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Universidade Federal do Piauí

Centro de Educação Aberta e a Distância

Sociologia
aplicada a
administração

Carlos Antonio Mendes de Carvalho Buenos Ayres


Ministério da Educação - MEC
Universidade Aberta do Brasil - UAB
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Universidade Aberta do Piauí - UAPI
Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD

Sociologia aplicada a
administração

Carlos Antonio Mendes de Carvalho Buenos Ayres


PRESIDENTE DA REPÚBLICA Dilma Vana Rousseff Linhares
MINISTRO DA EDUCAÇÃO Aloizio Mercadante
GOVERNADOR DO ESTADO Wilson Nunes Martins
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REVISÃO GRÁFICA José Barbosa da Silva Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima
Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho

A298s Buenos Ayres, Carlos Antonio Mendes de Carvalho


Sociologia Aplicada à Administração. / Carlos Antonio Mendes de
Carvalho Buenos Ayres .- Teresina: 2013

112f.
ISBN: 978-85-7463-673-3

Monografia ( Graduação em Administração ) – Universidade Federal


o Piauí, Teresina,2013.
Orientação: Prof.

1 – Sociologia Organizacional. 2. Educação a Distância. I. Título.

CDD 302.35

© 2013. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados.

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É proibida a venda deste material.
O texto-guia que ora apresentamos à comunidade dos alunos da
disciplina Sociologia aplicada à administração, do curso virtual em administração,
constitui uma análise eclética dos fenômenos sociais que transcorrem no âmbito
das organizações, sejam elas formais ou informais. A Unidade 1 principia-se
por uma sucinta análise das circunstâncias históricas que culminaram com
o aparecimento das ciências sociais em geral, e da sociologia em particular,
dando conta da multiplicidade de seus recortes cognitivos, com destaque para
a sociologia aplicada à administração (ou sociologia das organizações). Esta
última é lastreada pela compreensão das inevitáveis motivações orientadoras
das condutas das pessoas em relação à satisfação de suas necessidades
eminentemente humanas.
O conteúdo da Unidade 2 versa sobre questões complementares ao
conteúdo da Unidade 1, enfatizando, então, que, de modo análogo ao que
transcorre no domínio mais geral da sociedade em que vivemos, também
observamos no contexto interno das organizações os mesmos fatores que
tendem a provocar instabilidades nos fundamentos de coesão e integração dos
componentes humanos que as compõem, assim como as suas condições de
adaptação às vicissitudes de uma sociedade centrada no mercado e exposta a
constantes turbulências.
Na Unidade 3, observaremos que as turbulências acima aludidas
resultam de uma concorrência desenfreada entre as empresas, provocando
incertezas e imprevisibilidades, o que demanda soluções que são vitais à sua
sobrevivência
enquanto subsistema social, por sua vez jungida a um sistema social que
o delimita e o condiciona, além da ampliação da divisão social do trabalho, na
esteira do incremento das práticas econômicas no âmbito do mercado. E neste
último, a busca pelo lucro estimula a proliferação de empresas que passam a
ofertar bens e serviços mais baratos e de maior qualidade. Em função disso, a
sociedade torna-se um conjunto amplo de complexas estruturas organizacionais
que tendem a multiplicar-se por suas arenas constitutivas, além de exibir uma
engenhosa e intrincada dinâmica de funcionamento. É na esteira, pois, dessa
dinâmica de funcionamento, que surgem as condições objetivas indispensáveis
à intervenção do Estado no mercado.
A Unidade 4, por sua vez, procura explicar as condições em que ocorre a
intervenção do Estado no mercado, lançando mão de duas outras instituições –
o governo e a administração pública. Entender como o Estado opera através do
governo e da administração pública deve ser uma tarefa central nos estudos das
ciências administrativas, sobretudo em um mundo cada vez mais marcado pela
globalização dos mercados. Daí a inclusão de uma unidade especificamente
voltada para o tema em apreço.
UNIDADE 1
9 A SOCIOLOGIA E O ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA

1.1 Contexto histórico em que ocorreu o surgimento da sociologia....... 9


1.2 O objeto de estudo da sociologia.................................................... 15
1.3 Instituição social: conceito e funções.............................................. 22
1.4 A sobrevivência da espécie e o imperativo da relação social.......... 24
1.5 A incontornável sociabilidade como condição de
sobrevivência da espécie humana......................................................... 28
1.6 A produção dos meios necessários à sobrevivência histórica
do homem............................................................................................ 30

UNIDADE 2
33 INDIVÍDUO E SOCIEDADE

2.1 Indivíduo e sociedade...................................................................... 35


2.2 Socialização e papel social............................................................... 40
2.2.1 Construção da Ordem Social e Papéis Sociais......................... 43
2.2.2 As Instituições e os Papéis Sociais........................................... 45
2.3 Posição social e status..................................................................... 45
2.4 Os processos sociais........................................................................ 49
2.5 Cultura e sociedade......................................................................... 51
2.5.1 Cultura Organizacional............................................................ 54
UNIDADE 3
57 SOCIEDADE, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO

3.1 As organizações............................................................................... 59
3.1.1 Estrutura das Organizações..................................................... 61
3.1.2 As Organizações e seu Contexto Socioeconômico................... 66
3.1.3 Mudança nas Estruturas das Organizações............................. 68
3.1.4 Poder e Liderança nas Organizações....................................... 72
3.2 As Empresas enquanto grupos organizados.................................... 75
3.2.1 As Empresas e a Gestão do Conhecimento............................. 78

UNIDADE 3
87 SOCIEDADE, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO

4.1 As organizações governamentais.....................................................89


4.1.1 Estado Moderno.......................................................................90
4.1.2 Governo....................................................................................93
4.1.3 Administração Pública..............................................................94
4.1.3.1 A Nova Administração Pública.........................................96
4.2 Eestadooe e Sociedade.....................................................................98
4.3 Reforma do estado e reforma administrativa.................................100
4.4 Globalização, Neoliberalismo e Políticas Públicas..........................102
UNIDADE 1
Sociologia e o Advento da
Sociedade Moderna

Resumindo
Esta unidade principia-se pela apresentação sucinta do contexto histórico em que ocorreu o surgimento
da sociologia. Discorre-se sobre os possíveis recortes cognitivos que a Sociologia faz da sociedade, ao
se ocupar do estudo acerca da diversidade das inter-relações sociais no âmbito do processo vital de
satisfação das necessidades humanas, assim como na determinação das causas e efeitos de tal processo
sobre a própria sociedade. Ao atribuir uma esmerada atenção aos desdobramentos das relações sociais
e suas motivações básicas no interior das organizações, essa empreitada passa a se constituir na vocação
intelectual da Sociologia Aplicada à Administração, ou das Organizações.
A SOCIOLOGIA E O ADVENTO
DA SOCIEDADE MODERNA

1. Contexto histórico em que surge a sociologia

No transcurso da Idade Moderna, o processo histórico caracterizou-se


pela secularização do pensamento social em relação ao predomínio ideológico
e sociocultural da hegemonia eclesiástico-feudal. Esse processo se traduz
pelo declínio da influência exercida pelas chamadas concepções teocêntricas
propugnadas pela Igreja Católica, ou seja, aquelas formas de percepção da
realidade empírica baseada em interpretações teológicas cuja codificação se
circunscreve ao direito canônico e se legitima como critério de verdade por força
da autoridade eclesiástica. Uma vez livre dessa hegemonia, o conhecimento
humano em seus múltiplos ramo, encontrou condições plenas para desabrochar,
graças ao movimento iluminista, cuja expressão maior, o racionalismo, ensejou
o desenvolvimento da filosofia e da razão crítica.
O Iluminismo assinala o movimento que se estende do século XVII
ao XVIII e que se caracteriza pelo afastamento de todo e qualquer recurso às
concepções metafísicas e ao julgamento da tradição, aliado à crença na aptidão
intelectual humana de exercer um domínio efetivo sobre a realidade concreta
circundante, objetivando a sua transformação. Em essência, tal concepção de Immanuel Kant (1724-
mundo estendeu-se rumo à ética, à política, à religião, à filosofia, à lei, à história. 1804), aquarela de
Gottlieb Doepler, 1791:
O racionalismo, por sua vez, consiste na construção doutrinária suprema do
a fórmula sapere aude,
iluminismo segundo a qual a “vida social e individual pode ser interpretada (saber ousar) é o lema
e regulada em termos de um conjunto de princípios auto-evidentes do iluminismo. A partir
diretamente úteis à razão” (MARTINDALE, 1960, p. 30). Esse movimento daí o mundo é colocado
(iluminismo) e respectiva expressão teórico-conceptual (racionalismo) marcam a serviço da razão
humano – numa palavra,
a secularização do pensamento social ocidental e se inscreve nos quadros de
do conhecimento.
uma estrutura sócio-cultural, política e econômica mundial que determina uma
nova etapa no processo de maturação material e intelectual da espécie humana.

Sociologia aplicada a administração 11


O racionalismo exprime a postura emancipatória de uma classe média
emergente (a classe burguesa) que coloca em campos opostos: de um lado, a
Igreja, o absolutismo, o mercantilismo; e de outro lado, a filosofia e a ciência,
o iluminismo francês, o liberalismo, respectivamente. E seu caráter semântico
variava, a princípio, conforme a mudança na posição social da referida classe
média. Decorrem daí os inúmeros significados históricos que são relativamente
comuns ao racionalismo e ao naturismo do século XVIII, a saber:

Os possíveis significados históricos associados ao racionalismo e ao naturismo


do século XVIII:
• A razão é a propriedade universalmente distinta do homem;
• A natureza humana é a mesma em toda parte;
• A orientação ideal da espécie humana é a realização da humanidade;
• As instituições são feitas para os homens, e não os homens para as instituições;
• O progresso é a lei central da sociedade.

De qualquer maneira, o racionalismo do século XIX desponta como o


resultado da transição do pensamento filosófico ao estabelecimento da ciência
social moderna, cujos indícios e possibilidades haviam sido detectados por
Francis Bacon, e mais tarde por George Berkeley e sua física social. Entretanto,
a consolidação da forma de conhecimento
postulado pela ciência social somente seria possibilitada uma vez
satisfeitas duas condições básicas que, por sua vez, lhe garantiria a sua
emancipação cognitiva:

1º) A compreensão de que os fenômenos a serem investigados teriam de


estar situados no domínio das relações sociais efetivas, segundo a lógica
sequencial de causa e efeito circunscrita ao mundo da natureza (naturismo)
e que;

2º) Os fatos da realidade objetiva devem ser apreciados tendo como ponto
de vista prévio o afastamento das ideias ou juízos de valores preconcebidos
(os idola e as praeanotiones).

Assim, o iluminismo, por um lado, ao estabelecer o império da razão, se


constituiu a partir de condições subjetivas e objetivas precedentes favoráveis ao
seu desabrochamento – a prova racional de demonstração lógica e da verdade

12 UNIDADE 1
matemática; a Renascença e a Reforma Protestante. O seu desenlace, por outro
lado, é multifário à medida que o processo concreto de constituição histórico-
estrutural se desenvolve, ainda que de forma desigual, nos diversos setores da
produção material e intelectual humana. O que determina tal desigualdade é
são as possibilidades criadas pelo avanço do conhecimento técnico racional,
conforme necessidade de expansão e acumulação ampliada nos termos da
produção capitalista.

Vaticano: multidão de fiéis na Praça São Pedro, símbolo do poder religioso.


Aqui, a verdade era apregoada com base no critério da autoridade da Igreja
Católica (www.vatican.va/mulimedia/wydphoto_po.htm).

Com o advento da ciência moderna, as concepções teológicas dão lugar às


concepções científicas.
Agora, o fundamental é a constatação concreta dos fenômenos físico-químicos
e sociais, ao largo das especulações filosóficas centradas na doutrina e nos
dogmas da Igreja Católica.
Tal fenômeno é concebido como a secularização do pensamento ocidental. Trata-
se do desencantamento do mundo, provocado pela destituição dos significados
mágico-religiosos do mundo por parte da ciência.

Sociologia aplicada a administração 13


Seja como for, se o século XVIII foi o marco histórico-cronológico em
que o racionalismo se afirma, o século XIX, em compensação, assinalou a
reação conservadora a esse mesmo racionalismo. E foi no bojo do pensamento
conservador, como uma necessidade de auto-explicação da sociedade
capitalista, que surgiu a sociologia, ainda que de forma secularizada – e não
um mero renascimento ideológico –, o que não a isenta de compromisso com
o conservadorismo. Esse compromisso, por seu turno, é identificado, segundo
Robert Nisbet, através de cinco ideias-elementos conservadoras
que distinguem a sociologia das outras ciências sociais. Tais ideias-elementos
conservadoras correspondem, contraditoriamente, a um número igual de
ideias-elementos do pensamento liberal-burguês da etapa inicial de formação
da sociedade capitalista, nos quadros de uma tipologia dicotômica, a saber:
comunidade/sociedade, autoridade/poder, status/classe, sagrado/profano,
alienação/progresso. O conjunto dessas ideias, pois, permeia o pensamento
sociológico como suas concepções constitutivas. Com isso, conclui-se que a
sociologia se revela, enquanto projeto cognitivo, marcada por uma ambiguidade
resultante de seu consubstancial corpo teórico, que, por sua vez, se formou a

Máquina a vapor
partir dos resíduos tradicionalista da ordem feudal em transição para a nova
utilizada nas minas de ordem socioeconômica que se anuncia – o capitalismo enquanto substrato
carvão no século XVIII. econômico da burguesia.
(www.historianet.com. Mas a referência ao capitalismo – enquanto resultante dos processos
br/conteudo/default.
correlatos de industrialização e urbanização sem precedentes na história
aspx?codigo=30)
da humanidade – não pode prescindir de um outro ingente processo de
transformação histórica, a saber, aquele que se consubstanciou na formação do
Estado moderno. Ocorre que o Estado moderno é um Estado racional, uma vez
que se apoia num direito racional e numa burocracia especializada. Logo, tais
atributos constituem condições indispensáveis à própria existência do sistema
capitalista, entendido este como doutrina e como formação social e econômica,
já que os direitos de propriedades não poderiam ficar a mercê de interpretações
alicerçadas em concepções “mágico-rituais”, e sim em “um direito que se
pudesse calcular como uma máquina” (WEBER, s. d.). Em outras palavras,
direito material e capitalismo são incompatíveis. Daí a afirmação e consolidação
do direito formal na condição de fundamento normativo e fiduciário daquilo que
hoje é chamado nos meios empresariais de marco regulatório14.
14 Conjunto de atos legais instituídos pelo poder público que servem para nortear e disciplinar as
ações das empresas quanto às mais diversas modalidades de exploração mercantil, assim como as
condições e garantias de oferta de bens e serviços e usufruto de rendimentos decorrentes de sua
atividade econômica. “A regulação identifica-se com um conjunto de regras ou ações específicas
impostas pelas agências administrativas que interferem diretamente no mecanismo de alocação
de mercado ou, indiretamente, através da alteração nas decisões das ofertas das firmas e das
demandas dos consumidores” (SPULBER apud GUTIERREZ, 1998, p. 2).

14 UNIDADE 1
1.2. O objeto de estudo da sociologia

A sociologia é uma disciplina relativamente independente e dotada


de estatuto cognitivo e técnico-metodológico próprio. Seu objeto de estudo é
discorrer sobre a diversidade das inter-relações sociais que ocasionam diversas
formas de sociabilidades que, por sua vez, são engendradas no âmbito do
processo vital de satisfação das necessidades humanas, através do tempo,
assim como na determinação das causas e efeitos de tal processo, uma vez que
os fenômenos que o desencadeia (processo vital de satisfação das necessidades
humanas) são fundamentais na explicação, compreensão e interpretação das
transformações sociais, econômicas, políticas e culturais que incidem sobre a
estrutura da sociedade como um todo.
O arcabouço teórico da sociologia é constituído por contribuições teóricas
provenientes das mais díspares fontes sistemáticas de compreensão da vida
em sociedade, e às quais chamamos de escolas de pensamento sociológico. O
conteúdo teórico postulado por tais escolas se manifesta até mesmo nas análises
feitas pelas subdisciplinas da sociologia. Entre as muitas escolas existentes,
duas delas despertam uma esmerada atenção por representar alternativas de
compreensão sociológicas na confrontação de modelos de realidade que por
sua vez fundamentam a própria ideologia em que se apoiam as concepções
liberais e não liberais, exprimindo, assim, filosofias, crenças, cosmovisões,
pressupostos e concepções diametralmente opostas. – a histórico-crítica, ou
marxista; e a positivista-funcionalista15.

Embora o estudo da sociedade humana não seja de inteira exclusividade da


sociologia, a verdade é que esta disciplina tradicionalmente se dedica ao exame
e diagnóstico da sociedade humana segundo recortes específicos. Daí as
chamadas subdisciplinas, tais como a sociologia da família, do conhecimento,
da religião, das funções públicas, das organizações etc.

A análise sociológica de matriz histórico-crítica se baseia na ideia


segundo a qual a realidade última da sociedade é marcada pelo conflito. E esse
conflito se manifesta com mais nitidez no decurso do processo de estratificação
social compatível com o sistema capitalista, a chamada luta de classes. Assim
15 Ambas as escolas de pensamento sociológico aqui destacadas representam dois modos
extremamente distintos de encarar a realidade e sua perspectiva de transformação. Configuram
pólos de entendimento da realidade social entre os quais perfilam as demais abordagens teórico-
sociológicas.

Sociologia aplicada a administração 15


sendo, os processos econômicos vigentes na sociedade determinam a realidade
básica da vida social como lastreada pelo conflito. Igualmente, diz-se que
a organização do processo de produção capitalista é regida pela alienação
do homem consigo mesmo, dificultando a solidariedade e favorecendo, em
detrimento da cooperação humana, a intensificação do processo de competição
entre os indivíduos na busca pela garantia dos suprimentos que carecem. A
resolução desse conflito se dá pela transformação concreta da humanidade via
luta de classes, aqui e agora, de modo a propiciar a passagem do reino da
necessidade para o reino da liberdade.16
A contrapelo da formulação teórica histórico-critica acerca dos
mecanismos de transformação social da realidade nossa de cada dia, a
formulação funcionalista defende a ideia de que o processo de satisfação das
necessidades experimentadas pelas sociedades humanas condiciona a forma
de apresentação dos modelos de padrões de comportamento na sociedade, e
esta, por sua vez, determina a emergência do consenso como realidade básica
da vida em sociedade. Ao considerar a realidade básica da vida em sociedade
como sendo constituída por consensos, a corrente funcionalista propugna pela
proposição segundo a qual a divisão social do trabalho (estrutura de papéis)
no “chão da fábrica” é condição indispensável ao estímulo à solidariedade
ou harmonia social; e não o contrário, como postula ou pressupõe a corrente
sociológica histórico-crítica.
Parece que o mais logicamente razoável seria admitir uma perspectiva
sociológica que inclua o consenso e o conflito como componentes
sociopsicológicos cruciais na determinação dos processos de mudança social.
Destacando a tensão dialética existente entre consenso e conflito, é possível
Karl Heinrich Marx
afirmar que ambos fazem parte da realidade básica da vida em sociedade. A
(1818-1883), um
dos fundadores da predominância de um sobre o outro em certos momentos históricos apenas
sociologia. Dele expressam a movimentação conservadora ou progressista dos ciclos de
deriva uma corrente mudança social.
de pensamento
Embora uma definição não possa ser concebida como verdadeira ou
comumente designada
de materialismo histórico
falsa – pois o que importa é detectar a sua utilidade ou não para os propósitos
ou, simplesmente, de determinados trabalhos - convém arrolar algumas delas cuja presença
marxista. nesse trabalho serve para minimizar as dificuldades de compreensão do
(www.pt.wikipedia/org/ amplo e múltiplo objeto de estudo da sociologia. Na realidade, tais definições
wiki/karl_marx_weber)
16 Uma visão escatológica secularizada, ou seja, uma visão de mundo imaginada à imagem e
semelhança da concepção escatológica católica dos fins dos dias ou tempos, que consiste na
passagem do plano terrestre para o plano paradisíaco, condição deflagrada coma a presença
historicamente presente de Cristo em resplandecência e glória nesse mundo nosso de cada dia
(parusia).

16 UNIDADE 1
constituem perspectivas diferentes de análise – ou abordagens sociológicas
– das sociedades humanas que refletem as idiossincrasias pessoais de seus
formuladores e as influências decorrentes de suas filiações às multíplices
escolas de pensamentos sociológicos. Assim sendo, pode-se definir a sociologia
como o estudo científico dos fatos sociais que resultam das relações
que os indivíduos estabelecem entre si com vistas à satisfação de suas
necessidades materiais e espirituais de existência.
O caráter geral dessa definição enfatiza a indisfarçável natureza plural
do homem. Como todo animal inferior, o homem é um ente gregário, pois
não pode sobreviver em um ambiente desprovido de outros seres humanos.
Para a corrente
Significa dizer que a vida do homem é relacional, ou seja, o homem só sabe viver
histórico-crítica, ou
relacionando-se com outros elementos de sua própria espécie. A vida no interior marxista, a realidade
dos agrupamentos sociais pulsa graças às relações que se estabelecem entre última da sociedade
as pessoas na medida em que perseguem os seus interesses utilitaristas – seja humana é o conflito.
para fazer uma boa ou má ação, para si ou contra o outro. E nesse A ilustração acima
referente à Segunda
percurso utilitarista, fator indispensável à sua sobrevivência e
Grande Guerra Mundial
prosperidade, a ação social é a menor unidade de que se compõe – e pré- constitui um exemplo
requisito das relações do homem com outros indivíduos de sua espécie. dessa concepção.
Se o procedimento primeiro para atingir uma longa distância é dar o (www.pt.wikipedia.org/
wiki/segunda_guerra_
primeiro passo, como ensinou o filósofo chinês Lao Tsé (Lao Tsu)17, o primeiro
mundial)
movimento rumo à satisfação das necessidades do ser humano é a ação voltada
para a persecução dos objetivos de salvaguarda de sua existência no mundo. E
essa ação, por definição, somente pode ser uma ação social, visto que sempre
está orientada para os seus semelhantes ou elementos de sua própria espécie.
Daí a importância do sentido visado pelos indivíduos em suas ações intencionais,
pois elas sempre estão relacionadas, direta ou indiretamente, à conduta dos
outros indivíduos.
Por essa razão é que Weber (1991, p. 3), um dos clássicos da sociologia,
a define como “[...] ciência que pretende compreender interpretativamente a
ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos”.
O consenso, na
Mas no que consiste a ação social? Consiste numa “[...] ação que, quanto a seu
concepção da corrente
sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de positivista-funcionalista,
outros, orientando-se por este em seu curso” (Ibidem). é a realidade última da
Um exemplo dado pelo próprio Max Weber esclarece a questão em sociedade humana.
apreço. Se pelo menos um dos condutores de uma bicicleta, em face de iminência (www.oikos.pt)

de colisão com outro ciclista, tentar evitar tal acidente podemos dizer que ocorreu
uma ação social. No entanto, se ambos não perceberem a iminência de uma tal
17 “Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés [...]”.

Sociologia aplicada a administração 17


colisão e ela acontecer, não se pode dizer que houve ação social, e sim uma
ação física entre dois indivíduos. Nesse último caso, está ausente aquilo que
Saiba Mais
define se uma ação é ou não social: os sentidos visados pelos agentes. Em
A sociologia é o estudo
científico dos fatos suma, toda a ação em que as partes envolvidas reagem aos significados que
sociais que resultam captam de outro agente, ou outros agentes, expressa-se como uma interação
das relações que os social.
indivíduos estabelecem
A intensificação das relações sociais resulta do aumento da população
entre si com vistas
(densidade física), da dinamização econômica das relações de troca (densidade
à satisfação de suas
necessidades materiais moral) entre as sociedades e da divisão social do trabalho. Conforme se multiplicam
e espirituais de as relações sociais que se verificam em determinado grupo, a estrutura social
existência. torna-se cada vez mais complexa e multiplicam-se as necessidades.
O homem desenvolve os modelos de relação social padronizados
conforme a situação/necessidade com que se defronta. A adoção de uma conduta
honesta ou desonesta na obtenção de um bem ou satisfação de um capricho ou
desejo é um exemplo empírico de modelo de relação social. Os modelos de
relação social que demonstram ser eficazes e eficientes tendem a consolidar-se
à medida que são postos à prova e produzem efeitos positivos para os grupos.
Esses modelos referem-se a conjuntos de relações que se renovam no dia-a-dia;
manifestam situações que guardam entre si relações de identidade; e integram
um mesmo contexto de análise – é o que podemos chamar de instituição social.
Émile Durkheim, outro clássico da sociologia, postulava a ideia de
que a sociologia é “[...] a ciência das instituições, de sua gênese e de seu
funcionamento” (DURKHEIM apud FORACCHI e MARTINS, 1977, p. 30).
Considerando que qualquer atividade humana é susceptível de cair na
rotina, transformando-se em hábito graças a ações reiteradas que conformam um
padrão cuja reprodução ocorre com economia de esforço, e que uma instituição
Maximilian Carl Emil
pode ser concebida como todo e qualquer comportamento ou crença instituídos
Weber, (1864-1920)
jurista, economista e
pelo conjunto dos indivíduos que compõem uma dada sociedade, então, a
sociólogo, em 1894, aos definição acima, formulada por Émile Durkheim, é por demais pertinente, uma
30 anos. vez que a persistência das crenças e as repetidas condutas praticadas pelos
(www.pt.wikipedia/org/ indivíduos configuram “tipificações recíprocas de ações habituais” desenvolvidas
wiki/max_weber)
por diferentes indivíduos às quais chamamos de institucionalização. Assim,
por serem sempre compartilhadas tais tipificações constituem as instituições
(BERGER e LUCKMANN, 1985). E quando falamos que as tipificações
recíprocas de ações habituais são invariavelmente compartilhadas queremos
dizer que elas configuram – e são configuradas por – relações sociais típicas
que se moldam num padrão que tende à repetição na medida em que sejam

18 UNIDADE 1
eficazes e/ou eficientes; caso contrário tal padrão é condenado pelo desuso,
sendo substituído por outro capaz de produzir melhores resultados.
Para Bouthoul (1980, p. 105, 106; grifo nosso), há um relativo consenso
com relação a uma definição da sociologia quanto a seu objeto de estudo, a
saber:

podemos considerar quase estabelecido hoje um


acordo acerca da definição do objeto da sociologia:
a) estudo das ‘estruturas sociais’, dos elementos
constitutivos das sociedades e suas funções; b)
estudo das circunstâncias em que evoluíram certas
instituições; c) confronto dos resultados obtidos pelas
ciências sociais específicas (daí o lugar da ‘filosofia
nas ciências sociais’); d) estudo das ‘correspondências
entre as estruturas das sociedades e as estruturas
mentais dos homens que as compõem’ (papel da
psicologia social); e) estudo dos ‘fatores que contribuem
Émile Durkheim (1858-
para suscitar as transformações nas estruturas sociais’
1917).
(BOUTHOUL, 1980, p. 105,106).
(www.pt.wikipedia/
org/wiki/emile_
Para fins de compreensão do objeto de estudo da sociologia, convém durkheimeber)
classificá-la em sociologia pura, estática, dinâmica, prática e aplicada.
A sociologia pura se ocupa de questões eminentemente teóricas que
passam a integrar o seu corpo de doutrinas, sejam elas gerais (sociologia geral18)
ou específicas; são as chamadas subdisciplinas sociológicas, a saber: sociologia
da religião, da família, da política, da arte, do direito, do desenvolvimento, do
conhecimento, da administração ou das organizações etc).

“A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação de ações habituais


por tipos de atores. Dito de maneira diferente, qualquer uma dessas tipificações
é uma instituição. O que deve ser acentuado é a reciprocidade das tipificações
institucionais e o caráter típico não somente das ações mas também dos atores
nas instituições” (BERGER, 1885:79).

A sociologia estática diz respeito à parte da sociologia que estuda


exclusivamente as estruturas e os tipos de sociedades compreendidas
18 “Queiramos ou não, a sociologia geral está destinada permanecer em grande parte uma filosofia
das ciências sociais, na expressão de René Worms. Pois, é ao mesmo tempo uma introdução e
uma conclusão comum ao conjunto das ciências sociais. Isso sucede, asseverava C. Bouglé, em
virtude de a sociologia geral só trabalhar com elementos de segunda mão. Sua função é sintetizar,
interpretar e extrair, na medida do possível, algumas concepções ou leis gerais das contribuições de
outras ciências” (BOUTHOUL, 1980, p. 100; grifo do autor).

