04. O que é sacerdócio de Umbanda?

Sacerdócio é o ofício do sacerdote. Então precisamos definir o que significa sacerdote.

A palavra sacerdote vem do latim Sacerdotis (Sacerdos – Sagrado; e otis – representante),
portanto significa “representante do sagrado”.

A palavra era utilizada antigamente para identificar aquele que prestava as ofertas a Deus ou
aos deuses, o único que podia fazer sacrifício às divindades, pois era assim visto em tempos
primitivos. Antigamente o único entendimento de se ligar aos deuses era através de sacrifícios.

Através dos tempos e com a evolução natural da humanidade, o ofício de sacerdote foi
assumindo outros aspectos como o de ensinar religião e orientar os fiéis quanto às coisas
espirituais. Mas o aspecto de representante do Sagrado nunca foi abandonado.

Na Umbanda não é diferente, o sacerdote é o representante em terra de Deus, dos Orixás e de

toda a espiritualidade superior. E isso é uma coisa extremamente importante. Podemos
inclusive dizer que o sacerdote de Umbanda é o condutor do axé e de toda a espiritualidade
que rege um templo de Umbanda.

Agora imaginemos um cabo elétrico que liga a rede elétrica principal até uma casa. Se este
cabo for de qualidade, se estiver em boas condições de conservação e, acima de tudo, se foi
bem planejado e estiver de acordo com a tensão elétrica, ele levará energia elétrica para as
residências, o que trará benefício para todos os moradores.

Mas se for um cabo velho, ressecado, partido e sem condições de uso, certamente causará um
curto circuito, que além de não levar os benefícios esperados pelos moradores, poderá colocar
a vida deles em risco.

Da mesma forma é o sacerdote de Umbanda, se ele realmente respeitar o Sagrado, se for da

sua missão o ofício sacerdotal e caso ele seja bem preparado para a função, certamente levará
a benção, a cura, a libertação e o axé para todos em sua casa. Do contrário veremos falsos
sacerdotes arrebanhando uma multidão de perdidos, o que infelizmente é muito comum de
se encontrar.

Por tudo isso é que o ofício de sacerdote não é para iniciantes, nem curiosos e muito menos
para quem não compreende verdadeiramente a importância e a responsabilidade deste
trabalho.

Muitos dirão que a missão sacerdotal foi revelada por diversas entidades espirituais ou por
oráculos como búzios, opelê e tarot. Eu não estou aqui para dizer que essa informação não é
verdadeira, mas para ajudá-los a entender essa revelação.

O fato de lhe ser revelado que sua missão passa pelo sacerdócio não quer dizer que isto tenha
que acontecer agora ou mesmo logo após a revelação. Também não significa que você não
tenha que se preparar adequadamente.

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 No meu caso, foi revelada a minha missão em 1998 e somente 19 anos depois é que consegui
abrir meu terreiro. E só Deus e meus guias para saberem o quanto eu estudei e por quantas
experiências tive que passar para me forjar adequadamente para a função.

Por tudo isso recomendo que não apresse as coisas e lembro que a espiritualidade estará lhe
preparando, e indicando o momento adequado para dar este passo. É claro que isto não se
aplica para muitos de vocês que já tem seus espaços abertos. Nestes casos, a missão veio
primeiro e a preparação se fez, e se fará, durante a jornada.

No terreiro, um sacerdote é pai, mestre, professor, curador, psicólogo, pastor e advogado.

Muitas destas características serão proporcionadas por seus guias, já tantas outras demandam
preparação e estudo contínuo.

Cada um só dá de si o que tem para dar e espero que ao final deste curso, vocês possam ter
muito mais a dar para atender às expectativas de todos aqueles que recorrerem a vocês em
busca de auxílio espiritual.

Um tolo que não sabe ensinar a si mesmo nunca conseguirá ensinar aos outros.

Por fim, uma pergunta muito comum é sobre a terminologia “sacerdote de Umbanda”. Não
seria pai-de-santo, babalorixá ou coisa do tipo? Sim, você está correto, ao fim do curso,
cumprindo com todas as suas obrigações, você poderá se intitular babalorixá ou pai e mãe-de-
santo. Mas devemos lembrar que estes termos são muito ligados ao Candomblé e ao culto de
nação, e já faz algum tempo que a Umbanda vem procurando rituais e nomenclaturas próprias,
e já são muitos os que preferem adotar a palavra sacerdote na Umbanda, para distinguir destas
outras religiões. É óbvio que as pessoas continuarão a te chamar de pai, mãe ou babá, porque
isso já se enraizou na cultura popular dos adeptos, mas sempre que possível é bom utilizar os
termos sacerdote e sacerdotisa para registrar este novo momento de crescimento da nossa
religião.

As pessoas leigas já tendem a misturar todas as religiões afro-brasileiras em uma só e por isso
é importante a Umbanda demarcar as suas fronteiras.

