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COLÉGIO ESTADUAL DEMOCRÁTICO DR.

RÔMULO ALMEIDA
COMPONENTE CURRICULAR: SOCIOLOGIA PROFESSOR: ERASMO CORREIA
SÉRIE / TURNO / TURMA: ______________ DATA: ________/________/________

ALUNO (A): ______________________________________________________________________

PROPOSTA DE LEITURA
– I UNIDADE –

As transformações no Ocidente e as novas formas de pensar a sociedade

A Sociologia, no contexto do conhecimento científico, surgiu como um corpo de ideias a respeito do processo
de desenvolvimento e consolidação da sociedade moderna. Ela é fruto da Revolução Industrial e, neste sentido, é
denominada “ciência da crise”, porque, com base nela, procurou-se dar respostas às questões sociais impostas por esse
processo de mudanças que, num primeiro momento, alterou a sociedade europeia e, depois, a maior parte do mundo.
A Sociologia como “ciência da sociedade” não surgiu de repente, ou da reflexão de algum autor iluminado; ela
é fruto do acúmulo de conhecimentos sobre a sociedade que se desenvolveu a partir do século XV, acompanhando as
significativas transformações que tiveram como resultado a desagregação da sociedade feudal e a constituição da
sociedade capitalista. Essas transformações – a expansão marítima europeia e ampliação do comércio ultramarino, a
formação dos Estados Nacionais, a Reforma Protestante, o desenvolvimento científico e tecnológico – estão
vinculadas umas às outras, não podendo sua compreensão ser compartimentada. Elas são o pano de fundo que permite
entender melhor um movimento intelectual de grande envergadura que alterou profundamente as formas de explicar a
sociedade desde então.
A expansão marítima europeia teve um papel importante nesse processo, pois, com a circum-navegação da
África e a conquista de rotas para as Índias e para a América, a concepção de mundo dos povos europeus foi
consideravelmente ampliada. A definição de um mundo territorialmente muito mais amplo, contendo diferentes povos
e culturas, exigiu a reformulação do modo de ver e de pensar dos europeus.
Ao mesmo tempo em que se conheciam novos povos e novas culturas, instalavam-se colônias na África, na
Ásia e na América, ocorrendo com isso a expansão do comércio de mercadorias (tecidos, especiarias e produtos
tropicais como café, açúcar e tabaco) entre metrópoles e colônias, bem como entre os países europeus. Nascia então a
possibilidade de um mercado muito mais amplo e com características mundiais.
A exploração de metais preciosos, principalmente na América, e o tráfico de pessoas escravizadas como mão
de obra para as colônias deram grande impulso ao comércio, que não mais ficou restrito aos mercadores das cidades-
repúblicas (Veneza, Florença ou Flandres, por exemplo), passando também para as mãos de grandes comerciantes e de
soberanos de diversos paises europeus.
Toda essa expansão comercial e ampliação dos domínios territoriais europeus acelerou o desenvolvimento da
economia monetária, com a acumulação de capitais por parte da burguesia comercial, que, mais tarde, teve uma
importância decisiva na gestação do processo de industrialização europeia.
As mudanças que se operavam nas formas de produzir a riqueza, de acordo com o modo capitalista de
produção, só poderiam funcionar se ocorressem modificações nas estruturas políticas. Assim, pouco a pouco,
desenvolveu-se uma estrutura estatal que tinha por base a centralização da justiça, com a adoção de um novo sistema
jurídico (baseado no Direito Romano). Houve também a centralização das forças armadas, com a formação de um
exército permanente, e a centralização administrativa, com a constituição de um aparato burocrático ordenado
hierarquicamente e com um sistema de cobrança de impostos que permitiu a arrecadação constante de recursos para
manter todo esse aparato jurídico-burocrático-militar sob um único comando. Nasceu, dessa forma, o Estado Moderno,
que favoreceu a expansão das atividades vinculadas ao desenvolvimento da produção têxtil, da mineração e da
siderurgia, bem como ao comércio interno e externo.
No século XVI, desenvolveu-se outro movimento, o da Reforma Protestante. Os reformistas questionavam as
condutas do clero, a estrutura da Igreja Católica e a autoridade papal. Os líderes do movimento promoviam a
valorização do indivíduo ao pregar a livre leitura das Sagradas Escrituras, dispensando, assim, a intermediação dos
ministros da Igreja nas práticas religiosas e nos assuntos relativos à fé. A Reforma Protestante contribuiu, portanto,
para alimentar um movimento de resistência à autoridade e à tradição católica. Entre seus principais líderes, figuram
Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564).
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A nova maneira de se relacionar com o sagrado foi acompanhada de uma nova forma de analisar o universo e
a vida em sociedade. Com o desenvolvimento científico e tecnológico, a razão passou a ser considerada elemento
essencial para se conhecer o mundo; com base nela, as pessoas se consideraram livres para pensar, avaliar, julgar e
emitir opiniões sem se submeter a nenhuma autoridade transcendente ou divina.
A análise do universo e da vida em sociedade com base no conhecimento racional, fundado na observação e na
experimentação, difundiu-se de maneira lenta entre os séculos XV e XVII, quando processos inquisitórios procuravam
impedir toda e qualquer manifestação que pudesse por em dúvida a autoridade eclesiástica, seja no campo da fé, seja
no campo das explicações propostas para os fenômenos naturais e sociais.
Essa nova forma de conhecer a natureza e a sociedade, em que o racionalismo era fundamental, era
representada pelo pensamento contido nas obras de diversos autores, entre eles: Nicolau Maquiavel (1469-1527),
Erasmo de Rotterdam (1466-1536), Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642), Thomas Hobbes
(1588-1679), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650) e Baruch Spinoza (1632-1677). Além desses
autores, dois outros fizeram a intermediação entre os postulados dos teóricos supracitados e os pensamentos que se
desenvolveram no século seguinte: John Locke (1632-1704) e Isaac Newton (1642-1727). Ao passo que o primeiro
propunha novos princípios para a compreensão da razão humana, o segundo estabelecia um novo fundamento para o
estudo da natureza.

