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PROJETO DE PESQUISA

TEMA:

Ética Cristã e Responsabilidade Social

PROBLEMATIZAÇÃO:

A religião como constituinte da cultura exerce grande influência sobre os


indivíduos de uma comunidade. Toda religião tem um conjunto de normas e
regras de conduta que visam o bem-estar de sua comunidade, “normatizando”
suas relações entre os indivíduos. O indivíduo e a comunidade cristã estão
inseridos dentro de um contexto social bem maior, a cultura e o mundo. O que
o cristão tem a dizer ao mundo? Que responsabilidades eles ou ele tem com a
sociedade? O que a religião pode fazer para que haja harmonia na conduta do
individuo na sociedade? Como determinar o que é viver bem em sociedade? A
razão pode conduzir ao entendimento correto do viver bem nos
relacionamentos sociais? A Ética Cristã seria capaz de despertar nas pessoas
o compromisso de reduzir a desigualdade social, de exclusão e de corrupção?
Como que a Moral Cristã visa “normatizar” a conduta do indivíduo no contexto
social? Quais os princípios de uma Ética Cristã?

OBJETIVOS

GERAL:

• Demonstrar que a conduta Cristã não deve cuidar apenas do


aspecto espiritual, mas propor a prática de Jesus como norma social de
agir do indivíduo, enfatizando os aspectos sociais do viver humano em
sociedade, com o outro.

ESPÉCÍFICOS:
• Identificar pontos na doutrina cristã que convocam a uma preocupação
com o social, com o outro;
• Apresentar algumas atitudes no texto bíblico capazes de determinar um
agir - social, uma práxis para tal conduta;
• Criar laços que vinculem a Ética Cristã com a Responsabilidade Social
capazes de garantir o cuidado com o outro.

JUSTIFICATIVA:

A moral é constituinte da cultura, e esta por sua vez é responsável pelo


comportamento humano diante da sociedade. Toda religião traz em seu bojo
um conjunto de leis que normatizam a conduta de seus seguidores,
transformando seus valores e conseqüentemente seu caráter.
A religião é constituinte da cultura e esta por sua vez condiciona a visão
de mundo do indivíduo, logo um sistema cultural vai produzir um
comportamento padronizado. A cultura molda a vida do ser humano,
preparando-o para enfrentar questões éticas e morais diariamente.
Ao longo dos tempos, a Ética Cristã, as igrejas evangélicas têm dado
ênfase apenas à “conversão” ao Cristianismo evangélico como meio de garantir
à salvação pessoal. Muito é exigido do convertido no âmbito moral. Entretanto,
este modo de ver a Ética Cristã levou a maioria das Igrejas a abandonarem o
aspecto social, o viver social do homem, negligenciando, assim, questões
como o desemprego, a falta de moradia, desrespeito a dignidade humana,
fome, entre outros aspectos sociais.
A alegação para tal postura é que esta não deve ser a preocupação das
Igrejas. Tal preocupação cabe aos governos. À Igreja cabe apenas cuidar da
alma e nada mais.
Este trabalho tem, portanto, a preocupação de demonstrar as
possibilidades de se articular devidamente os campos da pessoa e da
sociedade; do espírito e do corpo, não sucumbindo numa visão estreita que
exclua um deles.
A importância desse empreendimento científico reside no fato de
investigar a expansão do conhecimento acerca da Ética Cristã,
desembaraçando as diversas dúvidas sobre a compreensão da mesma e
esclarecer qual o verdadeiro papel desta: alienadora ou libertadora?
Damo-nos conta hoje da importância desse entrelaçamento entre o
espiritual e o social. A interação pessoa – sociedade, não anula a preocupação
com a alma, pelo contrário, com sua conversão a esta ou aquela denominação
evangélica, o cristão deve ser um construtor do humano, que está preocupado
com o bem estar social do todo.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

O Cristianismo, com seu código moral pode ser considerado um


instrumento de promoção da dignidade humana e da construção de um ethos
de compaixão.
No século XXI, apesar de tanto se falar em humanização, o ser humano
dia após dia, parece, estar perdendo a capacidade de amar o outro, criando,
assim a predominância do desamor, causa de conflitos morais, sociais,
econômicos, religiosos, entre outros.
Assim sendo, a proposta deste projeto é tentar aproveitar o Cristianismo
como uma alternativa de instauração de um mundo de equidade, ao qual todos
somos chamados a construir como nos declara o próprio Jesus no livro de
Mateus capítulo 22 versículos 34 ao 40, quando interrogado pelos líderes
religiosos de sua época:
“Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus,
reuniram-se em conselho. E um deles, intérprete da Lei,
experimentando-o, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande
mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo,
semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”
(Mateus, p. 22).

