Você está na página 1de 49

ARTHUR COLLI BRESSAN

AGRICULTURA NATURAL EM PAÍSES TROPICAIS

Trabalho de Conclusão apresentado ao


Campus Rio Pomba, do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais, como parte das exigências
do curso de Bacharelado em Agroecologia
para a obtenção do título de Bacharel em
Agroecologia.

Rio Pomba
MINAS GERAIS - BRASIL
2023

1
2
ARTHUR COLLI BRESSAN

AGRICULTURA NATURAL EM PAÍSES TROPICAIS

Trabalho de Conclusão apresentado ao


Campus Rio Pomba, do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais, como parte das exigências
do curso de Bacharelado em Agroecologia
para a obtenção do título de Bacharel em
Agroecologia.

Orientador: Prof. Eli Lino de Jesus

Rio Pomba
MINAS GERAIS - BRASIL
2023

3
ARTHUR COLLI BRESSAN

AGRICULTURA NATURAL EM PAÍSES TROPICAIS

Trabalho de Conclusão apresentado ao


Campus Rio Pomba, do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais, como parte das exigências
do curso de Bacharelado em Agroecologia
para a obtenção do título de Bacharel em
Agroecologia.

APROVADO: 06 de Julho 2023.

_______________________________ _______________________________
Prof. André Campos Narvaes Prof. Francisco César Gonçalves

_______________________________
Prof. Eli Lino de Jesus

4
AGRADECIMENTOS

À família, pela fé depositada, e pelos votos de sucesso


Aos companheiros de curso, por estarem junto no trabalho e dividir as alegrias e sonhos
Aos amigos, por me motivarem
À minha companheira, por tornar o mundo melhor
A todos mestres importantes e insubstituíveis na caminhada desse curso, que nos tornam mais
fortes para o que virá

5
“A vontade herdada, a ondulação da era e os
sonhos das pessoas. Enquanto as pessoas
continuarem buscando o sentido da liberdade,
estas coisas jamais deixarão de existir!”
Eiichiro Oda

6
AGRICULTURA NATURAL EM PAÍSES TROPICAIS

RESUMO

Arthur Colli Bressan

Julho, 2023

Orientador: Professor Eli Lino de Jesus

Esse trabalho foi feito a partir do estudo da Agricultura Natural e da busca por experiências
com ela nos países tropicais, visando conhecer a aplicabilidade dos seus princípios e qual
importância ela tem em promover a produção aliada à conservação dos recursos naturais, além do seu
potencial em ser usada por comunidades rurais no fortalecimento da segurança alimentar. O método
usado foi a revisão bibliográfica. Por meio de uma pesquisa social e um estudo de caso,
evidenciou-se a relação intrínseca que muitos agricultores familiares têm com as práticas
conservacionistas e a responsabilidade associada a eles em produzir preservando os recursos naturais.
Experimentos na área de fertilidade de solos puderam detectar: aspectos físicos e nutricionais em
plantas cultivadas naturalmente superiores aos de outros métodos; indicadores biológicos de melhor
ciclagem e balanço de nitrogênio no solo e indicadores ecofisiológicos de maiores eficiência
fotossintética e resistência à patógenos nos cultivos naturais. Por fim, boas taxas germinativas são
alcançadas no plantio com bolas de sementes envoltas em argila (Nendo-dango), além de aumento
expressivo da cobertura vegetal inicial e sua sobrevivência em biomas secos, como pôde ser
observado.

Palavras-chave: agricultura familiar; fertilidade do solo; microrganismos eficientes;


produção sustentável; recuperação ambiental

7
NATURAL FARMING IN TROPICAL COUNTRIES

ABSTRACT

Arthur Colli Bressan

July, 2023

Adviser: Professor Eli Lino de Jesus

This arcticle was based on the study of Natural Agriculture and in the search for it’s
experiences in tropical countries, aiming to understand the applicability of its principles and how
much importance the method has in enabling production combined with the conservation of natural
resources, in addition to understanding its potential in being used by rural communities to strengthen
food security. The method used was the bibliographic review. Through social research and a case
study, the intrinsic relationship that many family farmers have with conservationist practices and the
responsibility associated with them in producing while preserving natural resources was evidenced.
Experiments in the area of soil fertility were able to detect: physical and nutritional aspects in
naturally cultivated plants superior to those of other methods; biological indicators of better cycling
and nitrogen balance in the soil and ecophysiological indicators of greater photosynthetic efficiency
and resistance to pathogens in natural crops. Finally, good germination rates are achieved when
planting seed balls wrapped in clay (Nendo-dango), in addition to a significant increase in the initial
vegetation cover and its survival in dry biomes, as could be seen in the material.

Keywords: efficient microorganisms; environmental recovery; family farming; soil fertility;


sustainable production

8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AN Agricultura Natural
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ATTRA Appropriate Technology Transfer for Rural Areas
DNA Ácido desoxirribonucleico
EM Microrganismos Eficientes
IMM Igreja Messiânica Mundial
ONU Organização das Nações Unidas
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
SAF Sistema Agroflorestal

9
SUMÁRIO

RESUMO...............................................................................................................................................7
ABSTRACT...........................................................................................................................................8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.......................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO GERAL............................................................................................................... 10
2. OBJETIVO GERAL...................................................................................................................... 12
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................................................. 13
3. METODOLOGIA...........................................................................................................................13
4. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO............................................................................................. 14
4.1. ANTECEDENTE HISTÓRICO.............................................................................................. 14
4.1.1. Uma breve contextualização da agricultura contemporânea.......................................... 14
4.1.2. Fundação da Agricultura Natural....................................................................................16
4.1.3. Desenvolvimento da Agricultura Natural como metodologia da agricultura.................17
4.1.4. Problemática da apropriação de técnicas inadequadas................................................... 19
4.1.5. Implicações na economia ambiental e de recursos naturais........................................... 21
4.2. AGRICULTURA NATURAL E SEGURANÇA ALIMENTAR............................................ 23
4.2.1. A missão da agricultura familiar frente ao cenário político-ambiental.......................... 23
4.2.2. Agricultura familiar como peça fundamental no desenvolvimento sustentável.............24
4.2.3. Agricultura natural nas Filipinas.................................................................................... 25
4.3. AGRICULTURA NATURAL E FERTILIDADE DOS SOLOS............................................ 29
4.3.1. Compreensão maior sobre a adubação e a atividade microbiológica............................. 29
4.3.2. Culturas sob cultivo natural e outros métodos, comparadas usando análises
experimentais............................................................................................................................31
FLUXOGRAMA: Indicadores biológicos e ecofisiológicos e seus efeitos no ambiente e nas plantas. 37
4.4. AGRICULTURA NATURAL NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS........... 38
4.4.1. Recuperação de Bosques Secos Equatoriais degradados com bolas de argila............... 38
4.4.2. Outras pesquisas avaliando a germinação de bolas de sementes....................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................44

1. INTRODUÇÃO GERAL

Uma contradição é constante no agronegócio brasileiro que de um lado busca aumentar a sua
produtividade e diminuir os seus custos, mas por outro, gera prejuízos incalculáveis degradando os
recursos naturais. Pressões são aplicadas pelas partes da população afetadas por esses impactos e
também por instâncias do governo, e progressos têm sido feitos no sentido de responsabilizar os
grandes produtores por suas externalidades ambientais, porém, muitos ainda estão protegidos por seu

10
poderio ou influência socioeconômica, e não estão dispostos a lidar com a poluição ambiental e
prejuízos progressivos à saúde gerados por sua forma de produzir.
Além da incoerência gerada pela contradição citada, no seio da sociedade existe um choque
entre o mundo dos latifundiários, que produzem de forma automatizada e quimificada em larga
escala e o mundo da agricultura familiar, das comunidades rurais e economias localmente baseadas.
Este segundo é protagonista de uma situação oposta ao da outra camada social, sendo que os
interesses destes muitas vezes desmobilizam e inviabilizam as atividades da agricultura familiar e seu
fortalecimento.
Os agricultores familiares, ou “camponeses” como são chamados em alguns contextos, são os
que têm potencial para concretizar os objetivos relacionados ao desenvolvimento sustentável. Esse
termo se tornou uma constante nos mais importantes órgãos e conselhos ambientais, e é enfatizado
em acordos e reuniões entre países sobre a questão ambiental. Como esta responsabilidade ecológica
é coletiva, transferir parte do seu cumprimento para os agricultores familiares, ou seja, os agentes
mais numerosos do setor rural e responsáveis pela maior porcentagem do abastecimento alimentar no
Brasil, é reduzir as pressões poluidora, e a que existe para que se compensem esses danos, tornando
mais palpável o cumprimento das diretrizes ambientais. Para a mobilização e desenvolvimento dessa
classe, é essencial o firmamento de parcerias entre o governo e os produtores ligados à mesma (A
agricultura familiar abastece cerca de 70% dos alimentos consumidos no país, segundo censo de
2017 (IBGE, 2017 - ibge.gov.br).
Logo, ao contrário das práticas como plantio em monocultura e o revolvimento intensivo do
solo, que depauperam a terra e têm sempre que voltar a remediar suas próprias consequências com
corretivos, a Agricultura Natural surge como uma alternativa para construir saúde no solo, nas
plantas e nos seres humanos e animais, além de focar em métodos de manejo acessíveis que provém
maior integração, tanto de diferentes atores na cena produtiva rural, quanto das diferentes fontes de
recursos e resíduos envolvidas nesse meio.
O meio do agronegócio, usando práticas como as citadas acima, colabora em criar uma
realidade na qual a demanda por alimentos é crescente, e o discurso da agricultura dominante é o de
“produzir mais”, com maior eficiência energética e melhor aproveitamento dos recursos. Ao mesmo
tempo, paradoxalmente, tais recursos como os nutrientes estão em evasão contínua de seu meio
natural, devido a processos degradativos e a destruição da comunidade biológica necessária para
retê-los no solo (implicando na redução também dos mecanismos de predação entre insetos). Isso
gera o aumento na procura de fertilizantes prontamente disponíveis e pesticidas, e aumentam o
número de operações necessárias para que o manejo das plantas e das enfermidades seja feito,

11
elevando os custos ao invés de diminuir, e criando a insegurança sobre se as atividades poderão se
manter nas gerações futuras.
A partir da leitura de Fukuoka (1995) fica evidente que a ciência não raro encontra novas
maneiras de justificar as formas convencionais de exploração da natureza, e é preciso reorientar
algumas das direções e aspectos que colocam tal campo do conhecimento em um rumo à falência,
como buscar o domínio sobre certo fator produtivo, desconsiderando o todo de variáveis que
indiretamente afetam ele na natureza, ou as reações em cadeia que ele provoca. Causas e
consequências que formam uma totalidade, a qual não pode ser compreendida pela simples
investigação do ser humano.
Pesquisas que investigam como aumentar a densidade vegetal de ecossistemas marginais e
suas comunidades afetadas como em Chunga (2017) são essenciais para a recuperação de ambientes
degradados, e de seus usos e funções essenciais às comunidades humanas que deles dependem,
carregando uma abordem regenerativa que deve ser inserida nos estudos ligados ao setor produtivo
rural.
Portanto, se faz necessária e proveitosa a disseminação de técnicas conservacionistas como as
propostas pela Agricultura Natural (AN), que possam elevar o valor biológico dos alimentos; elevar a
consciência humana sobre a ligação entre a saúde destes e a do ambiente - consequentemente a saúde
de si próprio - tudo isso associado à recuperação dos ambientes, da igualdade social e da soberania
alimentar.

2. OBJETIVO GERAL

Avaliar os princípios da Agricultura Natural, sua aplicação às regiões de clima tropical, e os


benefícios possíveis do seu uso sobre a população e o meio ambiente.

12
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Por meio da pesquisa bibliográfica, enfatizar a importância e o potencial prático dos seguintes
tópicos, em relação à Agricultura Natural:
2.1.1. Investigar qual a contribuição que ela tem a dar no fortalecimento da segurança
alimentar e dos agricultores familiares como rede;
2.1.2. Demonstrar como o método gera fertilidade por meio da influência na microbiologia
dos solos;
2.1.3. Exemplificar como o método tem potencial na recuperação de áreas degradadas ou em
processo de desertificação.

3. METODOLOGIA

Este trabalho é uma Revisão Bibliográfica, ou seja, foi feita uma pesquisa na literatura
disponível, em busca de uma contextualização para o problema apresentado, e alternativas presentes
para trabalhar a sua solução, montando assim o referencial teórico da pesquisa.
Foram usadas dissertações, livros e periódicos científicos pertencentes à área investigada. As
buscas foram feitas nos portais científicos Periódicos Capes (periodicoscapes.gov.br), Google
Acadêmico (scholar.google.com.br), ResearchGate (researchgate.net) e Springer (link.springer.com)
Buscou-se usar pesquisas com data de publicação de 2013 em diante, em cada tópico ou
grupo de palavras-chave pesquisadas. Quando não encontrados trabalhos nesse período para algum
dos tópicos, optou-se por incluir trabalhos de anos anteriores, assim como obras importantes da
literatura teórica de base sobre o tema foram usadas independente do ano de publicação.

