho e Luana pelo apoio e companheirismo

Aos amigos e colegas agrônomos João Alberto e Hugo pelo apoio, boas conversas e
hospedagem

A família Alves Evangelista (Quixabeira) em especial Dona Carmelita pela confiança e


por deixar-me partilhar da sua experiência e o Saber Local de seis gerações que
convivem e conhecem o Semiárido

A minha esposa Maria José e filhos João Vitor e Bárbara pelo incentivo e pela
compreensão principalmente nas horas que estive ausente

Aos meus pais Nezinho e Lourdes que em suas simplicidades acreditaram em seus
filhos e nos permitiram todas as condições de estudar e provar que a educação ainda é o
maior instrumento para alcançar a vitória

Aos meus irmãos Severino, Maria do Carmo e Kelly por acreditarem e apoiarem

Ao amigo e irmão Marcos Luiz e sua esposa Izabel pelo essencial apoio no
fornecimento de material iconográfico, nas coletas e trabalhos de campo

v
Aos proprietários da Fazenda Campo Alegre, Seu Cazuzinha, Dona Socorro e filhos

A Seu Zezinho do Feijão e Dona Bernadete Severo pelos depoimentos

Aos Assentados dos P.A.’s Tigre, Novo Horizonte e Agrestina pelo fornecimento de
dados relativos as suas áreas

A Escola Agrotécnica de Sumé, seus professores e funcionários nas pessoas da Diretora


Norma Quirino e da Secretária Valdirene pelo apoio e fornecimento do material de
pesquisa

Ao professor Tiago Belinho pela correção ortográfica deste trabalho

Aos amigos Augusto Jorge, Gleydson e Paulinho do Feijão pela contribuição nas coletas
de dados e pesquisa de campo

A Prefeitura Municipal de Sumé nas pessoas de Dr. Neto, Betânia Macêdo e Nilson
Brito por terem me proporcionado a capacitação para o Mestrado

Aos amigos e amigas que acreditaram, torceram e comemoraram essa vitória, Biu,
Gildo, Queiroz, Thiago, Cristina, Quinquinha, Franco, Lindiberg, Djamilton, Isca,
Raquel e tantos outros

Ao Cariri e ao Povo Caririzeiro

vi
SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17
REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 21
O Clima Semiárido no mundo ................................................................... 21
O Clima Semiárido Brasileiro ................................................................... 21
A Região Semiárida Brasileira .................................................................. 22
O Semiárido Nordestino ............................................................................ 25
O Semiárido Paraibano .............................................................................. 25
O Bioma Caatinga ...................................................................................... 25
Os Cariris Paraibano .................................................................................. 26
O Município de Sumé ................................................................................ 28
A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba ........................................................ 29
A Agroecologia .......................................................................................... 31
O Saber local e o conhecimento local em Agroecologia ........................... 34
A Política Nacional de Agroecologia ........................................................ 35
O Extrativismo ........................................................................................... 35
O Imbuzeiro ............................................................................................... 36
O Extrativismo do Imbu ............................................................................ 38
O Imbuzeiro na literatura ........................................................................... 40
As ações ao redor do imbuzeiro ................................................................. 44
O Imbuzeiro e o conhecimento agroecológico .......................................... 46
O Imbuzeiro e as Política Públicas ............................................................ 49
O Imbuzeiro como cultura imaterial .......................................................... 51
Os Festivais Regionais de Imbu ................................................................ 57
A COOPERCUC ....................................................................................... 58
A Genealogia ............................................................................................. 58
METODOLOGIA ............................................................................................. 61
RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................... 66
Do Território investigado ........................................................................... 66
Das Pessoas indagadas ............................................................................... 69
Da Genealogia do extrativismo .................................................................. 81
Da Devoção de Dona Carmelita ................................................................ 84
Da pesquisa empírica dos “Quixabeiras” .................................................. 91
Os imbuzeiros de Dona Carmelita ............................................................. 94
Das características das plantas ................................................................... 96
Das safras, dos frutos e das sementes ........................................................ 100
Da presença do imbuzeiro no município ................................................... 106
Do que já se fez pelo imbuzeiro no município .......................................... 108
Das Histórias/Estórias sobre imbuzeiros ................................................... 111
O Imbuzeiro do Coronel Sizenando ........................................................... 111
O Imbuzeiro do soldado ............................................................................. 115
CONCLUSÕES ................................................................................................. 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 121
ANEXOS

vii
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Coordenadas Geográficas dos imbuzeiros marcados.................... 97


Quadro 2- Valores de diâmetros de copa e áreas de copa de imbuzeiros........ 98
Quadro 3- Valores de altura de plantas de imbuzeiros................................... 98
Quadro 4– Número de troncos e ramificações principais em plantas de
imbuzeiro........................................................................................................... 99
Quadro 5 – Diâmetros de troncos em plantas de imbuzeiro............................ 100
Quadro 6 – Produção quanto a temporalidade................................................. 101
Quadro 7 – Tamanho, acidez e características das cascas de frutos de
imbuzeiros.......................................................................................................... 102
Quadro 8 – Características dos frutos dos imbuzeiros .................................... 103
Quadro 9 – Comparativo Tamanho visual em relação ao Diâmetro do fruto . 104
Quadro 10 – Relação entre frutos, sementes, polpa e cascas de imbuzeiros ... 105
Quadro 11 – Relação entre dimensões de frutos e classificação visual .......... 106
Quadro 12. Dados sobre imbuzeiros em áreas de três agrupamentos do
Programa de Crédito Fundiário ........................................................................ 107

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Os climas semiáridos mundiais segundo Koeppen-Geiger ............. 21


Figura 2 - Classificação climática do IBGE para o Brasil .............................. 22
Figura 3 – Nova área de abrangência da região do Semiárido Brasileiro ....... 23
Figura 4 – Sub-Regiões de Desenvolvimento do Semiárido Brasileiro .......... 24
Figura 5 – Ecorregiões do Bioma Caatinga .................................................... 26
Figura 6a– Microrregião do Cariri Oriental Paraibano ................................... 27
Figura 6b– Microrregião do Cariri Ocidental Paraibano ................................ 27
Figura 7 - Localização do Município de Sumé no estado da Paraíba ............. 29
Figura 8 – Bacia hidrográfica do Rio Paraíba em termos de clima e
densidade demográfica ..................................................................................... 30
Figura 9 - Uso e ocupação do solo da Bacia do Rio Paraíba .......................... 31
Figura 10 - Localização da Fazenda Campo Alegre ....................................... 62
Figura 11 - Hidrografia com os principais cursos d’água da sub-bacia do
Sucurú ............................................................................................................... 67
Figura 12 – Localização provável da antiga Fazenda Mandacaru .................. 70
Figura 13 – O “Mundo” de Dona Carmelita ................................................... 85
Figura 14 - Dona Carmelita coletando imbus com auxílio de uma vara ........ 87
Figura 15 - Percurso feito por Dona Carmelita para coleta dos Imbus ......... 96
Figura 16. Localização das Áreas de Estudo .................................................. 108
Figura 17 – Senhor José Ferreira de Souza. Informante ................................. 112
Figura 18 – Coronel Sizenando e esposa Dona Maria Leite ........................... 113
Figura 19 – Histórico do Coronel pelo artista plástico Miguel Guilherme na
Capela de São Sebastião da Fazenda Feijão/Assentamento Mandacaru .......... 114
Figura 20 – Imbuzeiro do Coronel Sizenando. Planta com mais de 134 anos
de idade ............................................................................................................ 115
Figura 21 – O imbuzeiro do soldado da propriedade Barriguda .................... 116
Figura 22 a – Imbuzeiro do Soldado na propriedade Conceição .................... 117
Figura 22b - Detalhe do Imbuzeiro do Soldado na propriedade Conceição ... 117
Figura 23 – Senhora Bernadete de Lourdes Macêdo. Informante .................. 118
Figura 24 – Dona Carmelita iniciando a trilha dos imbuzeiros ........................... 129
Figura 25 – Dona Carmelita adentrando a trilha dos imbuzeiros ........................ 129
Figura 26 – Dona Carmelita dentro da trilha dos imbuzeiros ............................... 130
Figura 27 – Dona Carmelita mostrando um fruto grande de imbu ....................... 130
Figura 27 – Dona Carmelita mostrando a diversidade de tamanhos de frutos de
imbu ....................................................................................................................... 131
Figura 29 – Bisnetos 12 e 13 filhas da Neta 3 acompanhando Dona Carmelita 131

ix
Filha 13 ..................................................................................................................
Figura 30 – Esposo da Neta 3 e pai dos bisnetos 12 e 13 acompanhando Dona
Carmelita ............................................................................................................... 132
Figura 31 – Julio Preto, Filho 3, com parte da família Quixabeira ...................... 132
Figura 32 – Imbuzeiro “Das Cruz ........................................................................ 133
Figura 33 – Imbuzeiro “Sem Nome ou Perto do Das Cruz” ................................ 133
Figura 34 – Imbuzeiro “Sem Nome ou Perto do de João Preto” .......................... 134
Figura 35 – Imbuzeiro “De João Preto” ............................................................... 134
Figura 36 – Imbuzeiro “Das Duas Galhas” .......................................................... 135
Figura 37 – Imbuzeiro “De Rogério” ................................................................... 135
Figura 38 – Imbuzeiro “Da Queda” ...................................................................... 136
Figura 39 – Imbuzeiro “Da Chuva” ...................................................................... 136
Figura 40 – Imbuzeiro “Feio” ............................................................................... 137
Figura 41 – Imbuzeiro “Cabeludo” ...................................................................... 137
Figura 42 – Imbuzeiro “De Seu Neném” ............................................................. 138
Figura 43 – Imbuzeiro “Pequeno” ........................................................................ 138
Figura 44 – Imbuzeiro “Do Araçá” ...................................................................... 139
Figura 45 – Imbuzeiro “De Fofinho” ................................................................... 139

x
LISTA DE ABREVIATURAS

AESA: Agência de Águas do Estado da Paraíba


BSh: Semiárido quente
CAR: Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional
CONAB: Companhia Nacional de Abastecimento
COOPERCUC: Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá
COOPROAF: Cooperativa de Produção e Comercialização dos Produtos da Agricultura
Familiar do Sudoeste da Bahia
DNOCS: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
FUMDHAM: Fundação Museu do Homem Americano
FUNDARPE: Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
GPS: Global Position System
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano
IICA: Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
INTERPA: Instituto de Terras e Planejamento Agrícola do Estado da Paraíba
IRPAA: Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada
ISFA: Instituto de Ciências e Seguros Financeiros
ISPN: Instituto Sociedade População e Natureza
MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDS: Ministério do Desenvolvimento Social
MMA: Ministério do Meio Ambiente
PAA: Programa de Aquisição de Alimentos
PDSA: Plano de Desenvolvimento para o Semiárido
PET: Politereftalato de Etileno
PEVS: Pesquisa de Extração Vegetal e Silvicultura
PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNAPO: Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
PNPSB: Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade
SAB: Semiárido Brasileiro
SIDRA: Sistema IBGE de Recuperação Automática
SLC: Sistemas Locais de Conhecimento
SLCA: Sistemas Locais de Conhecimento Agroecológico

xi
RESUMO

BRITO, J. R. S. M.Sc. Universidade Federal da Paraíba. Agosto de 2014. Entre


Imbuzeiros e Quixabeiras: o conhecimento local na construção agroecológica.
Orientador Prof. Dr. Daniel Duarte Pereira

Nas construções e transições agroecológicas o saber local é uma ferramenta importante


em face da ancestralidade do trato com o ambiente, do seu conhecimento e das suas
potencialidades. Os desenhos e redesenho de agroecossitemas em muito são
influenciados pelas particularidades locais que se não tratadas de forma adequada pode
contribuir para o insucesso de algumas modificações no modo de ser e de produzir. O
saber local por sua vez está enredado em uma complexidade maior conhecida como
sistemas locais de conhecimento. Enquanto o saber local pode ter a sua influência
apenas em uma família ou em uma propriedade o sistema local já tem dimensão em
termos de comunidades e assentamentos com nível de influência muito maior na zona
rural. O que não se tem pesquisado muito no campo da agroecologia é o fato de muitos
saberes locais hoje estarem nas zonas urbanas quer sejam pela migração de agricultores
e agricultoras quer seja, em escala menor, pela relação entre pessoas da cidade com o
campo. Neste último caso, o saber local se torna mais familiar e de difícil
compartilhamento como outras famílias urbanas e mais difícil ainda com aquelas
encravadas no campo. Se este saber é na forma de extrativismo e baseado em apenas
uma espécie, a tendência é cada vez mais o isolamento do mesmo e até o
desaparecimento pela falta de interesse de descendentes ou falecimento do conhecedor.
Neste sentido, é importante o resgate desse saber local urbano para que se possa utilizá-
lo na construção da proposta agroecologica. Através da saga de um membro de uma
família denominada de “Quixabeira” radicada no município de Sumé, Cariri Paraibano e
da relação deste membro com a espécie nativa/frutícola imbuzeiro foi possível traçar a
genealogia do extrativismo e ver que o conhecimento ainda é partilhado por diversas
gerações. Sobre a espécie em si foi possível dialogar com os conhecimentos empíricos e
técnicos e assim poder mapear uma população da planta em termos de comportamentos
fenológicos e frutificação. Como o saber local pode estar também latente em outras
famílias e comunidades ampliou-se a pesquisa para alguns aglomeramentos rurais de
onde se pode evidenciar o conhecimento da presença da espécie e das suas
particularidades. Por fim foi possível ainda resgatar histórias/estórias envolvendo
imbuzeiros no município e as ações iniciais de se ter um planejamento em nível
municipal para melhor aproveitamento do imbuzeiro. O certo é que assim como na
vegetação de caatinga imbuzeiros e quixabeiras vegetam lado a lado de forma
harmônica, a relação da família “Quixabeira” com a população de imbuzeiros além de
harmoniosa trouxe muitas informações a serem aproveitadas num extrativismo dentro
dos moldes agroecológicos.

PALAVRAS- CHAVE: Semiárido; genealogia; saber local; caatinga

xii
ABSTRACT

BRITO, J. R. S. M.Sc. Federal University of Paraíba. Agust of 2014. Between


Imbuzeiros and Quixabeiras: knowledge in agroecological construction. Adivisor: Prof.
Dr. Daniel Duarte Pereira

In agroecological buildings and transitions, the local knowledge is an important tool in


the face of the ancestry of dealing with the environment, their knowledge and their
potential. The agroecosystem designs and redesign are influenced by local conditions
that if not treated appropriately can contribute to the failure of some modifications in the
way of being and produce. Local knowledge is itself entangled in a larger complex
known as local knowledge systems. While local knowledge may have its influence only
in one family or one property, in the local system already has dimension in terms of
settlements and communities with much higher level of influence in the rural zone.
What has not researched much in the agroecology field is the fact that many local
knowledge in urban areas today are whether the migration of farmers either to a lesser
extent, the relationship between people of the city with the rural zone. In the latter case,
local knowledge becomes more familiar and difficult to share as other urban families
and even harder with those ingrown field. If this knowledge is in the form of extraction
and based on only one species, the trend is increasingly isolating itself and to the lack of
interest by the disappearance of descendants or death of the connoisseur. In this sense, it
is important to know that the rescue urban location so you can use it in the construction
of agroecological proposal. Through the saga of a family member called "Quixabeira"
rooted in Sumé town, in Caririregion of Paraíba State and member of its relationship
with the native/fruit species Imbuzeiro was possible to trace the genealogy of the
extractive and see that knowledge is also shared by several generations. About the
species itself could engage with empirical and technical knowledge and thus to map a
population in terms of the plant phenological behavior and fruiting. How local
knowledge can also be latent in other families and communities has widened the search
to some rural clusters where you can demonstrate knowledge of the presence of the
species and its particularities. Finally, it was possible rescue histories/stories involving
Imbuzeiros in the town and the initial actions to be planning at the municipal level for
better use of Imbuzeiro. What is certain is that as the vegetation of caatinga, Imbuzeiros
and Quixabeiras vegetate side by side harmoniously, the relationship of "Quixabeira"
family with a population of Imbuzeiros addition harmoniously brought a lot of
information to be utilized in an extraction within the agroecological molds

KEYWORDS: semiarid; genealogy; local knowledge; caatinga

xiii
17

INTRODUÇÃO

Dentre os diversos autores que procuram conceituar a Agroecologia, Guzmán


(2001) afirmou que ela “constitui o campo do conhecimento que promove o manejo
ecológico dos recursos naturais, através de formas de ação social coletiva que
apresentam alternativas à atual crise de modernidade, mediante propostas de
desenvolvimento participativo desde os âmbitos da produção e da circulação
alternativa de seus produtos, pretendendo estabelecer formas de produção e de
consumo que contribuam para encarar a crise ecológica e social e, deste modo,
restaurar o curso alterado da co-evolução social e ecológica” reforçando os aspectos
sociais que permeiam esta discussão.
Por sua vez Ferraz (s.d.) enfatizou que a estratégia agroecológica tem uma
natureza sistêmica, ao considerar a propriedade, a organização comunitária e o restante
dos marcos de relação das sociedades rurais articulados em torno da dimensão local,
onde se encontram os sistemas de conhecimento portadores do potencial endógeno e
sociocultural.
Já Santin & Adriano (2009) observaram que as ações de desenvolvimento não
se dão à margem dos atores sociais de um determinado território, mas sim acontecem
em espaços marcados por lógicas e estratégias com um sentido social, cultural e
econômico. As inovações produtivas e/ou mercantis são avaliadas, adaptadas e adotadas
pelos indivíduos envolvidos, não somente pelas condições reais de produção e de
mercado, mas também pelo complexo sistema de redes e espaços de relações sociais,
técnicas e culturais a que pertencem estes indivíduos em um dado território, ou seja, os
denominados Sistemas Locais de Conhecimento – SLC e que desconhecer ou ignorar a
importância e o funcionamento dessas redes num processo de intervenção pode trazer
como conseqüência, minimamente, a perda de tempo e de recursos.
Para o Ministério do Meio Ambiente (2013) as populações extrativistas, que a
partir do uso sustentável dos recursos naturais garantem alimentos mais saudáveis (sem
uso de agrotóxicos) e inclusão social e produtiva, estão no centro dos debates sobre
agroecologia e produção orgânica sendo a ideia defendida pela diretora de Extrativismo
da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), Larisa Gaivizzo na Comissão de Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
18

No Semiárido Brasileiro – SAB existe uma população extrativista que abrange


a coleta de inúmeros produtos de origem animal e vegetal que muitas vezes apresentam
expressiva participação na renda familiar. O SAB abrange parte de três Biomas:
Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga com maior expressividade para este último. Dentro
do Bioma Caatinga e na sua maior representatividade de vegetação de caatinga destaca-
se uma planta associada ao extrativismo de frutos e de modificações de raízes
(xilopódios) denominadas regionalmente como batatas, fofas, cafôfas e cuncas. É o
imbuzeiro também denominado de umbuzeiro, ombuzeiro, embuzeiro e ambuzeiro.
Durante alguns meses que podem variar de dezembro a junho centenas de
coletores, em especial mulheres, se dirigem para as áreas de ocorrência dos imbuzeiros
para a coleta de frutos para consumo in natura ou na forma de imbuzadas; venda in
natura ou processamento e venda na forma de doces, geléias, sucos, compotas, etc. Ao
redor destas atividades existe todo um preparo que antecede a coleta. Pode ser uma
observação inicial da coincidência da florada com ausência ou presença de chuva
resultando em maiores ou menores safras em quantidade e qualidade. Pode ser o
conhecimento repassado entre coletores daquelas plantas mais precoces, normais ou
tardias. Pode ser classificação de frutos doces, azedos, medianos, grandes, pequenos, de
casca lisa ou pilosa. E pode ser até mesmo o batismo de plantas para facilitação da
coleta e da permanência para gerações futuras.
Neste processo, existem tantos os coletores de famílias isoladas que se
encontram nas safras e trocam informações e experiências, como coletores com laços
familiares que passam a apresentar uma genealogia de repasse de informações,
experiências, resultados e muitas vezes “segredos” de maturação, época ideal, sabores e
até mesmo conhecimento do fruto quando distante da planta matriz.
Neste segundo cenário se enquadra parte da Família Quixabeira radicada no
município de Sumé, Semiárido Paraibano. Esta família radicada a mais de cem anos
inicialmente na zona rural e, atualmente com feições mais urbanas tem na pessoa de
Dona Carmelita Quixabeira (Carmelita Alves Evangelista) e de parte dos descendentes a
expressão máxima do perfil de extrativismo de plantas de imbuzeiro, associadas ao
repasse do conhecimento entre membros, além do intrínseco conhecimento das plantas
coletadas.
Não é comum na pesquisa e na bibliografia especializada sobre a agroecologia
a exploração do conhecimento local de extrativistas associado ao perfil genealógico
destes. Entretanto, é consenso que o passar do conhecimento entre gerações é uma dos
19

pilares para o sucesso de ações tipo banco de sementes; épocas de plantio e colheita;
previsões de chuvas ou estiagens; receitas familiares de controle de pragas e doenças de
plantas; modo de acondicionamento de alimentos, entre outras ações.
No caso do extrativismo de frutíferas são os coletores e familiares quem detém
o conhecimento que muitas vezes a pesquisa necessita para validar determinados
experimentos e fixar variedades mais produtivas. Era comum na antiga pomicultura,
alicerce da atual fruticultura, que no ato de pesquisa de determinada espécie se
recorresse aos produtores e aos coletores sobre as características mais destacadas de
possíveis matrizes e após a validação fixar estas características pelos processos de
enxertia, mergulhia, alporquia, cruzamentos, etc.
Na atualidade o processo não mudou. Centenas de Carmelitas são procuradas
todos os dias devido aos seus conhecimentos de décadas de extrativismo a respeito de
determinadas plantas, economizando-se assim tempo, e recursos. É o caso, por exemplo,
das “sementes crioulas” ou “sementes da paixão”. Não fossem elas e milhares de
extrativistas as seleções massais de espécies demorariam muito mais.
E no campo agroecológico a situação também não é diferente. É importante
que diversas variedades agrícolas, frutíferas, forrageiras, medicinais já preconizadas
pelo conhecimento local sejam testadas e referendadas, tanto para fins de consumo
próprio, quanto na busca de agregação de valor.
Assim, está direcionada esta pesquisa para os diferentes resgates histórico,
genealógico, geográfico, social, florístico associados à vivência de Dona Carmelita
Quixabeira que na sua essência representa milhares de coletore(a)s extrativistas
anônimo(a)s que representam os elos de uma grande corrente agroecológica, pois, o
extrativismo está amplamente associado a conservação das áreas de ocorrência de
espécies muitas vezes traduzidas como sistemas agroflorestais naturais.
Para que esta pesquisa pudesse ser realizada se partiu de relatos de pessoas
radicadas no município de Sumé-PB, enfocando a saga de Dona Carmelita Alves
Evangelista (Carmelita Quixabeira) e o seu conhecimento vasto sobre uma população de
imbuzeiros localizada em parte de uma propriedade rural. Comentava-se inclusive que a
mesma devido a este conhecimento chegava a conhecer os frutos dos mesmos quando
colhidos ou vendidos por terceiros na feira livre. Além disso, cada imbuzeiro era
conhecido por um nome de uma pessoa ou de um acontecimento.
Conhecer a epopéia de Dona Carmelita é conhecer parte da vivência de
milhares de extrativistas do Semiárido Brasileiro, e, portanto, as raízes da agroecologia
20

voltadas para o conhecimento local. Trata-se de uma forma também de desmistificar


que o processo agroecológico só ocorre necessariamente na zona rural e com o
conhecimeento daqueles que lá habitam. Existe todo um conhecimento aprisionado nas
casas das urbes que é libertado a cada plantio, a cada colheita, a cada coleta e que faz
parte de todo um conhecimento local, necessário a construção agroecológica.
21

REVISÃO DE LITERATURA

O Clima Semiárido no mundo

Para Koeppen-Geiger o clima semiárido em nível mundial pode ser quente ou


frio, sendo classificado como BSh ou Semiárido Quente, onde Indicador de Grupo
Climático: “B” = Clima Árido/Clima com Climas secos (precipitação anual inferior a
500 mm; evapotranspiração potencial anual superior à precipitação anual e inexistência
de cursos de água permanente; Indicador de Tipo de Clima e Precipitação dentro do
Grupo: “S” = Clima das estepes e Precipitação anual total média compreendida entre
380 e 760 mm e Indicador de Temperatura dentro do Grupo Subtipo: “h” =
temperatura média anual do ar > 18 °C; deserto ou semi-deserto quente com
temperatura anual média do ar igual ou superior a 18 °C. Podendo ainda ser definido
como clima das estepes quentes de baixa latitude e altitude. O Brasil se enquadra
como BSh (v. figura 1).

Figura 1- Os climas semiáridos mundiais segundo Koeppen-Geiger


Fonte: Wikipedia (s.d.)

O município de Sumé fica localizado no Clima BSh.

O Clima Semiárido Brasileiro

Para o IBGE (2002), dos climas zonais do Brasil com ocorrência de semiaridez
destacam-se como quente o Tropical Zona Equatorial semiárido 06 meses secos;
Tropical Zona Equatorial semiárido 07 a 08 meses secos; Tropical Zona Equatorial
22

semiárido 09 a 10 meses secos; Tropical Zona Equatorial semiárido 11 meses secos;


Tropical Brasil Central semiárido 06 meses secos; Tropical Brasil Central semiárido
07 a 08 meses secos; Tropical Brasil Central semiárido 9 a 10 meses secos; Tropical
Nordeste Oriental semiárido 6 meses secos; Tropical Nordeste Oriental semiárido 7 a 8
meses secos e Tropical Nordeste Oriental semiárido 9 a 10 meses secos. E como
subquente o Tropical Brasil Central, semiárido 6 meses secos (ver figura 2).

Figura 2 - Classificação climática do IBGE para o Brasil


Fonte: IBGE (s.d.)

O Município de Sumé fica localizado no Clima Tropical Zona Equatorial


Quente, Semiárido, 7 a 8 meses secos.

A Região Semiárida Brasileira

O Ministério da Integração Nacional (BRASIL, 2005) instituiu uma nova


delimitação do Semiárido Brasileiro (ver figura 3), tomando por base pelo menos um
dos quatro critérios técnicos: precipitação média anual inferior ou igual a 800,0 mm;
23

índice de aridez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico que relaciona a precipitação e
a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990 e, risco de seca maior que
60,0%, tomando-se por base o período de 1970 a 1990. Com essa atualização, a área do
Semiárido Brasileiro- SAB passou a 980.133,08 km², sendo composto por 1.135
municípios dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Gerais, totalizando uma população de
22.598.318 de habitantes em 2010, representando 11,85% da população brasileira ou
42,57% da população nordestina.