Sociologia aplicada a administração 19


sincronicamente (ao mesmo tempo), em repouso, no espaço, em uma determinada
etapa na história ou num aqui e agora (hic et nunc). Uma análise circunscrita
ao âmbito da sociologia da família, segundo os termos da sociologia estática,
procura enfatizar, por exemplo, o estudo da instituição familiar na atualidade e
em todas as partes ou culturas que a manifestam; a definição dos papéis (ou
funções) de homens e mulheres no interior da organização familiar, de maneira
a descrever e explicar os mecanismos básicos que garantem a funcionalidade
de sua estrutura social, econômica, administrativa e de poder.
A prática sociológica orientada para a explicação, compreensão e
Saiba Mais
A sociologia geral interpretação dos fenômenos sociais, no tocante à forma e à natureza das
(ciência-disciplina) é variações destes, constitui a sociologia dinâmica, cujo objeto de estudo é a
uma resultante das análise diacrônica (através do tempo) “[...] das variações das sociedades,
conclusões obtidas no
de suas formas e de seus fatores” (BOUTHOUL, 1980, p. 120). A título de
decurso das pesquisas
exemplo, uma abordagem orientada pelas regras da sociologia dinâmica
(ciência-processo) nas
mais diversas áreas da aplicada à análise da organização familiar tende a privilegiar o estudo da
vida em sociedade. instituição familiar no decurso da história, ou seja, dos tipos mais antigos aos
mais modernas de famílias; as variações na estrutura administrativa e de poder,
historicamente observadas através do tempo, no contexto interno da organização
familiar. Agora, não mais se trata de averiguar e descrever os papéis assumidos
por certos membros familiares em determinado período de tempo histórico, mas
de traçar uma linha de representação acerca das relações de poder entre os
indivíduos que desempenham os papéis de homens e de mulheres no decurso
do tempo.
A busca pela obtenção de suprimentos materiais e espirituais19 vitais à
existência de homens e mulheres determina o ritmo e a natureza de suas relações
sociais. Cabe à sociologia, pois, estudar a variação, no tempo e no espaço, do
ritmo e da natureza das condutas dos indivíduos numa dada sociedade, suas
causas e efeitos sociais, assim como averiguar tais condutas de modo a oferecer
soluções práticas que otimizem a oferta de suprimentos materiais e espirituais e
de padrões de convivência salutar à coesão interna dos grupos sociais.
A sociologia pura ou teórica se compõe de verdades científicas (ciência-
disciplina) formuladas a partir dos resultados das pesquisas sociológicas
realizadas (ciência-processo).

19 Os adjetivos adicionados ao vocábulo-substantivo ‘suprimento’, tais como suprimentos


materiais e suprimentos espirituais, obedecem à clássica classificação da cultura: material
e não material.

20 UNIDADE 1
• A sociologia dinâmica se ocupa das transformações sociais e históricas no
decurso dos tempos.
• A sociologia estática, por sua vez, focaliza as ações sociais em um dado
espaço específico de tempo, compreendendo tais ações como inseridas
num sistema social total.

A busca por respostas possibilitadas pelas pesquisas empíricas, práticas


(ciência-processo) configura o estatuto de uma sociologia prática, que, ao ser
aplicada para racionalizar (compreender para apontar soluções) as formas de
interação entre os indivíduos, é concebida como sociologia aplicada. Esta
última, quando de sua associação a um contexto administrativo, objetiva a
intervenção pragmática (orientada para resultados práticos) no âmbito formal
e informal das organizações (empresas, sindicatos, igrejas, governo, hospitais,
escolas), levando-se em consideração os papéis desempenhados pelos
elementos sociais que a integram, os significados intencionais produzidos por
estes (cultura organizacional) e a influência sofrida do meio ambiente externo.
A sociologia aplicada às organizações constitui um ramo da sociologia
que se ocupa dos aspectos estruturais e funcionais dos sistemas sociais que
normalmente chamamos de empresa ou organizações (públicas ou privadas).
Trata-se da aplicação de conceitos, teorias e princípios inerentes ao domínio da
sociologia geral ao estudo sistemático das relações sociais e da interação entre
os indivíduos e grupos no ambiente institucional da empresa ou organização.

Fábrica da EMBRAER em São José dos Campos, estado de São Paulo. A


sociologia aplicada às organizações estuda as relações de trabalho e as formas
de sociabilidade no “chão da fábrica”. (www.embraer.com.br/portugues/content/
empresa/profile.asp)

Quando falamos numa sociologia voltada para o estudo das organizações,


queremos dizer que é de importância capital analisar nelas, detidamente, as
bases relacionais, funcionais e infra-estruturais em que se apoiam as instâncias
administrativas responsáveis palas tomadas de decisões, que nada mais são
do que as respostas possíveis e/ou estratégicas assumidas pelos grupos de
executivos que representam os interesse de uma determinada organização,
seja ela pública, seja privada. E tais respostas configuram a reação intencional
dos decisores (tomadores de decisões) que visa atingir metas de produção,
comercialização e consumo (ação teleológica) compatíveis com a sobrevivência

Sociologia aplicada a administração 21


da própria organização, ou empresa, face às alterações em seu meio ecológico
circundante. Assim, temas como poder, liderança, formas de sociabilidade,
resistência às mudanças, ideologias, o respeito às regras institucionais, o
advento dos grupos informais, entre outros, fazem parte do rol de investigação
científica realizado pela sociologia aplicada à administração, ou sociologia das
organizações.
Em suma, pode-se conceber uma organização como um sistema de
relações interpessoais dinâmicas cuja compreensão depende da análise de
sua estrutura administrativa (hierarquia, organograma, rigidez ou flexibilidade
das instâncias decisórias, infraestrutura: pessoal e física), de sua cultura
Frontispício do Instituto
Dom Barreto, em organizacional (código de valores, normas de condutas e expectativas do
Teresina-PI, o melhor comportamento coletivo, significações simbólicas, atitudes e sentimentos,
colégio do Brasil ideologias, objetivos e metas) e dos processos sociais e operacionais que a
segundo o Exame
mantêm em funcionamento (papéis sociais; interações entre os indivíduos;
Nacional do Ensino
Médio (ENEM), de
formas de sociabilidade; formas e métodos de gestão da inovação e criatividade;
2006. O Instituto Dom formas e métodos de gestão do conhecimento, da informação e da comunicação;
Barreto é um exemplo de modus operandi; planejamento, organização, direção e controle).
instituição educacional.

1.3. Instituição social: conceito e funções

Como vimos em tópico anterior, para Émile Durkheim a sociologia é a


ciência que estuda a origem e o mecanismo de funcionamento das instituições. Mas
o que é uma instituição, então? É “[...] toda a crença, todo o comportamento
instituído pela coletividade [...]” (DURKHEIM apud FORACCHI e MARTINS,
1977, p. 30). Assim, falar de instituições é falar de
conjuntos de atos e ideias instituídas pela sociedade aos quais os
indivíduos se defrontam e que se lhes impõem.
Enquanto membros de uma sociedade multifacetada, somos vinculados a
várias instituições: familiar, como pai e/ou marido; educacional, como professor
e/ou aluno; econômica, como consumidor e/ou produtor; política, como candidato
e/ou simples filiado a partidos políticos; militar, como efetivo das forças armadas;
e recreativa, como membro de um clube qualquer. Desempenhamos papéis
sociais variados na medida em que participamos de distintas instituições: como
filho (instituição familiar), trabalhador (instituição econômica), militar (instituição
militar), coroinha (instituição religiosa) etc.

22 UNIDADE 1
“A realidade objetiva das instituições não fica diminuída se o indivíduo
não compreende sua finalidade ou seu mundo de operação. Pode achar
incompreensíveis grandes setores do mundo social, talvez opressivos em sua
opacidade, mas não pode deixar de considerá-los reais. Existindo as instituições
como realidade exterior, o indivíduo não as pode entender por introspecção. Tem
de ‘sair de si’ e apreender o que elas são, assim como tem de apreender o
que diz respeito à natureza. Isto é verdade, mesmo se o mundo social, como
realidade produzida pelos homens é potencialmente compreensível de um modo
que não é possível no caso do mundo natural” (BERGER, 1985, p. 86-89).

Para Berger (1977, p. 194) uma instituição pode ser definida como
“um padrão de controle, ou seja, uma programação da conduta individual
imposta pela sociedade”. Assim sendo, este autor aponta a linguagem como a
primeira instituição com a qual os indivíduos se deparam no curso de sua vida –
de criança a adulto. A linguagem é responsável pela objetivação da realidade,
ou seja, a linguagem faz com que a realidade seja compreendida como algo que
existe fora de nossas consciências, além de servir de meio operacional para que
possamos interpretar e justificar a própria existência de tal realidade. De um
modo geral, nós conhecemos o mundo à proporção que classificamos – através
da linguagem – aquilo que nele existe: árvores, animais, forças da natureza etc.
Saiba Mais
Berger (Ibidem) ensina que as instituições podem ser conhecidas a As cinco características
partir de cinco características fundamentais: fundamentais das
instituições sociais:

• Exterioridade – “As instituições são experimentadas como algo 1.exterioridade;


dotado de realidade exterior”, uma vez que se situam fora dos indivíduos, 2.objetividade;
apresentando-se como um fenômeno de natureza social que possui uma 3.coercitividade;
existência concreta, inteiramente distinta, pois, dos produtos da imaginação dos 4.autoridade moral;
indivíduos (Ibidem, p. 195).
• Objetividade – “As instituições são experimentadas como
possuidoras de objetividade”, já que existem de uma maneira muito particular;
constituem produtos exteriorizados da atividade humana (Ibidem, p. 196).
• Coercitividade – “As instituições são dotadas de força coercitiva”,
que, por sua vez, é acionada toda vez que determinadas regras sejam
desobedecidas (falar mal um idioma, sobretudo no ambiente acadêmico, é
motivo de desmoralização, repreensão ou zombaria) (Ibidem, p. 197).
• Autoridade moral – “As instituições tem uma autoridade moral”, uma
vez que, além da prerrogativa de poder exercer determinado constrangimento

Sociologia aplicada a administração 23


normativo à conduta dos indivíduos sob sua área de influência, também podem
repreendê-los moralmente (Ibidem, p. 198).
• Historicidade – “As instituições têm a qualidade da historicidade”,
Saiba Mais
pois elas possuem uma história, isto é, as instituições existem muito antes de nós
“A sociedade é um
produto humano. nascermos e continuarão a existir após a nossa ‘morte’; porém, as instituições
A sociedade é uma mudam constantemente, como tudo o mais na vida.
realidade objetiva. O
homem é um produto
Mas uma instituição também serve para denominar uma organização,
social” (BERGER, 1985,
p. 87). que, por sua vez, incluem pessoas, infraestrutura física, estratégias de ação,
cultura, processos, regras de conduta, metas e objetivos etc. E no interior das
organizações os indivíduos desempenham papéis funcionais a sua manutenção
e existência.

1.4. A sobrevivência da espécie e o imperativo da relação


social

O ser humano, a exemplo dos animais inferiores, é dotado de um poderoso


instinto gregário, que, por sua vez, o impele a produzir as mais diversas formas
de relacionamentos ou modelos de sociabilidade com base em padrões repetidos
de comportamentos. Isso conduz a um processo duradouro de constituição do
homem enquanto ente autossubsistente e criador de si próprio, ao desgarrar-se,
parcialmente, do estado de total submersão à natureza, o que equivale a dizer
que ele é o único responsável pela ingente invenção da cultura. Esta
é entendida como um fenômeno social cuja construção resulta de sua
fragilidade em relação à natureza, já que a espécie humana necessita garantir as
condições materiais e espirituais indispensáveis a sua própria sobrevivência em
um ambiente hostil, carente de domesticação. E falar de cultura significa aludir
ao momento crucial em que o homem se fez homem enquanto demiurgo de si
mesmo.
Acuado face à hostilidade do mundo circundante, eis que um dispositivo
genético previamente embutido em sua ‘natureza’ como que o aparelhou e o
tornou apto a sobreviver mesmo contando com avassaladora desvantagem
física. Assim, a história do homem obedece a uma lógica só explicada pelo
embate dialético entre sua essência genética e o mundo da natureza, que
tende, simultaneamente, a naturalizá-lo, e a ele próprio, numa ocorrência que o
impulsiona à busca de sua própria identidade.
A presença do ser humano no mundo coloca o problema de sua própria

24 UNIDADE 1
sobrevivência. A solução desse problema requer o imperativo emergencial de um
ingente e permanente processo de construção do mundo em que vive, de modo a
transformá-lo segundo suas necessidades materiais e espirituais básicas. “Toda
sociedade humana é um empreendimento de construção do mundo” (BERGER,
1985, p. 15).
A construção social do mundo é uma expressão da atividade humana
Saiba Mais
objetivada na história – o homem no mundo. Uma vez produzido e construído Diferentemente dos
pelo ser humano, o mundo do homem constitui uma realidade objetiva dotada animais inferiores, o
de um estatuto de existência que difere de todos os outros produtos da atividade ser humano, graças
à sua faculdade
humana objetivada. E este mesmo mundo exerce sobre o responsável por sua
teleológica, constrói
produção e construção uma influência decisiva que recai diretamente sobre os socialmente o seu
padrões repetidos de comportamento – é o mundo no mundo, registra a sua
Homem. Logo, se produtor (o homem) e produto (o mundo social) são própria história, atribui
mutuamente influenciados, as perspectivas de explicação e compreensão da significados às suas
ações intencionais e tem
sociedade humana só podem ocorrer através da interação dialética entre três
a consciência de sua
momentos (BERGER, 1985, p. 16): própria finitude através
da inexorabilidade da
• Exteriorização - Projeção constante do homem sobre o mundo através morte.

de atividades físicas e mentais;


• Objetivação - Conquista de uma realidade que a ele se opõe com algo
dotado de natureza exterior e distinta de seus produtores originais graças aos
produtos de tais atividades físicas e mentais;
• Interiorização - Reapropriação de tal realidade na consciência dos
homens, ou seja, a transformação do mundo objetivo em mundo subjetivo.

E esses três momentos que assinalam o processo dialético do ser-do-


homem-no-mundo implicam obrigatoriamente numa série de inter-relações do
homem: com a natureza, com os outros homens, com os animais inferiores e
consigo mesmo.
Os homens não apenas produzem e reproduzem suas condições
materiais e espirituais de existência, para parafrasear Karl Marx; não apenas,
nesse mesmo movimento, constrói e registra a sua própria história, através
de diversos meios, e a reatualiza mediante a faculdade da anamnese
(recordação) e da monumentalização física que pontifica os marcos existências
que assinalam a sua percepção e atribuição de valores estéticos, ideológicos,
políticos, econômicos, sociais, morais e religiosos (construção de monumentos
comemorativos de acontecimentos relevantes para a coletividade em geral); não

Sociologia aplicada a administração 25


apenas se projeta para o porvir e se detém perante a expectativa da inexorabilidade
da morte, ensina Hegel (apud Buenos Ayres, 2006, p. 236-237); mas também
racionaliza suas intenções e propósitos (faculdade teleológica), munindo-as
de sentido subjetivo, e as corporificam objetivamente por via de medidas de
cálculo, aponta Weber (1991, p. 15-16). Todavia suas ações sociais nem sempre
são rigorosamente refletidas, uma das razões pelas quais os eventos por eles
perpetrados e vivenciados se sucedem um tanto quanto desencontrados, de
modo a pôr em operação um conjunto incalculável de interações sociais que
impedem a predição absoluta das conseqüências de seus atos sociais. Mediado
por tais qualidades, livremente vertidas, o comportamento humano em sua
pluralidade intrínseca assume impressões e expressões específicas inerentes às
múltiplas formas de integração social, concepções e visões de mundo, técnicas
de produção econômica e de inovação tecnológica, criatividade institucional etc.
O resultado desse processo, calcado na intencionalidade dos propósitos, se
reflete nas chamadas obras da civilização. A construção da ordem social, das
mais rudimentares às mais complexas, constitui a mais engenhosa manifestação
do espírito humano.
O homem é o ser vivo mais frágil do planeta. Mas também é o mais
A vida da espécie
adaptável e o mais provido de necessidades e cuidados. Necessidade é tudo
humana depende da
sua capacidade de aquilo que nos faz falta, consciente ou inconscientemente, verdadeira ou
garantir as suas próprias falsamente, objetiva ou subjetivamente (SILVA, 2006). Devido a seu caráter
condições materiais e inacabado (o mundo do homem, diferentemente dos demais animais, é um
espirituais de existência.
mundo construído por ele mesmo) e cheio de necessidades, o homem precisa
substituir a sensação de falta pelo sentimento de satisfação. Para tanto, ele se
servirá da natureza, dos elementos de sua própria espécie e dos demais animais.
Jeremy Bentham notabilizou-se por incluir como preceito econômico o
A busca pela
calculo hedonista realizado por homens e mulheres históricos ao definir suas
sobrevivência conduz o
ser humano a maximizar escolhas racionais segundo os parâmetros antípodas do prazer e da dor.
o prazer e a minimizar Estribado em uma máxima ontológica inerente à experiência da vida humana,
a dor. originalmente de ascendência grega, esse expoente destacado da escola
econômica clássica assim erige o fundamento de seu pensamento, com a qual
principia a sua obra Introduction to the Principles of Morals and Legislation: “A
natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois senhores soberanos
- o prazer e a dor. Somente a eles cabe indicar o que devíamos fazer, como
também determinar o que deveremos fazer” (MYRDAL, 1962, p. 46; grifo do
autor).

26 UNIDADE 1
Interpretando essa máxima, significar dizer que os atores sociais, ao
realizar suas escolhas intencionais, tendem inexoravelmente a maximizar o
prazer e a minimizar a dor, ou, em outras palavras, “maximizar o saldo líquido
de prazer”. Tais atos de escolha e de decisão são impulsionados pela vontade,
a única faculdade do espírito capaz de tornar realidade o objeto do desejo, uma
vez que se projeta para o futuro, na esteira da concepção temporal linear (a
via recta) (ARENDT, 1993). Assim, a vontade é racionalmente orientada rumo à
minimização da dor, do sacrifício, do esforço, da perda, da carência, enfim, da
miséria; e, simultaneamente, na direção da maximização do prazer, do ócio, da
comodidade, do ganho, da fartura, em suma, da riqueza. Esse dualismo laico
que permeia a ação humana, na contracorrente da ética paternalista cristã,
conduz, pois, por um lado, ao cálculo racional de prazeres e dores, e, por outro,
ao repúdio à indolência, ao capricho, ao instinto, ao hábito, ao costume e às
convenções.
Por ser dependente de condições de vida que só ele mesmo pode
suprir, o homem vê-se constantemente obrigado a assegurar as condições
materiais (subsistência) e espirituais (compreensão de seu ser no mundo) de
que sua existência exige. No decurso desse empreendimento, a ação humana é
comandada pela satisfação das necessidades por suprimentos (um número de
necessidade igual à quantidade dos suprimentos requeridos, pelo menos),
fator este que garante a vida e a segurança da espécie.
A satisfação das necessidades básicas, como vimos, conduz à
multiplicação de outras necessidades. No âmbito desse processo, a ordem de
necessidades criadas pelo homem é regida por critérios norteadores de valores
que oscilam, numa linha de demarcação situada entre dois polos, dos mais
utilitaristas e tangíveis desejos de satisfação de necessidades às mais refinadas
sensações de bem-estar espiritual e às mais sutis percepções de sentido acerca
da vida20. Aqui, a ordem de necessidade em apreço é ordenada de modo a
sinalizar o grau de necessidade que os indivíduos têm por um bem de consumo,
um serviço, uma sensação de bem-estar físico ou não-físico, uma percepção de
contentamento, um sentimento de aceitação comunal, um estado de espírito:

20 A hierarquia das necessidades, bastante utilizadas nas políticas empresariais de gestão de


pessoas, constitui um conceito desenvolvido por Abraham Maslow na década de 1940 (SANTOS,
2003; SILVA, 2006). Em linhas gerais, essa concepção de Maslow deve ser compreendida mais
como uma abordagem humanística acerca dos processos inerentes à motivação humana e menos
como a constituição de um modelo susceptível de ser empiricamente testado. Além do mais,
a imagem de duas ‘torres gêmeas’ é mais adequada para apresentar o rol das necessidades
humanas concebidas por Maslow do que a imagem da pirâmide, que, por sua vez, é estranho a
sua obra (SAMPAIO, 2005). Uma das torres “[...] contém necessidades cujo mecanismo básico é a
homeostase. Uma vez gratificada, a necessidade se torna menos motivadora. A outra torre acomoda
necessidades que, quanto mais gratificadas, mais motivam a pessoa” (Ibidem).

Sociologia aplicada a administração 27


A satisfação das
necessidades básicas do
ser humano o compele 1º) necessidades fisiológicas de alimentação (fome e sede);
a obter a satisfação de 2º) necessidades de segurança (procriação e proteção anti-predadores);
outras necessidades 3º) necessidades sociais (amor/sentimento de pertença a grupos variados,
cuja obtenção demanda
participação social);
um maior grau de
esforço e de interação 4º) necessidade de autoestima (autorrealização, status, reconhecimento e
coletiva. credibilidade);
5º) necessidade de autorrealizações (maximização de potencial próprio,
enfrentamentos de desafios).

No entanto, a satisfação das necessidades empíricas dos indivíduos


nem sempre percorre essa trajetória ascendente de forma automática, uma vez
que tais necessidades tendem a se articular de uma maneira um tanto quanto
flexível e individualizado conforme a cultura, o estágio profissional e o espaço
geográfico em que vivem os indivíduos (SANTOS, 2003).

1.5. A incontornável sociabilidade como condição de


sobrevivência da espécie humana

O processo vital de satisfação das necessidades humanas pressupõe


a produção dos meios necessários a satisfação de tais necessidades. Mas isso
somente se torna possível se uma condição básica for contemplada, enquanto
premissa de toda a história humana: “a premissa de que os homens têm de
estar em condições de viver para poder ‘fazer história’”. (MARX e ENGELS,
1984, p. 31). A ação de satisfazer as primeiras necessidades, além do instrumento
de satisfação outrora obtido, determina o aparecimento de novas necessidades.
Isso ocorre na medida em que os homens reproduzem a si mesmos através da
procriação, pois “o aumento das necessidades cria novas relações sociais
e o aumento do número dos homens cria novas necessidades” (Ibidem, p.
32).
A produção da vida humana através do trabalho (produção dos meios
necessários à sua sobrevivência) e da procriação (reprodução da própria espécie
humana) – mediações de primeira ordem21 – exprime uma dupla relação: uma
21 Mediações de primeira ordem configuram as mediações primárias que se estabelecem entre
os homens e a natureza. As funções básicas de primeira ordem dizem respeito a um controle
reprodutivo da espécie compatível com os recursos disponíveis; a regulação do processo de
trabalho; a constituição de um sistema de trocas adequadas às necessidades comunitárias; a
organização, coordenação e regulação das atividades materiais e imateriais; a distribuição racional
dos recursos materiais e humanos existentes, de modo a evitar a escassez; e a elaboração de regras
de convivência social adequadas à sociabilidade humana (ANTUNES, 2002).

28 UNIDADE 1
relação natural do homem com a natureza e uma relação social entre homens
e mulheres via processos sociais associativos. Desse modo, a produção dos
meios indispensáveis à satisfação das necessidades dos seres humanos
somente pode ser concretizada na medida em que homens e mulheres históricos
se relacionem com outros homens e mulheres históricos. Daí a importância de
se verificar o modo a partir do qual as relações se institucionalizam, ou seja,
Um paradigma se
tornam-se rotineiras, constituindo um paradigma.
mantém na medida em
Dá-se o nome de paradigma, a “uma relação estruturada e invariável, que não é substituído
que tende a se repetir sempre que se busca suprimento para uma por um outro que
necessidade determinada” (GOLIAS, 2006, p. 12). Pode-se, também, definir se expressa por um
novo modo de obter
paradigma (do gr. paradeigma) como um exemplo que serve como modelo.
a satisfação das
Assim, paradigma constitui um modelo de relação baseado numa conduta necessidades via
que obteve, ou não, êxito. Exemplos: paradigma da relação fome/suprimento economia de esforço.
alimentar – deve-se
evitar o consumo de carnes gordas como fator de prevenção a
problemas cardíacos; paradigma saúde/atividade física – exercícios físicos são
fundamentais para o perfeito funcionamento dos neurônios.
O paradigma é funcional à vida dos indivíduos. Quer dizer, o paradigma
contribui com a manutenção da ordem social na medida em que as regras de
convivências sejam respeitadas: o hábito de dar um “bom dia” ou um “muito
obrigado”; o respeito ao semáforo, a prática de boas maneiras, etc. O homem é um animal
O processo ou mecanismo fundamental a partir do qual as necessidades relacional na medida
em que só pode viver
por suprimentos materiais e espirituais são satisfeitas somente podem ser
se relacionando com
viabilizados coletivamente, através das relações que homens e mulheres outros elementos de sua
estabelecem entre si, para além da (básica) reprodução da própria espécie via espécie.
procriação. A sobrevivência do ser humano depende do caráter de sua relação
com outros seres humanos. Mas o que é relação? Em termos sociológicos,
significa a compreensão de que o homem, ao relacionar-se, dirige para o mundo
exterior a sua consciência, que, por sua vez, retorna a ele enquanto suprimento
ou carência de algo.
À medida que suas necessidades são satisfeitas, ou não, o homem
desenvolve, respectivamente, tanto sentimentos de satisfação e saciedade (o
número de necessidades é igual à quantidade de suprimentos requeridos)
como sentimentos de insatisfação ou carência (a quantidade de suprimentos
requeridos é inferior ao número de necessidades).22 Logo, a constante
procura por suprimentos, que o obriga a interagir constantemente com o mundo

22 Transformada numa equação, temos a seguinte representação gráfica: N = S; N > S; N < S.

Sociologia aplicada a administração 29


exterior, é o que podemos denominar de relação.
Assim, é possível definir relação como a totalidade das permutas
que os indivíduos realizam com o seu meio circundante com a finalidade de
garantir a satisfação de suas necessidades; e relação social como a totalidade
das modalidades de interações ou formas de sociabilidades desenvolvidas
pela totalidade dos indivíduos que integram e animam uma dada sociedade,
comunidade ou organização social.
Sempre que as circunstâncias o permitam, o homem procurará se
assegurar de que a totalidade de suas necessidades seja igual ou menor do
que os suprimentos, de maneira a fazer surgir nele sentimentos de satisfação.
Uma vez sendo assegurada essa relação ((N=S) ou (N<S)), o homem tende
a desenvolver uma conduta padrão, repetindo-a, sistematicamente, para obter
resultados positivos em termos de sentimentos de satisfação. De igual modo,
desenvolverá condutas alternativas para contornar sentimentos de insatisfação.
Em outros termos, parafraseado o filósofo utilitarista e economista Jeremy
Bentham (apud (MYRDAL, 1962, p. 46), o homem tende a maximizar o prazer e
a minimizar a dor.

1.6 A produção dos meios necessários à existência histórica


do homem

É preciso explicar a influência da tecnologia no processo vital de


satisfação das necessidades humanas e na determinação das transformações
sociais, econômicas, políticas e culturais. A tecnologia surge como um produto da
objetivação do homem através do trabalho. Este último, por sua vez, aludem às
N=S (igualdade entre atividades físico-intelectuais direcionadas para a perseguição de determinadas
necessidades e
metas e/ou objetivos essenciais de vida. O produto derivado do emprego
suprimentos).
sistemático de tais atividades físico-intelectuais é o que podemos denominar de
N<S (necessidades cultura. Assim, a cultura expressa tanto o quê o homem faz, a maneira como o
menores que os faz e o modo de uso dos produtos de seu ato de fazer algo e, em última instância,
suprimentos). os princípios morais que orientam seu modo de ser humano no mundo em que
vive. Apesar de extremamente necessária à vida humana, a tecnologia é apenas
N>S (necessidades
maiores que os mais um dos recursos instituídos para garantir a sobrevivência do ser humano
suprimentos). no planeta. Logo, podemos definir tais recursos, ou meios, como tecnologia,
a saber, a totalidade dos recursos ou meios engendrados por homens e
mulheres históricos que contribuem para estandardização das relações que se
estabelecem em um determinado contexto social (SILVA, 2006).

30 UNIDADE 1
O conceito de cultura extrapola em muito os limites cognitivos impostos
pelo conceito de tecnologia. Ao lado da ciência em seus vários ramos, da filosofia,
do senso comum, do mito etc., a tecnologia constitui uma das muitas expressões
das assim chamadas obras de civilização. Ela é produto da capacidade humana A cultura expressa a
construção material e
a serviço de suas necessidades por suprimentos materiais e espirituais e de
imaterial da realidade
suas comodidades no trabalho, que, por sua vez, conduzem à ampliação de seu
humana em todos os
sentimento de satisfação. E como qualquer outra produção do gênio humano, a seus aspectos. Nesse
tecnologia, na condição de primeiro ato histórico do homem em prol de sua própria sentido, o homem
perpetuação, constitui uma das manifestações de um dos principais componentes desponta como criador
de si mesmo.
da cultura - as ideias. A cultura é geralmente concebida como a parte da natureza
inteiramente produzida pelo homem, mediante a operacionalização de um sem
número de meios físicos (ferramentas, instrumentos, máquinas) e não físicos
(conhecimentos, habilidades e competências; processos, técnicas, métodos,
estratégias e táticas de ação; dinheiro, tempo e os resultados alcançados). A
forjadura da cultura se inicia na medida em que o homem primitivo é obrigado
a desenvolver certas habilidades físicas e a fabricar instrumentos e ferramentas
(lança, arco e flecha; moinho, colheitadeira e calculadora) que facilitem o alcance O desenvolvimento
de seus objetivos existenciais (a caça, o domínio e a guerra), seja na satisfação de novos meios
de suas necessidades imediatas, seja nos modos de organização e divisão dos de satisfação das
necessidades humanas
produtos do trabalho.
implica na amplitude das
A constante luta pela sobrevivência leva o homem a revolucionar a estruturas de relações
criação de novos instrumentos e novos modos de organização do trabalho. As sociais.
consequências daí decorrentes recaem sobre a própria estrutura de relações
das sociedades em que se verificam tais transformações. Dessa maneira, os
paradigmas vigentes (modelos de relações vigentes) tendem a se modificar na
medida em que se sofisticam os meios necessários ao aumento da satisfação
das necessidades, em particular, e nos padrões – quantitativo e qualitativo – de Saiba Mais
vida, em geral. Em outras palavras, significa dizer que a intensificação do uso Consulte o sítio http://
www.wikipedia.org/.
de tais meios repercute diretamente sobre a estrutura de relações vigentes em
determinado grupo, organização ou sociedade.