13
4. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

4.1. ANTECEDENTE HISTÓRICO

4.1.1. Uma breve contextualização da agricultura contemporânea

Durante as mudanças civilizatórias da idade contemporânea, o setor produtivo rural se


mostrou em radicais mudanças. Para tornar isso possível, foi importante um processo, que teve suas
bases firmadas no período pré-segunda revolução industrial, nos meados do séc. XIX: a fundação da
química biológica e da química orgânica, e suas aplicações na então emergente ciência do solo, como
descrito por Lopes e Guilherme (1998).
A ciência do solo ganhou forma nos pensamentos de autores do campo da química, como
Justus Von Liebig1, e sua visão sobre o futuro da agricultura. A lógica do meio agropecuário, em um
nível mundial, começou a se alterar de fato a partir da década de 1950 com os movimentos para o
aumento de produção (FUKUOKA, 1995). O meio agropecuário e seus integrantes, variando de
produtores familiares, donos de terra a empresários da indústria alimentar, foram então vítimas da
criação de um alerta: a ameaça da fome; e, forçosamente, tiveram de se integrar às “estratégias” que
se diziam necessárias para combatê-la, aderindo a um proceder totalmente diferente do que era
historicamente usual nesta atividade, que então visava adquirir uma escala maior de produção e
voltá-la para uma nova dinâmica de mercado - a do abastecimento das cidades - introduzindo em
suas práticas culturais insumos externos e tecnologias que antes lhes eram estranhos. Junto com essas
mudanças radicais, vinha o sonho compartilhado por esta classe, e que também era uma ideia vendida
para a mesma, a de que sua profissão poderia se tornar um método de ascender financeiramente e
socialmente.
Juntamente com esse movimento, o setor agropecuário começou a se unir ao paradigma
científico vigente até então, do conhecimento positivista e redutivista. Porém, como dito por Fukuoka
(1995), não se pode, após dissecar a natureza em suas ínfimas partes, conhecê-la, perdendo de vista o

1
A Lei do Mínimo de Von Liebig (1841), propunha para a agricultura que, dentre todos elementos nutricionais que o solo fornece, o
valor da produtividade é determinado sobretudo por aquele presente em menor quantidade; essa limitação pode ser comparada ao nível de água
em um barril - com cada ripa de madeira representando um nutriente essencial à planta - que só pode ser enchido até a metade, de outra forma,
a água vazaria pelo buraco na face onde temos o nutriente em deficiência, ou seja, a ripa menor que as outras (Ver figura 1, abaixo). Essa teoria
representa bem a compreensão imediatista e redutivista que se prestou à natureza a partir daí; ou seja, por exemplo: se uma planta não está
alcançando seu potencial porque não consegue absorver o potássio necessário, basta obtermos o potássio e inseri-lo no solo. Tal forma de
pensar, então, deu fundamento aos métodos de cultivo e fertilização que então foram desenvolvidos (Ver figura 1)

14
panorama de sua totalidade infinitamente interligada. A ciência, após dissecar a natureza, e estudá-la
de forma especializada em seus muitos âmbitos isolados, pode ser comparada a alguém que quebra
um espelho em muitos pedaços, e depois, comparando os pedaços e as formas, tenta encaixá-los de
volta, porém, o produto final nunca terá a perfeição do espelho original, ou seja, o homem nunca
pode ter o conhecimento da natureza e de seu funcionamento último.
Como foi descrito por Lopes Filho (2017), após o florescimento das ideias iluministas e
cientificistas no séc. XVIII, marcada por autores como Voltaire e Rousseau2 e, subsequentemente à
primeira revolução industrial, iniciou-se uma expansão agressiva da era material da sociedade
humana, pautada na fé cega na inteligência e no antropocentrismo (FUKUOKA, 1995).
No entanto, como se observa ao longo dos últimos séculos, a supervalorização ampla do
progresso em todas as esferas sociais, pautado na ciência e no antropocentrismo, tem servido para
legitimar todo tipo de atrocidade, e quaisquer ações ambiciosas em nome da “civilização” ou do
“progresso”, como desmatamento em massa de áreas importantes, remoção de povos nativos de seus
territórios, massacres, entre outros (LOPES FILHO, 2017). Com o movimento de expansão da
humanidade por esses meios, o mundo a partir daí é marcado pelo êxodo rural e pela transformação
da atividade agrícola, e esta então adquire a lógica de produção da atividade industrial. (FUKUOKA,
1995).
De frente desse cenário, pesquisadores agrícolas e estudiosos da herança cultural rural como
Mokiti Okada (1882 - 1955), Masanobu Fukuoka (1913 - 2008) e tantos outros, se dispuseram a
pensar formas de alterar profundamente a dinâmica que se desenvolvia da atividade humana no
campo, e fundamentar os passos para essa transformação nos escritos e experiências que deixaram.
Do legado destes dois pensadores surgiu a Agricultura Natural. Atuando em sentidos parecidos,
foram importantes também os pioneiros das correntes de agricultura alternativa, os quais vale
mencionar como Bill Mollison (1928-2016) na Permacultura, Albert Howard (1873 - 1947) na
Agricultura Orgânica, Francis Chaboussou (1908-atualmente) na Agricultura Biológica, Rudolf
Steiner (1861 - 1925) na Agricultura Biodinâmica e Anna Maria Primavesi (1920 - 2020), pioneira
na introdução da Agricultura Orgânica no meio acadêmico das ciências agrárias e desenvolvedora de
conceitos importantes sobre o manejo ecológico do solo.

2
O movimento do iluminismo europeu é visto por muitos como uma revolução de pensamento feita para contestar o poder de
influência de caráter herdado (aristocracia, nobreza) e religioso (clero) - que eram decisivos sobre o rumo que tomava a sociedade - e
estabelecer a razão organizadora, faculdade do homem esclarecido que se eleva do estado de ignorância (daqueles que não buscam conhecer e
se aproximar da verdade) para o de sabedoria, como força motriz do progresso, que deveria ser o novo alvo da sociedade, representando a
expansão das capacidades humanas e a facilitação de sua vida material (FILHO, 2017).

15
4.1.2. Fundação da Agricultura Natural

A Agricultura Natural assim denominada, surgiu no Japão em 1935, quando Mokiti Okada
fundou a Igreja Messiânica Mundial (IMM). Mokiti foi um líder espiritualista que desde novo, era
estudioso de diversos assuntos como pintura japonesa, filosofia, arte, medicina, política, entre outros,
que lia vários jornais por dia, ouvia rádio constantemente e era conhecido por estar sempre
orientando pessoas com ensinamentos. Em 1931 ele estava orando com sua esposa no monte
Nologuiri, no Japão, quando teve um despertar, e atinou para sua missão no mundo. Através do
movimento social e religioso que fundaria, ele deveria iniciar uma transição para a humanidade, a
fim de tirá-la do estado de perturbação em que se encontrava, devido às facilidades da modernidade,
e as mazelas trazidas junto com ela, como ciclos de esgotamento da natureza por meio do
consumismo desenfreado, e as crescentes desigualdades e perda de identidade do ser humano
(GONÇALVES, 2016; OKADA, 1995).
Para Okada, o desligamento entre o ser humano e os passos que envolvem o crescimento dos
alimentos no campo, e este passar a consumi-los de forma passiva, vindos da produção em larga
escala, foi um indicador da perda do propósito espiritual superior que deveria ser inerente à vida
humana. E isso está diretamente ligado ao abuso de químicos na produção, provocando no solo e no
ambiente a perda de suas propriedades vitais. Sabe-se que a primeira expansão do uso de
agroquímicos em larga escala se deu na década de 1910, com um impulso dado para suprir a escassez
de alimentos gerada pela primeira guerra mundial (GONÇALVES, 2016).
Em princípio, a filosofia da Igreja Messiânica Mundial parte da premissa que todos os seres
viventes tem como princípio vital o Espírito, e isso inclui animais e plantas. Para uma sociedade
realizada, é necessário um ser humano saudável, e a saúde do ser humano e do ambiente onde se
cultivam as plantas só é possível elevando o valor espiritual destes dois. Para isto, Okada definiu três
pilares essenciais, que devem consistir a prática habitual de seus adeptos (o conceito moderno da
Agricultura Natural surge aqui, ela sendo um dos três pilares da prática maior proposta pela IMM):
- Johrei: Purificação e harmonização do espírito feita por meio da imposição de mãos de um
praticante.
- Agricultura Natural: Promoção da vida saudável do ser humano, por meio do plantio natural e
enriquecimento das propriedades orgânicas do solo, sendo que este transmite sua vida para os
alimentos.
- Belo: Apreciar regularmente a beleza em uma arte superior, nos torna mais motivados e bem
instruídos, ao receber a expressão da inspiração do artista (GONÇALVES, 2016).

16
Portanto, a função que esta forma de agricultura é capaz de cumprir é a de criar uma produção
e abastecimento de alimentos que eliminem a pobreza, o conflito e as doenças, para tanto, ela deve
espelhar as leis fundamentais da sobrevivência, a partir de uma compreensão correta sobre a natureza
(OKADA, 1995)
Para Okada (1995), para qualquer ser ter vida e se desenvolver, ele depende de três atributos
elementares primordiais necessários à vida, o calor, ou fogo (energia fornecida aos seres pelo Sol, e
regida por ele), a água (regida pela Lua, e sua força magnética) e o solo, ou a terra (regido pelo
planeta Terra). Cada um destes três astros ou elementos estão associados a um elemento químico e
seu papel importante na constituição dos seres e comunidades vivas, o Sol ao oxigênio, essencial para
geração de calor e energia por meio da respiração, e também à combustão; a Lua ao hidrogênio,
elemento importante na formação das estruturas moleculares orgânicas devido às ligações químicas
que promove e constituinte da água; por fim a Terra ao nitrogênio, elemento exigido em maior
abundância na alimentação de plantas e microrganismos, e formador das proteínas e do material
genético.

4.1.3. Desenvolvimento da Agricultura Natural como metodologia da agricultura.

Tendo em mente a forma que surgiu a Agricultura Natural, ela só veio mesmo a ser
desenvolvida como uma prática e também uma corrente agrícola em detalhes por um microbiologista
japonês, Masanobu Fukuoka, na década de 1970, em seus livros A Revolução de Uma Palha (1975) e
Agricultura Natural: Teoria e Prática da Filosofia Verde (1978). Masanobu trabalhava para o Estado,
como pesquisador em laboratórios no desenvolvimento de produtos químicos agrícolas e ao se
decepcionar com o rumo que esta indústria estava tomando, e ao ter uma ruptura ideológica, ele
decidiu experimentar na propriedade que herdara de seu pai, ao tentar produzir com métodos que
eram totalmente opostos aos da agricultura convencional. Assim, ele detalhou tudo que aprendeu, e
as práticas e métodos necessários para se produzir alimentos naturalmente, e alcançar o que ele
chamou de Agricultura Natural “pura” ou Mahayana, aplicando a ela seus próprios métodos e visão,
que em alguns pontos diferem da visão original de Okada3 (FUKUOKA, 1995; 2008)
Os quatro princípios que norteiam a atividade da AN, como descrita por Fukuoka são:

3
Como o alicerce teórico conhecido sobre Agricultura Natural foi desenvolvido por dois autores diferentes,
alguns pontos divergentes entre cada um dos dois podem ser mencionados. Existem agricultores que realizam a prática da
Agricultura Natural como um dos 3 pilares da Igreja Messiânica Mundial, assim como produtores que se orientam pelo
trabalho de Fukuoka, por exemplo. Neste último, especificamente, o uso de compostagem não é recomendado, seja pelo
caráter “antinatural” por ser um processo induzido e acelerado pelo humano, seja pelo manejo de resíduo (chorume) que
ela demanda, sendo indicada a matéria verde. Porém, existem praticantes da Agricultura Natural que usam a
compostagem, e sua aplicação não fere, necessariamente, os princípios daquela.

17
- Não lavrar: sua forma de proteger a estrutura, a vida, e a capacidade de reter água e
nutrientes do solo envolvia o não revolvimento, seja ao arar ou capinar. O solo assim obtém
melhor capacidade de penetração pelas raízes.
- Não adubar quimicamente ou com compostos preparados: Isto drena o solo em sua
capacidade de manter e reciclar os nutrientes essenciais. Deve-se deixar o solo seguir
naturalmente os ciclos ordenados que levam à sua fertilidade.
- Não capinar com herbicidas: Práticas superiores de controle das ervas foram propostas,
como, acolchoados com palha e cobertura do solo com plantas forrageiras. Não se deve
enxergar as plantas daninhas como algo a ser eliminado, mas sim, como plantas que têm seu
papel na construção da fertilidade, e devem apenas serem controladas.
- Não uso/dependência de pesticidas químicos: A forma mais sensata de controlar a
infestação de doenças é “cultivar plantas vigorosas em ambientes sadios”, e se aproximar do
equilíbrio natural, onde nenhum patógeno domina o ambiente a ponto de necessitar de
venenos (FUKUOKA, 2008).