Figura 3 – Nova área de abrangência da região do Semiárido Brasileiro


Fonte: BRASIL (2005)

Para o MMA/IICA (2005) o SAB é formado por três Áreas Geoestratégicas


(Sertão Norte, Sertão Sul e Ribeira do São Francisco) e nove Subregiões de
Desenvolvimento (Sertão do Piauí; Sertão do Apodi; Sertão da Borborema; Sertão do
24

Araripe; Ribeira do Médio São Francisco; Ribeira do Sub-Médio São Francisco; Ribeira
do Baixo São Francisco; Sertão de Canudos e Sertão de Contas) (ver figura 4).

Figura 4 – Sub-Regiões de Desenvolvimento do Semiárido Brasileiro


Fonte: MMA/IICA (2005)

O Município de Sumé fica localizado na Area Geoestratégica Sertão Norte,


Sub-região de Desenvolvimento Sertão do Araripe.
25

O Semiárido Nordestino

O Semiárido nordestino é formado por parte dos estados do Piauí (57,17% do


território); Ceará (81,52% do território); Rio Grande do Norte (88,02% do território);
Paraíba (86,20% do território); Pernambuco (65,95% do território); Alagoas (37,25% do
território); Sergipe (38,67% do território); Bahia (63,79% do território) totalizando para
o Nordeste 56,46% do seu território o que equivale a 877.565.831 km². Considerando
que o Semiárido Brasileiro apresenta uma área de 980.133.079 km², o Semiárido
Nordestino equivale a 89,53% desta área (MEDEIROS et al, 2012).

O Semiárido Paraibano

No estado da Paraíba, especificamente, a Região Semiárida envolve 170


municípios, 48.676,947 km² (86,20%) dos 56.469,466 km² de área total e 2.092.400
habitantes (55,55%) dos 3.766.528 habitantes da população total (MEDEIROS et al,
2012).

O Bioma Caatinga

Para o Zakrzevski (2013) o Bioma Caatinga ocupa cerca de 11,0% do território


nacional e apresenta uma área de 844.453 km², uma população de 27 milhões de
habitantes, abrigando 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79
espécies de anfíbios, 241 de peixes, 221 de abelhas e 932 espécies de plantas.
Já para Velloso et al. (2002) o Bioma Caatinga apresenta uma área de 1.176.580
km² e as Ecorregiões (v. figura 5) de Campo Maior (41.420 km²); Complexo Ibiapaba-
Araripe (69.510 km²); Depressão Sertaneja Setentrional (206.700 km²); Planalto da
Borborema (41.940 km²); Depressão Sertaneja Meridiona (373.900 km²)l; Dunas do São
Francisco (36.170 km²); Complexo da Chapada Diamantina (50.610 km²) e Raso da
Catarina (30.800 km²).
O município de Sumé fica localizado na Ecorregião Planalto da Borborema.
26

Figura 5 – Ecorregiões do Bioma Caatinga


Fonte: Velloso et al, (2002)

Os Cariris Paraibanos

Os Cariris Paraibanos são formados pela Microrregião do Cariri Ocidental


formada pelos municípios de Alcantil; Barra de Santana; Barra de São Miguel;
Boqueirão; Cabaceiras; Caraúbas; Caturité; Gurjão; Riacho de Santo Antônio; Santo
André; São Domingos do Cariri e São João do Cariri que totalizam uma área de
4.242,135 km² e pela Microrregião do Cariri Oriental que abrange os municípios de
Amparo; Assunção; Camalaú; Congo; Coxixola; Livramento; Monteiro; Ouro Velho;
Parari; Prata; São João do Tigre; São José dos Cordeiros; São Sebastião do Umbuzeiro;
Serra Branca; Sumé; Taperoá e Zabelê que resultam numa área de 6.983,601 km² (ver
figuras 6a e 6b). As Microrregiões estão localizadas na Mesorregião da Borborema.
27

Figura 6a– Microrregião do Cariri Oriental Paraibano


Fonte: Wikipedia (s.d.)

Figura 6b– Microrregião do Cariri Ocidental Paraibano


Fonte: Wikipedia (s.d.)

Dentre os elementos comuns de paisagem dos Cariris Paraibanos predominam:


(i) os baixos índices pluviométricos; (ii) a caatinga hiperxerófila; (iii) as limitações
edáficas; (iv) cidades pequenas com baixa densidade demográfica e (v) e uma economia
baseada na agropecuária extensiva, principalmente o gado caprino. Nos Cariris, apesar
da altitude superior a 300 m, prevalece a feição de pediplano de superfície irregular,
28

embutido na superfície de aplainamento do Planalto da Borborema. Nesse caso,


constitui-se numa área rebaixada pela ação das águas da bacia hidrográfica do rio
Paraíba, cortado ocasionalmente por relevos residuais, ora isolados, ora em
alinhamentos (NASCIMENTO & ALVES, 2008b apud ALVES, 2009).
A região dos Cariris Paraibanos é a mais seca do Brasil, com chuvas escassas
muito concentradas no tempo e irregulares, o que provoca fortes déficits hídricos. Essas
condições hostis se atenuam progressivamente para o oeste. A criação de bovinos
sempre dominou a agricultura com reflexos na ocupação dos melhores solos dos vales
úmidos e terras de vazantes dos açudes, com plantas forrageiras. Com o crescimento dos
rebanhos caprinos e ovinos, considerados como os maiores do estado, o quadro atual de
pecuarização do Cariri Paraibano é outro, pois estes rebanhos estão grandemente ligados
à pequena produção - pequenos proprietários ou moradores das fazendas (DUQUÉ,
1985).
Segundo Duque (2004), ecologicamente, os Cariris Paraibanos são uma
caatinga alta (altitude de 400 m a 600 m) composta de espécies espinhentas, de pequeno
porte, de caules duros (exceto as cactáceas), unidas, densas ou fechadas, onde o chão é
coberto de macambiras, de caroás e tillandsias, entremeadas de arbustos lenhosos e
retorcidos, e das árvores típicas do umbuzeiro Spondias tuberosa; cardeiro Cereus sp e
catingueira Caesalpinia sp; quixabeira Bumelia sp entre outras. É a zona da predileção
das cactáceas, devido à umidade do ar noturno. A ecologia do xerofilismo, típico dessa
caatinga, explica a falta dos capins porque esses são menos resistentes à seca do que os
arbusto e demonstra a sobrevivência das plantas lenhosas com as reservas de nutrientes
e de água, nas raízes e nos caules, cujo exemplo clássico é o umbuzeiro.
No Cariri Ocidental Paraibano fica localizado o município de Sumé.

O Município de Sumé

O município de Sumé (ver figura 7) foi emancipado politicamente em 1º de abril


de 1951 apresenta uma área de 838,071 km², população de 16.060 habitantes e
densidade demográfica de 19,16 hab/km² (IBGE, 2010). Possui 1.036 estabelecimentos
rurais, um rebanho bovino de 9.794 cabeças; caprino de 16.989 cabeças; ovino 16.494
cabeças, asinino 205 cabeças, muares 27 cabeças, equinos 510 cabeças, suínos 550
cabeças, aves 103.000 cabeças (IBGE, 2006).
A economia é baseada na agropecuária e a renda média mensal por domicílio foi
de R$ 831,84 na zona rural e de R$ 1.105,65 na zona urbana. A renda per capita foi de
29

R$ 4.907,23 e o PIB de R$ 78.869,00. O seu IDH foi de 0,627 e apresenta um Índice de


Gini de 0,42. Quanto a escolaridade, 69,78% da população residente é escolarizada
(IBGE, 2010).

Figura 7 - Localização do Município de Sumé no estado da Paraíba


Fonte: Wikipédia

O município de Sumé fica localizado na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba

A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba

A bacia hidrográfica do Rio Paraíba (v.figura 8) possui uma área total de


19.456,73 km2 e perímetro de 1.077,98 km, possui 78 municípios com parte ou todo
território inseridos na bacia. O maior território municipal da bacia do Rio Paraíba
pertence ao município de Monteiro (996,88 km² e perímetro de 156,58 km) e o menor o
município de Sobrado (41,98 km2 e perímetro de 33,3 km) (MARCUZZO et. al, 2012)
Segundo o IBGE (2010) toda a população residente nos municípios da Bacia
do Rio Paraíba somam 1.181.514 hab, sendo que o município de maior população é o de
Campina Grande com 385.213 habitantes (33,0%) e o de menor população é o
município de Parari com 1.256 habitantes (0,10%). A maior densidade populacional
pertence ao município de Campina Grande, com 648.31 habitantes/km2 e a menor ao
município de São João do Tigre com 5,39 habitantes/km2.
30

Figura 8 – Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba em termos de clima e densidade


demográfica
Fonte: Detalhamento Hidromorfológico da Bacia do Rio Paraíba (Marcuzzo et al., 2012). Adaptado.

O clima da Bacia, segundo a classificação de Köppen, é o Tropical (Aw), com


estação seca no inverno. As massas de ar que atuam na bacia do Rio Paraíba são: Massa
Equatorial Atlântica, Massa Tropical Atlântica e a Massa Polar Atlântica. Assim, a
região da Bacia do Rio Paraíba apresenta temperaturas elevadas durante o ano todo,
com pequena queda nos meses de inverno, e pela concentração da pluviosidade entre o
final do verão e o inverno, com grande destaque para o outono (MENDONÇA &
DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Os principais rios da bacia do Rio Paraíba são, em quilômetros lineares:
Paraíba (263,0 km), Taperoá (112,0 km), Umbuzeiro (53,0 km), Boa Vista (52,0 km),
Ingá (42,0 km) e Sucuru (41,0 km). O uso do solo na Bacia do Rio Paraíba é
caracterizado intensivamente pela prática da agricultura e da pecuária, contudo há
também uma grande porção ocupada por vegetação remanescente (MARCUZZO et al,
2012) (ver figura 9).
31

Figura 9 - Uso e ocupação do solo da Bacia do Rio Paraíba.


Fonte: Detalhamento Hidromorfológico da Bacia do Rio Paraíba (Marcuzzo et al., 2012). Adaptado.

O município de Sumé fica localizado às margens do Rio Sucuru.

A Agroecologia

O emprego mais antigo da palavra Agroecologia diz respeito ao zoneamento


agroecológico, que é a demarcação territorial da área de exploração possível de uma
determinada cultura, em função das características edafoclimáticas necessárias ao seu
desenvolvimento. A partir de 1980, esse conceito passou a ter outra conotação
(FEIDEN, 2005). Para Gliessmann (2009), é a aplicação dos princípios e conceitos da
ecologia ao desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.
Para Altieri (1989) Agroecologia é a ciência ou a disciplina científica que
apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar,
dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação
e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade. A
Agroecologia proporciona, então, as bases científicas para apoiar o processo de
32

transição para uma agricultura sustentável nas suas diversas manifestações e/ou
denominações.
Moreira & Carmo (2007) observaram que o apanhado histórico da Agroecologia
identifica duas correntes de pensamento agroecológico exercendo forte influência sobre
cientistas e agricultores ao redor do mundo, a norte-americana e a européia. Mas
curiosamente essas duas correntes descendem, com algumas exceções, dos trabalhos
realizados por sociólogos, antropólogos, ecólogos e agrônomos que atuaram, em algum
momento, no México. A diferença básica entre as duas é que a corrente Norte-
Americana centra mais fortemente seus estudos nos problemas ecológicos da produção,
possuindo ainda uma grande sensibilidade sociológica e antropológica, e a européia
busca um franco diálogo entre ciências naturais e sociais na resolução dos problemas do
desenvolvimento rural. E ambas as correntes agroecológicas veem os agricultores
familiares como os principais protagonistas do desenvolvimento rural sustentável.
Ainda Moreira & Carmo (2007) a Agroecologia é uma ciência em contínua
construção, exigindo dos cientistas vinculados ao seu desenvolvimento uma postura
aberta epistemologicamente, pouco dogmática e que utiliza um autêntico pluralismo
metodológico para produção e circulação do conhecimento agrário.
As reflexões sobre as bases metodológicas mostram os caminhos percorridos
pelo pensamento sistêmico nas ciências agrárias e define três perspectivas
agroecológicas de pesquisa: a distributiva, a estrutural e a dialética. Dentro da
perspectiva dialética se encontra o método central da Agroecologia, capaz de unir
pesquisa, ensino e extensão: a Investigação Ação Participativa. A perspectiva dialética
permite à Agroecologia transformar o objeto de pesquisa em sujeito da mesma,
reconhecendo o saber popular como válido e base para a construção de um
conhecimento novo e transformador. Na Investigação Ação Participativa, tudo com tudo
dialoga, na qual a neutralidade científica inexiste e o pesquisador assume a postura de
um facilitador do processo de transformação profunda da realidade (MOREIRA &
CARMO, 2007).
Para Paulus et al (2000) a Agroecologia não é apenas a aplicação de um
conjunto de técnicas menos agressivas ao meio ambiente, nem apenas a produção de
alimentos mais limpos ou livres de agrotóxicos. A Agroecologia também não é vista
como sinônimo de agricultura ecológica, agricultura orgânica, agricultura biológica ou
de qualquer outro estilo de produção que se oponha ao modelo técnico convencional,
mas sim, como um campo de conhecimentos de caráter multidisciplinar que oferece
33

princípios e conceitos ecológicos para o manejo e desenho de agroecossistemas


sustentáveis.
Para Feiden (2005) a Agroecologia é uma ciência em construção com
características transdisciplinares integrando conhecimentos de diversas outras ciências e
incorporando inclusive, o conhecimento tradicional, porém este é validado por meio de
metodologias científicas (mesmo que, às vezes, sejam métodos não-convencionais).
De acordo com Almeida (2002) a Agroecologia surgiu como uma promessa de
renovação do político, dos sistemas técnicos e como fonte de mudanças socioculturais.
Passados alguns anos, o que ocorre com ela? Pode a agroecologia responder às crises
social, econômica e ambiental simplesmente implementando alternativas de substituição
ou de adaptação aos padrões técnico-produtivos convencionais que mostram seus
limites e dão sinais de esgotamento? Deve se contentar em propor diferentes modos de
inserção das atividades agrícolas e rurais familiares no tecido econômico e social local?
Ou não se poderia da agroecologia esperar outra coisa em vista das ideias que defende e
dos desejos e aspirações dos agentes sociais que a sustentam?
Para Almeida (2002) a Agroecologia se depara com as seguintes questões: como
considerar/elevar a diversidade para além do protesto puro e simples?; como adaptá-la
às ações de desenvolvimento que se dirigem tanto a uma clientela heterogênea quanto
aos seus determinantes sociais, suas aptidões e meios materiais?; essas dificuldades nao
estariam ligadas a uma certa tendência ao isolamento, à prioridade dada a certas
necessidades de camadas sociais que ainda não conseguiram despertar a atenção e o
interesse do poder político instituído?
Segundo Caporal & Costabeber (2002) em essência, o enfoque agroecológico
corresponde à aplicação de conceitos e princípios da Ecologia, da Agronomia, da
Sociologia, da Antropologia, da ciência da Comunicação, da Economia Ecológica e de
tantas outras áreas do conhecimento, no redesenho e no manejo de agroecossistemas
que sejam mais sustentáveis através do tempo. Trata-se de uma orientação cujas
pretensões e contribuições vão mais além de aspectos meramente tecnológicos ou
agronômicos da produção agropecuária, incorporando dimensões mais amplas e
complexas, que incluem tanto variáveis econômicas, sociais e ecológicas, como
variáveis culturais, políticas e éticas. Assim entendida, a Agroecologia corresponde, ao
campo de conhecimentos que proporciona as bases científicas para apoiar o processo de
transição do modelo de agricultura convencional para estilos de agriculturas de base
34

ecológica ou sustentáveis, assim como do modelo convencional de desenvolvimento a


processos de desenvolvimento rural sustentável.
Para Gliessmann (2009), o enfoque agroecológico corresponde a aplicação dos
conceitos e princípios da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas
sustentáveis. Sua estratégia tem uma natureza sistêmica, ao considerar a propriedade, a
organização comunitária e o restante dos marcos de relação das sociedades rurais
articulados em torno da dimensão local, onde se encontram os sistemas de
conhecimento portadores do potencial endógeno e sociocultural. Tal diversidade é o
ponto de partida de suas agriculturas alternativas, a partir das quais se pretende o
desenho participativo de métodos de desenvolvimento endógeno para estabelecer
dinâmicas de transformação em direção a sociedades sustentáveis.
A Agroecologia traz, a expectativa de uma forma de agricultura capaz de
propiciar a produção de alimentos, fibras e de preservação ambiental, diferenciando-se,
portanto, da orientação dominante de uma agricultura com caraterísticas de produção
industrial, calcada no uso intensivo de capital, energia e recursos naturais não
renováveis, sendo, assim, agressiva ao meio ambiente, excludente, vista socialmente e
causadora de dependência econômica (FERRAZ s.d.)

O Saber local e o conhecimento local em Agroecologia

Os Sistemas Locais de Conhecimento - SLC são redes complexas e sinérgicas


de relações sociais, técnicas, comerciais e culturais, de intercâmbios, fluxos de
informações e de práticas, mais ou menos densas e estruturadas entre sujeitos locais,
suas organizações e demais atores da esfera local e regional (SABOURIN, 2002).
A construção de estratégias de desenvolvimento territorial sustentável
pressupõe, entre outros aspectos, o reconhecimento do potencial contido no saber local
(MARTINIC, 1985), a identificação de inovações sociotécnicas e a utilização
ecologicamente prudente dos recursos naturais. Todos esses elementos devem ser
levados em conta no desenho de um diagnóstico socioambiental sistêmico e
participativo, capaz de identificar não só os danos e os obstáculos a uma reversão de
tendências destrutivas em curso, mas também o potencial sociocultural e ambiental
subutilizado ou mesmo desconhecido que existe em cada região.
35

A Política Nacional de Agroecologia

O Decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012 instituiu a Política Nacional de


Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO. No seu artigo 3º as diretrizes contidas no
Inciso III observam sobre a “conservação dos ecossistemas naturais e recomposição
dos ecossistemas modificados, por meio de sistemas de produção agrícola e de
extrativismo florestal baseados em recursos renováveis, com a adoção de métodos e
práticas culturais, biológicas e mecânicas, que reduzam resíduos poluentes e a
dependência de insumos externos para a produção” e no Inciso V a “valorização da
agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências
locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e animais, especialmente
àquelas que envolvam o manejo de raças e variedades locais, tradicionais ou crioulas”
(BRASIL, 2012).
Já o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - Planapo é uma
política pública do Governo Federal criada para ampliar e efetivar ações para orientar o
desenvolvimento rural sustentável. Entre as suas orientações evidencia-se a “promoção
a valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo
às experiências locais de uso, conservação e manejo dos recursos genéticos vegetais e
animais” e com relação as ações definidas por dez ministérios os eixos estratégicos de:
Produção; Uso e Conservação de Recursos Naturais; Conhecimento; Comercialização
e Consumo (BRASIL, 2012)

O Extrativismo

A história do extrativismo no Brasil confunde-se com a própria história


econômica do País. A extração de madeira (Pau-Brasil) configurou-se como o primeiro
ciclo econômico do Brasil. Ainda no período da colonização, destacou-se a coleta das
chamadas “Drogas do Sertão” que eram especiarias (plantas medicinais, cacau, castanha
e guaraná) extraídas da Amazônia, com elevado valor comercial na Europa
(CARVALHO & GOMES, 2006).
O Extrativismo vegetal no Brasil sempre foi uma constante, possuindo
características que estão ligadas às respectivas regiões. Este tipo de atividade consiste
em obter da natureza os produtos que serão usados para comercialização direta ou
indireta pelo homem (GASPARETTO JÚNIOR, 2014). Em alguns lugares do Brasil, o
36

Extrativismo Vegetal ainda possue destaque, sendo que a madeira é o produto mais
explorado em relação aos outros subprodutos, como o fruto, a fibra, o óleo e o látex.
No entanto, segundo Mota et al (2007) há três décadas o extrativismo1 parecia
fadado a desaparecer diante da concorrência dos produtos sintéticos (HOMMA, 1993);
das redes arcaicas de comercialização (EMPERAIRE & LESCURE, 2000); da imagem
negativa da atividade associada à pilhagem e destruição dos agroecossistemas; da baixa
rentabilidade econômica (LESCURE, 2000) e da tendência de generalização da
tecnificação dos processos de trabalho no espaço rural com profundas consequências
nas relações sociais para atender mercados exigentes e globais.
Os anos passaram e a atividade extrativista se extinguiu em algumas áreas,
conforme o previsto, agoniza em outras, mas também persiste (Castanha-do-Brasil;
Mangaba, Bacuri, por exemplo) como uma das possibilidades de reprodução social de
populações rurais que desenvolvem sistemas produtivos (ALMEIDA, 1994), nos quais a
caça, agricultura e pesca são componentes essenciais segundo arranjos variados e com
técnicas de baixo impacto ambiental (MOTA et al, 2007).
O extrativismo, em especial, o vegetal, reveste-se de fundamental importância
para a economia do Nordeste brasileiro, representando fonte de renda e absorção de
mão-de-obra no campo. Várias foram as espécies vegetais que tiveram seus produtos ou
subprodutos extraídos, podendo-se citar a Carnaúba Copernicia cerifera; o Babaçu
Orbignya speciosa; o Agave Agave sisalana; o angico Anadaranthera sp para a
produção de tanino; a maniçoba Manihot glaziovii para a produção da borracha; a
mamona ou carrapateira (Ricinus communis) entre outras (CARVALHO & GOMES,
2006).
No município de Sumé além do extrativismo do Angico existe
representatividade para o do imbuzeiro.

O Imbuzeiro

O umbuzeiro (Spondias tuberosa A. Camara) é uma espécie heliófita, decídua,


pertencente à família Anarcadiaceae, típica das caatingas do nordeste brasileiro,
ocorrendo desde o Ceará até o norte de Minas Gerais. A planta adulta fornece sombra ao
sertanejo e ao gado. Apresenta flores melíferas e frutos tipo drupa levemente pilosa e
arredondada (LORENZI, 1992). Esta espécie possui raízes superficiais denominadas de

1
Entendido aqui como a exploração dos produtos nativos em ecossistemas diversos e voltados para diferentes mercados no conjunto
de atividades desenvolvidas pelas denominadas populações tradicionais.
37

“túberas aqüíferas” ou “cunangas”, que estocam água durante o período seco. Assim,
uma árvore adulta pode acumular até dois mil litros de água (SIBINELII, 2007).
As folhas são pinadas, glabras quando adultas, com folíolos ovalados ou
elipsóides, obtusos ou levemente cordados na base, agudos ou obtusos no ápice, com
cerca de 4 cm de comprimento e 2 cm de largura (BRAGA, 1960). As inflorescências
são do tipo panícula, geralmente com nove fascículos opostos e encerrando, em média,
onze flores. Numa inflorescência, 50% das flores são hermafroditas e 50% são flores
masculinas, com estigma e estilete rudimentares. Existem evidências de polinização
cruzada efetuada por insetos, bem como parcelamento da abertura das flores numa
mesma inflorescência (PIRES & OLIVEIRA, 1986).
Também conhecida popularmente como Imbuzeiro, umbuzeiro, ombuzeiro,
embuzeiro e ambuzeiro é árvore símbolo da Região Semiárida Brasileira. Registrada
pela primeira vez na literatura a partir do Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares
de Sousa, datado de 1587, foi classificada pelo botânico paraibano Manuel de Arruda
Câmara, como sendo representativa da família Anacardiaceae. O termo imbu vem da
Língua Tupy y-mbu o que significa “árvore que dá de beber” pelo fato da espécie
apresentar modificações no sistema radicular denominadas xilopódios e que os
indígenas utilizavam para mitigar a sede em longas travessias ou nos períodos de
estiagem proporcionando uma “água” rica em minerais e vários nutrientes.
Regionalmente os xilopódios são denominados de “batatas”, “cuncas”, “fôfas” e
“cafofas”.
O umbuzeiro tem as mesmas exigências ecológicas do sisal, do caroá, da
palma, do aveloz. Cresce, em estado nativo, nas caatingas elevadas, de ar seco, noites
frescas e dias ensolarados, em associação com a vegetação natural composta de
facheiro, mulungu, macambira, canudo, malva e muitas cactáceas. A sua presença é
notada, também, na região do Agreste Paraibano e, menos freqüentemente, no Sertão
Paraibano. Nos Cariris Velhos2, Paraíba, é onde existe o maior número destas árvores;
nas caatingas da Bahia e de Pernambuco, no Agreste do Piauí, essa frutífera encontrou
larga área com boas condições para o seu crescimento. A maior ocorrência da Spondias
tuberosa é nos municípios com pluviosidade entre 400,0 mm e 800,0 mm; chuvas
começando em janeiro e terminando em maio; temperatura do ar variando entre 12ºC e
38ºC; grau higrométrico do ar entre 30,0% e 90,0% e insolação de 2.000 a 3.000 horas
de luz solar por ano (DUQUE, 2004).

2
Atualmente parte das Microrregiões dos Cariris Ocidental e Oriental
38

De acordo com Duque (2004) as raízes laterais, muito longas, ocupam o


primeiro metro da profundidade do solo. A sobrevivência da Spondias tuberosa, por
mais de trinta anos, mesmo com as secas, é assegurada pelos xilopódios ou batatas, nas
raízes, com o armazenamento de água, de mucilagens, de glucose, de tanino, de amido,
de ácido, etc., que nutrem o vegetal, quando o céu lhe nega água. Perdendo as folhas,
depois do inverno, para evitar a transpiração, o umbuzeiro atravessa o verão em estado
de dormência vegetativa, com os xilopódios cheios de reservas nutritivas. Ao iniciar o
inverno, as primeiras chuvas, modificando a temperatura e o grau higrométrico do ar,
aceleram o metabolismo interno como aparecimento das primeiras flores e folhas nos
meses de janeiro a fevereiro. Em março e abril, os frutos amadurecem. O xerofilismo do
umbuzeiro faz reservas por adiantamento, uma fase ativa de elaboração de alimentos,
enquanto existem as folhas no inverno e permanece economizando essas reservas
durante a fase de estagnação vegetativa, no verão quente e seco.
O umbuzeiro oferece um vasto campo de atividades para a iniciativa particular
pelos múltiplos produtos que oferece. A professora Carmélia Barbosa Régis, de Campo
Formoso, Bahia, em entrevista ao “Correio da Manhã” de 22.1.1959, enumerou 48
produtos que podem ser extraídos dessa planta. “Doces os mais variados feitos do fruto
do umbuzeiro, a farinha da raiz, bebida feita com o caroço torrado e moído, gelatinas,
umbuzadas, acetona, torta para animais, água medicinal da raiz, extrato semelhante ao
de tomate, vinagre, vinho e outros produtos” (DUQUE, 2004).