Tal citação demonstra o alto grau de compromisso moral que aquele que
se intitula cristão deve ter para com o outro. Pois, tal Ética se propõe em
percepção com o outro, em apreensão, zelo, cuidado, tanto com os que não
pertencem a tal grupo. Visando o bem estar do outro, a Ética Cristã se propõe
a um grande desafio no século XXI, no qual muitos tem esquecido até de si
mesmo em busca de satisfazer suas paixões.
Grenz (2006, p.61) afirma que a existência humana implica a busca da
moral e só a vida ética é que pode proporcionar o viver bem em sociedade.
Através da razão o indivíduo promove o próprio bem-estar, humanizando a
humanidade e proporcionando a fruição do viver bem.
De acordo com Chauí (2004, p.307) “moral vem do latim, mos, moris,
que quer dizer “costume”, e no plural, mores; significa os hábitos de conduta ou
de comportamento instituídos por uma sociedade em condições históricas
determinadas”. O ser humano em sua busca pelo viver bem precisa de um
conjunto de hábitos de conduta ou de comportamento que o guie nessa
jornada, que o oriente a viver em sociedade, portanto “moral é tudo aquilo (ato,
comportamento, fato, acontecimento) que realiza o homem, que o enraíza em
si mesmo e, por ele e para ele, ganha sentido humano” (PEREIRA, 2004, p.11).
A moral é resultante das relações humanas, pois o homem é um ser
social que vive em sociedade, portanto não está isolado do mundo. Toda moral
é transmitida pelo um grupo social, cultural/histórico em que o indivíduo esteja
inserido. Conforme afirma Pereira:
“Nenhum homem é uma ilha. Não existe moral pura, isolada pelo indivíduo,
sem o seu aspecto de concordância entre os indivíduos, a comunidade e a
herança que ela traz como história, sociedade, natureza e cultura. Aliás, a
moral está aí tão-somente para garantir essa concordância” (PEREIRA,
2004, p.22).

