- O ethos capitalista de ganhar dinheiro com fim
A ética protestante e o em si mesmo é moderno e, aqui, se trata da Europa
“espírito” do capitalismo
Max Weber; Companhia das Letras; 2004
PARTE I - O PROBLEMA
1. Confissão religiosa e estratificação social
- Parte de um dado concreto: o caráter
predominantemente protestante dos donos de
capital e vise e versa 29
- Historicamente, as cidades mais ricas do s. XVI
ofereciam mais vantagens aos protestantes 30
- A Reforma: não se opôs para questionar o
domínio religioso, mas para substituir a ética30;
não questionava o excesso de dominação
católica31; foi adotada e defendida pela classe
média burguesa31
- Por que se diferenciam dos católicos: a educação
dos filhos é diferente (protestantes mais técnicos
e comerciais)32; os católicos permaneceram no
artesanato e na educação mais humanística32; os
protestantes mantiveram o racionalismo
econômico como dominantes ou dominados33;
pela grande aderência de monges e industriais
permaneceram mesmo com a perseguição37.
- Estudo de casos: os huguenotes na França;
Holanda; Wuppertal, na Alemanha; quakers, na
Inglaterra.
- Oposição entre “alegria com o mundo” (prot.) e
“estranhamento do mundo” (cat.).
- A relação dos protestantes com o capitalismo é
essencialmente religiosa e não “materialista” 38
2. O “espírito” do capitalismo
- Discussão do conceito: uma individualidade
histórica com uma significação cultural 41
- Declaração clara do método individualista: há
diferentes definições para diferentes objetivos
metodológicos 42
- Utilização das declarações do Benjamin Franklin
como retórica do capitalismo utilitário (virtudes
morais com objetivos econômicos), é a base para
entender o “espírito” do Weber como um dever de
aumentar as posses, não apenas técnicas de
negócio para lucrar 45
Ocidental e da América do Norte 45
- O dinheiro quando ganhado de forma legal é a
mais exímia expressão de habilidade profissional
na visão do Franklin 47
- Seleção econômica: os indivíduos educados pelo
e para o capitalismo, os que não se adaptarem são
descartados; isso é construído coletivamente 48
- Refuta o materialismo: a ética veio antes mesmo
do desenvolvimento do capitalismo, que não
aconteceu pacificamente, lutou contra forças
hostis (éticas diferentes da dele) 48-49
- O pré-capitalismo é anterior a valorização
racional do capital e a organização do trabalho na
estrutura capitalista 51
- Tradicionalismo: um comportamento que destoa
da ética capitalista, dizendo que por natureza o
homem não é ambicioso, apenas quer ganhar o
suficiente para [sobre]viver 53
- O preceito capitalista é de que salários baixos
são mais produtivos 53
- Diferencia salário baixo e trabalho barato 54
- Utiliza um exemplo das mulheres alemãs e do
cálculo da produtividade e salário 55
- “Sistema de economia de satisfação de
necessidades” vs “ganho” (Sombart)
- Comparação: utiliza o exemplo de vendedores de
tecido para mostrar uma motivação tradicionalista,
em contraponto com as empresas modernas que
competem para chegar aos clientes 58-60
- Os responsáveis por essa mudança não foram
ricos ou aventureiros econômicos, mas homens
conscientes dos princípios burgueses e racionais
para o lucro 61
- A relação desse “espírito” com a religião já não
existe mais, muitas vezes ela ainda é vista como
um empecilho juntamente com o controle do
Estado (bem liberalzinho) 64
As demais páginas aqui são de considerações finais e
conclusões sobre a discussão do tópico.
3. O conceito/concepção de de vocação em Lutero
- Beruf ganhou o sentido de vocação profissional
que possui “hoje” na tradução luterana da bíblia 72
 - A conduta católica era vista como algo que
ignorava as coisas terrenas e se voltava para ao
“mundo de cima” diferente do trabalho como um
dever intramundano para Deus 73
- A perspectiva dessa concepção não possui
nenhum vínculo com com a origem da bíblia ou de
Jesus, que eram essencialmente tradicionalistas,
assim como Lutero 75-76
- Lutero foi adotando mais a noção de Providência
e destinação, em que a ambição pode existir, mas
dentro da posição social dada por Deus; vocação é
se dobrar diante da vontade Dele 77
- A práxis de vida religiosa apresenta mais relação
com o capitalismo no calvinismo, considerado um
rival do cristianismo por esse motivo 78-79
- A intenção dos reformadores não era postular
uma nova cultura, muito menos oferecer impulso
para o “espírito”, foi uma consequência 81
- O sistema capitalista não é um produto da
Reforma, e a Reforma não é a única influência
nesse “espírito”, mas cabe analisar se e quanto há
de afinidade eletiva entre uma fé religiosa e uma
realidade material ou ética 83
PARTE II - A ÉTICA PROFISSIONAL DO
PROTESTANTISMO ASCÉTICO
1. Os fundamentos religiosos da ascese
intramundana.
