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BANANEIRAS - PB
2014
JOSÉ ROMÉRIO SOARES BRITO
Bananeiras – Paraíba
2014
Ficha Catalográfica elaborada na Seção de Processos Técnicos
Biblioteca Setorial de Bananeiras UFPB/CCHSA
Bibliotecária - Documentalista: KATIA FÉLIX DA SILVA – CRB 15/505
140f.: il.
Comissão Examinadora
________________________________________________
Prof. Dr. Daniel Duarte Pereira – UFPB/Campus II
Orientador
________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Eduardo de Araújo – UFPB/Campus III
_______________________________________________
Dra. Jucilene Silva Araújo – INSA/MCTI
________________________________________________
Prof. Dr. José Jonas Duarte da Costa – UFPB/CAMPUS I
“Quando as tiras do véu do pensamento
Desenrolam-se dentro de um espaço
Adquirem poderes quando eu passo
Pela terra solar dos Cariris
Há uma pedra estranha que me diz
Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé”
Zé Ramalho
iii
Dedico a meus pais, minha esposa e filhos. E a todos
aqueles que, perto ou longe, torceram pela realização
deste sonho.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre a frente da minha vida guiando meus passos e ensinando-me a
buscar um caminho que conduza-nos a um mundo justo e perfeito
Aos amigos e colegas agrônomos João Alberto e Hugo pelo apoio, boas conversas e
hospedagem
A minha esposa Maria José e filhos João Vitor e Bárbara pelo incentivo e pela
compreensão principalmente nas horas que estive ausente
Aos meus pais Nezinho e Lourdes que em suas simplicidades acreditaram em seus
filhos e nos permitiram todas as condições de estudar e provar que a educação ainda é o
maior instrumento para alcançar a vitória
Aos meus irmãos Severino, Maria do Carmo e Kelly por acreditarem e apoiarem
Ao amigo e irmão Marcos Luiz e sua esposa Izabel pelo essencial apoio no
fornecimento de material iconográfico, nas coletas e trabalhos de campo
v
Aos proprietários da Fazenda Campo Alegre, Seu Cazuzinha, Dona Socorro e filhos
Aos Assentados dos P.A.’s Tigre, Novo Horizonte e Agrestina pelo fornecimento de
dados relativos as suas áreas
Aos amigos Augusto Jorge, Gleydson e Paulinho do Feijão pela contribuição nas coletas
de dados e pesquisa de campo
A Prefeitura Municipal de Sumé nas pessoas de Dr. Neto, Betânia Macêdo e Nilson
Brito por terem me proporcionado a capacitação para o Mestrado
Aos amigos e amigas que acreditaram, torceram e comemoraram essa vitória, Biu,
Gildo, Queiroz, Thiago, Cristina, Quinquinha, Franco, Lindiberg, Djamilton, Isca,
Raquel e tantos outros
vi
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17
REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 21
O Clima Semiárido no mundo ................................................................... 21
O Clima Semiárido Brasileiro ................................................................... 21
A Região Semiárida Brasileira .................................................................. 22
O Semiárido Nordestino ............................................................................ 25
O Semiárido Paraibano .............................................................................. 25
O Bioma Caatinga ...................................................................................... 25
Os Cariris Paraibano .................................................................................. 26
O Município de Sumé ................................................................................ 28
A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba ........................................................ 29
A Agroecologia .......................................................................................... 31
O Saber local e o conhecimento local em Agroecologia ........................... 34
A Política Nacional de Agroecologia ........................................................ 35
O Extrativismo ........................................................................................... 35
O Imbuzeiro ............................................................................................... 36
O Extrativismo do Imbu ............................................................................ 38
O Imbuzeiro na literatura ........................................................................... 40
As ações ao redor do imbuzeiro ................................................................. 44
O Imbuzeiro e o conhecimento agroecológico .......................................... 46
O Imbuzeiro e as Política Públicas ............................................................ 49
O Imbuzeiro como cultura imaterial .......................................................... 51
Os Festivais Regionais de Imbu ................................................................ 57
A COOPERCUC ....................................................................................... 58
A Genealogia ............................................................................................. 58
METODOLOGIA ............................................................................................. 61
RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................... 66
Do Território investigado ........................................................................... 66
Das Pessoas indagadas ............................................................................... 69
Da Genealogia do extrativismo .................................................................. 81
Da Devoção de Dona Carmelita ................................................................ 84
Da pesquisa empírica dos “Quixabeiras” .................................................. 91
Os imbuzeiros de Dona Carmelita ............................................................. 94
Das características das plantas ................................................................... 96
Das safras, dos frutos e das sementes ........................................................ 100
Da presença do imbuzeiro no município ................................................... 106
Do que já se fez pelo imbuzeiro no município .......................................... 108
Das Histórias/Estórias sobre imbuzeiros ................................................... 111
O Imbuzeiro do Coronel Sizenando ........................................................... 111
O Imbuzeiro do soldado ............................................................................. 115
CONCLUSÕES ................................................................................................. 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 121
ANEXOS
vii
LISTA DE QUADROS
viii
LISTA DE FIGURAS
ix
Filha 13 ..................................................................................................................