Atividades

1. Identifique os principais acontecimentos históricos que são responsáveis


pelo aparecimento da sociologia enquanto disciplina independente e

Sociologia aplicada a administração 31


dotada de estatuto cognitivo próprio.
2. Discorra sobre os diversos significados históricos inerentes ao racionalismo
e ao naturismo do século XVIII.
3. Quais são as condições básicas necessárias ao surgimento das ciências
sociais? Comente cada uma delas.
4. Disserte sobre o objeto de estudo da sociologia.
5. Quais são as duas teorias sociológicas – ou escolas de pensamento
sociológico - mais importantes na análise da realidade social? Fale sobre
cada uma delas.
6. Compare as definições acerca da sociologia elaboradas por Max Weber
e Émile Durkheim.
7. Faça uma comparação entre a sociologia geral e a sociologia aplicada.
8. Pesquise as definições acerca da sociologia aplicada à administração.
9. Defina instituição social e identifique e explique as suas principais
características, segundo Peter Berger.
10. Identifique e discorra sobre a hierarquia das necessidades segundo o
pensamento de Abraham Maslow.
11. Por que dizemos que o ser humano precisa desenvolver meios de
sobrevivência, aos quais chamamos de tecnologia?
12. Discorra sobre relação social e paradigma.

32 UNIDADE 1
UNIDADE 2
Indivíduo e Sociedade

Resumindo
A unidade que se inicia ponteia de modo bem demarcado os pólos extremos da vida em sociedade
o indivíduo e a coletividade que o abarca. Nela, realiza-se uma superficial incursão nos meandros
teóricos da produção intelectual dos clássicos da Sociologia Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim.
Na seqüência, são didaticamente apresentados os principais conceitos ou categorias analíticas da
Sociologia: socialização, instituição social, papéis sociais, processos sociais, posição social (ou status),
cultura, cultura organizacional etc.. O trajeto aqui empreendido permite a aprendizagem dos conceitos
sociológicos supracitados, entendidos estes como ferramentas analíticas essenciais à compreensão da
estrutura e dinâmica das organizações.
Indivíduo e Sociedade

2.1. Indivíduo e Sociedade

Já discorremos, páginas atrás, sobre o caráter plural da existência


humana. Vimos que homens e mulheres históricos são compelidos a se
envolverem, cotidianamente, no processo de produção dos meios de satisfação
de suas necessidades – das mais básicas e tangíveis às mais sofisticadas e
intangíveis –, e que no decurso de tal processo as relações que os indivíduos
estabelecem entre si vão se intensificando exponencialmente, a ponto de
transformar continuamente os próprios modos de coexistência coletiva e seus
respectivos valores, visões sociais de mundo (ideologias), normas e práticas
sociais, padrões de comportamento etc. Porém, toda essa atividade coletiva
O primado do indivíduo
em prol da salvaguarda existencial da espécie humana propõe a questão da sobre a sociedade
dinâmica da relação indivíduo-sociedade/sociedade-indivíduo. - Na perspectiva
Quando falamos na relação indivíduo-sociedade nos referimos àquele microssociológica,
a ação individual de
conjunto de ações realizadas por uma coletividade de indivíduos e que constitui
múltiplos indivíduos
a matéria-prima e fundamento da vida em sociedade. Essa perspectiva rumo à consecução
microssociológica postula a ideia segundo a qual a construção da ordem social de seus objetivos
dar-se mediante as ações intencionais de indivíduos históricos no seu dia a dia. particulares ou coletivos
determina a construção
Nesse sentido, a sociedade é concebida como um produto da interação entre os
da ordem social; numa
indivíduos – é o primado do indivíduo sobre a sociedade. palavra; da própria
Uma formulação sistemática representativa dessa microperspectiva pode sociedade.
ser encontrada nas proposições epistemológicas14 propostas por uma corrente
de pensamento sociológico denominada de interacionismo simbólico15.
No geral, tais proposições epistemológicas fundamentam-se nas análises do
14 A epistemologia, ou teoria da ciência, alude aos fundamentos de verificação do grau de certeza
do conhecimento científico em seus vários ramos e áreas temático-cognitivas.
15 Incluem-se nessa categoria microssociológica outras escolas, tais como: a historicista, a
fenomenológica em todos os seus matizes, o compreensivismo weberiano, a hermenêutica, a
etnometodologia, a escola dramatúrgica de Irving Goffman.

Sociologia aplicada a administração 35


psicólogo social George Herbert Mead, como veremos a seguir.
Para Mead (apud HAGUETTE, 1990, p. 24-26), o pressuposto da vida
“Nós devemos
social é a cooperação empreendida pelos elementos sociais que a compõem,
reconhecer que as
atividades dos seres em conformidade com suas características biológicas, quando se trata de
humanos consistem comunidades não-humanas, em que seus modelos societários são determinados
no enfrentamento de fisiologicamente, permanecendo inalterados ao longo das sucessivas gerações,
uma seqüência de
enquanto que com relação às comunidades humanas dá-se o inverso, sendo
situações nas quais eles
que a sua fisiologia é insuficiente enquanto elemento de explicação dos modos
devem agir, e que suas
ações são construídas múltiplo de expressão societal assumidos por elas no decorrer do tempo. Nesse
à base do que eles caso a propiciação da formação social humana só se torna possível na medida
notam, de como eles em que haja, da parte de cada indivíduo com relação aos outros, uma relação
avaliam e interpretam
mútua de percepção de significados subjacentes aos atos intencionais por eles
o que eles notam, e do
tipo de linhas de ação praticados, reagindo a seu modo com base nestas intenções. Em outros termos,
projetadas que eles significa aceitar a ideia de que os fundamentos existenciais da Sociedade
mapeiam” (BLUMER dependem da aceitação, manifesta ou tácita, por parte dos componentes dessa
apud HAGUETTE, 1990,
mesma sociedade, de sentidos compartilhados, que nada mais são do que
p. 34; grifo do autor).
visões sociais de mundo (religiosas ou não), projetos coletivos (conservadores
ou progressistas), expectativas comuns (otimistas ou não); escolhas e decisões
protagonizadas por pessoas, empresas (públicas e privadas), organismos
(multilaterais ou não) e governos.
Nessa concepção, o homem é dotado de uma personalidade (ou Self),
Outros significativos =
pois ele não só age em relação aos outros – sejam os “outros significativos”
agentes primários.
(que representam os círculos mais íntimos e duradouros de relacionamento social
Outro generalizado = compartilhados por uma pessoa no decurso de sua socialização) ou o “outro
agentes secundários. generalizado” (que representa a sociedade em geral, ou, mais precisamente,
aquele conjunto mais ou menos amplo de pessoas com as quais nos relacionamos
Eu = a parte
indissociada de mim com uma menor frequência) –, mas também em relação consigo mesmo. Tal
mesmo enquanto personalidade é engendrada e desenvolvida a partir do processo de socialização
indivíduo. inerente a qualquer sociedade, e sem a qual ela jamais poderia existir16. Assim, a
personalidade é resultante de um processo social interno aos próprios indivíduos
Me = parte do indivíduo
que vivem em interação constante com seu meio ambiente, e que compreende
moldada pela sociedade
o “Eu” – que diz respeito ao aspecto irrefletido de cada um de nós, em virtude
de sermos movidos a impulsos instintivos – e o “Me – que corresponde à parte
íntima de nós todos, que é moldada pela sociedade graças às introjeções de
valores genuinamente socioculturais.
A personalidade das pessoas, pois, é um produto do processo de
16 Os conceitos “outros significativos” e “outro generalizado” são de autoria de George Herbert
Mead.

36 UNIDADE 2
socialização. Logo, por essa razão, ela só pode emergir em uma sociedade em
que as pessoas se comunicam e travam relações e intercâmbios diplomáticos, “Como um self pode
surgir somente em
comerciais, culturais, regulatórios; e celebram e cumprem (ou não) acordos,
uma sociedade onde
convenções e contratos etc. Compõe-se do Eu (conservador) e do Me haja comunicação, da
(progressista), e se alimenta da tensão constante existente entre eles quanto mesma forma a mente
às escolhas e às tomadas de decisão. De todo modo, a personalidade - Self - é só pode emergir em um
pré-condição ao surgimento da Mente. self ou personalidade
dentro da qual esta
A mente, por seu turno, forma-se e desenvolve-se na medida em que
conversação de atitudes
os indivíduos se relacionam com eles mesmos mediante o uso de símbolos ou participação social
significantes compartilhados. Assim, o surgimento da mente não pode prescindir toma lugar. É esta
da existência de uma personalidade e sua capacidade de viabilizar uma conversação, esta
interação simbólica,
comunicação intrapessoal, ou seja, uma comunicação, ou conversa, entre
interposta como uma
nós conosco mesmos. Trata-se do dois-em-um de Sócrates: eu conversando parte integral do
comigo mesmo, ponderando acerca de meus acertos ou erros, ou ambos. Esse ato, que constitui a
constante diálogo do homem com ele mesmo constitui um pré-requisito para mente” (MEAD apud
HAGUETTE, 1990, p.
a vida em sociedade. Ele permite que os significados culturais criados pelos
29).
indivíduos, grupos e sociedades em interação constante sejam aceitos como
parte do arsenal de conhecimentos, crenças e memórias de práticas e condutas
sociais que cada um de nós trás consigo – é o que podemos chamar de nosso
“Não é verdade que são
background.
as regras que criam e
A mente, como produto direto da intercomunicação social, expressa sustentam a vida em
tanto o que nós somos e temos de mais íntimo em nosso interior pessoal quanto grupo, mas, ao contrário,
o que nós permitimos que seja exibido (simulacro, justificado por razões de foro é o processo social de
vida grupal que cria
íntimo ou razões de Estado, por exemplo) no cotidiano do jogo do contato e
e mantém as regras”
relações sociais. A personalidade e a mente, então, constituem os mecanismos
(HAGUETTE, 1990, p.
fisiopsicológicos indispensáveis ao processo de socialização das pessoas 35).
(trataremos do tema mais adiante).
Simplificando a abordagem do interacionismo simbólico no âmbito
de relação indivíduo-sociedade, devemos levar em conta três princípios
elementares que lhe são de alta estima17: a) a ação do homem frente às coisas
ou circunstâncias encontradas e vividas no mundo circundante, em seu aspecto
físico e social, funda-se no sentido que tais coisas evocam em sua mente; b)
o sentido que estas coisas despertam na mente dos indivíduos é produzido
socialmente quando eles entram em relação uns com os outros; c) esses
mesmos sentidos, que são frutos da interação humana, tendem a modificar-
se em função do processo de interpretação suscitado pelas novas situações
compartilhadas pelos indivíduos, em virtude de desenvolverem atividades
17 Essa classificação é reconhecida como de autoria de Herbert Blumer.

Sociologia aplicada a administração 37


diversas – à proporção que os sentidos mudam, muda também o mundo
dos indivíduos.
A título de enquadramento analítico das proposições teóricas contidas
na abordagem da relação indivíduo-sociedade em sua interface com as cinco
maiores abordagens da relação micro-macro, segundo Alexander (1987b, p. 14),
cujo quadro é apresentado mais adiante, é possível conciliar a primeira opção
teórica – “Indivíduos decididamente racionais criam a sociedade através de
atos contingentes de liberdade” (Individualismo instrumental) - com a segunda
– “Indivíduos intérpretes criam a sociedade através de atos contingentes de
liberdade” (Individualismo interpretativo).
O PRIMADO DA A relação sociedade-indivíduo inverte a lógica teórica acima apresentada
SOCIEDADE EM em linhas gerais. A lógica teórica em apreço, numa macro-perspectiva sociológica,
RELAÇÃO AO
supõe que a ação dos indivíduos resulta das determinações gerais ditadas pelos
INDIVÍDUO.
Na perspectiva
acontecimentos de longa duração (o resultado, no plano das grandes estruturas,
macrossociológica, da interação entre os milhões de organizações ou organismos), ou seja, aqueles
a ordem social, ou macro-acontecimentos, ou acontecimentos estruturais, que quando aparece
sociedade, é quem produz efeitos ingentes sobre uma coletividade inteira –, não de um voluntarismo
determina os padrões de
exclusivo motivado e impregnado, por exemplo, do senso transformador de
condutas dos indivíduos.
uma práxis social desalienadora, como evoca a escola histórico-crítica. Assim,
a sociedade aparece aqui como o resultado de um acordo tácito entre os
indivíduos que o compelem a submeterem-se ao controle social externo, exercido
mediante delegação de responsabilidade às autoridades plenipotenciárias.
Nesse sentido, o processo individual de ação não é nada mais nada menos do
que uma resposta institucionalizada às demandas apresentadas, no mais das
vezes coercitivamente, pelos indivíduos, pelos grupos, pelas instituições, pelas
organizações, todos eles componentes representativos da sociedade em geral –
é o primado da sociedade em relação ao indivíduo.
Dentre os clássicos da sociologia (Karl Marx, Émile Durkheim e Max
Weber), apenas os dois primeiros se posicionam em favor da abordagem teórica
da relação sociedade-indivíduo, embora com uma pequena variação entre
eles. Marx, ao perfilar-se em prol da quinta posição teórica da relação micro-
macro, comunga a ideia de que “indivíduos decididamente racionais concordam
com a sociedade porque eles são forçados pelo controle social externo” –
estruturalismo objetivo (Ibidem) –, enfatizando assim o caráter impositivo
e coercitivo (institucionalização do conflito) com que se reveste a ação da
sociedade em geral em relação aos indivíduos que a integram (teoria histórico-
crítica). As concepções sociológicas de Durkheim, por sua vez, dão ênfase ao

38 UNIDADE 2
caráter conciliatório e não coercitivo (institucionalização do consenso) na relação
entre a sociedade e o indivíduo e se enquadram na quarta
opção teórica, qual seja, a de que “indivíduos socializados reproduzem
a sociedade traduzindo o meio social existente dentro do micro-domínio” –
reproducionismo (teoria positivista-funcionalista). O último dos clássicos, Max
Weber, defende uma posição intermediária entre as posições teóricas que
compõe a relação micro-macro – é a meso-análise sociológica.
Evitando-se a polêmica que certamente despertam as posições
As análises sociológicas
diametralmente opostas, ou que se pretendem opostas, sugere-se que o
de Émile Durkheim,
entendimento acerca da relação dinâmica entre o plano da ação cotidiana a exemplo de Karl
das pessoas (o simples ato de comprar um jornal ou pedir uma informação Marx, enfatizam a
qualquer) e o plano mais amplo e ‘distante’ da estrutura social (o fenômeno ideia segundo a qual
“indivíduos socializados
da transnacionalização extraterritorial do Estado na esteira do fenômeno da
reproduzem a sociedade
globalização) – entre os indivíduos e a sociedade, os funcionários e a organização, traduzindo o meio social
as partes e o todo, os elementos e o conjunto –, seja marcada pela convergência existente dentro do
de posições, senão pela garantia de uma certeza epistemológica, pelo menos microdomínio”.

em favor de um indelével critério fundado na ética do filósofo grego Aristóteles –


o termo médio entre o excesso e a falta, ou o ponto equidistante entre dois
polos diametralmente opostos.
Esse foi, pois, a trajetória percorrida pelas análises de Weber (1991)
e Alexander (1987b), ao articular os acontecimentos estruturais e de longa
maturação no tempo com as ações que se praticam no dia a dia de nossa rotina.
E o fez, vinculando descritivamente a ação de indivíduos isolados às estruturas
por meio das relações obrigatórias que eles estabelecem entre si – ação/relação/
estrutura e/ou estrutura/relação/ação.
Desse modo, Weber (1991) defende o postulado da autonomia relativa
das ações individuais contingentes frente aos imperativos da ordem social. Assim
fazendo, Weber articula duas das maiores abordagens da relação micro-macro,
a saber, a quarta opção teórica, segundo a qual “os indivíduos socializados
reproduzem a sociedade traduzindo o meio social existente dentro do
microdomínio” – reproducionismo - e a terceira, em que “indivíduos socializados
recriam a sociedade como uma força coletiva através de atos contingentes de
liberdade” - sintetismo (ALEXANDER, 1987b, p. 14).
Muitos dos estudiosos que desenvolveram pesquisas segundo os pontos
de vista microssociológico ou macrossociológico inverteram suas perspectivas de
análise. Assim, aqueles que principiaram seus estudos pela via da macroanálise,
da análise das estruturas, terminaram optando, na continuidade de seus estudos,

Sociologia aplicada a administração 39


pela troca de enfoque, adotando doravante a perspectiva microssociológico.
Alexander (1987a;1987b) descreve essa migração de perspectivas de análise
como o novo movimento teórico.
Uma vez explicitadas algumas questões teóricas de alta relevância
para a sociologia geral, convém agora tecer explicações sobre o processo
empírico de construção da ordem social, a começar pela importância estratégica
do processo de socialização para a existência e conformação da sociedade
em geral e a função dos papéis sociais desempenhados pelos indivíduos na
operacionalização e consolidação dos sistemas sociais.

AS CINCO MAIORES ABORDAGENS DA RELAÇÃO MICRO-MACRO

(Alexander, 1987b, p. 14).

1. Individualismo Indivíduos decididamente racionais criam a sociedade


instrumental através de atos contingentes de liberdade

2. Individualismo Indivíduos intérpretes criam a sociedade através de atos


interpretativo contingentes de liberdade

3. Sintetismo Indivíduos socializados recriam a sociedade como uma


força coletiva através de atos contingentes de liberdade

4. Reproducio Indivíduos socializados reproduzem a sociedade


nismo traduzindo o meio social existente dentro do
microdomínio.
5. Estruturalismo Indivíduos decididamente racionais concordam com a
objetivo sociedade porque eles são forçados pelo controle social
externo

2.2. Socialização e papel social

A existência e continuidade no tempo e no espaço da sociedade em


que vivemos supõe, obrigatoriamente, a operacionalização de mecanismos
específicos de reprodução da vida social. Denominamos o conjunto desses
mecanismos processuais de reprodução da vida de socialização. A socialização
constitui o processo através do qual as pessoas aprendem a ser membro da
sociedade, ou seja, aprendem a adotar condutas pessoais que estejam em
conformidade com as regras, valores e concepções impostas pela sociedade
em que vivem. Pode-se concebê-la como uma imposição de padrões sociais ao
comportamento dos indivíduos, à medida que estes aprendem e internalizam os
componentes socioculturais inerentes a seu meio social mediante a integração

40 UNIDADE 2
deles em sua estrutura de personalidade e que se realiza através dos mecanismos
da interação e identificação com as outras pessoas, ou seja, mediante a imitação
das condutas praticadas por pais, tios, irmãos, vizinhos etc., (grupos primários)
e demais pessoas
com as quais se estabelecem contatos esporádicos, de menor frequência,
(grupos secundários) e que, portanto, provoca um menor impacto de influência
na formação da personalidade dos indivíduos (BERGER e BERGER, 1977).
Para se compreender melhor o significado sociológico do processo, é
SOCIALIZAÇÃO.
necessário fazer referência à noção de pessoa social, condição fundamental
Processo pelo qual ao
à elucidação do processo de socialização. Afinal de contas, a pessoa social longo da vida a pessoa
constitui um indivíduo humano socializado detentor de status e papéis. humana aprende e
Todo ser humano ao nascer é uma pessoal social, mas é no decurso de interioriza os elementos
sua convivência com outras pessoas que ela é socializada, adquirindo assim sua sócio-culturais do seu
meio, integrando-
personalidade verdadeiramente social, em virtude das constantes mudanças e
os na estrutura da
adaptações sofridas ao longo da existência. Tanto a natureza quanto o ambiente sua personalidade
social são elementos externos à pessoa humana que igualmente favorecem a sob a influência de
socialização. Esta pode ser concebida a partir de dois pontos de vista: experiências de agentes
sociais significativos,
adaptando-se assim ao
 Objetivamente - Com base na influência exercida pela sociedade ambiente social em que
sobre os indivíduos (imposição de padrões de comportamento social à conduta deve viver (Guy Rocher).
individual);
 Subjetivamente - Com base nas respostas ou reações dos indivíduos
em relação à sociedade (aceitação dos padrões de comportamento social).

Assim sendo, a reprodução da vida em sociedade, com seus valores,


instituições e práticas sociais, somente se torna possível quando as pessoas
são socializadas, ou seja, quando aceitam os padrões de comportamento social
e se adaptam a tais padrões. Nesse sentido, o que se aplica à sociedade total
também se aplica ao universo social da empresa, uma vez que a socialização
é o mecanismo através do qual a empresa cria e mantém a sua própria cultura
“Uma pessoa é social na
organizacional – valores, práticas sociais, códigos de conduta, modelos de
medida em que tende
gestão administrativa etc. à associação humana
Os papéis desempenhados pelos indivíduos tendem a se diversificar e dela necessita”
a ponto de assumir uma conformação em rede; é o que podemos chamar de (FICHTER, 1975, p. 35).

rede social ou rede de papéis. Essa assunção de papéis em rede induz os


indivíduos a travar relações sociais exponenciais com outros indivíduos. Neste
contexto, denominamos papel social qualquer conduta adotada pelos indivíduos

Sociologia aplicada a administração 41


em conformidade com as expectativas criadas por uma coletividade, sociedade
ou organização em relação às atividades compatíveis com o seu exercício e
a importância delas para a funcionalidade do sistema social. E é através do
desempenho ou representação de papéis que as instituições sociais são
incorporadas subjetivamente à experiência dos indivíduos.
Falar de rede social ou rede de papéis significa fazer referência direta
à complexa gama de relações que travamos em nosso dia-a-dia. Com quanto
mais pessoas ou indivíduos nós nos relacionamos, ampliando assim o nosso
círculo de relacionamentos, tanto mais diversificados serão não apenas os
papéis desempenhados por nós, mas também o conteúdo afetivo, ideológico,
comercial, utilitarista etc. das relações sociais.
Os papéis que desempenhamos na sociedade, além de múltiplos,
são as bases da existência do mundo criado pelo próprio homem; trata-se
“Ao desempenhar da objetivação do homem na sociedade. O resultado do desempenho de
papéis, o indivíduo papéis sociais simultâneos (pai, marido, professor, agente econômico enquanto
participa de um mundo
consumidor e trabalhador assalariado ou não assalariado etc.) no contexto
social. Ao interiorizar
amplificado de relações sociais, consolida a existência do mundo criado pelo
estes papéis, o mesmo
mundo torna-se homem na mente
subjetivamente real para ou consciência do próprio homem; trata-se da subjetivação da
eles” (BERGER, 1985, sociedade no homem.
p. 103).
É importante levarmos em conta que administrar uma organização, ou
instituição, implica em saber que os indivíduos exercem papéis variados que
extrapolam os limites internos da organização em que trabalham para garantir
as suas condições materiais de existência (o pão nosso de cada dia). Em geral,
desempenhamos alguns papéis sociais básicos e independentes. No entanto,
podemos observar que no curso da vida diária a quantidade de papéis que
desempenhamos é determinada pela amplitude de nossa rede de relações
sociais. Assim, um maior círculo de amizade, ou de responsabilidade cívica (o
ato de votar e de participar ativamente da vida política de seu país), tende a
proporcionar aos indivíduos a assunção de um maior leque de papéis, os quais,
por sua vez, se vinculam a outros que interagem entre si. Logo, a multiplicação
das relações sociais na sociedade torna a estrutura social desta (estrutura de
papéis e de poder) cada vez mais complexa; exatamente porque os atores
sociais desempenham papéis cada vez mais complexos conforme se amplia a
divisão social do trabalho no interior das organizações.
Se no interior das organizações os indivíduos desempenham papéis
funcionais, i.e., que contribuem com a sua manutenção e existência, uma boa

42 UNIDADE 2
governança administrativa não depende apenas que tais papéis sociais sejam
efetivamente cumpridos conforme critérios razoáveis de produtividade, avaliação
e aceitação social, mas, sobretudo, do grau de sincronia entre eles visando
atingir objetivos programáticos.

2.2.1. Construção da Ordem Social e Papéis Sociais

Já discorremos sobre os possíveis papéis que cada indivíduo deve


Podemos definir relação
representar na vida da sociedade em que vive. Dissemos que a assunção de como “[...] toda e
papéis está relacionada com as motivações individuais e coletivas na garantia qualquer troca que o
de suprimentos materiais e espirituais e na garantia de padrões de convivência indivíduo realiza com
o meio que o cerca, no
salutar à coesão interna dos grupos sociais. Vimos como tais papéis se
sentido de suprir suas
multiplicam de modo a transformar-se numa rede de papéis ou rede social. necessidades” (SILVA,
Explicamos também que essa rede de papéis, ao ser ativada, dá origem a uma 2006, p. 12).
profusão enorme de maneiras de relacionamentos (comercial, afetivo, formal,
informal etc), e, também, que estas múltiplas formas de relacionamentos criam
condições para a proliferação de outros papéis sociais. Falaremos agora um
pouco sobre importância do processo de socialização na padronização dos
papéis sociais em rede.
Preliminarmente, convém reiterar que entendemos o conceito de papel
social como o conjunto de condutas praticado pelos indivíduos em sintonia
com as expectativas da sociedade em relação ao exercício de tais papéis. Em
outras palavras, só podemos chamar de papel social um amplo espectro de
comportamentos definidos como fundamentais à existência das instituições na
sociedade.
As instituições podem ser concebidas tanto como crenças e
comportamentos instituídos pela sociedade (DURKHEIM, 1977), quanto como
uma programação do comportamento de cada indivíduo imposta pela sociedade.
(BERGER, 1977). Portanto, as crenças e os comportamentos são fundamentais
à existência das instituições e, por extensão, das sociedades, sendo aprendidos
através do processo de socialização, ou seja, através de um processo impositivo,
constante, que consiste na introjeção dos valores socioculturais de uma sociedade
na consciência das pessoas, graças à participação dos agentes primários
(familiares e pessoas que integram o círculo cotidiano de relacionamentos das
pessoas desde a infância) e dos agentes secundários (pessoas de fora do
círculo íntimo de relacionamento das pessoas e que esporadicamente convivem
com elas). Vale dizer que, sem socialização, não existe sociedade possível, pois

Sociologia aplicada a administração 43


é através dos processos de interação e de identificação com os outros (imitação)
que as pessoas aprendem a tornar-se membros da sociedade.
O que motiva os indivíduos para o exercício dos papéis sociais é a
Damos o nome de
relação social aos
busca pela satisfação de suas necessidades, de acordo com as conveniências
“modelos de interação particulares de cada um e das sociedades, com suas respectivas convenções.
adotados comumente Por exemplo: A motivação do empresário industrial em alcançar seus objetivos
pelo conjunto de econômicos configura, a um só tempo, uma conduta individual (ação em função
indivíduos que
da busca de vantagem pecuniária sob a forma de lucro) e uma conduta coletiva
convivem” numa mesma
comunidade (SILVA, (a ação da empresa para satisfazer as necessidades de bens e serviços por
2006, p. 14). parte da população; garantia de bem estar social). Quando professores e alunos
procuram cumprir suas obrigações ocupacionais (papéis), dentro e fora da sala
de aula, ambos estão contribuindo para a estabilidade funcional da instituição
educacional da qual fazem parte e, também, para a realização dos objetivos
didático-pedagógicos da escola. Assim, quando dizemos que uma determinada
organização funciona precariamente, estamos na realidade querendo dizer que
o problema em apreço pode ter sua origem no quadro de recursos humanos
(desmotivação, despreparo técnico, sabotagem etc.). Em outras palavras,
podemos dizer que os funcionários da referida organização podem não
estar desempenhando o papel que deles se espera, ou mesmo que o conjunto
de funcionários pode não estar sendo coordenado com a eficácia e a eficiência
requeridas pelos manuais da ciência administrativa.
Para que uma organização funcione a contento é necessário, entre
Papel social “é o
comportamento, a
outras coisas, que ela possua objetivos estratégicos compartilhados por seus
conduta ou a função funcionários, ou seja, que os objetivos da organização se tornem, por assim
desempenhada por uma dizer, os objetivos dos funcionários. Logo, é através da formação de uma cultura
pessoa no interior de um organizacional (modos de pensar e de se comportar; assunção de valores) que
grupo. O papel define-se
uma organização poderá lograr êxito na consecução de seus objetivos. Aqui,
simultaneamente com o
tipo de comportamento a socialização (secundária) ocupa um lugar de destaque: o de ensinar aos
social de alguém, em funcionários como se devem comportar para serem aceitos como verdadeiros
função dos esquemas membros da organização em que trabalham.
sociais e culturais do
De todo modo, podemos afirmar que o desempenho de papéis sociais
grupo, e como um
modo de resposta à constitui o mecanismo a partir do qual as instituições são subjetivamente
expectativa dos outros” experimentadas por nós (BERGER, 1985); e que a realização de tais papéis
(BIROU, 1982, p. 292- constitui um acordo tácito sobre a existência da própria instituição. Conforme
293).
ministro (professor) ou assisto (aluno) aulas, experimento em minha consciência
a certeza de que a instituição existe objetivamente (existe de forma determinada)
e exteriormente (existe fora de minha consciência).