O Extrativismo do imbu

O extrativismo do fruto do umbuzeiro é de grande importância para as


populações rurais, garantindo fonte de renda extra aos agricultores. Com esta renda são
adquiridos alimentos, bens domésticos, roupas para as crianças e material escolar, uma
vez que o período da safra coincide com início de período letivo nas escolas rurais. A
valorização do umbu pode fortalecer as tradições do povo e a permanência no campo a
partir da geração de renda complementar (BARRETO & CASTRO, 2011).
Existem critérios na escolha dos frutos para a coleta. Os extrativistas
geralmente procuram por frutos “de vez”, que ainda não estão maduros, que são
selecionados pelo tamanho para facilitar o acondicionamento e o transporte. Se o fruto
colhido for para consumo, os extrativistas selecionam os umbuzeiros com frutos
maiores, mais doces e que normalmente estão localizados nas roças próximas às
moradias (BARRETO & CASTRO, 2011).
39

Ainda segundo Barreto & Castro (2011), a comercialização dos frutos colhidos
é feita nas feiras livres dos municípios. Em outros casos, os frutos coletados são
colocados em sacos de 60,0 kg destinados às fábricas de polpa ou vendidos em sacos
plásticos ou redes em barracas montadas nos acostamentos das rodovias.
Esta Anacardiácea, pela sua adaptação ao Semiárido e aproveitamento secular,
tem desempenhado importante papel agrossocioeconômico e o extrativismo de seu fruto
é bastante significativo na composição da renda familiar para algumas comunidades da
região. Contudo, o extrativismo de frutos tem apresentado declínio constante, ao longo
dos últimos 20 anos (SANTOS et al, 2008).
Segundo dados da Pesquisa de Extração Vegetal e Silvicultura – PEVS do
IBGE (2011) a produção brasileira de frutos de umbu foi de 9.428 t em 2009,
aumentando para 9.804 t em 2010 e diminuindo novamente para 9.324 t em 2011.
Ainda segundo a PEVS, em 2011 a Paraíba era o 5º maior produtor de frutos de umbu
do país, com uma produção de 118,0 t, atrás da Bahia (8.165,0 t), Pernambuco (448,0 t),
Minas Gerais (222,0 t) e Rio Grande do Norte (188,0 t).
Ainda de acordo com dados da PEVS/IBGE (2011), na Paraíba os municípios
que se destacam com maior extrativismo de frutos do umbuzeiro são São José do
Sabugi (24,0 t); Juazeirinho (19,0 t), Junco do Seridó (8,0 t), Soledade e Taperoá
(ambas com 7,0 t). Apenas 31 municípios paraibanos apresentam extração do fruto de
umbu para fins comerciais, quando o Estado tem 170 municípios na zona semiárida com
provável ocorrência do umbuzeiro, além de áreas do entorno que possivelmente devem
apresentar registros desta planta.
De acordo com a cultura popular, o umbuzeiro é uma planta que está integrada
aos hábitos alimentares da população do Semiárido brasileiro. Atualmente, a sua
exploração é feita de forma extrativista em grande parte do Nordeste, onde a Bahia
responde por 85,0% da produção nacional. Estima-se que o negócio agrícola do umbu,
através da coleta, beneficiamento e processamento gire em torno de 6 milhões de
dólares/ano (SANTOS, 1998, apud ARAÚJO, 2004).
A produção ainda é extrativista sendo a comercialização feita nas feiras livres
nas áreas onde ocorrem de forma espontânea, tendo potencial para ser cultivada em
escala comercial, pois apresenta características como tolerância à seca, considerável teor
de vitamina “C”, aliados ainda a utilidades como suco, licor, sorvete, picolé e mousse
que tornam uma espécie potencialmente promissora (ARAÚJO et al, 2004).
40

Em nível de Brasil o IBGE/SIDRA (s.d.) informou que a produção em 2007 foi


de 8.619 t; em 2008 de 9.268 t; em 2009 de 9.428 t; em 2010 de 9.804 t; em 2011 de
9.323 t e em 2012 de 7.980 t.

O Imbuzeiro na literatura

O texto que segue foi escrito em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza
intitulado ―Tratado Descriptivo do Brasil em 1587‖ e tornado público pelo historiador
Francisco Adolfho de Varnhagem em 1851.

Capítulo LIII “Que trata da árvore dos umbus, que se dá


pelo sertão da Bahia. ‖Umbu é uma árvore pouco alegre à vista,
áspera da madeira, e com espinhos como romeira, e do seu tamanho,
a qual tem a folha miúda. Dá esta árvore umas flores brancas, e o
fruto, do mesmo nome, do tamanho e feição das ameixas brandas, e
tem a mesma cor e sabor, e o caroço maior. Dá-se esta fruta
ordinariamente pelo sertão, no mato que se chama a caatinga, que
está pelo menos afastado vinte léguas do mar, que é terra seca, de
pouca água, onde a natureza criou a estas árvores para remédio da
sêde que os índios por ali passam. Esta árvore lança das raízes
naturais outras raízes tamanhas e da feição das botijas, outras
maiores e menores, redondas e compridas como batatas, e acham-se
algumas afastadas da árvore cincoenta e sessenta passos, e outras
mais ao perto. E para o gentio saber onde estas raízes estão, anda
batendo com um pau pelo chão, por cujo tom o conhece, onde cava e
tira as raízes de três e quatro palmos de alto, e outras se acham à flor
da terra, às quais se tira uma casca parda que tem, como a dos
inhames, e ficam alvíssimas e brandas como maçãs de coco; cujo
sabor é mui doce, e tão sumarento que se desfaz na boca tudo em
água frigidíssima e mui desencalmada; com o que a gente que anda
pelo sertão mata a sede onde não acha água para beber, e mata a
fome comendo esta raíz, que é mui sadia, e não fez nunca mal a
ninguém que comesse muito dela. Destas árvores há já algumas nas
fazendas dos portugueses, que nasceram dos caroços dos umbus, onde
dão o mesmo fruto e raízes.
41

Euclides da Cunha, em sua obra prima “Os Sertões” de 1902, descrevendo a


Campanha de Canudos de forma documental, dedicou textos que fielmente traçam os
aspectos antropológicos, culturais, sociais, etnológicos, geográficos e ecológicos da
região, descrevendo trechos dedicados à flora sertaneja, onde o umbuzeiro é
frequentemente tomado como referência3.

Ressurreição da flora. “ ... E ao tornar da travessia o viajante,


pasmo, não vê mais o deserto.
Sobre o solo, que as amarílis atapetam, ressurge triunfalmente
a flora tropical.
É uma mutação de apoteose.
Os mulungus rotundos, à borda das cacimbas cheias, estadeiam
a púrpura das largas flores vermelhas, sem esperar pelas folhas, as
caraíbas e baraúnas altas refrondescem à margem dos ribeirões
refertos; ramalham, ressoantes, os marizeiros esgalhados, à
passagem das virações suaves; assomam, vivazes, amortecendo as
truncaduras das quebradas, as quixabeiras de folhas pequeninas e
frutos que lembram contas de ônix; mais virentes, adensam-se os
icozeiros pelas várzeas, sob o ondular festivo das copas dos ouricuris:
ondeiam, móveis, avivando a paisagem, acamando-se nos plainos,
arredondando as encostas, as moitas floridas do alecrim-os-
tabuleiros, de caules finos e flexíveis; as umburanas perfumam os
ares, filtrando-os nas frondes enfolhadas, e — dominando a
revivescência geral — não já pela altura senão pelo gracioso do
porte, os umbuzeiros alevantam dous metros sobre o chão, irradiantes
em círculo, os galhos numerosos‖.
O Umbuzeiro. “...É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das
rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros.
Representa o mais frisante exemplo de adaptação da flora
sertaneja. Foi, talvez, de talhe mais vigoroso e alto — e veio
descaindo, pouco a pouco, numa intercadência de estios flamívomos e
invernos torrenciais, modificando-se a feição do meio, desinvoluindo,
até se preparar para a resistência e reagindo, por fim, desafiando as
secas duradouras, sustentando-se nas quadras miseráveis, mercê da

3
Conservou-se a grafia original
42

energia vital que economiza nas estações benéficas, das reservas


guardadas em grande cópia nas raízes.
E reparte-as com o homem. Se não existisse o umbuzeiro aquele
trato de sertão, tão estéril que nele escasseiam os carnaubais tão
providencialmente dispersos nos que os convizinham até ao Ceará,
estaria despovoado. O umbu é para o infeliz matuto que ali vive o
mesmo que a mauritia, para os garaúnos dos llanos.
Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio acariciador e
amigo, onde os ramos recurvos e entrelaçados parecem de propósito
feitos para a armação das redes bamboantes. E ao chegarem os
tempos felizes dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da
umbuzada tradicional.
O gado, mesmo nos dias de abastança, cobiça o sumo
acidulado das suas folhas. Realça-se-lhe, então, o porte, levantada,
em recorte firme, a copa arredondada, num plano perfeito sobre o
chão, à altura atingida pelos bois mais altos, ao modo de plantas
ornamentais entregues à solicitude de práticos jardineiros. Assim
decotadas semelham grandes calotas esféricas. Dominam a flora
sertaneja nos tempos felizes, como os cereus melancólicos nos
paroxismos estivais‖.
Tradições. ―...Volvem os vaqueiros ao pouso e ali, nas redes
bamboantes, relatando as peripécias da vaquejada ou famosas
aventuras de feira, passam as horas matando, na significação
completa do termo, o tempo, e desalterando-se com a umbuzada
saborosíssima, ou merendando a iguaria incomparável de jerimum
com leite‖.
A Jurema. ―...As juremas, prediletas dos caboclos — o seu
haxixe capitoso, fornecendo-lhes, grátis, inestimável beberagem, que
os revigora depois das caminhadas longas, extinguindo-lhes as
fadigas em momentos, feito um filtro mágico — derramam-se em
sebes, impenetráveis tranqueiras disfarçadas em folhas diminutas;
refrondam os marizeiros raros — misteriosas árvores que pressagiam
a volta das chuvas e das épocas aneladas do verde e o termo da
magrém — quando, em pleno flagelar da seca, lhes porejam na casca
ressequida dos troncos algumas gotas d‘água; reverdecem os
angicos; lourejam os juás em moitas; e as baraúnas de flores em
cachos, e os araticuns à ourela dos banhados...mas, destacando-se,
43

esparsos pelas chapadas, ou no bolear dos cerros, os umbuzeiros,


estrelando flores alvíssimas, abrolhando em folhas, que passam em
fugitivos cambiantes de um verde pálido ao róseo vivo dos rebentos
novos, atraem melhor o olhar, são a nota mais feliz do cenário
deslumbrante‖.
Insulamento no deserto. “... Ali está, em torno, a caatinga, o
seu celeiro agreste. Esquadrinha-o. Talha em pedaços os mandacarus
que desalteram, ou as ramas verdoengas dos juazeiros que alimentam
os magros bois famintos; derruba os estípites dos ouricuris e rala-os,
amassa-os, cozinha-os, fazendo um pão sinistro, o bró, que incha os
ventres num enfarte ilusório, empanzinando o faminto: atesta os
jiraus de coquilhos; arranca as raízes túmidas dos umbuzeiros, que
lhe dessedentam os filhos, reservando para si o sumo adstringente dos
cladódios do xiquexique, que enrouquece ou extingue a voz de quem o
bebe, e demasia-se em trabalhos, apelando infatigável para todos os
recursos, — forte e carinhoso — defendendo-se e estendendo à prole
abatida e aos rebanhos confiados a energia sobre-humana.
Preparativos da reação. “...A força vai prosseguindo mais
cautelosa agora.
Subjugam o ânimo dos combatentes, caminhando em silêncio, o
império angustioso do inimigo impalpável e a expectativa torturante
dos assaltos imprevistos. O comandante rodeia-os de melhores
resguardos: ladeiam-nos companhias dispersas, pelos flancos:
duzentos metros na frente, além da vanguarda, norteia-os um
esquadrão de praças escolhidas.
No descair da encosta agreste, porém, escancela-se um sulco
de quebrada que é preciso transpor. Felizmente as barrancas,
esterilizadas dos enxurros, estão limpas: escassos restolhos de
gramíneas; cactos esguios avultando raros, entre blocos em montes;
ramalhos mortos de umbuzeiros alvejando na estonadura da seca...
....Então — nas quadras indecisas entre a seca e o verde,
quando se topam os últimos fios de água no lodo das ipueiras e as
últimas folhas amareladas nas ramas das baraúnas, e o forasteiro se
assusta e foge ante o flagelo iminente, aquele segue feliz nas
travessias longas, pelos desvios das veredas, firme na rota como quem
conhece a palmo todos os recantos do imenso lar sem teto. Nem lhe
importa que a jornada se alongue, e as habitações rareiem, e se
44

extingam as cacimbas, e escasseiem, nas baixadas, os abrigos


transitórios, onde sesteiam os vaqueiros fatigados.
Cercam-lhe relações antigas. Todas aquelas árvores são para
ele velhas companheiras. Conhece-as todas.
Nasceram juntos; cresceram irmãmente; cresceram através das
mesmas dificuldades, lutando com as mesmas agruras, sócios dos
mesmos dias remansados.
O umbu desaltera-o e dá-lhe a sombra escassa das derradeiras
folhas; o araticum, o ouricuri virente, a mari elegante, a quixaba de
frutos pequeninos, alimentam-no a fartar; as palmatórias, despidas
em combustão rápida dos espinhos numerosos, os mandacarus
talhados a facão, ou as folhas dos juás — sustentam-lhe o cavalo; os
últimos lhe dão ainda a cobertura para o rancho provisório; os
caroás fibrosos fazem-se cordas flexíveis e resistentes...
E se é preciso avançar a despeito da noite, e o olhar afogado
no escuro apenas lobriga a fosforescência azulada das cunanãs
dependurando-se pelos galhos como grinaldas fantásticas, basta-lhe
partir e acender um ramo verde de candombá e agitar pelas veredas,
espantando as suçuaranas deslumbradas, um archote fulgurante...
Como se faz um deserto. “... Deletreando-se antigos roteiros
dos sertanistas do Norte, destemerosos catingueiros que pleiteavam
parelhas com os bandeirantes do Sul, nota-se a cada passo uma
alusão incisiva à bruteza das paragens que atravessavam,
perquirindo as chapadas, em busca das ―minas de prata‖ de
Melchior Moréia — e passando quase todos à margem do sertão de
Canudos, com escala em Monte Santo, então o Piquaraçá dos tapuias.
E falam nos ―campos frios (certamente à noite, pela irradiação
intensa do solo desabrigado) cortando léguas de caatinga sem água
nem caravatá que a tivesse e com raízes de umbu e mandacaru,
remediando a gente‖ no penoso desbravar das veredas.

As ações ao redor do imbuzeiro

A Educação Contextualizada é uma das políticas públicas mais importantes


defendidas pelas organizações sociais para a Convivência com o Semiárido, a partir da
valorização do meio ambiente e dos saberes locais. A pedagoga Edineusa Sousa,
integrante da equipe do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada
45

(IRPAA), esclareceu que, por muito tempo, a escola tradicional não priorizou nos
currículos e diretrizes da educação as diversidades regionais e implantou modelos
unificados para todo o país. “A proposta da educação contextualizada é construir um
olhar a partir da nossa própria realidade local, sem menosprezar as experiências globais
de educação”, explicou.
Sobre o envolvimento do umbuzeiro na proposta, foi levado em conta que “é
uma planta nativa da Caatinga, é o principal símbolo da resistência ao clima semiárido e
tem sido uma fonte de renda para as comunidades rurais, devido à quantidade de
produtos derivados do umbu”. Apresentado no Semiárido Show 2011, o “Umbuzeiro do
Conhecimento”, foi um ambiente destinado à aprendizagem de forma lúdica,
compartilhando experiências como narração de histórias e vivência de educadores e
articuladores sociais. “Serão apresentados livros paradidáticos, mecanismos de
produção, brinquedos, uma variedade de produtos relacionados não só com a educação
contextualizada, mas também com a economia solidária. Será um espaço de formação”,
conclui a pedagoga..
Outra experiência exitosa visando o desenvolvimento da cadeia produtiva do
umbuzeiro é o “Projeto Gente de Valor”, implantado na cidade de Imbuíra, Bahia e que
passou a desenvolver um plano de ações integradas voltadas para o desenvolvimento
sustentável da cadeia produtiva do umbu contemplando todas as dimensões
metodológicas do Projeto. Ênfase especial foi dada ao estímulo à organização e
formação de grupos de interesse do Umbu, como estratégia fundamental para efetivar o
processo de ação grupal e colaborativa, promovendo as seguintes ações: estudo de
viabilidade da cadeia produtiva do umbu (parceria com o IRPAA); capacitação sobre o
manejo e enxertia do umbuzeiro com enfoque produtivo e agroecológico; implantação
de viveiro de mudas; aquisição do kit para processamento de frutas; capacitação sobre
processamento do umbu (parceria com a COOPROAF e ISFA); capacitação sobre o
enfoque de gênero e geração; intercâmbio envolvendo integrantes do G.I. e as indústrias
de polpas Eva e Doce Mel; contratação do técnico especialista junto a COOPERCUC;
elaboração de projetos executivos para a implantação das 03 unidades de
beneficiamento do umbu e outras frutas nos subterritórios de Nova Esperança e Quatro
Forças Unidas, além da COOPROAF; celebração de Convênios entre a CAR, as
Associações representativas dos subterritórios e a COOPROAF, visando o
desenvolvimento da cadeia produtiva do umbu, envolvendo recursos da ordem de dois
milhões de reais.
46

O Imbuzeiro e o conhecimento agroecológico

Castro et.al. (2007) realizaram um estudo sobre a relação polinização das


abelhas e a conservação/preservação dos umbuzeiros na aldeia indígena Pankaraé, no
Semiárido baiano. O plano de manejo para conservação do umbuzeiro e seus
polinizadores foi baseado no conhecimento científico sobre biologia floral, sistema
reprodutivo e polinização e no conhecimento dos índios Pankararé sobre a relação
abelha-flor, uso e manejo do umbuzeiro. Para a elaboração do plano de manejo seguiu-
se um diagrama de caminhos e um roteiro que incluiu: a identificação das espécies que
polinizam as flores do umbuzeiro; o sistema de criação do polinizador considerado
potencial; a identificação dos recursos florais forrageados pelo polinizador; a
identificação de locais para nidificação do polinizador; práticas agroecológicas de
manejo.
Maia (1992) observou que o povo Pankararé, cujo território é área limítrofe
com a Reserva Ecológica do Raso da Catarina, pode ser visto como um segmento social
camponês que se auto-identifica como um grupo étnico e se denominaria de
campesinato indígena. Esta se caracteriza pela auto-exploração da mão-de-obra familiar,
economia de subsistência (agricultura e pecuária) e os excedentes da produção agrícola
(feijão, milho e mandioca) são vendidos no período de safra, após cálculo econômico
(feito pelo homem) para garantir provisão para o consumo ou guardados como semente.
Do mesmo modo, produtos de recoleção, como frutos silvestres: umbu Spondias
tuberosa - Anacardiaceae); murici Byrsonima gardneriana – Malpighiaceae; licuri
Syagrus coronata - Arecaceae e caju Anacardium occidentale - Anacardiaceae, são
advindos da coleta extrativista dos seus frutos.
Para o autor a conservação de polinizadores dessas espécies frutíferas silvestres
em áreas naturais torna-se dependente e integrada aos sistemas agroflorestais de criação
de animais silvestres (polinizadores e dispersores). A manutenção das populações de
polinizadores nativos é necessária para as espécies que dependem dos vetores
biológicos para a reprodução, formação de frutos e a dispersão das sementes (MAIA,
1992).
Os resultados dos experimentos revelaram o umbuzeiro como espécie
andromonoica, ou seja, possui flores hermafroditas e masculinas em um mesmo
indivíduo. Os resultados positivos para os tratamentos de polinização livre e cruzada
manual em flores hermafroditas demonstraram que a estratégia de polinização é a
47

cruzada (xenogamia/alogamia), desta forma necessitando de agentes bióticos para o


transporte dos seus grãos de pólen. A transferência de pólen é mediada exclusivamente
por insetos polinizadores.
Estes insetos constituíram-se, na sua maioria, de abelhas sem ferrão
(Meliponinae), de vespas sociais (Vespidae), formigas arborícolas (Formicidae) e
moscas (Syrphidae), que visitaram as flores de ambos os sexos ao longo de todo o dia
(MAIA, 1992).
Para a conservação do umbuzeiro foi sugerida a redução da caça dos animais
silvestres dispersores das sementes, formação de viveiros para a sobrevivência das
plântulas através da seleção de sementes com frutos maiores e mais doces, através de
uma unidade demonstrativa de umbu gigante da Embrapa e o zoneamento das
populações de umbuzeiros visando coleta e conservação do material genético. Para a
conservação dos polinizadores foi sugerido enriquecer a caatinga com as espécies
forrageiras apícolas, evitar cortes rasos de árvores, produzir mudas das espécies
arbóreas que fornecem ocos para nidificação das abelhas e demais polinizadores, reduzir
a predação de colônias de abelhas por meleiros e adotar um sistema sustentável de
criação de abelhas sem ferrão (meliponicultura sustentável) (MAIA, 1992).
Estudos etnobotânicos são ainda muito escassos na Caatinga, considerado o
quarto maior bioma e o único exclusivamente brasileiro. As atuais formas de uso e
aproveitamento da terra são extremamente precárias e não respeitam a complexidade
desse delicado bioma. Para Albuquerque (1999) apud Nascimento et al (2013), estudos
etnobiológicos possibilitam uma maior compreensão das relações homem-meio o que
contribui para a conservação da biodiversidade e do manejo sustentável, por parte da
comunidade local.
Uma das alternativas que têm sido apontadas para solucionar ou minimizar
esse problema e sustentada por Miranda et al (2010) é a de que os educadores devem,
“trabalhar a Educação Ambiental sob a ótica interdisciplinar em consonância com as
diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99)”. Albuquerque
(1999) corroborou com a educação interdisciplinar ao afirmar que estudos
etnobiológicos possibilitam associar os conhecimentos construídos no campo das
ciências naturais aos das ciências sociais, tomando como ponto de partida o
conhecimento e uso que as populações locais fazem dos recursos naturais e a análise do
impacto de suas práticas sobre a biodiversidade.
48

O umbuzeiro Spondias tuberosa, segundo Nadia et al (2007), é uma árvore


endêmica da caatinga, cujo sistema de polinização generalista, polinizadas desde
abelhas até algumas espécies de vespas. A S. tuberosa produz flores e frutos durante a
estação seca, quando a maioria das espécies de plantas permanecem em um estado
completamente decídua, sendo importante fonte de alimento para ovinos, caprinos,
bovinos e animais silvestres (RESENDE et al., 2004 apud NADIA et al, 2007). A
espécie representa um importante recurso para polinizadores e dispersores durante a
estação seca. Além disso, os frutos representam um complemento de renda para a
população local, como eles são usados como alimento para os seres humanos e gado
(LINS NETO, 2008 apud NADIA et al, 2007 ). Portanto, a espécie tem grande
importância em contextos sociais, econômicos e culturais ecológicos (NADIA et al.,
2007; LINS NETO, 2008).
Em pesquisa realizada no Assentamento Fazenda Santa Helena e na Vila do
Pará, povoados do município de Santa Cruz do Capibaribe, Mesorregião do Agreste
Pernambucano e Microrregião do Alto Capibaribe, Lima et al (2013), verificaram o uso
e conhecimento da população local sobre o umbuzeiro para a população local. Os
questionários contemplaram o perfil socioeconômico, a importância da preservação e o
nível de conhecimento e a importância do umbuzeiro para a comunidade. Quando
foram indagados sobre a utilização do umbuzeiro pelos moradores da Vila do Pará e da
Fazenda Santa Helena, as respostas obtidas colocaram o umbuzeiro em diversas
categorias de uso, como: combustível, construção, medicinal, forragem e alimento. A
categoria menos citada foi a de uso como combustível, porém a que revelou que foi
mais citada foi a de alimento, no consumo do fruto in natura, na utilização do fruto para
fazer suco (82,6%), doces, picolé e sorvete e a utilização da batata por 88,2%. Porém
fizeram ressalvas com relação a utilização da batata afirmando que a retirada de forma
descontrolada leva a extinção do umbuzeiro. Segundo Cavalcanti et al (2002) em
levantamento sobre os efeitos da retirada da batata do umbuzeiro, verificaram que
houve uma redução de 40,24% na produção de frutos no período estudado.
As falas em relação à importância foram agrupadas em cinco categorias,
conforme Triviños (2011) apud Lima et al (2013): valor de existência, valor ecológico,
risco de extinção, valor estético e religiosidade. A categoria de valor de existência foi a
que teve mais destaque pelos entrevistados com 41,2% das respostas. Isto significou que
a comunidade tem ideia da importância do umbuzeiro para a comunidade, conforme o
depoimento de um morador da Fazenda Santa Helena, acerca dessa categoria: “Porque
49

tá protegendo o umbuzeiro, está protegendo a vida dos animais e das pessoas do local”.
O valor ecológico foi contemplado com 35,2% das respostas, isso refletiu a preocupação
em preservar esta espécie nativa ecossistema, afirmado por outro morador da Fazenda
Santa Helena, com a resposta: “Porque serve de sombra e de alimento para os
animais”. Na categoria risco de extinção 17,6% retratam a preocupação dos moradores
com a extinção do umbuzeiro, quando é afirmado por um morador da Vila do Pará, que:
“Preservando o umbuzeiro teremos alimento para as criações no verão evitando morte
de bodes e a extinção de outros animais”. Na categoria de valor estético, 11,7% dos
entrevistados afirmaram admirarem o verde dessa planta no período de seca; esse
mesmo valor foi relacionado à categoria religiosidade, conforme a fala de um morador
da Vila do Pará a seguir: “Porque no verão ela permanece verde e deixa o local mais
bonito o por ser uma obra de Deus”.
Ao serem indagados sobre a utilização do umbuzeiro por animais silvestres,
54,0% relataram que são utilizadas para alimentação, como sombra e para a construção
de ninhos pelos pássaros. Além, de ter sido relatado por 41,2% dos entrevistados a
utilização das flores pelas abelhas, o que corroborou com Nadia et al (2007), ao relatar
que oito espécies de vespas, seis de abelhas e quatro de moscas visitam as flores de
Spondias tuberosa, sendo as espécies Scaptotrigona postica flavisetis Moure, Trigona
fuscipennis Friese e Polybia ignobilis Haliday, as principais polinizadoras. Quando se
perguntou aos moradores se o umbuzeiro causa algum problema para as outras espécies
do seu entorno, 76,5% afirmaram que não, e que o umbuzeiro é uma espécie nativa e
que não causa danos à natureza. Como conclusão, os pesquisadores afirmaram que:
sobre o conhecimento etnobotânico dos moradores da Vila do Pará e do Assentamento
Fazenda Santa Helena “...são importantes e possibilitam e poderá ser utilizado na
realização de trabalhos sobre preservação da espécie, bem como em campanhas sobre a
utilização e sobre o cuidado com a exploração da batata” (LIMA et al, 2013).