Como desdobramentos de sua forma de pensar a agricultura, existem outras indicações, como,
evitar podas desnecessárias de frutíferas, que se tornam dependentes desse manejo, quando feito por
muito tempo. Em sua copa, caso a poda não volte a ser realizada, as ramas tendem a se emaranhar,
provocando o seu enfraquecimento na conversão da luz. É mais viável deixar a renovação dos ramos
acontecer naturalmente por meio de sua queda, e deixar a árvore orientar seu próprio crescimento.
(FUKUOKA, 2008) Para evitar pomares com plantas muito altas, pode-se optar por espaçamentos
maiores, e concentrar as podas na fase de formação das árvores.
Fukuoka (1995; 2008) definiu então sua prática como sendo a agricultura do “nada fazer”, e
ela assim ficou conhecida. Mas isto não deve ser confundido com uma postura inativa e passiva; o
termo tem inspiração no budismo, no conceito de Mu, que significa nada e ao mesmo tempo tudo, e
de que o ser humano é incapaz de compreender ou dominar o mundo natural, e tudo que faça nele,
mesmo ele não tendo consciência, tem origem no “nada” e deve em algum momento invariavelmente
retornar ao nada. Também tem inspiração na expressão taoísta Wei wu Wei, que significa “fazer, não
fazendo”, ou seja, todos devemos agir, sem no entanto, nos alterar ou romper com o propósito natural
de cada um.
O advento da Agricultura Natural envolveu o resgate de uma série de saberes e práticas
tradicionais que constituíam a agricultura japonesa no passado, incorporando-as na sua metodologia.
O Brasil é palco de uma conexão valiosa com a agropecuária japonesa. Segundo Ferrão
(1995) citado por Leite et al. (2007), o hábito de consumir alimentos vivos em natura, como

18
hortaliças, é algo recente na nossa história, visto que no início do séc. XVII, esses produtos passaram
à categoria de “mistura” no mercado brasileiro, sendo preteridos pelo negócio das carnes de gado,
peixe e caças, que então eram abundantes e acessíveis aos “cidadãos” de então, ou seja, as classes
mais favorecidas.
Com o fluxo de imigração japonesa para o Brasil, iniciada por volta de 1908, eles vieram
inicialmente para trabalhar no ciclo do café, porém com o tempo, direcionaram seus esforços para a
produção hortifrutigranjeira, usando os conhecimentos que lhe eram próprios, muitos ainda usados
tradicionalmente aqui (LEITE et al., 2007).
Considerando a Agricultura Natural como prática conservacionista de produção sustentável,
objetiva-se aqui investigar a universalidade de seus princípios, isto é, se podem ser aplicados a uma
diversidade de climas, biomas e solos, de forma a respeitar seus contextos ecológico, e não apenas
apropriando-se das técnicas desenvolvidas.

4.1.4. Problemática da apropriação de técnicas inadequadas

Entende-se como indiscriminado nas regiões tropicais o uso de práticas que foram
desenvolvidas em países temperados, envolvendo monoculturas extensas, e incorporação massiva de
nutrientes associada ao revolvimento do solo. As técnicas que se estabeleceram nestes países não
contemplam a realidade dos solos e ambientes tropicais, e não podem ser aproveitadas a longo prazo
por sua população.
Segundo Odum (1988), citado por Tavares (2006), nas regiões frias, os nutrientes e a matéria
orgânica tendem a permanecer no solo por longos períodos. Já nos trópicos, uma maior proporção
desses nutrientes está na biomassa e é reciclada dentro do ecossistema, graças a adaptações
biológicas e simbioses entre microrganismos e plantas.
As reservas de nutrientes formadas em solos tropicais tendem a ser reduzidas, e sua
comunidade de plantas nativas só consegue se desenvolver devido à expansão de suas raízes, que
somente é possível devido ao perfil destes solos, que possuem horizontes profundos, logo elas
conseguem buscar nutrientes em zonas mais distantes. Outro fator crucial para o estabelecimento
dessas plantas é a taxa elevada de incorporação e decomposição da matéria orgânica, ativada pelas
altas temperaturas, umidade e índices pluviométricos.
Sabe-se que sem a presença da matéria orgânica, se torna impossível que os nutrientes em
formas utilizáveis pelas plantas sejam fornecidos e mantidos por um longo tempo no solo (PASINI,
2017). Uma relevância especial é dada por Primavesi (1984) à camada estável à água dos solos, que

19
estão presentes em sua forma grumosa principalmente na profundidade de 0-20, sendo encontrada
nos solos de regiões de mata ou solos virgens. Os grumos são agregados de partículas de diferentes
tamanhos que se unem para formar agregados maiores, contendo minerais, matéria orgânica
decomposta, microrganismos e raízes de plantas.
Encontram-se boa taxa de infiltração de água, porosidade e aeração, que são fatores essenciais
ao desenvolvimento da vida no solo quando esta camada está presente. Uma boa estrutura também
pode existir em camadas mais inferiores, porém, com a entrada de água no perfil do solo esta
estrutura tende a se desfazer, pois a água rompe com o arranjo das partículas e reduz a porosidade. Já
na camada grumosa, os grumos conferem estabilidade à água, fazendo com que as características se
mantenham (PRIMAVESI, 1984).
No entanto, com a retirada da cobertura vegetal, e compactação das camadas do solo
promovidas pelas práticas de cultivo intensivo, essa estrutura biológica bem desenvolvida é
removida. Por causa disso, a lixiviação, somada com as condições agora adversas à microbiota,
tornam os nutrientes agora não mais disponíveis como antes. Pode-se afirmar então que técnicas e
aparatos são sim necessários para promover a produção, porém, técnicas adequadas que respeitem o
contexto dos ecossistemas tropicais.
No mundo é possível observar uma certa regularidade geográfica na distribuição dos países
desenvolvidos, em sua maioria situados em zonas temperadas e polares do hemisfério norte (exceto
Austrália e Nova Zelândia), e o chamado “terceiro mundo” que inclui os países subdesenvolvidos e
emergentes, está localizado em sua maioria em regiões tropicais, além das temperadas.
O presente estudo buscou trabalhos e experiências sobretudo em países dentro da zona
geográfica tropical, que possuem dinâmicas climáticas e geoecológicas diferentes das condições
temperadas, no Japão, onde a Agricultura Natural foi criada, portanto pretende verificar as
influências deste método na dinâmica citada, e sua aplicabilidade.
A Agricultura Natural tem a vantagem de que suas metodologias, por serem
conservacionistas, e promoverem uma aproximação da área explorada com o clímax ecológico, não
são aplicáveis a apenas um tipo de solo, pelo contrário, sendo orientado por estes princípios, é
possível aplicar o método para quaisquer cultivares, desde que sejam adaptadas ao seu meio, e
quaisquer características de clima, estacionalidade ou feições diferentes de solos. Isto é constatado
tendo em vista experiências relatadas aqui como: a de uma fazenda inteira movida pelos princípios da
Agricultura Natural e baseada em práticas autossustentáveis nas ilhas do oceano índico
(MIKKELSON, 2005); retornos significativos obtidos com a técnica de bolas de sementes em
regiões de clima seco tropical por Chunga (2017) e inclusive valores que avaliam positivamente a

20
Agricultura Natural, obtidos em experimentos nos solos e condições brasileiros, como visto nos
trabalhos de Leite et al. (2007), Silva (2017) e Tavares (2006).
A responsabilidade de se produzir com conhecimento do contexto ecológico e geográfico, e
suas consequentes fragilidades, susceptibilidades e potenciais deve ser entendida como tão
importante quanto a conservação dos recursos naturais extraídos pelo ser humano, cujas reservas são
afetadas não só pela extração mas pelas próprias externalidades advindas das atividades produtivas.

4.1.5. Implicações na economia ambiental e de recursos naturais

Recursos naturais são quaisquer componentes do ambiente usados para se obter energia, por
meio do consumo por organismos, para preencher suas necessidades (PORTUGAL, 1992 apud
DULLEY, 2004). O solo é um complexo fornecedor de recursos, que depende da coexistência dos
organismos que o habitam, de forma que estes se beneficiem mutuamente, permitindo a formação de
estoques de energia.
O conceito de entropia foi usado por Pasini (2017) e é um estado ao qual tendem os seres em
geral, sendo uma condição de desordem e indisponibilidade de energia devido à necessidade de
conversão dos recursos naturais para seu crescimento, desenvolvimento e reprodução, com a
liberação de energia não utilizável. Este conceito da física foi usado pela primeira vez por Rudolf
Clausius (SALINAS, 2015) e então foi usado por físicos e estudiosos em diferentes contextos, como
o apresentado acima, relacionado ao ordenamento da energia nos seres vivos (SCHRÖDINGER,
1944 apud PASINI, 2017).
Sistemas com maior diversidade e complexidade tendem ao acúmulo e à organização de
energia, propiciando o aumento da biodiversidade, enquanto naqueles com poucos organismos, estes
têm menor capacidade de vencer a tendência à entropia, levando à dissipação da energia em formas
químicas mais simples, que se perdem mais facilmente no ambiente. Solos com essa característica
foram descritos por Primavesi (2006) como solos decaídos, que não tem saúde para sustentar as
plantas, que se tornam doentes.
Por tal motivo, o solo deve ser tratado de uma forma que a gestão de seus recursos aconteça
visando à economia, e entendido de forma econômica.
A Agricultura Natural no Japão é um dos métodos tradicionais disponíveis para se produzir
sem o uso de insumos que degradem o meio ambiente, e estudiosos dessa corrente como Hosoya
(2017), chamam a atenção para a importância de se entender a dinâmica do nitrogênio, e como ela
afeta a produção e os ecossistemas. Na produção de cereais, como é muito comum no oriente com o
arroz (Oryza sativa), a deficiência de nitrogênio provoca clorose nos tecidos foliares, inibe a

21
fotossíntese, e causa um florescimento e perfilhamento deficientes, fase crucial para definir a
produtividade.
Por outro lado, o excesso de nitrogênio tende a causar supercrescimento vegetativo,
acamamento e deterioração do sabor, devido ao excesso de aminoácidos livres nas plantas, isso
demonstra importância de haver um estoque adequado de nitrogênio no solo, e deste poder ser
disponibilizado gradualmente para as plantas. O que acontece com a entrada de fertilizantes minerais
prontamente disponíveis no solo, é uma absorção rápida pelas plantas e uma posterior lixiviação de
formas iônicas como o nitrato (NO3-), levando a uma carga de nitrogênio aumentada no ambiente.
Como afirma Primavesi (2006), nenhum nutriente surge na natureza de forma isolada, mas
são formulados por processos biológicos em proporções estabelecidas com outros nutrientes, por
meio dos mecanismos de alimentação dos microrganismos e liberação daqueles em formas orgânicas.
Por isso, a entrada desbalanceada de um dos nutrientes no sistema prejudica o equilíbrio desse
processo de formação, provocando assim a carência de outro nutriente essencial demandado pela
planta, na formação de alguma substância. Com a formação e o aumento de produtos semi-acabados
na seiva das plantas, esses produtos vão servir para alimentar insetos, por exemplo, que tenham a
enzima capaz de degradá-los (PRIMAVESI, 2006).
O problema do nitrogênio tem sido observado com atenção por Hosoya (2017) e outros do
meio agrícola, e ambientalistas, devido a um tipo de poluição pouco investigado, pelo óxido nitroso
(N2O); esse gás é poderoso causador de efeito estufa, e tem poder de retenção de calor
aproximadamente 296 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2) e segundo este autor, sua
presença na atmosfera tem aumentado muito nos últimos 100 anos devido à expansão da agricultura
fertilizada.
O N2O é formado quando microrganismos nitrificadores e desnitrificadores se alimentam de
formas prontamente lábeis (instáveis - de rápida decomposição e baixa permanência no solo) de
carbono como a glicose, sendo que a produção do gás aumenta quanto maior for a disponibilidade
dessa fonte de energia, e também aumenta com a redução da disponibilidade de O2 no meio
(CARMO, 2005), que ocorre por exemplo com a compactação e redução da aeração nos solos.
Sabe-se que a adubação nitrogenada aumenta o teor de carbono lábil (C-lábil) no solo, e o
contrário pode acontecer com o uso de coberturas de matéria verde, pois a matéria orgânica gerada
por ela possui maior quantia de hemicelulose e uma relação maior entre lignina/N; ainda cabe
ressaltar que a conservação da estrutura do solo e maior oxigenação provenientes da cobertura
vegetal e do não-revolvimento facilitam a formação de substâncias húmicas, formas mais estáveis de
matéria orgânica.

22
A maior relação lignina/N juntamente com a presença de matéria orgânica rica em ácidos
húmicos aumenta a quantia de carbono refratário, ou orgânico4, forma mais resistente à
decomposição e de longa permanência no solo (RIBEIRO, 2016), por isso, o manejo do solo
utilizado na Agricultura Natural possui uma importante função de regular as frações estáveis de
matéria orgânica no solo, e minimizar a emissão de N2O. Já o manejo convencional, além dos
prejuízos ao solo citados, possui uma extração química questionável, que é feita industrialmente pelo
processo Haber-Bosch, em um estado crítico de 500º C e 1000 atm, gerando altos encargos
ambientais e custos humanos (HOSOYA, 2017).
Visto que os solos tropicais são os que mais contribuem com a emissão do óxido nitroso na
atmosfera, dentre todos os ecossistemas terrestres (DAVIDSON, 1991 apud CARMO, 2005; BAIRD,
2002 apud CARMO, 2005), o manejo dos solos nessas regiões deve ser feito com maior
responsabilidade de forma a controlar esta emissão. O aumento da concentração de N2O na atmosfera
mundial foi estimado por Ehhalt et al. (2001) como de 0,25% ao ano.
Diante do exposto, um papel importante na preservação dos recursos naturais e regiões de
serviços ecossistêmicos é desempenhado pelos pequenos produtores e redes de agricultores
familiares, como está exposto no capítulo a seguir.