Figura 30 – Esposo da Neta 3 e pai dos bisnetos 12 e 13 acompanhando Dona
Carmelita ............................................................................................................... 132
Figura 31 – Julio Preto, Filho 3, com parte da família Quixabeira ...................... 132
Figura 32 – Imbuzeiro “Das Cruz ........................................................................ 133
Figura 33 – Imbuzeiro “Sem Nome ou Perto do Das Cruz” ................................ 133
Figura 34 – Imbuzeiro “Sem Nome ou Perto do de João Preto” .......................... 134
Figura 35 – Imbuzeiro “De João Preto” ............................................................... 134
Figura 36 – Imbuzeiro “Das Duas Galhas” .......................................................... 135
Figura 37 – Imbuzeiro “De Rogério” ................................................................... 135
Figura 38 – Imbuzeiro “Da Queda” ...................................................................... 136
Figura 39 – Imbuzeiro “Da Chuva” ...................................................................... 136
Figura 40 – Imbuzeiro “Feio” ............................................................................... 137
Figura 41 – Imbuzeiro “Cabeludo” ...................................................................... 137
Figura 42 – Imbuzeiro “De Seu Neném” ............................................................. 138
Figura 43 – Imbuzeiro “Pequeno” ........................................................................ 138
Figura 44 – Imbuzeiro “Do Araçá” ...................................................................... 139
Figura 45 – Imbuzeiro “De Fofinho” ................................................................... 139
x
LISTA DE ABREVIATURAS
xi
RESUMO
xii
ABSTRACT
xiii
17
INTRODUÇÃO
pilares para o sucesso de ações tipo banco de sementes; épocas de plantio e colheita;
previsões de chuvas ou estiagens; receitas familiares de controle de pragas e doenças de
plantas; modo de acondicionamento de alimentos, entre outras ações.
No caso do extrativismo de frutíferas são os coletores e familiares quem detém
o conhecimento que muitas vezes a pesquisa necessita para validar determinados
experimentos e fixar variedades mais produtivas. Era comum na antiga pomicultura,
alicerce da atual fruticultura, que no ato de pesquisa de determinada espécie se
recorresse aos produtores e aos coletores sobre as características mais destacadas de
possíveis matrizes e após a validação fixar estas características pelos processos de
enxertia, mergulhia, alporquia, cruzamentos, etc.
Na atualidade o processo não mudou. Centenas de Carmelitas são procuradas
todos os dias devido aos seus conhecimentos de décadas de extrativismo a respeito de
determinadas plantas, economizando-se assim tempo, e recursos. É o caso, por exemplo,
das “sementes crioulas” ou “sementes da paixão”. Não fossem elas e milhares de
extrativistas as seleções massais de espécies demorariam muito mais.
E no campo agroecológico a situação também não é diferente. É importante
que diversas variedades agrícolas, frutíferas, forrageiras, medicinais já preconizadas
pelo conhecimento local sejam testadas e referendadas, tanto para fins de consumo
próprio, quanto na busca de agregação de valor.
Assim, está direcionada esta pesquisa para os diferentes resgates histórico,
genealógico, geográfico, social, florístico associados à vivência de Dona Carmelita
Quixabeira que na sua essência representa milhares de coletore(a)s extrativistas
anônimo(a)s que representam os elos de uma grande corrente agroecológica, pois, o
extrativismo está amplamente associado a conservação das áreas de ocorrência de
espécies muitas vezes traduzidas como sistemas agroflorestais naturais.
Para que esta pesquisa pudesse ser realizada se partiu de relatos de pessoas
radicadas no município de Sumé-PB, enfocando a saga de Dona Carmelita Alves
Evangelista (Carmelita Quixabeira) e o seu conhecimento vasto sobre uma população de
imbuzeiros localizada em parte de uma propriedade rural. Comentava-se inclusive que a
mesma devido a este conhecimento chegava a conhecer os frutos dos mesmos quando
colhidos ou vendidos por terceiros na feira livre. Além disso, cada imbuzeiro era
conhecido por um nome de uma pessoa ou de um acontecimento.
Conhecer a epopéia de Dona Carmelita é conhecer parte da vivência de
milhares de extrativistas do Semiárido Brasileiro, e, portanto, as raízes da agroecologia
20
REVISÃO DE LITERATURA
Para o IBGE (2002), dos climas zonais do Brasil com ocorrência de semiaridez
destacam-se como quente o Tropical Zona Equatorial semiárido 06 meses secos;
Tropical Zona Equatorial semiárido 07 a 08 meses secos; Tropical Zona Equatorial
22
índice de aridez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico que relaciona a precipitação e
a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990 e, risco de seca maior que
60,0%, tomando-se por base o período de 1970 a 1990. Com essa atualização, a área do
Semiárido Brasileiro- SAB passou a 980.133,08 km², sendo composto por 1.135
municípios dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Gerais, totalizando uma população de
22.598.318 de habitantes em 2010, representando 11,85% da população brasileira ou
42,57% da população nordestina.
Araripe; Ribeira do Médio São Francisco; Ribeira do Sub-Médio São Francisco; Ribeira
do Baixo São Francisco; Sertão de Canudos e Sertão de Contas) (ver figura 4).
O Semiárido Nordestino
O Semiárido Paraibano
O Bioma Caatinga
Os Cariris Paraibanos
O Município de Sumé
A Agroecologia
transição para uma agricultura sustentável nas suas diversas manifestações e/ou
denominações.
Moreira & Carmo (2007) observaram que o apanhado histórico da Agroecologia
identifica duas correntes de pensamento agroecológico exercendo forte influência sobre
cientistas e agricultores ao redor do mundo, a norte-americana e a européia. Mas
curiosamente essas duas correntes descendem, com algumas exceções, dos trabalhos
realizados por sociólogos, antropólogos, ecólogos e agrônomos que atuaram, em algum
momento, no México. A diferença básica entre as duas é que a corrente Norte-
Americana centra mais fortemente seus estudos nos problemas ecológicos da produção,
possuindo ainda uma grande sensibilidade sociológica e antropológica, e a européia
busca um franco diálogo entre ciências naturais e sociais na resolução dos problemas do
desenvolvimento rural. E ambas as correntes agroecológicas veem os agricultores
familiares como os principais protagonistas do desenvolvimento rural sustentável.
Ainda Moreira & Carmo (2007) a Agroecologia é uma ciência em contínua
construção, exigindo dos cientistas vinculados ao seu desenvolvimento uma postura
aberta epistemologicamente, pouco dogmática e que utiliza um autêntico pluralismo
metodológico para produção e circulação do conhecimento agrário.