O Imbuzeiro e as Políticas Públicas

O Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da


Sociobiodiversidade -PNPSB foi lançado em 2009 pelo Governo Federal, sob a
coordenação dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA); Meio Ambiente
(MMA); Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB). Seu objetivo é fortalecer cadeias produtivas e serviços
50

gerados a partir da sociobiodiversidade brasileira, e visa beneficiar principalmente


povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares. Para a elaboração do
referido plano, foram realizados sete seminários regionais por biomas (Amazônia
Oriental, Amazônia Ocidental, Cerrado, Mata Atlântica e Zona Costeira da Mata Sul,
Mata Atlântica e Zona Costeira da Mata Sudeste e Nordeste, Pampa e Caatinga. Entre
as principais ações do PNPSB estão a promoção de políticas públicas de crédito,
assistência técnica e extensão rural, mercados e instrumentos de comercialização,
agregação de valor socioambiental e geração de renda, segurança alimentar,
fortalecimento da organização social e produtiva e gestão de empreendimentos (ISPN,
2011).
A Portaria Interministerial 239/2009, que estabeleceu orientações para a
implementação do referido Plano Nacional, considerou que o fortalecimento das cadeias
produtivas da sociobiodiversidade é meta fundamental para possibilitar a integração do
desenvolvimento econômico do Brasil, com a conservação do meio ambiente, a inclusão
social e produtiva de povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares com
respeito às suas especificidades culturais e étnicas. A referida Portaria definiu os
produtos da sociobiodiversidade como “bens e serviços (produtos finais, matérias
primas ou benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade, voltados à
formação de cadeias produtivas de interesse dos povos e comunidades tradicionais e de
agricultores familiares, que promovam a manutenção e valorização de suas práticas e
saberes, e assegurem os direitos decorrentes, gerando renda e promovendo a melhoria
de sua qualidade de vida e do ambiente em que vivem” (ISPN, 2011).
Alguns produtos da sociobiodiversidade identificados durante as consultas
regionais foram: castanha do brasil, babaçu, cupuaçu, umbu, açaí, pequi, buriti, jatobá,
baru, mangaba, andiroba, copaíba, licuri, pinhão, erva mate, entre outros. Apesar das
críticas e eventuais falhas do PNPSB, ele merece ser destacado por promover a
articulação intersetorial e as interfaces entre diversidade biológica e sociocultural, assim
como por valorizar os produtos que a nossa sociobiodiversidade produz. A produção
sustentável de produtos da sociobiodiversidade sempre foi realizada pelos povos e
comunidades tradicionais para autoconsumo, sendo o excedente escoado na forma de
produtos primários com baixa agregação de valor e grande dependência de
atravessadores e um dos objetivos do PNPSB é justamente reverter este quadro (ISPN,
2011).
51

O Imbuzeiro como cultura imaterial

A FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano (2007) realizou um


inventário sobre a cultura imaterial relacionada com o imbuzeiro conforme o roteiro que
se segue:
Umbuzada e Esteira de Umbu
Inventariante: Nívia Paula Dias de Assis
Categoria: Técnicas
Produto: UMBU OU IMBU
Resultado: Umbuzada e Esteira de Umbu
Informante: Joana Dias da Silva
Idade: 70 anos
Localidade: Salininha – Coronel José Dias –PI
Data: 16/01/2007
1 – Relevância do registro:
O umbu é uma fruta típica do sertão. No período de chuvas,
de outubro a março, desponta juntamente com os recursos da lavoura
remontando o período de fartura. O sertanejo aprendeu a conviver e
aproveitar tal recurso, chegando a mapear todos os umbuzeiros da
região em que habita. Assim, numa relação de afeto costuma até
mesmo a batizar cada um deles (umbuzeiro do umbu branco,
umbuzeiro da galha caída, da Tia Zefa, do Mosquito...). Também são
montados calendários coletivos (mentais) sobre os meses que cada um
deles começa a dar frutos.
2 – Descrição completa:
A – Características:
1. Planta: umbuzeiro (Spondias tuberosa)
2. Partes aproveitadas; fruto (polpa e casca).
3. Critérios para seleção dos frutos: preferencialmente os
maduros
OBS. No início da temporada os primeiros umbus inchados
e até mesmo os verdes são coletados e cozinhados para extrair a
calda.
B – Extração (do fruto)
1. Local de retirada: umbuzeiros por toda região
2. Coleta: Por volta de 6 ou 7 horas, grupos de mulheres se
reuniam e dirigiam-se para os umbuzeiros mais próximos. O
52

primeiro passo era catar os umbus que já estavam caídos no chão; às


vezes, alguns animais (bodes e porcos) passavam antes no local e
comiam os umbus que estavam no chão, neste caso, o grupo
balançava as galhas até o momento em que parassem de cair.
Movimento nº 1: executam movimentos verticais de forma
brusca para derrubar os frutos.
Movimento nº 2: agachavam-se para catar os frutos;
depositando os mesmos em cestos, cuias e cabaças.
OBS: Em locais mais povoados como no município de Dom
Inocêncio, havia a necessidade de sair muito, pois a procura por
umbus era grande. As mulheres mais empenhadas saiam rumo aos
umbuzeiros entre 4horas ou 5 horas da manhã.
C – Transporte
1. Movimento nº 1: os cestos, gamelas e cuias eram
carregados nas cabeças das mulheres. As cabeças eram forradas
com rodilhas para facilitar o equilíbrio. As mesmas equilibravam os
recipientes e caminhavam do local de coleta até a casa de morada.
OBS: Para as crianças eram dados vasilhames menores,
onde colocavam os umbus e transportavam na cabeça.
Tempo: O processo de derrubada, coleta e transporte
demorava cerca de 1hora a 1 hora e meia; variando de acordo com a
distancia dos umbuzeiros.
D – Lavagem:
Movimento nº 1: despejava-se a água que estava
armazenada em potes dentro das cuias e gamelas. Em seguida a
matriarca da família lavava os frutos.
Movimento nº 2: cada fruto recebia um pequeno corte de 1
cm.
OBS: O corte facilitava a etapa seguinte, na qual os frutos
seriam espremidos.
Movimento nº 3: Após este procedimento os umbus eram
depositados em alguidares.
Tempo: de 8 horas às 8:15 horas.
E – Espremer:
Movimento nº 1: ainda no alguidar começava-se a espremer
os umbus, para obter a calda.
Tempo; 8:15 a 8:45 horas.
53

OBS: A quantidade de frutos coletados baseava-se no


consumo para um dia. Era também este fator que determinava o
estado físico da calda, pois para o aproveitamento imediato ela era
utilizada na sua forma líquida; mas quando se pensava num consumo
futuro, posterior á temporada dos frutos, transformavam o líquido em
barras sólidas e consistentes conhecidas como ―esteira de umbu‖.

1- ESTEIRA DE UMBU:
Após extrair a calda dos umbus, pegava-se uma tábua de 70
cmx40cm e nela despejava-se cuidadosamente 2 litros de calda.
Antes, porém, fazia-se uma espécie de barreira protetora, com
caroços de umbu, nas extremidades da madeira para que o líquido
não derramasse. A quantidade despejada em 1 dia era sempre 2
litros, e isso era feito em média em 4 dias, sendo que o critério para
acrescentar uma nova camada era que a anterior já estivesse seca
(sólida).
Tempo: por volta de 9 horas era despejada a calda na tábua
(uma camada) ficando a mesma exposta ao sol durante o restante do
dia até garantir sua secagem.
OBS: Esta era uma alternativa para aproveitar ao máximo
o ―período de fartura do umbu‖ e continuar tomando umbuzada no
período de seca. Até mesmo as cascas dos frutos passavam pelo
processo de secagem ao sol, pois também podiam ser aproveitadas em
épocas de mais escassas, na produção de umbuzada.
2- UMBUZADA:
Para 3 litros de leite de vaca ou cabra, despejava-se 2 litros
de calda. Em contato com a mesma o leite imediatamente dava sinais
de coalho (ficava um pouco cortado).
Mexia-se a mistura e estava pronta a ―bebida láctea de
umbu‖
No caso da esteira de umbu (barra de 8 litros), dividia-se a
mesma em 4 pedaços iguais, depois pegava-se apenas 1 (2litros) e
cortava em pedaços ainda menores. Estes eram despejados em 3 litros
de leite. Em contato com o mesmo as barras iam gradativamente
desmanchando.
54

OBS: O leite podia ser cozido ou cru. A umbuzada era


servida pura, com farinha ou com beiju. Algumas pessoas
acrescentam um pouco de açúcar. Geralmente é consumida no jantar.

3- INSTRUMENTOS DE TRABALHO:
Alguidar: Vasilhame de metal ou madeira de porte médio
para uso doméstico. Na região tem a mesma função de um balde
grande e era utilizado para armazenar os umbus.
Caroços de umbu: Núcleo duro da fruta. Era usado em volta
da tábua onde colocavam a calda de umbu para que a mesma não
derramasse.
Cesto: Na região se utiliza para denominar uma cesta sem
alça e de maior porte.
Cuia: Vaso feito da cabaça (Lagenaria vulgaris) e esvaziado
do miolo.
Gamela: Vasilhame de porte médio geralmente feito de
madeira. Tinha a mesma função de uma bacia e era utilizado para
lavar os umbus.
Faca de mesa: Pequena e utilizada para furar e descascar
os umbus.
Rodilha: Pano enrolado como rosca, e sobre o qual se
assenta a carga na cabeça, principalmente em mulheres.
Tábua: Geralmente media 70cmx40cm e era em cima dela
onde faziam as esteiras de umbu.
4- GLOSSÁRIO:
Calda de umbu: sumo (líquido) extraído ao espremê-lo.
Esteira de umbu: barras sólidas de calda de umbu.
Umbu inchado: fase intermediária entre o fruto verde e
maduro.
Rumo: em direção de.
5- QUESTIONÁRIO
1-Quem participava?
Dona Joana Dias da Silva e seus filhos maiores de 5 ano.
2-Como era feita a divisão das tarefas?
Dona Joana Dias da Silva. Balançava os galhos; Coletava,
transportava, lavava, furava e espremia os umbus.; fazia a umbuzada.
55

Seus filhos: Nivaldo, Gildásio, Gilberto, Maria da


Conceição, Marlene, Risoneide e Maricildes. Balançavam os galhos;
coletavam e transportavam os umbus
3-Quando acontecia a produção de umbuzada e de esteira
de umbu?
Tradicionalmente no período chuvoso, podendo também
acontecer em qualquer época, dependendo do estoque de ―esteiras de
umbu‖ ou de ―cascas‖.
4-Outras informações:
Hoje, os moradores da zona urbana de São Raimundo
Nonato, ainda fazem umbuzada. Entretanto o umbu é comprado na
feira ou aparecem mulheres vendendo de porta em porta. Após
espremê-los, misturam sua calda com leite em pó, batendo no
liquidificador. Ao invés de ―esteiras de umbu‖, quando se dispõem a
fazer a bebida em épocas que não seja o período certo, compram a
polpa.

Outros relatos foram ainda inventariados e cadastrados pela FUMDHAM


(2007) sendo eles ainda produtos da cultura imaterial identificada por:

Lobisomem
Este conto aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um
homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não
morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo
nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos
aqueles que encontram pela frente. Somente um tiro de bala de prata
em seu coração seria capaz de matá-lo. Mas a história se transformou
em algumas regiões ganhando características locais e um novo
enredo.
Quem Conta: Nilton Santos
Localidade: São Raimundo Nonato – PI
Narrativa: Em São Raimundo Nonato, na década de 1950, existia um
morador do bairro Primavera chamado Zé da Virgem, que segundo
as pessoas mais velhas da cidade, durante a época do umbu o dito
homem virava lobisomem. Segundo o narrador, quando criança, os
pais do Zé da Virgem tomavam conta dos pés de umbuzeiro e não
permitiam que ninguém pegasse os umbus. Logo ele começou a se
56

transformar em lobisomem assustando quem encostava-se ao


umbuzeiro. Ele faleceu mais ou menos na década de 1990.
Quem Conta: Albertina Araújo Landim
Localidade: São Raimundo Nonato – PI
Narrativa: A narradora conta que já algum tempo havia um senhor
chamado Zé da Virgem, morador de um local chamado Barro que se
transformava em Lobisomem. Segundo ela o homem na verdade não
tinha nada de anormal: as pessoas costumavam relacioná-lo a um
lobisomem pelo fato de em uma determinada época do ano
(temporada de colheita de umbus) ele costumava ficar pelado em
cima de um pé de umbuzeiro na tentativa de evitar que as pessoas
fossem lá colher a fruta. O fato do Zé da Virgem ser bastante
cabeludo e arredio fazia com que ele fosse comumente comparado ao
lobisomem

Em um estudo sobre “Cultura e Natureza como Patrimônios Imateriais”


realizado com os índios Pankararu de Pernambuco (SILVA, 2008), por meio de
perguntas orientadoras, os cursistas apontaram diversas expressões das suas culturas que
continuam sendo usadas ou praticadas, manifestando que o patrimônio imaterial está
totalmente ligado à memória, às práticas e aos saberes presentes no território. Vasco
Pankararu, por exemplo, apontou os terreiros de Toré, o umbuzeiro e a jurema como
plantas sagradas para seu povo. Observadas as expressões da cultura imaterial colheu-se
a seguinte informação:

...Os Praiás do mundo encantado Pankararu

Assim é chamada a vestimenta que cobre da cabeça aos pés


feita de fibra de caroá, como pode ser a ―Dança do Praiá‖, ou ainda
a manifestação dos ―Encantados‖, entre os povos indígenas da
―família‖ Pankararu que atualmente habitam o Sertão entre as
divisas de Pernambuco, Alagoas e Bahia: os Kantaruré/BA,
Kalancó/AL, Geripankó/AL, Pankararé/BA, Catokin/AL, Karuazu/AL,
Koiupancá/AL, afora os Kambiwá (Ibimirim-PE).
Possivelmente os mais conhecidos sejam os ―Praiá‖ dos
Pankararu que dançam nos ―terreiros‖ no Brejo dos Padres em
Tacaratu/PE (os Pankararu habitam também nos municípios de
Jatobá e Petrolândia/PE), nas festas do Menino do Rancho e nas
57

Corridas do Umbu. A dimensão religiosa está presente em todos os


aspectos da vida dos povos indígenas que se relacionam
profundamente com a Natureza: as plantas, os animais, a terra de
moradia indígena. Assim, o ―Praiá‖ Pankararu é a expressão de
seres míticos do universo religioso que habitam nas serras
circunvizinhas á área indígena e nas Cachoeiras de Paulo Afonso. O
―Praiá‖ é chamado pelos indígenas de ―nosso mestre-guia‖. Além
dessa dimensão ritual, o ―Praiá‖ é uma importante expressão de
afirmação cultural para o reconhecimento étnico desses povos.

Em elaboração de Mapa Cultural e Inventário do Patrimônio Imaterial em


Pernambuco (FUNDARPE s.d.) foram listadas no item Gastronomia o(a) Arroz de
Leite; Bode Assado; Buchada; Cachaça / Mel / Rapadura / Alfenim / Batida; Canjica /
Mungunzá / Pamonha / Xérem; Doce de Batata do Umbuzeiro (tijolo); Farinha de
Mandioca / Beiju / Goma; Galinha de Capoeira; Mocotó de Boi / Rabada; Sarapatel e
Tapioca

Os Festivais Regionais de Imbu

"O sertão é como umbu, doce quando tem que ser doce e azedo
quando tem que ser azedo"
Gilberto Gil

Como forma de fomentar a cultura do umbu, é realizado anualmente o Festival


Regional do Umbu realizado pela COOPERCUC – Cooperativa Agropecuária Familiar
de Canudos, Uauá e Curaçá no estado da Bahia. O Festival Regional do Umbu celebra o
potencial do umbu como fonte de renda, melhoria da qualidade de vida e organização
das famílias do semiárido dando visibilidade à gestão cooperativista local e aos
produtos da sociobiodiversidade. Fortalece as parcerias socioinstitucionais, socializando
experiências de grupos comunitários da agricultura familiar.
O Festival é realizado desde 2009 e vem se constituindo um momento oportuno
para destacar os recentes avanços do cooperativismo e debater os rumos da agricultura
familiar na região, apontando para os temas: políticas públicas para a agricultura
familiar (PNAE/PAA), sustentabilidade dos fundos de pasto, cooperativas no Brasil e o
ano Internacional do Cooperativismo (ONU), e segurança alimentar e mercado.
Também ajuda a consolidar o desenvolvimento regional pela promoção e troca de
informações e experiências entre produtores rurais, empresários, técnicos,
58

pesquisadores, estudantes, instituições públicas e privadas, exportadores e importadores,


fabricantes e revendedores. Outro aspecto importante do evento é ampliar a visibilidade
dos produtos finais, matérias-primas ou benefícios gerados a partir de recursos da
biodiversidade, formando cadeias produtivas que atendam aos interesses dos povos e
comunidades tradicionais e de agricultores familiares, que promovem a manutenção e
valorização de suas práticas, saberes e cultura.

A COOPERCUC

Na região de Canudos, no Semiárido da Bahia, região de Caatinga, uma árvore


se destaca: o umbuzeiro, símbolo da convivência do homem com o ambiente que se
caracteriza pelo sol forte e pela pouca água. A “árvore que dá de beber”, do tupi-guarani
Ymb-u, hoje é exemplo de sustentabilidade e fonte de renda para mais de 350 famílias
ligadas à COOPERCUC. O carro-chefe da COOPERCUC são produtos derivados do
fruto do umbuzeiro, mas os consumidores também podem degustar geleias, compotas,
doces de goiaba, manga e maracujá da Caatinga, produzidas em 18 mini-fábricas
instaladas em comunidades rurais dos municípios de Canudos, Uauá e Curaçá, no
Território da Cidadania Sertão do São Francisco, e centralizada na sede da Cooperativa,
em Uauá. Tudo com a marca da produção orgânica e da preservação do bioma. Em
parceria com a Embrapa, a cooperativa dissemina técnicas de enxerto no umbuzeiro,
produz e distribui mudas para os cooperados. “É necessário plantar mais umbuzeiros
para preservar e manter a cultura e a produção para as futuras gerações”, explicou o
agricultor familiar Valdivino Rodrigues, um dos fundadores da COOPERCUC.
A história da Coopercuc tem a marca da perseverança que caracteriza o
sertanejo, da organização e do apoio de políticas públicas. A cooperativada e gerente
comercial da cooperativa, Jussara Dantas de Souza, lembrou que as mulheres tomaram a
frente na organização. “Em 1997, o Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada - IRPAA, em parceria com a Embrapa, fez aqui um curso de beneficiamento
de frutas nativas. Eram mais ou menos 20 mulheres, lideranças de várias comunidades
da região que fizeram o curso e se tornaram multiplicadoras do projeto”, relembrou.
A ideia era produzir para o sustento das famílias, mas começaram a chegar
pedidos de vizinhos, que queriam enviar os doces para os parentes que moravam longe e
tinham saudade do umbu. “As mulheres logo notaram o potencial econômico da
atividade e começaram a se organizar”, recordou Jussara. Em 2003, a iniciativa ganhou
impulso quando os produtos da COOPERCUC passaram a ser comercializados para o
59

Programa de Aquisição de Alimentos - PAA, do governo federal. “Isso ajudou a nos


adequar às exigências do mercado”, afirmou Jussara. Para organizar o processo de
comercialização dos empreendimentos da agricultura familiar, em 2004 foi criada a
cooperativa, com o apoio da Caritas Internacional e do IRPAA. Com a estruturação, a
produção passou a ser comercializada em feiras regionais e nacionais, como a Feira
Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária – Brasil Rural Contemporâneo,
organizada pelo MDA.

A Genealogia

Para Lima (2006) apud Ney (s.d.) a investigação sobre genealogia trata-se de ―...
motivação: apenas o desejo de se conhecer as raízes. Deixando claro que não há
brasões nem sonhos de glória. Quase sempre vamos ao encontro de humildes
agricultores, que da terra, retiram alimentos e sustento para os seus.”
A genealogia é uma ciência auxiliar da história que estuda a origem, evolução e
disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. A definição mais
abrangente é "estudo do parentesco". Como ciência auxiliar, desenvolve-se no âmbito
da "História de Família", onde é a peça fundamental subsidiada por outras ciências,
como a sociologia, a economia, a história da arte ou o direito. É também conhecida
como "ciência da História da Família" pois tem como objetivo desvendar as origens das
pessoas e famílias por intermédio do levantamento sistemático de seus antepassados ou
descendentes, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares.
Segundo Françoise Zonabend (1991) através da genealogia o indivíduo não se
procura enquanto tal, mas enquanto produto de uma descendência, que resulta num
movimento de retorno às fontes, às origens, em busca de uma identidade regional ou
social esquecida. A genealogia é também uma sucessão de nomes próprios. Os
antropónimos que classificam cada indivíduo numa linha de descendência, inscrevem-
no num tempo, e num espaço conhecidos e impondo-lhes uma identidade que ele não
escolheu.
Para Silva Lemos (s.d.) apud Silveira (1944), a genealogia: fortalece os
vínculos de família, concorrendo bastante para impedir a dissolução e desagregação que
ora se processam de modo tão intenso, tão deprimente e tão perigosamente. revelando,
60

como revela, as origens comuns, da nossa população, desperta simpatias saudáveis e


cria elos efetivos, duradouros e vantajosos, sob qualquer ponto de vista.
De acordo com a Enciclopédia Delta Universal (s.d.) “os estudos genealógicos
podem resultar em valiosas fontes de informações acerca de costumes e condições
sociais do passado. Em alguns países, como a China e o Japão, o estudo da genealogia
é elemento importante da religião, porquanto o povo reverencia seus ancestrais.”
61

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada de dezembro de 2013 a junho de 2014, no município


de Sumé, localizado nas coordenadas geográficas S 7º 40’ (latitude) e W 36º 52’
(longitude), Mesorregião da Borborema, Microrregião do Cariri Ocidental. No Bioma
Caatinga está localizado na Ecorregião Planalto da Borborema (VELLOSO et al, 2002)
e na Bacia Hidrográfica do Alto Paraíba (AESA, s.d.). Na Região Semiárida encontra-se
na Área Geoestratégica Sertão Norte na Sub-região de Desenvolvimento Sertão do
Araripe (MMA/IICA, 2005). Apresenta uma área de 838,0 km², uma população urbana
de 12.236 hab e rural de 3.824 hab. A densidade demográfica é de 19,16 hab/km²
Partiu-se do princípio que no processo extrativista o conhecimento poderia ser
mais aprofundado pela permanência da planta onde se coleta frutos, por exemplo, por
décadas ou mesmo séculos passando por ela, e mesmo reverenciando-a, inúmeras
gerações de uma mesma família ou de uma mesma comunidade. O que poderia não
ocorrer com cultivos anuais e criação de animais, por exemplo.
O município apresenta um total de 1.036 estabelecimentos rurais sendo um
deles objeto da pesquisa denominado de Campo Alegre localizado nas coordenadas
geográficas 7º 38’ 54,55” (Sul) e 36º 51’ 18,00” (Oeste). Esta propriedade apresenta
uma área de 470,0 ha e pertence a José Paulino de Sousa (Cazuzinha Paulino) (ver
figura 10).
62

Figura 10 - Localização da Fazenda Campo Alegre


Fonte: Adaptado do Google Earth

Na propriedade Campo Alegre, desde o ano de 1940 a senhora Carmelita


Quixabeira juntamente com alguns parentes e contraparentes coleta frutos de imbuzeiros
para consumo familiar. Esta relação de mais de 70 anos fez com que houvesse uma
estreita relação entre coletores e plantas de modo que um conhecimento foi ali criado
com ramificações já na descendência da mesma e no núcleo familiar.
Para efeito metododológico se dividiu esta pesquisa em sete etapas. Na
primeira etapa realizou-se a genealogia da Família Quixabeira no município não só
para referências futuras de transmissão de conhecimento como pelo fato da natureza
simples e de afrodescendência da referida família visto que, em muitos casos estudos
genealógicos só são dirigidos a famílias “tradicionais” de determinados espaços urbanos
ou rurais, excluindo-se as muitas famílias apoiadoras dos sucessos daquelas. Em
situações de afrodescendência esta lacuna se torna ainda maior.
Entretanto, no campo agroecológico em que pesem as diferentes observações
sobre o social, conhecimento local, transmissão de conhecimento, novas gerações, etc,
se desconhecem estudos aprofundados de genealogia diga-se “agroecológica”, se
perdendo por muitas vezes a origem daquela intervenção, criação, modificação, que
passa a fazer parte do cotidiano da construção agroecológica. Assim já se perderam
63

nesta construção o(a)s autores(a)s de propostas simples como o fabrico de silos de zinco
para armazenamento de grãos; o uso das garrafas PET para armazenamento de grãos; o
fabricante das máquinas manuais de desfibramento de sisal/agave; os inventores dos
gancho de arrancar macambira e assar mandacaru, entre outras perdas.
Para o resgate genealógico utilizou-se o processo simplificado do Casal Tronco
seguido de Filho (F), Netos (N), Bisnetos (Bn) e Trinetos (Tn) quando existentes
baseado em Medeiros (1990) e Almeida (1978) como pode ser visto no exemplo:
João casado com (c.c.) Maria tendo por descendentes:
F1 – Antonio c.c. Severina tendo por descendentes:
N1- Raquel c.c. Afonso com o descendente:
Bn1 – Marcos c.c. Isabel tendo como descendente:
Tn1 – Apolônio
F2 – Fátima c.c. Inácio tendo por descendente:
N2- Luzia c.c. Alfredo com o descendente:
Bn2 Joaquim c.c. Alice com o descendente:
Tn2 – Eliza

Dentro da árvore genealógica sempre que necessário foram realizadas


observações com relação a transmissão do conhecimento sobre os imbuzeiros dentro do
núcleo familiar. Para a elaboração da árvore genealógica foram realizadas entrevistas
com diversos membros da família, consulta documental a registros de nascimento,
atestados de óbitos, batistérios, certidões de casamentos, documentos pessoais, etc. Foi
realizado um registro iconográfico que consta no Anexo 1.
Para a segunda etapa através de entrevistas procurou-se focar a pessoa de
Dona Carmelita, a sua história de vida e a sua história com os imbuzeiros. Foi realizada
uma visita a população de imbuzeiros guiada pela mesma que com 89 anos ainda
caminha longas distâncias, cata imbus, sobe cercas e “passadores” com notável
facilidade. Tanto nas entrevistas como na visita guiada foram obtidas informações tipo:
- Nome dos imbuzeiros;
- Origem dos nomes dos imbuzeiros;
- Características das safras;
- Características dos frutos;
- Aspectos relacionados ao repovoamento natural da área;
64

Parte dos depoimentos foi trancrita na integra observando-se o linguajar natural


e foi realizado registro fotográfico.
Com relação à terceira etapa foram realizadas medições e mensurações de
plantas em termos de:
- Circunferência a 0,30 m utilizando fita graduada;
- Número de troncos pela contagem visual;
- Número de ramificações principais pela contagem visual;
- Altura total de plantas utilizando vara graduada;
- Diâmetro de copas realizando-se duas medidas em cruz com trena métrica
observando-se o ponto de terminação das copas.
- Coordenadas geográficas de cada planta, utilizando aparelho GPS Garmin
ETREX 10, com coordenadas em hdddº mm’ ss,s” e Datum WGS 84.
Os valores circunferência; número de troncos; número de ramificações; altura
total e diâmetro de copas foram submetidas a tratamento estatístico para fins de
obtenção de médias, desvios padrões e coeficientes de variação. Dos vinte imbuzeiros
visitados pelos “Quixabeiras” foram avaliados quatorze (14) imbuzeiros por estarem em
processo de frutificação.
Quanto à quarta etapa de cada imbuzeiro em fase de produção foi colhida
uma quantidade de dez (10) frutos “de vez” para a obtenção dos dados de:
- Diâmetro ou “largura” de frutos utilizando-se paquímetro digital;
- Comprimento de frutos utilizando paquímetro digital;
- Peso total de frutos em gramas utilizando-se balança digital;
- Peso de caroços utilizando-se balança digital;
- Diâmetro ou “largura” de caroços utilizando-se paquímetro digital;
- Comprimento de caroços utilizando paquímetro digital;
- Peso de casca/polpa por diferença entre peso total e peso de caroços.