4.2. AGRICULTURA NATURAL E SEGURANÇA ALIMENTAR

4.2.1. A missão da agricultura familiar frente ao cenário político-ambiental

Em relação às unidades familiares de produção agrícola, e as influências determinantes que


existem sobre elas, cabe para esse tópico a contribuição de Guillen (2020), quando, frente ao desafio
de estabelecer o Agronegócio Sustentável como atividade balizadora no alcance das metas
ambientais internacionais, ela elege a agricultura familiar como a candidata mais apta para tal.
Segundo ela, somente a agricultura familiar pode associar a produção de alimentos - beneficiando
suas regiões - com um tipo de agricultura que permite a reprodução futura, e conserva saberes
tradicionais, no que toca ao conhecimento dos serviços ecossistêmicos e sua importância. Além
disso, reduz a evasão de recursos e é mais atuante na inclusão das minorias do que outros ramos da
agricultura.

4
Que é o carbono ligado às estruturas das moléculas de lignina, celulose e de substâncias húmicas. Ao contrário
do carbono presente em açúcares e aminoácidos, ele não é facilmente decomposto por microrganismos (LOSS, 2012).

23
Como explica Fukuoka, em (1995) e (2008), o ser humano possui uma relação intrínseca com
a natureza e com as relações envolvidas no crescimento daquilo do que ele se alimenta. E ao estar
distante disso, apenas consumindo passivamente sem nem passar perto dessa realidade, isso gera um
vazio e uma ruptura no reconhecimento de si mesmo. Esse entendimento é reforçado pelo que
Guillen (2020) consegue descobrir por meio da fala de seus entrevistados: que o pequeno agricultor
que abastece localmente seus mercados tende a ter maior respeito pelos recursos naturais e sua
conservação, visto que para manter suas atividades ele depende intrinsecamente deles, ao contrário
de uma grande empresa ou de um latifundiário, que ao esgotar as capacidades de seu meio produtivo,
pode simplesmente deixá-lo para trás e procurar uma nova área, gerando um ciclo interminável de
degradação e prejuízos.

4.2.2. Agricultura familiar como peça fundamental no desenvolvimento sustentável

As realidades de diferentes famílias de pequenos agricultores, que convergem em evidenciar a


importância da colaboração como fator de desenvolvimento entre agricultura familiar e estado, foram
documentadas por Guillen (2020), por meio de uma pesquisa social descritiva e qualitativa, na qual
conversa inclusive com membros da Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região
(ANC), que têm um trabalho importante assistindo essas famílias, ajudando em sua organização
como setor e a implementar novas técnicas de produção. Estes dois sujeitos, Estado e agricultura
familiar, têm papel fundamental em modificar, local e regionalmente, a realidade do agronegócio
sustentável e da segurança alimentar, baseada na produção local de alimentos produzidos
agroecologicamente.
O agronegócio sustentável é uma meta essencial para atingir as diretrizes estabelecidas no
Acordo de Paris (ONU, 2015), e na Agenda 2030 (Plataforma de Conhecimentos sobre
Desenvolvimento Sustentável - PCDS, 2017). Essas diretrizes indicam a produção agropecuária
sustentável como o meio para reduzir as emissões locais de gases-estufa e manter características
próprias do solo e da paisagem que conservam os recursos naturais, ao mesmo tempo, conciliando
isso com a demanda de fornecer bens alimentares básicos para o consumo das populações locais.
Além disso, os acordos mencionados também emitiram o alerta para que se invista no
desenvolvimento de tecnologias que aumentem a eficiência dos recursos renováveis e das fontes de
energia limpa, e a transferência da produção de energia para atores locais da sociedade como a
agricultura familiar, e seu investimento conjunto com essas tecnologias, é uma forma de chegar mais
facilmente a essa meta (GUILLEN, 2020).

24
Além disso, a autora enfatizou que a produção agrícola local, quando consegue: "conservar
e controlar a diversidade biológica, os recursos hídricos e o solo - isso associado a uma correta
manutenção de resíduos e efluentes e o não-despejo de substâncias químicas tóxicas no meio" - ela se
torna capaz de preservar recursos e ecossistemas-chaves, para dando surgimento a sistemas de
produção que serão procurados no futuro, visto que sua produção consegue se manter ao longo do
tempo. E o que se pode entender ao estudar as bases da Agricultura Natural e os trabalhos aqui
citados, é que ela é e tem sido uma maneira plausível de atingir tais ideais para as atividades
econômicas rurais, sobretudo familiares.
A seguir é mostrada uma experiência de associação entre integrantes do meio rural com papel
bem estabelecido na produção agropecuária sustentável, e na melhoria de indicadores
socioambientais, uma propriedade nas Filipinas chamada Aloha House, cuja comunidade é formada
por estudiosos, produtores rurais, aprendizes, e famílias que nela obtiveram uma opção de estadia e
renda.

4.2.3. Agricultura natural nas Filipinas

Pode-se ver na experiência relatada por Mikkelson (2005), nas Filipinas, sua demonstração de
que, dentre os dez fundamentos que ele considera essenciais para a Agricultura Natural (rotação de
culturas; uso de leguminosas; biofertilização; compostagem; plantas companheiras; cobertura morta;
plantas de cobertura; cultivo mínimo; predadores naturais e integração com a pecuária)5, todos eles
possuem aplicabilidade em uma diversidade de realidades de solo, clima e geografia, visto que,
utilizando a Agricultura Natural, ele desenvolveu, de forma mais adequada ao seu ambiente local, sua
versão de várias técnicas (de cultivo, plantio e criação de animais), por meio de dedução, erros e
acertos ao introduzir, por exemplo, recursos locais de maior sustentabilidade, e combinações diversas
de plantas, entre frutos e legumes adaptados e plantas atrativas à fauna.
Neste trabalho, não houve caráter experimental ou empírico e se trata de um estudo de caso,
não obstante, apesar de não possuir dados científicos, ele têm indicadores que avaliam positivamente
as experiências relatadas: por exemplo, a contribuição que a propriedade presta à comunidade local
de Palawan, por meio do orfanato que possui, e o fato de que diversas crianças foram tiradas da
subnutrição, e então adotadas, agora saudáveis, ou então restabelecidas com suas mães.

5
Estes fundamentos são diferentes dos princípios da Agricultura Natural apresentados por Fukuoka (2008), e
refletem a compreensão pessoal atingida por Mikkelson (2005) ao trabalhar esse sistema em sua realidade, apesar de que,
em alguns pontos, os princípios originais de Fukuoka podem estar aplicados, ou estarem sendo cumpridos como
consequências da aplicação destes 10 fundamentos propostos.

25
Praticamente todos os alimentos dados aos bebês provém da sua fazenda (denominada “Aloha
House”), em uma dieta constituída de frutas, tubérculos e legumes orgânicos, como dito pelo autor
"nenhum produto Gerber foi utilizado” (MIKKELSON, 2005). Várias mães vivendo insegurança
financeira ou em gravidez de risco puderam se estabelecer no local, e depois trabalhar em troca de
melhores condições de vida junto de seus filhos, realizando também a venda de seus produtos em
feiras locais. Também cabe mencionar que o local recebe jovens por meio do programa Youth With a
Mission (YWAM)3 e estes recebem treinamentos, assim como agricultores, e novos agricultores,
também o recebem, através de internato.
O aprendizado por internato foi recomendado pelo autor como a melhor maneira pela qual o
aspirante a produtor rural consegue ter noção da realidade envolvida na produção e manejo da
lavoura e do tempo e gastos requeridos por ela, aprendendo por experiência o que dá certo e o que dá
errado, adequando assim seus objetivos, sonhos e intenções produtivas à essa realidade.
O autor usa um jogo de palavras, com o termo “husbandry” que em inglês é usado para
lavoura ou criação, e possui o mesmo radical da palavra marido (husband). Portanto, a partir do
momento que alguém escolhe se estabelecer em uma propriedade rural, e dela produzir o alimento,
firmar-se-á uma relação como a de um casamento até o dia da morte do agricultor, que então lá será
enterrado dando sua última contribuição para a fertilidade do solo; com isso ele quer dizer que uma
relação responsável é aquela que o produtor aprende a cuidar da terra, preservando-a para as futuras
gerações, gerando benefícios mútuos entre o proprietário e sua terra, num “relacionamento” que
ganha valor com o tempo (MIKKELSON, 2005).
Ao longo de seu relato, fica testemunhado que, quando o produtor se propõe a fazer a
transição para essas metodologias, e vive a experiência de produzir por meio de seu próprio esforço,
alimentos cultivados organicamente e com alto valor nutricional, ele só assim começa a perceber o
valor da alimentação saudável, consciente, e livre de produtos químicos para sua vida, e como sendo
um potencial para melhorar o bem-estar das populações locais, resgatar a segurança alimentar em
populações de risco e recuperar ecossistemas em processo de degradação.
Para obter tanto os resultados produtivos da metodologia, quanto os benefícios sociais
atingidos por ela, é de grande importância o aproveitamento dos resíduos da atividade agropecuária,
que diminui custos como aqueles gastos na adubação das culturas. Nutrição adicional é dada às
culturas destinando corretamente os resíduos, e realizando seu tratamento, por meio da compostagem
e do uso dos microrganismos eficientes, que têm diversas aplicações, pois, adicionados na dieta do
gado, produzem alimentos fermentados enriquecidos que aumentam a resistência e o vigor dos
animais. A aspersão destes microrganismos sobre a forração do curral, faz o controle de maus odores

26
e reduz a proliferação de insetos e patógenos, e, por fim, os microrganismos eficientes são usados
também na fabricação de biofertilizantes de baixo custo (MIKKELSON, 2005).
O gado realiza um papel importante, tanto estando presente em áreas onde é feita a integração
lavoura pecuária, quanto com sua capacidade de converter a produção excedente e os resíduos
culturais em produtos lácteos e cárneos de alta nutritividade e lucratividade, e livres de toxinas e
resíduos químicos (MIKKELSON, 2005).
Mikkelson6 obteve sua formação como autodidata, por meio de publicações nos portais
Amazon Books, ATTRA e Acres USA7, sobre produção orgânica e Agricultura Natural, conseguiu
provar a universalidade de tais conhecimentos, e suas aplicações, adaptando-os à sua particular
realidade climática e geográfica. Diversos exemplos de consórcios de culturas, fixação de nutrientes
com adubos verdes; diversos usos para os microrganismos eficientes e interações ecológicas
benéficas entre diferentes plantas e insetos; encontradas por ele, são relatados no livro em um estudo
de caso que também fala sobre os erros e acertos em sua propriedade e como ele pode obter o
sucesso.
Uma técnica essencial recomendada pela Agricultura Natural e exposta por Mikkelson (2005)
é o mulching, que consiste em aplicar uma camada (10 a 15 cm) de cobertura morta após a adubação,
no caso do autor, usando Bokashi. Vários benefícios interessantes estão contidos nessa prática, como:
permite que a água da chuva escorra lentamente pelas suas camadas, reduz a perda de água por
escoamento lateral no solo, conserva a umidade, impede que os respingos da gota de chuva com o
barro do solo caiam nas folhas, carregando bactérias patogênicas; além disso, suprime o crescimento
das ervas daninhas.
A aplicação de um adubo com nitrogênio antes do mulching é essencial, pois os
microrganismos que vão decompor a palhada necessitam desse nutriente, e essa decomposição deve
acontecer de forma equilibrada para a planta não ser sobrecarregada pela alta taxa de carbono
presente na palha. Esse é um dos cuidados para a prática ser eficaz, como também não cobrir a região
próxima em volta do colo da planta, porque os microrganismos envolvidos na decomposição da
matéria podem ser danosos para o tecido vivo da planta, e lesmas deterioradoras da palha podem ser
atraídas para as suas folhas.
Pode-se encontrar a melhor maneira de aplicar a Agricultura Natural em cada propriedade,
por meio de pesquisas de correlação como as apresentadas aqui neste artigo, de Tavares (2006), Leite

6
Keith Mikkelson é membro da Rede de Agricultura Natural Ásia-Pacífico (APNAN), das Filipinas, e sua fazenda é parceira do
Youth With a Mission (YWAM), movimento cristão para estudantes e voluntários focado em projetos sociais, incluindo agricultores. A APNAN
trabalha com os princípios da Agricultura Natural, da linha de Mokiti Okada, o criador da Agricultura Natural.
7
Entre os materiais citados por ele, como base de seu método, estão o Practical Guide To Organic Gardening, de P. D. Sangatanan,
e Advanced Home Gardening, de Miranda Smith.