05. Como se formam os terreiros de Umbanda?

Tudo começa com um médium. E este, através de seus guias incorporados começa a prestar a
caridade espiritual levando orientação, alívio, cura e libertação para todos aqueles que vem
até ele.

Com o tempo, as entidades irão revelar que muitas pessoas entre os consulentes tem a
necessidade de desenvolver sua mediunidade, e assim aquele primeiro médium começa a
auxiliar estes irmãos no caminho mediúnico.

Após alguns anos, aquele que iniciou tudo já é muito respeitado e já conta com uma corrente
de uma dezena de médiuns firmes, que aos poucos também se estabelecem como aparelhos

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de guias que operam milhares para a consulência. E assim aquele pequeno espaço se torna um
terreiro e aquele primeiro médium se torna um sacerdote.

Os anos passam, e os novos médiuns formados passam a ser procurados pela assistência. Entre
todos, um haverá de se destacar pelas graças alcançadas por suas entidades. No começo o
dirigente até tem orgulho de sua própria cria, mas com o tempo este médium que se destaca
passa a incomodar tanto seu dirigente como os demais irmãos da corrente.

Chega a um ponto que a convivência se torna muito difícil e, aos poucos, este médium passa a
acalentar seu próprio espaço de trabalho, o que invariavelmente vai acontecer. Assim, aquele
médium sai do terreiro para abrir sua própria casa e assim, mais uma vez, tudo começa com
um médium. E este ciclo se repete desde a fundação da Umbanda até os dias de hoje.

O grande problema é como este médium vai deixar o seu terreiro. Sabemos que sempre haverá
pessoas que irão maldizer e que tantas outras demonstrarão um sentimento de repulsa. E em
muitos casos o próprio dirigente estará entre estas pessoas.

Não me interessa o que pensam os outros, mas sim o que aquele que sai pensa. Como este
processo aconteceu dentro de você? Você sai com raiva ou sentimentos negativos por seus
antigos companheiros? E qual sentimento você tem para com seu antigo dirigente? Você saiu
em paz? Saiu pela porta da frente ou pela porta dos fundos?

Muitos dirão que isso não importa, mas eu digo que FAZ TODA A DIFERENÇA.

Em primeiro lugar, você sair do terreiro no qual trabalhava porque o trabalho de seus guias
cresceu, tudo bem, nada mais do que justo que você busque um espaço próprio para seus
trabalhos espirituais, caso seja solicitado por seus mentores.

Mas não podemos aceitar médiuns que deixam suas casas por banalidades, por um erro do
dirigente ou por pura vaidade. São essas pessoas que, por não terem nem o sentimento e nem
a preparação adequada, que acabam por criar centros distorcidos e sem identidade espiritual,
que em nada refletem as virtudes da verdadeira Umbanda.

E, o outro ponto, que diz respeito aos sentimentos. Seus companheiros de corrente podem ter
sentimentos negativos por você, mas se você sentir o mesmo indica claramente que não está
pronto para ser um líder espiritual. E caso seu dirigente não te apoie ou que também
demonstre mágoa, isso indica que ele não tem a sabedoria necessária para ocupar a função,
mas ele tem desculpa, pois não se preparou adequadamente ou não foi bem orientado, vocês
não poderão usar esta desculpa.

Independente de tudo, o médium que deixa uma casa para seguir sua missão deverá ter em
seu coração a gratidão pela antiga casa e por seu antigo dirigente, e também deverá perdoar
a todos aqueles que ficaram contrários à sua posição.

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 Esses sentimentos são indispensáveis para se iniciar um caminho de luz, pois toda coisa que
começa da forma errada tende a se manter errada através do tempo.

Caso alguns de seus irmãos do antigo terreiro desejem te seguir, é necessário demonstrar de
todas as formas sua postura pacífica e de perdão em relação aos outros. Isso inspirará e
motivará seus novos filhos de fé a irradiarem as mais altas energias positivas desde o começo
da sua jornada espiritual.

Por fim lembre-se que a espiritualidade inferior e negativa tudo fará para que você não consiga
executar essa parte da sua missão. Quando você mantém a cabeça firme, os obsessores usarão
daqueles que te cercam para desmotivar e desiludir. Mantenha a cabeça ereta e a firmeza do
seu espírito, além claro de não alimentar sentimentos negativos, assim seus guias e protetores
poderão te orientar e auxiliar na pavimentação da sua nova estrada.

06. Templo físico e templo corpóreo

Entendemos por templo físico o espaço que destinaremos ao trabalho espiritual e cada um
utilizará a terminologia com a qual mais se identifique. Pode ser terreiro, tenda, cabana, casa
ou centro.

Os espaços físicos demandam preparação e manutenção desde assentamentos vibratórios até

firmezas semanais. Esses assuntos serão largamente debatidos e aprofundados durante nosso
curso.

Mas antes de ser um sacerdote para a coletividade, para os nossos filhos de fé, também somos
todos sacerdotes do nosso templo corpóreo, do nosso corpo físico.