As transformações do mundo moderno e a hegemonia burguesa

No final do século XVIII, na maioria dos países europeus, a burguesia comercial, formada basicamente por
comerciantes e banqueiros, constituía uma classe muito poderosa, em razão, na maior parte das vezes, das ligações
econômicas que mantinha com as monarquias. Essa classe, além de sustentar o comércio entre os países europeus,
estendia seus tentáculos por todo o mundo, comprando e vendendo mercadorias, tornando o mundo cada dia mais
europeizado.
O capital mercantil se estendia também a outros ramos de atividade produtiva; neste sentido, gradativamente
se organizava a produção manufatureira. A compra de matérias-primas e a organização da produção por meio do
trabalho domiciliar ou do trabalho em oficinas levavam ao desenvolvimento de um novo processo produtivo em
contraposição ao processo artesanal e das corporações de ofício.
Ao se desenvolver a manufatura, a classe empresarial passou a se interessar cada vez mais pelo
aperfeiçoamento das técnicas produtivas, visando à maior produção com menor contratação de mão de obra,
aumentando significativamente seus lucros. Para tanto, procuraram investir nos “inventos”, isto é, financiar a criação
de máquinas que pudessem ter aplicação no processo produtivo.
Nesse contexto, foram desenvolvidas máquinas de descaroçar algodão e de tecer, e se iniciou a aplicação
industrial da máquina a vapor e de outros tantos inventos destinados a aumentar a produtividade do trabalho.
Desenvolveu-se, então, o fenômeno que veio a ser chamado de maquinofatura. O trabalho que os seres humanos
realizavam com as mãos ou com ferramentas simples passou, a partir de então, a ser feito por meio de máquinas,
elevando muito o volume da produção de mercadorias.
A utilização da máquina a vapor, que podia mover outras tantas máquinas, incentivou o surgimento da
indústria de bens de produção, como a voltada à construção de novos maquinários e, consequentemente, impulsionou
todo um ramo industrial voltado para a transformação do ferro e, posteriormente, produção do aço, tendo no carvão
mineral a fonte energética primordial para desenvolvimento de tais processos.
Nesse contexto de profundas alterações no processo produtivo, no qual a utilização do trabalho mecânico se
tornava cada vez mais frequente, o trabalho artesanal praticamente deixa de existir. A maquinofatura se completava
com o trabalho assalariado, incluindo a utilização, numa escala crescente, da mão de obra feminina e da infantil.
Ao mesmo tempo, longe da Europa, intensificava-se a exploração do ouro no Brasil, da prata no México e do
algodão nos Estados Unidos e na Índia. A maioria dessas atividades era desenvolvida com a utilização do trabalho
escravo ou servil. Esses elementos, conjugados, asseguravam as bases do processo de acumulação de capitais que foi
fundamental para a expansão da indústria europeia.
Todas essas mudanças, somadas à herança cultural e intelectual do século XVII, definiram o século XVIII
como explosivo. Se no século anterior a Revolução Inglesa determinou novas formas de organização política, foi no
século XVIII que a Revolução Estadunidense e a Revolução Francesa alteraram, de modo mais efetivo, o quadro
político e social do Ocidente, servindo de exemplo e parâmetro para as revoluções posteriores.
As transformações na esfera da produção, a emergência de novas formas de organização política e a exigência
da representação popular conferiram características muito específicas ao século XVIII. Pensadores como Charles de
Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-1778), Denis Diderot (1713-1784), Jean le Rond d’Alembert (1717-1783),
David Hume (1711-1776), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Adam Smith (1723-1790) e Immanuel Kant (1724-
1804), entre outros, refletiram sobre a realidade, na tentativa de explicá-la.

