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Leitor 2:
AGRADECIMENTO
Agradeço primeiramente a Deus, dado que ele é o princípio e fim de tudo o que
acontece em minha vida, além de ser um Deus misericordioso, sempre atendeu a mim,
um servo pecador, que embora caia muitas vezes não se cansa de reerguer os seus
próprios filhos perdidos pelo erro, por isso, a minha eterna gratidão a este Deus todo-
poderoso e amoroso.
A meus pais, Maria Jesuína e Antônio Francisco, que sempre batalharam para
ser uma pessoa do bem, seja educando ou dando conselhos. Espero que possam se
sentirem felizes por minhas conquistas, além de serem os melhores pais que alguém
poderia ter e que eu tive essa imensa alegria de podê-los chamá-los de mãe e pai.
Sintam-se representados pelo atual trabalho que representa apenas uma parcela do
imensurável amor que tenho pelos senhores.
À Diocese de Mogi das Cruzes, representada pelo Seminário de Filosofia São
José que me deu a oportunidade de concluir o ensino superior, o meu agradecimento
por confiarem em mim.
Aos padres, Pe. Antônio Carlos Alves de Menezes, Pe. Diogo Plácido Shishito,
Pe. Aleksandro Basseto Moreira, Pe. Wilson de Sales que foram meus reitores e do
atual Pe. Luiz Ricardo Cândido Silva, agradeço a cada um pelos ensinamentos que
propuseram dentro do processo formativo e que continuem sendo excelentes
sacerdotes, a exemplo de Jesus o bom pastor.
A meus irmãos de seminário, exclusivamente aos da minha turma, Elizeu,
Pedro e Richard pelo companheirismo e amizade, além deles, quero agradecer aos
seminaristas Matheus Barbosa e Vitor Ferreira pelo empréstimo dos livros que foram
utilizados para a elaboração do presente trabalho.
Aos professores do curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Teologia
Paulo VI, o meu agradecimento por terem passado o bem maior que aprendemos na
Filosofia, a sabedoria. Ao meu orientador, Professor Dr. João Cortese, o meu
agradecimento pela excelente orientação que realizara para que este trabalho saísse.
Ao professor Me. Marco Maida agradeço pelo empréstimo de livros e dicas sobre
retórica na disciplina de Filosofia da Linguagem.
Enfim, a todos que colaboraram de modo direta ou indiretamente na minha
formação acadêmica.
“Mas a retórica é útil porque a verdade e a justiça são por natureza mais fortes que
os seus contrários”. (Aristóteles, Ret., 1355a).
RESUMO
INTRODUÇÃO 10
1 NATUREZA DA RETÓRICA 12
2.1 Ethos 27
2.2 Páthos 33
2.2.1 Ira 35
2.2.2 Calma 36
2.2.6 Amabilidade 39
2.2.7 Piedade 40
2.2.8 Indignação 41
2.2.9 Inveja 41
2.2.10 Emulação 42
2.3 Logos 42
3.1 Premissa 47
3.2 Silogismo 51
3.4.1 Dedução 56
3.4.2 Indução 56
3.5 Entimema 57
CONCLUSÃO 60
REFERÊNCIAS 63
10
INTRODUÇÃO
1 NATUREZA DA RETÓRICA
Mas a retórica é útil porque a verdade e a justiça são por natureza mais fortes
que seus contrários. De sorte que, se os juízos não se fizerem como convém,
a verdade e a justiça serão necessariamente vencidas pelos seus contrários,
e isso é digno de censura. (ARISTÓTELES, Ret., 1355a, 2012, p. 10).
A observação que Aristóteles faz sobre a retórica é que ela tende a ser usada
em situações que gerem opiniões divergentes sobre um assunto e que devem gerar
uma resposta, porém como percebe-se na citação acima, a justiça e a verdade são os
pontos que um orador deve ter em mente ao fazer uso da retórica, mas ele não
consegue chegar a uma conclusão verdadeira se também ele não possui o
conhecimento daquilo que lhe é contrário, ou seja, deve-se conhecer aquilo que é
falso.