27
et al. (2007), entre outros ou então, intuitivamente por meio dos conhecimentos tradicional e
dedutivo, como Mikkelson (2005) por exemplo, ao ajustar a periodicidade do adubo que ele optou
utilizar em suas culturas, o Bokashi, até obter os melhores resultados. Formulações, custos e formas
de aplicação estão descritos no artigo do autor e ele demonstrou que a feitura desses preparados, ou
diluídos, usa recursos facilmente disponíveis como melaço, arroz e subprodutos alimentares
processados, geram custo muitas vezes menor que outros tipos de adubação e tem benefícios iguais
ou superiores para as culturas, como no exemplo a seguir: a formulação de Bokashi usada para gerar
500 L de preparado para aspergir, usou uma saca de farinha de coco (R$ 21,72), três sacas de D3
(farelo de arroz - R$ 07,82), três sacas de RHC (farelo de casca de arroz - R$ 07,82), melaço e arroz
usado na captação dos EM, os dois últimos somando R$ 00,43, no total são R$ 39,10. Fertilizando
uma área que gastaria R$ 86,90 em sacas de fertilizantes8 (MIKKELSON, 2005).
Em síntese, a rotina de trabalho da Aloha House apresenta um dos aspectos essenciais da
Agricultura Natural, que é um ciclo de recuperação de recursos. O autor desenvolve a ideia de que os
subprodutos de tudo que é utilizado se tornam lixo, porque são vistos como descartáveis. O contrário
de descartável é útil. Existem muitas classes de resíduos gerados pela vida cotidiana de todas as
casas, e dessa forma, muitas delas devem deixar de serem chamadas de descartáveis, e passarem a ser
vistas como úteis.
O cerne da atividade de transformação destes resíduos está, segundo Mikkelson, na
vermicompostagem e no Bokashi. Ao desenvolver centros de fabricação de ambos os produtos, eles
passam a servir como receptores dos resíduos do dia a dia do orfanato, e a produzir o vermicomposto,
usado principalmente como substrato para mudas, e o Bokashi, usado nas aplicações de campo
(adubação de cobertura, ingrediente de alimentos fermentados para o gado, tratamento da cama de
currais e fabricação de adubos fermentados aeróbicos).
Em vista do estudo acima, é importante afirmar que a aplicação da Agricultura Natural pode
ser avaliada não apenas por meio de relatos exitosos como este, mas devem também ser utilizados
indicadores de bom desenvolvimento e saúde nas plantas e no solo, que podem ser aferidos em testes
experimentais aproveitando o ambiente e as culturas exploradas nos países tropicais, como explicita
o tópico seguinte.

8
Valores convertidos de pesos filipinos para reais usando o conversor da plataforma Google.

28
4.3. AGRICULTURA NATURAL E FERTILIDADE DOS SOLOS

O solo como habitat de comunidades vivas e o organismo humano são passíveis de


comparação, segundo Leite et al. (2007). O humano que trabalha regularmente e se exercita é o mais
saudável, em comparação com aquele que só consome e tem uma vida passiva. O mesmo acontece
com o solo, este é uma comunidade viva de microrganismos, insetos e invertebrados que funciona
com complexas reações químicas, quebrando moléculas orgânicas, gerando energia, e retendo
nutrientes, por meio da mineralização e forças de adsorção. Quando o solo não recebe a oportunidade
de promover seus ciclos de vida e nutrientes, e apenas os recebe passivamente, entra em um processo
de degradação e perde sua fertilidade natural.
A fim de evitar uma interpretação equivocada do conceito de "nada fazer" envolvido na
Agricultura Natural, cabe esclarecê-lo melhor aqui. Ele não deve ser aplicado de forma generalizada
a tudo e a todos elementos do ambiente, esta não é a compreensão correta do fundamento, se assim
fosse, poderia-se dizer que o solo ideal seria aquele com a menor interferência possível do trabalho e
da atividade de microorganismos e insetos, este seria um solo sem vida, apenas recebendo recursos
(água, nutrientes aplicados pelo produtor) passivamente. Porém, o que se deve entender desse
conceito é que: o estado natural de um solo tropical que possui um histórico de sucessão vegetal, é
um estado de alta atividade, que é gerada seja pelo teor de matéria orgânica incorporada, seja pelas
relações ecológicas benéficas entre os seres vivos que nele habitam (PRIMAVESI, 1984). Portanto,
"nada fazer" significa negar qualquer interferência que altere negativamente o equilíbrio da vida no
solo, estado para o qual este tende naturalmente (FUKUOKA, 1995).

4.3.1. Compreensão maior sobre a adubação e a atividade microbiológica

Antes dos seres que formam as bases da cadeia alimentar, esses só vieram a existir porque
havia a microbiota do solo, que empenha papéis fundamentais na ciclagem de nutrientes e na
sustentação do ecossistema (CARDOSO, 1992). Logo, os microrganismos do solo possuem funções
específicas que regulam este equilíbrio, chamadas funções microbianas do solo, elas são:
pedogênese, transformação da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e até mesmo a
biorremediação (controle ecológico da multiplicação de patógenos no solo), entre outras funções
mais específicas (PIMENTEL et al., 1997).
É ressaltado por Leite et al. (2007) que na fabricação da maioria dos produtos usados pelo ser
humano, existem estruturas produzidas por microrganismos; também é conhecido que dentro de

29
todos organismos vivos existem comunidades de bactérias independentes, sendo que muitas dessas
estão vivendo em simbiose, existindo benefícios mútuos entre elas e seus hospedeiros, e outras são
parasitas, ou predadoras.
De maneira simples, os microrganismos em geral podem ser agrupados em dois tipos quanto
ao seu impacto, benéfico ou não. Higa (1991) estabeleceu essa divisão deles em microrganismos com
capacidade regenerativa ou aqueles com capacidade degenerativa. Os primeiros produzem
substâncias úteis aos seres vivos, como vitaminas e hormônios e os últimos, substâncias irritativas,
corrosivas ou oxidantes, como amônia e sulfeto de hidrogênio, que degradam a estrutura física do
solo e geram condições favoráveis à infestação de pragas (LEITE et al., 2007).
A denominação microrganismos eficientes ou EM então foi criada por Higa (1991) para se
referir aos micróbios de capacidade regenerativa, e ele os separou em cinco grupos, usados para
fabricar os seguintes produtos:
- EM1 e EM2: o EM1 é um probiótico contendo leveduras e as bactérias ácido-láticas num geral
(Lactobacillus), organismos anaeróbicos ou anaeróbicos facultativos que realizam
fermentação antioxidante, aceleram a decomposição da matéria orgânica e estabilizam a flora
microbiana (HIGA, 1991). Este grupo de microrganismos também está contido no EM2, um
preparado mais amplo que traz uma mistura de cerca de dez gêneros e oitenta espécies de
microrganismos, entre bactérias fotossintéticas, actinomicetos, leveduras, fungos e outros, que
foram cultivados em meio líquido com pH neutro, e armazenados sob o pH 8,5. A contagem
de microrganismos nessa solução está na ordem de 109 microrganismos / g de solução
(PACHECO, 2002, apud LEITE et al., 2007)
- EM3: O EM (Effective Microorganisms) é uma combinação de microorganismos altamente
eficazes, dos quais 95% são bactérias fotossintéticas. Esses microrganismos são cultivados
em um meio líquido com um pH de 8,5 e a solução final contém cerca de 109 microrganismos
/ g de solução. (RODRIGUES, 2003, apud LEITE et al., 2007)
- EM4: Essa é uma composição de microorganismos altamente eficazes, com mais de 90%
deles sendo lactobacilos e microorganismos que produzem ácido lático. Essa mistura tem a
capacidade de fermentar materiais orgânicos e torná-los solúveis em água, mesmo em
condições anaeróbicas. Os microorganismos são cultivados em um meio líquido com um pH
de 4,5. A quantidade é de aproximadamente 109 microrganismos / g de solução (BOINK &
SPEIJERS, 2001, apud LEITE et al., 2007)
- EM5: Este produto é uma evolução do EM-4, com adição de propriedades destinadas a
prevenir e combater doenças e pragas. Caso ocorram infestações de pragas, é recomendado
realizar pulverizações nas folhas duas vezes por semana, ao final da tarde, utilizando uma

30
concentração de 1:1000 a 1:2000. Essas medidas ajudam a controlar e combater efetivamente
as pragas e doenças (KROHN et al., 2003, apud LEITE et al., 2007)
- Bokashi: Por fim, usam-se os preparados citados acima, para promover um adubo que
promove o completo desenvolvimento dos microrganismos eficientes (EM) e,
consequentemente, das plantas, o Bokashi. É uma mistura de diferentes tipos de farelos
inoculados com EM. O uso desse composto é opcional, uma vez que sua função principal é
garantir uma fermentação ideal. Sua composição inclui aproximadamente: 50% de farelo de
trigo ou arroz, 30% de farelo de mamona ou soja (ou também casca de amendoim), até 15%
de casca de arroz (no máximo), cerca de 3% de farinha de carne e osso, e até 2% de farinha
de peixe (no máximo). Esses ingredientes são combinados para fornecer os nutrientes
necessários ao desenvolvimento saudável do EM e das plantas (COMETTI et al., 2000, apud
LEITE et al., 2007).
O conhecimento a respeito dos microrganismos eficientes é representado aqui, por eles serem
uma forma amplamente utilizada na Agricultura Natural para promover melhores estoques e
ciclagem de nutrientes no solo, associados às práticas de manejo envolvendo o mulching e a
incorporação de matéria verde.

4.3.2. Culturas sob cultivo natural e outros métodos, comparadas usando análises
experimentais

- Pesquisa de microrganismos solubilizadores em cafezais naturais, agroflorestais e a pleno sol:

Análises das atividades microbiológicas de três parcelas de solo sob diferentes sistemas de
cultivo foram feitas por Silva (2017). Em seu estudo sobre a disponibilização do fosfato por
microrganismos solubilizadores no solo, ela cita Souchie et al. (2007) e Mendes et al. (2013), que
demonstraram que os fungos solubilizadores têm maior capacidade de solubilização em relação às
bactérias solubilizadoras, mesmo estando em menor quantidade. “Uma das razões para essa maior
eficiência dos fungos é o fato de serem mais tolerantes a condições ácidas, que são as favoráveis
para a solubilização de fosfato” (MENDES et al., 2014, apud SILVA, 2017).
Uma das três parcelas de solo analisadas por ela foi um cafezal sob sistema agroflorestal,
adubado com restos culturais, cultivado sob os princípios da Agricultura Natural, e certificado pela
organização japonesa de Agricultura Natural Shumei (inserir nota de rodapé). Esta parcela
apresentou uma concentração de fungos solubilizadores significativamente maior que as outras duas

31
(cafezal a pleno sol adubado com cama de frango - PSCF, e cafezal sobre SAF adubado com cama de
frango - SAFCF), com diferença expressiva, como demonstrado pelo diagrama da página 41 de seu
trabalho (SILVA, 2017)
Com o uso de metodologias de análise sequencial dos DNA’s microbianos do solo, o SAFAN e
o SAFCF obtiveram índices de variabilidade genética significativamente superiores aos do PSCF, ao
que a autora atribui que a constituição dos sistemas natural e agroflorestal e suas rizosferas protegem
as variedades sensíveis de microrganismos e seu habitat natural, assim como a biodiversidade do solo
como um todo. Tanto a quantia de microrganismos totais quanto a porcentagem de fungos
solubilizadores em relação a esse total foram significativamente maiores no tratamento sob
Agricultura Natural em relação aos outros dois. Do total de microrganismos, 30% deles no SAFAN
foram fungos solubilizadores, em relação a apenas cerca de 2,5% em ambos os outros tratamentos.