Na quinta etapa tomou-se como referência três propriedades de agrupamentos


do Programa do Crédito Fundiário/INTERPA, sendo elas conhecidas como: Associação
dos Produtores Rurais do Agrupamento Agrestina, Associação dos Produtores Rurais do
Agrupamento Novo Horizonte e Associação Agrupamento Tigre. Nelas através de
entrevistas com questionário semiestruturado (ver anexo) foram coletados dados como:
- Área Total da Propriedade.
- Área da Reserva Legal.
65

- Número de Parcelas.
- Área de cada parcela individual.
- Número de Imbuzeiros por Parcela.
- Número de Imbuzeiros na Reserva Legal.
- Nome dos Imbuzeiros.
- Precocidade dos Imbuzeiros.
- Acidez ou Doçura dos Frutos (sabor).
- Tipo de casca dos frutos.
- Tamanho dos Frutos
-Tamanho de Sementes.

Os valores obtidos na pesquisa foram submetidos a tratamento estatístico para


fins de obtenção de médias, desvios padrões e coeficientes de variação utilizando-se de
planilha eletrônica do Programa Microsof Office Excel 2007.
Na sexta etapa foi realizado um resgate das iniciativas ao redor da planta em
termos de reuniões, palestras, oficinas, cursos, seminários, etc, com o intuito de registrar
as diversas intervenções já realizadas, o teor das mesmas e a contribuição para o
fortalecimento da exploração racional da espécie.
E por último na sétima etapa se fez o registro de histórias/estórias envolvendo
a planta, situações e personagens e que já estão cristalizadas na oralidade da população
sendo escolhidos os registros do “Imbuzeiro do Coronel” e o “Imbuzeiro do Soldado”.
66

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do Território investigado

Onde atualmente está localizado o município de Sumé era área de domínio


indígena que deixou registros na forma de inscrições rupestres, artefatos líticos,
sepultamentos, vocabulário, culinária e miscigenação. Não se sabe qual o povo
indígena, ou quais os povos, que ocupou(aram) primeiramente a região. Existem
registros de atuação de povos da Nação Taiririu denominado de Xucuru ou Sucuru.
Estes a principio ocupavam as regiões conhecidas como Brejo e Curimataú Paraibanos
mais especificamente os atuais municípios de Solânea e Bananeiras. Solânea, por
exemplo, chegou a ser denominada a princípio de Aldeia de Santo Antônio da Boa
Vista.
Como os Xucuru/Sucuru chegaram ao atual Cariri Paraibano é fato ainda por
desvendar. Porém, o rio que nasce no atual município de Ouro Velho e percorre os
municípios de Prata, Sumé, Coxixola e Serra Branca, desaguando no Rio do Meio é
denominando de Rio Sucurú. A serra que dá conformação a parte leste da cidade de
Sumé é denominada de Sucuru. Um distrito localizado ás margens do rio Sucuru e
pertencente ao município de Serra Branca é denominado de Sucuru e ainda no atual
município de Prata que já foi denominado de Monjiqui existe em documentos antigos
uma serra denominada de Sucuru/Monjiqui e a Lagoa Xucuru-Ancauy conforme pedido
de sesmaria de 12/05/1701 (PEREIRA, 2008).
Atualmente no município de Pesqueira na Serra do Ororubá existe uma Vila
denominada de Cimbres instalada em uma aldeia indígena denominada de
Xucuru/Cariri o que leva a entender que houve contato longo entre as Nações Cariri e
Taiririú tanto no atual Cariri Paraibano como no Agreste Pernambucano que são
divididos em parte pela Serra do Jacarará na fronteira dos dois estados.
Documentos dão como certo o conhecimento do Rio Sucurú pelos holandeses
que ocupavam a então Capitania Real da Parahyba quando levados pela busca ao
minério de prata teria chegado ao que se entende atualmente como municípios de Prata
e Ouro Velho. Outros documentos fazem ver que os primeiros que conheceram a região
também o fizeram utilizando como referencial o rio Sucuru que de tão largo e caudaloso
teria sido confundido a princípio com o rio Paraíba conforme sesmarias requeridas em
18/12/1722 que se refere aos rios Sucurú e Parahybinha e em 17/11/1734 que se refere
ao Riacho Sucurú (PEREIRA, 2008).
67

É o que demonstra a topografia da região que limita com o então Sertão do Pajeú
do vizinho estado de Pernambuco. Subindo o rio Pajeú vindo do São Francisco pelo
estado de Pernambuco a probabilidade maior era de sair nas nascentes do rio Sucuru e
dele sair no rio Paraíba seguindo o seu curso e os seus afluentes (ver figura 11).

Figura 11 - Hidrografia com os principais cursos d’água da sub-bacia do Sucurú.


Fonte: Alencar et al (2013)

Outro grande elemento de afirmação é o pedido de sesmaria de 15/04/1717 de


terras devolutas para criação de gado vacum e cavalar de tres léguas de comprido por
uma de largura citando os Riachos dos Campos da Lagoa de Cima e do Poço Salgado
além dos Sítios/Fazendas Cotaé e Conceição e o pedido de sesmaria de 19/05 /1717 de
terras devolutas para criação de gado vacum e cavalar de tres léguas de comprido por
uma de largura citando a Serra da Ema e os Sítios/Fazendas Sucurú, Cotaé, Buraco e
Campo da Ema (PEREIRA, 2008).
As terras que fazem parte do município e as várzeas do Rio Sucuru e o
encontro do mesmo fazendo barra ao Riacho da Pedra Comprida, ou de São Thomé,
sempre pareceram atrativas aos criadores e agricultores. Os primeiros por encontrarem,
à época matas de vegetação de caatinga densas, altas e diversificada como ainda podem
ser encontradas nas Fazendas Firmeza, Almas e Feijão que supriam os rebanhos com as
suas ramas e pastos e sempre que exploradas de forma mais intensas transformando-se
68

em mangas, malhadas e cercados geravam bom suporte forrageiro pela natureza do solo
e pela condição climática de melhor precipitação em face da transição entre o Agreste
Pernambucano e o Pajeú Pernambucano.
Os segundos por encontrarem nas várzeas e baixios e mesmo nas terras mais
altas de tabuleiros e pés-de-serra solos mais profundos e ricos e também condições de
precipitação mais adequadas. Grandes propriedades foram formadas a principio
advindas das sesmarias e das subdivisões destas. Não se pode negar também o
surgimento de inúmeras comunidades onde existiam brechas de terras ou o famoso
“travessão”.
A Fazenda Riachão hoje submersa pelo Açude Público do DNOCS –
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas foi citada por Irineu Joffily na sua
obra Notas sobre a Parahyba de 1892 como de grande produção algodoeira com
quilômetros de roçados. Já a Fazenda Feijão, hoje Projeto de Assentamento Rural
Federal Mandacaru integra a história da região através da saga e das inovações do
Coronel Sizenando Raphael.
O cruzamento da atual rodovia federal BR 412 com os leitos naturais do Rio
Sucuru e do Riacho da Pedra Comprida assim como a convergência da atual rodovia
estadual PB 214, vinda do município do Congo, e da PB 210 vinda do município de São
José do Cordeiros, e ainda da PB 250 vinda do município de Prata, além das terras
férteis fez do pequeno Distrito de São Thomé do Sucurú, posteriormente cidade de
Sumé, um local de passagem, referencia, comércio e “chegança”.
É notável a participação de famílias de diferentes origens na região advindas do
Brejo Paraibano, do Agreste e do Pajeú Pernambucanos, do estado do Ceará e do
próprio Cariri Paraibano. Como em toda sociedade urbana ou rural estas famílias
distinguiam-se entre proprietários, vaqueiros, meieiros, foreiros, arrendatários,
moradores ou prestadores de serviço e pela pluratividade tais como carpinas,
marceneiros, carreiros, pedreiros, mestres-escola, cozinheiras, lavadeiras, ferreiros,
fazedores de cerca, domadores, rezadores, entre outros.
Dentre as famílias estabelecidas no município de Sumé e principalmente na
zona urbana pode ser citada a família “Dos Quixabeiras”.
69

Das Pessoas indagadas

―Bota Severina prá moer, Zé!


Bota Severina prá dançar.
Ô Júlio Preto, cabra macho puxa o fole.
Prá vê se a nega se bole.
Faz a nega rebolar.‖

Zé Marcolino

A família “Dos Quixabeiras” recebeu esta denominação pelo fato da matriarca


Maria Izabel da Conceição ter parido o seu primogénito Francisco sob a sombra de uma
árvore muito comum em áreas de baixios, principalmente compondo a mata ciliar,
conhecida popularmente como quixabeira Bumelia obtusifolia Roem et Schult. var.
excelsa (DC) Mig., Família Sapotaceae, que ficava à margem do caminho que ligava a
Fazenda Mandacarú de propriedade do senhor Suprino4 ao então Distrito de São Thomé
do Sucurú5, isto em 1901.
A Fazenda Mandacaru hoje faz parte do perímetro urbano de Sumé com
ocupação inicial por casas dispersas, depois aglomeramentos em forma de ruas e
atualmente, através da criação de diversos loteamentos e empreendimentos tipo
Matadouro Público Municipal e Estação Elevatória da Adutora do Cariri no trecho
Congo –Sumé ficando localizado às margens da Rodovia PB 214 (ver figura 12).

4
Proprietário da Fazenda Mandacarú, morando apenas ele e a esposa não tinham filhos, segundo informação pessoal do senhor
Vandinho de Frutuoso, ele criava nove “negrinhos” como costumava dizer. Entre esses estão Júlio, Noberto e Cícera que constam
nos apanhados genealógicos.
5
Em 08/02/1951 pela Lei Estadual nº 513 o então Distrito de Sumé é emancipado do município de Monteiro, sendo sua instalação
como município em 01/04/1951.
70

Figura 12 – Localização provável da antiga Fazenda Mandacaru


Fonte: Adaptado do Google Earth

Para entender melhor os “Quixabeiras” e a sua relação com os imbuzeiros


optou-se por traçar um esboço de genealogia. Segundo Françoise Zonabend (1991)
através da genealogia o indivíduo não se procura enquanto tal, mas enquanto produto de
uma descendência, que resulta num movimento de retorno às fontes, às origens, em
busca de uma identidade regional ou social esquecida. A genealogia é também uma
sucessão de nomes próprios. Os antropónimos que classificam cada indivíduo numa
linha de descendência, inscrevem-no num tempo e num espaço conhecidos e impõem-
lhe uma identidade que ele não escolheu.
Através de diversas entrevistas com membros da família, e em especial com os
mais idosos foi possível deslindar parte da genealogia da mesma como se segue:

PATRIARCA: João Alves Evangelista


MATRIARCA: Maria Izabel da Conceição (Maria Quixabeira), filha de Maria
Izabel (Bebé) c.c. ?

FILHO(A) 1: Francisco Alves Evangelista (Chico Quixabeira): Não casou e nem


deixou descendência
FILHO(A) 2: Júlio Alves Evangelista (Tio Júlio ou Júlio Preto) casou com Maria do
Carmo Pinheiro
71

Neto(a) 1: Damião Alves Evangelista c. c. Maria de Lourdes Deodato


Bisneto(a) 1:Denilson Deodato Alves c.c. Ivanize
Trineto(a) 1: Daiane c.c. ?6
Tetraneto(a) 1: Nicolas
Trineto(a) 2: Lucas
Trineto(a) 3: Damião
Bisneto(a) 2: Denilza Deodato Alves c.c. Evandro
Trineto(a) 4: Eloísa
Trineto(a) 5: Danilo
Bisneto(a) 3: Denelson Deodato Alves c.c. Patrícia
Trineto(a) 6: Talita
Bisneto(a) 4: Dilson Deodato Alves c.c. Francisca
Trineto(a) 7: Débora
Trineto(a) 8: Douglas
Bisneto(a) 5: Denedson Deodato Alves c.c. Maria da Guia
Trineto(a) 9: Mel
Trineto(a) 10: Kauani
Bisneto(a) 6: Daniele Deodato Alves c.c. Gildeone
Trineto(a) 11: Gabriele
Trineto(a) 12: Gabriel
Trineto(a) 13: Geovana
Neto(a) 2: Maria José Alves Evangelista c. c. José Antonio Filho
Bisneto(a) 7: Alessandro César de Souza c.c. Hilda
Trineto(a) 14: Júlio César
Trineto(a) 15: Alessandro
Bisneto(a) 8: Aracele Morgana de Souza c.c. ?
Trineto(a) 16: Gedalva
Bisneto(a) 9: Acenildo de Souza
Bisneto(a) 10: Aracilda de Souza
Bisneto(a) 11: Júlia Poliana de Souza
Neto(a) 3: Maria Izabel Alves de Souza c. c. Marcos Luiz Rodrigues de Souza
Bisneto(a) 12: Júlio Alves Neto

6
O Termo c.c.? significa que não foi possível obter o nome do(a) conjugue.
72

Bisneto(a) 13: Artur Alves Evangelista de Souza


Neto(a) 4: Luiz Bezerra da Silva (Luiz de Ina, filho de Júlio fora do casamento) c. c.
Diva Maria da Conceição
Bisneto(a) 14: Hildebrando c.c. Maria
Trineto(a) 17: Divaneide
Bisneto(a) 15: Willames c.c. Ana
Trineto(a) 18: Wilson
Trineto(a) 19: Wilma
Bisneto(a) 16: Marcone c.c. Inez Pereira
Trineto(a) 20: Katiane
Trineto(a) 21: Katiuscia
Bisneto(a) 17: Airan c.c. Francisco
Trineto(a) 22: Fábia c.c. ?
Tetraneto(a) 2: Gustavo
Tetraneto(a) 3: Jonatan
Trineto(a) 23: Fabrícia c.c. ?
Tetraneto(a) 4: Maria Eduarda
Trineto(a) 24: Fabiano
Trineto(a)25: Patrícia c.c. ?
Tetraneto(a) 5: Petrúcia
Tetraneto(a) 6: Paulo Victor
Trineto(a) 26: Fabrício c.c. Ana
Tetraneto(a) 7: Fabriciana
Trineto(a) 27: Fabiana c.c. ?
Tetraneto(a) 8: Flaviana
Tetraneto(a) 9: Flávia
Trineto(a) 28: Patrício c.c. ?
Tetraneto(a) 10: Jéssica
Bisneto(a) 18: Roseanec.c. José
Trineto(a) 29: Ane Rose c.c. ?
Tetraneto(a) 11: Raiane
Trineto(a) 30: Jôsec.c. ?
Tetraneto(a) 12: Ênio
Bisneto(a) 19: Fernanda c.c. José
73

Trineto(a) 31: Alexandre


Trineto(a) 32: Leandro
Trineto(a) 33: Roseane
Trineto(a) 34: Lucas
Bisneto(a) 20: Osvaldo c.c. Inês Freitas
Trineto(a) 35: Osmar c.c. ?
Tetraneto(a) 13: Sofia
Bisneto(a) 21: José Carlos c.c. Priscila
Trineto(a) 36: Maria Lúcia c.c. Petrônio
Tetraneto(a) 14: Adriana
Trineto(a) 37: Nelson c.c. ?
Tetraneto(a) 15: Fellipe
Trineto(a) 38 : Luiz Carlos c.c. ?
Tetraneto(a) 16: Ricardo
Trineto(a) 39: Narciza c.c. ?
Tetraneto(a) 17: Alcimere
Tetraneto(a) 18: Valmaci
Trineto(a) 40: Patrícia c.c. ?
Tetraneto(a) 19: Normanda
Tetraneto(a) 20: Priscila
Tetraneto(a) 21: Afonso
Trineto(a) 41: Cleide c.c. ?
Tetraneto(a) 22: Domênica
Tetraneto(a) 23: Érica
Tetraneto(a) 24: Eduardo
Tetraneto(a) 25: Leonardo
FILHO(A) 3: Josefa Alves Evangelista c. c. Severino Pereira
Neto(a) 5: José Alves Pereira (Zé Gôgo ou Dourado) c. c. Maria das Neves
Bisneto(a) 22: Nair c.c. ?
Trineto(a) 42: Roberta c.c. ?
Tetraneto(a) 26: Robert
Trineto(a) 43: Rejane c.c. ?
Tetraneto(a) 27: Vinícius
Trineto(a) 44: Regina
74

Bisneto(a) 23: Inez c.c. ?


Trineto(a) 45: Katiane c.c. ?
Tetraneto(a) 28: Nícolas
Trineto(a) 46: Katiúciac.c. ?
Tetraneto(a) 29: Júlio César
Tetraneto(a) 30: Gabriel
Bisneto(a) 24: Marcelo c.c. ?
Trineto(a) 47: Marcela c.c. ?
Tetraneto(a) 31: Emily
Trineto(a) 48: Tamires c.c. ?
Tetraneto(a) 31: Rafael
Tetraneto(a) 32: Stéfanie
Bisneto(a) 25: Antonieta c.c. ?
Trineto(a) 49: Kauane
Bisneto(a) 26: Aparecida c.c. ?
Trineto(a) 50: Érica c.c. ?
Tetraneto(a) 33: Cristiano
Trineto(a) 51: Henrique
Bisneto(a) 27: Ednaldo c.c. ?
Trineto(a) 52: Leo
Trineto(a) 53: Rodrigo
Trineto(a) 54: Guilherme
Bisneto(a) 28: Eduardo
FILHO(A) 4: Ornicinda Alves Evangelista c.c. ?
Neto(a) 6: Inácio Alves Evangelista c.c. Lourdes Valério
Bisneto(a) 29: Emerson c.c. ?
Trineto(a) 55: Everton
Bisneto(a) 30: Edson c.c. Mônica Valéria
Trineto(a) 56: Beatriz
Bisneto(a) 31: Ederson c.c. ?
Trineto(a) 57: Camila
Bisneto(a) 32: Cíntia c.c. ?
Trineto(a) 58: Manuelle
Bisneto(a) 33: Valéria c.c. ?
75

Trineto(a) 59: Mateus


Neto(a) 7: Alan Alves Evangelista c.c. ?
Bisneto(a) 33: Ivan
Neto(a) 8: Ivanildo Alves Evangelista c.c. ?
Bisneto(a) 34: Ornélia
Bisneto(a) 35: Luís Carlos
Bisneto(a) 36: Ornicinda c.c. ?
Trineto(a) 60: Vitória
Bisneto(a) 37: João Paulo c.c. ?
Trineto(a) 61: Victor
FILHO(A) 5: Norberto Alves Evangelista (Norberto Preto) c. c. Maria Rafael Alves
Neto(a) 9: Edite de Araújo c.c. Antonio
Bisneto(a) 38: Josefa c.c. ?
Trineto(a) 62: Emerson c.c. ?
Tetraneto(a) 33: Raícha
Trineto(a) 63: Eliane c.c. ?
Tetraneto(a) 34: Érika
Tetraneto(a) 35: Leandro
Bisneto(a) 39: Antonieta c.c. ?
Trineto(a) 64: Niely
Trineto(a) 65: Nailson
Trineto(a) 66: Nerilza
Bisneto(a) 40: Francisca c.c. ?
Trineto(a) 67: Augusto
Trineto(a) 68: Wagner
Trineto(a) 69: Vera Lúcia
Trineto(a) 70: Vivian
Trineto(a) 71: Fernanda
Bisneto(a) 41: Socorro c.c. ?
Trineto(a) 72: Letícia
Bisneto(a) 42: Robério c.c.
Trineto(a) 73: Vanessa
Trineto(a) 74: Jeferson
Trineto(a) 78: Joel
76

Bisneto(a) 43: João c.c. ?


Trineto(a) 79: Joice
Trineto(a) 80: Beatriz
Trineto(a) 81: Jonatan
Bisneto(a) 44: Cícero c.c. ?
Trineto(a) 82: Núbia
Trineto(a) 83: Cícero
Trineto(a) 84: Nayara
Bisneto(a) 45: Joelson c.c. Franciclaúdia
Trineto(a) 85: Josef
Neto(a) 10: Maria do Socorro de Araújo (Tô)
Bisneto(a) 46: Edriana c.c. ?
Trineto(a) 86: Aline
Trineto(a) 87: Luan c.c. ?
Bisneto(a) 47: Edvânia
Bisneto(a) 48: Edvanildo
Neto(a) 11: Francisco das Chagas de Araújo c. c. Antônia
Bisneto(a) 49: Francielba c.c. ?
Trineto(a) 88: Brendo
Trineto(a) 89: Brenda
Bisneto(a) 50: Franciclaúdia c.c. Joelson
Trineto(a) 85: Josef
Bisneto(a) 51: Francineide c.c. ?
Trineto(a) 90: Mellissa
Neto(a) 11: Carmelita Alves de Araújo c.c. ?
Bisneto(a) 52: Auxiliadora
Neto(a) 12: Norberto Alves Evangelista Filho c.c. ?
Bisneto(a) 53: Roberta
Neto(a) 13: Heleno Alves Evangelista c. c. Maria de Fátima Bezerra
Bisneto(a) 54: Helaine
Trineto(a) 90: Rayane
Trineto(a) 91: Rayssa
Trineto(a) 92: Antonia
Bisneto(a) 55: Hevellin
77

Bisneto(a) 56: Hellenc.c. ?