Deste modo a moral serve como consenso, harmonia entre os indivíduos


que se relacionam entre si buscando uma consonância. A moral é a realização
do homem interior, aquilo que acredita, valoriza e o norteia em sua conduta
social em meio a sua comunidade ou sociedade na qual está inserido.
Toda moral tem uma função social que consiste na regulamentação das
relações dos indivíduos entre si e os indivíduos e a comunidade que
contribuem de certa forma com uma sensata ordem social (VÁZQUEZ, 2003,
p.28). A moral só cumprirá sua função social quando for interiorizada
intrinsecamente e vivida na práxis, no exterior do indivíduo com o meio.
A moral diferente do campo do direito, que impõem suas normas
coercitivamente, aspira que os indivíduos aceitem livremente e
conscientemente através da reflexão a proposta aludida por tal moral. Em
suma a função social da moral segundo Vázquez (2003, p.69) é “regular as
ações dos indivíduos nas suas relações mútuas, ou as do indivíduo com a
comunidade, visando preservar a sociedade no seu conjunto ou, no seio dela, a
integridade de um grupo social”.
Não podemos desvincular moral pessoal da moral social já que os
indivíduos para viver em comunidade sujeitam-se a princípios morais que
visam regulamentar suas ações, que trazem conseqüências diretas para si e
para os outros que o rodeiam. A religião, portanto tem essa função de “regular”
a relação do indivíduo e seu Deus, como sua relação com o próximo que
convive consigo no meio social em que está inserido.
Vázquez (2003, p.214) declara que um ato moral independente ou
esporádico não constitui um indivíduo como virtuoso. Ele define virtude como:
“A virtude (do latim, virtus, palavra que, por sua vez, deriva de vir, homem,
varão) é, num sentido geral, capacidade ou potência particular do homem e,
em sentido específico, capacidade ou potência moral”. Portanto para que haja
a realização da moral é preciso que haja o exercício persistente e invariável
daquilo que o indivíduo assimilou como valores morais e que estão intrínsecos
em seu caráter.
Toda religião busca transformar moralmente seus adeptos buscando
padronizar a conduta dos indivíduos em comunidade. O Cristianismo, como
religião não é diferente, ele busca identificar esses valores e difundi-los a fim
de que possam ser cultivados pelos seus seguidores, buscando assim uma
transformação moral e espiritual.
O Cristianismo busca o “dever ser”, um padrão ideal, um modelo para a
vida em sociedade dos indivíduos. Nesta busca do “dever ser”, ele apresenta
um conjunto de normas e leis, uma proposta moral, que possa regulamentar a
conduta dos indivíduos aderentes a tal proposta. Essa “normatividade” só será
possível, diz o Cristianismo no livro de Tiago capítulo 01 versículos 16 aos 18
que trata da origem do bem, quando o homem se voltar a Deus:
“16Não vos enganeis, meus amados irmãos. 17Toda boa dádiva e
todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em
quem não pode existir variação ou sombra de mudança. 18Pois,
segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para
que fôssemos como que primícias das suas criaturas.” (TIAGO,
p.185).
A partir do momento em que o homem se chega a Deus, ele muda os
valores, mudando os valores ele muda o seu comportamento, não só
internamente como externamente, ou seja, não só o relacionamento com Deus,
mas consigo mesmo e com o próximo.
Homes (2002, p.58) declara que a Ética Cristã é “amar a Deus sobre
todas as coisas” e “amar ao próximo como a si mesmo”, primando por esses
princípios os homens poderão viver bem em sociedade.
Se não houver um acordo entre as regras morais do indivíduo, que
norteia o seu viver em sociedade, e suas inclinações naturais pode haver um
conflito interior que desarmonizem toda a conduta deste indivíduo. Tal sujeito
moral pode gerar grandes conflitos no meio social em que convive,
prejudicando até mesmo os que estão ao seu redor. De acordo com Lewis
(1979, p.39), esta “harmonia interior” é um ideal que o Cristianismo se propõe a
alcançar, senão nesta vida quem sabe na outra, mas que nortearão o indivíduo
a viver bem em sociedade, com o outro.
O Cristianismo busca através dos fundamentos de sua moral
“normatizar” a conduta de seus adeptos em sociedade, restaurando o
relacionamento deste indivíduo primeiramente com Deus o que proporcionará
uma mudança em sua conduta com o outro.
A Ética Cristã não visa, alienar, manipular ou controlar o indivíduo em
suas ações ou sua conduta, mas administrar, direcionar, conduzir o indivíduo
em sua vida em particular e em sociedade. Segundo LEWIS (1979) a
humanidade é comparada a uma banda de música, que para ter sucesso é
preciso que todos os seus instrumentos estejam bem afinados e tocados no
momento certo para se harmonizar com os demais.
“A moral parece então relacionar-se com três coisas. Primeiro, com a justiça
e a harmonia entre os homens. Segundo, com o que se poderia chamar de
uma arrumação e harmonização das coisas no interior de cada um.
Terceiro, com o objetivo moral da vida humana como um todo, com o fim
para qual o homem foi criado” (LEWIS, 1979, p.39)
Portanto, a Ética Cristã não se propõe a uma soberania “da razão, o que
seria loucura, mas a soberania do diálogo em que racionalidade, amor e poesia
estão sempre presente e ativos. Visa a uma sabedoria que não reside na
impossível vida racional, mas na auto-elucidação e na compreensão. Não
comanda, pilota a paixão. A ética complexa não pode e nem deve sufocar os
nossos demônios, mas, como piloto de lançamento, guia a liberação energética
deles. [...] Não é triunfante, mas resistente. Resiste ao ódio, à incompreensão,
à mentira, à barbárie, à crueldade” (Morin, 2005, p.197), à corrupção, à
arrogância humana, e até mesmo ao desejo de assumir o lugar de Deus e, de
tomar o lugar e a liberdade do outro.
BIBLIOGRAFIA:

- Bíblia de Jerusalém. Ed. Paulus. 3 impressão, 2004.

- CHAUI. Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.

- GRENZ. Stanley J.,1950. A busca da moral: fundamentos da Ética


Cristã. São Paulo: Ed. Vida, 2006.

- HOLMES. Arthur F., Ética – As decisões morais à luz da Bíblia. Rio


de Janeiro. Ed. CPAD, 4 ed. 2002.

- LEWIS. C. S. A Razão do Cristianismo. São Paulo. 1985. Ed. ABU, 2


ed. 1985.

- MORIN, Edgar. O Método 6. Ética. Porto Alegre: Ed Sulina, 2005.

- PERREIRA, Otaviano. O que é moral. São Paulo. Brasiliense, 2004.


(Coleção primeiros passos, 244).

- VAZQUÉZ, Adolfo Sanchez. Ética. 24º ed. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2003.

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