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Ora, sendo evidente que o método artístico é o que se refere às provas por
persuasão é uma espécie de demonstração, que a demonstração retórica é
o entimema e que este é, geralmente falando, a mais decisiva de todas as
provas por persuasão; que, enfim, o entimema é uma espécie de silogismo,
e que é do silogismo em todas as suas variantes que se ocupa a dialética, no
seu todo ou nalguma das suas partes, e é igualmente evidente que quem
melhor puder teorizar sobre as premissas do que e como se produz um
silogismo também será o mais hábil em entimemas, porque sabe a que
matérias se aplica o entimema e que diferenças este tem dos silogismos
lógicos. (ARISTÓTELES, Ret., 1355a, 2012, p. 9).
regras lógicas para contradizer o seu oponente, ou seja, a lógica serve de instrumento
para convencer a alguém de que ele está errado no discurso ou para defender a si
próprio de acusações que estão sendo levantadas contra a própria pessoa, pois o que
caracteriza o vencedor é a não contradição de seus argumentos, que por sua vez só
podem vir da lógica. Para explicitar ainda mais a opinião de Aristóteles eis um
comentário de Reboul:
Em nossa opinião, a melhor resposta para esse tipo de crítica é mostrar que
a dialética não é nem moral nem imoral simplesmente porque, no fundo, ela
é um jogo. Num jogo, o problema é ganhar. E, neste, vencer é convencer; em
outras palavras, uma proposição enunciada pelo adversário é admitida como
provada, sem que se possa voltar a ela. (REBOUL, 2004, p. 29).
dito neste capitulo, aquele que na sua oratória sabe da verdade, mas também do seu
inverso, isto é, a mentira, significa que está mais preparado a responder as objeções
de seu adversário se este dispuser de falácias.
A segunda parte que deve ser preparada no discurso retórico é denominada
por Aristóteles de disposição (taxis). Nesta fase dever-se-á organizar os argumentos
que foram escolhidos na primeira etapa da invenção, já que no momento do discurso
isto deve ser claro ao ouvinte, ou seja, o orador deve deixar explícito como deverá
estruturar seus entimemas na linguagem.
O terceiro elemento da organização que se deve estar ciente é a elocução
(lexis). Nesta etapa deve-se organizar a escrita, ou seja, quais atributos ou figuras da
linguagem devem ser postos na redação.
E o último ponto que deverão os oradores saber é a ação (hypocrisis). A ação
não é nada mais do que colocar em praticar no discurso todos os passos que foram
preparados anteriormente, seja qual for a forma que venha a expressar a oratória. Caso
não obedeça às regras a serem cumpridas, o orador não conseguirá atingir seus
objetivos, pois não usou as estruturas lógicas em seu raciocínio, visto que há uma
relação entre lógica e retórica.
Apresentadas as etapas a serem obedecidas pelos oradores, poder-se-á
apresentar os gêneros retóricos, a fim de sabermos por quais motivos existem as
diferenças nos discursos e quais são suas finalidades para convencer alguém.
O bem também é analisado por Aristóteles; ele divide os bens em dois tipos: os
internos e os externos. Ambos são necessários à vida das pessoas, pois através dos
bens internos, é adquirida a saúde, beleza e estatura, visto que, a harmonia entre
estes, fazem com que a qualidade de vida seja bela e feliz, não obstante os bens
externos, como pode ser analisado, também nos conduzem à felicidade, como por
exemplo a riqueza, dado que nos ajudam a adquirir recursos financeiros como
também terras e outros bens. E como nos diz o filósofo: “com efeito, uma pessoa seria
inteiramente autossuficiente se possuísse os bens internos e externos, pois fora
destes não há outros” (ARISTÓTELES, Ret., 1360b, 2012, p. 28), isto significa então
que, se uma pessoa tivesse os bens necessários, com certeza seria expressamente
feliz e realizada, pois seus objetivos seriam alcançados.
Os dois objetivos da deliberação são o que é bom e conveniente, mas para
saber deliberar sobre estes aspectos deve-se primeiramente defini-los, como o grande
discípulo de Platão faz:
Entendemos por bom o que é digno de ser escolhido em si e por si, e aquilo
em função de que escolhemos outra coisa; também aquilo a que todos
aspiram, tanto os que são dotados de percepção e razão, como os que
puderem alcançar a razão; tudo o que a razão pode conceder a cada
indivíduo, e tudo o que a razão concede a cada indivíduo em relação a cada
coisa, isso é bom para cada um; e tudo o que, pela sua presença, outorga
bem-estar e autossuficiência; e o que produz ou conserva esses bens; e
aquilo de que tais bens resultam; e o que impede os seus contrários e os
destrói. (ARISTÓTELES, Ret., 1362a, 2012, p. 32).