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O surgimento de uma "ciência da sociedade" no contexto de consolidação do capitalismo

No século XIX, ocorreram transformações impulsionadas pela emergência de novas fontes energéticas
(eletricidade e petróleo), pelo advento de novos ramos industriais e pela profunda alteração nos processos produtivos,
com a introdução de novas máquinas e equipamentos.
Depois de trezentos anos de exploração colonial por parte das nações europeias, iniciou-se, principalmente na
América Latina, um processo intenso de luta pela independência, à luz dos processos revolucionários ocorridos nos
Estados Unidos e na França, marcadamente sob influência burguesa.
É no século XIX, já com a consolidação do sistema capitalista na Europa, que se encontra a herança intelectual
mais próxima da Sociologia como ciência particular. O pensamento de Saint-Simon (1760-1825), Georg Wilhelm
Friedrich Hegel (1770-1830), David Ricardo (1772-1823) e Charles Darwin (1809-1882), entre outros, foi a fonte para
Aléxis de Tocqueville (1805- 1859), Auguste Comte (1798-1857), Karl Marx (1818-1883) e Herbert Spencer (1820-
1903) desenvolverem suas reflexões sobre a sociedade de seu tempo.
Esses intelectuais lançaram as bases da reflexão sociológica e de duas grandes e tradicionais correntes de
pensamento – o Positivismo e o Socialismo – que, inclusive, muito influenciaram o desenvolvimento da Sociologia no
Brasil. Estudemos alguns deles, começando por um autor que exerceu influência sobre as duas vertentes mencionadas:
o Conde de Saint-Simon.

Saint-Simon e a “ciência da sociedade”

