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3.

Estrutura Física do Terreiro


Todo terreiro tem uma estrutura. Uns são simples, outros mais
complexos. Mas o que todo umbandista deve ter em mente é que
todos os espaços físicos de um terreiro são sagrados, e, por isso,
devem ser tratados com muito respeito por parte do filho de fé.

É certo que alguns espaços demandam cuidados especiais e devem ser


tratados como um organismo vivo, pois são responsáveis pela firmeza,
equilíbrio e estabilidade energética da casa. O responsável pela
manutenção e pelos cuidados especiais destes espaços é o dirigente
espiritual do terreiro. Por zelar dos tributos dos Orixás, o dirigente
muitas vezes é chamado de ‘zelador de santo’.

Antes de discorrermos sobre os espaços que podem ser encontrados


em um terreiro de Umbanda, é necessário discorrer brevemente sobre
‘assentamento vibratório’. Podem ser conhecidos também por
‘assentamento energético’ ou ‘assentamento cabalístico’.

Assentamento vibratório é a manifestação energética emanada pelos


tributos de cada Orixá. Esses tributos foram sistematicamente
introduzidos no espaço físico. Podem ser enterrados ou não, porém na
Umbanda, o mais usual é serem enterrados em local desconhecido dos
filhos da casa, ou mesmo serem feitos em locais onde só é permitida a
entrada de pessoas previamente autorizadas.

Existem assentamentos de direita e de esquerda, e ambos são


responsáveis pela emanação de bons fluidos para a atividade religiosa,
dando forças para os espíritos que trabalham para a lei e para a luz, e
minando as forças dos espíritos negativos. Os assentamentos também
são responsáveis pelas forças de defesa da casa, criando uma cúpula
de proteção ao redor do espaço físico ocupado pelo terreiro,
impedindo que demandas ou espíritos indesejados adentrem ao
terreiro.

Um exemplo que podemos associar para tentarmos compreender os


assentamentos, é o do gerador de energia elétrica à combustível. Em
um local onde a energia elétrica não seja disponível da forma
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tradicional, utilizamos esses geradores. Coloca-se combustível no
tanque do motor, liga-se o motor e pronto. As lâmpadas se acendem,
os aparelhos funcionam, o sistema de defesa ou proteção funciona;
isso para melhorar, facilitar e favorecer a vida daqueles que irão
habitar e desempenhar funções naquele local.

O assentamento vibratório é como um gerador no terreiro, só que de


energias espirituais. Quando ligado propriamente, favorece o bom
trabalho espiritual. Mas, da mesma forma que um gerador, que
precisa ser alimentado com combustível, o assentamento também
deverá receber ‘combustível’ periodicamente.

O zelador deverá firmar velas, fazer orações e oferecer bebidas, água,


frutas, produtos de fumo, flores, incensos ou qualquer outra oferta
condizente com cada Orixá. Essas ofertas, ao liberarem suas energias
essenciais, reabastecerão os assentamentos de forma que continuem
pulsando energias divinas. Quanto à periodicidade dessa manutenção,
ela poderá ser semanal, quinzenal ou anterior a cada sessão do
terreiro.

Vejamos agora a descrição de alguns espaços que são encontrados em


terreiros e espaços umbandistas.

3.1. Congá

Também conhecido por Pegi. É o altar sagrado dos Orixás. Na maioria


das casas, é neste local que os Orixás recebem suas ofertas e velas. E
tem costumeiramente a forma de pirâmide (triângulo), onde Oxalá
sempre ocupará o ponto mais alto, logo abaixo virão mais duas
imagens, a que ficar à direita de Oxalá, normalmente caracteriza o
Orixá de frente (pai de cabeça) do dirigente. E a imagem que fica à
esquerda de Oxalá representa o Juntó (mãe de cabeça) do sacerdote.
Nas linhas inferiores do Congá são dispostos os outros Orixás, sendo
que a ordem pode variar de terreiro para terreiro, pois isso é critério
do dirigente espiritual da casa.

Normalmente o Congá fica à frente do espaço onde são feitas as giras,


e, por este motivo, o local da gira também é conhecido popularmente
como Congá.
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O Congá possui assentamento vibratório e deverá sempre ser
respeitado, e saudado como um ser vivo. Antes de adentrar pela
primeira vez no dia neste local, devemos nos agachar e com as costas
das mãos, fazer o sinal da cruz e repetir ‘Por Olorun, por Oxalá e por
Ifá’, que vem a ser a trindade umbandista, equivalente ao ‘Pai, Filho e
Espírito Santo’ da igreja católica.

A esmagadora maioria das casas desenvolvem o trabalho de todas as


linhas em frente ao Congá, mas existem lugares onde o trabalho dos
Srs. Exus é desenvolvido em espaço diferente. Isto é definido pelo
tamanho da casa, disponibilidade de espaços e o critério do dirigente
espiritual.

3.2. Tronqueira

Local onde se encontram os assentamentos de Exu e também onde


este Orixá recebe suas oferendas. Normalmente é fechado à chave,
sendo que somente o dirigente e um ou outro escolhido, tem
permissão para entrar neste espaço. É construído usualmente na parte
da frente dos terreiros, para que Exu barre a entrada de espíritos
indesejados.