Ora, para as enumerar uma a uma, direi que as seguintes coisas são
necessariamente boas. A felicidade, porque é desejável em si mesma e
autossuficiente, e porque para a obter escolhemos muitas coisas. A justiça, a
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Com efeito, sucederá que, ao mesmo tempo que falarmos destas questões,
estaremos também mostrando os meios pelos quais deveremos ser
considerados como pessoas de um certo caráter [...], é pelos mesmos meios
que poderemos inspirar confiança em nós próprios e nos outros do que
respeita à virtude. (ARISTÓTELES, Ret., 1366a, 2012, p. 45).
o que produz a virtude é necessariamente belo (porque tende para a virtude), assim
como é belo o que procede da virtude [...]” (ARISTÓTELES, Ret., 1366b, 2012, p. 46).
Tudo que vem posteriormente à virtude é bom, visto que a virtude é algo bom.
E como foi afirmado pelo próprio Aristóteles, é natural de todos os homens irem em
busca da felicidade já que buscam ser felizes, é digno de que eles busquem o que é
belo, mas também a virtude, já que o inverso desta é o vicio, e este não traz a
felicidade, mas sim uma dependência para com aquilo que o deixa viciado. Deve-se
destacar que uma pessoa virtuosa tende a receber elogios, pois o elogio “é um
discurso que manifesta a grandeza de uma virtude” (ARISTÓTELES, Ret., 1367b,
2012, p. 50). O elogio é proferido a alguém quando este faz algo de bom, a virtude só
é alcançada através da prática, isto é, algo que fazemos frequentemente e que é boa
por si própria, sem dúvida a virtude será alcançada posteriormente depois da ação
praticada.
Por fim, o último ponto que Aristóteles desenvolve sobre o gênero epidíctico é
sobre a afirmação. A afirmação é o argumento que deve ser usado neste gênero, ela
é caracterizada por realçar as ideias das intenções que o orador quer apresentar aos
expectadores, pois se os assuntos são analisados por questões particulares, e se
estes assuntos forem autênticos, o orador conseguirá seus objetivos, aliás, deve-se
ressaltar que a amplificação está para o elogio, pois vai demonstrar as virtudes que
são necessárias para o homem, já que o objetivo deste gênero é censurar as coisas
que levem ao vicio e elogiar aquilo que é digno da virtude.
alguém a cometer algo ruim, isto é, a injustiça. Aristóteles comenta sobre os atos
voluntários e os motivos que levam a alguém a cometar algo injusto:
Aristóteles quer dizer que a pessoa que comete algo injusto para com a outra
pessoa, faz o ato por decisão própria, portanto, o indivíduo deve possuir liberdade
para decidir qual ação deve seguir, pois se não tivesse a capacidade de escolher suas
ações, não poderia ser caracterizado como injusto algo que o mesmo provocou. Visto
que para cometer algo injusto, a pessoa que o comete deve possuir consciência da
finalidade que ela está impondo a alguém, pois ela sabe que outra pessoa vai sofrer
um dano, isto é, uma ação que muitas vezes não é esperada e que vai ser causa de
desordem.
A iniciativa é ponto de partida para aqueles que desejam prejudicar, pois deve-
se ter consciência se algo é posto já por natureza ou se o indivíduo o preparou por
iniciativas próprias, pois como já foi analisado, a injustiça só deve caracterizada como
tal se ela foi planejada e executada por liberdade do autor. Eis o que diz o filósofo
sobre os tipos de iniciativa:
Ora, todos fazem tudo, umas vezes não por iniciativa própria, outra vezes por
iniciativa própria. Das coisas não feitas por iniciativa própria, umas se fazem
ao acaso, outras por necessidade; e das que se fazem por necessidade,
umas são por coação, outras por natureza. De sorte que todas as coisas que
não se fazem por iniciativa própria são resultado do acaso, da natureza ou da
coação. Mas as que se fazem por iniciativa própria e de que os próprios
autores, umas se fazem por hábito, outras por desejo, umas vezes pelo
desejo racional, outras vezes pelo irracional. A vontade é um desejo racional
do bem, pois ninguém quer algo senão quando crê que é bom; mas a ira e a
concupiscência são desejos irracionais. De maneira que tudo quanto se faz,
necessariamente se faz por sete causas: acaso, natureza, coação, hábito,
razão, ira e concupiscência (ARISTÓTELES, Ret., 1368b, 2012, p. 53).