- Os protestantes ascéticos são o calvinismo,
pietismo, metodismo e as seitas derivadas dos
anabatistas, que conflitaram muito entre si, mas
tinham preceitos parecidos 87-88
a) Calvinismo
- Desenvolvido nos Países Baixos, Inglaterra e
França e contempla principalmente a doutrina da
predestinação 90
- Registros da doutrina calvinista 91-92
- A doutrina da Providência implicava uma série de
preceitos diferentes na relação com Deus e com a
vida dos calvinistas 94-95
- Não haviam meios (muito menos mágicos) de
alcançar a salvação, isso lhes concedeu uma
característica pessimista e individualista 96
- Confiança somente em Deus e pertença à Igreja
como necessidades 97
- O trabalho é a serviço da vida intramundana, mas
existe para aumentar a glória de Deus 99
- A distinção entre eleitos e condenados não era de
nenhuma forma visível, apenas residia na
confiança em Deus até o fim 99
- O trabalho profissional sem descanso se destaca
por ser um meio de autoconfiança que os crentes
burgueses tinham de serem os eleitos; era uma
criação de uma certeza de que seriam salvos, já
que isso não acontecia por boas obras ou pela fé
102-3-4-5
- Transformação da ascese em pura ascese
intramundana 109
- A noção de ascese era muito ligada a relegar as
coisas da vida (ou terrenas), ideia que a “nova”
ascese se opôs ao buscar uma comprovação de fé
na profissão 110
- Isso afetou diretamente a organização da Igreja
que, de alguma forma, buscaria diferenciar eleitos
e condenados adeptos dessa ética 111
- Os puritanos cada vez tinham mais controle e
“administração” da sua própria fé e forma de viver,
principalmente em relação aos catól. 113
- O luteranismo não havia estímulo psicológico
para uma racionalização metódica ou a conduta de
vida calvinista 116
- Serviu de influência/base/divergência para as
demais condutas ascéticas 117
b) Pietismo
- Surgiu partindo do calvinismo, também adepto da
Predestinação, mas a certeza dos eleitos não
partia do conhecimento teológico
- Com uma ascese intensificada, buscava se
atentar a “este mundo” e ser mais estrito com a
profissão; o fator sentimento mais presente do que
no calvinismo 118-19
- Fortaleceu o processo de penetração dessa forte
ascese mesmo em religiosidades não-calvinistas
119
- No trabalho profissional, eram convencidos de
que Deus os abençoava com o sucesso 120
- As diferenças com o calvinismo são muito
tênues, mas o segundo se apresentou mais afinco
ao capitalista burguês 126
c) Metodismo
- Uma conduta de vida metódica para atingir a
certitudo salutis 127
- Forte caráter emocional 127
 - Adesão a uma conduta santa de acordo com a Lei
128
- Não contribuiu com nada inovador a vocação
profissional, também por ter sido tardio 130
d) Seitas anabatistas e batistas
- O anabatismo ocupa o segundo lugar de uma
ascese autônoma, (1a é o calvinismo) seus
derivados foram os batistas, menonitas e quakers
130
- A seita se diferencia da Igreja porque nela estão
somente os regenerados, aqueles que são
absolutamente crentes, não os justos e injustos
como a Igreja 131
- Inicialmente, há semelhanças com o cristianismo
primitivo, dos apóstolos que foram pessoalmente
escolhidos, a vida regulada pela rejeição do
mundo, e a bíblia 132
- Condenação da divinização da criatura 132
- As vertentes foram deixando de lado qualquer
encantamento ou práticas semelhantes ao
catolicismo, que deu lugar a uma luz interior em
cada crente sobre a salvação 133
- Rejeitavam a predestinação mas se ligavam a
“espera perseverante” do Espírito 134
- O anabatismo se voltava a uma ação serena e
consciente, baseado na ideia de “escutar” Deus.
Isso foi adotado pelos quakers como uma práxis
de vida intramundana 135
- “ se ligou cada vez mais ao interesse pela
atividade profissional econômica; em parte pela
rejeição em ocupar cargos públicos e a hostilidade
ao modo de vida aristocrático 136
Toda essa caracterização das religiosidades não
representa necessariamente a organização oficial da
Igreja, que muitas vezes ia contra esses preceitos. O
Weber usa o método individualista para olhar muito
mais para a direção particular dos crentes e adeptos.