44 UNIDADE 2
2.2.2. As Instituições e os Papéis Sociais

Conforme vimos, a representação de papéis sociais não se desenvolve


O desempenho de
fora da moldura das instituições, haja vista que os papéis que assumimos em
papéis no interior
nosso dia-a-dia, além de não terem sido criados por nós, e sim por aqueles das organizações
que nos precederam, nos levam a admitir que, à medida que desempenhamos está associado a
os mais variados tipos de papéis, conforme os variados contextos sociais, não determinados grupos de
status.
fazemos mais do que ativar e operacionalizar as instituições. Estas só existem
Os grupos de status se
porque nós a criamos para tornar a nossa vida possível. apóiam numa estrutura
As instituições garantem o equilíbrio relativo das sociedades particulares, de poder. Essa mesma
ou mesmo de uma sociedade mundializada, à medida que desenvolve estrutura de poder
gera uma determinada
atividades visando atingir objetivos programáticos. É através dos papéis que
hierarquia de funções.
desempenhamos em nosso cotidiano que as instituições são subjetivamente
Essa hierarquia de
incorporadas à nossa consciência individual. Afinal de contas, todo papel funções e/ou de papéis
social expressa uma conduta a ser seguida e passível de receber a aprovação revela, em termos
da sociedade (caso contrário, não se constituiria um papel social); logo, cria econômicos e
administrativos, uma
expectativa em torno desse esperado comportamento.
clara correspondência
A conformação desses papéis segundo os estatutos formais e informais entre
das organizações dá origem a uma cultura organizacional. Esta exerce grande baixos salários,
influência sobre as pessoas já que define a sua postura no contexto interno da profissões servis;
entre altos salários
organização: como proceder em face de certas situações; como assimilar os
e competência
códigos da organização e seus significados formais e não-formais; como reagir profissional.
emocionalmente em relação aos acontecimentos que cercam o dia-a-dia da
organização etc.
Acontece que no interior de toda e qualquer instituição sempre nos
deparamos com uma específica estrutura de poder, na qual as relações são
definidas em conformidade com o princípio da hierarquia. Trata-se de um
elemento fundamental na administração de uma organização, uma vez que se
refere aos problemas da aquisição, distribuição e circulação do poder e sua
repercussão nos diversos níveis da tomada de decisão.

2.3. Posição social e status

Analisemos, agora, os mecanismos a partir dos quais as redes de


papéis e relacionamentos se entrecruzam para determinar a posição social das
pessoas na estrutura da sociedade, conforme os critérios econômico (produção

Sociologia aplicada a administração 45


e aquisição de bens e serviços), social (grupo de status: prestígio) e político
(poder; trataremos dessa modalidade de estratificação social mais adiante).
O surgimento das instituições resulta da necessidade que o homem tem
de garantir permanentemente as suas condições materiais e espirituais de vida.
Para garantir a concretização dessas duas condições de vida, precisamos fazer
com que certas crenças e comportamentos se tornem objetos de fé e práticas
comuns em toda a extensão de dada sociedade, ou seja, que tais crenças e
comportamentos comuns sejam duradoura e objetivamente observadas no dia-
a-dia das pessoas. E quando as condições acima observadas são transpostas
para o plano das organizações, deparamo-nos com aquilo que chamamos de
cultura organizacional.

“Do ponto de vista sociológico, a personalidade social é a soma de


todos os papéis que o indivíduo desempenha. Os papéis são ditos sociais
porque representam uniformidades de comportamentos compartilhados por
muita gente. O papel pode ser estudado cientificamente, pode ser analisado
em detalhe e pode ser observado em ação, já que são muitos os indivíduos que
realizam o mesmo papel mais ou menos da mesma forma. O papel típico de pai,
de vendedor ou de professor pode ser identificado entre os indivíduos que nos
rodeiam na sociedade. Se não fosse assim, o sociólogo não poderia estudar as
relações humanas organizadas, nem a sociedade poderia funcionar de modo
organizado e sistemático” (FICHTER, 1975, p. 244)

As instituições podem ser classificadas segundo sua natureza (modo de


pensar, perceber e expressar o mundo; mecanismo de funcionamento; padrão
de controle; crença disseminada; conduta rotinizada), estrutura (organização,
burocracia, gerenciamento) e finalidade (familiar, econômica, religiosa, política,
militar, educacional e recreativa). Encarando a instituição enquanto organização
– por exemplo, uma empresa, seja pública ou privada –, é possível ater-nos
ao fato de que seu funcionamento implica na ativação de uma rede de papéis
hierarquicamente escalonada e dotada de uma bem definida estrutura de poder.
Essa estrutura de poder se expressa, segundo Weber (1999; RUNCIMAN, 1966)
a partir de três dimensões da estratificação social: econômica (classe social),
social (grupo de status) e política (estrato de poder).
Enquanto classe social, a estratificação social revela-se a partir da
produção e aquisição de bens e serviços (um baixo poder aquisitivo revela
um funcionário subalterno, um auxiliar de serviços gerais, por exemplo, e está

46 UNIDADE 2
associado à sua função
no processo produtivo quanto às relações de trabalho e à propriedade).
Enquanto grupo de status, a estratificação social exprime-se a partir do
A empresa constitui um
estilo de vida que as pessoas levam em função do que fazem com seu dinheiro
exemplo de instituição
em termos de consumo (o tratamento dispensado a determinado funcionário na econômica em que o
organização e que se expressa por meio de uma alta remuneração salarial ou desempenho articulado
mesmo de uma generosa participação nos lucros constitui um indicador seguro de papéis visa ao
alcance de objetivos
da alta posição ocupada por tal funcionário na estrutura de prestígio da empresa).
utilitaristas, ou seja, visa
Enquanto estrato de poder, a estratificação social expressa-se a partir
à obtenção do lucro.
do grau de participação nas tomada de decisão estratégica da empresa ou
no núcleo de poder (a decisão de aprovar ou desaprovar a realização de um
investimento, por exemplo, expressa prestígio).
A noção de estrutura de poder evoca a ideia de desigualdade sócio-
As instituições podem
ocupacional, haja vista que a promoção de funcionário por mérito lhe faculta
ser classificadas
a oportunidade de maior capacidade de poder, de realização pessoal, de segundo sua natureza,
aceitação social e de elevada autoestima. Logo, a posição social ou de status estrutura e finalidade.
das pessoas não é, a rigor, determinada pela necessidade que a sociedade
tem de determinadas ocupações profissionais, cuja importância depende da
valorização dada pela sociedade a algumas atividades em detrimento de outras - A classe social dos
ou da avaliação positiva ou negativa que faz da competência de determinados indivíduos é determinada
pela sua função no
profissionais.
processo de produção
Em última instância, o que determina a posição das pessoas na estrutura e pelo seu poder
da sociedade, e mesmo na de uma organização específica, é a sua função no aquisitivo.
processo produtivo no que se refere às relações de trabalho (se é trabalhador ou
- O grupo de status é
empresário capitalista) e à propriedade (se é ou não proprietário dos meios de
definido em função do
produção, isto é, se é ou não dono de fábrica ou empresa).
estilo de vida adotado
Resumindo: As classes sociais são estratificadas em termos da produção pelas pessoas na
e aquisição de bens e serviços; e os grupos de status, em termos do consumo. sociedade.
Em outros termos, a caracterização de uma classe social depende das origens
- O estrato de poder
de nosso dinheiro (fonte do poder aquisitivo); o status ou posição social que
ao qual se vinculam
adquirimos, por sua vez, depende do lugar para onde ele vai (destinação no uso os indivíduos é
de nosso dinheiro). Portanto, quando se evoca o princípio de hierarquia, traz-se determinado pelo grau
à discussão o tema da posição social das pessoas na sociedade ou qualquer de participação deles
nas tomadas de decisão
em estrutura organizacional. Numa palavra: a estratificação da sociedade em
de uma organização.
classes se processa conforme a participação dos indivíduos no processo de
produção (seja como trabalhador, seja empresário), de partilha e de distribuição
da riqueza no mundo; e quanto a sua disponibilidade ou não de propriedade.

Sociologia aplicada a administração 47


Quanto mais escasso é o objeto dos nossos desejos, mais difícil é a sua
A caracterização de uma
classe social depende obtenção, devido, sobretudo, à concorrência entre as pessoas pela posse ou
da obtenção de nosso usufruto do mesmo bem ou serviço, no âmbito do mercado. Assim, a profissão de
dinheiro ou poder médico, às vezes, é mais valorizada nas cidades do interior do que nas capitais
aquisitivo (produção
pelo fato de ser mais abundante nestas e mais escassa naquelas.
e aquisição de bens e
serviços). Tal fenômeno funciona mais ou menos de acordo com a lei econômica
da oferta e da procura. Ocorre que tanto o modo de organização quanto de
A caracterização do distribuição da riqueza produzida no âmbito dessa realidade social é marcado
grupo de status, por sua
pela desigualdade entre as pessoas. Essa desigualdade social se exprime a
vez, depende do modo
partir do processo de estratificação social em sua dimensão econômica, isto
como gastamos o nosso
dinheiro (consumo). é, o processo a partir do qual os indivíduos são dispostos em classes sociais
(agregados básicos) segundo a posição que ocupa na produção, seja como
empresário (capital), seja como trabalhador (trabalho).
Se os papéis que desempenhamos em qualquer organização são
“O papel social é a determinados pela amplitude de nossa rede de relações sociais, e se essa
dinâmica do status, isto
rede de relações se desenvolve no âmbito de um sistema econômico que se
é, o desincumbir-se
dos deveres e usufruto caracteriza pela exploração do trabalho assalariado por parte dos detentores dos
dos direitos” (CASTRO, meios de produção, então, esses papéis e relações são submetidos a critérios
2003, p. 42). distributivos que refletem a assimetria de poder entre as classes sociais, os
grupos de status e os estratos de poder.
Conforme o exposto, a posição social que os indivíduos ocupam/
desfrutam na sociedade extrapolam a mera definição de seu status em função
do grau de importância de sua ocupação profissional. Para explicar melhor como
se dá o processo de estratificação social nas sociedades capitalistas convém ir à
raiz da questão, através de sua dimensão básica. Ou seja, convém fundamentar
as razões da desigualdade social a partir do conceito das classes sociais, a
saber:

agregados básicos de indivíduos numa sociedade, os


quais se opõem entre si pelo papel que desempenham
no processo produtivo, do ponto de vista das relações
que estabelecem entre si na organização do trabalho
e quanto à propriedade (SANTOS, 1987, p. 41, grifo
nosso).

As explanações feitas acima sobre os papéis que os indivíduos


desempenham na realidade histórica da vida em sociedade demonstraram à

48 UNIDADE 2
exaustão como tais papéis asseguram a provisão de suprimentos materiais e
O homem é um ser
espirituais, ao mesmo tempo em que garante a manutenção de padrões mínimos relacional, uma vez que
de interação entre os indivíduos na representação de respectivos papéis. No só revela sua verdadeira
decurso desse processo de sobrevivência, os papéis sociais se organizam natureza relacionando-
se com os outros.
em rede, produzindo crescentes teias de relacionamentos cuja motivação
finalista condiciona a sua orientação. Essas teias de relacionamento em ação
que assumem certas orientações, sejam elas positivas, sejam negativas, são
identificadas como processo sociais positivos ou conjuntivos (associativos) e/ou
como processos sociais negativos ou disjuntivos (dissociativos).

2.4. Os processos sociais

Os seres humanos são gregários por excelência. Para eles, ser gregário
é a condição de possibilidade de sua própria existência, é a consumação
de seu modo particular de ser, que se manifesta através de relações sociais
interdependentes.
Os seres humanos, ao contrário dos animais inferiores, são obrigados a
construir um mundo compatível com suas limitações e exigências existenciais,
pois não existe um mundo humano dado de uma vez por todas e rigorosamente
apropriado aos que nele vivem.
Enquanto os animais inferiores ao nascerem encontram um mundo
que lhe é apropriado, com os seres humanos isso não acontece, já que não
Judeus rezando na
existe um mundo genuinamente humano, a menos que seja construído por
sinagoga no Yom Kippur,
humanos. A construção desse mundo genuinamente humano levada a efeito por de Maurycy Gottlieb,
humanos implica na definição de papéis sociais, de padrões de relacionamento Viena, 1878. Tel Aviv
e de processos de agregação ou desagregação. Museum of Art.
Os grupos humanos e as pessoas em geral se relacionam em função do Grande parte da
população do Brasil
status (a relação que existe entre os indivíduos em conformidade com a posição
é constituída de
que ocupam na sociedade), do papel (a interação mútua que se verifica quando egressos da etnia
os indivíduos articulam os seus papéis sociais para atingir objetivos coletivos) judaica, paulatinamente
e do processo (relações recíprocas básicas que permeiam os distintos papéis assimilados à cultura
brasileira.
desempenhados pelas pessoas no curso de suas vidas cuja orientação se
(www.pt.wikipedia.org/
expressa enquanto fenômenos agregadores ou desagregadores). A relação no wiki/judeu)
processo alude aos padrões de interação entre dois ou mais indivíduos que
transcende o simples exercício de papéis sociais e o mero vínculo que existe
entre eles. A partir daí é possível classificar os processos sociais básicos
em processos sociais conjuntivos (associativos) e processos sociais

Sociologia aplicada a administração 49


disjuntivos (dissociativos).
Os processos sociais conjuntivos são aqueles padrões de relações
mútuas básicas que possibilitam uma maior integração e identificação entre
as pessoas conforme desempenham os seus papéis na sociedade; refletem o
altruísmo recíproco e a justiça.
Os processos sociais disjuntivos, por sua vez, constituem aqueles
padrões de relações mútuas básicas que se caracterizam pela divergência de
ideias e condutas por parte dos indivíduos no processo geral de desempenho
de seus papéis sociais; refletem a injustiça e a desagregação do tecido social.
Após explicitar que os indivíduos e grupos sociais se relacionam em
função de seu status, de seus papéis sociais e dos modos de interação mútua
expressos pelos processos sociais conjuntivos e disjuntivos, cabe-nos
agora individuar cada um deles segundo sua função como fator de coesão
(cooperação, acomodação e assimilação) ou de desagregação (conflito,
oposição e competição) no quadro geral da estrutura da sociedade.
A cooperação é um processo social associativo fundamental à
manutenção da coesão interna de toda sociedade; consiste nas relações sociais
básicas em que dois ou mais indivíduos ou grupos sociais colaboram entre si de
maneira a atingir um objetivo comum. Ex.: a relação recíproca (ou colaboração)
entre duas empresas que envidam esforços para conquistar segmentos de
mercado, o que isoladamente não seria possível.
A acomodação, enquanto processo social associativo, consiste na
interação entre dois ou mais indivíduos ou grupos sociais que visam evitar, diminuir
ou simplesmente acabar com divergências. Ex.: um acordo entre pessoas, grupos
sociais ou partidos políticos em torno da aceitação de determinadas propostas ou
estratégia de ação configura uma forma de acomodação, adaptação, capitulação.
A assimilação, por sua vez, constitui uma modalidade de processo
social associativo em que dois ou mais indivíduos ou grupos sociais acolhem
e reproduzem os comportamentos de outros indivíduos ou grupos sociais. Ex.:
a adoção de hábitos indígenas por parte da população do Brasil em sua fase
colonial, a assimilação da população judaica autóctone no Brasil etc.).
Ao contrário dos processos sociais disjuntivos ou associativos, os
processo sociais disjuntivos ou dissociativos se caracterizam pela disputa, pela
desavença, pelo choque de interesses.
O conflito é a forma de processo social dissociativo através do qual
dois ou mais indivíduos ou grupos sociais procuram anular uns aos outros. Ex.:
a guerra, as revoltas sociais, o terrorismo etc.

50 UNIDADE 2
A oposição constitui um tipo de processo social dissociativo em que
indivíduos ou grupos sociais procuram frustrar os planos de outros indivíduos
ou grupos sociais. Ex.: uma coligação de partidos políticos que, em disputa pelo
poder institucional em seus vários níveis administrativos, dedicam esforços para
Competição deriva
impedir que uma coligação de partidos políticos rivais logre êxito ou atinja seus do latim com, “junto”
objetivos. + petere, “pedir,
A competição caracteriza a forma de interação social em que dois ou propender a certa meta
ou objetivo”. Nessa
mais indivíduos ou grupos sociais fazem esforços vigorosos para atingir o mesmo
acepção equivale
objetivo. Trata-se de uma atividade rival em que duas ou mais pessoas ou grupos semanticamente à
procura suplantar seu oponente, seja através de um jogo de soma zero (o êxito concorrência e/ou
de um dos oponentes implica no insucesso de um outro) ou de um jogo de soma ao concurso. (www.
variável (a competição entre os participantes de um jogo que, não obstante pt.wikipedia.org/wiki/
boxe)
serem competidores, faculta o sucesso de todos os envolvidos na disputa). Ex.:
todas as disputas esportivas, a concorrência entre os candidatos a uma vaga em
um concurso público, as pugnas comerciais pela venda de mercadorias por parte “A cultura representa
valores, ritos,
de empresas que operam segundo os paradigmas de mercado etc.
mitos e modelos de
Os processo sociais acima descritos não são encontrados em seu comportamento que
estado puro na sociedade; o mais comum é encontrá-los imbricados entre si, visam a orientação
possibilitando inúmeras combinações possíveis. Como vimos, essas duas e o controle dos
comportamentos
categorias de processos sociais são opostas entre si, uma vez que uma se
individuais das pessoas,
vincula ao consenso, ao entendimento; e a outra, ao conflito, à divergência. fornecendo um sentido
comum voltado para
2.5. Cultura e sociedade a convergência
de objetivos na
organização”
Todo e qualquer membro normal de uma sociedade possui cultura, já
(MOTTA, 2003, p. 40).
que participa de grupos e da sociedade total, uma vez previamente submetido
ao processo de socialização. Socialização e cultura são conceitos indissociáveis
Os componentes
e centrais em sociologia. O conteúdo de que tratam em suas áreas temáticas de da cultura integram
estudo se articulam com o fito de compreender o processo total de reprodução uma totalidade
da sociedade. Essa articulação dos conceitos de socialização e cultura permite compreensível, coerente
e interdependente
que vislumbremos a sociedade mediante uma perspectiva caleidoscópica, ou
que é fundamental
seja, permite que encaremos a sociedade como um organismo vivo, a pulsar na intelecção de
cada vez mais freneticamente. Afinal, estamos, na expressão de Marc Auge, qualquer sociedade;
com a “história em nossos calcanhares” individualmente
A socialização é um processo, não passa disso. Seu modo de contribuir considerados,
conservam, não
para a compreensão da sociedade é demonstrar que a mudança em si mesma é
obstante, um mínimo de
um fenômeno irreversível. Apesar de sermos refratários a tudo aquilo que altera estrutura e organização.

Sociologia aplicada a administração 51


uma situação ou condição de vida tido para nós como satisfatória ou próspera,
a percepção que temos sobre a mudança – tanto na natureza quanto na vida
social do homem – é de algo que é considerado um truísmo, isto é, uma verdade
tão evidente em si mesma que dispensa o recurso à demonstração ou à lógica
da prova, tornando-se, pois, uma verdade acachapante.
A cultura exprime o conjunto dos produtos materiais e imateriais
produzidos pelos seres humanos. Constitui a totalidade das ações realizadas
pelos indivíduos em interação constante, os significados destas, os valores
que embasam tais ações, as regras seguidas, os meios de satisfação das
necessidades, os estilos de vida etc.
O padrão repetido de comportamento social constitui o elemento básico
irredutível da cultura. Esta é formada por reiterados comportamentos coletivos
que se institucionalizam (são aceitos como legítimos, pois estão de acordo com
a moral e os bons costumes) à proporção em que, ao longo do tempo, caem
na rotina, sedimentando-se como relações estáveis entre indivíduos, grupos
sociais, instituições e nações, para depois definhar aos poucos, até que sejam
substituídas por outras relações mais eficientes no processo de criação de uma
nova ordem social.
Os padrões repetidos de comportamento social tendem a se combinar
dando origem aos distintos papéis sociais, relações humanas e processo sociais,
os quais, por sua vez, integram as diversas instituições ou unidades da cultura.
Genericamente, os componentes da cultura podem ser assim ordenados
em três grandes categorias, a saber:
É através da cultura
que o ser humano -
fazendo as coisas de  Instituições – São padrões normativos que governam a
que depende - se faz conduta dos indivíduos (ver Unidade 1);
homem, como se fosse
 Ideias - Inclui uma diversidade de conhecimentos (científico,
um demiurgo de si
mesmo. filosófico, teológico, tecnológico etc.) e crenças (morais, religiosas, mitológicas
etc.). As ideias constituem os elementos imateriais de uma cultura. Também
podemos denominá-la de cultura ideal, uma vez que se refere aos produtos do
espírito ou da genialidade humana que expressam os seus sentimentos em
relação às pessoas, aos objetos, assim como os valores que orientam as nossas
condutas individuais e coletivas e os significados que atribuímos às nossas
próprias ações intencionais;
 Cultura Material – Diz respeito à produção de todo e qualquer
objeto material realizado pela criatividade humana visando à simplificação
de sua existência no mundo natural, tais como utensílios domésticos, arado,

52 UNIDADE 2
colheitadeira, material bélico etc. Constituem os elementos materiais de uma
cultura aos quais também nomeamos como cultura real, numa referência direta
às suas propriedades intangíveis.
Na cultura total das sociedades podemos constatar a existência de
A “cultura organizacional
variações culturais entre as regiões de determinados países, assim como a representa o conjunto
adoção de condutas e linguagens profissionais circunscritas a determinados de normas informais,
grupos sociais, os quais denominamos como subcultura. Esta, a exemplo da valores e atitudes que
cultura total, comporta as principais instituições básicas: as instituições familiares, as organizações tendem
a desenvolver, tais
educacionais, políticas, econômicas, militares e recreativas.
como formas de vestir,
A finalidade essencial da cultura é facultar aos indivíduos que vivem em tipos de padrões de
sociedade a organização da satisfação de suas necessidades básicas através comportamento, tais
das principais instituições. Embora tais instituições sejam os meios através dos como orientações para
o futuro ou passado
quais tais satisfações sejam supridas, as funções realizadas por elas coincidem
e expectativas de
com aquelas desenvolvidas pela cultura total. Existem, contudo, certas funções estilos de trabalho”
suplementares inerentes à cultura, quais sejam: a) caracterização da identidade (VASCONCELOS e
de uma sociedade em relação às outras; b) possibilidade de sistematização HEMSLEY, 2003, p.
106).
e interpretação dos valores de uma dada sociedade; c) fornecimento de um
lastro estratégico para a solidariedade e coesão sociais; d) articulação do
comportamento multifacetado da coletividade; e) aporte para a formação da
personalidade social dos indivíduos (socialização).
No âmbito das
A cultura expressa a construção do mundo do homem por ele mesmo,
organizações são
mas sob as condições disponibilizadas pela natureza. Pertencemos a uma
desenvolvidos
sociedade, e não a uma cultura. Manifestamos, porém, a cultura em nosso padrões repetidos de
comportamento quando adotamos condutas já consagradas pelas práticas comportamentos, pois
sociais dos indivíduos na sociedade. O que se aplica à sociedade total também seus integrantes: a) têm
certos procedimentos
se aplica ao universo administrativo, organizacional e social da empresa, já que
padronizados com vistas
a socialização é o mecanismo através do qual a empresa cria e mantém sua a um mesmo objetivo; b)
própria cultura organizacional (valores, práticas sociais, códigos de conduta, servem-se dos mesmo
ritos, mitos, modelos de gestão administrativa etc.) valores; c) utilizam-
se de tecnologias
Como já referimos antes, a socialização se processa por meio dos
apropriadas para os
mecanismos da interação e identificação com os outros, sejam eles concebidos objetivos que buscam; d)
como os outros significativos, sejam eles concebidos como o outro trabalham nos mesmos
generalizado. Logo, a socialização é o processo mediante o qual a sociedade espaços ao longo do
tempo; e) dispõem dos
consegue perpetuar-se no tempo e no espaço, ou seja, é o meio através do qual
mesmos recursos (Silva,
a sociedade se reproduz enquanto estrutura organizacional ou sistema social,
2006:74).
adquirindo um maior grau de complexidade em seus objetivos, valores, tecnologias
e padrões e modelos de relações. Mas esse processo de aprendizagem social

Sociologia aplicada a administração 53


visando à manutenção da vida em sociedade não pode ser realizado sem que
haja uma cultura preexistente, ou seja, um conjunto suficientemente amplo de
padrões comportamentais, de modos de vida, ideias, conhecimentos, valores,
tecnologias, modos de pensar e conceber a realidade em que se está inserido
etc. De modo idêntico ao que ocorre na sociedade, a empresa também necessita
de um mecanismo de aprendizagem que determine a configuração daquilo que
denominamos como cultura organizacional. E descrever tal mecanismo de
aprendizagem é o mesmo que descrever o processo de formação da cultura
organizacional.

2.5.1. Cultura Organizacional

O estudo dos problemas organizacionais e das culturas organizacionais


popularizou-se no começo da década de 1950, ocasião em que foi fundada uma
instituição denominada Foundation for Researcher on Humana Behavior, nos
Estados Unidos da América, cujo objetivo reside na promoção e realização de
pesquisas na área das ciências comportamentais, com ênfase nas empresas, nos
estudos governamentais e das demais organizações. Na esteira de tais estudos,
os pesquisadores deram-se conta de que os fatores culturais constituíam um
diferencial importante no âmbito dos processos administrativos, sendo, portanto,
um indicador estratégico capaz de explicar o êxito ou fracasso das
empresas. Assim sendo, o complexo constituído de variáveis é o responsável
“O conjunto de ideias, pelos diferenciais de produtividade da empresa.
paradigmas, intenções, Tanto no âmbito da sociedade em geral como no âmbito da empresa, a
metas, valores,
cultura se apresenta como uma construção social, razão pela qual é representada
tecnologia, relações
etc., que se fazem por componentes como equipamentos tecnológicos, informações contábeis,
presentes, ora com mais dados econômicos, domínio de mercado (componentes concretos ou tangíveis),
intensidade, ora com códigos de comunicação, percepção de significados cultuados pela empresa,
menos, nos ambientes
práticas operacionais, paradigmas de gestão administrativa, patentes, estilo de
de uma organização ou
vida e de qualidade da linha de produtos e serviços (componentes simbólicos ou
empresa, constitui uma
microssociedade que intangíveis).
apresenta as mesmas A socialização aplicada ao contexto interno da organização mercantil
características de se manifesta como mecanismo de aprendizagem coletiva que determina a
socialização e formação
configuração da identidade da cultura organizacional de uma empresa.
cultural de um povo”
(SILVA, 2006, p. 82). A compreensão dos mecanismos de ação dos componentes materiais e
imateriais na conformação cultural de uma organização depende da caracterização
funcional (a dinâmica interna e externa de seus processos administrativo,

54 UNIDADE 2
comercial, sócio-organizacionais, políticos e econômico-financeiro) e estrutural
(infraestrutura física, compleição organizacional, organograma administrativo e
estrutura de poder) desta, possibilitando identificar as mudanças verificadas em
seu desenvolvimento como decorrência das mudanças observadas em seu meio
ambiente. Logo, o desempenho das organizações é condicionado pela forma
com que os componentes materiais e imateriais se articulam na configuração
de seu padrão cultural. Em suma, quanto maior o grau de articulação e de
harmonização entre os componentes materiais e imateriais que compõem a
cultura da empresa, maior o coeficiente de motivação dos seus membros.
Além do mais, a eficácia organizacional de uma empresa depende do grau
de tolerância desta em relação aos valores, códigos, padrões de relacionamentos
e modelos comportamentais compatíveis com o ambiente de formação cultural Os componentes
dos seus funcionários. Ex.: o uso da língua inglesa em um ambiente em que materiais e
os funcionários a dominem precariamente pode representar um problema de imateriais da cultura
organizacional podem
comunicação capaz de comprometer sua capacidade de alcançar as metas de
ser caracterizados como
produtividade de uma empresa. variáveis na medida
Uma vez definidos os objetivos gerais de uma empresa e a correspondente em que influenciam
criação de uma estrutura organizacional compatível que proporcione a a organização
através de arranjos
realização concreta de tais objetivos, o próximo passo administrativo é “impor”
culturais diferentes
uma homogeneidade nos modos de comportamento e de pensamento na
cuja percepção e
implementação de estratégias de ação. Em outras palavras, significa fazer compreensão são
com que os modos de operar de uma empresa sejam comuns a todos os seus distintamente captadas
funcionários, de maneira que os objetivos da empresa e dos que nela trabalham pelo público interno e
externo à organização.
sejam os mesmos ou guardem entre si uma relação de cooperação relativamente
permanente. Assim, se no âmbito de uma empresa são disseminada as ideias da
qualidade total e da gestão do conhecimento então os valores a ser cultuados
pelos funcionários da empresa possuem como lastro a execução de tais ideias,
o que pressupõe que toda organização possui uma cultura, ou seja, a cultura
desponta como uma variável organizacional importantíssima capaz de explicar o
seu sucesso ou fracasso.
Resumindo: A cultura organizacional se exprime pela interpretação que o
ser humano desenvolve acerca da realidade no contexto interno da organização.
Nesse sentido, ela não é nada mais nada menos do que a “cola” que mantém
unida a organização. A cultura organizacional influencia diretamente o padrão de
conduta e de pensamento das pessoas que integram e animam as empresas:
define o que deve ou não ser objeto de atenção, o significado das coisas, o modo
de reagir, assim como os procedimentos em face das múltiplas situações no
contexto de uma ordem contingente etc.