Trineto(a) 93: Jennifer
Bisneto(a) 57: Heriberto
Bisneto(a) 58:Lúcia Helena
FILHO(A) 6: João Alves Evangelista (João Preto) c. c. Luíza Izidório
Neto(a) 14: Luiz Alves Evangelista c. c. Luíza Fernandes
Bisneto(a) 59: Antonio Carlos
Bisneto(a) 60: Eloísa c.c. ?
Trineto(a) 94: Luíza
Neto(a) 15: José Alves Evangelista (Cizé) c. c. Iraci Josefa dos Santos
Bisneto(a) 61: Clesilda c.c. José da Guia Oliveira
Trineto(a) 95: Ulisses
Tetraneto(a) 36: Anne Beatriz
Trineto(a) 96: Raul
Trineto(a) 97: Diogo
Bisneto(a) 62: Juraci c.c. ?
Trineto(a) 98: Bruno
Trineto(a) 99: Kaline
Trineto(a) 100: Bruna
Trineto(a) 101: Rafaella
Bisneto(a) 63: Juci c.c. Francisca
Trineto(a) 102: Thiago
Trineto(a) 103: Paulo c.c. ?
Tetraneto(a) 37: Enzo Gabriel
Trineto(a) 104: Lucas Rafael
Bisneto(a) 64: José
Bisneto(a) 65: Clemilda c.c. ?
Trineto(a) 105: Natalice c.c.
Tetraneto(a) 38: Rafael
Trineto(a) 106: Natália c.c. ?
Tetraneto(a) 39: Jennifer
Bisneto(a) 66: Cleane c.c. ?
Trineto(a) 107: Jéssica
Bisneto(a) 67: Luzia c.c. Demócrito
78

Trineto(a) 108: Cristiane


Trineto(a) 109: Jaqueline
Trineto(a) 110: Marta
Neto(a) 16: Maurício Alves Evangelista c. c. Maria do Socorro dos Santos Alves
Bisneto(a) 68: Rosália c.c. ?
Trineto(a) 111: Ruana Mayara
Bisneto(a) 69: Rosildo c.c. Luana
Trineto(a) 112: Marissa
Trineto(a) 113: Thalita
Trineto(a) 114: Maurício Neto
Bisneto(a) 70: Rosineide c.c. ?
Trineto(a) 115: Jonathan
Trineto(a) 116: Ruan
Trineto(a) 117: Renan
Trineto(a) 118: Vitor
Trineto(a) 119: Bruno
Bisneto(a) 71: José Rosenildo c.c. ?
Trineto(a) 120: David Luiz
Bisneto(a) 72: Francisco das Chagas
Bisneto(a) 73: Rosiel c.c. ?
Trineto(a) 121: Vívian
Trineto(a) 122: Arthur
FILHO(A) 7: Valetim Alves Evangelista (morreu jovem, tinha problemas
psiquiátricos)
FILHO(A) 8: Abílio Alves Evangelista c .c. Clarice
Neto(a) 18: Abílio c.c. ?
Bisneto(a) 74: Aracele
Bisneto(a) 75: Adilson c.c. ?
Trineto(a) 123: Vitória
Trineto(a) 124: Vitor
FILHO(A) 9: José Alves Evangelista (Zé Quixabeira) c. c. Maria
Neto(a) 19: Marciano (Moacir Quixabeira) c.c. ?
Bisneto(a) 76: Mohamed
Bisneto(a) 77: Moab
79

Bisneto(a) 78: Mariane


Bisneto(a) 79: Moauda
Neto(a) 20: Nelson c.c. ?
Bisneto(a) 80: José
Neto(a) 21: Marluce
FILHO(A)10: Joana (morreu criança)
FILHO(A)11: não sabe o nome (morreu criança)
FILHO(A)12: Salvina (não casou e não deixou descendência)
FILHO(A) 13: Carmelita Alves Evangelista c. c. Sebastião Domingos da Silva
Neto(a) 22: Adalberto Alves Evangelista c. c. Maria de Lourdes Costa Alves
Bisneto(a) 81: Carmem Lúcia c.c. Manoel
Trineto(a) 125: Vitor
Trineto(a) 126: Verônica
Bisneto(a) 82: Maria José c.c. ?
Trineto(a) 127: Milena
Trineto(a) 128: Mateus
Bisneto(a) 83: Andreia
Bisneto(a) 84: Amanda c.c.
Trineto(a) 129: Bárbara
Bisneto(a) 85: Luna
Neto(a) 23: Alberto A. Evangelista c. c. Suzana Alves Araújo
Bisneto(a) 86: Alberto Filho
FILHO(A) 14: Judite Alves Evangelista c. c. José Mendonça
Neto(a) 24: Odete Alves Mendonça c.c. ?
Bisneto(a) 87: Douglas c.c ?
Trineto(a) 130: Ana Lúcia
Bisneto(a) 88: André
Neto(a) 25: Antonieta Alves Mendonça c. c. Gil
Bisneto(a) 89: Antonio César c.c. ?
Trineto(a) 131: Laís
Bisneto(a) 90: Vanessa
Neto(a) 26: José Ailton Alves Mendonça c.c. ?
Bisneto(a) 91: Elisângela c.c. ?
Trineto(a) 132: Vitória
80

Bisneto(a) 92: Mileide c.c. ?


Trineto(a) 133: Maria Eduarda
Bisneto(a) 93: Jefferson
Bisneto(a) 94: José Ailton
Neto(a) 27: Demócrito Alves Mendonça c. c. Luzia
Bisneto(a) 95 e trineto(a) 108: Cristiane
Bisneto(a) 96 e trineto(a) 109: Jaqueline
Neto(a) 28: Ieda c.c. ?
Bisneto(a) 97: Artur
Bisneto(a) 98: Henrique c.c. ?
Neto(a) 29: Sônia

Outros filhos do patriarca fora do casamento:

FILHO(A) 15: Fausto c.c. ?


Neto(a) 30: Dady
Neto(a) 31: Inácia
Neto(a) 32: Nida
Neto(a) 33: Ivete
Neto(a) 34: Roberto
Neto(a) 35: Heleno
FILHO(A) 16: Severina c.c. ?
Neto(a) 36: Aloísio
Neto(a) 37: Maria das Dores
FILHO(A) 17: Josefa
FILHO(A) 18: João c.c. ?
Neto(a) 38: Francisco
Neto(a) 39: João
Neto(a) 40: Maria das Dores
FILHO(A) 19: Naca

Irmãos de João Alves Evangelista


- Rita
- Joaquina
- Manoel (Mané Café)
81

- Getúlia (dizia ter sido ex-escrava) morreu com 115 anos

Irmãos de Maria Izabel da Conceição (Maria Quixabeira)


- Flora

Chegou-se, portanto ao ano de 2014 o casal João Alves Evangelista e Maria


Izabel da Conceição (Maria Quixabeira) com uma descendência de 14 filhos; 29 netos;
98 bisnetos; 133 trinetos e 39 tetranetos.

Da Genealogia do Extrativismo

―A motivação: apenas o desejo de se


conhecer as raízes. Deixando claro que não
há brasões nem sonhos de glória. Quase
sempre vamos ao encontro de humildes
agricultores, que da terra, retiram alimentos
e sustento para os seus.‖

Francisco Augusto de Araújo Lima

Desta genealogia pode-se realizar um recorte da descendência atualmente


envolvida com o extrativismo do imbuzeiro no que poderia ser denominada
“Genealogia do Extrativismo” sendo representada pelo(a)s:
- Filha 13 Carmelita Alves Evangelista atualmente com 89 anos;
- Neto 1 Damião Alves Evangelista descendente do Filho 2 Júlio Alves
Evangelista (Tio Júlio ou Júlio Preto), atualmente com 67 anos;
- Bisneto 9 Acenildo de Souza descendente da Neta 2 Maria José Alves
Evangelista por sua vez descendente do Filho 2 Júlio Alves Evangelista (Tio Júlio ou
Júlio Preto), atualmente com 36 anos;
- Bisneto 12 Júlio Alves Neto descendente da Neta 3 Maria Izabel Alves de
Souza por sua vez descendente do Filho 2 Júlio Alves Evangelista (Tio Júlio ou Júlio
Preto), atualmente com 13 anos;
- Bisneto(a) 13 Artur Alves Evangelista de Souza descendente da Neta 3
Maria Izabel Alves de Souza por sua vez descendente do Filho 2 Júlio Alves
Evangelista (Tio Júlio ou Júlio Preto) atualmente com 09 anos;
- Neto 11 Francisco das Chagas de Araújo descendente do Filho 5 Norberto
Alves Evangelista (Norberto Preto) atualmente com 65 anos;
82

- Neto 23 Alberto A. Evangelista descendente da Filha 13 Carmelita Alves


Evangelista; atualmente com 45 anos.

Portanto, uma filha (Carmelita); três netos (Damião, Francisco e Alberto) e


três bisnetos (Acenildo, Júlio e Arthur) que participam ainda do extrativismo do imbu
continuado há pelo menos 74 anos através de Carmelita (filha 13). Pode-se ainda contar
nesta “Genealogia do Extrativismo” com os contraparentes representados por Marcos
Luiz Rodrigues de Souza casado com a Neta 3 Maria Izabel Alves de Souza e José
Antonio Filho casado com a Neta 2 Maria José Alves Evangelista o que totaliza nove
pessoas envolvidas no processo anual de coleta do imbu. Os sete descendentes
diretamente envolvidos representam porém apenas 2,23% do total de 313 descendentes
diretos do casal João Alves Evangelista e Maria Izabel da Conceição.
Inegavelmente, a Filha 13 Carmelita é a que apresenta a memória mais afetiva
e classificatória dos imbuzeiros pesquisados conseguindo transmiti-la apenas para um
descendente direto (filho). Porem é do Filho 2 Júlio de onde se observa uma maior
tendência na preservação desta memória e desta afetividade pelo fato de um filho e três
netos estarem envolvidos incluindo a participação de dois contraparentes casados
com duas filhas de Júlio. Do Filho 5 Norberto se observou apenas um descendente
representado por um filho.
No que se refere à faixa etária dos descendentes diretos esta variou de 09 anos;
13 anos; 36 anos; 45 anos; 65 anos; 67 anos a 89 anos o que em primeiro plano assegura
uma sobrevivência do processo por bastante tempo no meio familiar, mas por outro
lado, denuncia a ausência de descendentes na faixa etária dos 15 anos aos 35 anos, o que
faz com que a responsabilidade da continuidade possa ser revertida futuramente para os
dois únicos jovens envolvidos.
A unidade territorial deles tende a permanecer como a área de ocorrência dos
imbuzeiros e representada pela Fazenda Campo Alegre. É uma unidade territorial de
não pertencimento patrimonial, mas sim de extrativismo consentido. Para Carrière;
Cazella (2006) apud Santin & Adriano (2009) um território pode ser visto como uma
unidade ativa de desenvolvimento, ao serem valorizados seus recursos específicos,
sejam estes de ordem material ou não. Isto se deve a que um território não é apenas um
espaço físicogeográfico, mas também uma realidade humana, social, cultural e histórica.
Para Pecqueur (2006) apud Santin & Adriano (2009) território pode ser
entendido como uma construção social dos atores locais que se agrupam em função de
83

problemas produtivos a serem resolvidos numa escala distinta da individual ou global


independentes dos limites administrativos de uma localidade ou região. O problema
“Dos Quixabeiras” não é de produção, mas de coleta em um determinado território.
Sabourin (2002) apud Santin & Adriano (2009) observou que a noção de rede de atores
de determinada localidade ganha importância, pois a densidade e intensidade dos
sistemas de relações estabelecidos entre seus atores influenciam determinantemente a
dinâmica do desenvolvimento local.
Para Santin & Adriano (2009) a reflexão sobre os Sistemas Locais de
Conhecimento Agroecológico – SLCA sugere que “estes estão voltados para o
fortalecimento da agroecologia e a reprodução social da agricultura familiar. Estas
redes interagem nas escalas local, microrregional e regional. Os atores sociais
envolvidos parecem estar sensibilizados para a importância da internalização de uma
lógica cooperativa e do refinamento progressivo da sensibilidade face à complexidade
da crise socioambiental fundamentada num novo código de ética”.
O extrativismo faz parte da contextualização da agroecologia e da agricultura
familiar conforme Ribas et al (2007) quando pesquisaram sobre o manejo e organização
do espaço agrícola relacionado ao extrativismo da folhagem de samambaia no Litoral
Norte do Rio Grande do Sul e verificaram que a forma implementada pela maioria dos
agricultores da região se caracterizou por uma intervenção antrópica superficial e
limitada à prática de coleta da fronde fundamentado na realização de prática de
desbaste esporádico de parte da vegetação arbustiva e arbórea.
A Diretora de Extrativismo da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento
Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Larisa Gaivizzo, observou
que as populações extrativistas, que a partir do uso sustentável dos recursos naturais
garantem alimentos mais saudáveis (sem uso de agrotóxicos) e inclusão social e
produtiva, estão no centro dos debates sobre agroecologia e produção orgânica ideia
defendida em audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento
e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, em Brasília e enfatizando que o
Ministério do Meio Ambiente apoia essas práticas sustentáveis, por meio da Plano
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, instituído em 2012, amplamente
discutido por representantes do governo e sociedade (MMA s.d.).
Os “Quixabeiras” da Genealogia do Extrativismo não coletam o imbu para
comercialização nem são detentores de glebas de terra. Não participam da produção
agropecuária como força de trabalho e são todos urbanos. O que levou então os mesmos
84

a continuarem com o processo de coleta e este processo ser absorvido por parte da
família? Estão envolvidos na construção agroecológica? Desenvolveram um sistema
local/familiar de conhecimento que pode ser replicado? O Agroecológico pode estar
presente no urbano?
É importante que se analise o papel de Dona Carmelita neste processo.

Da Devoção de Dona Carmelita

Carmelita Alves Evangelista, 89 anos, nasceu em 1925 no distrito de São


Thomé do Sucurú, atual Sumé, pertencente ao então município de Alagoa do Monteiro,
atual Monteiro, em uma propriedade localizada a cerca de 4,0 km da cidade e
denominada Mandacarú. Aos cinco anos (1930) foi morar em outra propriedade
denominada Banquinho, cujo dono proprietário era conhecido como “Seu Suprino”. Por
esta época quando estava brincando com Salvina e outro irmão (talvez Abílio), esta
jogou uma vara de marmeleiro que lhe vazou um olho. Em 1940, aos 15 anos, veio
residir na sede municipal no local denominado como “Alto da Rua do Campo”, atual
Bairro Alto Alegre.
Foi quando começou, juntamente com outros parentes (irmãos e primos) a
coletar imbu na época da safra nas propriedades de Campo de Baixo e Saco resultando
em processo de extrativismo de 74 (setenta e quatro) anos. Atualmente a coleta se
resume a propriedade Campo Alegre pertencente ao Senhor José Paulino de Sousa
(Cazuzinha Paulino).
Fazenda Mandacaru, Fazenda Banquinho, Fazenda Campo Alegre e Bairro do
Alto Alegre constituem, portanto o “Mundo” de Dona Carmelita há 89 anos (ver figura
13).
85

Figura 13 – O “Mundo” de Dona Carmelita


Fonte: Adaptado do Google Earth

Durante todo este período afirmou que nunca viu nenhum imbuzeiro nascer, e
nem morrer, e que já conheceu todos os imbuzeiros produzindo, e continuando
produzindo, na área de coleta. Afirmou que nunca plantou um imbuzeiro, mas que
“certa vez nasceu um em sua casa e ela mudou e deu para um amigo”.
Quando indagada sobre qual imbuzeiro melhor em safra, tamanho de frutos,
sabor e de frutos mais diferenciados afirmou que:

“Todos apresentam safra igual, o que diferencia é o ano de inverno,


este ano não foi tão boa devido aos quase três anos de estiagem. O de
maior tamanho é o ‗De Fofinho‘ que vez por outra apresenta um ou
dois umbus de tamanho maior que os outros, maior cerca de duas ou
três vezes e os imbuzeiros ‗Hipopótamo‘ e ‗Quebradinho‘. Os de
melhor sabor são o ‗Quebradinho‘ e o ―Araçá‘. Quanto ao fruto
diferente confirmou o ‗Hipopótamo‘ por ser grande e o
‗Quebradinho‘ pela sua casca muito fina”.
86

Quanto à presença de outros coletores na área informou que um cidadão de


nome Tolentino coleta para vender e que “Seu Neném”, já falecido, talvez fosse o
coletor mais antigo e que ela e os parentes foram quem batizaram todos os imbuzeiros.
O fato de por tanto tempo frequentar a área fez com que Dona Carmelita
passasse a registrar épocas de floração, de frutificação, plantas precoces, tardias, meãs,
etc, inclusive associando a datas religiosas. A mesma afirmou que “a floração é em
dezembro e percebe quando vai a Santa Luzia do Cariri7, todos os anos a pé no dia 13
para pagar uma promessa. A frutificação ocorre a partir de fevereiro e a coleta é maior
sempre no final da quaresma”. Observou ainda que “... tem que chover na flor para que
saia imbú” e que “não tem conhecimento” sobre as fases da lua na floração e
frutificação.
Na cartilha “Boas Práticas do Manejo para Extrativismo Sustentável do Umbu”
da EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia (2011) a floração do imbuzeiro na
sua área de ocorrência acontece de julho (RN, PB, PE); agosto (RN, PB, PE); setembro
(BA); outubro (BA); novembro (RN, PB, PE, BA); dezembro (RN, PB, PE, BA);
janeiro (RN, PB, PE) a fevereiro (RN, PB, PE). Já a frutificação ocorre de agosto (RN,
PB, PE); outubro (BA); novembro (BA); dezembro (RN, PB, PE, BA); janeiro (RN,
PB, PE, BA); fevereiro (RN, PB, PE, BA); março (RN, PB, PE, BA); abril (RN, PB,
PE) a maio (RN, PB, PE). A coleta por sua vez ocorre de outubro (RN, PB, PE);
novembro (RN, PB, PE); dezembro (RN, PB, PE, BA); janeiro (RN, PB, PE, BA);
fevereiro (RN, PB, PE, BA); março (RN, PB, PE, BA); abril (RN, PB, PE) e maio (RN,
PB, PE).
O Engenheiro Agrônomo Trajano Nóbrega, fazendeiro em Soledade, Paraíba,
onde há umbuzais nativos, informou-nos que as observações de seu pai e as suas
indicam que esta anacardiácea vegeta mais de 100 anos; que, em geral, as flores
aparecem primeiro do que as folhas; que, ali, a floração surge de novembro a janeiro e
os frutos amadurecem de abril a junho; que, se as chuvas vêm cedo, antes da floração, o
umbuzeiro solta primeiro as folhas e, depois, as flores, o que reduz a produção de
frutos; que, quando as chuvas aparecem depois da floração, a safra é mais abundante;
que o tipo de frutos lisos é de melhor qualidade do que o de frutos pilosos (DUQUE,
2004).

7
Distrito do município de Serra Branca e distante cerca de 10,0 km da cidade de Sumé.
87

Sobre a floração Nadia et al (2007), informaram que o imbuzeiro apresenta um


sistema de polinização generalista, sendo polinizado desde abelhas até algumas espécies
de vespas. A produção de flores e frutos ocorre durante a estação seca, quando a
maioria das espécies de plantas permanecem em um estado completamente decíduo
sendo importante fonte de alimento para ovinos, caprinos, bovinos e animais silvestres
(RESENDE et al apud NADIA et al, 2007; 2004; NADIA et al (2007). Para Nadia et al
(2007) a espécie representa um importante recurso para polinizadores e dispersores
durante a estação seca. Além disso, os frutos representam um complemento de renda
para a população local, sendo usados como alimento para os seres humanos e gado
(LINS NETO, 2008 apud NADIA et al, 2007) com grande importância em contextos
sociais, econômicos e culturais ecológicos (Nadia et al., 2007; Lins Neto, 2008).
Sobre o processo de coleta prefere os frutos “de vez”, pois os maduros
“estragam logo” e que “quando mais jovem subia na árvore para coletar, não gostava
de balançar, pois caiam os verdes” concordando com observações realizadas por
Barreto & Castro (2011). Atualmente coleta na planta tirando os que alcança, ou com a
ajuda de alguém com auxilio de uma vara (ver figura 14).

Figura 14 - Dona Carmelita coletando imbus com auxílio de uma vara


Fonte: Arquivo pessoal de Marcos Luiz Rodrigues. 2014.
88

De acordo com Barreto & Castro (2011), em estudo realizado no estado da


Bahia, a coleta dos frutos de umbu geralmente é feita subindo pelo tronco, coletando os
frutos entre os galhos das árvores a mão, sem derrubar os frutos no chão. A retirada dos
frutos dos galhos das árvores é feita com um gancho de madeira para abaixar os galhos
mais altos, conhecido como “coli”. Bolsas artesanais de estocagem servem para
transportar os frutos da mata até a casa, como “aió” (bolsa indígena de fibras de croá ou
caroá Neoglaziovia variegata), “bogó” (bolsa feita de sisal Agave sisalana), sacos ou
baldes plástico.
Existem critérios na escolha dos frutos para a coleta. Os extrativistas
geralmente procuram por frutos “de vez”, que ainda não estão maduros, que são
selecionados pelo tamanho para facilitar o acondicionamento e o transporte. Se o fruto
colhido for para consumo, os extrativistas selecionam os umbuzeiros com frutos
maiores, mais doces e que normalmente estão localizados nas roças próximas às
moradias (BARRETO & CASTRO, 2011).
Nos últimos anos observou uma redução acentuada da produção desde 2011
devido ao episódio de estiagem e que nestes 74 anos de coleta o ano de 2014 foi o pior
de todos. O proprietário nunca cobrou pela colheita de imbus para qualquer um dos
coletores.
Duque (2004) verificou que no umbuzeiro as raízes laterais, muito longas,
ocupam o primeiro metro da profundidade do solo. “A sobrevivência por mais de trinta
anos, mesmo com as secas, é assegurada pelos xilopódios ou batatas, nas raízes, com o
armazenamento de água, de mucilagens, de glucose, de tanino, de amido, de ácido, etc,
que nutrem o vegetal, quando o céu lhe nega água. Perdendo as folhas, depois do
inverno, para evitar a transpiração, o umbuzeiro atravessa o verão em estado de
dormência vegetativa, com os xilopódios cheios de reservas nutritivas. Ao iniciar o
inverno, as primeiras chuvas, modificando a temperatura e o grau higrométrico do ar,
aceleram o metabolismo interno como aparecimento das primeiras flores e folhas nos
meses de janeiro a fevereiro. Em março e abril, os frutos amadurecem. O xerofilismo
do umbuzeiro faz reservas por adiantamento, uma fase ativa de elaboração de
alimentos, enquanto existem as folhas no inverno e permanece economizando essas
reservas durante a fase de estagnação vegetativa, no verão quente e seco”.
Sobre outro produto do imbuzeiro muito procurado na região que é a batata,
fofa, cafôfa ou cunca originada dos xilopódios radiculares observou que “antes tiravam
muito, mas de uns anos prá cá não tiram mais‖. Tiravam de qualquer umbuzeiro. Acho
89

que é errado, porque a ‗batata‘ é quem conserva ele vivo, ela tem água e se tirar muitas
ela morre”. O que não deixa de evidenciar uma preocupação nos moldes
conservacionistas por parte dela.
Araújo (2013) em um estudo sobre os
extrativismo/transformação/comercialização de batatas de imbuzeiro realizado no Cariri
Paraibano nos municípios de Sumé e Monteiro verificou que seria necessário a
introdução da discussão sobre racionalidade da produção, novas formas de obtenção de
matéria-prima e diversificação dos doces pode resultar numa melhor relação entre
produtor e planta traduzidos em ganhos ecológicos e econômicos e que nas condições
atuais a extração parece não ser irracional, por não se ter havido registro de morte ou
esgotamento de plantas. Um fator positivo é que nos municípios pesquisados existia
uma abundância de matrizes o que facilitaria uma intensidade menor de coleta por
planta.
Recomendou ainda pesquisas mais intervencionistas no que se refere à
identificação e treinamento dos extrativistas; identificação e mapeamento de matrizes e
controle nos registros de coleta; produção de xilopódios em escala e que quanto às
qualidades agroindustriais/comerciais fatores como conhecimento dos custos de
produção; melhor apresentação e exposição comercial do produto; a melhoria da
sanidade dos produtos; redução de açucares; dentre outros são de extrema necessidade
para a garantia de suas qualidades alimentícias enfatizando que por ser um produto
intrínseco da região Semiárida brasileira e ainda manter uma relação de apreciação a
cadeia de produção do “Doce de batata de Imbu” poderia ser trabalhada comercialmente
para a obtenção do selo de “Identificação Geográfica” o que permitiria alcançar outros
mercados consumidores e proporcionar uma melhor remuneração para envolvidos com
a atividade comercial (ARAÚJO, 2013).
Cavalcanti et al (2002) apud Lima et al (2013) em um levantamento sobre os
efeitos da retirada da batata do umbuzeiro, verificaram que houve uma redução de
40,24% na produção de frutos no período estudado.
Sobre o destino final dos frutos colhidos Dona Carmelita afirmou que os “usa
para consumo, chupa os maduros, faz imbuzada com os ‗de vez‘ e dá aos vizinhos”. A
sua afinidade com os imbuzeiros e os frutos de cada um era notável por parte dela e
motivo de curiosidade por parte dos familiares e amigos podendo reconhecer os
mesmos quando coletados e vendidos por outras pessoas. Entretanto, afirmou que
atualmente ―às vezes conhece!‖ E que ―quando mais jovem conhecia mais‖.
90

Quando foram indagados sobre a utilização do umbuzeiro os moradores da


Vila do Pará e da Fazenda Santa Helena em Santa Cruz do Capibaribe, Pernambuco,
enquadraram-no nas categorias combustível, construção, medicinal, forragem, alimento.
A categoria menos citada foi a de uso como combustível, porém a que revelou que foi
mais citada foi a de alimento, no consumo do fruto in natura, na utilização do fruto para
fazer suco (82,6%), doces, picolé e sorvete e a utilização da batata por 88,2%, porém
fizeram ressalvas com relação à utilização da batata afirmando que a retirada de forma
descontrolada leva a extinção do umbuzeiro (LIMA et al, 2013).
Quanto à perpetuação da coleta e do conhecimento das características das
plantas e frutos na família afirmou que participam do processo “o filho mais novo,
alguns sobrinhos e o esposo de uma sobrinha‖ e que o único acidente acontecido foi o
de uma queda com o seu filho “Ditinho” e seu sobrinho Damião que quando garotos
caíram de uma galho seco. Inclusive este fato levou ao batismo do “Imbuzeiro da
Queda”.
Para Silva Lemos (s.d) apud Silveira (1944) a genealogia “fortalece os vínculos
de família, concorrendo bastante para impedir a dissolução e desagregação que ora se
processam de modo tão intenso, tão deprimente e tão perigosamente. Revelando, como
revela, as origens comuns, da nossa população, desperta simpatias saudáveis e cria
elos efetivos, duradouros e vantajosos, sob qualquer ponto de vista”.
Ultimamente no município de Sumé tem havido o UMBUFEST - Festival do
Umbu realizado pela Escola Agrotécnica de Sumé e diversos parceiros teve no ano de
2014 realizado a IV versão. Perguntada sobre este evento Dona Carmelita observou que
só tomou conhecimento neste ano e que nunca participou.
A análise dos depoimentos da entrevistada permitiu observar o perfeito
conhecimento do território, das plantas, das safras, das florações, das frutificações, dos
arredores, do recorte genealógico resultantes de 74 anos de observação. Isto, entretanto
fez de Dona Carmelita uma liderança? Uma pesquisadora? Se sim, em qual sentido?
Para Rosa & Freire (s.d.) em se tratando da Agroecologia, é sabido que é uma
ciência em construção, e vários são os enfoques e caracterizações que tentam dar um
corpo mais tangível, mesmo que ainda maleável, à forma e ao conteúdo da mesma. Mas
como responder a pergunta: Agroecologia, Saber Cientifico e/ou Saber Popular? Apesar
de não ser possível fornecer a resposta exata, como a ciência ainda insiste em requerer,
é possível chegar a conclusão que tanto saber científico quanto saber popular são
Agroecologia.
91

Enquanto o saber popular serve de base para pesquisa e inclusive podem ser
utilizadas explícitas referências aos conhecimentos tradicionais, eles devem passar por
um crivo metodológico que exponha o conhecimento tradicional à prova de suas
capacidades, sempre considerando o conhecimento como horizontal, ou seja, ninguém é
melhor ou mais sabido do que ninguém; e sempre considerando que as práticas são
locais e só devem ser transpostas a outros contextos e outros meios depois de estudos de
viabilidade, para que não ocorra a homogeneização das práticas e dos conhecimentos
agrícolas. Um necessita do outro e se não houver o conhecimento tradicional, a pesquisa
agroecológica fica seriamente comprometida, manca, encontrando mais dificuldades no
caminhar da superação do paradigma dominante (ROSA & FREIRE, s/d)

Da pesquisa empírica dos “Quixabeiras”