Claude-Henri de Rouvroy – o Conde de Saint-Simon – era descendente de uma aristocrática família francesa,
o que lhe garantiu uma educação formal bastante aprimorada; mas, apesar de pertencer à nobreza, avaliava que o
Antigo Regime estava corrompido e não podia durar muito mais. Durante a Revolução Francesa, da qual era firme
defensor, renunciou ao título de conde, perante o entusiasmo que os ideais revolucionários lhe conferiam.
No início do século XIX, Saint-Simon procurou formular uma uma Filosofia da Ciência capaz de articular a
compreensão de fenômenos naturais e sociais e propôs a reorganização das sociedades europeias tendo por
fundamento métodos científicos voltados para a industrialização.
Na visão de Saint-Simon, a história seria marcada por uma série de afirmações e negações, uma sucessão de
épocas orgânicas (assentadas em crenças e valores bem estabelecidos) e épocas críticas (momentos de colapso). Saint-
Simon defendia a ideia de que o apogeu de um sistema coincidia com o início de sua decadência e apontava três
épocas orgânicas na história ocidental: a Antiguidade greco-romana, seguida pela época crítica das invasões bárbaras;
a Idade Média, cujo período de crise compreende do Renascimento à Revolução Francesa, e a era industrial, que já se
podia vislumbrar.
Segundo Saint-Simon, em todos os ciclos hístóricos houve divisão entre dominantes e dominados. Neste
sentido, a história da humanidade se explicaria pelas contradições entre essas camadas sociais. Saint-Simon detectava
a existência de duas grandes classes em sua época e na sociedade francesa em particular: a dos ociosos (a realeza, a
aristocracia e o clero, os militares e a burocracia que administrava a estrutura desses que nada produziam) e a dos
produtores (cientistas, banqueiros, comerciantes, industriais, artesãos, trabalhadores braçais, enfim, todos os cidadãos
úteis para o desenvolvimento do país).
De acordo com Saint-Simon, para que a sociedade pós-revolucionária na França se firmasse seria necessário
que a ciência tomasse o lugar da autoridade da Igreja, formando-se assim uma nova elite, a científica. A ciência
deveria substituir a religião como força de coesão social. Os cientistas substituiriam os clérigos e os industriais
substituiriam os senhores feudais. A aliança dos cientistas com os industriais configuraria a nova classe dirigente. Mas
deveriam estar no comando da sociedade apenas os mais capazes em cada campo.
Essa nova classe dirigente deveria seguir uma “ciência da sociedade”, que teria como tarefa desvendar as leis
do desenvolvimento social, pois elas indicariam o caminho que se deveria seguir para que a sociedade alcançasse o
progresso continuado.
Saint-Simon influenciou Auguste Comte e Émile Durkheim (por meio de algumas de suas obras, as quais
tratam da organização de uma nova sociedade e da formulação de uma ciência da sociedade) e Karl Marx (que o
considerava um reformador social e um socialista utópico).
Desde 1803 Saint-Simon escreveu uma série de livros pelos quais professava sua confiança no futuro da
ciência e buscava uma lei que guiasse a investigação dos fenômenos sociais, tal como a lei gravitacional de Newton
em relação aos fenômenos naturais.
Entre seus escritos, destacam-se: Reorganização da sociedade europeia (com Augustin Thierry, 1814), A
indústria ou discussões políticas, morais e filosóficas no interesse de todos os homens livres e trabalhadores úteis e
independentes (1816-1817), O organizador (1819), O sistema industrial (1821-1823), O catecismo dos industriais
(1822-1824) e O novo cristianismo (1824).

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Auguste Comte e a tradição positivista

A obra de Auguste Comte (1798-1857) está permeada pelos acontecimentos que marcaram a França pós-
revolucionária. Ele preocupava-se fundamentalmente com a organização da nova sociedade, que, no seu entender,
estava em ebulição e em total caos. Para Comte, a desordem imperava por causa da convulssão de princípios
(teológicos e metafísicos) que não podiam mais se adequar à sociedade industrial em franca expansão. Era, portanto,
necessário superar esse estado de coisas, usando a razão como fundamento da nova sociedade.
Assim, Comte propôs uma completa mudança na sociedade, mediante uma reforma intelectual do ser humano.
A “Filosofia Positiva” ou “Positivismo” foi o conjunto de postulados concebidos para modificar, por meio dos novos e
rígidos métodos cientíicos, a forma de pensar e agir das pessoas. Segundo tal ótica, a Sociologia, ou “Física Social”, ao
estudar a sociedade pela análise de seus processos e estruturas, proporia, deste modo, uma reforma das instituições.
A Sociologia representava, para Comte, o coroamento da evolução do conhecimento já produzido pelo ser
humano. Tal processo evolutivo comportaria os estágios elencados a seguir:
✓ Estágio Teológico ou Mitológico (baseado em crenças e ficções);
✓ Estágio Filosófico ou Metafísico (baseado em abstrações);
✓ Estágio Sociológico ou Positivo (baseado no rigor científico).
Segundo Comte, assim como as Ciências Naturais, a Sociologia deveria sempre procurar a reconciliação entre
os aspectos estáticos e os dinâmicos do mundo ou, na sociedade humana, entre a ordem e o progresso, de modo que
este deveria estar subordinado àquela. Ou seja, o progresso deveria ser o alvo a se atingir, mas sempre sob o manto da
ordem, para que não ocorressem distúrbios e abalos nas estruturas da sociedade.
A ciência deveria ser um instrumento para a análise da sociedade a fim de torná-la melhor. O lema positivista
era: “Conhecer para prever, prever para prover”, ou seja, o conhecimento deveria existir para fazer antevisões e
também para dar a solução dos possíveis problemas.
A influência de Comte no desenvolvimento da Sociologia foi marcante, sobretudo na escola francesa, por
intermédio de Émile Durkheim e de seus contemporâneos e seguidores. Seu pensamento esteve presente em muitas
tentativas de criar tipologias para explicar a sociedade. Entre suas principais obras, podemos destacar: Sistema de
política positiva (1824), Curso de filosofia positiva (1830-1842), Discurso sobre o espírito positivo (1844) e
Catecismo positivista (1852).