Sociologia aplicada a administração 55


Atividades

1. Pesquise sobre o interacionismo simbólico.


Saiba Mais
Consulte o sítio http:// 2. Diferencie “outros significativos” de “outro generalizado”.
www.wikipedia.org/

3. Reflita sobre as cinco maiores abordagens da relação micro-macro,


segundo Jeffrey Alexander.

4. Análise a seguinte questão: É possível a existência de qualquer sociedade


sem o intercurso do mecanismo da socialização? Justifique sua resposta.

5. Reflita sobre a afirmação segundo o qual o ser humano é um ser relacional.

6. Explique o que é papel social e como ele se relaciona com o processo de


socialização.

7. Qual é a função da rede de papéis sociais na criação e manutenção das


instituições?

8. Discorra sobre classe social.

9. Disserte sobre os processo sociais.

10. Faça uma análise sobre a função social da cultura na construção e


manutenção da sociedade.

11. Analise a importância da cultura organizacional no âmbito dos sistemas


sociais denominados empresas.

56 UNIDADE 2
UNIDADE 3
Sociedade, Estrutura e
Organização

Resumindo
No estudo dos ambientes organizacionais, descobriremos em que consistem, como se comportam e
como se desenvolvem as organizações; veremos como se verifica a interação entre elas e seu meio
ambiente, e como se modificam continuamente de forma cada vez mais frenética para dar conta do
ritmo de transformações da sociedade em que está inserida; discorreremos sobre a correlação estreita
existente entre as estruturas das organizações e os processos de tomada de decisão, fato administrativo
da mais alta importância para se compreender a dinâmica dos fenômenos do poder e da liderança; e
focalizaremos as empresas como grupos organizados, assim como a influência da gestão do conhecimento
na sinergia e eficácia das organizações em relação ao mercado extremamente competitivo
Sociedade, Estrutura e
Organização

3.1. As Organizações

Pode-se encarar uma organização tanto como objeto social quanto


como processo social. Quando concebemos a organização como objeto social,
aludimos às suas dimensões propriamente morfológica (forma) e teleológica
(propósito). Assim, na condição de objeto social, uma organização pode ser
compreendida em conformidade com os propósitos previamente estabelecidos,
com o emprego de determinadas tecnologias, com as formas e processos de
autoridade e coordenação adotados e com as modalidades de legitimação
de sua estrutura de poder. Quando pensamos a organização na condição de
estrutura de ação coletiva ou como processo social, referimo-nos à estruturação
articulada dos papéis desempenhados por determinados atores administrativos Organizações são
“conjuntos humanos
que procuram cooperar entre si sem abdicar de sua autonomia (ainda que
formalizados e
relativa), apesar de perseguirem objetivos e interesses muitas vezes divergentes. hierarquizados com
Logo, tais processos organizacionais se constituem o objeto estratégico por vistas a assegurar
excelência da sociologia das organizações, uma vez que o enfoque permitido por a cooperação e a
essa perspectiva dinâmica reside na centralidade estratégica dos mecanismos coordenação de
seus membros no
operacionais que garantem a cooperação entre os seus elementos constitutivos
cumprimento de
e a previsibilidade de suas ações. Consequentemente, analisar as organizações determinados fins”
implica em considerar as ações realizadas pelos indivíduos e o seu papel na (FRIEDBERG, 1995, p.
construção, consolidação e manutenção da ordem organizacional vigente. 375).

Em outras palavras, trata-se da questão de sua sobrevivência na condição de


conjuntos organizados.
Mas no que consiste uma organização? Consiste num grupo de pessoas
formal e hierarquicamente articulados que coordena os esforços individuais
de seus membros, combinando-os com os recursos materiais, financeiros e
logísticos de maneira a atingir determinados fins. As organizações constituem as

Sociologia aplicada a administração 59


alternativas possíveis para o alcance de objetivos coletivos naquelas situações
em que a iniciativa individual está fadada ao insucesso. Assim, a organização
resulta da combinação de esforços individuais orientados para a concretização
de objetivos comuns.
Uma organização se distingue dos demais tipos de grupos sociais
por dispor de uma específica divisão do trabalho que seja compatível com
seus objetivos comerciais e de uma estrutura de coordenação cuja
função estratégica é harmonizar o desempenho dos papéis assumidos
hierarquicamente pelos indivíduos com os objetivos da organização, tornando-
os comuns a todos – proprietários, acionistas e funcionários. Nesse sentido,
podemos chamar de organizações um sem número de instituições, a saber: as
administrações públicas e os partidos políticos (primeiro setor), as empresas
industriais, comerciais e de serviços (segundo setor), as associações de classe
e recreativas, as igrejas e as demais organizações não governamentais (terceiro
setor)14.
A sobrevivência de uma organização está diretamente associada
ao alcance de seus objetivos (eficácia), e estes, por sua vez, depende da
racionalização (ou não) dos recursos disponíveis (eficiência). A operacionalização
dessas funções de realização de objetivos e a correta utilização dos
recursos disponíveis associados a tal fim podem ser definidas como
administração, uma vez que o objeto de preocupação analítica desta é dar
conta da eficácia e da eficiência da organização em relação ao seu ambiente
externo.

O primeiro setor diz respeito àquelas organizações cujas ações são subordinadas
ao poder político, possuindo, portanto, a prerrogativa legal e legitima na
exclusividade do uso do poder coercitivo, por sua vez garantida por um texto
fundador, ou seja, uma Constituição.
O segundo setor alude às organizações de natureza mercantil cujo propósito e
motivação básica é a busca por ganhos econômicos e financeiros mediante a
troca de bens e serviços no mercado.
O terceiro setor concerne às organizações destituídas de autoridade legal para
o uso de força constrangedora e que desenvolvem atividades sem fins lucrativos
e de interesse público.

14 Há controvérsia relativa à ordem de classificação destas áreas de atividades ou setores. Para


a grande maioria dos estudiosos americanos o setor do mercado tem precedência sobre o setor
governamental pelo fato daquele ter surgido primeiro no decurso da história.

60 UNIDADE 3
“A administração é um
Portanto, administração, na condição de disciplina científica, tem processo de planejar,
por objeto o planejamento, a previsão, a estruturação de ações e meios organizar, dirigir e
controlar a aplicação
operacionais, a direção e o controle das atividades desenvolvidas no contexto
de recursos humanos,
interno da organização com vistas ao alcance de objetivos específicos. Ela materiais, financeiros
envolve grupos de pessoas especializadas na arte de tomar decisões acerca e informacionais,
dos objetivos, estratégias e uso dos recursos disponibilizados pela organização, visando à realização de
sejam eles designados como governantes, autoridades, dirigentes, gerentes ou objetivos”
(MAXIMIANO, 1985, p.
simplesmente administradores. Estes grupos de pessoas, uma vez integrados
23).
numa administração, diretoria, gerência ou em quadros dirigentes, deverão estar
submetidos a uma determinada estrutura de poder (hierarquia).
“Nas ciências sociais,
A interação destes grupos no interior das organizações constitui um
econômicas, em física,
dos objetos principais da Sociologia aplicada à administração, uma vez que as em química, etc., a
relações interpessoais entre tais atores administrativos são operacionalizadas sob estrutura é o modo de
a égide de um conjunto de objetivos, processos, doutrinas e valores específicos, ajustamento de um
conjunto de coisas, de
ou seja, sob a égide de uma cultura organizacional que lhe é pertinente.
partes ou de forças,
A cultura exerce um papel crucial na formatação de qualquer organização, que estão reunidas de
sociedade ou sistema social, ao interferir diretamente no modo como as pessoas modo a constituírem um
constroem e concebem o mundo em que vivem – do microcosmo da empresa ao todo específico. Cada
vez que se fala em
macrocosmo da sociedade globalizada. Através do trabalho e do conhecimento
estrutura é para designar
proporcionados pela cultura geral da organização a que se integra, o indivíduo
a forma de coerência
garante as suas condições materiais e espirituais de existência, desenvolvendo de um conjunto e a sua
suas potencialidades e realizando-se profissionalmente em conformidade com a heterogeneidade em
sua posição social na estrutura da sociedade. Afinal, as organizações formulam relação a outros. Numa
estrutura, cada parte
e implementam uma cultura compatível com seus objetivos, valores, tecnologias
ou elemento está em
e com a natureza das atividades que realizam para atingir as suas metas conexão ou em sinergia
programáticas e utilitaristas, visando à obtenção de vantagem comercial. com os outros e não
Mas as organizações também existem em função do estreitamento das pode ser o que é, a não
ser através da e na sua
relações que se instauram no ambiente de trabalho, gerando vínculos afetivos
relação com eles. A
semelhantes ao tipo de relação vigente entre os membros de uma família. Trata- estrutura é latente, está
se de transformar parte do outro generalizado (grupos secundários) em outros inscrita na realidade de
significativos (grupos primários), processo este que serve para caracterizar e modo bastante durável
e estável. È por isso
configurar o que chamamos de estrutura de relações. É o que veremos a seguir.
que a apreensão de
uma estrutura permite
3.1.1. Estrutura das Organizações destacar um modelo
de funcionamento. O
A configuração estrutural de uma organização é determinante no modelo deve mudar
quando a estrutura se
desempenho organizacional desta. Por essa razão trataremos da noção de
torna diferente” (BIROU,
1982, p. 148).

Sociologia aplicada a administração 61


estrutura e sua importância para a compreensão dos aspectos estruturais dos
sistemas sociais que chamamos de empresas, evocando, por sua vez, o conceito
de função, essencial na explicação da dinâmica das organizações empresariais.
De modo geral, o termo estrutura alude a um conjunto de componentes
“A estrutura de uma
organização pode
ou partes articulados entre si de tal maneira que a modificação de uma das
ser definida como partes conduz a uma modificação correspondente nas outras, logo, em toda a
o resultado de um sua totalidade.
processo através do Para Radcliffe-Brown (apud Golias, 2006, Unidade 2), estrutura
qual a autoridade é
social consiste na rede de relações sociais que assinalam, concretamente,
distribuída, as atividades
desde os níveis mais determinada realidade social. Para ele, a noção de estrutura diz respeito a
baixos até a Alta uma particular ordenação tanto dos componentes sociais quanto dos traços
Administração são constitutivos da cultura; a noção de função, por sua vez, alude à interconexão
especificadas e um
que se verifica entre a estrutura social e os processos dinâmicos que assinalam
sistema de comunicação
é delineado permitindo a existência da sociedade, sendo que tais processos são os meios através dos
que as pessoas quais a sociedade como um todo mantém a sua harmonia funcional e as suas
realizem as atividades características particulares. Em outros termos, significa dizer que qualquer traço
e exerçam a autoridade
cultural (uma transmissão de cargo numa grande corporação ou a adoção de um
que lhes compete
para o atingimento
modelo de gestão administrativa) ou componente da estrutura social (a redução
dos objetivos da diferenciação vertical e de quadros em uma empresa - downsizing) somente
organizacionais” pode ser devidamente explicado em conformidade com sua relação funcional
(VASCONCELLOS e com os demais componentes dessa estrutura social, assim como o seu papel no
HEMSLEY, 2003, p. 03).
processo global de manutenção da ordem existente.
Logo, a existência duradoura das organizações – a exemplo do que se
verifica com a sociedade em geral – depende do grau de interações realizadas
pelas pessoas socializadas, já que elas internalizam (aceitam como legítimos) os
“Os princípios e
padrões de comportamento social e os valores socioculturais de seu ambiente
valores sobre os quais
as organizações se de trabalho. E isso ocorre no quadro geral daquilo que chamamos de estrutura
baseiam são elementos de relações.
fundamentais para Estrutura de relações é a categoria sociológica concebida para expressar
determinar sua
o conjunto dos comportamentos realizados pelas pessoas na medida em que
configuração estrutural
e ,assim, sustentar desempenham múltiplos papéis sociais; serve para indicar a forma e o modo a
ações que alavanquem partir do qual ocorrem as relações sociais. Neste sentido, a noção de estrutura
a mudança e permitam de relações é concebida enquanto paradigma (do gr. paradeigma), ou seja,
a construção de uma
um exemplo que serve como modelo para se compreender uma sociedade ou
organização inovadora”
(ANGELONI, MUSSI e sistema organizacional. Assim, esse modelo de estrutura social, ou estrutura de
MÜLBERT, 2002, p. 4). relações, é uma ferramenta analítica que propicia apreender a realidade funcional
e estrutural da vida em sociedade. E quando falamos em apreender a realidade

62 UNIDADE 3
funcional da vida em sociedade, mediante o paradigma da estrutura social ou
de relações, referimo-nos à articulação de todos aqueles papéis, relações e
processos dinâmicos que contribuem para a manutenção da coesão interna seja
da sociedade como um todo, seja de um sistema social como uma empresa.
Logo, dizer que alguma instituição é disfuncional à existência de determinada
sociedade ou organização significa dizer que tal instituição esgotou a sua
capacidade de contribuir para a estabilidade ou integração de tal sociedade ou
organização.
A falência do instituto da escravidão como modo de produção coadjuvante
ao capitalismo emergente tornou-se um obstáculo à mudança na estrutura da
sociedade agrária brasileira do fim do século XIX. Para o sistema econômico,
o modo escravista de produção, que antes contribuiu de forma decisiva para
a afirmação e consolidação do capitalismo no Brasil e no mundo, que antes
era uma fautoria, logo se torna um estorvo, um entrave à institucionalização
(aceitação, legitimação) do capitalismo, pois o funcionamento deste é lastreado
pelo trabalho assalariado.
Mas essa mesma instituição é funcional à determinada sociedade ou
organização na medida em que contribui para a sua coesão ou existência social.
A promoção de várias atividades esportivas e a política de concessão de auxílio-
saúde extensivo a toda a família dos funcionários é fundamental no estímulo
ao sentimento de pertença de uma organização; logo, contribui para a sua
estabilidade e manutenção.
As estruturas das
Numa outra perspectiva de análise, é preciso entender as organizações
organizações moldam
como estruturas frágeis decorrentes das vicissitudes das estratégias de poder a conduta dos
de seus integrantes. As perspectivas de coerência, coesão e integração de uma indivíduos; derivam
organização dependem da interveniência de uma séria de fatores: influência de experiências que
se institucionalizaram,
de elementos irracionais (emocionais e tradicionais), uso de racionalidades
transformando-se em
distintas, interesses conflitantes, rígidas estruturas de decisão etc.
princípios, valores,
A existência das organizações depende de um padrão mínimo de ordem normas de conduta e
e de cooperação, assim como de previsibilidade e regularidade nas relações crenças organizacionais;
interpessoais e na suas ações técnico-operacionais. Mas para que isso ocorra vivem em permanente
troca com o ambiente
é necessário o cumprimento de certos pré-requisitos: que sejam cumpridas
externo; e estão em
algumas expectativas mútuas da organização em relação aos seus participantes constante transformação
e vice-versa (fundamento contratual), que sejam internalizados normas e interna.
valores integrativos (socialização) e, sobretudo, que seus membros tenham
determinada capacidade de negociação no processo de troca de condutas que
sejam compatíveis com o desempenho de suas atividades, visando atingir seus

Sociologia aplicada a administração 63


objetivos particulares (relações de poder e de troca);
A estrutura de uma organização se exprime através das relações que
se desenvolvem entre os indivíduos responsáveis por sua existência funcional;
sempre com base numa específica divisão social do trabalho, que, por sua vez,
se apoia numa determinada estrutura de poder e num estatuto de normas e
procedimentos, formais e informais. A flexibilidade ou rigidez da estrutura de
uma organização – segundo tais normas e procedimentos – é revelador do seu
desempenho nos processos de tomada de decisão, pois eles sempre estão
associados a uma estrutura rígida ou flexível de poder. A rigidez ou flexibilidade
das estruturas de decisão revela o grau de controle da organização sobre os
indivíduos; logo, se ele for excessivo, pode entravar os processos de comunicação,
informação, invenção e de inovação requeridas pelo ambiente externo. Essa
discussão nos conduz inevitavelmente ao exame das modalidades das formas de
liderança e suas respectivas estruturas organizacionais: tradicional e inovadora.

ESTRUTURA DAS ORGANIZAÇÕES

ESTRUTURA DAS ESTRUTURA INOVATIVA


ORGANIZAÇÕES

Alto nível de formalização. Baixo nível de formalização

Unidade de comando. Multiplicidade de comando.

Índice elevado de Índice elevado de diversificação.


especialização.

Comunicação vertical. Comunicação vertical e diagonal.


Uso de formas tradicionais de Uso de formas avançadas de
departamentalização. departamentalização.

A estrutura de uma organização dever ser compatível com seus objetivos


e metas, com a natureza das atividades executadas e com as respostas
requeridas por seu contexto externo. As mudanças que se verificam no ambiente
externo de uma organização a forçam a adotar padrões diferenciados de
estruturação interna de suas funções operacionais. Desse modo, as estruturas
tradicionais são apropriadas a ambientes estáveis e previsíveis, assim como às
atividades repetitivas, e devido a tais características já não oferecem alternativas
viáveis aos desafios organizacionais do mundo contemporâneo. Além do mais,
tais estruturas destacam as funções de controle em detrimento das funções

64 UNIDADE 3
de criatividade e de iniciativa. Várias características assinalam esse tipo de
estrutura, a saber:

yy Alto nível de formalização;


yy Unidade de comando;
yy Índice elevado de especialização;
yy Comunicação vertical;
yy Uso de formas tradicionais de departamentalização.

MODELOS DE ORGANIZAÇÃO

MODELO MECÂNICO MODELO ORGÂNICO


Organograma muito esquematizado. Organograma pouco
esquematizado

Comunicação muito reduzida e de Ampla comunicação; de cima para


cima para baixo. baixo e vive-versa.

Respeito à hierarquia. Flexibilização da hierarquia.

Alta concentração do poder de decisão Desconcentração do poder de


na cúpula administrativa. decisão.

Surge em um contexto estável, Compatível com um contexto


marcado por baixo índice de inovação técnico –econômico turbulento,
tecnológica, mercado regular e caracterizado por índice
previsível. elevado de inovação tecnologia,
mercado bastante competitivo e
imprevisível.

As estruturas inovadoras, por seu turno, enfatizam a criatividade e a


inovação, em resposta à complexidade do ambiente, cada vez mais marcado
pela turbulência e incerteza, pelo surgimento de novidades tecnológicas, pela
internacionalização crescente dos negócios, pela complexidade das organizações
etc. Apresentam características opostas a das estruturas tradicionais, quais
sejam:

yy Baixo nível de formalização;


yy Multiplicidade de comando;
yy Índice elevado de diversificação;
yy Comunicação horizontal e diagonal;
yy Uso de formas avançadas de departamentalização.

Sociologia aplicada a administração 65


Alguns autores identificam essas mesmas características segundo
nomenclatura diversa. Trata-se de organizações dotadas de diferentes estruturas
organizacionais
concebidas com base nos modelos “mecânico” e “orgânico”, tais como
a demonstrada no quadro ao lado. Uma análise precipitada pode sugerir a
existência unilateral de um ou outro tipo de estrutura ou modelo no cenário
mercantil, quando, na realidade, tais estruturas ou modelos tendem a serem
combinados conforme as exigências do ambiente competitivo e globalizado – a
combinação entre tais estruturas ou modelos dá origem à estrutura ou modelo
matricial de organizações.
É importante frisar que a estrutura organizacional de uma empresa
exerce sobre o trabalho dos indivíduos uma influência considerável, pois faz
com que as características destes - ou suas idiossincrasias pessoais – sejam
O que é mais articuladas com as características estruturais da organização, determinando
importante no uso
o ritmo dos acontecimentos em seu contexto interno. Isto acontece por que a
da estrutura como
instrumento analítico
noção de estrutura organizacional, além de representar um conjunto de relações,
para a compreensão papéis e processo sociais, representa também os princípios e valores que
da dinâmica do orientam as ações das organizações. De modo que as estruturas organizacionais
ambiente corporativo, somente se alteram à medida que os seus princípios ou valores de base sejam
por exemplo, não é o
também modificados. E tais princípios e valores se alteram à proporção que são
número de vezes que
as pessoas transitam/ confrontados com a necessidade de adequar-se a outros princípios e valores
interagem nos associados aos novos modos de conceber e de produzir as coisas, que são
departamentos, mas determinadas por um mercado extremamente competitivo, motivado, portanto,
o significado que tais
pela tônica do ganho de produtividade e pelo culto à inovação; é o choque do jogo
movimentações tem para
a compreensão do seu do contato entre a organização e seu meio ambiente, ou seja, o contexto social e
modo de organização, histórico em que a organização, por ser um fenômeno de ordem localizado, está
de sua estratégia incrustada. Reside, pois, nessa dinâmica interativa entre a organização e seu
empresarial de conquista
contexto social e histórico, as explicações mais precisas acerca do fenômeno do
de mercado (setor
privado) ou satisfação de
comportamento das organizações no interior das sociedades.
usuários (setor público),
da medida de atividade 3.1.2. As Organizações e seu Contexto Socioeconômico
econômica (alta ou baixa
produtividade) etc.
A noção de contexto social emerge do jogo do contato travado entre as
pessoas em seu dia a dia, em sua labuta existencial (desempenho de papéis) no
interior de qualquer organização: da família, ou ambiente doméstico, à empresa
capitalista, ou ambiente empresarial. Os componentes sociais que integram a

66 UNIDADE 3
trama de relações, papéis e processos dinâmicos, aqui enquadrados no âmbito
do conceito de contexto social, são ativados pela persecução de determinados
objetivos organizacionais: a obtenção de algo de que carece (uma maior fatia
de mercado), a manutenção do que já possui (quadro executivo de alto nível) e
o repúdio ao que lhe desagrada ou compromete o seu funcionamento (acúmulo
desnecessário de cargos administrativos).
Uma organização empresarial que vê no estímulo à qualificação
profissional permanente de seus recursos humanos um procedimento
administrativo que garante à empresa uma situação de destaque comercial no
mercado, está praticando uma conduta que é informada por valores associados
àquilo que chamamos de a era da informação e do conhecimento. Os objetivos de uma
organização são
Os valores que impelem à ação no âmbito de uma organização são
determinados pelas
aqueles que se encontram codificados em sua cultura organizacional sob a afirmações ideais
forma de sentidos e significados desejáveis ou indesejáveis por ela. Para a acerca de um objeto,
sociologia, os valores apresentam as seguintes características: a) constituem de um produto, de
uma estratégia, de um
algo que se compartilha; b) são socialmente reconhecidos pelas pessoas;
comportamento, de uma
c) são independentes do julgamento de uma pessoa específica. relação, etc., ou seja,
Em suma, um contexto social é formado na medida em que os indivíduos, pelos valores que lhes
grupos sociais e organizações definem metas ou objetivos que por sua vez são servem como lastro.
informados por valores socialmente construídos, seja na sociedade em geral,
seja numa organização em particular. Logo, a análise do contexto social de uma
empresa, que pretende compreender sua estrutura e dinâmica, deve levar em
conta quatro travejamentos norteadores, a saber:
Os valores exercem
uma função básica na
yy Direção - Um corpo administrativo organizado segundo uma
definição das condutas
específica estrutura de poder (hierarquia) e disciplina; compõe o organograma
de indivíduos, grupos e
administrativo em que se definem os papéis e prerrogativas de cada um dos organizações: fornecem
empregados especializados (burocracia); os critérios que atribuem
yy Projeto - Uma realização importante para a motivação sentido e significado à
cultura e à sociedade
estratégica da empresa em conformidade com expectativas de curto, médio e
como um todo.
longo prazos (a expansão horizontal e vertical da empresa nos mercados de
produtos e serviços);
yy Práxis - Um programa sistemático de ação informada pelo
conhecimento; a fusão da teoria à prática a serviço do planejamento estratégico,
tático e operacional;
yy Ideologia - Conjunto de ideias, representações, objetivos, metas,
valores, tecnologias, relações, modelos de gestão e doutrinas que fundamentam

Sociologia aplicada a administração 67


e norteiam o cumprimento das metas organizacionais e a persecução da
Contexto social pode satisfação de seus membros, clientes e acionistas.
ser definido como
As organizações constituem um fenômeno de ordem localizado cuja
uma trama formada
por relações, papéis relação com o contexto socioeconômico se apresenta como uma via de mão
e processos sociais dupla: de um lado, a estrutura e o funcionamento de uma organização e, de
urdidos pelos integrantes outro, as múltiplas características do contexto (tanto interno quanto externo) em
de uma sociedade,
que tal organização está envolvida. De modo que na esteira dessa dinâmica
organização ou empresa
entre as organizações e seu contexto verifica-se uma relação estreita entre as
quanto à persecução de
seus propósitos de vida. variáveis externas – tais como a incerteza, a variedade e as modalidades de
pressões ambientais –, as circunstâncias internas de diferenciação e de
integração (tipos de estrutura organizacional), e os processos de resolução
de conflitos, assim como os efeitos de feedback de tal relação sobre a estrutura,
o funcionamento e a performance das empresas. Logo, as características
Mudança – do contexto organizacional associado aos problemas evocados pela própria
transformação de um
organização é que determina a estrutura organizacional (diferenciação e
estágio a outro mediante
modificação parcial, integração) que melhor incremente a performance das empresas. Contudo,
evolução, revolução, essa relação entre contexto interno (organizacional), contexto externo (meio
inovação, reviravolta ambiente circundante) e resolução de conflitos (integração) tem que levar em
ou variações sociais;
consideração que a influência do contexto socioeconômico sobre as empresas
manifestam-se segundo
as diversas dimensões
se exerce de modo ambíguo, contraditório, orgânico, mediato e indireto. Além
da realidade social, a do mais, as relações entre uma empresa e seu contexto socioeconômico são
saber: assinaladas por exigências e pressões flutuantes e por mecanismos de troca
e influências mútuas, de maneira que as organizações também possuem a
•Superfície Morfológica;
propriedade de estruturar o seu próprio contexto, tanto interno quanto externo.
•Instituições e E isso acontece graças ao fato de que as organizações também possuem um
Estruturas; certo grau de autonomia cuja dinâmica se manifesta através da resistência das
organizações com relação às pressões externas no sentido da adaptação, da
•Esquemas e Modelos
mudança e da melhoria de desempenho.
de Conduta;

•Comportamentos, 3.1.3. Mudança nas Estruturas das Organizações


Costumes e Condutas
Práticas;
As mudanças que se operam na estrutura das empresas se processam

•Cultura e Modelos
em diferentes níveis, a saber: identidade organizacional, relações interpessoais,
Culturais. processos empresariais e patrimônio empresarial. Os dois primeiros níveis são
responsáveis pela cultura da organização e a interação entre eles determina o
clima organizacional vigente (disposição psicossociológica que determina sua
conduta e capacidade de percepção da realidade em que se situa).

68 UNIDADE 3
Ocorre que o mau desempenho verificado em cada um desses níveis
gera modalidades de crises diferentes segundo o nível atingido, quais sejam, Os níveis ou dimensões
respectivamente: crise de identidade, crise de estratégia, crise de resultados em que se verificam
e crise de liquidez. Assim, pode-se observar as transformações que se as mudanças no
contexto interno das
desdobram no contexto interno das organizações a partir dos seguintes níveis:
organizações:

yy Nível identitário – A identidade ou imagem da empresa é determinada Nível identitário;


pelos atos de escolha e decisão dos fundadores, dos acionistas
Nível das relações
majoritários e/ou dos dirigentes profissionais; os problemas apontados
interpessoais;
nessa dimensão são nomeados como crise de identidade;
yy Nível das relações interpessoais – Envolvem questões associadas ao Nível dos processos
clima organizacional tais como crises de liderança, estruturas de poder empresariais;

rígidas, ambiente marcado pela intransigência, pela desmotivação e


Nível do patrimônio
pela resistência; dá origem às crises estratégicas, às vezes provocadas empresarial.
por problemas verificados na dimensão identitária; as disfunções
administrativas, aqui, são conhecidas como crise de estratégia;
yy Nível dos processos empresariais – Refere-se aos fluxos de básicos
de produção de insumos, de informações fundamentais à produção e
comercialização de bens e serviços. Uma perturbação nessa arena recebe
o nome de crise de resultados;
yy Nível do patrimônio empresarial – Abrange o patrimônio tangível
(equipamentos, máquinas, imóveis, matéria-prima) e intangível (capital
intelectual, marca, imagem, patentes) da empresa; a falta de recursos
necessários à manutenção da empresa (o pagamento de dívidas, por
exemplo) provoca uma crise de liquidez.