Em alguns terreiros, pode ser apenas a casa do Sr. Exu Tronqueira, o


qual se encarrega de fazer a primeira proteção da casa e também de
amarrar em seu tronco de trabalho, todos os espíritos e energias
malfazejas. Neste caso, a tronqueira será uma casinha similar àquelas
que abrigam imagens de santos na residência de inúmeras pessoas. A
diferença principal é que quando a Tronqueira se apresenta desta
forma, somente o Sr. Tronqueira recebe suas ofertas, sendo que os
Exus receberão seus tributos em outro local.

Mesmo neste segundo caso, a tronqueira também recebe


assentamento vibratório.

3.3. Balé

Balé ou Ygbalè, é a casa dos mortos ou, se preferir, casa dos eguns.
Não é um fundamento comum na Umbanda, mas costumeiro no
Candomblé, Batuque e outras religiões afro-brasileiras. Originalmente
é utilizado para prestar homenagens aos ancestrais que alcançaram a
luz ou, ainda, para o encaminhamento de espíritos sofredores.

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Quando usado na Umbanda, o balé é uma construção dentro da área
física do terreiro, onde são prestados os tributos para Exu e suas
entidades representantes. Normalmente fechado, somente o
dirigente espiritual pode adentrar a este recinto, ou aqueles
autorizados por ele. Uma grande preparação que vai desde a higiene
física até o preceito espiritual é necessário para ingressar no balé.

3.4. Roncó

Originalmente, roncó era o quarto onde o filho de Candomblé era


recolhido para sua iniciação. No Candomblé também pode ser
conhecido como camarinha ou quarto de camarinha. A idéia original
era que o filho, durante sua clausura, entrasse fortemente em contato
com a força dos Orixás.

Na Umbanda não existe este tipo de iniciação ritualística e o roncó


passou a ser utilizado como um espaço para o tributo dos Orixás, com
exceção de Exu, que normalmente tem local a parte. Ali são oferecidas
velas, fumo, orações, flores e frutas para todos os Orixás e seus
representantes.

Também só pode ser adentrado pelo dirigente e pessoas autorizadas,


e também exige preparação física e espiritual prévias.

4. Hierarquia de Terreiro

4.1. Assistência
Também chamada consulência, são as pessoas que vão ao terreiro
para se tratar e se consultar com as entidades nos trabalhos
espirituais. Não possuem função nos templos de Umbanda.

4.2. Trabalhador
É aquele que, depois de algum tempo na assistência, busca
voluntariamente ajudar a casa em qualquer coisa que não demande
informação religiosa. Colabora com a limpeza, biblioteca, trabalhos
para angariar fundos para o terreiro, entre tantos outros.

4.3. Cambone (Cambono)


Cambone é aquela pessoa que trabalha no chão prestando assistência
aos trabalhos, porém não incorpora. É o servidor das entidades.

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São funções do cambone:

Ajudar na preparação dos trabalhos


Colocar os bancos no lugar, transportar objetos para o Congá, preparar
guias para cruzamento, oferecer cravos aos médiuns, enfim, estar
disponível para as tarefas corriqueiras necessárias para a execução dos
trabalhos.

Estar a serviço da corrente


Estar disposto (na medida do possível) atrás dos médiuns, alerta às
possíveis necessidades deles como servir um copo d’água ou segurar
o cavalo no momento da desincorporação. Servir sempre com fé.

Estar a serviço das entidades


Logo que as entidades que irão consultar começam a incorporar, é
função do cambone servir a bebida e o pito de cada um. Além disso,
devem atender às solicitações das entidades dentro das normas da
casa. Também é função do cambone recolher guias para limpeza, ou
seja, sempre que uma entidade deixar cair uma guia no chão, deve-se
“limpar” a guia: as de direita com água do mar e as de esquerda com
marafo. Mas lembre-se: basta apenas um pouco destes líquidos para
a limpeza.

O cambone sempre deve dirigir-se à uma entidade com muito respeito


e pedindo licença. Muitas vezes a entidade pede ao cambone que
escreva uma lista de afazeres para o consulente, esta lista deve sempre
ser legível e, caso as informações fornecidas não forem claras, deve o
cambone solicitar estes esclarecimentos à entidade.

E como o cambone é o auxiliar em terra das entidades, é justo que


guarde e zele de seus instrumentos. Por exemplo, servir a bebida
correta (normalmente trazida e preparada pelo médium), servir no
copo correto, lavar e guardar os objetos depois do uso, providenciar
cinzeiros, recolher contas de guia caso venham a arrebentar, entre
muitos outros.

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Estar a serviço da assistência
É muito comum as pessoas que vão ao centro ter dúvidas. É obrigação
dos cambones orientar quando souber, buscar a informação quando
não souber, ou encaminhar à pessoa que saiba, para melhor orientar
as pessoas da assistência.