As reflexões sobre as bases metodológicas mostram os caminhos percorridos
pelo pensamento sistêmico nas ciências agrárias e define três perspectivas
agroecológicas de pesquisa: a distributiva, a estrutural e a dialética. Dentro da
perspectiva dialética se encontra o método central da Agroecologia, capaz de unir
pesquisa, ensino e extensão: a Investigação Ação Participativa. A perspectiva dialética
permite à Agroecologia transformar o objeto de pesquisa em sujeito da mesma,
reconhecendo o saber popular como válido e base para a construção de um
conhecimento novo e transformador. Na Investigação Ação Participativa, tudo com tudo
dialoga, na qual a neutralidade científica inexiste e o pesquisador assume a postura de
um facilitador do processo de transformação profunda da realidade (MOREIRA &
CARMO, 2007).
Para Paulus et al (2000) a Agroecologia não é apenas a aplicação de um
conjunto de técnicas menos agressivas ao meio ambiente, nem apenas a produção de
alimentos mais limpos ou livres de agrotóxicos. A Agroecologia também não é vista
como sinônimo de agricultura ecológica, agricultura orgânica, agricultura biológica ou
de qualquer outro estilo de produção que se oponha ao modelo técnico convencional,
mas sim, como um campo de conhecimentos de caráter multidisciplinar que oferece
33
O Extrativismo
Extrativismo Vegetal ainda possue destaque, sendo que a madeira é o produto mais
explorado em relação aos outros subprodutos, como o fruto, a fibra, o óleo e o látex.
No entanto, segundo Mota et al (2007) há três décadas o extrativismo1 parecia
fadado a desaparecer diante da concorrência dos produtos sintéticos (HOMMA, 1993);
das redes arcaicas de comercialização (EMPERAIRE & LESCURE, 2000); da imagem
negativa da atividade associada à pilhagem e destruição dos agroecossistemas; da baixa
rentabilidade econômica (LESCURE, 2000) e da tendência de generalização da
tecnificação dos processos de trabalho no espaço rural com profundas consequências
nas relações sociais para atender mercados exigentes e globais.
Os anos passaram e a atividade extrativista se extinguiu em algumas áreas,
conforme o previsto, agoniza em outras, mas também persiste (Castanha-do-Brasil;
Mangaba, Bacuri, por exemplo) como uma das possibilidades de reprodução social de
populações rurais que desenvolvem sistemas produtivos (ALMEIDA, 1994), nos quais a
caça, agricultura e pesca são componentes essenciais segundo arranjos variados e com
técnicas de baixo impacto ambiental (MOTA et al, 2007).
O extrativismo, em especial, o vegetal, reveste-se de fundamental importância
para a economia do Nordeste brasileiro, representando fonte de renda e absorção de
mão-de-obra no campo. Várias foram as espécies vegetais que tiveram seus produtos ou
subprodutos extraídos, podendo-se citar a Carnaúba Copernicia cerifera; o Babaçu
Orbignya speciosa; o Agave Agave sisalana; o angico Anadaranthera sp para a
produção de tanino; a maniçoba Manihot glaziovii para a produção da borracha; a
mamona ou carrapateira (Ricinus communis) entre outras (CARVALHO & GOMES,
2006).
No município de Sumé além do extrativismo do Angico existe
representatividade para o do imbuzeiro.
O Imbuzeiro
1
Entendido aqui como a exploração dos produtos nativos em ecossistemas diversos e voltados para diferentes mercados no conjunto
de atividades desenvolvidas pelas denominadas populações tradicionais.
37
“túberas aqüíferas” ou “cunangas”, que estocam água durante o período seco. Assim,
uma árvore adulta pode acumular até dois mil litros de água (SIBINELII, 2007).
As folhas são pinadas, glabras quando adultas, com folíolos ovalados ou
elipsóides, obtusos ou levemente cordados na base, agudos ou obtusos no ápice, com
cerca de 4 cm de comprimento e 2 cm de largura (BRAGA, 1960). As inflorescências
são do tipo panícula, geralmente com nove fascículos opostos e encerrando, em média,
onze flores. Numa inflorescência, 50% das flores são hermafroditas e 50% são flores
masculinas, com estigma e estilete rudimentares. Existem evidências de polinização
cruzada efetuada por insetos, bem como parcelamento da abertura das flores numa
mesma inflorescência (PIRES & OLIVEIRA, 1986).
Também conhecida popularmente como Imbuzeiro, umbuzeiro, ombuzeiro,
embuzeiro e ambuzeiro é árvore símbolo da Região Semiárida Brasileira. Registrada
pela primeira vez na literatura a partir do Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares
de Sousa, datado de 1587, foi classificada pelo botânico paraibano Manuel de Arruda
Câmara, como sendo representativa da família Anacardiaceae. O termo imbu vem da
Língua Tupy y-mbu o que significa “árvore que dá de beber” pelo fato da espécie
apresentar modificações no sistema radicular denominadas xilopódios e que os
indígenas utilizavam para mitigar a sede em longas travessias ou nos períodos de
estiagem proporcionando uma “água” rica em minerais e vários nutrientes.
Regionalmente os xilopódios são denominados de “batatas”, “cuncas”, “fôfas” e
“cafofas”.
O umbuzeiro tem as mesmas exigências ecológicas do sisal, do caroá, da
palma, do aveloz. Cresce, em estado nativo, nas caatingas elevadas, de ar seco, noites
frescas e dias ensolarados, em associação com a vegetação natural composta de
facheiro, mulungu, macambira, canudo, malva e muitas cactáceas. A sua presença é
notada, também, na região do Agreste Paraibano e, menos freqüentemente, no Sertão
Paraibano. Nos Cariris Velhos2, Paraíba, é onde existe o maior número destas árvores;
nas caatingas da Bahia e de Pernambuco, no Agreste do Piauí, essa frutífera encontrou
larga área com boas condições para o seu crescimento. A maior ocorrência da Spondias
tuberosa é nos municípios com pluviosidade entre 400,0 mm e 800,0 mm; chuvas
começando em janeiro e terminando em maio; temperatura do ar variando entre 12ºC e
38ºC; grau higrométrico do ar entre 30,0% e 90,0% e insolação de 2.000 a 3.000 horas
de luz solar por ano (DUQUE, 2004).