Dona Carmelita desde os quinze anos de idade passou a ter uma vida urbana,
mas ao que parece nunca deixou de ter uma identidade rural. Se não desempenhou o
ofício de agricultura optou pelo de coletora sem, entretanto fazer desta atividade uma
opção de renda. O seu motivo maior pareceu ser sempre o “gosto” pelo imbu. Existem
pessoas assim que vivendo na urbe esperam por meses por determinadas safras para o
seu deleite e o da sua família e vizinhança. A imbuzada citada no seu depoimento é
mais que um alimento representa o coroamento de toda uma espera de meses. O fruto
tem que ser colhido no tempo certo e processado no ponto certo para o sucesso da
comida que é consumida com certa reverência.
Os conhecimentos de Dona Carmelita não são de uma agricultora ou
camponesa radicada no campo, mas transcendem esta avaliação, pois são
conhecimentos agora transmitidos oralmente e verbalmente a parentes e contraparentes
passíveis de perpetuação desde que as plantas permaneçam, ou que o proprietário
permita a colheita.
Esta permanência das plantas a princípio se pode dar pelo evitamento do corte
ou de ações danosas as mesmas, tanto pelo que as possui como pelos que realizam a
coleta. Por outro lado, pode entrar em cena a permanência agronômica das mesmas
pelos processos de propagação sexuada e assexuada. O primeiro processo não garante as
características mais apreciadas como sabor, tamanho, relação casca/polpa/caroço, porte
de plantas etc., o que é salvaguardado pelo segundo.
92

Neste sentido, Dona Carmelita e a Genealogia do Extrativismo estariam


prestando um serviço inestimável a botânicos e melhoristas que por sua vez não podem
ficar ao algo da construção agroecológica. Empiricamente todo agricultor(a) é um
botânico ao classificar plantas pelas suas observações e um melhorista ao separá-las,
introduzí-las e reproduzí-las mesmo que utilizando o processo mais simplificado da
seleção massal.
Santos et al (s.d.) em um estudo sobre recursos genéticos do umbuzeiro em
termos de preservação, utilização e abordagem metodológica recorreram para a
identificação dos indivíduos excêntricos aos contatos com as populações locais e
alguns técnicos da extensão rural.
Siliprandi (2009) em um estudo sobre mulheres e agroecologia observou que
“muitas pesquisadoras feministas tem se dedicado a fazer uma genealogia da
participação das mulheres em setores específicos da história da humanidade como
cientistas, filósofas, artistas, religiosas, líderes políticas. Tanto mulheres excepcionais,
que se destacaram por sua atuação, capacidades e talentos, como mulheres comuns
cuja contribuição para o desenvolvimento social a história androcêntrica dominante
tem sistematicamente negligenciado”. No processo da pesquisa procurou entre outros
objetivos “fazer a genealogia da construção das múltiplas faces desses sujeitos
(mulheres), constituídos a partir das diferentes práticas, histórias, filiações ideológicas
e características pessoais de suas protagonistas”. Para Siliprandi (2009) algumas
questões se colocam como imprescindíveis na interpretação da Agroecologia entre eles
a idéia de que é preciso observar a natureza e tirar lições da sua forma de funcionamento
e em particular dos seus sistemas de regeneração.
Sobre os sistemas de conhecimento envolvendo mulheres Shiva (2006) apud
Siliprandi (2009) observou que “quando as grandes companhias seqüestram os
alimentos e a água para fazer negócios com eles, destroem as economias das mulheres
e os seus sistemas de conhecimento, e, à medida que aumenta a marginalização das
mulheres, aumenta paralelamente a violência contra elas”.
Ao longo de décadas Dona Carmelita e parte dos “Quixabeiras” fizeram o
levantamento das plantas atribuindo as mesmas nomes derivados de fatos variados. Isto
pode ser denominado de pesquisa empírica. Foram mais longe ao classificarem por
sabor e características de frutos e épocas de colheita. Fizeram assim um papel
fundamental para futuras pesquisas envolvendo a espécie. Os imbuzeiros dos
“Quixabeiras” são os melhores da região? Talvez sim, talvez não! Mas dentre estes,
93

existem os já classificados por eles, os Quixabeiras, como de melhor qualidade. Isto


pode ser considerado um avanço de anos, décadas talvez em qualquer processo de
domesticação mais acadêmico que dificilmente teria uma observação de setenta e
quatro anos ao redor de uma população de frutíferas nativas.
As concepções da relação agricultor/ambiente são importantes temas para
promover discussões que subsidiem projetos na área de políticas ambientais, visto que
os procedimentos para implantar estas propostas requerem avaliação das relações
homem natureza. Que imagens, noções, imaginário, representações e memória existem
nestes agricultores sobre a mata? Para além da questão da água, da área de produção?
Quais símbolos, mitos podem comportar a nova paisagem? São questionamentos
importantes para podermos dinamizar uma discussão sobre esta relação.
No âmbito cultural, de acordo com Monteiro & Chabaribery (2007) é
importante entender as relações que o agricultor familiar estabelece com o ambiente, as
concepções que estabelecem esta relação com o ambiente e a influência destas
concepções na forma como se dá a interação com a natureza em seu entorno. Alguns
agricultores familiares podem pertencer a uma comunidade tradicional, mas, em geral,
já passaram por um longo processo de modernização, que os tem distanciado de um
“saber tradicional”. Porém, sua identidade e suas relações ainda estão baseadas em
tradições. Quando se vai trabalhar com o agricultor, principalmente na agricultura
familiar, é importante identificar o contexto cultural no qual as relações se estabelecem;
se são mantidos vínculos fortes com as tradições, ou em que grau essas ligações estão
mais desgastadas pelo processo de modernização.
Ainda Monteiro & Chabaribery (2007), em qualquer situação é sempre
possível resgatar junto ao agricultor e ou comunidades rurais, a integração/identificação
que mantinham com o meio. O que se precisa compreender em cada caso é como ele
próprio se insere no meio ambiente. Quais as representações simbólicas da natureza
(que se expressam na prática) ele conservou. Assim, em cada caso é importante
identificar os fatores que alteraram as relações que mantinham com o ambiente e as
possibilidades de recuperar/recriar os saberes tradicionais, como forma de restabelecer
uma concepção de integração entre o produtor e a natureza.
Porém, dentro dos vieses agronômicos ou agroecológicos se deve chegar ao
momento da seleção, da aceleração da produção, da domesticação, da popularização da
espécie e da sua utilização econômica. Desta forma, os Quixabeira com o conhecimento
acumulado e repartido entre os mais jovens e aos interessados que os cercam prestam
94

um inestimável serviço. Para Schiedeck e Cardoso (2007) o reconhecimento e a


valorização do saber popular é uma estratégia considerada essencial pela Agroecologia.
Para Altieri (1989) apud Schiedeck e Cardoso (2007) a Agroecologia, como base de
uma agricultura sustentável refuta essa postura de superioridade da ciência e busca uma
nova matriz cognitiva, onde os conhecimentos científicos devem dialogar com os
saberes populares, para recriar processos harmônicos entre sociedades humanas e
natureza.
O município possui uma associação dos produtores agroecológicos, sendo uma
proposta do Fórum de Desenvolvimento Territorial do Cariri Ocidental implementado e
apoiado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial/Ministério do Desenvolvimento
Agrário. Referente à educação com um viés agroecológico, a gestão municipal mantém
uma Escola Agrotécnica Municipal de nível fundamental que já funciona há 15 anos,
sendo uma das alternativas aos filhos dos agricultores e no Campus da UFCG/Centro de
Desenvolvimento do Semiárido funciona o Curso Superior de Tecnologia em
Agroecologia. Semanalmente ocorre dentro da Feira Central a Feira de Produtores
Agroecológicos.

Os Imbuzeiros de Dona Carmelita

O conhecimento de Dona Carmelita e parte dos “Quixabeiras” permitiu a


catalogação dos imbuzeiros como:
1. “Das Cruz”. É o mais próximo da BR 412, onde existem duas
cruzes;
2. “De João Preto”: Foi batizado pelo irmão João Preto (João Alves
Evangelista, Filho 6 na genealogia) quando disse “É o meu..!‖
3. “De Rogério”. Nome de um filho de uma parenta. O considera
como um filho de amamentação. Certo dia foram tirar uns caibros para cobrir
uma casa e lá o garoto encontrou este umbuzeiro;
4. “De Seu Neném”. Era um amigo. Certo dia foram tirar imbu e
encontraram-no dormindo debaixo deste imbuzeiro;
5. “Da Queda”. O seu filho Ditinho (Adalberto Alves Evangelista,
neto 22 na genealogia) e o seu sobrinho Damião (Damião Alves Evangelista,
neto 1 na genealogia), subiram neste imbuzeiro e caíram de um galho seco;
95

6. “Da Chuva”. A sobrinha Zeza (Maria José Alves Evangelista,


neta 3 na genealogia) e Zezito de Zé Antonio, seu esposo, passaram uma chuva
debaixo deste imbuzeiro.
7. “Do Araçá”. Tem um pé de araçá Psidium sp (Mirtaceae) perto
dele;
8. “De Fofinho”. Marivaldo (Fofinho), um vizinho achou nele um
imbu muito grande.
9. “Da Grota”. Passa uma grota (espécie de vossoroca) perto dele e
quando chove os imbus caem dentro desta grota;
10. “O Feioso”. Dona Carmelita acha o fruto feio;
11. “Das Duas Galhas”. Surgem duas ramificações do caule,
próximo ao solo;
12. “Pequeno”. Apresentas frutos pequenos;
13. “Cabeludo vizinho ao Feioso”. Apresenta fruto piloso;
14. “Cabeludo de Sá Inácia”. Dona Inácia também coletora. Sempre
que iam aos imbuzeiros já encontravam-na no de fruto piloso;
15. “O Quebradinho”. O pé de imbu é caído;
16. “De Zé Gôgo”. Seu sobrinho Zé Gôgo ou Dourado (José Alves
Pereira, neto 5 na genealogia) gostava deste imbuzeiro;
17. “Hipopótamo”. Dona Carmelita foi coletar imbu com sua prima
Diva (casada com Luiz Bezerra da Silva, neto 4 na genealogia) e o seu filho
Hildebrando (bisneto 14 na genealogia) e falou que era um imbuzeiro
“importante” e ele entendeu ―Hipopótamo‖.
18. “De Seu Juvino”. Morador do local próximo ao imbuzeiro
19. “Sem Nome 1”. Perto do “Das Cruz”;
20. “Sem Nome 2”. Perto do “De João Preto”.

Da catalogação pode-se verificar que das vinte plantas pesquisadas Dona


Carmelita foi responsável direta pelo batismo de dezesseis plantas (80,0%). Participou
como coadjuvante nos batismos um de seus irmãos para uma planta (5,0%). Três
situações envolvendo parentes foram usadas para o batismo de três plantas (15%)
demonstrando o nível de envolvimento dos “Quixabeiras” com a população de
imbuzeiros em diferentes momentos e épocas. Deste conhecimento foi possível obter as
96

características de plantas e épocas de safras a partir do olhar dos “Quixabeira” sobre os


“Imbuzeiros”. Algumas imagens dos imbuzeiros estão no Anexo 2.

Das Características das Plantas

A área pesquisada totaliza cerca de 14,95 ha com um percurso estimado em


2.357,0 metros desde a BR 412 até o primeiro imbuzeiro denominado de Umbuzeiro
“Das Cruz” e deste, até o último imbuzeiro denominado de “De Fofinho” voltando a
BR 412 conforme a figura 15. Para efeito do estudo foram marcadas quatorze plantas
que apresentavam frutificação.

Figura 15 - Percurso feito por Dona Carmelita para coleta dos Imbus
Fonte: adaptado do Google Earth

As coordenadas geográficas de cada planta constam no quadro 1


97

Quadro 1 - Coordenadas Geográficas dos imbuzeiros marcados


Coordenadas Geográficas
Nome
Latitude Longitude
“Das Cruz” S 07°37’ 59,7” W 036° 51’ 23,8”
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” S 07° 38’ 04,8” W 036° 51’ 18,2”
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” S 07° 38’ 04,2” W 036° 51’ 18,4”
“De João Preto” S 07° 38’ 04,3” W 036° 51’ 17,6”
“Das Duas Galhas” S 07° 38’ 06,7” W 036° 51’ 18,8”
“De Rogério” S 07° 38’ 07,6” W 036° 51’ 17,2”
“Da Queda” S 07° 38’ 07,3” W 036° 51’ 33,5”
“Da Chuva” S 07° 38’ 09,2” W 036° 51’ 06,8”
“Feio” S 07° 38’ 10,0” W 036° 51’ 06,8”
“Cabeludo” S 07° 38’ 10,1” W 036° 51’ 06,8”
“De Seu Nenem” S 07° 38’ 07,9” W 036° 51’ 04,1”
“Pequeno” S 07° 38’ 08,5” W 036° 51’ 08,1”
“Do Araçá” S 07° 38’ 06,1” W 036° 51’ 09,6”
“De Fofinho” S 07° 38’ 02,6” W 036° 51’ 08,3”
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Nascimento et al (2013) utilizaram como descritores observados in situ em


indivíduos promissores do umbuzeiro a altura da planta; maior diâmetro da copa; menor
diâmetro da copa; circunferência do caule a 20 cm do solo; número de ramificações
principais do caule; peso médio do fruto; teor de sólidos solúveis totais do fruto (ºBrix);
largura do fruto; peso da casca; peso do caroço e peso da polpa.
Dos imbuzeiros marcados na área da pesquisa, os resultados dos diâmetros e
áreas de copas se encontram no quadro 2. Os diâmetros variaram de 9,00 m a 17,35 m
com valor médio de 13,00 m. Nascimento et al (2013) encontraram maiores diâmetros
de copas entre 4,50m e 15,20 m e menores diâmetros entre 4,00 m e 14,60 m.
As áreas de copa variaram de 66,47 m² (Imbuzeiro Das Cruz) a 210,46 m²
(Imbuzeiro Do Araçá) com valor médio de 136,21 m². O somatório de todas as áreas de
copas resultou em 1.907,04 m² ou 1,27% da área total da pesquisa de 14,95 ha ou
149.500 m².
98

Quadro 2- Valores de diâmetros de copa e áreas de copa de imbuzeiros


Diâmetro da copa (m)
Área da Copa
Nome Diâmetro Diâmetro Diâmetro
(m²)
1 2 Médio
“Das Cruz” 9,40 9,00 9,20 66,47
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 12,60 11,10 11,85 110,28
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 13,70 11,50 12,60 124,69
“De João Preto” 14,40 14,00 14,20 158,36
“Das Duas Galhas” 13,60 13,50 13,55 144,20
“De Rogério” 14,20 15,10 14,65 168,56
“Da Queda” 16,20 13,80 15,00 176,71
“Da Chuva” 14,12 14,10 14,11 156,36
“Feio” 10,36 10,34 10,35 84,13
“Cabeludo” 14,50 17,00 15,75 194,82
“De Seu Nenem” 13,60 10,90 12,25 117,85
“Pequeno” 10,60 11,40 11,00 95,03
“Do Araçá” 17,35 15,40 16,37 210,46
“De Fofinho” 11,10 11,37 11,23 99,04
Média 13,26 12,74 13,00 136,21
Desvio Padrão 2,24 2,27 2,13 41,74
C V (%) 16,95 17,19 16,41 30,64
Total - - - 1.907,04
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Com relação à altura de plantas estas variaram de 4,00 m (Imbuzeiro Feio) a


8,20 m (Imbuzeiro da Chuva) com valores medianos de 6,09 m conforme o quadro 3.
Quadro 3 - Valores de altura de plantas de imbuzeiros
Altura Total
Nome
m
“Das Cruz” 4,50
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 6,00
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 4,80
“De João Preto” 7,10
“Das Duas Galhas” 5,30
“De Rogério” 6,15
“Da Queda” 7,80
“Da Chuva” 8,20
“Feio” 4,00
“Cabeludo” 6,80
“De Seu Nenem” 4,70
“Pequeno” 5,80
“Do Araçá” 8,10
“De Fofinho” 6,10
Média 6,09
Desvio Padrão 1,36
C.V (%) 22,35
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.
99

Santos (1997), caracterizou, 340 árvores nativas do umbuzeiro em pleno


estádio vegetativo, distribuídas em 17 regiões ecogeográficas, em seis estados
nordestinos, que foram: Bahia, Pernambuco, Piauí, Ceará, Paraíba e Rio Grande do
Norte e o estado de Minas Gerais,. O autor concluiu que o padrão fenotípico do
umbuzeiro é constituído por árvores com altura de 6,3 m, seis ramos principais, copa
arredondada de 11 m de diâmetro, fruto com peso de 18,4 g, teor de sólidos solúveis
totais na polpa de 12°brix, peso da polpa de 10,7 g e relação polpa/fruto de 0,58.
Apenas uma das plantas marcadas (7,14%) apresentou dois troncos a partir do
solo (Imbuzeiro Duas Galhas) (ver quadro 4). Quanto às ramificações principais estas
variaram de duas (Imbuzeiros Das Cruz; De João Preto; De Rogério e Da Chuva) em
21,42% das plantas; três (Imbuzeiros Sem Nome ou Perto do Das Cruz; Sem Nome ou
Perto do de João Preto; Da Queda; Pequeno; Do Araçá e De Fofinho) em 42,85% das
plantas; quatro (Imbuzeiros Cabeludo e de Seu Nenem) ou 14,28% das plantas; a seis
(Imbuzeiro Das Duas Galhas) ou 7,14% das plantas. Havendo maior representatividade
para plantas com três ramificações.

Quadro 4 – Número de troncos e ramificações principais em plantas de imbuzeiro


Ramificações Área da
Tronco
Nome Principais Copa

nº m²
“Das Cruz” 01 02 66,47
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 01 03 110,28
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 01 03 124,69
“De João Preto” 01 02 158,36
“Das Duas Galhas” 02 06 144,20
“De Rogério” 01 02 168,56
“Da Queda” 01 03 176,71
“Da Chuva” 01 02 156,36
“Feio” 01 02 84,13
“Cabeludo” 01 04 194,82
“De Seu Nenem” 01 04 117,85
“Pequeno” 01 03 95,03
“Do Araçá” 01 03 210,46
“De Fofinho” 01 03 99,04
Média 1,07 03 136,21
Desvio Padrão 0,26 1,11 41,74
C V (%) 24,94 36,98 30,64
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Não existe correlação quanto ao número de ramificações e diâmetros e áreas de


copa visto que, o Imbuzeiro “Das Duas Galhas” apresentou o maior número de
ramificações (seis) sem, no entanto apresentar o maior valor para área de copa.
100

Existindo ainda plantas com duas ramificações com áreas mais expressivas que outras
com três ou quatro ramificações.
Os diâmetros de troncos variaram de 0,27 m a 0,83 m com maior
representatividade para a faixa de 0,41 m a 0,49 m (sete plantas ou 50,0%), seguida da
faixa de 0,51 m a 0,57 m (quatro plantas ou 28,57%). O valor médio de diâmetro foi de
0,47 m (ver quadro 5).

Quadro 5 – Diâmetros de troncos em plantas de imbuzeiro


Diâmetro de tronco
Nome
m
“Feio” 0,27
“Pequeno” 0,27
“De Rogério” 0,41
“De Fofinho” 0,41
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 0,42
“De João Preto” 0,46
“Da Queda” 0,47
“Da Chuva” 0,47
“Das Duas Galhas” 0,49
“Das Cruz” 0,51
“Cabeludo” 0,51
“Do Araçá” 0,51
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 0,57
“De Seu Nenem” 0,83
Média 0,47
Desvio Padrão 0,13
C V (%) 28,49
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Das safras, dos frutos e das sementes

Após setenta e quatro anos de coleta e observações foi possível registrar os


imbuzeiros que apresentam safra no período considerado normal para a região e àqueles
mais precoces e mais tardios. Estas observações são relevantes quando da implantação
de pomares comerciais em razão de um maior “alongamento” da safra pela presença das
três épocas de frutificação (ver quadro 6).
101

Quadro 6 – Produção quanto a temporalidade


Safra
Nome
Normal Precoce Tardia
“Das Cruz” X
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” X
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” X
“De João Preto” X
“Das Duas Galhas” X
“De Rogério” X
“Da Queda” X
“Da Chuva” X
“Feio” X
“Cabeludo” X
“De Seu Nenem” X
“Pequeno” X
“Do Araçá” X
“De Fofinho” X
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Caso houvesse uma implantação de um pomar de imbuzeiros na razão de cem


plantas por hectare no espaçamento de 10,0 m x 10, 0 m poderia se optar a princípio por
33,33% das plantas oriundas dos imbuzeiros: ―Sem Nome ou Perto do Das Cruz‘‖,
―Sem Nome ou Perto do De João Preto‘‖, ―De João Preto‖, ―Das Duas Galhas‖, ―De
Rogério‖, ―Da Queda‖, ―Feio‖, ―Cabeludo‖, ―Pequeno‖,―Do Araçá‖ e ―De
Fofinho”; 33,33% das plantas oriundas dos imbuzeiros: ―Das Cruz‖ e ―Da Chuva‖
e 33,33 % das plantas oriundas do imbuzeiro ―De seu Neném‖ garantindo um
“alongamento” no período de safra.
Entretanto, os critérios de normalidade, precocidade ou tardiamento da safra
não são suficientes uma vez que, é necessária a avaliação de produção total, produção
média, tamanho de frutos, tipos de cascas e acidez de frutos. No quadro 7 pode-se
verificar que cinco plantas (35,71%) apresentaram frutos grandes; cinco plantas
apresentaram frutos médios (35,71%) e quatro plantas apresentaram frutos pequenos
(28,57%). O que representou uma distribuição natural de tamanho de frutos bastante
equitativa.
102

Quadro 7 – Tamanho, acidez e características das cascas de frutos de imbuzeiros


Tamanho Casca
Nome “Acidez8”
Visual Visual
“Das Cruz” Pequeno Lisa Doce
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” Grande Lisa Doce
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” Grande Pilosa Doce
“De João Preto” Médio Pilosa Doce
“Das Duas Galhas” Pequeno Lisa Doce
“De Rogério” Médio Pilosa Doce
“Da Queda” Médio Lisa Doce
“Da Chuva” Médio Lisa Doce
“Feio” Grande Pilosa Doce
“Cabeludo” Médio Pilosa Doce
“De Seu Nenem” Grande Piloso Doce
“Pequeno” Pequeno Lisa Doce
“Do Araçá” Pequeno Lisa Doce
“De Fofinho” Grande Lisa Doce
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Para as características das cascas predominou a denominada “lisa” ou glabra


em oito plantas (57,14%) e a classificação pilosa, pubescente ou “cabeluda” em seis
plantas (42,86%). É comum na região do Cariri Paraibano a preferência por frutos lisos.
Quanto a acidez ou ―se é azedo‖, Dona Carmelita, pelo conhecimento que tem das
plantas diz: ―só apanho nos imbuzeiros que são doces‖.
Os comprimentos de frutos variaram de 2,82 cm a 3,94 cm com valores médios
de 3,43 cm. O comprimento de sementes (caroços) variou de 1,72 cm a 2,13cm com
valores médios de 1,91 cm. A relação sementes/frutos apresentou valores médios de
55,68% do comprimento (ver quadro 8), ou seja, em média, os frutos apresentam
comprimentos cerca de 45,0% maiores em relação ao comprimento das sementes.

8
Neste caso o critério de “acidez” foi obtido por informações orais.
103

Quadro 8 – Características dos frutos dos imbuzeiros


Relação Relação
Comprimento Comprimento Diâmetro Diâmetro
Comprimento Diâmetro
Nome Frutos Sementes Frutos Sementes
Sementes/Frutos Sementes/Frutos
cm cm cm cm
% %
“Das Cruz” 3,19 1,80 56,42 2,98 1,19 39,93
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 3,68 2,00 54,34 3,26 1,19 36,50
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 3,66 2,03 55,46 3,42 1,29 37,72
“De João Preto” 3,44 1,90 55,23 3,02 1,06 35,09
“Das Duas Galhas” 3,19 1,88 58,93 2,79 0,95 34,05
“De Rogério” 3,72 2,08 55,91 3,19 1,11 34,79
“Da Queda” 3,34 1,75 52,39 3,03 1,11 36,63
“Da Chuva” 3,30 1,75 53,03 3,06 1,24 40,52
“Feio” 3,94 2,13 54,06 3,47 1,22 35,15
“Cabeludo” 3,28 1,90 57,92 2,92 1,09 37,32
“De Seu Nenem” 3,67 2,03 55,31 3,34 1,19 35,62
“Pequeno” 2,82 1,72 61,00 2,65 1,06 40,00
“Do Araçá” 3,22 1,78 55,27 3,06 1,06 34,64
“De Fofinho” 3,68 2,00 54,34 3,79 1,19 31,39
Média 3,43 1,91 55,68 3,14 1,13 36,38
Desvio Padrão 0,29 0,13 2,30 2,29 0,08 2,56
C V (%) 8,60 7,10 4,14 9,43 7,25 7,03
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Espécies arbóreas tropicais expressam grande variabilidade em relação ao


tamanho dos frutos e número de sementes nos frutos (CRUZ et al., 1994 apud
AMARAL et al. 2007), sendo assim, a biometria torna-se uma ferramenta importante
para determinar matrizes com maior produtividade. Portanto, torna-se válido
caracterizar biometricamente frutos de S. tuberosa e relacionar as medidas biométricas
(comprimento, largura e espessura) e polpa.
Ainda no quadro 8, verifica-se que o diâmetro de frutos variou de 2,65 cm a
3,79 cm com valores médios de 3,14 cm. Já o diâmetro de sementes variou de 0,95 cm a
1,29 cm com valores médios de 1,13 cm. Quanto a relação diâmetro semente/fruto,
verifica-se que o diâmetro das sementes pode interferir em até 35,98% no diâmetro dos
frutos.
Na comparação medição versus avaliação visual dos coletores verificou-se (v.
quadro 9) que não existe uma padronização entre a avaliação visual e a medição
efetiva. Tomando-se como exemplo a variação de diâmetro de 2,65 cm a 2,98 cm
observou-se que neste enquadramento que totaliza quatro plantas houve uma
classificação de fruto pequeno (2,65 cm); uma classificação de frutos médios (2,91cm) e
duas classificações de frutos grandes (2,79 cm e 2,98 cm).
104

Quadro 9 – Avaliação visual em relação ao Diâmetro do fruto


Diâmetro de Frutos Tamanho
Nome
cm Visual
“Pequeno” 2,65 Pequeno
“Das Duas Galhas” 2,79 Pequeno
“Cabeludo” 2,91 Médio
“Das Cruz” 2,98 Pequeno
“De João Preto” 3,02 Médio
“Da Queda” 3,02 Médio
“Da Chuva” 3,06 Médio
“Do Araçá” 3,06 Pequeno
“De Rogério” 3,19 Médio
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 3,26 Grande
“De Seu Nenem” 3,34 Grande
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 3,42 Grande
“Feio” 3,47 Grande
“De Fofinho” 3,79 Grande
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

O critério “pequeno” foi utilizado indistintamente para valores de 2,65 cm,


2,79 cm, 2,98 cm e 3,06 cm de diâmetro.
No que se refere a peso de frutos estes variaram de 14, 31 g a 26,49 g com
valores médios de 19,67 g. O peso de sementes variou de 0,75 g a 1,33 g com valores
médios de 1,03 g (ver quadro 10).
Mendes (1990), encontrou valores cujo peso do fruto maduro variou entre 10,0
– 20,0g, contendo 68,0% de polpa, 10,0% da semente e 22,0% de casca. Cavalcanti et
al. (2001) ao avaliar oito comunidades do Semiárido Nordestino, verificou que o peso
dos frutos oscilou entre 55,22g - 37,10g.
105

Quadro 10 – Relação entre frutos, sementes, polpa e cascas de imbuzeiros


Peso Peso Relação Relação
Nome Frutos Sementes Polpa/Casca Polpa/Casca
g g g %
“Das Cruz” 16,92 1,14 15,78 93,26
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 22,47 1,13 21,34 94,97
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 25,12 1,30 23,82 94,82
“De João Preto” 18,27 1,00 17,27 94,52
“Das Duas Galhas” 14,31 0,75 13,56 94,75
“De Rogério” 22,14 1,05 21,09 95,25
“Da Queda” 17,81 0,85 16,96 95,22
“Da Chuva” 18,55 0,82 17,73 95,57
“Feio” 26,49 1,33 25,16 94,97
“Cabeludo” 16,54 0,95 15,59 94,25
“De Seu Nenem” 24,10 1,26 22,84 94,77
“Pequeno” 11,65 0,83 10,82 92,87
“Do Araçá” 17,30 0,93 16,37 94,62
“De Fofinho” 23,80 1,17 22,63 95,08
Média 19,67 1,03 18,64 94,64
Desvio Padrão 4,22 0,18 4,06 0,72
C V (%) 21,45 17,66 21,80 0,76
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014.