- Avaliações de aspectos físicos, contaminantes e tempo de prateleira em alfaces naturais,


convencionais e hidropônicas

Citando Ana Maria Primavesi, uma das pioneiras da compilação do saber agroecológico no
Brasil e no mundo: “O homem somente terá saúde se os alimentos possuírem energia vital. Os
Alimentos somente possuem energia vital se as plantas forem saudáveis e as plantas somente serão
saudáveis se o solo for saudável” (PRIMAVESI, 2016). A partir dessa máxima simples e lógica,
podemos inferir, a partir de observações gerais de todos os estudos incluídos nesse artigo, que plantas
sadias, resistentes, com teores equilibrados de nutrientes e proteínas complexas, só podem ter vindo
de solos saudáveis, também resistentes a patógenos, e com biota bem conservada.
No caso de hortaliças comerciais, que são naturalmente mais vulneráveis a patógenos do
ambiente, plantas de solos sadios se expressam em vegetais com melhor aparência, firmeza, turgor,
sabor equilibrado e riqueza nutricional. Logo, avaliando o vegetal e suas qualidades biológicas,
também está se avaliando indiretamente o solo.
Em um experimento envolvendo alface (Lactuca sativa) dos métodos de produção
convencional, hidropônico e Agricultura Natural (EM4), Leite et al. (2007) mediram o perfil
nutricional de plantas de alface, avaliaram a contaminação microbiológica (heterótrofos totais,
coliformes e presença de Salmonella), realizaram caracterização sensorial das diferentes plantas e
mediram o tempo de prateleira.
Segundo ela, aproximadamente 36% das hortaliças em geral no Brasil estão contaminadas por
alguma substância química tóxica, devido ao manejo utilizado. Aquelas que possuem maior índice de
contaminação são verduras como agrião, salsa e a alface. Como nas cidades, esses produtos são

32
consumidos diariamente desde a infância, sua intoxicação no organismo é cumulativa ao longo da
vida, resultando em patologias inevitáveis.
Em uma série de análises experimentais no dia da colheita e aos 7, 14 e 21 dias após a mesma,
Leite et al. (2007) obtiveram em medições físicas (biométricas), análises sensoriais (aparência e
turgor) e análises físico-químicas (umidade, matéria seca, gorduras, proteínas, carboidratos e fibras)
valores superiores para as alfaces naturais em relação às hidropônicas e convencionais. Como os
resultados sensoriais aos 21 dias foram significativamente superiores nas alfaces natural e
hidropônica em relação à convencional, concluiu-se que aquelas possuem maiores tempos úteis de
prateleira.
Nos mesmos períodos Leite et al. (2007) realizaram análises microbiológicas (pesquisa de
contaminantes), nas quais os teores de microrganismos heterótrofos totais, coliformes totais e
coliformes fecais foram significativamente inferiores no tratamento natural em relação aos outros
dois. A competição entre as cepas cultivadas e as do ambiente, causada pelo método natural, foi
apontada como sendo a causa dessa diferença. Nesse contexto, as cepas cultivadas tendem a se
destacar e competir de forma mais eficaz em comparação às outras cepas (mesófilos totais e
coliformes). Também se constatou que nos métodos hidropônico e convencional de cultivo, o número
de coliformes totais estava acima do permitido por lei para o consumo, segundo a RDC nº 12, de 02
de janeiro de 2001 – ANVISA, além disso, o cultivo convencional foi o único que conteve
coliformes fecais, apresentando riscos de contaminação por patógenos.
Como pôde ser aferido pelos autores, além das plantas do cultivo natural terem se
desenvolvido mais do que a dos outros dois, sua colheita aconteceu 14 dias antes da variedade
convencional, para a variedade Regina e 14 dias antes para a variedade Verônica (LEITE et al.,
2007).

- Experimento com avaliações físicas, nutricionais e de solo em cultivos de tomate natural e


convencional

Estudos reveladores comparando plantio de tomate (Solanum lycopersicum) sob Agricultura


Natural com o convencional foram feitos por Tavares (2006). O autor buscou demonstrar o princípio
defendido na Agricultura Natural de que por meio dela pode-se efetuar a repetição de culturas, visto
que, promovendo a ciclagem e conservação adequada dos nutrientes e microrganismos no solo, o seu
ambiente se torna adaptado aos ciclos e necessidades da cultura.
Em um experimento de dois anos, o autor realizou cinco plantios sucessivos de tomate em
duas áreas, uma sob os métodos da agricultura natural e uma sob o método convencional. Ambas as

33
áreas tinham o mesmo histórico de cultivo convencional de hortaliças usando insumos químicos e ao
longo do experimento receberam a mesma quantia diária de irrigação. As diferenças se deram nos
tratos culturais e formas de manejo inerentes a cada sistema testado, melhores descritos em Tavares
(2006); ressalta-se que ao início do primeiro plantio o solo do plantio convencional já possuía teores
de macro e micronutrientes superiores ao da parcela sob Agricultura Natural.
Ao longo das cinco colheitas, o autor avaliou nos frutos e folhas características bioquímicas e
físicas e suas interações com limitações edáficas e climáticas, a fim de entender as respostas
ecofisiológicas do tomate frente a diferentes formas de cultivo.
Micorrizas, como descritas por Tavares (2006) são fungos filamentosos de longo
comprimento no solo, que formam associações simbióticas, obtendo fotoassimilados das raízes de
plantas, mas ao mesmo tempo, entregando a essas nutrientes essenciais que estavam em áreas mais
distantes do solo, que os fungos obtêm mas as plantas não conseguem alcançar.
O solo onde foi conduzido o trabalho é um Argissolo Amarelo Distrófico, um tipo de solo
constituído por sedimentos provenientes do Período Terciário, presente em uma faixa paralela ao
litoral ao longo de todo o Estado do Espírito Santo. Os ciclos de secagem, umedecimento e arações
constantes feitos pelo método convencional nestes solos, compactando o mesmo, geraram uma
camada adensada e impermeável aos 30 cm de profundidade, na região logo abaixo do nível onde as
lâminas dos arados e grades conseguem alcançar. Essa compactação subsuperficial interrompe a
expansão das raízes em sua busca por nutrientes (TAVARES, 2006).
Na metodologia de não revolvimento e incorporação de matéria verde adotada pelo autor, o
solo manteve uma estrutura que permitiu um grande crescimento radicular. Ressalta-se que a
presença de mais moléculas orgânicas no solo dificulta a formação de camadas adensadas, por se
posicionarem por entre as partículas de argila do solo, reduzindo a coesão e impedindo elas de se
aproximarem por efeito mecânico (ZAGRANDE, REZENDE e RESENDE, 1987, apud TAVARES,
2006).
Apesar das falhas dos quatro primeiros cultivos naturais pelo autor, a área mostrou uma
evolução, tanto nos indicadores minerais do solo quanto na adaptação da cultura à área e redução das
taxas de infestação por patógenos. Observa-se que no primeiro plantio não foram obtidos frutos
comercializáveis, e no quarto, a produção encontrada foi 17,07 t.ha-1 e 24,8 t.ha-1 para as cv. Gaúcho
e Salada Especial, respectivamente.
Entre os dados significativos para compreender os fatores que regularam a produtividade no
cultivo natural, estão os teores de aminoácidos livres e de compostos fenólicos totais.
Compreendendo as demandas alimentares das pragas, compreende-se quais características nas
plantas as tornarão mais frequentes e nocivas. Segundo Chaboussou (1999) apud Vilanova e Silva

34
Júnior (2010), patógenos de plantas em geral como microrganismos, ácaros e insetos possuem uma
gama pequena de enzimas em seu aparato enzimático, estando restritos a se alimentarem de
substâncias solúveis mais simples, como açúcares e aminoácidos redutores.
Como foi citado no capítulo anterior, em condições de entropia e desequilíbrio de nutrientes,
faltam recursos às células para formar componentes do citoplasma, isto provoca na solução dos
vacúolos um acúmulo de produtos solúveis inutilizados, dentre os quais pode-se citar os aminoácidos
livres (CHABOUSSOU, 1999 apud VILANOVA e SILVA JÚNIOR, 2010). De acordo com
Chaboussou (1987) citado por Tavares (2006), foi observado que a taxa de crescimento dos esporos
do fungo Helminthosporium sp. nas folhas de arroz aumentou de forma proporcional à quantidade de
aminoácidos livres encontrados nas folhas.
As plantas adubadas com fertilizantes minerais, recebem sais inorgânicos dos macronutrientes
(como N, P, K), e possuem taxa acelerada de formação de proteínas, menos complexas, assim como
mais rápida degradação das mesmas, aumentando o teor de aminoácidos livres presentes nas folhas, e
isto, indiretamente, também leva a uma redução da eficiência fotossintética. Ao contrário, as plantas
cultivadas sem adubos sintéticos dependem do nitrogênio na forma nitrato (NO3-), disponibilizado
pela matéria orgânica no solo, e têm maior eficiência na formação de proteínas complexas, com
degradação mais lenta (TAVARES, 2006).
Substâncias fenólicas são produtos secundários do metabolismo de plantas, gerados na
conversão de precursores de carboidratos derivados da glicólise, como resposta a fatores ambientais.
Exemplos são as ligninas, taninos hidrossolúveis e o ácido clorogênico. Esses compostos são
formados a partir da fenilalanina, que quando perde uma molécula de amônia forma o ácido
cinâmico. Essa reação da fenilalanina ocorre em solos com teores mais baixos de nutrientes
disponíveis, para formar os compostos fenólicos. Em solos altos em nutrientes, pelo contrário, a
fenilalanina excedente pode contribuir para um acúmulo maior de aminoácidos livres nas folhas e
frutos (TAIZ e ZEIGER, 2004 apud TAVARES, 2006)
Entre os mecanismos para proteção contra patógenos, envolvendo os fenóis, está por exemplo
um rápido acúmulo dessas substâncias na presença do invasor, confinando-o no sítio de infecção
(GUZZO et al., 1999, apud TAVARES, 2006). Já em insetos patogênicos, foi encontrado que
possuem mecanismos de adaptação, para identificar ondas de luz do ultravioleta (abaixo dos 400
nm), invisíveis ao olho humano. O anel benzênico da fenilalanina que absorve e transmite esta faixa
de raios de luz, e a fenilalanina em excesso, por não se transformar em compostos fenólicos em solos
adubados, seria um indicador através da cor do ultravioleta, para insetos identificarem as plantas com
altos recursos alimentares disponíveis (TAIZ e ZEIGER, 2004; KEVAN et al., 2001, apud
TAVARES, 2006)

35
O mesmo autor também encontrou uma taxa de fotossíntese líquida significativamente mais
alta nas plantas da área natural. De forma geral, a deficiência de nitrogênio disponível no solo leva à
redução na absorção de água na planta, e ela tem como estratégia uma redução no desenvolvimento
da parte aérea mais forte do que a redução da fotossíntese, fazendo com que a fotossíntese realizada
por tecido foliar seja maior (CHAPIN, WALTER e CLARKSON, 1988; TAIZ e ZEIGER, 2004,
apud TAVARES, 2006). A menor capacidade dos estômatos permanecerem fechados nas plantas do
cultivo convencional, associada a uma menor fotossíntese líquida levou a uma menor eficiência no
uso de água (EUA), quando comparadas às do cultivo natural. A eficiência no uso da água (EUA) é
calculada pela razão entre o carbono assimilado e o volume de água transpirado.
É causal a relação do balanço de nitrogênio do solo com as atividades fotossintéticas. O
nitrogênio nas formas nítricas (nitrato: NO3- e nitrito: NO2-) é aquele que tem mais consequências
negativas para os seres vivos que o consomem. Os fertilizantes químicos geram um resíduo de
nitrogênio amoniacal no solo, que é rapidamente convertido a formas nítricas (PRIMAVESI, 1981;
MARENCO e LOPES, 2005, apud TAVARES, 2006).
As raízes são capazes de reduzir o nitrato presente na rizosfera, e se nutrir do mesmo. Porém,
em condições de alto nitrato no solo, esta capacidade diminui, e uma parte do nitrato é translocado
para a parte aérea. Para viabilizar esse transporte do NO3- via xilema, uma transpiração e condutância
estomática (gs) maior são necessárias e correlações lineares positivas já foram encontradas entre
elevação dos teores de nitrato e o teor de água (maior condutância) nas folhas, por Navarro et al.
(1999, apud TAVARES, 2006).
Vale ressaltar que não obstante os teores de nutrientes fossem menores na parcela natural ao
início do experimento, os frutos do plantio natural obtiveram valores superiores de K (16,8%
superior) e Ca (6,8% superior) aos do convencional, sendo o valor de K estatisticamente superior.
Tavares (2006) afirma que todos trabalhos relacionados à nutrição do tomate são unânimes em
afirmar que o potássio (K) é o elemento absorvido em maior quantidade por essa planta e o cálcio
(Ca) possui papel fundamental na regulação do potencial e equilíbrio osmóticos nas células vegetais
(TAIZ; ZEIGER, 2004 apud TAVARES, 2006)
A fim de saber a causa das diferentes respostas produtivas, Tavares (2006) deduziu a possível
presença de micorrizas no solo do plantio natural, dos gêneros Glomus clarum e G. etunicatum,
espécies que, de acordo com Moreira e Siqueira (2002, apud TAVARES, 2006), são comuns na
cultura do tomate no Brasil, e ocorrem em solos com baixa acidez e baixa saturação por alumínio.
Também foi encontrado por Pereira et al (1996, apud TAVARES, (2006), que em plantas
adubadas com formas nítricas de N (NO3-), ocorreu maior colonização micorrízica, resultando em
maiores taxas de absorção de K e Ca em espécies florestais pioneiras, do que as mesmas adubadas

36
com formas amoniacais de N (NH4+). É algo presente em literatura específica para o tomate, que o
potássio (K) é o macronutriente mais importante para a frutificação da planta, e influencia na turgidez
e no tempo de prateleira.
Conclui-se que Leite et al. (2007), Silva (2017) e Tavares (2006) deram contribuições em
expor como a mudança nos ambientes e no manejo provocam características e traços identificáveis
no solo, e como as suas características são diretamente responsáveis pelo valor nutricional e pela
durabilidade dos alimentos. O solo com estrutura e microbiota conservadas é então fator essencial
para a produção sustentável, porém, em regiões degradadas, nas quais ele tenha perdido suas
capacidades como reter água e nutrientes, e servir de suporte para as plantas, são necessárias práticas
que auxiliem na reconstrução dessas capacidades, como o reflorestamento com bolas de sementes,
que foi explorado por Chunga (2017).
O fluxograma apresentado abaixo resume as influências de indicadores no ambiente e nas
plantas, conforme foi identificado pelos autores abordados neste tópico:

FLUXOGRAMA: Indicadores biológicos e ecofisiológicos e seus efeitos no ambiente e nas plantas.