2
Atualmente parte das Microrregiões dos Cariris Ocidental e Oriental
38
O Extrativismo do imbu
Ainda segundo Barreto & Castro (2011), a comercialização dos frutos colhidos
é feita nas feiras livres dos municípios. Em outros casos, os frutos coletados são
colocados em sacos de 60,0 kg destinados às fábricas de polpa ou vendidos em sacos
plásticos ou redes em barracas montadas nos acostamentos das rodovias.
Esta Anacardiácea, pela sua adaptação ao Semiárido e aproveitamento secular,
tem desempenhado importante papel agrossocioeconômico e o extrativismo de seu fruto
é bastante significativo na composição da renda familiar para algumas comunidades da
região. Contudo, o extrativismo de frutos tem apresentado declínio constante, ao longo
dos últimos 20 anos (SANTOS et al, 2008).
Segundo dados da Pesquisa de Extração Vegetal e Silvicultura – PEVS do
IBGE (2011) a produção brasileira de frutos de umbu foi de 9.428 t em 2009,
aumentando para 9.804 t em 2010 e diminuindo novamente para 9.324 t em 2011.
Ainda segundo a PEVS, em 2011 a Paraíba era o 5º maior produtor de frutos de umbu
do país, com uma produção de 118,0 t, atrás da Bahia (8.165,0 t), Pernambuco (448,0 t),
Minas Gerais (222,0 t) e Rio Grande do Norte (188,0 t).
Ainda de acordo com dados da PEVS/IBGE (2011), na Paraíba os municípios
que se destacam com maior extrativismo de frutos do umbuzeiro são São José do
Sabugi (24,0 t); Juazeirinho (19,0 t), Junco do Seridó (8,0 t), Soledade e Taperoá
(ambas com 7,0 t). Apenas 31 municípios paraibanos apresentam extração do fruto de
umbu para fins comerciais, quando o Estado tem 170 municípios na zona semiárida com
provável ocorrência do umbuzeiro, além de áreas do entorno que possivelmente devem
apresentar registros desta planta.
De acordo com a cultura popular, o umbuzeiro é uma planta que está integrada
aos hábitos alimentares da população do Semiárido brasileiro. Atualmente, a sua
exploração é feita de forma extrativista em grande parte do Nordeste, onde a Bahia
responde por 85,0% da produção nacional. Estima-se que o negócio agrícola do umbu,
através da coleta, beneficiamento e processamento gire em torno de 6 milhões de
dólares/ano (SANTOS, 1998, apud ARAÚJO, 2004).
A produção ainda é extrativista sendo a comercialização feita nas feiras livres
nas áreas onde ocorrem de forma espontânea, tendo potencial para ser cultivada em
escala comercial, pois apresenta características como tolerância à seca, considerável teor
de vitamina “C”, aliados ainda a utilidades como suco, licor, sorvete, picolé e mousse
que tornam uma espécie potencialmente promissora (ARAÚJO et al, 2004).
40
O Imbuzeiro na literatura
O texto que segue foi escrito em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza
intitulado ―Tratado Descriptivo do Brasil em 1587‖ e tornado público pelo historiador
Francisco Adolfho de Varnhagem em 1851.
3
Conservou-se a grafia original
42
(IRPAA), esclareceu que, por muito tempo, a escola tradicional não priorizou nos
currículos e diretrizes da educação as diversidades regionais e implantou modelos
unificados para todo o país. “A proposta da educação contextualizada é construir um
olhar a partir da nossa própria realidade local, sem menosprezar as experiências globais
de educação”, explicou.
Sobre o envolvimento do umbuzeiro na proposta, foi levado em conta que “é
uma planta nativa da Caatinga, é o principal símbolo da resistência ao clima semiárido e
tem sido uma fonte de renda para as comunidades rurais, devido à quantidade de
produtos derivados do umbu”. Apresentado no Semiárido Show 2011, o “Umbuzeiro do
Conhecimento”, foi um ambiente destinado à aprendizagem de forma lúdica,
compartilhando experiências como narração de histórias e vivência de educadores e
articuladores sociais. “Serão apresentados livros paradidáticos, mecanismos de
produção, brinquedos, uma variedade de produtos relacionados não só com a educação
contextualizada, mas também com a economia solidária. Será um espaço de formação”,
conclui a pedagoga..
Outra experiência exitosa visando o desenvolvimento da cadeia produtiva do
umbuzeiro é o “Projeto Gente de Valor”, implantado na cidade de Imbuíra, Bahia e que
passou a desenvolver um plano de ações integradas voltadas para o desenvolvimento
sustentável da cadeia produtiva do umbu contemplando todas as dimensões
metodológicas do Projeto. Ênfase especial foi dada ao estímulo à organização e
formação de grupos de interesse do Umbu, como estratégia fundamental para efetivar o
processo de ação grupal e colaborativa, promovendo as seguintes ações: estudo de
viabilidade da cadeia produtiva do umbu (parceria com o IRPAA); capacitação sobre o
manejo e enxertia do umbuzeiro com enfoque produtivo e agroecológico; implantação
de viveiro de mudas; aquisição do kit para processamento de frutas; capacitação sobre
processamento do umbu (parceria com a COOPROAF e ISFA); capacitação sobre o
enfoque de gênero e geração; intercâmbio envolvendo integrantes do G.I. e as indústrias
de polpas Eva e Doce Mel; contratação do técnico especialista junto a COOPERCUC;
elaboração de projetos executivos para a implantação das 03 unidades de
beneficiamento do umbu e outras frutas nos subterritórios de Nova Esperança e Quatro
Forças Unidas, além da COOPROAF; celebração de Convênios entre a CAR, as
Associações representativas dos subterritórios e a COOPROAF, visando o
desenvolvimento da cadeia produtiva do umbu, envolvendo recursos da ordem de dois
milhões de reais.