Em outras palavras o que Aristóteles quer nos mostrar é que as coisas que são
necessárias, não são interferidas pelas nossas escolhas, mas pelo acaso; e por outro
lado a iniciativa própria desenvolve a ideia da vontade, isto é, algo que é prazeroso
para o indivíduo.
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Aqueles que agem por iniciativa própria tendem a tomar decisões por dois
motivos: as escolhas feitas pela racionalidade ou pelos sentidos do sujeito. Aristóteles
comenta: “de modo semelhante, os justos e os injustos, e todos quantos se diz que
agem de acordo com sua maneira de ser agirão por estes motivos: ou por razão ou
por paixão; uns, porém, por caracteres e paixões honestas, e outros, pelos seus
contrários” (ARISTÓTELES, Ret., 1369a, 2012, p. 54).
A injustiça é praticada por aqueles que se deixam levar pelas paixões,
entendendo paixão como emoção. A sensação é a razão que faz com que alguém
cometa atos injustos, ou seja, ela é o fundamento, pois como já foi observado ninguém
comete algo sem um motivo plausível, e sabendo que todos gostam do que é bom,
perceber-se-á que ninguém gosta de sofrer danos, já que o mal é doloroso e penoso.
Quanto àquele que decide agir com a razão, observar-se-á que em muitas ocasiões
ele gostaria de fazer uma coisa, mas por causa da consequência que poderá vir a
acontecer muda de postura para que possa permanecer com suas ações leais e
justas; por exemplo: alguém quer se vingar de outra pessoa porque esta roubou algum
objeto de sua casa, mas não comete a injustiça porque sabe que sofrerá um castigo
dependendo de como o possa cometer, como matar, a pessoa que quer se vingar
sabe que se realizar tal ação poderá até ser preso.
Apresentadas as diferenças que levam alguém a ter iniciativa própria (razão ou
paixão), apontar-se-á a matéria da oratória judicial, o prazer.
O prazer está estritamente ligado com o hábito, este é próximo da natureza por
que acontece várias vezes de forma que a harmonia da repetição se torne agradável.
O que nos causa prazer pode ficar armazenado em nossa memória, fazendo com que
o sentimento do prazer possa ser relembrado de alguma forma a algo que aconteceu
no passado, porém fica em nosso consciente; mas também há sensação de
esperança, nele esperamos que o prazer possa vir a ocorrer no futuro, para que se
desfrute do mesmo.
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Outro ponto que o Estagirita comenta sobre o gênero judicial é: quais são as
características dos que escolhem cometer atos injustos? A primeira coisa é descobrir
quais são os motivos que levam as pessoas a cometerem algo ruim.
Percebe-se que existe uma prepotência da pessoa que age por maldade, pois
é natural que homens tendem a estar corretos o tempo todo e muitas vezes a honra é
um prazer a ser alcançado por estes. Porém o orador deste gênero deve saber as
pessoas que podem cometer algo injusto, pois não basta saber as causas, já que a
causa foi causada por alguém, que por sua vez teve a liberdade de cometer algo
injusto. As características que podem cometer algo contrário à justiça são:
Os que podem cometer a injustiça, não a praticam para nada, mas para outras
pessoas, para que estas possam ser atingidas com um golpe repentino sem chances
de reação para defender-se. Estes que cometem injustiça a cometem principalmente
contra aqueles que não são capazes de responderem suas acusações, pois são
menos conhecedores da situação, sendo assim mais fracos do que aqueles que os
atacam, os mais fracos são os que não estão à altura de transformar as objeções
levantadas dos que o atacam a seu favor. Mas os que são atacados somente são um
determinado grupo, pois Aristóteles define que a injustiça pode ser alvo de uma
pessoa em particular, mas também a comunidade. Sabendo que a comunidade e o
indivíduo são dois pontos que podem ser atacados por atos ruins, visto que suas
características podem desencadear ataques à sua dignidade, é necessário definir o
que é algo injusto, para saber quais são os critérios de justiça que devem aplicados a
cada caso. Eis a definição que o filósofo dá sobre o que é sofrer injustiça:
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Sofrer injustiça é ser vítima de um tratamento injusto por parte de uma agente
voluntário; pois cometer injustiça definiu-se antes como um ato voluntario. E
porque quem sofre injustiça sofre necessariamente um dano, e um dano
contra a sua vontade [...] (ARISTÓTELES, Ret., 1373b, 2012, p. 68).
