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34.15.

Pai e Mãe de Cabeça (Orixá de Frente e Juntó)


Sem dúvida alguma, este é o fundamento que mais desperta a
curiosidade dos filhos de fé. Todos desejam saber quem são seus
Orixás de frete, mais conhecido como Pai de cabeça, e Adjunto ou
Juntó, popularmente Mãe de cabeça.

Mas, infelizmente, são poucos o que sabem o que isso realmente


significa, e o que fazer com essa informação.

Orixá de Frente e Orixá Adjunto são os Orixás que estavam presentes


no ato, no exato instante de seu nascimento. Formam um par por
trabalharem em conjunto.

O Orixá de Frente é aquele se coloca à frente do filho, transferindo


para ele suas virtudes que acabarão por ajudar a formar a
personalidade do filho de fé. Todo filho de Ogum é corajoso,
arrebatado e gosta de estar sempre em movimento. Os filhos de
Iemanjá são mais ligados à família, e os de Obaluaê são mais dados à
introspecção, conforme já descrito no capítulo “Orixás”.

Essas características são extremamente necessárias para que o filho


possa cumprir sua missão terrena.

Nunca devemos dizer “Pai de Cabeça” para o Orixá de Frente, pois ele
pode muito bem ser um Orixá feminino. E é óbvio que se um homem
tiver um Orixá feminino de frente, isso não orientará sua condição
sexual. O mesmo vale para uma mulher que possua um Orixá
masculino à sua frente. Lembre-se de que os Orixás são frações da
energia divina, da essência da natureza, e nada tem a ver com os
gêneros masculino e feminino.

Já o Orixá Adjunto (ou Juntó), é aquele que balanceia a atuação do


Orixá de Frente, atenuando excessos ou despertando forças quando
necessário. Também transmite algumas características para o filho,
mas não tanto quanto o Orixá de Frente.

Algumas correntes de pensamento atribuem ao Adjunto, como aquele


que traz o perfil da missão terrena do filho. Por exemplo, quem tem
Iemanjá como Adjunto, tem missão com as relações sociais e com a
família, quem tem Obaluaê como Adjunto deverá buscar sempre a
reflexão e a espiritualidade. Ter como adjunto Oxóssi pode significar

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que o conhecimento, a paciência e a responsabilidade de conseguir o
dia a dia, sejam desafios rotineiros.

Tal qual o Orixá de frente, não devemos dizer “Mãe de Cabeça” para o
Orixá Adjunto, pois ele pode ser tanto masculino quanto feminino.

Em geral, é natural que os filhos carreguem um Orixá masculino e


outro feminino, mas apesar de extremamente raro, não é impossível
uma pessoa carregar dois Orixás femininos ou dois masculinos.

Outro assunto polêmico é a filiação de Exu. O mistério Exu ainda não


foi devidamente absorvido como se deveria por todos os umbandistas,
ainda existe muito preconceito e interpretação errônea dentro da
religião. Declarar alguém como filho de Exu poderá induzir a pessoa a
acreditar que tenha poderes maiores do que o dos outros irmãos, ou
mesmo causar-lhe um impacto negativo se não entender o Orixá como
parte da energia divina.

Mas, com o trabalho de formiguinha, muitos irmãos estão lutando


para transmitir a verdadeira imagem de Exu, desfazendo mitos e
quebrando preconceitos. Graças a esse trabalho a filiação de Exu está
deixando de ser um problema.

Outro erro comum dos umbandistas é atribuir suas falhas e erros aos
seus Orixás. Sou intolerante porque sou filho de Ogum, sou infiel, pois
Xangô me faz assim, ou gosto de dormir muito por ser filho de Oxóssi.
Isto é um erro crasso.

Os Orixás são frações do poder de Deus e só transmitem virtudes. Os


males atribuídos à personalidade dos Orixás nada mais é que um filho
de fé em desequilíbrio, distante da energia original de seu Orixá de
Frente e Adjunto.