46
tá protegendo o umbuzeiro, está protegendo a vida dos animais e das pessoas do local”.
O valor ecológico foi contemplado com 35,2% das respostas, isso refletiu a preocupação
em preservar esta espécie nativa ecossistema, afirmado por outro morador da Fazenda
Santa Helena, com a resposta: “Porque serve de sombra e de alimento para os
animais”. Na categoria risco de extinção 17,6% retratam a preocupação dos moradores
com a extinção do umbuzeiro, quando é afirmado por um morador da Vila do Pará, que:
“Preservando o umbuzeiro teremos alimento para as criações no verão evitando morte
de bodes e a extinção de outros animais”. Na categoria de valor estético, 11,7% dos
entrevistados afirmaram admirarem o verde dessa planta no período de seca; esse
mesmo valor foi relacionado à categoria religiosidade, conforme a fala de um morador
da Vila do Pará a seguir: “Porque no verão ela permanece verde e deixa o local mais
bonito o por ser uma obra de Deus”.
Ao serem indagados sobre a utilização do umbuzeiro por animais silvestres,
54,0% relataram que são utilizadas para alimentação, como sombra e para a construção
de ninhos pelos pássaros. Além, de ter sido relatado por 41,2% dos entrevistados a
utilização das flores pelas abelhas, o que corroborou com Nadia et al (2007), ao relatar
que oito espécies de vespas, seis de abelhas e quatro de moscas visitam as flores de
Spondias tuberosa, sendo as espécies Scaptotrigona postica flavisetis Moure, Trigona
fuscipennis Friese e Polybia ignobilis Haliday, as principais polinizadoras. Quando se
perguntou aos moradores se o umbuzeiro causa algum problema para as outras espécies
do seu entorno, 76,5% afirmaram que não, e que o umbuzeiro é uma espécie nativa e
que não causa danos à natureza. Como conclusão, os pesquisadores afirmaram que:
sobre o conhecimento etnobotânico dos moradores da Vila do Pará e do Assentamento
Fazenda Santa Helena “...são importantes e possibilitam e poderá ser utilizado na
realização de trabalhos sobre preservação da espécie, bem como em campanhas sobre a
utilização e sobre o cuidado com a exploração da batata” (LIMA et al, 2013).
1- ESTEIRA DE UMBU:
Após extrair a calda dos umbus, pegava-se uma tábua de 70
cmx40cm e nela despejava-se cuidadosamente 2 litros de calda.
Antes, porém, fazia-se uma espécie de barreira protetora, com
caroços de umbu, nas extremidades da madeira para que o líquido
não derramasse. A quantidade despejada em 1 dia era sempre 2
litros, e isso era feito em média em 4 dias, sendo que o critério para
acrescentar uma nova camada era que a anterior já estivesse seca
(sólida).
Tempo: por volta de 9 horas era despejada a calda na tábua
(uma camada) ficando a mesma exposta ao sol durante o restante do
dia até garantir sua secagem.
OBS: Esta era uma alternativa para aproveitar ao máximo
o ―período de fartura do umbu‖ e continuar tomando umbuzada no
período de seca. Até mesmo as cascas dos frutos passavam pelo
processo de secagem ao sol, pois também podiam ser aproveitadas em
épocas de mais escassas, na produção de umbuzada.
2- UMBUZADA:
Para 3 litros de leite de vaca ou cabra, despejava-se 2 litros
de calda. Em contato com a mesma o leite imediatamente dava sinais
de coalho (ficava um pouco cortado).
Mexia-se a mistura e estava pronta a ―bebida láctea de
umbu‖
No caso da esteira de umbu (barra de 8 litros), dividia-se a
mesma em 4 pedaços iguais, depois pegava-se apenas 1 (2litros) e
cortava em pedaços ainda menores. Estes eram despejados em 3 litros
de leite. Em contato com o mesmo as barras iam gradativamente
desmanchando.
54
3- INSTRUMENTOS DE TRABALHO:
Alguidar: Vasilhame de metal ou madeira de porte médio
para uso doméstico. Na região tem a mesma função de um balde
grande e era utilizado para armazenar os umbus.
Caroços de umbu: Núcleo duro da fruta. Era usado em volta
da tábua onde colocavam a calda de umbu para que a mesma não
derramasse.
Cesto: Na região se utiliza para denominar uma cesta sem
alça e de maior porte.
Cuia: Vaso feito da cabaça (Lagenaria vulgaris) e esvaziado
do miolo.
Gamela: Vasilhame de porte médio geralmente feito de
madeira. Tinha a mesma função de uma bacia e era utilizado para
lavar os umbus.
Faca de mesa: Pequena e utilizada para furar e descascar
os umbus.
Rodilha: Pano enrolado como rosca, e sobre o qual se
assenta a carga na cabeça, principalmente em mulheres.
Tábua: Geralmente media 70cmx40cm e era em cima dela
onde faziam as esteiras de umbu.
4- GLOSSÁRIO:
Calda de umbu: sumo (líquido) extraído ao espremê-lo.
Esteira de umbu: barras sólidas de calda de umbu.
Umbu inchado: fase intermediária entre o fruto verde e
maduro.
Rumo: em direção de.
5- QUESTIONÁRIO
1-Quem participava?
Dona Joana Dias da Silva e seus filhos maiores de 5 ano.
2-Como era feita a divisão das tarefas?
Dona Joana Dias da Silva. Balançava os galhos; Coletava,
transportava, lavava, furava e espremia os umbus.; fazia a umbuzada.
55
Lobisomem
Este conto aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um
homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não
morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo
nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos
aqueles que encontram pela frente. Somente um tiro de bala de prata
em seu coração seria capaz de matá-lo. Mas a história se transformou
em algumas regiões ganhando características locais e um novo
enredo.