37
4.4. AGRICULTURA NATURAL NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS

4.4.1. Recuperação de Bosques Secos Equatoriais degradados com bolas de argila

A semeadura à lanço com bolas de sementes cobertas de argila, ou Nendo-dango, foi lançada
como um método por Fukuoka (1995), como um caminho viável para o reflorestamento e
recuperação de áreas em processo de desertificação. Nesse tipo de região, a germinação em sementes
é baixa devido à escassez ou irregularidade das chuvas, e essa baixa é agravada, por exemplo, quando
há presença de animais, ou insetos do solo, que se alimentam das sementes antes que possam
germinar. Logo, as bolas, feitas com uma mistura de terra e argila contendo as sementes, como
fossem um recheio, por si só, geram um aumento da taxa de germinação, por protegê-las dos animais,
e aumentar o tempo viável que podem esperar no campo, até a germinação; por exemplo, se houver
um atraso ou antecipação da chuva, ela se encarrega de desfazer a capa de argila, prover umidade
para a semente, e essa germina no período ideal para isso (FUKUOKA, 1995).
Segundo Chunga (2017), em países como o Peru, onde existe uma prioridade na conservação
dos Bosques Úmidos Tropicais, com maior importância imediata para a economia, ao mesmo tempo,
existe um vazio legal, e falta de regulamento, no que diz respeito ao seu ecossistema estudado, o
Bosque Seco Equatorial, o que dá brechas para uma exploração irracional e destrutiva por parte da
pressão pecuária, do desmatamento, agricultura intensiva, problemas sanitários, etc.
Como o Bosque Seco Equatorial é um ecossistema frágil e possui menor resiliência do que o
outro ecossistema mencionado, as más práticas realizadas, afetam o banco de germoplasma natural,
assim como a fauna e a microfauna locais. No longo prazo, as perdas econômicas são consideráveis,
e são sentidas sobre as atividades mais importantes, como apicultura, a cultura da alfarroba e a
pecuária (CHUNGA, 2017).
Esse ecossistema, não obstante, foi classificado pelo Banco Mundial e pelo “Fundo Mundial
para a Natureza” como um dos ecossistemas mais severamente ameaçados do mundo, pelo alto grau
de perda de sua cobertura original e sobretudo, um ecossistema de destaque a nível mundial pela sua
distintividade biológica, e consoante ao seu baixo estado de conservação, é um ecossistema em
perigo, com prioridade máxima de conservação (CHUNGA, 2017).
A mesma autora usando o método Fukuoka em suas experiências com recuperação de áreas
em desertificação, obteve altas taxas de germinação, sobretudo em áreas já com remanescentes

38
vegetativos, aumentando a densidade populacional arbustiva e arbórea em muitas vezes, o que
provou o potencial desse método para revegetação de áreas desérticas tropicais costeiras. Este
método, segundo Chunga (2017), é vantajoso nesse sentido por poder ser implantado a baixo custo
tecnológico, é facilmente assimilado e possível de ser trabalhado coletivamente por populações locais
e aumenta a taxa de sobrevivência das sementes com o método de semeadura à lanço com sementes
envolvidas em argila.
A autora aplicou o método em dois povoados do distrito de Lambayeque, Alita e La Peña, o
primeiro possui solo franco-argiloso e o segundo, solo pedregoso. Os povoados foram separados em
duas parcelas cada, uma com vegetação nula ou incipiente (parcela 1) e a segunda com presença de
escassa vegetação remanescente (parcela 2)
Ao realizar o cálculo da sobrevivência a um mês após o plantio, o povoado Alita obteve
31,1% de sobrevivência na parcela 1 e 46,2% na parcela 2; no povoado La Peña, obteve-se 17,4% na
parcela 1 e 39,8% na parcela 2. Isto demonstrou que a eficiência da recuperação é superior em
terrenos que já tenham alguma vegetação remanescente, ou rasteira, devido ao que a autora chamou
de efeito “enfermeiro” dessas plantas sobre o ambiente edáfico, a melhora na umidade conferida por
elas e sobretudo, a proteção contra a pressão exercida pelo gado circundante. Além disso, os
resultados apontaram para maiores chances de sucesso no solo franco-argiloso (CHUNGA, 2017).
Para realizar esse estudo, foram usadas por Chunga (2017) cinco espécies nativas com
predominância e adaptação no bioma observado, duas arbóreas: sapote (Colicodendron scabridum) e
alfarrobeira (Prosopis pallida) e três arbustivas: vichayo (Beautempsia avicennifolia), cuncuno
(Vallesia glabra) e overo (Cordia lutea). Ressalta-se, porém, que tanto a germinação quanto a
sobrevivência foram significativamente superiores para as espécies arbóreas sapote e alfarrobeira,
que constituem a floresta dominante e são espécies-chave nesta paisagem, e, das espécies utilizadas,
já no ambiente natural, são encontradas em quantidade superior às demais. A autora fornece em seus
resultados valores específicos para cada uma das espécies.
Por fim, esse estudo demonstrou a eficiência significativamente alta do método Fukuoka,
sobre a densidade de plantas nas áreas em processo de desertificação. O número de plantas foi
avaliado antes do experimento, e um mês após a germinação. No povoado Alita, ambas parcelas 1 e 2
tinham uma densidade aproximada de 17 indivíduos, que subiu para 470 e 2100 nessas parcelas,
respectivamente. Já no povoado La Peña, ambas parcelas, 1 e 2, apresentavam cerca de 15 indivíduos
cada, e esse valor subiu para 250 e 257, respectivamente.
De acordo com Aronson et al. (1995), alguns autores levantam que em ecossistemas nos quais
a degradação não foi muito intensa, é possível que o mesmo retorne para um estágio semelhante ao
“histórico” original se as causas antropogênicas da degradação forem removidas, e se for permitido

39
aos processos naturais voltarem a ocorrer. Porém, segundo o trabalho acima citado, em ecossistemas
áridos ou semiáridos, essa possibilidade raramente é real, pois estes possuem resiliência mais baixa,
relativamente a outros tipos de ecossistemas em estágios semelhantes.
Foi demonstrado por exemplo que no processo de degradação de um ecossistema,
originalmente em equilíbrio ecológico, ele passa por diferentes etapas, podendo se tornar um
ecossistema modificado ou com funções realocadas, em seguida, um ambiente degradado ou
ameaçado e por fim, um ambiente gravemente ameaçado que não possui mais resiliência alguma, ou
seja, nenhuma capacidade de regenerar sozinho seus fluxos energéticos e ciclos de nutrientes com
apenas a retirada da pressão antrópica, ou do fator de degradação (ARONSON et al, 1995).
Entre cada um desses estágios mencionados, os autores definem a existência de limiares de
irreversibilidade, que são os momentos críticos em que o ambiente faz a transição de uma etapa para
a outra. Em ecossistemas semiáridos ou áridos, segundo o autor, a possibilidade de se recuperar a um
estado anterior deixa de existir se eles cruzarem mesmo apenas um destes limiares, e então se tornam
necessárias intervenções mais incisivas, como reposição do banco de sementes ou do estoque de
matéria orgânica ou o recondicionamento do solo com adubações e/ou corretivos para restabelecer a
atividade microbiológica, para que ele recupere suas funções hídricas.
Tendo em vista as particularidades dos ecossistemas áridos, uma atenção cuidadosa deve lhes
ser dada a respeito de processos de degradação. O plantio direto com bolas de argila é uma
alternativa real para desenvolver espécies-chave, plantas recuperadoras e atrativas à fauna em geral
nesses ambientes, quando outras formas de recuperação se mostram inviáveis ou pouco eficientes.
Estudos como o de CHUNGA (2017), que avaliam o potencial deste método sobre a densidade
populacional e a alteração da paisagem se fazem pertinentes e necessários.

4.4.2. Outras pesquisas avaliando a germinação de bolas de sementes

- Testes de germinação com bolas de sementes de beterraba (Beta vulgaris L.)

Um exemplo clássico que existe na literatura acerca do plantio com bolas de sementes foi
conduzido por Snyder (1959). O autor estava envolvido com o plantio de sementes de beterraba por
meio de bolas de argila. É conhecido que as folhas e o bulbo da beterraba liberam substâncias
inibitórias no solo que prejudicam a germinação das sementes que essa planta produz. Este era então
um fator agravante ao semear a beterraba por meio de bolas de argila, dado que tais substâncias são
liberadas na terra que forma as bolas.

40
Logo, o autor resolveu fazer experimentos, com diferentes maneiras de remover ou
neutralizar essas substâncias, e avaliar, então, as taxas de germinação obtidas com as bolas de
sementes.
Uma técnica cuja influência sobre a germinação foi avaliada por Snyder (1959) foi o
“entalhe” nas bolas de sementes (que envolve a abertura de pequenos buracos na superfície das bolas,
de forma a expor parte do exocarpo das sementes ao ambiente e conferir maior aeração do solo usado
nas bolas). Ao testar a germinação em bolas entalhadas e bolas convencionais, comparando as duas,
as primeiras obtiveram taxa germinativa de 76,5% enquanto as bolas comuns obtiveram 62,1%.
Apesar do objetivo do trabalho ter sido verificar a interação do efeito das substâncias
inibitórias das sementes com as formas de plantio (sementes nuas, bolas de sementes e bolas de
sementes entalhadas), ele foi um dos primeiros a testar a germinação de bolas de sementes e
compará-la com sementes nuas, se tornando assim um exemplo clássico no tópico do plantio com
bolas de argila, sendo citado até hoje.
Em um teste comparando a germinação das bolas de seis variedades de sementes
convencionais com as sementes nuas, as bolas de sementes obtiveram germinação superior em três
dessas variedades, porém em todas elas a taxa de germinação foi superior a 87%, chegando a 100%,
valores que se assemelham com os das outras duas pesquisas da mesma área expostas neste trabalho,
de Chunga (2017) e Tamil et al. (2020).

- Avaliação do vermicomposto na composição de bolas de sementes de leucena (Leucaena


leucocephala)

Um estudo sobre o plantio com bolas de sementes de leucena, uma forrageira de rápido
crescimento, foi feito por Tamil et al. (2020). Ele testou diferentes traços (proporções) de mistura de
solo vermelho com vermicomposto, na fabricação das bolas usadas no plantio. Desta forma, avaliou
diferentes propriedades físicas e fisiológicas para cada um dos traços (comprimentos de plântulas e
raízes, taxa de germinação, tempo para germinar, produção de matéria seca e vigor de plântulas),
comparando também essas propriedades com um grupo controle, consistido por sementes nuas,
plantadas diretamente no solo. Para todas as características avaliadas, o traço T6 ou T15 (2:1,
equivalente ao T15: 4:2) obteve os maiores valores, e o grupo controle, os menores, sem exceções.
Os parâmetros fisiológicos relativamente altos obtidos nas plântulas estão relacionados à
adição do vermicomposto contendo concentração ótima e equilibrada de nutrientes às bolas de argila,
o que foi aproveitado ao máximo para aumentar o vigor plantar. Avaliar qual é o traço com as
melhores características físicas foi importante pois esse será o traço com o tempo de dissolução

41
ótimo em água - esse tempo não deve ser nem muito curto nem longo, pois o tempo ótimo implica
em uma melhor taxa de fornecimento de nutrientes essenciais e hormônios de crescimento, e menor
perda desses elementos, para uma germinação uniforme e precoce.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como base a gama de trabalhos analisados, e as deduções realizadas nessa dissertação,
tornam-se evidentes uma série de benefícios e capacidades possuídas pela Agricultura Natural para as
regiões tropicais e nos cenários ambientais e socioeconômicos de países subdesenvolvidos.
Com base nas pesquisas e estudo de caso vistos no tópico 4.1, a Agricultura Natural
demonstrou ser um método no qual, explorando ao máximo a interatividade entre fontes de recursos
e resíduos, elevam-se os retornos, com alimentos livres de acúmulos de substâncias químicas, e
minimizam-se não só a descarga poluidora vinda das atividades produtivas, como também os riscos
de perdas por infestação de doenças, visto que o ambiente produtivo proposto por ele é atrativo à
predadores naturais, e contém plantas adaptadas e diversificadas.
A Agricultura Natural propõe atividades que diminuem a evasão de recursos e alimentam as
economias locais e é um método acessível que tem espaço para a integração de diferentes perfis de
trabalhadores, sendo facilmente assimilado; além disso, serve como meio educacional para novos
produtores interessados, por meio de vivências de internato em propriedades rurais baseadas nesse
sistema.
A partir dos experimentos de campo e laboratoriais que foram revisados no tópico de
fertilidade dos solos (4.3), observou-se que na presença de mecanismos de absorção como a interação
com microrganismos solubilizadores e possivelmente micorrizas, ocorre maior eficiência na absorção
dos nutrientes e melhor incorporação na fisiologia da planta, garantindo, por exemplo, boa adaptação
aos ambientes, resistência adquirida aos patógenos assim como frutos mais nutritivos que permitem
armazenamento mais longo.
Além disso, a maior fitossanidade dos produtos da Agricultura Natural foi consequência da
função biorremediadora mais bem desempenhada em seus solos, devido à maior competição e
variedade entre os microrganismos do solo.
Somam-se às pesquisas acima, as experiências positivas encontradas com o método de plantio
de sementes envolvidas em bolas de argila (Nendo-dango). Taxas elevadas de germinação foram
obtidas nos experimentos que usaram essa técnica, além de sobrevivência considerável das plantas
após 30 dias e aumento expressivo da densidade populacional em áreas em processo de
desertificação.

