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35.2.

Atabaques
O atabaque é um instrumento musical, consistindo em um cilindro de
madeira, tendo uma das bocas fechada por couro de boi, veado ou
bode, podendo ser cônico ou não.

A palavra atabaque vem do árabe “al tabaq” que significa “prato”.

Atualmente é largamente utilizado no Brasil, principalmente nas


religiões afro-brasileiras como a Umbanda e o Candomblé.

Constitui, na verdade, um caminho entre os homens e os Orixás, sendo


os toques como um código de acesso para o mundo espiritual.

Normalmente os atabaques em um terreiro são três, sendo cada um


de um tamanho diferente. O maior é o Rum que emite som grave, o
médio é o Rumpi que emite sons médios e o menor é o Lê, que emite
os sons mais agudos. No atabaque Rum fica o Ogã chefe, o responsável
pela condução dos trabalhos da curimba, no Rumpi fica um Ogã
experiente e no Lê um Ogã iniciante.

Os atabaques também têm suas obrigações, pois é natural que sejam


consagrados aos Orixás. Portanto, devem ser respeitados como uma
manifestação do Orixá em terra.

Essa configuração pode mudar de terreiro para terreiro de acordo com


a doutrina seguida. Mas uma coisa é comum a todos, o Ogã chefe deve
conhecer todos os trabalhos da casa, sabendo perfeitamente o que e
quando tocar, muitas vezes tendo autonomia para tocar quando
necessário.

É indiscutível que um trabalho de Umbanda com o fundamento do


atabaque tem uma energia totalmente diferente e melhor. O som do
tambor auxilia na estabilidade energética do trabalho e na chegada e
partida das entidades.

Ogã é um posto sagrado e deve ser muito respeitado pelos filhos de


uma casa, pois é através da concentração e das mãos dele que se
propicia um trabalho com energia mais intensa, favorecendo o
trabalho das entidades de luz, dando força ao descarrego e
encaminhamento de entidades obsessoras. Para se considerar Ogã
não basta saber tocar, tem que se conhecer os fundamentos da casa e
da religião.

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Outra coisa importante são os tipos de toques que se tocam em um
atabaque. Cada tipo de toque libera uma energia diferente,
favorecendo um ou outro tipo de trabalho em um terreiro.

Os tipos de toque são muitos, entre eles os mais conhecidos são o


Rufo, Marcação, Nagô ou Alujá, Ijexá ou Afoxé, Barravento, Angola,
Congo de Ouro e Congo Caboclo, entre muitos outros.

Os toques podem ainda estar mais ligados a uma linha de trabalho ou


Orixá. Nagô é muito utilizado para preto-velhos, Ijexá é toque comum
para Oxum, Barravento é mais usado para Iansã e Congo de Ouro mais
encontrado nos pontos de Oxóssi.

Na Umbanda os Ogãs tocam o atabaque apenas com as mãos. No


Candomblé podem existir variações de acordo com a nação, em muitas
nações se usa uma mão nua e uma varinha de goiabeira, ou ainda duas
varinhas de goiabeira para se tocar. Essas varinhas são chamadas
aguidavi.

Atabaque também é fundamento de Umbanda e merece todo o nosso


respeito.

35.3. Ponto cantado


Os pontos cantados são evocações, uma forma cantada de oração que
aproxima o poder dos Orixás e a força dos guias ou da linha de
trabalho.

O canto sempre esteve muito associado com religião, e não é à toa que
quase todas possuem sua manifestação. O mantra hinduísta ou
budista, o louvor do muçulmano, o canto gregoriano dos católicos ou
os hinos dos evangélicos. Enfim, as manifestações musicais sempre se
fizeram presentes nas atividades religiosas.

O ser humano canta para atrair a atenção de Deus ou de divindades.


São Francisco de Assis dizia que “quem canta reza duas vezes”.

Na Umbanda temos o ponto cantado como manifestação lírica. Os


pontos contam histórias das entidades ou Orixás, realçam suas
qualidades ou simplesmente evocam o auxílio deles.

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Não devemos entoar pontos que relatem coisas negativas ou que
destaquem palavras como castigo, morte e medo. Os pontos não
devem causar receio ou estranheza para quem os ouve. Músicas
religiosas sempre devem despertar o melhor das pessoas para que
possam se conectar com a espiritualidade.

Para que o ponto cantado cumpra sua função é necessário que a letra
seja condizente com o verdadeiro valor dos Orixás e entidades de luz
da nossa sagrada religião.

Temos no Hino da Umbanda o maior exemplo de evocação de boas


energias e altruísmo. Deixo esse exemplo como referência de
qualidade.

Podemos cantar pontos nos trabalhos espirituais, em obrigações e


ofertas, ou mesmo quando queremos requisitar a presença daquela
entidade ou Orixá para o nosso auxílio.

Não existe nenhum problema em se cantar pontos em casa ou no dia


a dia, desde que isto não agrida ninguém. Lembre-se, quando
agredimos alguém atraímos energias indesejadas para perto de nós.

Entretanto, da mesma forma que não recomendo firmar velas para


Exu dentro de casa, também não recomendo que se cante pontos para
Exu dentro de casa pelo mesmo motivo: a energia de Exu é densa e
pode abalar pessoas sensíveis energeticamente.

Cantar os pontos durante os trabalhos demonstra sabedoria, alegria e


fé. É a verdadeira conexão com as forças da Umbanda.

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