Quem Conta: Nilton Santos
Localidade: São Raimundo Nonato – PI
Narrativa: Em São Raimundo Nonato, na década de 1950, existia um
morador do bairro Primavera chamado Zé da Virgem, que segundo
as pessoas mais velhas da cidade, durante a época do umbu o dito
homem virava lobisomem. Segundo o narrador, quando criança, os
pais do Zé da Virgem tomavam conta dos pés de umbuzeiro e não
permitiam que ninguém pegasse os umbus. Logo ele começou a se
56
"O sertão é como umbu, doce quando tem que ser doce e azedo
quando tem que ser azedo"
Gilberto Gil
A COOPERCUC
A Genealogia
Para Lima (2006) apud Ney (s.d.) a investigação sobre genealogia trata-se de ―...
motivação: apenas o desejo de se conhecer as raízes. Deixando claro que não há
brasões nem sonhos de glória. Quase sempre vamos ao encontro de humildes
agricultores, que da terra, retiram alimentos e sustento para os seus.”
A genealogia é uma ciência auxiliar da história que estuda a origem, evolução e
disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. A definição mais
abrangente é "estudo do parentesco". Como ciência auxiliar, desenvolve-se no âmbito
da "História de Família", onde é a peça fundamental subsidiada por outras ciências,
como a sociologia, a economia, a história da arte ou o direito. É também conhecida
como "ciência da História da Família" pois tem como objetivo desvendar as origens das
pessoas e famílias por intermédio do levantamento sistemático de seus antepassados ou
descendentes, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos inter-familiares.
Segundo Françoise Zonabend (1991) através da genealogia o indivíduo não se
procura enquanto tal, mas enquanto produto de uma descendência, que resulta num
movimento de retorno às fontes, às origens, em busca de uma identidade regional ou
social esquecida. A genealogia é também uma sucessão de nomes próprios. Os
antropónimos que classificam cada indivíduo numa linha de descendência, inscrevem-
no num tempo, e num espaço conhecidos e impondo-lhes uma identidade que ele não
escolheu.
Para Silva Lemos (s.d.) apud Silveira (1944), a genealogia: fortalece os
vínculos de família, concorrendo bastante para impedir a dissolução e desagregação que
ora se processam de modo tão intenso, tão deprimente e tão perigosamente. revelando,
60
METODOLOGIA
nesta construção o(a)s autores(a)s de propostas simples como o fabrico de silos de zinco
para armazenamento de grãos; o uso das garrafas PET para armazenamento de grãos; o
fabricante das máquinas manuais de desfibramento de sisal/agave; os inventores dos
gancho de arrancar macambira e assar mandacaru, entre outras perdas.
Para o resgate genealógico utilizou-se o processo simplificado do Casal Tronco
seguido de Filho (F), Netos (N), Bisnetos (Bn) e Trinetos (Tn) quando existentes
baseado em Medeiros (1990) e Almeida (1978) como pode ser visto no exemplo:
João casado com (c.c.) Maria tendo por descendentes:
F1 – Antonio c.c. Severina tendo por descendentes:
N1- Raquel c.c. Afonso com o descendente:
Bn1 – Marcos c.c. Isabel tendo como descendente:
Tn1 – Apolônio
F2 – Fátima c.c. Inácio tendo por descendente:
N2- Luzia c.c. Alfredo com o descendente:
Bn2 Joaquim c.c. Alice com o descendente:
Tn2 – Eliza
- Número de Parcelas.
- Área de cada parcela individual.
- Número de Imbuzeiros por Parcela.
- Número de Imbuzeiros na Reserva Legal.
- Nome dos Imbuzeiros.
- Precocidade dos Imbuzeiros.
- Acidez ou Doçura dos Frutos (sabor).
- Tipo de casca dos frutos.
- Tamanho dos Frutos
-Tamanho de Sementes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do Território investigado
É o que demonstra a topografia da região que limita com o então Sertão do Pajeú
do vizinho estado de Pernambuco. Subindo o rio Pajeú vindo do São Francisco pelo
estado de Pernambuco a probabilidade maior era de sair nas nascentes do rio Sucuru e
dele sair no rio Paraíba seguindo o seu curso e os seus afluentes (ver figura 11).
em mangas, malhadas e cercados geravam bom suporte forrageiro pela natureza do solo
e pela condição climática de melhor precipitação em face da transição entre o Agreste
Pernambucano e o Pajeú Pernambucano.
Os segundos por encontrarem nas várzeas e baixios e mesmo nas terras mais
altas de tabuleiros e pés-de-serra solos mais profundos e ricos e também condições de
precipitação mais adequadas. Grandes propriedades foram formadas a principio
advindas das sesmarias e das subdivisões destas. Não se pode negar também o
surgimento de inúmeras comunidades onde existiam brechas de terras ou o famoso
“travessão”.
A Fazenda Riachão hoje submersa pelo Açude Público do DNOCS –
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas foi citada por Irineu Joffily na sua
obra Notas sobre a Parahyba de 1892 como de grande produção algodoeira com
quilômetros de roçados. Já a Fazenda Feijão, hoje Projeto de Assentamento Rural
Federal Mandacaru integra a história da região através da saga e das inovações do
Coronel Sizenando Raphael.
O cruzamento da atual rodovia federal BR 412 com os leitos naturais do Rio
Sucuru e do Riacho da Pedra Comprida assim como a convergência da atual rodovia
estadual PB 214, vinda do município do Congo, e da PB 210 vinda do município de São
José do Cordeiros, e ainda da PB 250 vinda do município de Prata, além das terras
férteis fez do pequeno Distrito de São Thomé do Sucurú, posteriormente cidade de
Sumé, um local de passagem, referencia, comércio e “chegança”.
