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Universidade Federal do Ceará

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Design (PPGAUD)


AUD0025 Tópicos Especiais V Cidade, Planejamento e Informação

Equipe (B): Cicera Sarah Moura Farias (pós-graduação), Glaudemias Grangeiro Júnior
(pós-graduação), Milena Verçosa (graduação),Virna Weber (graduação)

Resenha: BRENNER, Neil. Revolução Urbana?. In: BRENNER, Neil. Espaços da


urbanização: o urbano a partir da teoria crítica. Rio de Janeiro: Letra Capital:
Observatório das Metrópoles, 2018. Cap. 10. p. 233-259.

Ao longo do capítulo intitulado ‘Revolução Urbana?’, Brenner (2018) busca questionar as


bases conceituais pertinentes às disciplinas que tomam o urbano como objeto de estudo,
especificamente no que tange o processo de urbanização. Para isso, o autor toma como base
teórica a discussão desenvolvida por Henri Lefebvre no seu livro Revolução Urbana,
aprofundando uma outra perspectiva de se encarar a cidade e o processo de urbanização,
dentro do sistema socioeconômico capitalista, capaz de estabelecer ligações com seu entorno
(entendido aqui como tudo aquilo que tradicionalmente não é considerado cidade) de forma a
atender necessidades e criar um entrelaçamento de malhas urbanas. Esse entrelaçamento se
estende amplamente por paisagens e territórios de todo o planeta, concretizando a chamada
urbanização planetária. O processo de urbanização quando elevado à escala planetária
evidência "tudo mais que possa ser diretamente operacionalizado como insumo à sede voraz
do crescimento industrial capitalista" (BRENNER,2018, p.255)

Segundo Brenner, o desenvolvimento epistemológico sobre os processos de urbanização,


cristalizou a cidade (e suas variações lexicais) como objeto intrínseco e central ao debate,
passando a ser um conceito tão palpável e fixado no imaginário que a problemática urbana
continua a ser pensada somente quando associada diretamente às cidades. A cidade
apresenta-se como um conceito estritamente definido e consolidado no que tange a
perspectiva urbana. Através dela se formularam novos conceitos como metrópole,
megalópole, cidade-região e etc, que avançam na classificação e diferenciação das cidades de
acordo com seus usos, tamanhos e relações com cidades do entorno.

Contudo, o autor salienta que essas determinações e as consequências da produção material


da cidade são hoje criticadas por meio de debates que ocorrem dentro das principais teorias e
tradições das pesquisas urbanas, já que esse conceito cristalizado parece divergir ou não
consegue abarcar as transformações políticas, econômicas, socioculturais e demográficas da
realidade urbana. Ao expor a necessidade de um nova teoria urbana, o autor critica a

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monopolização da atenção dos pesquisadores urbanos às zonas de aglomeração tradicionais, a
definição de cidade a partir de uma limiar numérico populacional, que atualmente é o
indicador mais difundido institucionalmente para definir a mudança do rural para o urbano, e
ao estudo da urbanização somente como sinônimo de crescimento, seja ele físico, de
densidade ou de diversidade.

Brenner defende que o processo de urbanização estão se desdobrando para além dos grandes
centros de aglomeração, as cidades, e traz o conceito de paisagens operacionais como locais
que apesar de não dispor de densidades populacionais e infraestruturas comumente
associadas ao centros urbanos, desempenham funções estratégicas e essenciais de suporte às
cidades, e que tendem a ser ignoradas pelos estudiosos urbanos por serem consideradas
tradicionalmente como o não-urbano ou a não-cidade.

Para compreender a urbanização planetária, o autor propõe uma base analítica teórica a partir
da distinção conceitual entre o processo de urbanização concentrada e extensiva. A
urbanização concentrada refere-se "à formação permanente e, ao mesmo tempo, à
reestruturação contínua de aglomerações relativamente densas" (BRENNER, 2018, p. 247).
Enquadram-se nesta dinâmica,por exemplo, as cidades, cidades-região, megacidades e áreas
metropolitanas que nos estudos urbanos são tradicionalmente observadas como “produto de
sucessivas formações históricas da organização territorial”(BRENNER, 2018, p. 247)

Já a urbanização extensiva refere-se a produção e reorganização permanente de espaços que


sirvam de apoio à dinâmica econômica das aglomerações espaciais. É deste processo que
surgem as paisagens operacionais, espaços continuamente operacionalizados e redesenhados
para atender a reprodução das cidades sob o capitalismo do início do século XXI, em um
desenvolvimento profundamente desigual e conflituoso, que se estendem por todo planeta, no
espaço terrestre, atmosférico e aquático. Enquadram-se nesta dinâmica, por exemplo, locais
sistematicamente organizados para extração de recursos e eliminação de resíduos.

Esta nova compreensão da urbanização também implica na necessidade de novas


representações que contestem as representações tradicionais do espaço urbano, e elaborem
interpretações críticas e reflexivas das paisagens emergentes de urbanização planetária que
são multifacetada, variadas e estão em contínua transformação de modo que seja possível
visualizar “um modelo diferente de urbanização uma alter-urbanizaçao, orientada para a

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reapropriação coletiva e gestão democrática do espaço planetário como obra da espécie
humana" (BRENNER,2018, p. 258).

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