Outro assunto polêmico é o método utilizado para se descobrir os


Orixás de uma pessoa. Muitos defendem que só o jogo de búzios feito
por sacerdote consagrado a Ifá é que tem o dom da adivinhação, para
saber com certeza essa informação. Outros dizem que é através do
corte do Obi na coroa do filho de fé, a melhor maneira de se descobrir.
Existem pais e mães-de-santo que se valem de outros oráculos como
baralho comum e tarot para essa revelação. E ainda existem
sacerdotes que se dizem tocados por Ifá e que só de olhar poderiam
revelar esses Orixás.

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De tudo isso, posso dizer, na minha modesta opinião, que somente um
sacerdote sério, que tenha sido consagrado a Ifá nos moldes da
Umbanda, poderá, através de qualquer oráculo ou jogo divinatório,
prestar essa informação com confiança. Digo qualquer oráculo, pois
Ifá poderá falar por qualquer um deles. Ifá não fala com ninguém e
muito menos incorpora.

Ainda existe o tabu da preparação do filho. O pretendente a descobrir


seu Orixá de Frene e Adjunto deverá se preparar, por 72 horas
anteriores ao momento da jogada, abstendo-se totalmente de sexo,
bebida alcoólica e de qualquer tipo de proteína animal. Isto para que
a energia essencial da pessoa possa aflorar exatamente como no
momento de seu nascimento, momento em que seus Orixás se
apresentaram. Sem essa preparação, qualquer leitura poderá ser
duvidosa ou mesmo inútil.

Porém a ânsia em querer saber seus Orixás, faz com que muitos filhos
se coloquem em verdadeiras enrascadas, perdendo altas somas de
dinheiro e se expondo ao ridículo.

A leitura de Orixá de Frente e Orixá Adjunto é um fundamento sagrado


e deverá ser tratado com todo o respeito que o ato merece. A leitura
deve ser feita com pessoa habilitada para a função, e séria no
cumprimento dos rituais, pois essa leitura deverá ser feita APENAS
UMA ÚNICA VEZ.

Diversas leituras de fontes duvidosas só faz confundir a cabeça do filho


de fé, fazendo com que ele jamais tenha certeza de quem são seus
verdadeiros Orixás.

Em muitas doutrinas existe a revelação de outros Orixás como


padrinho, madrinha e Orixá Ancestral.

O padrinho e madrinha são Orixás que, apesar de não estarem no


comando de sua coroa, estão sempre presentes voluntariamente para
ajudar seus afilhados a superar as adversidades e conquistar a
felicidade. Não transmitem características à personalidade de seus
afilhados. Dependendo da casa poderá, ser revelado apenas um
padrinho ou madrinha. Mas não são incomuns as casas que revelam
os dois.

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O conceito de Orixá ancestral está ligado à energia essencial do
espírito do filho de fé. Ou, como gostam de dizer os adeptos desse
fundamento, o Orixá Ancestre ou Orixá Ancestral, é o Orixá que
concedeu a regência no ato em que o espírito saiu da matriz geradora
de Olorun. Esse Orixá ajudaria a reger a vida do filho de fé.

Não compactuo deste conceito, pois nossos espíritos nasceram de


Deus em forma perfeita. Não faz sentido o espírito sair de Deus e
depois receber a regência de uma fração de sua energia. Mesmo
porque nossa essência muda com o decorrer de nossa existência.
Porém, o fundamento existe, e, independente de minha opinião,
deverá ser respeitado pelas casas que o cultuam.

Por fim, precisamos da energia de todos os Orixás para ter forças para
superar nossos desafios e alcançar uma vida próspera e feliz. Descobrir
nossos Orixás de Frente e Adjunto, é ter em mãos uma ferramenta de
autoconhecimento que, se bem trabalhada, ajuda-nos a fortalecer
nossas virtudes e melhorar nossos defeitos.

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