Karl Marx e a crítica às estruturas sociais, políticas e econômicas

Para bem situar e comprender a obra de Karl Marx (1818-1883), é necessário considerar o que estava
acontecendo em meados do século XIX. Com as transformações que ocorreram no mundo ocidental, principalmente
nas esferas da produção industrial, houve um crescimento expressivo do número de trabalhadores industriais urbanos.
Vale notar que nesse contexto, os núcleos urbanos figuravam como ambientes muito atrativos (as fontes de trabalho e
renda passaram a concentrar-se nas cidades), desencadeando grande êxodo rural e produzindo, mediante um
crescimento desordenado, uma consequência evidente: a precariedade da vida dos operários nas cidades.
As condições de trabalho no interior das fábricas, que empregavam e superexploravam homens, mulheres e
crianças, eram péssimas; a alimentação era deficiente; os ambientes eram insalubres; as moradias eram precárias. Essa
situação gerou a organização dos trabalhadores em associações, sindicatos e movimentos que visavam à transformação
das condições de vida.
Neste cenário marcado por profundas distorções, dsenvolveu-se, então, um paradigma explicativo das
condições sociais, políticas e econômicas, no sentido de propor possibilidades de intervenção nessa realidade: a
corrente socialista de pensamento.
Muitos pensadores procuraram, desde o início do século XIX, analisar a sociedade que estava emergindo.
Levando em conta esses pensadores, debatendo com alguns que foram seus contemporâneos e até os criticando, Marx
incorporou a tradição da economia clássica inglesa, representada principalmente por Adam Smith e David Ricardo, e a
filosofia alemã de Hegel, sempre com um viés analítico e crítico.
Assim, a tradição socialista, nascida da luta dos trabalhadores, tem como maior expressão intelectual o
pensamento de Karl Marx que, entre outros, procurou estudar criticamente a sociedade capitalista com base em seus
princípios constitutivos e em seu desenvolvimento, tendo como objetivo dotar a classe trabalhadora de uma concepção
política da sociedade de seu tempo.
Não havia, para Marx, uma preocupação em definir uma ciência específica para estudar a sociedade (como a
Sociologia, para Comte) e em situar seu trabalho em algum campo científico particular. Talvez fosse a História, por
abarcar múltiplas dimensões da vida em sociedade, a ciência que mais se aproximasse das preocupações dele. A
sociedade, para ele, deve ser analisada na sua totalidade, não havendo uma separação rígida entre os aspectos sociais,
econômicos, políticos, ideológicos, etc.