Descontados os valores medianos do peso das sementes a contribuição da


casca/polpa nos fruto pode atingir um valor médio de 94,64% do peso total de frutos. A
melhor relação (95,57%) foi encontrada para os frutos do imbuzeiro “Da Chuva”.
Comparando diâmetros e pesos medidos com as comparações visuais de
tamanho e tomando como referência a classificação “pequeno” observou-se que este
critério resultou em pesos equivalentes a 16,92 g; 18,55 g e 23,80 g com uma variação
de cerca de 28,90% do maior para o menor valor (ver quadro 11)
106

Quadro 11 – Relação entre dimensões de frutos e classificação visual


Diâmetro Peso
Tamanho
Nome Frutos Frutos
Visual
cm g
“Pequeno” 2,65 16,92 Pequeno
“Das Duas Galhas” 2,79 22,47 Pequeno
“Cabeludo” 2,91 25,12 Médio
“Das Cruz” 2,98 18,27 Pequeno
“De João Preto” 3,02 14,31 Médio
“Da Queda” 3,02 22,14 Médio
“Da Chuva” 3,06 17,81 Médio
“Do Araçá” 3,06 18,55 Pequeno
“De Rogério” 3,19 26,49 Médio
“Sem Nome” ou “Perto do Das Cruz” 3,26 16,54 Grande
“De Seu Nenem” 3,34 24,10 Grande
“Sem Nome” ou “Perto do de João Preto” 3,42 11,65 Grande
“Feio” 3,47 17,30 Grande
“De Fofinho” 3,79 23,80 Grande
Fonte: Pesquisa de Campo. Fazenda Campo Alegre. Sumé. Paraíba. 2014

O Engenheiro Agrônomo Paulo B. Guerra, em 1938, estudou os umbuzeiros da


Serra da Borborema; colheu e pesou os 15.680 frutos encontrados em uma árvore, no
total de 153 quilos. A produção, anteriormente colhida, desse pé, foi estimada em 150
quilos e o agrônomo calculou em mais de 300 quilos a produção anual. O peso de um
umbu maduro varia entre 10 a 20 gramas. O relatório do mesmo agrônomo dá o estudo
de 600 frutos, pesando 12.780 gramas, contendo 27% de polpa, 8% de caroço e 65% de
cascas (DUQUE, 2004).

Da presença do imbuzeiro no município

Do resultado das entrevistas realizadas em três agrupamentos de reforma


agrária em nível estadual em área total de 1.062 ha foram encontrados 93 imbuzeiros o
que resulta numa densidade de um (01) imbuzeiro para cada 11,41 ha. Entretanto,
quando estratificados os dados pode ser observada uma densidade de 19 imbuzeiros
para cada 27,47 ha no Agrupamento Agrestina; 61 imbuzeiros para cada 3,91 ha no
Agrupamento Novo Horizonte e 23 imbuzeiros para cada 13,08 ha no Agrupamento
Tigre, mostrando uma variabilidade acentuada na distribuição de plantas (ver quadro
12).
107

Esta variabilidade também foi revelada na presença ou não de imbuzeiros nas


parcelas e nas áreas de Reserva Legal9 (RL). Os imbuzeiros presentes nas RL’s podem
ser motivo de coleta segundo a Lei Federal 12.651/12, no seu Artigo 21.

Quadro 12 - Dados sobre imbuzeiros em áreas de três agrupamentos do Programa de


Crédito Fundiário
Novo
Localidade/Dados Agrestina Tigre Total
Horizonte
Área Total (ha) 522 239 301 1.062
Reserva Legal (ha) 100 47 58 205
Parcelas (nº) 13 09 15 37
Parcelas (ha) 32,4 21,2 21,0 74,6
Parcelas com Imbuzeiros (nº) 05 09 12 26
RL com Imbuzeiros Sim Sim Não --
Umbuzeiros nas Parcelas (nº) 16 09 23 38
Umbuzeiros na RL (nº) 03 52 00 55
Da Capineira - Da Cabra
Nomes dos Imbuzeiros 04
Do Lajedo - Das Três Lagoas
Umbuzeiros Precoces (nº) 02 01 10 13
Umbuzeiros Frutos Doces (nº) 17 58 11 86
Umbuzeiros Frutos Azedos (nº) 02 02 11 15
Umbuzeiros Frutos Casca Lisa (nº) 19 51 08 78
Umbuzeiros Frutos Casca Pilosa (nº) 00 09 14 23
Umbuzeiros Frutos Grandes (nº) 12 23 11 46
Umbuzeiros Frutos Médios (nº) 05 35 08 48
Umbuzeiros Frutos Pequenos (nº) 02 02 03 07
Umbuzeiros Sementes Grandes (nº) 04 15 11 30
Umbuzeiros Sementes Médias (nº) 11 31 09 51
Umbuzeiros Sementes Pequenas (nº) 05 14 02 21
Fonte: Pesquisa de Campo. Projetos de Agrupamento Agrestina, Novo Horizonte Tigre. Sumé. Paraíba. 2014

É nítida a predominância de plantas não precoces (exceto no Agrupamento


Tigre) e das que apresentam frutos doces, com casca lisa e de frutos grandes a médios
(exceto no Agrupamento Novo Horizonte) e com sementes médias.
A figura 16 mostra a localização das áreas onde foi desenvolvida a pesquisa.

9
Segundo a Lei Federal 12.651 de 25 de maio de 2012 no seu Artigo 3º, Inciso III a definição de Reserva Legal é de “área
localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos
ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.” No
seu Artigo 21 informa que “é livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes,
devendo-se observar:
I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas,
cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes” (BRASIL, 2012).
108

Figura 16 - Localização das Áreas de Estudo


Fonte: adaptado do Google Earth

Do que já se fez pelo imbuzeiro no município

O que se conhece oficialmente sobre eventos cuja temática é o imbuzeiro, o


imbu ou seus derivados, foi realizado pela primeira vez em 25 de março de 2011,
promovido pela Escola Agrotécnica Municipal Deputado Evaldo Gonçalves de Sumé
denominado de UMBUFEST. O evento contou com a participação de pesquisadores,
professores, alunos, ONG´s, representantes de órgãos oficiais e a comunidade. O evento
tornou-se parte do calendário oficial da Secretaria Municipal de Educação e da Escola
Agrotécnica. A partir de 2012 adotou-se o nome de FESTIVAL DO UMBU, em 2014
foi realizado o IV Festival.
Afora os festivais, algumas ações pontuais são realizadas como forma de
preservação da cultura do imbuzeiro, como: produção e distribuição de mudas pelo
Viveiro Florestal da Escola Agrotécnica para agricultores da região. A seguir podem ser
visualizadas conforme previsto nas programações.
109

I UMBUFEST 25 de março de 2011


- 08:00 h. Abertura
- 08:45 h. Palestra. Manejo Cultural e Potencial Agroindustrial do Umbuzeiro. Dr.
Elder Manoel de Moura Rocha – EMBRAPA Semiárido Petrolina/PE.
- 09:45 h. Curso: Processamento de produtos derivados do Umbuzeiro. Dr. Milton de
Brito Cavalcanti - EMBRAPA Semiárido Petrolina/PE.
Ciclo de Palestras
Tema 1. A riqueza do umbuzeiro. Profa. Adriana Meira Vidal CDSA/UFCG.
Tema 2. Experiência do umbu na Agricultura Familiar. Claudiana Cardoso. Grupo de
Mulheres da Comunidade Lajedo de Timbaúba/PE.
Tema 3. Experiência do Fórum Territorial do Cariri Ocidental. Jefferson Roberto.
Assessor Técnico do Território do Cariri Ocidental.
Tema 4. Preservação da Cultura do Umbuzeiro. Alexandre Santana. Projeto Dom
Helder Câmara.
Após os Ciclos de Palestras haverá degustação dos produtos derivados de umbu.

II FESTIVAL DO UMBU 26 a 30 de março de 2012


-Dia 26/03 - Escola Agrotécnica de Sumé. EAS.
- 08:00 h. Abertura
-08:20 h. Palestra: Potencialidades do umbu. Profa. Ilza Brasileiro. CDSA/UFCG e
Prof. Lindiberg Farias Duarte. EAS.
- 10:00 h. Oficina Culinária com o umbu. Gisélia Paulino. EAS.
- Dia 27 e 28/03 - Escola Agrotécnica de Sumé. EAS.
- 08:00h . Atividades socioeducativas em sala de aula abordando as potencialidades do
umbu
- Dia 29/03 Escola Agrotécnica de Sumé
- 08:00h . Palestra. Umbuzeiro da Saudade. Prof. Dr. Daniel Duarte Pereira.
UFPB/CCA.UFCG/PEASA/MISA. INSA.
- 08:40h . Palestra. Avaliação da diversidade do umbuzeiro no Estado da Paraíba. Profa.
Dra. Fabiane Rabelo da Costa. INSA/MCTI.
- 09:30h . Degustação de produtos derivados do umbu
- 10:00h . Apresentações culturais
Mostra das atividades socioeducativas
Gincanas com premiações
110

- Dia 30/03 Central de Abastecimento Oscar Severo de Macedo. Mercado Público


- 08:00h . Abertura Oficial
- 08:30h . Degustação de produtos derivados do umbu
- 09:00h . Apresentações culturais
Mostra das atividades socioeducativas
Gincanas com premiações
- 09:00h . Encerramento com Show da Banda Forro Kent

III FESTIVAL DO UMBU 26 a 27 de abril de 2013


- Dia 26/04
- 08:00 h. Abertura
- 08: 20 h. Apresentação cultural
- 08:45 h. Palestra. Umbuzeiro: uma alternativa para o Semiárido. Profa. Ilza
Brasileiro. CDSA/UFCG.
- 09:45 h. Palestra: Importância Social e Econômica do Umbuzeiro. Prof. Lindinberg
Farias Duarte. EAS.
- 10:35 h. Oficina Métodos de Propagação do Umbuzeiro. José Tiano. EAS.
- 11:00 h. Degustação
- Dia 27/04
- 08:00 h. Apresentação cultural
- 08:45 h. Resultado do Concurso. Desenho, Poesia e Prosa
- 09:45 h. Gincana
- 10:35 h. Degustação
- 11:30 h. Encerramento com Forró pé-de-serra

IV FESTIVAL DO UMBU 15 e 16 de maio de 2014


- Dia 15/05
- 08:00 h. Minicurso. Gastronomia do Umbu
Local: Sítio Jurema. Sede da Associação do Riacho de Pedra Comprida
- Dia 16/05
- 08:00 h. Ciclo de Palestras: Implementação de Atividades com o Umbuzeiro. Temas:
Produção;
Trabalho;
Importância Social e Econômica;
111

Comercialização;
Associativismo
Palestrantes:
Eng.º Agrônomo Lindiberg Farias Duarte
Téc. em Agropecuária Augusto Jorge Neto
Acadêmico de Licenciatura em Ciências Agrárias Franco Vanderley
- 10:00 h. Apresentações Culturais e Culminância de projetos executados pelos alunos

Portanto, já foram realizadas 16 palestras; 01 curso; 01 mini-curso; 02 oficinas;


05 degustações; 03 atividades sócio-educativas; 03 gincanas; 05 Apresentações culturais
e 01 concurso. Entretanto, mesmo com esta vasta listagem de atividades não foram
envidados maiores esforços para o efetivo mapeamento de plantas; caracterização de
plantas e frutificações; análises biométricas e físico-químicas de frutos; seleção de
plantas; domesticação de plantas; projetos-pilotos de processamento de frutos e
derivados, entre outras ações.
Além da identificação de algumas plantas pelos “Quixabeiras” e alguns
agrupados da reforma agrária existe ainda no âmbito do município histórias/estórias
envolvendo plantas de imbuzeiros que devem estar presentes na historicidade do
conhecimento local.

Das Histórias/Estórias sobre imbuzeiros

Foram identificados dois relatos envolvendo imbuzeiros no município, sendo


eles denominados de “Imbuzeiro do Coronel” e “Imbuzeiro do Soldado”.

O Imbuzeiro do Coronel Sizenando

Fica localizado no Assentamento de Reforma Agrária Mandacaru, antiga


Fazenda Feijão do Coronel Sizenando Raphael de Deus. A entrevista foi feita a José
Ferreira de Souza (Seu Zezinho) (ver figura 17) nascido na Fazenda Feijão em
06/01/1936. Seu pai era trabalhador “do eito10” e sua mãe trabalhava na cozinha da casa
sede com a esposa do coronel Dona Maria Leite.

10
Termo regional que se refere a trabalho braçal no campo envolvendo principalmente a agricultura.
112

Figura 17 – Senhor José Ferreira de Souza. Informante


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

A Fazenda Feijão foi fundada em 1880, ficando com herdeiros do casal até
1956, quando foi comprada pelo senador pernambucano Paulo Guerra. Em 1979, foi
adquirida pelo Senhor José Lucas, ficando com sua posse até 1998, quando foi ocupada
pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Em 2000, saiu o Decreto de
Desapropriação e posse definitiva aos acampados.
O Coronel da Guarda Nacional Sizenando Raphael de Deus (v. figura 18),
nasceu na Fazenda Mata Verde em Monteiro/PB, em 18/05/1863 e faleceu na Fazenda
Feijão em 02/05/1943. Em 1880, aos 17 anos, iniciou a construção da Fazenda Feijão.
Construiu 11 açudes, dividiu a propriedade em 15 mangas11; currais; tanque
carrapaticida; condução de leite encanado do curral para casa; água encanada de um dos
açudes para a casa sede; engenho de rapadura; casa de farinha; beneficiadora de
algodão; capela. açougue; barracão/mercearia entre outras ações.

11
Modalidade de Sistema Agroflorestal Silvopastoril empírico
113

Figura 18 – Coronel Sizenando e esposa Dona Maria Leite


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Existem relatos que o mesmo teria sido vaqueiro e que com a administração
correta da sorte12 conseguiu formar um bom rebanho de cabras logo transformado em
terras. A primeira a ser adquirida teria sido a que viria a ser denominada de Feijão. A
princípio teria morado debaixo de um imbuzeiro rodeado de couros de bois e cerca de
varas numa imitação de casa (ver figura 19) e daí iniciado todo o processo de aquisição
de mais terras e mais animais. O Coronel Sizenando foi ainda Prefeito do município de
Monteiro e o primeiro a instalar “motor de luz” na propriedade. Antes mesmo da sede
municipal ter esse benefício.

12
Prática entre proprietário e vaqueiro onde de cada quatro ou cinco animais nascidos uma era do vaqueiro independente do sexo do
animal.
114

Figura 19 – Histórico do Coronel pelo artista plástico Miguel Guilherme na Capela


de São Sebastião da Fazenda Feijão/Assentamento Mandacaru
Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.

Através de trabalho árduo teria conseguido criar um império com mais de


6.000 ha hoje na propriedade/assentamento ainda existe o imbuzeiro que presenciou
toda esta trajetória (ver figura 20).
115

Figura 20 – Imbuzeiro do Coronel Sizenando. Planta com mais de 134 anos de idade
Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

O Imbuzeiro do Soldado

A entrevista foi realizada com a senhora Bernadete de Lourdes Macêdo, 60


anos, que morou na propriedade Barriguda pertencente aos pais, onde localiza-se os
umbuzeiros. A propriedade atualmente está na posse de um dos seus irmãos e localiza-
se na saída oeste da sede do município a aproximadamente 3,0 km no sentido dos sítios
Terra Vermelha, Tigre, Abertas, Angico Torto, entre outros.
Na verdade não é o “Imbuzeiro do Soldado” e sim, os “Imbuzeiros dos
Soldados”. Dois deles ainda existem, sendo um localizado na propriedade Conceição
pertencente aos herdeiros do senhor Diógenes Soares e o outro na propriedade
Barriguda (ver figura 21) do senhor Cícero Severo. O terceiro localizava-se na
propriedade que pertenceu ao senhor Manoel Lima e hoje é do patrimônio de Nossa
Senhora da Conceição, mas foi cortado há muito tempo.
116

Figura 21 – O imbuzeiro do soldado da propriedade Barriguda


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Todos eles margeavam a antiga estrada que ligava a sede do município ao


Distrito de Amparo e cortava as referidas propriedades. Deu-se o nome de “Imbuzeiro
do Soldado” pelo fato de como eles margeiam a estrada, serviam de acampamento ou
rancho tanto para as volantes de polícia, como para os bandos de cangaceiros.
Provavelmente houve um encontro entre os grupos resultando na morte de um soldado.
Mas não se sabe ao certo em qual dos três umbuzeiros foi o ocorrido, ficando assim
atribuído ao imbuzeiro da propriedade Conceição (ver figuras 22a e 22 b).
117

Figura 22 a – Imbuzeiro do Soldado na propriedade Conceição


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Figura 22b - Detalhe do Imbuzeiro do Soldado na propriedade Conceição


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
118

Diz-se que o imbuzeiro é “mal-assombrado”. Várias pessoas dizem terem visto


algo incomum neste imbuzeiro, como choro de crianças e a própria entrevistada, Dona
Bernadete, em “um dia de segunda-feira por volta do meio dia um homem vestido de
azul montado em um burro e uma criança montada em um jumento. O homem no burro
tentava saltar a cerca para a estrada e o menino atravessava com o jumento impedindo
que ele passasse. Quando ela aproximou-se e cumprimentou-os teve um grande susto
pois o rosto do homem era horrível, a boca era enorme” e nisso ela saiu correndo.
Logo adiante encontrou alguns garotos que estavam jogando bola e perguntou
se elas tinham visto um homem em um burro acompanhado de um garoto em um
jumento e eles falaram que não.
Por estes relatos pode-se perceber que a memória de imbuzeiros no município
não é só gustativa ou olfativa é também de “causos” que inseridos na contextualização
do saber local e do conhecimento local “prendem” a imaginação de ouvintes e de
contadores atraindo a discussão para outras esferas. Isto pode-se dizer faz parte da
construção agroecológica.

Figura 23 – Senhora Bernadete de Lourdes Macêdo. Informante


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
119

CONCLUSÕES

O saber local sem estar inserido em um sistema local de conhecimento pouco


pode ser utilizado na construção ou fortalecimento da proposta agroecológica. Ele deve
ser “desencavado” das conversas, das prosas, dos relatos. Foi isto que aconteceu quando
se optou por sistematizar e validar o conhecimento de Dona Carmelita Quixabeira e de
parte da Família Quixabeira.

A relação de extrativismo de mais de setenta anos permitiu o diagnóstico


preciso de uma população de imbuzeiros a partir do momento em que Dona Carmelita
afirmou que “só colhia das plantas com frutos mais doces”. Isto significa um
adiantamento de décadas na domesticação de uma espécie que pode ter as suas safras e
frutificações afetadas por um tempo, mas não por um longo tempo.

O resgate genealógico permitiu descobrir a presença de nove pessoas de


diversas faixas etárias no processo de extrativismo. Em que pese o caráter urbano, estas
pessoas conhecem as plantas e o seu histórico por mais de setenta anos. Isto demonstra
que a construção agroecológica também pode advir do conhecimento que está latente no
meio urbano e que muitas vezes é desconhecido ou relevado.

A população de imbuzeiros apresentou plantas com diâmetro médio de copas


de 13,0 m e altura média de 6,09 m, com uma média de três ramificações principais com
diâmetro médio do tronco principal de 0,47 m. A maioria deles safreja no período
comum e apresentam pelas observações extrativistas plantas com equilíbrio de frutos
grandes, médios e pequenos dentro da população sendo a maioria de casca lisa e de
sabor doce. Quando submetidos à validação a relação avaliação visual versus medição
de tamanho de frutos não se confirmou para os tamanhos relatados. Os frutos
apresentaram peso médio de 19,67 g contendo cerca de 94,64% de casca/polpa.

A área da pesquisa foi de 14,95 ha com a presença de vinte exemplares de


imbuzeiros dos quais quatorze foram marcados. Isto resulta em uma densidade de uma
planta para cada 0,74 ha o que é considerado muito alto. As pesquisas em outras áreas
resultaram em densidades de uma planta para cada 27, 47 ha no Agrupamento
Agrestina; uma planta para cada 3,91 ha no Agrupamento Novo Horizonte e uma planta
para cada 13,08 ha no Agrupamento Tigre, o que demonstra uma alta diversidade em
termos de distribuição natural o que induz ao plantio nos moldes técnicos. A
120

predominância foi de plantas com safrejamento no período normal com frutos de casca
lisa e de tamanho de grande a médio e sabor doce.

Foi observada a iniciativa pela Escola Agrotécnica de Ensino Fundamental


Prof. Evaldo Gonçalves de Queiroz da criação dos festivais do imbu que já resultaram
em palestras; cursos; mini-curso; oficinas; degustações; atividades sócio-educativas;
gincanas; apresentações culturais e concurso sem, no entanto, ter havido, ainda, um
planejamento em termos de aproveitamento de safras, domesticação da espécie, plantios
comerciais entre outras ações.

A oralidade local relatou pelo menos dois “causos” envolvendo a espécie.


Sempre situada no meio da história ou ancorando a historia imperceptivelmente a
espécie está sendo estudada, analisada, pesada, ponderada em casos de sucesso como o
do Imbuzeiro do Coronel Sizenando e até mesmo evitada em casos de “malassombros”
no caso do Imbuzeiro do Soldado. O que importa é que a espécie é conhecida e sendo
conhecida, preservada.
121

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128

ANEXOS
129

Anexo A – Registro Iconográfico dos “Quixabeiras”

Figura 24 – Dona Carmelita iniciando a trilha dos imbuzeiros


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.

Figura 25 – Dona Carmelita adentrando a trilha dos imbuzeiros


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.
130

Figura 26 – Dona Carmelita dentro da trilha dos imbuzeiros


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.

Figura 27 – Dona Carmelita mostrando um fruto grande de imbu


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo de Marcos Luiz.
131

Figura 28 – Dona Carmelita mostrando a diversidade de tamanhos de frutos de imbu


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo de Marcos Luiz.

Figura 29 – Bisnetos 12 e 13 filhas da Neta 3 acompanhando Dona Carmelita Filha 13


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo de Marcos Luiz.
132

Figura 30 – Esposo da Neta 3 e pai dos bisnetos 12 e 13 acompanhando Dona Carmelita


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.

Figura 31 – Julio Preto, Filho 3, com parte da família Quixabeira


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo de Maria Izabel.
133

Anexo B- Imagens dos imbuzeiros marcados

Figura 32 – Imbuzeiro “Das Cruz”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.

Figura 33 – Imbuzeiro “Sem Nome ou Perto do Das Cruz”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor.
134

Figura 34 – Imbuzeiro “Sem Nome ou Perto do de João Preto”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Figura 35 – Imbuzeiro “De João Preto”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
135

Figura 36 – Imbuzeiro “Das Duas Galhas”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo de Marcos Luiz

Figura 37 – Imbuzeiro “De Rogério”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
136

Figura 38 – Imbuzeiro “Da Queda”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Figura 39 – Imbuzeiro “Da Chuva”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
137

Figura 40 – Imbuzeiro “Feio”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Figura 41 – Imbuzeiro “Cabeludo”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor....
138

Figura 42 – Imbuzeiro “De Seu Neném”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Figura 43 – Imbuzeiro “Pequeno”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
139

Figura 44 – Imbuzeiro “Do Araçá”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor

Figura 45 – Imbuzeiro “De Fofinho”


Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
140

Anexo C - Questionário para as Áreas de Agrupamento

ASSOCIAÇÃO:________________________________________________________

QUESTIONÁRIO:

1) NA SUA PARCELA HÁ UMBUZEIRO: ( )SIM ( )NÃO

2) QUANTOS: _____________________________________________

3) ALGUM TEM NOME: ( )SIM ( )NÃO

SE SIM, QUAL (IS): _________________________________________________

4) DESTE, O UMBU É: ( )DOCE ( )AZEDO

5) ALGUM PRODUZ ANTES DOS OUTROS: ( )SIM ( )NÃO

6) TIPO DE CASCA: ( )LISO ( )CABELUDO

7) TAMANHO DO FRUTO: ( )GRANDE ( )MEDIO ( ) PEQUENO

8) TAMANHO DO CAROÇO: ( )GRANDE ( )MEDIO ( )PEQUENO.

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