Mas o mais importante de tudo é que o cambone mostre vontade de


aprender. O aprendizado se dá com a convivência com os mais
experientes. Lembrar sempre que cambonear é servir aos outros, quer
pessoas ou entidades, e para isso é necessário conhecer a todos,
inclusive quais entidades possuem cada médium. O cambone não tem
privilégios por estar servindo. Caso precise de uma consulta,
aguardará pacientemente como o último a ser atendido. Caso não seja
atendido, virá conversar com o Babalaô fora do dia de trabalho. Ele
não permitir que nenhuma entidade “puxe” suas entidades para
desenvolver sua mediunidade, irá deixar esta prática para a Gira de
Desenvolvimento. E, por último, é importante registrar que o cambone
não serve apenas esta ou aquela entidade, ele servirá a todas as
entidades indistintamente.

O comportamento adequado de um cambone durante as consultas, é


circular e estar atento à qualquer necessidade das entidades ou da casa.

Sabendo aproveitar, o cambone é uma das funções que oferece as


maiores e melhores possibilidades de crescimento espiritual.

O cambone nunca deve:

- sentar-se ou encostar-se na parede,


- ficar em grupos, rodinhas ou conversando,
- beber, comer ou fumar sem solicitação de alguma entidade,
- usar outra cor de roupa que não seja a branca,
- conversar com as entidades, em detrimento da assistência,
- servir bebida ou comida excessivamente às entidades,
- permitir que o consulente se demore demasiadamente na
consulta,
- permitir que um consulente passe com mais de uma entidade,
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- interferir ou alterar nas informações passadas pelas entidades.

Por fim, deve estar sempre disponível e de bom humor, para receber
as pessoas carinhosamente, que vão ao Centro em busca de caridade.
Ele é o cartão de visitas e deve buscar sempre exercer a caridade com
humildade.

4.4. Médiuns
É a função mais conhecida e certamente é o papel principal a ser
desempenhado dentro de um terreiro de Umbanda.

Ser médium é ser instrumento da espiritualidade para sua


manifestação. Sem médium, não há manifestação de espírito e, sem
isso, não há Umbanda.

Formam a corrente de energia que servirá de aporte para os guias e


protetores desempenharem suas funções de auxílio, socorro e
orientação.

Por tão importante função, aqueles que ocupam e assumem esta


tarefa em um terreiro de Umbanda devem ser extremamente
comprometidos e disciplinados.

A dedicação, respeito e carinho de um médium estão diretamente


associadas a qualidade de atendimento espiritual de um terreiro.

4.5. Ogã
No candomblé o ogã pode ter diversas funções, inclusive a de servir as
entidades em terra. Por este motivo, em muitos terreiros de Umbanda
o cambone também pode ser chamado de ogã.

Entretanto, o mais comum é que o ogã seja o responsável pela parte


rítmica da casa, aquele que toca o atabaque. Esta é uma função
extremamente importante no terreiro como veremos adiante em
‘Ritos e Fundamentos’.

4.6. Pai Pequeno (Mãe Pequena)


São os grandes assistentes do dirigente espiritual. Aprendem e
colaboram em todos os trabalhos que sejam de responsabilidade do
pai ou mãe-de-santo, por este motivo, é desejado que tenham
formação sacerdotal ou, ao menos, que estejam em curso.

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Principalmente porquê será ele ou ela que, na ausência do dirigente
por qualquer motivo, assumirá plenamente as funções sacerdotais,
inclusive a de dirigir os trabalhos da casa.

4.7. Babalorixá e Ialorixá


Babalorixá é o homem que cumpriu com o curso de formação
sacerdotal, ou que foi preparado para a função de alguma forma. O
imprescindível é que tenha prestado todas as obrigações aos Orixás,
de maneira assistida por sacerdote ou sacerdotisa experiente. Ialorixá
é o nome que dá às mulheres que cumpriram com as mesmas
preparações.

É o responsável principal pela condução religiosa do terreiro. Pode


acumular, como acontece na maioria das casas, a função de
administração material do terreiro. É a autoridade máxima.

A palavra Babalorixá significa pai-de-santo e Ialorixá, mãe-de-santo.


Também são conhecidos como sacerdotes, dirigentes, zeladores,
presidentes ou simplesmente chefes da casa.

Podem desenvolver livremente todas as funções de um terreiro, com


exceção de uma, a consulta ao oráculo.

4.8. Babalaô
O termo é usado tanto para homens quanto mulheres e significa ‘Pai
do Segredo’.

Babalaô, é o Babalorixá (ou Ialorixá), que após cumpridas todas as


obrigações aos Orixás, prestou ainda uma última; a obrigação à Ifá. Ifá
é o Orixá responsável pela transmissão de todas as informações de
presente, passado e futuro, vindas do plano espiritual para o mundo
dos encarnados.

Quando prestamos obrigação a ele, adquirimos a capacidade de se


conectar com ele e acessar todo seu conhecimento. Só que Ifá fala
apenas através de oráculos; búzios, cartas, ou qualquer outro meio de
adivinhação. Sem isto, o sacerdote não pode sequer verificar o pai de
cabeça e juntó (pai e mãe de cabeça) de seus filhos de fé.

É o grau mais alto que se pode alcançar dentro de terreiro umbandista.

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