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Pelas análises da sociedade capitalista de seu tempo e pela repercussão que teve em todo o mundo,
principalmente no século XX, nos movimentos sociais e nas universidades, Marx pode ser considerado um dos
clássicos da Sociologia.
Para entender o pensamento marxista é necessário fazer a conexão entre os interesses da classe trabalhadora,
suas aspirações e as ideias revolucionárias que estavam presentes na Europa, no século XIX. Neste sentido, para Marx,
o conhecimento científico da realidade só tem significado quando visa à sua transformação, não havendo dicotomia
entre teoria e prática, pois a “verdade histórica” não é algo abstrato e que se define teoricamente; pode ser verificada
na realidade concreta da vida em sociedade.
Marx escreveu muito e, em várias ocasiões, teve Friedrich Engels como parceiro. Apesar de haver algumas
diferenças em seus escritos, os elementos essenciais do pensamento desses autores podem ser situados, de modo
resumido, nas seguintes questões:
✓ Historicidade das ações humanas;
✓ Divisão social do trabalho e surgimento das classes sociais;
✓ Crítica ao capitalismo, luta de classes, revolução e transformação social;
✓ Fetichismo da mercadoria e processo de alienação;
✓ Utopia – sociedade comunista.
A obra desses dois autores é muito vasta, dentre seus principais escritos, podem ser destacados: A situação da
classe trabalhadora na Inglaterra (Friedrich Engels, 1845), A sagrada família (Karl Marx e Friedrich Engels, 1844),
Manuscritos econômico-filosóficos (Karl Marx, 1844), A miséria da filosofia (Karl Marx, 1847), A ideologia alemã
(Karl Marx e Friedrich Engels, 1847), Manifesto comunista (Karl Marx e Friedrich Engels, 1848), O capital (Karl
Marx, 1867).
A obra de Marx e Engels não ficou vinculada estritamente aos movimentos sociais dos trabalhadores. Pouco a
pouco ela foi introduzida nas universidades como parte de estudos acadêmicos, em diferentes áreas do conhecimento.
Filosofia, Sociologia, Economia, História, entre outras disciplinas, foram influenciadas por eles.
Com base na obra de Marx e Engels, muitos autores desenvolveram seus trabalhos em vários campos do
conhecimento. Entre eles podemos citar Vladimir Lênin (1870-1924), Leon Trotski (1879-1940), Rosa Luxemburgo
(1871-1919) e Antonio Gramsci (1891-1937), que participaram como intelectuais e agentes diretos com significativa
influência no movimento operário desenvolvido ao longo do século XX.

Émile Durkheim e os fatos sociais

Émile Durkheim (1858-1917) teve acesso privilegido a uma escolarização bastante sólida. Formou-se em
Filosofia, se tornou grande expoente da Sociologia francesa e, ao procurar insistentemente definir o caráter científico
da Sociologia, criou uma corrente de pensamento bastante sólida em sua época.A Sociologia foi para Durkheim uma
vocação pessoal e uma missão política, já que a concebia como uma ciência capaz de permitir a compreensão da crise
social e moral da sociedade francesa, indicando os “remédios” para restabelecer a solidariedade entre os membros da
sociedade.
A principal preocupação de Durkheim, que já estava presente em Saint-Simon, mas que em sua obra aparece
de forma bem mais específica, foi dar um estatuto científico à Sociologia e, para tanto, não poupou seus maiores
esforços. Nesse sentido, formulou importantes parâmetros lógicos que formaram a base de sua visão de mundo e dos
estudos acerca dos fatos sociais, objeto central da Sociologia por ele delineada:
✓ Os fatos sociais só podem ser explicados por outros fatos sociais;
✓ Os fatos sociais devem ser analisados como se fossem coisas, isto é, em sua materialidade;
✓ É necessário abandonar os pré-conceitos ao analisar os fatos sociais.
Segundo a lógica durkheimiana, os fatos sociais seriam exteriores à vontade dos indivíduos, exercendo sobre
eles coerção social, submetendo-os de modo generalizado a uma espécie de consciência coletiva, a qual seria forjada
na relação entre os indivíduos e as instituições sociais.
Em algumas de suas obras fundamentais (A divisão do trabalho social, de 1893; As regras do método
sociológico, de 1895 e O suicídio, de 1897), Durkheim estruturou um roteiro para o estudo dos fenômenos sociais, a
saber:
✓ Como ponto de partida deve-se definir o fenômeno a ser analisado;
✓ Numa segunda fase deve-se refutar todas as interpretações anteriores;
✓ Por último, deve-se desenvolver uma explicação propriamente sociológica do fenômeno considerado.
Atribuindo os males da sociedade de seu tempo a certa fragilidade da moral (ideias, normas e valores), a
preocupação de Durkheim foi com a ordem social, tendo como referência tanto o pensamento de Saint-Simon como o
de Comte. Durkheim buscava resolver a problemática em questão propondo a formulação de novas ideias morais
capazes de guiar a conduta dos indivíduos.