Já falamos que o sacerdote é o ponto de ligação entre o material e o espiritual em um terreiro,

que tudo passa por ele, desde as mais densas energias negativas dos descarregos, até os mais
puros axés vindos dos Orixás. E quando falamos do sacerdote, estamos falando do ser como
um todo, de seu espírito, mente, coração e corpo físico.

Em nossas vidas sempre começamos com uma coisa pequena para depois executar uma coisa
maior. Andamos antes de correr, passamos pelo ensino fundamental e médio antes de cursar
uma faculdade, bem como cuidamos de problemas simples quando somos mais novos, e no
decorrer de nossas vidas somos confrontados por problemas mais sérios e mais complexos.

Da mesma forma é o sacerdócio. Você deverá primeiro aprender a cuidar do seu templo
corpóreo para depois assumir uma responsabilidade maior.

Muitos podem estar perguntando: por que templo corpóreo?

Para isso, primeiro devemos entender o significado de templo, que vem a ser o local dedicado
a uma ou mais divindades no conceito antigo. Atualmente templo é o local físico reservado
para a conexão com Deus e com tudo o que é sagrado.

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Desde o momento que desenvolvemos nossa mediunidade, passamos a ser um templo que
será habitado eventualmente pela espiritualidade superior, onde acontece uma conexão
espiritual. Para que tudo possa acontecer dentro da mais pura e elevada energia, é necessário
que saibamos preparar e manter nosso corpo físico.

E para um trabalho espiritual, é imprescindível que os quatro elementos que compõem nosso
“eu” estejam em plenas condições para este uso.

Nosso corpo deverá estar sempre limpo e bem cuidado. Também são necessárias as práticas
da boa saúde para que nossos guias possam contar sempre com um corpo saudável e asseado.
Não executar essas práticas deve ser compreendido como falta de respeito ao Sagrado.

Nossa mente deverá estar calma, com pensamentos claros e edificantes. Jamais devemos
permitir que nossos problemas de ordem terrena sejam levados conosco para o trabalho
espiritual. Um bom sacerdote deve saber se desligar do material antes de qualquer atividade
espiritual. Ainda mais se lembrarmos que na incorporação nossos guias assumem o controle
do corpo através de nossa mente, e se ela estiver com perturbações, mais difícil ficará a
incorporação e isso abre espaço para a mistificação e o animismo.

Em nosso coração deverá haver apenas bons sentimentos e um elevado desejo de servir ao
próximo. Mágoas, tristezas, rancor e frustrações, assim como qualquer outro sentimento
negativo, não devem fazer parte dos sentimentos emanados por um sacerdote, ainda mais no
momento de conexão com o Sagrado. Os sentimentos negativos nos impedem de nos conectar
com as energias superiores;

Por fim, se soubermos preparar nosso corpo, mente e coração, isso proporcionará uma leveza
de espírito única, auxilia a aumentar a nossa fé e nossa firmeza, para que possamos
desempenhar com êxito nosso papel de mediador da espiritualidade.

Meu finado sacerdote dizia que antes de entrar no terreiro, todos os trabalhadores deveriam
deixar suas sacolas do lado de fora da casa, a fim de executar um bom papel perante Deus, os
Orixás e todas as linhas da Umbanda.

Demorei muito para entender o que ele queria dizer, e mais ainda para aprender a deixar a
minha sacola do lado de fora do terreiro.

Para alcançar isso, todo trabalhador espiritual deve se autoconhecer, com o intuito de expirar
qualquer mal que eventualmente esteja carregando. Não podemos deixar que assuntos do
passado ou problemas corriqueiros atrapalhem nosso ofício. Os problemas emocionais são os
maiores causadores de doenças físicas e também os que abrem portas para os males
espirituais, principalmente para a obsessão. Espíritos negativos adoram se ancorar em
problemas sentimentais ou assuntos mal resolvidos dentro de nós.

Para isso oração e meditação sempre. Um sacerdote, na minha modesta forma de pensar, deve
ter no mínimo 15 minutos de solidão aproveitável por dia. E ao menos uma hora contínua

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dentro da semana para poder se conectar com a espiritualidade superior através de firmezas
e orações.

Não devemos esquecer também a importância dos preceitos neste aspecto. Evitar comer
carne, ingerir bebidas alcoólicas e quaisquer outras substâncias que afetem o nível de
consciência, bem como não manter relações sexuais nas horas que antecedem a atividade
espiritual, é fundamental.

Enfim devemos lembrar o quanto os banhos, tanto de sal como o de ervas, podem nos ajudar
a limpar nosso campo espiritual e favorecer a saúde espiritual.

Manter um corpo limpo, uma mente livre, um coração leve e um espírito forte, são obrigações
de qualquer um que deseja se tornar sacerdote.

Seja um bom sacerdote de seu templo corpóreo e a espiritualidade vai te agraciar e te auxiliar
a ser um bom sacerdote no templo terreno.

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