É notável a participação de famílias de diferentes origens na região advindas do
Brejo Paraibano, do Agreste e do Pajeú Pernambucanos, do estado do Ceará e do
próprio Cariri Paraibano. Como em toda sociedade urbana ou rural estas famílias
distinguiam-se entre proprietários, vaqueiros, meieiros, foreiros, arrendatários,
moradores ou prestadores de serviço e pela pluratividade tais como carpinas,
marceneiros, carreiros, pedreiros, mestres-escola, cozinheiras, lavadeiras, ferreiros,
fazedores de cerca, domadores, rezadores, entre outros.
Dentre as famílias estabelecidas no município de Sumé e principalmente na
zona urbana pode ser citada a família “Dos Quixabeiras”.
69
Zé Marcolino
4
Proprietário da Fazenda Mandacarú, morando apenas ele e a esposa não tinham filhos, segundo informação pessoal do senhor
Vandinho de Frutuoso, ele criava nove “negrinhos” como costumava dizer. Entre esses estão Júlio, Noberto e Cícera que constam
nos apanhados genealógicos.
5
Em 08/02/1951 pela Lei Estadual nº 513 o então Distrito de Sumé é emancipado do município de Monteiro, sendo sua instalação
como município em 01/04/1951.
70
6
O Termo c.c.? significa que não foi possível obter o nome do(a) conjugue.
72
Da Genealogia do Extrativismo
a continuarem com o processo de coleta e este processo ser absorvido por parte da
família? Estão envolvidos na construção agroecológica? Desenvolveram um sistema
local/familiar de conhecimento que pode ser replicado? O Agroecológico pode estar
presente no urbano?
É importante que se analise o papel de Dona Carmelita neste processo.
Durante todo este período afirmou que nunca viu nenhum imbuzeiro nascer, e
nem morrer, e que já conheceu todos os imbuzeiros produzindo, e continuando
produzindo, na área de coleta. Afirmou que nunca plantou um imbuzeiro, mas que
“certa vez nasceu um em sua casa e ela mudou e deu para um amigo”.
Quando indagada sobre qual imbuzeiro melhor em safra, tamanho de frutos,
sabor e de frutos mais diferenciados afirmou que:
7
Distrito do município de Serra Branca e distante cerca de 10,0 km da cidade de Sumé.
87
que é errado, porque a ‗batata‘ é quem conserva ele vivo, ela tem água e se tirar muitas
ela morre”. O que não deixa de evidenciar uma preocupação nos moldes
conservacionistas por parte dela.
Araújo (2013) em um estudo sobre os
extrativismo/transformação/comercialização de batatas de imbuzeiro realizado no Cariri
Paraibano nos municípios de Sumé e Monteiro verificou que seria necessário a
introdução da discussão sobre racionalidade da produção, novas formas de obtenção de
matéria-prima e diversificação dos doces pode resultar numa melhor relação entre
produtor e planta traduzidos em ganhos ecológicos e econômicos e que nas condições
atuais a extração parece não ser irracional, por não se ter havido registro de morte ou
esgotamento de plantas. Um fator positivo é que nos municípios pesquisados existia
uma abundância de matrizes o que facilitaria uma intensidade menor de coleta por
planta.
Recomendou ainda pesquisas mais intervencionistas no que se refere à
identificação e treinamento dos extrativistas; identificação e mapeamento de matrizes e
controle nos registros de coleta; produção de xilopódios em escala e que quanto às
qualidades agroindustriais/comerciais fatores como conhecimento dos custos de
produção; melhor apresentação e exposição comercial do produto; a melhoria da
sanidade dos produtos; redução de açucares; dentre outros são de extrema necessidade
para a garantia de suas qualidades alimentícias enfatizando que por ser um produto
intrínseco da região Semiárida brasileira e ainda manter uma relação de apreciação a
cadeia de produção do “Doce de batata de Imbu” poderia ser trabalhada comercialmente
para a obtenção do selo de “Identificação Geográfica” o que permitiria alcançar outros
mercados consumidores e proporcionar uma melhor remuneração para envolvidos com
a atividade comercial (ARAÚJO, 2013).
Cavalcanti et al (2002) apud Lima et al (2013) em um levantamento sobre os
efeitos da retirada da batata do umbuzeiro, verificaram que houve uma redução de
40,24% na produção de frutos no período estudado.
Sobre o destino final dos frutos colhidos Dona Carmelita afirmou que os “usa
para consumo, chupa os maduros, faz imbuzada com os ‗de vez‘ e dá aos vizinhos”. A
sua afinidade com os imbuzeiros e os frutos de cada um era notável por parte dela e
motivo de curiosidade por parte dos familiares e amigos podendo reconhecer os
mesmos quando coletados e vendidos por outras pessoas. Entretanto, afirmou que
atualmente ―às vezes conhece!‖ E que ―quando mais jovem conhecia mais‖.
90
Enquanto o saber popular serve de base para pesquisa e inclusive podem ser
utilizadas explícitas referências aos conhecimentos tradicionais, eles devem passar por
um crivo metodológico que exponha o conhecimento tradicional à prova de suas
capacidades, sempre considerando o conhecimento como horizontal, ou seja, ninguém é
melhor ou mais sabido do que ninguém; e sempre considerando que as práticas são
locais e só devem ser transpostas a outros contextos e outros meios depois de estudos de
viabilidade, para que não ocorra a homogeneização das práticas e dos conhecimentos
agrícolas. Um necessita do outro e se não houver o conhecimento tradicional, a pesquisa
agroecológica fica seriamente comprometida, manca, encontrando mais dificuldades no
caminhar da superação do paradigma dominante (ROSA & FREIRE, s/d)
Dona Carmelita desde os quinze anos de idade passou a ter uma vida urbana,
mas ao que parece nunca deixou de ter uma identidade rural. Se não desempenhou o
ofício de agricultura optou pelo de coletora sem, entretanto fazer desta atividade uma
opção de renda. O seu motivo maior pareceu ser sempre o “gosto” pelo imbu. Existem
pessoas assim que vivendo na urbe esperam por meses por determinadas safras para o
seu deleite e o da sua família e vizinhança. A imbuzada citada no seu depoimento é
mais que um alimento representa o coroamento de toda uma espera de meses. O fruto
tem que ser colhido no tempo certo e processado no ponto certo para o sucesso da
comida que é consumida com certa reverência.