42
Visto que ecossistemas semi-áridos possuem menor resiliência frente aos impactos
ambientais, principalmente os antrópicos e menor capacidade de retornar ao seu estado original,
trabalhos feitos com plantio de espécies nativas predominantes e com importância econômica para as
comunidades locais, possuem potencial na recuperação de áreas degradadas e na redução das
desigualdades sociais e regionais.
Por fim, constata-se que o campo da Agricultura Natural com suas técnicas possui um
reconhecimento relativamente baixo por parte da sociedade. Muitas das formas com as quais ele gera
fertilidade e sustenta sua produção ainda são desconhecidos, além do que, quais práticas são
indicadas ou não, pode ser alvo de debates, estando essa corrente da agricultura sujeita a se adaptar a
diferentes realidades e épocas.
É necessário encontrar alternativas para inserir esta forma de produção na realidade
econômica brasileira, e de expandir seus benefícios na sociedade, assim como entender como o
método se comporta sendo usado em diferentes culturas de produção ainda não exploradas por ele.

43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARONSON, J. et al. Restauration et réhabilitation des écosystèmes dégradés en zones arides et


semi-arides: Le vocabulaire et les concepts. In: PONTANIER et al. L’homme peut-il refaire ce qu’il
a défait. 1ª ed. Montrouge - FR-J, França. J Libbey Eurotext, 1995, p. 11-29. Disponível em:
<https://www.documentation.ird.fr/hor/fdi:010004775>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

CARDOSO, E. J. B. N.; TSAI, Siu Mui; NEVES, Maria Cristina Prata. Microbiologia do solo. 2ª ed.
Piracicaba - SP, Brasil. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1992.

CARMO, Janaina Braga do et al. Disponibilidade de nitrogênio e fluxos de N2O a partir de solo
sob pastagem após aplicação de herbicida. Viçosa - MG, Brasil. Revista Brasileira de Ciência do
Solo, v. 29, nº 5, p. 735-746, Out. 2005. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rbcs/a/fJNfVnHWfyQLvzJPPGcqgpz/?lang=pt>. Acesso em: <05 jul.
2023>.

CHUNGA, Ana Maria Juarez. Restauración de Bosque Seco con la aplicación de la técnica
Fukuoka en los caseríos Alita y La Peña del Distrito de Salas - 2017. Orientador: Dr. Eduardo
Julio Tejada Sánchez. Dissertação (Mestrado) - Maestría en Ciencias con Mención en Ingeniería
Ambiental, Escuela De Postgrado, Universidad Nacional Pedro Ruiz Gallo, Lambayeque - LAM,
Peru, 2018. Disponível em: <https://repositorio.unprg.edu.pe/handle/20.500.12893/6055>. Acesso
em: <05 jul. 2023>.

DULLEY, Richard Domingues. Noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos


ambientais e recursos naturais. São Paulo - SP, Brasil. Agricultura em São Paulo, v. 51, n. 2, p.
15-26, Dez. 2004. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf>.
Acesso em: <05 jul. 2023>.

EHHALT, D. et al. Atmospheric chemistry and greenhouse gases. In: EHHALT, D. et al. Climate
change 2001: the scientific basis, Intergovernmental panel on climate change. 1ª ver. Paris - IDF,
França. HAL Science Ouverte, 2001. Disponível em: <https://hal.science/hal-03333922/>. Acesso
em: <05 jul. 2023>.

44
FUKUOKA, Masanobu. A Revolução de Uma Palha: Uma Introdução à Agricultura Selvagem. 2ª
ed. Porto, Portugal: Via Óptima, 2008.

FUKUOKA, Masanobu. Agricultura Natural: Teoria e prática da filosofia verde. São Paulo, SP -
Brasil: Nobel, 1995.

GONÇALVES, Márcia Oliveira. A Agricultura Natural como referência para o desenvolvimento


sustentável: Centro de Pesquisa Mokiti Okada. Orientadora: Profª Drª Wania Rezende Silva.
Dissertação (mestrado). Curso de Mestrado Profissional em Políticas Públicas, Departamento de
Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR, Brasil, 2016. Disponível em:
<http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/3097>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

GUILLEN, Júlia Floriano; COTI-ZELATI, Paolo Edoardo; DE ARAÚJO, Davi Lucas Arruda. A
Agricultura Familiar E O Desenvolvimento Sustentável Do Agronegócio Na Região
Metropolitana De Campinas. Campinas - SP, Brasil, Revista Metropolitana de Sustentabilidade , v.
10, n. 1, p. 123-123, Abr. 2020. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms/article/view/1999>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

HIGA, Teruo. Agricultura Natural – a solução do problema alimentar. 1ª ed. São Paulo - SP, Brasil,
Fundação Mokiti OKADA – M.O.A., 1991.

HOSOYA, Keita. 自然栽培水田における窒素循環と収量成立機構 [Ciclo do nitrogênio e


mecanismo de formação de rendimento em arrozais cultivados naturalmente]. Orientador: Prof.
Shuichi Sugiyama. Dissertação (Doutorado) - 岩手大学大学院連合農学研究科 [Escola de
Pós-Graduação Unida de Ciências Agrícolas], Departamento de Biossistemas Criogênicos,
Universidade de Iwate, Iwate - JTHK, Japão, 2017. Disponível em:
<https://core.ac.uk/download/pdf/144257531.pdf>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

45
LEITE, Marilene de Oliveira et al. Caracterização da qualidade nutricional, microbiológica,
física e de vida útil pós-colheita de alface (Lactuca sativa l.) in natura, cultivadas por
Agricultura Natural, hidroponia e método convencional, higienizadas e acondicionadas em
atmosfera natural. Orientador: Prof. Dr. Armando Ubirajara Srur. Dissertação (doutorado) - Curso
de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Instituto de Tecnologia, Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica - RJ, Brasil, 2007. Disponível em:
<https://tede.ufrrj.br/handle/tede/429>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

LOPES, Alfredo Scheid; GUILHERME, Luiz Roberto Guimarães. Manual internacional de


fertilidade do solo. 2ª ed., rev. e ampl. Piracicaba - SP, Brasil. POTAFOS, 1998. Disponível em:
<https://docs.ufpr.br/~nutricaodeplantas/fertisolo.pdf>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

LOPES FILHO, Artur Rodrigo Itaqui. A genealogia do progresso: concepções a partir do


iluminismo moderno europeu. João Pessoa - PB, Brasil. Aufklärung: revista de filosofia, v. 4, n. 1,
p. 163-172, Abr. 2017. Disponível em:
<https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/arf/article/view/28082/17465>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

LOSS, Arcângelo et al. Carbono mineralizável, carbono orgânico e nitrogênio em


macroagregados de Latossolo sob diferentes sistemas de uso do solo no Cerrado Goiano.
Londrina - PR, Brasil. Semina: Ciências Agrárias, v. 34, n. 5, p. 2153-2168, Out. 2013. Disponível
em: <https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/semagrarias/article/view/11226>. Acesso em: <05 jul.
2023>.

MIKKELSON, K.O. A Natural Farming System for Sustainable Agriculture in the Tropics. 1ª
ed. Puerto Princesa - PLW, Filipinas. Aloha House - Atribuição do Creative Commons, 2005.
Disponível em:
<https://assets.echocommunity.org/publication_issue/d4045d6a-3db9-409e-a489-5230f2ce6971/en/a-
natural-farming-system-for-sustainable-agriculture-in-the-tropics.pdf>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

OKADA, Mokiti. Manual sobre o uso de Microorganismo Eficazes (E.M.) na agricultura. 1ª ed.
Rio de Janeiro - RJ, Brasil, Fundação Mokiti Okada – M.O.A., 1994.

46
PASINI, Felipe dos Santos. A Agricultura Sintrópica de Ernst Götsch: história, fundamentos e seu
nicho no universo da Agricultura Sustentável. Orientador: Prof. Dr. Fabio Rubio Scarano.
Dissertação (mestrado), Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação, Centro
Multidisciplinar, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Macaé - RJ, Brasil, 2017.
Disponível em:
<https://ppgciac.macae.ufrj.br/images/Disserta%C3%A7%C3%B5es/FELIPE_DOS_SANTOS_PASI
NI_ok.pdf>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

PIMENTEL, David et al. Economic and environmental benefits of biodiversity. Brookings - SD,
Estados Unidos. BioScience, v. 47, n. 11, p. 747-757, Dez. 1997. Disponível em:
<https://doi.org/10.2307/1313097>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

PRIMAVESI, Ana. Cartilha do solo. São Paulo - SP, Brasil: Fundação Mokiti Okada, p. 177, 2006.
Disponível em:
<https://anamariaprimavesi.com.br/wp-content/uploads/2020/01/Cartilha-do-Solo-Como-reconhecer-
e-sanar-seus-problemas.pdf>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

PRIMAVESI, Ana et al. Manejo ecologico del suelo: La agricultura en regiones tropicales. 5ª ed.
Buenos Aires - BA, Argentina, Librería EL ATENEO, 1984. Disponível em:
<https://anamariaprimavesi.com.br/wp-content/uploads/2022/11/Manejo-Ecologico-del-Suelo.pdf>.
Acesso em: <05 jul. 2023>.

PRIMAVESI, Ana. Manual do solo vivo: solo sadio, planta sadia, ser humano sadio. 1ª Edição. São
Paulo - SP, Brasil. Expressão Popular, 2016.

RIBEIRO, Luana Ramos Passos. Efeitos de plantas de cobertura e da adubação nitrogenada nas
frações da matéria orgânica do solo e na produtividade do milho. Orientadora: Arminda Moreira
de Carvalho. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília (UnB), Brasília - DF, Brasil, 2016.
Disponível em: <http://www.realp.unb.br/jspui/handle/10482/21549>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

SALINAS, Silvio R.A. O conceito de entropia e a seta do tempo dos processos naturais. Palestra,
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo - SP, Brasil, Jun 2015. Disponível em:
<https://repositorio.ifsc.usp.br/handle/RIIFSC/3317>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

47
SILVA, Nina Morena Rêgo Muniz da. Diversidade microbiana e microbiota solubilizadora de
fosfato em solos de cafezais orgânicos em sistemas agroflorestais e a pleno sol. Orientador:
Raphael Bragança Alves Fernandes. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em
Agroecologia, Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa - MG,
Brasil, 2017. Disponível em: <http://www.sbicafe.ufv.br/handle/123456789/11181>. Acesso em: <05
jul. 2023>.

SNYDER, F. W. Influence of the seed ball on speed of germination of sugar beet seeds. Denver -
CO, Estados Unidos. J Am Soc Sugar Beet Technol, v. 10, p. 513-20, Jul. 1959. Disponível em:
<https://bsdf-assbt.org/wp-content/uploads/2017/04/JSBRVol10No6P513to520InfluenceoftheSeedbal
lonSpeedofGerminationofSugarBeetsSeeds.pdf>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

TAMIL, C.; JERLIN, R.; RAJA, K. Standardization of seed ball technique in subabul (Leucaena
leucocephala) for improving the green coverage in forest areas. Coimbatore - TN, Índia.
Multilogic in Science, v. 10, p. 644-647, Abr. 2020. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/340477504_STANDARDIZATION_OF_SEED_BALL_T
ECHNIQUE_IN_SUBABUL_LEUCAENA_LEUCOCEPHALA_FOR_IMPROVING_THE_GREE
N_COVERAGE_IN_FOREST_AREAS>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

TAVARES, Nelson Salgado. Respostas ecofisiológicas e bioquímicas de duas cultivares de tomate


(Lycopersicum esculentum mill.) cultivadas em sistemas de Agricultura Natural e convencional.
Orientador: Prof. Dr. José Aires Ventura. Tese de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em
Biologia Vegetal, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES), Vitória - ES, Brasil, 2006. Disponível em: <http://repositorio.ufes.br/handle/10/9953>.
Acesso em: <05 jul. 2023>.

VILANOVA, Clélio; SILVA JÚNIOR, Carlos Dias da. Avaliação da trofobiose quanto às respostas
ecofisiológicas e bioquímicas de couve e pimentão, sob cultivos orgânico e convencional. Rio de
Janeiro - RJ, Brasil. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 5, n. 1, p. 127-137, Fev. 2010. Disponível
em: <https://orgprints.org/id/eprint/25046/1/Vilanova_Avalia%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em:
<05 jul. 2023>.

48
VON LIEBIG, Justus Freiherr; PLAYFAIR, Lyon Playfair Baron. Organic chemistry in its
applications to agriculture and physiology. Impressão de J. Owen, 1841. Cambridge, MA, Estados
Unidos. Harvard College Library, 1841. Disponível em:
<https://play.google.com/store/books/details?id=U5wEAAAAYAAJ&rdid=book-U5wEAAAAYAAJ
&rdot=1&pli=1>. Acesso em: <05 jul. 2023>.

49

Você também pode gostar