As estruturas sociais (uma formação socioeconômica, uma organização


empresarial ou pública, ou um sistema social) sofrem modificações no decurso
do tempo quando as pessoas que a animam definem propósitos utilitaristas
mais ou menos claros, em conformidade com os valores da competição, da
cooperação, da inovação etc., mediante o emprego de meios técnico-operacionais
(tecnologia) realistas e compatíveis com as esperadas possibilidades de êxito.
Reconhecidas como estruturas sociais, as organizações tendem a crescer e a se
desenvolverem, sempre em permanente relação com seu meio ambiente. Nesse
processo de crescimento, donde resulta o aumento da burocratização seguido
da diminuição de flexibilidade organizacional, as organizações experimentam
crises diversas, como revelam os estudos de Larry Greiner (VASCONCELLOS
e HEMSLEY, 2003).

Sociologia aplicada a administração 69


Crescimento - Conjunto de modificações verificadas nas estruturas das
organizações com a correspondente complexidade da divisão social do trabalho
e que pode ser expresso mediante critérios econômicos; para fins comparativos,
tendo por base um ponto zero de referência, geralmente é relacionado com
o desempenho do produto interno bruto (a soma de todos os bens e serviços
produzidos por um país no decurso de um ano).

Crise – Evoca a idéia de ruptura de sistema ou de afirmação de tendência social,


política, econômica etc., cujas características ainda se encontram em processo
de delineamento; conota, também, a noção de separação, bifurcação; em suma,
manifesta-se como certas anormalidades ou irregularidades no funcionamento
de um sistema, organização ou empresa e se traduz pela materialização de um
fenômeno que é disfuncional à ordem existente e funcional a uma nova ordem
das coisas, com seus princípios, valores, concepções, percepções.

Greiner (Ibidem) procura focalizar os momentos ou circunstâncias que


assinalam o crescimento ou decadência das organizações, e, nesse mesmo
movimento, identificar os fenômenos associados a cada uma dessas etapas.
Assim sendo, este autor postula, no processo evolutivo das organizações,
cinco estágios de crescimento e cinco correspondentes modalidades de crise;
é o advento de crise em cada um dos estágios que provoca uma revolução
nos padrões conceituais, administrativos e estratégicos das organizações,
impelindo-as à mudança em sua cultura e clima organizacionais. Tais estágios
do crescimento e respectivas modalidades de crise, segundo Greiner (Ibidem),
são os seguintes:

I. Crescimento através de criatividade – Estágio que se caracteriza


pela satisfação das necessidades do mercado aliado à satisfação pessoal dos
fundadores da empresa; entra em declínio em virtude de crise de liderança, em
que a autoridade e o paradigma estratégico dos fundadores são questionados.
II. Crescimento através de direção – Corresponde à fase da
institucionalização de procedimentos administrativos orientados para
estandardizar o comportamento dos membros da organização (burocratização
provocada pela rotinização das condutas administrativas); a crise de autonomia
que se instala nessa fase exige a formação de uma liderança firme capaz de

70 UNIDADE 3
realizar as metas e objetivos da organização;
III. Crescimento através de delegação – Fase de crescimento marcada Os estágios de
pela delegação de responsabilidades a técnicos especializados que assinala à crescimento/crises
profissionalização do quadro dirigente, porém precipita a crise de controle, que, correspondentes:
- Crescimento através
por sua vez, provoca uma mudança substancial nesse modelo de crescimento.
de criatividade/crise de
IV. Crescimento através de coordenação – Essa fase de crescimento liderança;
é marcada pelo esforço de coordenação das atividades internas e externas - Crescimento através
da organização, provocando uma crise de burocracia que desemboca na de direção/crise de
autonomia;
adoção de uma nova estratégia administrativa lastreada na gestão por objetivos
- Crescimento através
(resultados) e na cooperação dos membros da organização;
de delegação/crise de
V. Crescimento através de colaboração – Esse estágio de crescimento controle;
baseado na colaboração dos membros da organização quanto ao alcance - Crescimento através
das metas e objetivos da organização sofre uma inversão de rumo na medida de coordenação/crise de
burocracia;
que uma outra crise emergente possa dar azo a uma outra modalidade de
- Crescimento através
crescimento, ad infinitum. de colaboração/crise
emergente.
As mudanças que se verificam em distintas dimensões ou níveis nas
empresas – identidade organizacional, relações interpessoais, processos
empresariais e patrimônio empresarial –, associados aos estágios de crescimento
a que são submetidas no âmbito de um mercado cada vez mais competitivo,
conforme classificação de Greiner (ibidem), demonstram que as transformações
que incidem sobre a estrutura das organizações concorrem para a configuração
de um contexto social correspondente e mutável. Daí a necessidade analítica de
se compreender como os componentes (objetivos, valores, tecnologia e vínculos
entre as pessoas) de determinado contexto social articulam-se concretamente
na sociedade e nos sistemas sociais ou organizações.

ORGANOGRAMA DO MEC

O organograma é uma representação gráfica que ilustra a estrutura de


uma organização conforme o princípio da hierarquia e atribuições funcionais.
Importante para se entender a estrutura de poder de uma organização, o
organograma nada explica sobre a dinâmica das relações sociais e suas
motivações básicas.

Sociologia aplicada a administração 71


A noção de poder evoca 3.1.4. Poder e Liderança nas Organizações
a capacidade efetiva que
pessoas ou instituições
têm de impor a sua
A primeira diferenciação a fazer no contexto interno de qualquer
vontade a terceiros, organização é aquela que opõe dirigentes e dirigidos, governantes e governados,
independentemente de administradores e administrados (ou usuários, particularmente no âmbito da
eventuais resistências administração pública), elite administrativa e quadro de subalternos. Uma tal
(ideia de comando
diferenciação, pois, evoca a ideia de ordem, hierarquia, disciplina, liderança,
baseado na força).
norma, conformidade, relações de troca e de poder, com reflexos diretos sobre o
A autoridade, por sua acesso à informação e a qualidade dos processos de decisão.
vez, evoca a capacidade
que certas pessoas têm
Toda organização é constituída por uma estrutura formal e por uma
de persuadir os outros
para a realização de estrutura informal. A estrutura formal está associada a um organograma
determinadas tarefas. administrativo que revela a disposição de órgãos, departamentos, seções etc.,
em conformidade com uma específica estrutura de poder. Essa estrutura de poder

72 UNIDADE 3
é chancelada por estatutos que prescrevem as suas atribuições e prerrogativas
específicas. A estrutura informal, por sua vez, se refere ao conjunto das definições
operacionais que se estabelecem de forma espontânea no jogo do contato dos “Temos uma associação
indivíduos ao manterem relações cordiais e respeitosas, ou conflituosas, nos de dominação na
seus respectivos ambientes de trabalho. Essas relações cordiais, supostamente medida em que seus
membros, como tais,
fundadas na cortesia e na urbanidade no trato – ou ainda nos fundamentos
estejam submetidos a
de civilização dos povos – formam aquilo que Max Weber denomina como relações de dominação,
racionalidade substantiva, conforme já vimos. Esta racionalidade substantiva em virtude de ordem
exprime as concepções e percepções que os indivíduos têm de seu ambiente vigente” (WEBER, 1991,
organizacional, tais como a sensação de aceitação a certos grupos ou instituição p. 33).

sociais – sentimento de pertença a uma


família, partido político, clube, igreja etc., ou seja, da natureza do
clima organizacional; a conformidade de conduta conforme as regras e normas
impostas pela organização sob a forma de um estatuto ou regimento.
Três são os tipos
No âmbito da estrutura administrativa, com sua respectiva estrutura puros de autoridade/
de poder, a autoridade é um atributo das estruturas formais e o poder, uma dominação, segundo
prerrogativa das estruturas informais. Em função disso, nela verifica-se tanto Max Weber:

uma distribuição assimétrica da informação (o acesso às informações está


• Tradicional;
relacionada a sua posição na estrutura de mando da empresa ou organização
formal) quanto conflitos ao nível das estruturas de decisão (a inevitável disputa • Carismática;
interna por espaço de poder, já que nem todos os participantes de uma
• Racional-legal.
organização compartilham de todas as fases do processo decisório).
Para Max Weber (1991, p. 33), o conceito de poder é sociologicamente
amorfo, ou seja, encontra-se difuso em toda a extensão da sociedade em geral
ou numa organização, e envolve e supõe outros conceitos, tais como:

poder – capacidade que uma pessoa tem de impor a sua própria vontade
às demais pessoas no quadro de uma relação social, apesar de eventuais
resistências;
dominação – capacidade de que uma ordem dotada de determinado
conteúdo específico seja acatada por uma determinada coletividade; distingue-
se em dominação por interesse (mecanismo típico de mercado, como é o caso
do monopólio) e dominação por autoridade (mecanismo de poder fundado
nas relações entre a imposição da vontade de alguém (poder de mando) e o
compromisso tácito (dever de obediência), tal como na relação entre pai e filho,
patrão e empregado, por exemplo).

Sociologia aplicada a administração 73


A estrutura de poder de uma empresa, segundo Weber (Ibidem, p. 148),
se fundamenta nas seguintes formas de autoridade/dominação, que por sua vez
se baseia em várias formas de legitimidade da ordem que a sustenta:

yy Tradicional - Apoia-se no direito consuetudinário (costume) e “na


crença na santidade das ordens e poderes senhoriais tradicionais”; a obediência
dos indivíduos ocorre em função do respeito ao titular do poder de mando cuja
legitimidade é assegurada pelas regras da tradição, e não por qualquer estatuto
e seu caráter impessoal, objetivo e legal;
yy Carismática - Forma de exercício do poder com base na
crença nos poderes extraordinários de um líder e da ordem personalista por ele
criada; sua institucionalização (rotinização do carisma) no entanto, a transforma
numa ordem tradicional ou racional-legal, ou numa ordem híbrida, combinando
tradição e ordem burocrática numa mesma estrutura organizacional mediante
transferência ex officio do carisma (“dom da graça”).
yy Racional-legal - É exercido através de uma estrutura de
administração burocrática que por sua vez se apoia na crença na legitimidade
de uma situação de comando em virtude de regras legalmente estatuídas, no
âmbito de uma ordem impessoal, cujos mandamentos se encontram positivados
nos estatutos, regimentos ou textos constitucionais.
“Com base na definição
do processo de Tais formas de autoridade e dominação, com seus respectivos critérios
liderança entendido de legitimidade, não são, contudo, encontrados em estado puro nas sociedades
como função do líder,
ou organizações, já que é perfeitamente possível a coexistência delas no quadro
dos subordinados e
de outras variáveis geral de uma mesma estrutura operacional de comando.
situacionais, a idéia Para se entender como se processa os mecanismos de poder no interior
de um único tipo ideal das organizações torna-se necessário examinar a posição social e as motivações
de líder parece pouco
das condutas dos atores administrativos no interior das organizações (atos
realista” (HERSEY e
BLANCHARD apud
de escolha e de decisão). Assim procedendo, damos destaque ao problema
OLIVEIRA, 2002, p. da racionalidade das condutas desenvolvidas pelos indivíduos face às suas
258). múltiplas necessidades (ver Capítulo 1).
As escolhas que fazemos e as decisões que tomamos são determinadas
pela diversidade de motivações e pela racionalidade limitada dos atores
administrativos em função de sua posição social em certo contexto organizacional,
pois a tomada de decisão, das mais simples às mais complexas e autônomas,
depende do status de tais atores no âmbito interno da organização. Portanto, a
diversidade de motivações e a racionalidade limitada são fatores que embasam

74 UNIDADE 3
a conduta humana, concedendo-lhe certa autonomia ante as suas próprias
necessidades, autonomia essa que é fator de imprevisibilidade no quadro de
uma ordem que é essencialmente contingente.
Os modelos administrativos acima tratados – tradicional e inovador
– são associados a formas distintas de liderança. Esta última constitui um
componente sócio-político fundamental, presente na condução dos destinos
das organizações perante os desafios colocados pela ordem contingente e sua
acentuada propensão à mudança. E falar de liderança implica em articular ações
estratégicas segundo os termos de uma direção compartilhada, numa maior ou
menor extensão e profundidade, o que envolve diversas formas de autoridade
e níveis de influência política exercidos pelos dirigentes no processo de gestão.
Podem-se distinguir duas formas básicas de autoridade no contexto
administrativo: a direção autocrática e a direção democrática. A direção
autocrática prioriza a realização das tarefas, exerce o poder e toma decisões “Grupo organizado é
de forma centralizada e autoritária, assumindo para si toda e qualquer [...] um conjunto de
indivíduos cujas inter-
responsabilidade administrativa. A direção democrática dá ênfase às relações
relações baseiam-se
humanas, adota um estilo administrativo descentralizado e estimula a na expectativa de se
participação efetiva de seus subordinados nas tomadas de decisão. processarem de acordo
A cada um dos tipos de direção supracitados corresponde um tipo com uma estrutura que
prevê valores, padrões,
específico de liderança, cujo estilo depende da articulação entre o líder, seus
modelos e normas,
subordinados e as variáveis sociopolíticas no interior da organização em que ou seja, relações
estão inseridos na qualidade de membros efetivos. Assim, tais estilos de liderança sociais padronizadas”
não se apresentam em estado puro, pois tendem a mesclar-se conforme refletem (CASTRO, 2003, p. 160).
as bases de poder no contexto interno da organização. Logo, esse estilo híbrido
de liderança depende das possibilidades de conduta e de poder ditadas pelas
condições situacionais vigentes tanto no contexto interno quanto no contexto
externo de qualquer organização empresarial.

3.2. As empresas enquanto grupos organizados

Desde sempre, o elemento pulsante da vida em sociedade são as


relações de troca – comerciais, afetivas, institucionais, culturais etc. – que existem
entre indivíduos, grupos, coletividades, sociedades e nações. Tais relações de
trocas são determinadas pelas necessidades que as pessoas
têm de garantir o máximo de bem estar para si e os seus. Os meios de
obtenção dessas necessidades dependem da posse ou garantia de expectativa
de direitos de propriedade.

Sociologia aplicada a administração 75


Por propriedade entende-se o direito de usufruto de bens ou serviços
decorrentes de uma atividade econômica em que a riqueza é distribuída
conforme critérios específicos baseados por sua vez nos princípios e valores
vigentes na organização como um reflexo direto da sociedade total. Mas qual
é o espaço concreto e virtual em que ocorrem as relações de troca entre as
pessoas e instituições? É o espaço do mercado, empiricamente reconhecido
A filosofia liberal, como capitalista, conceito este entendido como formação socioeconômica e
desde Adam Smith, como doutrina.
postula a idéia segundo
O mercado constitui um sistema de intercâmbio de propriedades sob a
a qual a ação dos
forma de mercadorias. Estas últimas extraem, primordialmente, o seu valor de
indivíduos racionalmente
orientada para a troca das equivalências entre trabalhos socialmente necessários à produção das
satisfação de suas mercadorias que são ofertados pelo mercado (relação de custos entre produtos
múltiplas necessidades dotados de um maior ou menor valor agregado); e em última instância, das
inevitavelmente conduz
características inerentes a seu valor de uso (o valor de consumo de um bem
à satisfação das
necessidades de todos. em função de capacidade de satisfazer nossas necessidades fisiológicas de
Nessa concepção, o consumo, por exemplo).
espaço público em que O mercado tende a ampliar-se na esteira do aumento da população,
a satisfação social de
da intensificação das trocas econômicas e da ampliação da divisão social do
existência se realiza é o
mercado. trabalho. As relações de troca se desenvolvem do polo do simples escambo
(troca de mercadoria por mercadoria) às complexas relações entre empresas
transnacionais, em que até mesmo as transações feitas mediante o uso do
dinheiro são superadas pela transmigração de ordens de créditos e ordens
de débitos, graças aos meios tecnológicos modernos associados à telemática
(conjugação da tecnologia da informação com as técnicas de comunicação via
uso de computador).
Mas para que o mercado disponha de um fluxo regular de bens de
“Cada organização
consumo e serviços é necessário que os agentes da produção sejam estimulados
tem seus objetivos
específicos, que podem a fazê-lo – trata-se da busca pelo lucro. Esse é o móbile que impulsiona a
ser classificados formação de organizações mercantis chamadas comumente de empresas.
em duas categorias Sob o ponto de vista da ciência administrativa, a compreensão do papel
principais: produtos e
de uma organização mercantil depende da existência de alguns pré-requisitos
serviços” (MAXIMIANO,
1985, p. 21). fundamentais – o ambiente (fonte de matéria-prima e insumos; nicho de mercado
para a comercialização de seus produtos), a administração (envolve funções de
decisão relativas à organização, controle, planejamento estratégico e funções de
produção relativos a bens e serviços), as relações de trabalho (interação entre
os empregados em consonância com as arenas da decisão e de produção) e
os objetivos (adequar os produtos às necessidades de consumo do mercado,

76 UNIDADE 3
conciliar os interesses dos proprietários com os interesses dos empregados,
zelar pela imagem da organização, perseguir a eficácia e a eficiência).
A empresa é um grupo organizado que dispõe de um conjunto de recursos
materiais e humanos, financeiros e logísticos, cujo emprego visa o alcance de
objetivos determinados e definidos – econômicos, sociais, culturais, recreativos,
“O conceito de sistema
assistenciais etc. É uma entidade autônoma que possui personalidade jurídica
enfatiza dois pontos
e patrimônio próprio cuja existência depende da mobilização planejada de importantes:
múltiplos recursos visando produzir bens e serviços para o mercado. Desse 1) a sobrevivência última
modo a empresa, além de ser um organismo econômico, também se configura da organização depende
de sua capacidade de
como um sistema social.
adaptação às exigências
Segundo a perspectiva da teoria dos sistemas, o ponto de partida
do meio; e
básico na descrição da uma organização empresarial enquanto sistema social 2) ao responder a estas
é o feedback, (retroalimentação), ou seja, o mecanismo responsável pela exigências, o foco da
constante adaptação da empresa às exigências de seu meio ambiente. De um atenção administrativa
deverá ser o ciclo
lado, essa relação interdependente entre a empresa e seu meio circundante
total input – processo
ocorre na medida em que a empresa obtém os recursos naturais (ou insumos – output” (OLIVEIRA,
produtivos) e os recursos humanos de que necessita para operar no mercado, 2002, p. 288).
aos quais designamos mediante vocábulo da língua inglesa de inputs. De outro
lado, a empresa responde ao meio circundante mediante o suprimento de bens
e serviços, os chamados produtos de consumo duráveis e não duráveis, aqui
designados pela expressão inglesa outputs. Assim, a existência das empresas Existe uma estreita
é dependente de sua própria capacidade de converter os insumos produtivos relação entre o objetivo
(inputs) em resultados previstos (outputs), conforme a demanda do mercado estratégico da empresa
e sua estrutura de
capitalista. Mas apenas naquelas condições favoráveis em que os custos de
organização, no sentido
produção forem de tal monta que compense a sua comercialização no mercado
de que a definição do
a preços competitivos e, preferencialmente, em ritmo de economia de escala tipo de estrutura que se
(situação em que a unidade física da empresa funciona a todo vapor para necessita implementar
satisfazer as exigências de um mercado em ebulição). numa empresa face ao
mercado competitivo
Tais condições econômicas são indispensáveis à continuidade do ciclo
passa primeiro pela
do processo produtivo (o fluxo input – processo – output) realizado pela empresa. definição clara dos seus
A sua eficácia organizacional, contudo, depende de duas condições básicas de objetivos estratégicos
aferição, a saber: que o emprego dos critérios de eficácia leve em conta o ciclo ou programáticos.
Assim sendo, a
total input – processo – output, e que tais critérios sejam capazes de exprimir
compleição estrutural
a interação da empresa com seu meio circundante. Porém, considerando a que uma empresa requer
precariedade de aferição do critério da eficácia organizacional, uma organização depende dos objetivos
empresarial é eficaz, em última instância, sempre que for capaz de manter o estratégicos desta em
relação ao mercado.
máximo de longevidade possível. Mesmo assim, deve se adotar mecanismos de

Sociologia aplicada a administração 77


avaliação que ateste o seu coeficiente de sobrevivência, o que pode ser realizado
mediante a utilização de indicadores associados à produção para o mercado
(lucro, vendas, nichos de mercado etc.); à eficiência (taxa de retorno em
relação à unidade de capital investido, por exemplo); à satisfação de clientes
DADO: componente
descritivo de um evento; e empregados; à capacidade de adaptação com relação às vicissitudes dos
é destituído de qualquer mercados de produto, de consumo e de trabalho; e ao desenvolvimento
contextualização ou técnico-operacional, financeiro, tecnológico, administrativo etc.
significado lógico;
O gerenciamento do conhecimento é apontado como um instrumento
constitui a matéria-
prima indispensável à administrativo capaz de alavancar a eficácia organizacional, uma vez que se
produção de tecnologia. apóia nas condutas de indivíduos e grupos, nas novas tecnologias da informação
e nos componentes estruturais da própria organização. É o que veremos no
INFORMAÇÃO: conjunto
tópico seguinte.
de dados classificados
e contextualizados
conforme um específico 3.2.1. As Empresas e a Gestão do Conhecimento
critério lógico orientado
para o alcance de um
A gestão do conhecimento (GC) expressa uma nova tendência analítica
objetivo determinado;
no campo das ciências das organizações que se orienta para o estudo do
constitui a matéria-prima
fundamental à geração clima e cultura organizacionais, tendo como variável situacional o processo de
de conhecimento. produção e gestão compartilhada de conhecimento (administração dos ativos de
conhecimento de uma organização).
Pode-se definir a gestão do conhecimento como um processo articulado
e intencional voltado para a promoção do desempenho geral de determinada
organização mediante o uso do conhecimento. Em outras palavras, a GC constitui
“A produção humana o processo sistemático e metódico de identificação, criação, inovação, renovação
pode ser vista como e implementação de determinados conhecimentos que são estratégicos e
uma criação de cruciais à própria existência de uma organização. Tais conhecimentos, pois, são
conhecimentos e a
considerados como uma vantagem competitiva capaz de garantir a sobrevivência
distribuição como
uma criação de de uma empresa no mercado.
conhecimentos em A gestão do conhecimento no ambiente organizacional visa o propósito
conjunto com os geral de assegurar a continuidade e a evolução da organização em um ambiente
clientes” (Sveibe,
de ‘alta voltagem’ competitiva. No varejo, proporciona os meios que permitam
1998:33)
inventariar, mediante mapeamento, o estoque de conhecimentos de uma
organização; racionalizar o uso do conhecimento especializado disponível;
ampliar o compartilhamento dos conhecimentos entre os participantes de
uma mesma organização; propiciar a construção de um ambiente favorável à
aprendizagem organizacional; equacionar os processos de substituição de
funcionários através do recurso ao mecanismo da árvore de competências etc.

78 UNIDADE 3
Na época em que vivemos conhecimento é poder, e não um fator
de produção adicional, a exemplo do capital, do trabalho e da terra. Ele é
estrategicamente importante para os processos de adaptação das organizações
empresariais a seu meio ambiente. Esse processo adaptativo a que a empresa
se submete é fundamental para o êxito e a sobrevivência das organizações
empresariais no mercado, uma vez que elas dependem da valorização dos
recursos humanos, da troca de experiências e conhecimentos individuais e a
identificação e mensuração monetizada do capital intelectual.
Na era do conhecimento e da informação, as mudanças nas estruturas
das empresas resultam, além da tecnologia em geral, da articulação das
tecnologias da informação, das tecnologias da comunicação e da força de trabalho
dependente de expertise (experiência), ou seja, derivam da convergência entre
recursos tecnológicos e conhecimentos pessoais. E essa convergência de meios
tecnológico-operacionais e cognitivos garante o desenvolvimento de novos
métodos, estratégias e habilidades que são fundamentais às organizações que
adotam o conhecimento como uma vantagem competitiva – criação de novos
serviços, mudança no conceito de espaço físico e mercadológico, valorização
das marcas e patentes de tecnologia.
Mas o que é, afinal, conhecimento? Uma resposta a tal indagação
remete previamente aos conceitos de dado e de informação (ver quadro
ao lado). O Conhecimento é conjunto articulado de informações ordenado
segundo um específico critério de verdade, o que envolve reflexão, síntese e
contexto. Mas o conhecimento pode ser identificado como de natureza dóxica
ou epistêmica. Quando falamos de conhecimento como sendo de natureza
dóxica nos referimos ao conhecimento empírico de caráter ordinário, cuja origem
resulta das experiências ou práticas cotidianas comuns das pessoas, daí ser
caracterizado como assistemático e ametódico. Já o conhecimento epistêmico é
aquele dotado de uma verdade cientificamente comprovada. Ele é sistemático,
metódico e objetivo, uma vez que, no quadro de uma realidade empírica, visa
à descoberta de certas regularidades entre certos fenômenos, cuja operação
cognitiva se dá mediante juízos de realidade, e não de valor, a exemplo do
conhecimento filosófico.
No plano analítico da atual da teoria das organizações circunscrito à gestão
do conhecimento, o conhecimento pode ser concebido como “uma capacidade de
agir”, e sua expansão, diversamente do que ocorre como os recursos materiais,
é diretamente proporcional às possibilidades de compartilhamento por parte dos
membros de uma organização (SVEIBE, 1998).

Sociologia aplicada a administração 79


Para Sveiber (Ibidem), é possível compreender o conhecimento a partir
de quatro características:

yy Tácito - Conhecimento pessoal que cada indivíduo dispõe em


função de suas próprias experiências no exercício de determinada atividade,
profissional ou não, obtidas num espaço de tempo relativamente longo; é de difícil
“O conhecimento é uma
formalização e comunicação, ou seja, não pode ser descrito adequadamente
atividade melhor descrita
como o processo de mediante o uso de conceitos, pois sempre sabemos mais das coisas do que
saber” (Michael Polanyi temos capacidade de expressá-las;
apud Sveibe, 1998:38). yy Voltado para a ação - O conhecimento é obtido graças à
nossa capacidade de traduzir as impressões que captamos a partir de nossas
experiências sensoriais; consequentemente, o processo de conhecimento
depende das ações de aprender, esquecer, lembrar e compreender;
yy Baseado em regras - O conhecimento pressupõe um sem
“Todo conhecimento número de regras associadas à tradição, a procedimentos de aprendizagem
está relacionado à teórica e à obtenção e aperfeiçoamento de habilidades práticas; tais regras
ação, e conhecer um
servem tanto para facilitar quanto para limitar o processo de saber através da
objeto ou um evento é
utilizá-lo assimilando-o filtragem de novos conhecimentos, além de estar vinculadas aos resultados das
de acordo com um ações;
esquema de ação” (VON yy Essencialmente mutante – Os conhecimentos que adquirimos
GLASERFELD apud
no decurso de nossas experiências de vida sempre são alterados na medida em
SVEIBE, 1998, p. 244).
que são articulados com os conhecimentos de que dispomos.

O compartilhamento do conhecimento constitui um dos mais importantes


Os quatro modos fatores da gestão do conhecimento, cuja operacionalização ocorre através dos
constitutivos do canais de rede de comunicação que proporcionam a disseminação célere de
processo de conversão conhecimentos e experiências.
do conhecimento
Segundo Nonaka e Takeuchi (apud SVEIBE, 1998; apud CHOO, 2003),
organizacional:
em seus estudos acerca da performance de determinadas empresas japonesas,
- Socialização; o conhecimento é produzido mediante a interação entre conhecimento tácito
(conhecimento do corpo; subjetivo, prático e análogo) e conhecimento explícito
- Externalização;
(conhecimento da mente; objetivo, teórico e digital). Essa interação entre
conhecimento tácito e conhecimento explícito são designados pelos autores
- Combinação;
supracitados como conversão do conhecimento, que, por sua vez, consiste em
- Internalização. quatro operações complementares que se retroalimentam sem cessar:

80 UNIDADE 3
 Socialização - Conversão do conhecimento tácito em
conhecimento tácito, baseado no compartilhamento de experiências (modelos
e habilidades mentais compartilhados), na apreensão cognitiva mediante ação
concreta (observação, imitação e prática);
 Externalização - Conversão do conhecimento tácito em
conhecimento explícito, fundados na articulação dos conhecimentos tácitos em
conceitos explícitos, nos processo de criação do conhecimento perfeito;
 Combinação - Conversão do conhecimento explícito em
conhecimento explícito conforme a combinação de conjuntos diferentes de “A organização que
for capaz de integrar
conhecimento explícito e o processo de sistematização de conceitos em um
eficientemente os
sistema de conhecimento. processos de criação de
 Internalização - Conversão do conhecimento explícito em significados, construção
conhecimento tácito cuja operacionalização depende da incorporação do do conhecimento e
tomada de decisões
conhecimento explícito em conhecimento tácito, da assimilação do conhecimento
pode ser considerada
explícito (conhecimento estruturado) como modelo mental. uma organização do
conhecimento” (CHOO,
A percepção do conhecimento depende da aprendizagem organizacional. 2003, p. 30).