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Segundo Durkheim, a ciência, e em especial a Sociologia, através de suas investigações, poderia indicar
caminhos e soluções no sentido de aperfeiçoar a sociedade, pois os valores morais, constituiriam um dos elementos
mais eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas. A partir desses valores é que poderiam ser criadas
relações estáveis entre as pessoas. Para ele, a integração social, conceito fundamental formulado em sua obra por meio
da ideia de solidariedade, era a garantia da articulação funcional de todos os elementos da realidade social.
Outra preocupação de Durkheim foi com o processo educacional e como a Sociologia poderia servir para que a
educação francesa se desvencilhasse das amarras religiosas existentes no seu tempo. As suas análises da questão
educacional estavam relacionadas com a possibilidade de se instituir uma educação de cunho laico e republicano, em
contraposição à mentalidade religiosa e monarquista presente no sistema de ensino francês.
A Sociologia como disciplina foi inicialmente ministrada nos cursos secundários, e só depois nos
universitários, e esteve vinculada à perspectiva de transformação da educação francesa, a patir de uma ligação com
uma moral burguesa.
Durkheim preocupou-se tanto com a questão educacional que essa foi uma constante em sua vida acadêmica:
ele refletiu não só sobre a organização educacional francesa, em termos de sua história, como também sobre os
conteúdos que estavam sendo ministrados.

Max Weber e as ações sociais

De família abastada, Max Weber (1864-1920) teve uma educação formal de excelente qualidade, responsável
pela erudição notável que o qualificou como um dos autores referenciais para a Sociologia. Desenvolveu estudos sobre
ética econômica e as religiões universais e escreveu uma série de artigos sobre o liberalismo alemão. Nesses artigos
criticou a estrutura partidária do país e a burocratização das suas esferas políticas.
Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a vida de Max Weber foi dedicada aos estudos e à participação
ativa na política alemã, através de suas intervenções, conferências, artigos para jornais e revistas. Foi um pesquisador
incansável, dedicando-se enormemente a essas tarefas. [...] Enfim, nunca mediu esforços para analisar e compreender
o mais profundamente possível as atividades às quais se debruçava.
Para Max Weber, o indivíduo era o núcleo central de sua análise, por ser ele quem define intenções e
finalidades para seus atos. Desse modo, o ponto de partida da Sociologia era a compreensão da ação dos indivíduos,
suas motivações e intenções, sendo a Sociologia uma ciência que busca compreender e interpretar as relações sociais
para explicá-las causalmente em seu desenvolvimento e efeitos. Termos como estado, família e outros deixam de ter
sentido fora das relações sociais que lhes emprestam sentidos. Assim, Max Weber não consegue ver a sociedade como
um bloco, uma estrutura, mas a percebe como uma teia de relações em construção, cujo sentido, sempre provisório, lhe
é emprestado por quem dela participa e a estuda.
Max Weber deixou uma obra vasta, contemplando áreas variadas, desde a História, o Direito, a Economia, a
Sociologia, passando pelas questões religiosas, pelos processos burocráticos e pela discussão metodológica das
Ciências Humanas e dos conceitos sociológicos como o de ação social (ação individual orientada pelas expectativas do
grupo social no qual o sujeito está inserido).
As ações sociais configuram-se como ideais de conduda, podendo ser agrupadas em quatro tipos, quais sejam:
✓ Ação social afetiva;
✓ Ação social tradiacional;
✓ Ação social racional com relação a valores;
✓ Ação social racional com relação a fins.
É válido registrar que na Sociologia weberiana, o poder e a dominação exercidos pelo estado e seus prepostos
é uma temática relevante. A dominação seria, nas palavras de Weber, “a probabilidade de encontrar obediência para
ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas”. Por isso, a dominação (que é legitimada pela
aceitação) confere autoridade a quem exerce o poder. Segundo Weber, é possível destacar três formas de dominação, a
saber: a tradicional, a carismática e a legal.
Entre os seus escritos podem-se destacar: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-1905); A
ciência como vocação (1917); Ensaios reunidos de Sociologia das Religiões (1917/1920); Economia e Sociedade
(1920); História geral da economia (1923).

Por Nelson Dacio Tomazi. Com adaptações.

Ler fornece ao espírito materiais para o conhecimento,


mas só o pensar faz nosso o que lemos.
(John Locke)

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