Os conhecimentos de Dona Carmelita não são de uma agricultora ou
camponesa radicada no campo, mas transcendem esta avaliação, pois são
conhecimentos agora transmitidos oralmente e verbalmente a parentes e contraparentes
passíveis de perpetuação desde que as plantas permaneçam, ou que o proprietário
permita a colheita.
Esta permanência das plantas a princípio se pode dar pelo evitamento do corte
ou de ações danosas as mesmas, tanto pelo que as possui como pelos que realizam a
coleta. Por outro lado, pode entrar em cena a permanência agronômica das mesmas
pelos processos de propagação sexuada e assexuada. O primeiro processo não garante as
características mais apreciadas como sabor, tamanho, relação casca/polpa/caroço, porte
de plantas etc., o que é salvaguardado pelo segundo.
92
Figura 15 - Percurso feito por Dona Carmelita para coleta dos Imbus
Fonte: adaptado do Google Earth
Existindo ainda plantas com duas ramificações com áreas mais expressivas que outras
com três ou quatro ramificações.
Os diâmetros de troncos variaram de 0,27 m a 0,83 m com maior
representatividade para a faixa de 0,41 m a 0,49 m (sete plantas ou 50,0%), seguida da
faixa de 0,51 m a 0,57 m (quatro plantas ou 28,57%). O valor médio de diâmetro foi de
0,47 m (ver quadro 5).
8
Neste caso o critério de “acidez” foi obtido por informações orais.
103
9
Segundo a Lei Federal 12.651 de 25 de maio de 2012 no seu Artigo 3º, Inciso III a definição de Reserva Legal é de “área
localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos
ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.” No
seu Artigo 21 informa que “é livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes,
devendo-se observar:
I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas,
cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes” (BRASIL, 2012).
108
Comercialização;
Associativismo
Palestrantes:
Eng.º Agrônomo Lindiberg Farias Duarte
Téc. em Agropecuária Augusto Jorge Neto
Acadêmico de Licenciatura em Ciências Agrárias Franco Vanderley
- 10:00 h. Apresentações Culturais e Culminância de projetos executados pelos alunos
10
Termo regional que se refere a trabalho braçal no campo envolvendo principalmente a agricultura.
112
A Fazenda Feijão foi fundada em 1880, ficando com herdeiros do casal até
1956, quando foi comprada pelo senador pernambucano Paulo Guerra. Em 1979, foi
adquirida pelo Senhor José Lucas, ficando com sua posse até 1998, quando foi ocupada
pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Em 2000, saiu o Decreto de
Desapropriação e posse definitiva aos acampados.
O Coronel da Guarda Nacional Sizenando Raphael de Deus (v. figura 18),
nasceu na Fazenda Mata Verde em Monteiro/PB, em 18/05/1863 e faleceu na Fazenda
Feijão em 02/05/1943. Em 1880, aos 17 anos, iniciou a construção da Fazenda Feijão.
Construiu 11 açudes, dividiu a propriedade em 15 mangas11; currais; tanque
carrapaticida; condução de leite encanado do curral para casa; água encanada de um dos
açudes para a casa sede; engenho de rapadura; casa de farinha; beneficiadora de
algodão; capela. açougue; barracão/mercearia entre outras ações.
11
Modalidade de Sistema Agroflorestal Silvopastoril empírico
113
Existem relatos que o mesmo teria sido vaqueiro e que com a administração
correta da sorte12 conseguiu formar um bom rebanho de cabras logo transformado em
terras. A primeira a ser adquirida teria sido a que viria a ser denominada de Feijão. A
princípio teria morado debaixo de um imbuzeiro rodeado de couros de bois e cerca de
varas numa imitação de casa (ver figura 19) e daí iniciado todo o processo de aquisição
de mais terras e mais animais. O Coronel Sizenando foi ainda Prefeito do município de
Monteiro e o primeiro a instalar “motor de luz” na propriedade. Antes mesmo da sede
municipal ter esse benefício.
12
Prática entre proprietário e vaqueiro onde de cada quatro ou cinco animais nascidos uma era do vaqueiro independente do sexo do
animal.
114
Figura 20 – Imbuzeiro do Coronel Sizenando. Planta com mais de 134 anos de idade
Fonte: Pesquisa de campo. Arquivo do autor
O Imbuzeiro do Soldado
CONCLUSÕES
predominância foi de plantas com safrejamento no período normal com frutos de casca
lisa e de tamanho de grande a médio e sabor doce.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, V. B.; SOUZA, S. C. A.; MORAIS, F.; BARBOSA, C. M.; SALES, H. R.;
VELOSO, M. D. M; NUNES, Y. F. R. Biometria de frutos e sementes de umbuzeiro
Spondias tuberosa A. Câmara, norte de Minas Gerais. Anais do VIII Congresso de
Ecologia do Brasil, 23 a 28 de setembro de 2007, Caxambú, MG.
LIMA, F. A. de A. Ipueira dos Targinos. Ed. Artes Digitais, Fortaleza, CE, 2006
124
NEY, G. Genealogia Cervala – Para ler com seus avós. (s. d.)
SIBINELLI, V. Um oásis chamado umbu. Revista Terra da Gente. 35(3): 62-67. 2007
http://www.semiaridoshow2001.blogsport.com.br/20011/08/umbuzeiro-do-
conhecimento-expoe.html acessado em 25.07.2014
http://www.cultura.pe.gov.br/wp-content/uploads/2014/06/Patrimonio.pdf acessado em
08.07.2014
ANEXOS
129
ASSOCIAÇÃO:________________________________________________________
QUESTIONÁRIO:
2) QUANTOS: _____________________________________________