Esta, por seu turno, se traduz pela capacidade que uma organização possui para
manter ou melhorar seu desenvolvimento com base na experiência adquirida.
A organização do conhecimento dispõe de informações e conhecimentos
cuja utilização intuitiva e/ou racional é capaz de lhes garantir um diferencial
competitivo. Para que uma organização seja inteligente (i.e., uma organização
do conhecimento), é necessário que ela seja capaz de articular as três arenas
distintas do uso da informação a serviço do crescimento e capacidade de
adaptação de uma empresa (CHOO, 2003):

 Criação de significado – Atualmente, as empresas são


obrigadas a conviver com constantes mudanças, o que torna incerta a sua
sobrevivência, pois depende de um fluxo regular e confiável de insumos
produtivos, recursos humanos e energia (inputs), além das exigências legais
e sociais responsáveis por sua identidade, área de influência e, naturalmente,
sua sobrevivência. Daí o imperativo de saber interpretar os sinais e mensagens
provenientes do ambiente externo, de modo a produzir respostas que as
mantenham em condições de competitividade, expresso em significados e ação,
garantindo o mínimo de estabilidade e previsibilidade ao meio ambiente em
que se situa, graças à articulação de quatro processos: mudança ecológica
(mudanças ambientais provocadoras de perturbações no modus operandi das

Sociologia aplicada a administração 81


organizações), interpretação (das notícias e mensagens oriundas do meio
externo), seleção (das interpretações possíveis e razoáveis) e retenção (de
As cinco características
centrais da organização significados criados para enfrentar situações semelhantes no futuro).
do conhecimento  Construção do conhecimento – A principal explicação para
segundo Peter Senge: o êxito das empresas no mercado competitivo decorre de sua competência
na criação do conhecimento organizacional. Este último, como já vimos, se
- Visão e objetivo
processa através da articulação entre conhecimento tácito e conhecimento
compartilhados;
explícito no contexto interno de determinada organização segundo quatro
- Domínio pessoal; operações de conversão – socialização (conhecimento tácito em conhecimento
tácito), exteriorização (conhecimento tácito em conhecimento explícito),
- Modelos mentais;
combinação (conhecimento explícito em conhecimento explícito) e interiorização
-Aprendizagem em (conhecimento explícito em conhecimento tácito).
grupo;  Tomada de decisões - A criação de significados e a construção
de conhecimentos são processos inerentes à organização do conhecimento
- Pensamento sistêmico.
que antecedem e propiciam os processos de tomada de decisões. Trata-se do
momento-chave em que as organizações são impelidas a escolher entre várias
alternativas possíveis uma estratégia que seja unificada e que represente a
resposta mais adequada em face dos desafios introduzidos pelas mudanças
ecológicas, facilitando o alcance de suas metas e objetivos.
Para Peter Senge (apud RESCHENTHALER e THOMPSON, 1996), a
identificação de uma organização como organização do conhecimento pode
ser feita com o auxílio de cinco características centrais, a saber:
• Visão e objetivos compartilhados - O objetivo explica porque
a organização existe, enquanto a visão justifica
para quê ou para onde. A aprendizagem criadora somente se
realiza quando as pessoas se esforçam em realizar algo que lhes interessam
profundamente; daí a importância da visão compartilhada;
• Domínio pessoal - Traduz a disciplina da contínua visão
pessoal aprofundante e esclarecedora, da energia focalizada, do exercício da
paciência e da visualização objetiva da realidade, assim como supõe o estímulo
autogerador de tomar iniciativa;
• Modelos mentais - Os modelos mentais e as metáforas
organizacionais que são incorporados às organizações são os componentes
integrais das culturas organizacionais; eles refletem-se na linguagem através
das metáforas que os indivíduos usam dentro das organizações;
• Aprendizagem em grupo - Requer alinhamento,
complementaridade, harmonização de esforços individuais e destino convergente.

82 UNIDADE 3
As organizações bem sucedidas dispõem de aprendizagem grupal na medida
em que o Q.I. do grupo é superior à soma matemática dos Q.I.s individuais dos
membros desse mesmo grupo.
• Pensamento sistêmico - Permite analisar a realidade
organizacional a partir do enfoque na totalidade de seus componentes, suas
inter-relações, adaptação e mudança, efeitos de retroinformação etc.

“O que é uma organização do conhecimento? Em um primeiro nível, a organização


do conhecimento é aquela que possui informações e conhecimentos que a tornam
bem informada e capaz de percepção e discernimento. Num nível mais profundo,
a organização do conhecimento possui informações e conhecimentos que lhe
conferem uma vantagem, permitindo-lhe agir com inteligência, criatividade e,
ocasionalmente, com esperteza. [...] no coração da organização do conhecimento
está a administração dos processos de informação, que constituem a base para
criar significado, construir conhecimento e tomar decisões” (CHOO, 2003, p. 17).

A realização do compartilhamento do conhecimento, atividade central


nas organizações do conhecimento, pode se realizar de dois modos não
autoexcludentes: prática informal (comunicação ocasional e não preestabelecida)
e prática formal (comunicação intencional e preestabelecida mediante
Os três ativos intangíveis
tecnologias de informação e comunicação (TICs): e-mail, videoconferência,
de uma organização
sistema de redes e mapeamento do conhecimento organizacional). segundo Karl Erik
É preciso conceber o conhecimento como o principal ativo das Sveibe:
organizações, os chamados ativos intangíveis ou, simplesmente, capital
intelectual. O capital intelectual consiste numa combinação de ativos intangíveis - Funcionários;

que proporcionam benefícios intangíveis às empresas, capacitando o seu


- Estrutura interna;
funcionamento. Assim, os ativos intangíveis são engendrados a partir do quadro
de recursos humanos de uma organização, compondo um balanço patrimonial - Estrutura externa.
de ativos intangíveis. Eis alguns exemplos:

 Ativos de mercado (marca, clientes, franquias);


 Ativos humanos (expertise, criatividade);
 Ativos de propriedade intelectual (know-how, patentes,
segredos industriais, copyright);
 Ativos de infraestrutura (tecnologias, metodologias).

Sociologia aplicada a administração 83


Mas o segredo do desenvolvimento ou evolução de uma organização,
observa Sveibe (1998), depende da competência dos chamados operadores
funcionais que participam da organização do conhecimento: o profissional, o
gerente, o líder e o grupo de apoio. A competência – que envolve cinco elementos
interdependentes: conhecimento explícito, habilidade, experiência, julgamentos
de valor e rede social ou de relações – constitui a base de cada um dos três
“A diferença entre o ativos intangíveis de uma organização (ibidem):
valor de mercado de
uma empresa de capital
yy Funcionários – Seu talento é a fonte das estruturas internas e
aberto e o seu valor
externas da organização;
contábil líquido oficial é
o valor de seus ativos yy Estrutura interna – Patentes, modelos, conceitos, sistema
intangíveis. Na maioria administrativos e de computadores; cultura ou espírito organizacional;
das empresas, o valor yy Estrutura externa – Relações com clientes e fornecedores,
dos ativos intangíveis
marcas e imagem da empresa.
é superior ao valor
dos ativos tangíveis”
(SVEIBE, 1998, p. 21). O capital intelectual constitui um componente que não pode ser
contabilizado, a exemplo dos ativos tangíveis (recursos materiais em geral), e
em muitos casos o seu valor de mercado (capital intelectual) supera o valor
contabilizável deste último (ativos intangíveis). O capital intelectual expressa a
capacidade que uma organização possui de suprir as exigências de mercado e
compreende os seguintes elementos ou ativos intangíveis:

 Capital humano - Fonte de inovação e renovação; inteligência


individual;
 Capital estrutural - Propriedade total da empresa; (tecnologias,
invenções, publicações, dados, patentes, sistemas, rotinas e procedimentos
organizacionais); inteligência organizacional;
 Capital do cliente - Valor decorrente dos relacionamentos
mantidos pela empresa com seus clientes.

Além do capital intelectual acima assinalado, cuja aferição constitui um


desafio para a contabilidade moderna, existem outros ativos intangíveis que
atualmente são cada vez mais
exigidos pelo mercado, e que expressam o imperativo do jogo do
contato da empresa com seus clientes, sobretudo num momento emblemático
representado pelo quadro de atuação das empresas sob a égide das
preocupações sociais, ambientais e de fidelidade mercantis:

84 UNIDADE 3
 Capital social - Padrão de relações da empresa com a sociedade
“Para ‘enxergar’
em geral visando à solução de problemas sociais como a fome, a educação, o a organização do
trabalho e a prostituição infantis etc. (responsabilidade social); conhecimento, os
 Capital ambiental - Reflete o compromisso da empresa com gerentes devem
procurar ver suas
o meio ambiente; se expressa pela aceitação de produtos cuja produção adota
organizações como
mecanismos que não implica na degradação da natureza; se elas consistissem
 Capital de relacionamento externo - Alianças e ou consórcios de estruturas de
comerciais com clientes, fornecedores e demais empresas, investidores, conhecimento e não de
capital” (SVEIBE, 1998,
agências reguladoras e governos (PPPs).
p. 21; grifo do autor).

Atividades

1. Pesquise sobre as organizações sociais.

2. Diferencie os conceitos de estrutura e função

3. Fale sobre estruturas de relações. Consulte os seguintes


sítios:

4. Que características distinguem as estruturas tradicionais das estruturas


http://www.wikipedia.org/
inovadoras? http://www.fgvsp.br/
conhecimento/home.htm
5. Quais os quatro travejamentos que servem para compreender melhor a
estrutura e a dinâmica de uma organização ou empresa? Comente cada
um deles.

6. Quais são os três tipos de dominação pura segundo Max Weber. Comente
cada um deles.

7. Quais são as formas básicas de autoridade no âmbito administrativo e


qual delas permite uma melhor performance organizacional?

8. Por que se afirma que as empresas constituem grupos organizados?

9. Defina gestão do conhecimento e explique o porquê de sua importância


para as organizações modernas.

Sociologia aplicada a administração 85


10. Quais são os quatro modos do processo de conversão do conhecimento
organizacional? Fale sobre cada um deles.

11. Quais são os pré-requisitos de uma organização do conhecimento,


segundo Chun Wei Choo? Reflita sobre cada um deles.

12. Segundo Peter Senge, quais são as características inerentes a uma


organização do conhecimento? Comente cada uma delas.

86 UNIDADE 3
UNIDADE 4
As Organizações
Governamentais

Resumindo
Após dissertar sobre as organizações em geral, vamos agora tratar da relação de interdependência entre
as principais instituições que conformam e animam as organizações governamentais - Estado, Governo e
Administração Pública. Pretende-se, aqui, explanar acerca das dimensões propriamente administrativas,
organizacionais e políticas de ditas organizações e sua interação com a sociedade em geral. Inicialmente,
definiremos cada uma das instituições supracitadas para depois relacioná-las entre si; analisaremos a
inter-relação entre elas e as demais organizações que caracterizam o mercado real e a sociedade civil; e,
por fim, realizaremos algumas reflexões sobre as relações internacionais e a importância da doutrina neo
liberal para a compreensão das transformações que assinalam o mundo contemporâneo globalizado.
4 AS ORGANIZAÇÕES GOVERNAMENTAIS

4.1 As Organizações governamentais

A arte de governar, desde a Grécia antiga, é tradicionalmente comparada


à arte de conduzir uma embarcação, de içar ou descer velas, de manusear o
timão e demais instrumentos de navegação. Contudo, o exercício das funções
de navegação pressupõe o conhecimento de técnicas de orientação cartesiana,
As organizações
assim como de um vocabulário específico, sem o qual a comunicação entre o governamentais são
comandante da embarcação e o manipulador do timão condena a embarcação regidas pelo direito
a ficar à deriva. Mais que isso: é preciso uma organização, que, conjugando público interno,
as diversas atividades e atribuições inerentes a arte da navegação, faça com dependem do poder
que a nau chegue ao destino previamente traçado, pois a articulação de político e integram o
rol das instituições de
todos os tripulantes em prol de um objetivo comum é condição sine qua non
natureza não mercantil.
para tal intento. Decerto que essas considerações se situam no plano das
determinações societais, ao largo dos acidentes de percurso provocados por
meios naturais incontornáveis, sejam eles concebidos em sua expressão mítica
– Silas e Caribde, o canto das sereias, a ingerência de Posêidon etc. – ou em
sua expressão objetiva inelutável. Mas acidentes induzidos por falta de perícia
são comuns, razão pela qual os tripulantes devem ser bem treinados e dotados
de conhecimentos técnicos que os habilitem a conduzir tempestivamente os
destinos daqueles que direta ou indiretamente dependem de sua competência.
Com a arte de governar se observa uma situação semelhante, embora deva “Entre as instituições
estatais que organizam
ser encarada em uma magnitude tal que a complexidade das dimensões que
a política da sociedade
envolvem tornam o ofício de governar incomparavelmente mais problemático. e que, em seu conjunto,
Sujeita à imprevisibilidades de natureza sócio-histórica, a arte de constituem o que
governar depende de um aparato técnico-metodológico capaz de minimizar o habitualmente é definido
grau de incerteza ou de indeterminação que a aceleração do tempo histórico como regime político as
teima em suscitar. Logo, a aceleração do tempo histórico constrange os que têm a missão de
exprimir a orientação
governos à aceleração da ação administrativa, isto é, à implementação de uma
política do Estado são
reforma do Estado propriamente dita, uma vez que os governos dependem tanto
os órgãos de governo”
de condições favoráveis de governança quanto de governabilidade para poder (LEVI, 2000, p. 553).
exercitar com desenvoltura o poder que lhes foi institucionalmente outorgado.
Em razão disso, o processo de modernização das administrações públicas
parece ser irreversível, embora as concepções acerca do papel do Estado
possam sofrer alterações no decorrer do tempo, sobretudo devido ao rodízio ou
à circulação das forças político-partidárias no comando do Estado.

Sociologia aplicada a administração 89


4.1.1. Estado Moderno

O advento do Estado moderno, entre os séculos XIV e XVIII, está


intimamente ligado às necessidades de defesa e unificação territorial; logo, surge
sob o signo da faculdade protetora, paralelamente à emergência do indivíduo
enquanto portador de direitos. Sob seu domínio o indivíduo passa a se constituir
no sujeito central do político. Aos poucos, o Estado moderno se transforma em
Estado-providência, que, por sua vez, consiste em um aprofundamento e uma
extensão.
Durante a vigência do Estado-providência, a ação divina é substituída
pela certeza da providência estatal mediante o aperfeiçoamento das técnicas de
seguro, que, por seu turno, é beneficiado pelo nível elevado do grau de certeza
da probabilidade estatística. Enquanto “o Estado protetor corresponde à garantia
de sobrevivência (a proteção física da vida), o Estado-providência corresponde à
garantia de uma abundância ‘mínima’ para todos os cidadãos” (ROSANVALLON,
1997, p. 27).
Mas, afinal, o que é o Estado? Quais são as definições possíveis acerca
dessa instituição moderna cujo advento constitui numa derivação direta da
genialidade jurídico-política europeia?

“O Estado é concomitantemente um constructo e uma representação jurídica


engendrada pela sociedade, não possuindo existência física própria. Contudo,
não deixa de ter uma existência concreta, embora objetivado em presença vicária
através da administração pública, e possua feição historicamente presente
mediante sua ação institucional no plano da realidade objetiva, graças a sua
organização institucional – o governo; também extrai seu estatuto de existência
da compreensão que as pessoas tem a seu respeito” (BUENOS AYRES, 2004,
p. 462).

Para Weber (1991), o Estado constitui uma “empresa”, uma comunidade


humana, ou uma associação política de tipo historicamente delineado e criado
na Europa ocidental, que reivindica e logra com sucesso o direito ao monopólio
legítimo de uso do constrangimento físico, e se traduz pela forma politicamente
mais organizada e racional de gestão da vida social dos indivíduos em
determinada circunscrição territorial.
Weber (Ibidem) ainda acrescenta que o Estado moderno é racional,
uma vez que se arrima num direito racional e num corpo de funcionários
especializados, ou seja, numa burocracia profissional. De modo que vemos em
Weber um conjunto de instituições como o capitalismo, a burocracia, o direito
racional e, tardiamente, a democracia gravitarem entre si como que integrado

90 UNIDADE 4
em sistema e sob a influência de um centro propulsor e unificador de ideias-
“O Estado nem
forças e ações proativas – governo local, nacional e transnacional. Mas é pouco está a serviço nem
eloquente quando o assunto é descrever a performance dessas instituições no é ‘instrumento’ de
mundo concreto, como, aliás, propõe seu compatriota Claus Offe (1984). uma classe contra
Para Offe (1984), o fenômeno político denominado Estado deve ser outra. Sua estrutura e
descrito tendo por base de análise a sua ação – e/ou reação – frente aos atividade consistem na
imposição e na garantia
problemas estruturais que surgem no âmago do sistema capitalista. Assim,
duradoura de regras
busca-se, nessa linha de concepção teórica, compatibilizar as “razões concretas
que institucionalizam
e de conteúdo” que justificam a conduta estatal com os “resultados materiais” as relações de classe
alcançados por essa mesma ação. Logo, o conceito de Estado capitalista específicas de uma
diz respeito a uma forma institucional de poder público em sua relação com classe capitalista. O
a produção material, cuja caracterização é dada pela articulação entre quatro Estado não defende os
interesses particulares
determinações funcionais:
de uma classe, mas sim
os interesses de uma
yy Privatização da produção - Apenas a propriedade privada sociedade capitalista de
é capaz de garantir a produção de bens e serviços em conformidade com as classe” (OFFE, 1984, p.
demandas do mercado, já que “o poder público está estruturalmente impedido 123).
de organizar a produção material segundo seus próprios critérios ‘políticos’”
(Ibidem, p. 123; grifo do autor).
As quatro determinações
yy Dependência dos impostos – o funcionamento do setor estruturais-funcionais
público não pode prescindir do “volume da acumulação privada”, razão pela qual que configuram a
lança mão dos mecanismos de política fiscal propiciadores da chamada receita “política” do Estado
derivada (tributos, taxas e contribuições); capitalista, segundo
yy Acumulação como pronto de referência – Considerando Claus Offe:

a dependência do poder do Estado com relação ao volume de produção das


- Privatização da
empresas privadas, convém ao poder público zelar pela funcionalidade geral
produção;
do sistema capitalista. Ou seja, garantindo, “as condições de exteriorização
de seu poder através da constituição de condições políticas que favoreçam o - Dependência dos
processo privado de acumulação” (as políticas industriais, agrícolas, monetárias, impostos;
de exportação etc.) (Ibidem, p. 124);
yy Legitimação democrática – Um partido ou coalizão de partidos - Acumulação como
ponto de eferência;
somente pode exercer o poder no contexto interno do Estado na medida em
que consiga garantir sua legitimação política através das urnas, por ocasião -Legitimação
das eleições gerais. O poder político submete, então, o Estado a uma dupla democrática.
imposição: o imperativo das regras do governo democrático-representativo
(forma institucional) e o imperativo do desenvolvimento e exigências do processo
de acumulação de capital (conteúdo).

A articulação entre essas quatro determinações estrutural-funcionais


expressa o que Offe (Ibidem) entende por “política” do Estado capitalista, e

Sociologia aplicada a administração 91


que consiste no “aspecto dinâmico da estrutura estatal”, a saber: “o conjunto
“Nossa tese consiste de estratégias mediante as quais se produzem e reproduzem constantemente
em afirmar que existe o acordo e a compatibilidade entre essas quatro determinações estruturais do
uma e somente uma
Estado capitalista” (Ibidem, p. 125).
estratégia geral de ação
Em suma, o que propõe Offe, a contrapelo de Weber (que se apoia numa
do Estado. Ela consiste
em criar as condições formal definição conceitual do Estado, e mesmo da democracia), é formular
segundo as quais cada uma concreta definição operacional do Estado, ou seja, individuar o modo de
cidadão é incluído articulação entre os principais elementos constitutivos do aparato estatal, e
nas relações de troca. como a conjugação desses elementos articulados, tomados em seu conjunto,
Criadas essas condições
articulam-se, por sua vez, com a sociedade circundante, cujo produto é expresso
[...] todos os quatros
sob a forma de política estatal, as chamadas políticas públicas.
elementos constitutivos
do Estado capitalista Apesar das críticas acerbas que se fazem acerca da própria existência
são igualmente e finalidade do Estado no mundo contemporâneo, esta importante instituição
considerados” (OFFE, jurídico-política ainda é capaz de exercer um papel funcional e estratégico na
1984, p. 125; grifo do resolução dos conflitos de legitimidade, no equacionamento dos problemas de
autor). acumulação e no desenho, formulação e implementação de políticas públicas
de toda ordem. Assim, para entendê-lo melhor, convém configurá-lo segundo
04 (quatro) nomenclaturas distintas, não obstante serem complementares
(CANOTILHO, 2000):

• Estado de direito - Assegura direitos, liberdades e a segurança


dos cidadãos contra as violências públicas e privadas por meio do monopólio do
“O Estado só pode
constrangimento físico legitimo (justiça e direito: juridicidade do poder);
continuar a manter-
• Estado de direito democrático - garante o reconhecimento
se como Estado de
direito, como Estado público de direitos democráticos no âmbito do Estado e da sociedade civil
democrático e como (sufrágio universal: legitimação democrática);
Estado Social se • Estado social - garante a renda mínima aos cidadãos (função
conseguir realizar- social redistributiva);
se como Estado • Estado da ciência e do saber - assegurar a criação de
educativo. Por outras
infraestruturas fundadas na educação e ciência para combater a violência pós-
palavras: a juridicidade,
moderna – a ignorância (socialização de saberes e competências).
a democraticidade
e a socialidade
estatais pressupõem Desde o final do século passado o Estado vem passando por
a democratização transformações que se manifestam em sua estrutura, dinâmica e papel no seio
dos saberes e das das sociedades de todo o mundo. E na esteira de tais transformações fica patente
competências”
a sua transfiguração de Estado positivo para Estado regulador. A identificação do
(CANOTILHO, 2000, p.
Estado positivo dá-se via intervenção no mercado, na condição de promotor-mor
24).
do desenvolvimento, sendo representado pelo modelo de gestão burocrático,
cujo modo de avaliação é feito a priori. O Estado regulador, por sua vez,
restringe-se à construção de marcos regulatórios indispensáveis ao controle das

92 UNIDADE 4
atividades de produção de bens e serviços ofertados pelo mercado, com base na
administração por objetivos e/ou resultados e na avaliação a posteriori- trata-se
do modelo de gestão gerencial.
Mas a compreensão adequada acerca da natureza do Estado depende
de sua articulação com o instituto do governo, já que este último é o responsável
pelo direcionamento político e pela conformação jurídica do próprio Estado, Governo atual (2007-
assim como de sua própria dinâmica no mundo concreto da realidade social, 2010).
política e econômica. Grupo coeso de pessoas
que exercem o poder
de governo e que
4.1.2. Governo
determinam a orientação
política de uma
A palavra governo deriva do termo grego kyberntes, cujo significado determinada sociedade.
semântico é “piloto ou timoneiro de uma embarcação”. Em linhas gerais,
governar alude a um processo continuado de ação através do qual a autoridade
de um indivíduo ou grupo é exercitada com vistas à persecução de determinado O governo é o órgão
objetivo. decisório por excelência,
O governo é, ao mesmo tempo, representante e expressão do Estado. é o centro propulsor e
Ele age sempre por procuração deste último, sendo a contrapartida concreta unificador do Estado.
da mera formalidade estatal. Consequentemente, falar de governo é, desde a Não se pode falar de
Estado, ensina Bobbio
Antiguidade, referir-se à arte de dirigir, conduzir.
(2000), se não se pode
Como organização institucional do Estado, o governo é o princípio
formular a seguinte
unificador deste, o instrumento mediante o qual os objetivos do Estado são pergunta: “Afinal, quem
elaborados e implementados. governa?”.
Pode-se definir governo sob duas perspectivas: constitucional e
sociológico. Segundo a perspectiva constitucional, define-se governo como a
instância institucional em que o poder do Estado se exprime de forma plena.
Sob a perspectiva sociológica, constata-se que nos Estados modernos o partido
ou a coalizão de partidos constituem os núcleos de poder em torno do quais
o governo gravita. Em suma, o governo é “uma forma de poder relativamente
autônomo em relação aos vários grupos sociais, com a função específica de
realizar a integração política da sociedade e a sua defesa no confronto com os
grupos externos” (LEVI, 2000, p. 554).
As referências às condutas governamentais implicam na
operacionalização dinâmica de duas categorias conceituais, a saber, governança
e governabilidade.
Governança refere-se à capacidade administrativa e financeira
das instituições públicas em dar cabo de seus objetivos estratégicos.
Governabilidade, por seu turno, diz respeito à capacidade governamental em
garantir a estabilidade do sistema político de maneira a viabilizar apoios políticos
(institucionais ou não) a seus propósitos de governo, geralmente sob a forma de

Sociologia aplicada a administração 93


estoques líquidos de lealdade da população. Em síntese, se a governabilidade
está associada às condições políticas em que se verifica o exercício da autoridade
política, a governança, por sua vez, está associada à qualificação do modo de
utilização de tal autoridade (MELO, 1996). Logo, governança e governabilidade
constituem atributos indissociáveis a qualquer investida político-institucional
almejada pelos governos nas esferas nacional, subnacional e municipal.

4.1.3. Administração Pública

A administração pública pode ser funcionalmente concebida como o


“governo em movimento”. Sob o ângulo da atividade, o conceito de administração
“Em seu sentido mais pública refere-se a uma multiplicidade de ações associadas à organização
abrangente, a expressão
estatal que compreende, de um lado, aquelas atividades típicas de governo,
administração pública
tais como as atividades associadas aos poderes de decisão e comando, as de
designa o conjunto das
atividades diretamente auxílio imediato ao exercício das próprias funções administrativas e aquelas
destinadas à execução atividades voltadas para o alcance de objetivos eminentemente públicos, como
concreta das tarefas é o caso das políticas públicas. Por outro lado, a administração pública também
ou incumbências desenvolve ações direcionadas à concretização daqueles objetivos públicos
consideradas de que são legalmente obrigatórios e aqueles que configuram funções de controle
interesse público
interno, de alocação e de estabilização macroeconômica (PASTORI, 2000). No
ou comum, numa
quadro geral da administração pública, deve-se ressaltar o caráter estratégico
coletividade ou numa
organização estatal” daquele conjunto de técnicos altamente especializados cuja função é viabilizar o
(PASTORI, 2000, p. 10 ). desenho, a formulação, a implementação e a avaliação das políticas públicas, a
saber, os elementos da tecnoestrutura estatal (IANNI, 1996).
Em sua dimensão estrutural, o conceito de tecnoestrutura estatal
compreende um corpo técnico especializado (tecnocracia), múltiplas
organizações burocráticas de apoio e complexos meios operacionais finalísticos;
em sua dimensão funcional, abrange alguns componentes interativos, tais como
a imbricação tecnocracia-órgãos de planejamento, formulação, implementação,
controle e avaliação das políticas públicas, a disseminação crescente de padrões
de pensamento técnico-científico; a hipertrofia do Poder Executivo em relação
ao Poder Legislativo; e o entrelaçamento mútuo entre a arena de dominação
política e a arena de acumulação-apropriação econômica.
Esse conceito de tecnoestrutura estatal é altamente estratégico na
explicação da estrutura e dinâmica funcional do Estado, particularmente no que
concerne ao processo decisório. E nessa temática estrutural-funcional o sistema
de decisão central é um núcleo nervoso formado por sete círculos concêntricos,
isto é, um dentro do outro, compreendidos no sentido centro/periferia. Trata-se
dos chamados círculos constitutivos do sistema de decisão central, em que a
participação dos funcionários no processo decisório assinala aqueles que influem

94 UNIDADE 4
sobre as decisões estratégicas de governo e aqueles que apenas pontualmente
se insere na cadeia de decisão administrativa (agentes internos). Mas tal sistema
de decisão central também comporta a interferência periódica (as eleições) ou
ocasional (comoção social nacional e/ou internacional) de agentes externos que “A Administração
se situam na periferia das decisões de Estado ou de governo (a desestabilização Pública constitui o
instrumento a partir do
do governo Collor, por exemplo). Assim, pode-se distribuir os participantes
qual o Estado almeja
institucionais do processo global de decisão governamental em sete círculos14:
a sua objetividade na
história – seu veículo
I. O primeiro círculo é composto pelo presidente da República e os ou hospedeiro -, uma
atores responsáveis pelo comando de sua estrutura institucional de apoio, que, vez que este último
por sua vez, são lotados nos órgãos essenciais, nos órgãos de assessoramento não passa de uma
imediato e nos órgãos de consulta; invenção jurídica que,
por sua vez, se funda
II. O segundo círculo de decisão é formado por organismos referentes
em um texto fundador; o
às organizações setoriais de apoio, ou seja, ao conjunto das administrações
governo, uma bússola a
setoriais representados pelos Ministérios com seus titulares diretos e corpo de guiar as suas ações, já
assessoria imediata; que, para o bem ou para
III. Os aliados externos do Estado compõem o terceiro círculo de o mal, deve contar com
decisão (os sindicalistas e as associações patronais de classe); uma direção, um projeto,
um práxis (BUENOS
IV. O quarto círculo de decisão é integrado por instituições de natureza
AYRES, 2004, p. 462).
política, conformadora do Poder Legislativo e por instituições de natureza
jurisdicional, isto é, o Poder Judiciário;
V. A sociedade civil organizada representa o quinto círculo de decisão
(periférico);
VI. A população eleitoral, por sua vez, representa o sexto círculo de
decisão (periférico).
VII. O sétimo círculo de decisão é representado pela sociedade civil
organizada internacional (periférico).