2. Ascese e espírito capitalista.
- Nos textos religiosos puritanos aparece a
primeira vista que a riqueza por si só é condenável,
mas imoral mesmo era o descanso sobre as
posses, a contemplação da riqueza sem qualquer
atividade que servisse para aumentar a glória de
Deus. Assim, o descanso ou a perda de tempo
eram vistos como pecados graves 143
- Essas percepções influenciam até mesmo na
visão dessas crenças sobre o casamento e a vida
sexual como meios de reproduzir para legar
futuros eleitos dedicados a vocação 144
- A falta de vontade de trabalhar significa ausência
de graça 144
- A visão da Idade Média, mostrada com Tomás de
Aquino era completamente diferente quando se
trata do modo de aumentar a glória de Deus, que aí
se encontra na vida monástica e no trabalho como
algo puramente de dever natural 145
- O tipo de trabalho desejado é a profissão de
forma metódica, fixa, não um trabalho ocasional e
incerto 147
- As profissões mais queridas por Deus eram as
mais corretas moralmente, mais úteis para a
coletividade e, em terceiro, mais lucrativas 148
- A ética judaica (a seu modo) também influenciou
em algo o puritanismo; crença de serem o povo
eleito por Deus 151
- Tudo era voltado para o trabalho, seja para a
permanência, aumento do tempo nele, de alguma
forma todas as atividades bem-vindas a ele eram
necessárias e todas as que não trouxessem algum
retorno, eram condenáveis 152
- As atividades culturais para fins pessoais
não-econômicos eram aceitáveis somente se não
custasse nada, já que o dinheiro deveria ser gasto
em atividades, num ponto de vista, utilitárias 155
- A ascese intramundana agiu para acabar com o
gasto irracional e o consumo de luxo 155
A afinidade de todas estas circunstâncias com o
espírito capitalista está no acúmulo de capital gerado
pelo gasto somente se necessário e o investimento
como um modo de aumentar as posses. 157
- Muitas pessoas que integravam essa ascese já
tinham conhecimento dessa relação com a riqueza
e temiam o que de fato aconteceu: que o aumento
das posses ia tomar um rumo independente da
essência da religião 159
- Outra contribuição ao capitalismo foi a crença de
que o lucro é sempre bem-vindo desde que esteja
nos limites da lei 161
- Gerou uma gama de trabalhadores aos moldes
capitalistas (trabalho contínuo, acumulação,
 racionais) e que oferecia a visão da desigualdade
econômica como uma Providência 161
- Essa mesma ascese considerava a atividade do
empresário (capitalista) também como vocação
abrindo uma interpretação de aceite da exploração
dessa disposição ao trabalho 163
- O estímulo à atividade profissional pessoal se
opôs ao controle do Estado, gerando novas
indústrias baseadas nos preceitos puritanos (noto
uma afinidade bem liberalista) 163
- O foco em uma profissão (única), como anotei,
aponta para como uma atividade especializada é
muito mais lucrativa no capitalismo 164
Todo esse processo de mudança, primeiramente
religiosa e, posteriormente, que impactou o modo
econômico de agir, condiciona várias características
do sistema [podre] capitalista; uma mudança de ideias
sobre a certeza da graça e aumento da glória de Deus
acabou por alavancar, sem intenção, a jaula de ferro.
165
- transformá-la numa vida racional no mundo, não
CITAÇÕES SELECIONADAS
“Pois esse caminho, também o capitalismo desde o
início o trilhou e repetidamente tornou a trilhá-lo, e
por séculos a fio vigorou como um artigo de fé que
salários baixos eram “produtivos”, que eles
aumentavam o rendimento do trabalho e que, como já
dizia Pieter de la Cour — em plena concordância,
nesse ponto, com o espírito do antigo calvinismo,
conforme veremos: o povo só trabalha porque é
pobre, e enquanto for pobre.”
Página 53.
“A ascese cristã, que de início fugira do mundo para
se retirar na solidão, a partir do claustro havia
dominado eclesiasticamente o mundo, enquanto a ele
renunciava. Ao fazer isso, no entanto, deixou de
modo geral intacta a vida cotidiana no mundo com
seu caráter naturalmente espontâneo. Agora ela
ingressa no mercado da vida, fecha atrás de si as
portas do mosteiro e se põe a impregnar com sua
metódica justamente a vida mundana de todo dia a
deste mundo, não para este mundo.”
Página 139.
Resenhas:
- https://www.nexojornal.com.br/externo/2018
/06/16/O-que-Max-Weber-quis-dizer-com-o-%
E2%80%98esp%C3%ADrito-do-capitalismo%E2
%80%99
- https://jus.com.br/artigos/72762/etica-protes
tante-e-o-espirito-do-capitalismo
- https://jus.com.br/artigos/91047/a-etica-pr
otestante-e-o-espirito-do-capitalismo-resenha