O Estado é um centro de decisão coletiva ex ante, uma vez que se


constitui um núcleo decisório que determina as estratégias de ação prioritárias
em conformidade com os objetivos governamentais previamente estipulados.
A sua atuação enquanto organização suscita, no entanto, alguns problemas,
tais como a distribuição assimétrica da informação (e de poder de decisão), os
conflitos ao nível das estruturas de decisão (disputa pelo poder) e a concorrência
entre os setores encarregados pelos serviços de execução. Além do mais, a
coesão e/ou lealdade dos funcionários são fundamentais para que as partes
envolvidas na execução da intervenção pública façam convergir suas ações,
garantindo a eficácia e a eficiência organizacionais.
14 Coube a Catherine Grémion o mérito de distinguir os quatro primeiros círculos do sistema de
decisão central no cerne das estruturas administrativas do setor público (MULLER, 1990). Quanto
aos demais círculos, a sua concepção é de inteira responsabilidade do autor do presente texto
(BUENOS AYRES, 2002).

Sociologia aplicada a administração 95


4.1.3.1. A Nova Administração Pública

A designação Nova Administração Pública se refere às incorporações
“A inexorável
programáticas de múltiplas idéias feitas nos últimos vinte anos no âmago
interdependência entre
da administração pública britânica (Whitehall) (GUILLEMANT, 1998). Ao
as instituições Estado,
governo e administração empreender uma investigação diacrônica sobre o tema em foco, Abrucio (1999)
pública nos induz a constata que a administração pública britânica evoluiu a partir de três fases
postular a idéia segundo distintas - e correspondentes abordagens - em torno do debate da introdução
a qual a existência do do ‘gerencialismo’ no Estado, desenvolvidas ao longo das décadas de 1980 e
Estado depende da 1990, tendo como marco referencial os seus principais objetivos associados
existência do governo
a cada fase e a relação destes com o administrado. Assim, a primeira fase,
e a existência deste
último, por sua vez,
que descreve o momento em que a abordagem do gerencialismo puro se
depende da existência afirmou, se caracteriza por uma preocupação constante com a eficiência e
da administração com a racionalização dos custos de produção dos serviços públicos, ou seja,
pública” (BUENOS com a produtividade deste, expresso pela máxima “fazer mais com menos”. A
AYRES, 2004, p. 462). segunda fase se inicia a partir da segunda metade da década de 1980, quando
noções como efetividade, melhoria de qualidade dos serviços públicos e foco
na satisfação dos clientes/consumidores são agregadas à gestão pública com
o intuito de corrigir os excessos da visão econômica do gerencialismo puro; é o
chamado consumerismo. A terceira e última fase apontada por Abrucio (Ibidem) é
A administração
gerencial se caracteriza
aquela que se identifica com a corrente da public service orientation (orientação
através dos seguintes para o serviço público), cujos pressupostos teóricos congregam as seguintes
traços distintivos: idéias: accountability, justiça e equidade, transparência e participação política.
• Gestão por objetivos; A articulação necessária entre accountability e o par justiça/equidade constitui,
• Predomínio da segundo o referido autor, uma das ideias-chave do modelo da public service
eficiência sobre a
orientation.
efetividade;
Ferlie et al. (1999) destacam que subjacente à transposição das técnicas
• Legitimidade fundada
na eficácia das ações de gestão da administração de empresas privadas para o setor público se
implementadas; verifica um conjunto de idéias e crenças no campo administrativo. As fontes de
• Transgressão ao tais princípios administrativos, que por sua vez são integradas por motivações
princípio da hierarquia; descritivas, normativas e mesmo ideológicas, estão associadas ao establishment
• Raciocínio sintético, acadêmico, aos profissionais da área administrativa e a fortes sinalizações
sistemático e teleológico;
emitidas do meio social. Assim, a concepção desse conjunto de princípios
• Foco na demanda;
•Descentralização
administrativos é objeto das mais diversas interpretações, tais como: uma
e flexibilização ideologia mercantil cuja intrusão no quadro das organizações governamentais
administrativa; trouxe consigo os valores da contracultura; uma administração de caráter
• Avaliação a posteriori. híbrido que, apresentando-se sob uma nova indumentária, sublinha os valores
essenciais que caracterizam o serviço público; uma descontinuidade notável nos
padrões tradicionais de gestão da esfera pública.

96 UNIDADE 4
A nova administração pública é resultante da articulação de um amplo
No âmbito da burocracia
rol de princípios administrativos que procedem de múltiplas origens cognitivas, o quadro administrativo é
e embora possua um forte componente de indefinição, é possível compreendê- formado por funcionários
la a partir de quatro modelos ideais, a saber: 1) impulso para a eficiência; 2) individuais que:
downsizing e descentralização; 3) persecução da excelência; e 4) orientação • São livres;
para o serviço público, sendo que a combinação entre tais modelos é comum. •São nomeados;
•Têm competências
Osborne e Gaebler (apud FERLIE et al., 1999), por exemplo, rejeitando o modelo
funcionais fixas;
inicialmente adotado pelo Governo americano, no âmbito do programa de Ronald
•São contratados;
Reagan, o modelo 1, o substitui pela associação entre os modelos 2 e 3 da nova •Possuem qualificação
administração Pública, contido no Relatório Gore, durante a vigência do governo profissional;
de Bill Clinton. •São assalariados;
De todo modo, como toda classificação, esta também é dotada de um •Desempenham
profissão no exercício de
determinado quantum arbitrário, e decerto tais autores não o ignoram. Alguns
seu cargo;
elementos dos conteúdos dos modelos em apreço são coextensivos, às vezes
•São destituídos dos
fronteiriços. Podemos mesmo dizer que no caso brasileiro esses quatro modelos meios administrativos;
estão articulados numa maior ou menor medida; uma garimpagem aleatória •Integram uma carreira
aqui, outra acolá. Mas não resta dúvida de que o modelo predominante é o no 1, específica;
uma vez que ele dispõe de um altíssimo teor de compatibilidade com a política •São submetidos à
governamental atual de equilíbrio das contas públicas. disciplina e controle de
serviço.
Abstendo-se de se estender mais nessa discussão sobre a nova
administração pública, em termos de seu híbrido conteúdo programático,
convém acrescentar que a sua aplicação empírica em terreno administrativo A transformação das
concernente aos vários aparatos estatais nacionais tem demonstrado a sua organizações públicas
deficiência – ou mesmo ineficiência - em diversas áreas de atuação, a saber: em organizações do
na garantia de uma proteção efetiva dos direitos dos cidadãos; na prevenção à conhecimento depende:

atuação autorreferenciada da burocracia pública; em assegurar o incremento de


Da adoção da cultura da
responsabilidade pública; e em impedir a apropriação privada do aparato estatal
aprendizagem;
por parte de grupos privados (GRAU, 1998)15.
No decurso dos últimos 30 anos, muitas das mesmas forças que Da introdução do
comandaram a mudança organizacional no setor privado também estão paradigma de gestão
conduzindo mudanças no setor público – é o que podemos chamar de efeito gerencial;
demonstração. Assim, no âmbito da Nova Administração Pública, a mudança
Da capacidade
organizacional, a criação de equipes, a gestão da qualidade total e a reengenharia
de sensibilização
terminam por estimular as entidades públicas a tornarem-se organizações do dos funcionários
conhecimento. Tal fato ocorre a partir da adoção de algumas características públicos em relação
nucleares que assinalam as chamadas organizações do conhecimento, conforme aos administrados,
classificação de Peter Senge (RESCHENTHALER e THOMPSON, 1996) (ver competidores e
Unidade 3): visão e objetivos compartilhados, domínio pessoal, modelos tecnologias.
15 A autora também se pronuncia quanto à influência negativa da nova administração pública no
que concerne à elaboração das políticas públicas. Idem com relação às questões associadas à
responsabilidade dos agentes públicos.

Sociologia aplicada a administração 97


mentais, aprendizagem em grupo e pensamento sistêmico.
Mas para que as organizações do setor público sejam consideradas
As tecnologias da
como organizações do conhecimento tornam-se necessários a adoção de alguns
informação envolvem
requisitos básicos:
recursos de hardware
e software enquanto
suportes à tomada • Adotar a cultura da aprendizagem - institucionalizar valores
de decisão e ao e práticas relativos à aprendizagem constante, visando a socialização dos
gerenciamento da conhecimentos adquiridos pelos grupos que integram o setor público;
informação e do • Introduzir o paradigma de gestão gerencial – Inocular no
conhecimento, garantem
contexto interno da administração pública os métodos e técnicas de gestão
a alavancagem dos
processos de conversão
provenientes do setor privado, a saber: contabilidade analítica, controle de
do conhecimento; e gestão, administração por objetivos, métodos custo-benefício, custo-eficácia,
permite a técnicas de grupo, com destaque para análise de sistema etc;
aplicação integrada e • Sensibilizar-se com administrado, competidores e
sistêmica à organização. tecnologias – Incutir nos funcionários públicos o sentido de missão no atendimento
aos usuários dos serviços ofertados pelo Estado; estimular os servidores públicos
à competir entre si de modo a ofertar os melhores serviços aos seus beneficiários
finais mediante gratificações por desempenho; e familiarizar os operadores
públicos com as mais diversas tecnologias de informação e comunicação, tais
As três funções básicas
como groupware (tecnologias de informação de apoio ao trabalho grupal),
exercidas pelo governo,
segundo Musgrave data warehouse (banco de dados responsável pelo armazenamento de dados
(apud RIANI, 2002): relativos às operações da empresa oriundo de um fonte única ou múltipla),
portal corporativo (porta de acesso às informações empresariais e às
Garantir a alocação de expectativas funcionais dos usuários corporativos), árvore do conhecimento
recursos; etc.

Garantir a distribuição
da renda e da riqueza; 4.2. Estado e sociedade

Garantir o equilíbrio As estruturas administrativas representam a característica mais evidente


macroeconômico. dos Estados modernos e contemporâneos, uma vez que manifesta, quase
fisicamente, a sua presença no plano da subjetividade. Tais estruturas dispõem
de um pessoal altamente qualificado, reconhecido por sua competência técnica,
cuja contratação dar-se profissionalmente e em caráter permanente; são os
chamados corpos burocráticos.
O crescimento da produção econômica provoca uma maior diversificação
da divisão social do trabalho e implica no crescimento do setor público, na
medida em que o Estado diferencia as suas funções em face do mercado. Logo,
a existência do setor público está diretamente associada à
impossibilidade de o mercado realizar uma alocação perfeita de todos
os bens e serviços ofertados pelas empresas, ou seja, o mercado, por si só, não

98 UNIDADE 4
garante a situação ótima de recursos – é a teoria do equilíbrio geral.
Segundo Musgrave (apud Riani, 2002), existem três razões que justificam
a intervenção pública, que, por sua vez, exigem o exercício de três funções
básicas previstas na política orçamentária: alocação (correção de equilíbrios
parciais), redistribuição (correção da dinâmica do mercado e prevenção do
aumento das desigualdades sociais) e estabilização (correção do equilíbrio
geral ou equilíbrio macroeconômico).
Uma vez que não existem condições políticas para uma alocação
ótima de recursos e bens a cargo do mercado, em virtude de o setor privado
ser incapaz de gerar uma produção ótima de bens e de serviços, o governo
desponta então como fator de intervenção na alocação de produção de bens e
serviços de acordo com as necessidades da sociedade. Quatro características
principais são apontadas como falhas do mecanismo do mercado na persecução
da produção ótima de bens e serviços:

 Indivisibilidade do produto - A ação do Estado se justifica


pela necessidade em assegurar a oferta de bens indivisíveis, ou seja, aqueles “A existência dos
bens cujo valor monetizado é determinado ao largo do sistema de mercado. bens puros mostra a
Em outros termos, trata-se de bens públicos puros (ou sociais, ou coletivos, ou impossibilidade de o
indivisíveis) não rivais e não exclusivos. São não-rivais porque o aumento do sistema de mercado
acesso das pessoas no consumo de tais bens não influencia na majoração de atender a todas
as necessidades
seus custos de produção. São não-exclusivos porque a eles não se aplica nem
da sociedade e se
o direito de propriedade nem o princípio da exclusão, ou seja, o
apresenta como uma
consumo simultâneo de vários indivíduos não implica na redução da das justificativas da
quantidade disponível de consumo para os outros, sendo vedada a exclusão do intervenção do governo
consumidor via pagamento de um preço. Os bens privados (ou bens divisíveis), na economia” (RIANI,
ao contrário, são rivais (a participação de um maior número de indivíduos no 2002, p. 34).
consumo de certos bens e serviços resulta na majoração de seus custos) e
exclusivos (a indisponibilidade de renda compatível com aquisição de bens e
serviços exclui o indivíduo do mercado). Os bens mistos (ou bens intermediários)
referem-se a todos aqueles bens cujos preços tanto podem ser determinados
pelo mercado quanto pelo setor público. Falar de bens mistos significa fazer
referência a bens públicos impuros (saúde e educação) e a bens privados
impuros (o pedágio numa ponte ou autoestrada);
 Externalidades – Assinalam as situações em que a intervenção
do governo na economia se faz necessário quando as atividades de determinadas
empresas ou agentes econômicos institucionais provocam prejuízos em outras
unidades produtivas ou mesmo na população em geral (a poluição de um rio pode
implicar em aumento nos custos de produção de uma empresa ou comunidade, o
que demandaria providências públicas em sanar ou amenizar o problema, diante

Sociologia aplicada a administração 99


do desinteresse da empresa poluidora.). As externalidades podem resultar da
ação da produção sobre a própria produção e o consumo e do consumo sobre
o consumo;
 Custo de produção decrescente e mercados imperfeitos –
Em face de um mercado cada vez mais competitivo, as empresas tendem a
incorporar novas tecnologias, o que assegura economias de escala. Esta, por
“A natureza não
mercantil das atividades sua vez, conduz à diminuição de seus custos de produção e, ato contínuo, à
realizadas pelas concentração do mercado. A conjugação de tais fatores resulta na conformação
organizações públicas de um mercado imperfeito;
concerne à conduta  Riscos e incertezas na oferta de bens – Os pressupostos
administrativa cuja da concorrência perfeita são comprometidos devido à falta de conhecimento
lógica operacional não
perfeito do mercado por parte de produtores e consumidores no mercado; à
se submete ao critério
imperfeita disponibilidade dos recursos; e à incerteza quanto à obtenção de lucro
de lucratividade sobre a
qual se apóia o mercado, em função das inversões de capital realizadas pelas firmas. As consequências
nem ao sistema de diretas de tal situação são a escassez de bens de consumo no mercado, o que
formação de preços exige a intervenção do governo de modo a evitá-la, já que muitas vezes os seus
deste último” (Buenos custos de produção são proibitivos.
Ayres, 2006:35).

4.3. Reforma do Estado e reforma administrativa

É possível citar pelo menos quatro premissas que procuram justificar


e embasar o diagnóstico da proposta de reforma do Estado aparelho estatal:
a crise do Estado, a suplantação de todas as outras linguagens ou lógicas
da administração pública pela lógica gerencial, a publicização dos serviços
não-exclusivos do Estado e a necessidade de imprimir ao Estado uma maior
capacidade de regulação e de coordenação de suas atividades.
A crise fiscal do Estado tem conduzido os governos dos países
industrializados a adotarem uma postura política de modernização da
administração pública que resulta numa nova representação da ação estatal
perante a sociedade inclusiva. Tal crise se acha por trás da onda de alijamento
do Estado do processo de promoção direta do desenvolvimento econômico, fator
este responsável pela redução de seu tamanho. Daí a defesa das correntes
neoliberais de pensamento em prol da implementação de um programa
sistemático de redefinição do papel do Estado, mediante a privatização de
empresas públicas e a desregulamentação do mercado, terminando por resvalar
para uma reforma da própria máquina pública – a reforma administrativa. No
Brasil, isso tem ocorrido desde o governo Collor, com a instituição do Programa
Nacional de Desestatização. Porém, a partir do governo Fernando Henrique
Cardoso, o processo de desestatização é intensificado e o Estado passa a
adquirir uma nova feição político-administrativa via adoção do modelo de gestão
gerencial.

100 UNIDADE 4
É importante destacar a existência de uma distinção importante entre
reforma estatal e reforma administrativa. A primeira sempre abarca a segunda.
Assim, por um lado, a reforma estatal lato sensu alude à redefinição do papel
e função do Estado em relação ao mercado e reestruturação do aparelho
ou aparato estatal (administração pública): privatização, desestatização,
desregulamentação, desburocratização.
Por outro, reforma estatal stricto sensu concerne à reforma da
administração pública propriamente dita – criação e extinção de órgãos públicos,
descentralização, desconcentração, reimplantação de plano de cargos e salários
etc. Portanto, toda reforma da administração pública supõe uma reforma estatal,
assim como toda reforma estatal está diretamente vinculada a uma reforma da
administração.

“No decurso da evolução histórica das organizações públicas e privadas é


bastante encontradiço as situações em que os aportes teóricos de ambas as
organizações tenderam a fertilizar os seus campos de atuação mediante uma
permutação simbiótica. A conjuntura atual assinala o momento histórico em que
grande parte do arsenal teórico da administração de empresas é instilada no
setor público com cada vez mais denodo e senso de onipresença geopolítica.
Desse modo, o advento do paradigma de gestão gerencial no contexto interno
do Estado se traduz por um movimento em que a legitimidade de sua ação se
subordina crescentemente aos fundamentos lógicos da racionalidade econômica
ditada pelas organizações mercantis” (BUENOS AYRES, 2006, p. 32).

De forma simplificada, pode-se analisar o processo de reforma do


Estado a partir de quatro travejamentos principais: condução da mudança As organizações
governamentais são
administrativa (caráter democrático ou autoritário da reforma do Estado),
compelidas a lidar
relação administrativa (modalidade de tratamento dos usuários das políticas
com as seguintes
públicas do Estado visando à elevação da sua satisfação com relação aos bens questões políticas e
e serviços, atos legais e atos administrativos públicos: usuário-cliente, usuário- organizacionais:
protagonista, usuário-parceiro, usuário-cidadão etc.) regime estatutário
dos servidores públicos (estratégias de flexibilização no âmbito da gestão Estabelecer sua intenção
dos recursos humanos) e arquitetura administrativa (formas de gestão estratégica;

descentralizada mediante a criação de agências autônomas, tais como a Anatel,


Delimitar suas fronteiras
a Aneel, a Ana, a Anvisa etc.; implica em diferenciar as funções estratégicas, reais;
a cargo do poder central, das funções operacionais, a cargo das estruturas
periféricas) (CHEVALIER, 1996). Definir suas
competências nucleares.

Sociologia aplicada a administração 101


4.4. Globalização, neoliberalismo e políticas públicas
“A globalização dos
espaços econômicos, Considerando o grau de integração das economias mundiais e a
políticos e sócio-culturais influência dos organismos multilaterais (Fundo Monetário Internacional, Banco
possui a contrapartida
Mundial, Organização Mundial do Comércio etc.), os governos são obrigados
da globalização dos
a abdicar de parcela da soberania de que dispõem, o que nem sempre lhe são
conflitos de interesses
e dos problemas de favoráveis. Uma situação geral que se revela por demais achadiça quando se
distribuição de riqueza e trata de países situados na semiperiferia e/ou periferia do mundo industrializado,
de renda, assim como da avançado e rico. Os efeitos dessa ordem político-mundial se fazem sentir
desigualdade das regras crescentemente, sem que medidas compensatórias, ou mesmo preventivas,
de funcionamento do ainda que aventadas e acalentadas, sejam adotadas, tais como a taxa Tobin, que
mercado internacional
poderia incidir sobre os capitais especulativos, ou da contenção dos subsídios
de bens de consumo, de
estatais que os governos centrais concedem aos produtores agrícolas, fator
trabalho e de capital - a
homogeneização dos esse responsável pelo descomunal desequilíbrio da balança de pagamentos dos
espaços ontológicos países periféricos.
ditados pelo capitalismo O Brasil se enquadra nessa situação geral. De um lado, é constrangido
organizado conduz pelos institutos nacionais e internacionais de crédito monetário a honrar os seus
à homogeneização
compromissos financeiros para manter a sua condição de adimplente e assim
das reivindicações
tornar atraente o ingresso de capitais vitais para o pagamento das dívidas externas
por equidade e justiça
sociais” (BUENOS e internas. A consequência direta desse acerto se traduz por um rigoroso ajuste
AYRES, 2002, p. 295). fiscal, ao lado de um controle cambial flexível e de privatizações de empresas
estatais. De outro lado, é premido pelos problemas crônicos do país, como por
exemplo, a desigualdade de renda e de riqueza, responsáveis pelo deplorável
contingente de mais de 40 milhões de brasileiros que economicamente se
situam abaixo da linha da pobreza, ou seja, percebem menos de 2 dólares por
“Existe política pública dia. Diante de números tão elevados de miseráveis, a demanda por assistência
quando uma autoridade social sob a forma de bens e serviços públicos diversificados exige do Estado
política local ou nacional
uma racionalização tanto das técnicas e modos de gestão da administração
procura modificar,
pública quanto na focalização regional, local e personalista das demandas por
através de um programa
de ação coordenado, serviços públicos. A conciliação um tanto quanto antagônica entre problemas
o meio cultural, social financeiros e problemas sociais agudos somente pode circunstancialmente
e econômico de atores passar pela valorização e qualificação técnica dos agentes públicos, sobretudo
sociais compreendidos aqueles que são incumbidos do desenho, da elaboração, da implementação e
em geral em uma lógica da avaliação das políticas públicas. Esforços importantes nesse sentido têm
setorial” (MULLER,
sido feitos, porém seu alcance vem sendo firmemente contido por conta do que
1990, p. 25, 26).
denominamos como a síndrome do ajuste fiscal.
O neoliberalismo se afirma institucionalmente na mesma proporção em
que o Estado-providência, em sua expressão keynesiana, (o Estado de bem-estar
social) é confrontado com uma crise em seus fundamentos socioeconômicos,
sociais e políticos. A escalada de gastos nos orçamentos sociais é contida devido

102 UNIDADE 4
ao desequilíbrio fiscal provocado pelo aumento dos níveis de desemprego,
A política pública
sobretudo a partir do choque do petróleo, no início da década de 1970. A política consiste em um
do pleno emprego, que vigorava desde 1945, é substancialmente esvaziada, processo de mediação
conduzindo à perda da centralidade do trabalho como princípio da política social cujo propósito
econômica (a crise previdência social). A perda da centralidade do trabalho é evitar as distorções
coincide com a afirmação e consolidação da centralidade da política de combate que podem surgir entre
um setor e os demais
à inflação associada à valorização financeira do capital.
setores, ou mesmo entre
No que respeita ao papel do Estado e as políticas públicas, e numa
um determinado setor e
perspectiva mais essencial do debate filosófico e doutrinário, inexiste diferença a sociedade global, de
entre o liberalismo do século XVIII e o liberalismo dos séculos XX e XXI (Fiori, maneira que seu objeto
1997). não é mais do que a
As teses e as propostas centrais do velho e do novo liberalismo continuam administração racional
da relação global-setorial
as mesmas, podendo ser enumeradas ou decompostas em número de três:
(MULLER, 1990).

1) A minimização máxima possível do Estado e da política – “A busca da


despolitização total dos mercados e a libertação absoluta de circulação dos
indivíduos e dos capitais privados” (Ibidem, p. 202);

2) A defesa intransigente do individualismo – a ideia segundo a qual a procura


da realização dos interesses egoístas dos indivíduos conduz à plena satisfação
de todos;
“A transmigração
extraterritorial do
3) A temática da igualdade social – bem entendida esta como igualação de
Estado-nacional
oportunidades ou igualdade de condições iniciais para todos. via constituição
de empresas
Contudo, o novo liberalismo apresenta algumas distinções fundamentais transnacionais, ou,
em relação à compreensão de seu ‘predecessor’, a saber: em outros termos, a
transnacionalização
das empresas
a) A pretensão clara de se formalizar enquanto cientificidade, fundada no
enquanto fenômeno
chamado “individualismo metodológico”, que se manifesta na tentativa de atingir da ‘transestatalidade’,
um nível teórico elevado de sofisticação formal e matemático: as teorias dos constitui o mecanismo
jogos, das expectativas racionais e da escolha pública; básico a partir do qual
b) A combinação de tais idéias com as transformações econômicas e se afirmam e consolidam
políticas materiais assumidas pelo capitalismo, do mesmo modo que o avanço do os fundamentos de
uma ordem política
capital propiciou as condições empíricas para o advento das ideias neoliberais;
global sob a égide
c) A quase universalização do pensamento neoliberal, graças à derrocada
de uma federação de
do ‘comunismo’ e o avanço das ideias e políticas do liberalismo redivivo, Estados pós-westfaliana”
consubstanciada no Consenso de Washington (privatização, desregulamentação, (BUENOS AYRES,
desestatização etc.); 2004´, p. 452).

Sociologia aplicada a administração 103


d) A tentativa de solapamento do welfare state: a vingança do capital
contra a política e os trabalhadores (Ibidem).
“O que está acontecendo
no mundo não é o As colocações feitas em unidades anteriores concernentes à relação
desaparecimento dos micro-macro, conjuntura e estrutura, biografia e história são igualmente
Estado como principais apropriadas para compreender melhor o fenômeno da globalização, ou
atores do sistema mundialização. Elas permitem constatar a relação direta entre o local (Piauí) e o
(embora alguns outros
global (mundo), a periferia (Brasil) e o centro (G-7), o privado (unidade doméstica)
atores transnacionais
e o público (repartições burocratizadas, tanto privadas quanto públicas).
estejam alcançando
proeminência ainda O processo de globalização, para usar uma nomenclatura mais
maior), mas sim sua popularizada, consiste num intenso fluxo ou intercâmbio de mercadorias
aceitação do fato de (ou commodities), produtos, serviços, pessoas, ideias, movimentações
que precisam trabalhar financeiras, alternância no controle das empresas transnacionais, ambiência
em conjunto para poder pró-pancontinental e pró-comunicativa etc. O conjunto complexo de interações
controlar uma variedade
comerciais e não comerciais que ocorrem entre os indivíduos, entre as empresas,
de interdependências”
(ZACHER, 2000, p. 95).
entre os estados federados (subnacionais), entre as nações, se desenvolvem
no interior do mercado, aqui concebido como um sistema de intercâmbios de
propriedades. E na medida em que esse sistema de intercâmbio de propriedades
se internacionaliza, o mundo tende a se uniformizar, tornando hiper-complexas
as relações comerciais, políticas e jurídicas travadas entre os Estados nacionais
e, sobretudo, entre as grandes empresas transnacionais. As implicações diretas
dessas relações hiper-complexas no contexto global das relações internacionais
engendram um fenômeno político e jurídico que tem como resultante a perda
de soberania do Estados em função das chamadas externalidades físicas
internacionais, ou seja, em função daqueles problemas associados ao meio
ambiente (com destaque para o fenômeno do aquecimento global, ou efeito
estufa), ao terrorismo, ao tráfico de escravas brancas, à saúde, ao narcotráfico,
aos crimes contra a humanidade etc, cuja existência desafia as ordens legais
nacionais, fazendo-as abdicar de seus ordenamentos jurídicos, já que tais
problemas extrapolam os seus limites territoriais e, portanto, jurisdicionais. Em
compensação, renunciam a uma parte de sua soberania em prol da construção
de uma nova ordem internacional, em que os problemas verificados em suas
circunscrições territoriais terminam por demandar esforços conjugados na sua
resolução. Daí a importância crescente em se entender o papel tanto dos Estados
e das empresas transnacionais quanto das organizações não-governamentais,
ou organizações do 3º setor, no cenário global das relações internacionais. Estas,
por sua vez, tendem a exercer um papel cada vez mais estratégico não apenas
na compreensão das relações internacionais, mas também nas transformações
por que passam o mundo contemporâneo.

104 UNIDADE 4
Atividades

1. Faça uma diferenciação entre organizações governamentais e não


governamentais. Saiba Mais
Consulte os seguintes
sítios:
2. Reflita sobre a articulação existente entre Estado, governo e administração
http://www.wikipedia.org/
pública. http://www.pqsp.
planejamento.gov.br/
3. Analise sobre a nova administração pública em face da reforma do Estado. fundamentos.htm
http://www.
4. Quais são os requisitos para que as organizações públicas se transformem bresserpereira.org.br/
ver_file_3.asp?id=109
em uma organização do conhecimento, segundo Peter Senge?

5. Quais as razões elencadas por R. A. Musgrave para justificar a intervenção


do governo no mercado?

6. Faça uma comparação entre reforma estatal e reforma administrativa.

7. O que é política pública?

8. Qual a influência do neoliberalismo sobre as políticas públicas?

Sociologia aplicada a administração 105


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