Perceber-se-á que a injustiça envolve prejudicar alguém, seja qual for o sentido
em que a situação está posta, percebe-se que algo deve ser feito para que as pessoas
injustiçadas sejam reparadas do dano que sofrerá, e o melhor medicamento contra o
mal da injustiça é a justiça, pois só esta pode reparar ou diminuir os danos que a
pessoa injustiçada pode receber.
A justiça deve ser totalmente imparcial para com as pessoas presentes em uma
situação de júri, pois a amizade entre quem defende ou acusa alguém pode
diretamente influenciar na solução que deve ser apresentada. A lei é umas das cinco
técnicas que serve de prova para defender alguém, porém não somente ela é possível
como prova, mais também os testemunhos, contratos, confissões sob tortura e por
último o juramento.
As leis devem ser claras, afim de que a justiça seja feita sem objeções de quem
acusa ou defende, sendo que as leis são de duas espécies: a primeira trata das
virtudes e a segunda trata das censuras. Se há essas duas categorias de leis que
tratam do que é possível e honrosa, há também as que censuram algo ruim, deve-se
levar em conta que não somente as leis escritas são capazes de resolver as situações
do quotidiano, então devem existir as leis que são definidas em comum acordo, isto
é, leis que são introduzidas na comunidade normalmente de forma oral, a fim de que,
a harmonia permaneça no ambiente comunitário, mas deve-se destacar que “ninguém
escolhe o bom em absoluto, mas o que é bom para si” (ARISTÓTELES, Ret., 1375b,
2012, p. 74), visto que ninguém quer ser prejudicado ou denominado como injusto.
Os testemunhos são divididos em dois grupos que são: testemunhas antigas,
que se referem aos antigos poetas e a todos aqueles homens ilustres cujos juízos são
bem conhecidos” (ARISTÓTELES, Ret., 1375b, 2012, p. 74); e o segundo grupo que
que Aristóteles denomina como testemunhas recentes. As testemunhas recentes são
“todas aquelas pessoas ilustres que emitiram algum juízo” (ARISTÓTELES, Ret.,
1376a, 2012, p. 75), juízo entendido como uma sentença que possui significado, isto
é, que está organizada de maneira lógica, além disso, as testemunhas recentes
servem para provar se algum acontecimento realmente aconteceu.
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essenciais, já que, tirando um dos três, toda a lógica da retórica se desmorona, pois
não tenho como cumprir a finalidade, a verdade. Dentre os três elementos do sistema
retórico, o mais importante é o orador, pois depende da finalidade deste para que a
verdade possa ser conhecida ou simplesmente difamada como forma de mentira,
logo, este deve estar preparado para discursar, seja qual for o gênero da retórica.
Vista a importância do orador, é necessário analisar de perto como este tem
êxito ou não em suas preleções, para entender qual o efeito que o mesmo pode atribuir
a todos aqueles que o ouvem, isto é, os receptores. O estagirita estabelece três tipos
de discurso que o orador utiliza para defender seus assuntos de interesse, que são:
ethos, páthos e logos. Analisar-se-á cada um deles e quais são os efeitos que
produzem em seus ouvintes.
2.1 Ethos
Percebe-se que não existe um limite onde o sofista não possa estar, já que
pode convencer qualquer um (seja da elite ou não), desde que passe confiança em sua
doutrina, por isso devem ter sua importância também dentro da história da filosofia, mas
também como pais da retórica.
Aristóteles observa que o orador deve possuir algumas características
especificas para que possa ser digno de confiança, “três são as causas que tornam
persuasivos os oradores, e a sua importância é tal que por elas nos persuadimos, sem
necessidade de demonstrações; são elas a prudência, a virtude e a benevolência”
(ARISTÓTELES, Ret., 1378a, 2012, p. 84). Se o orador possuir estas três
características é provável que conseguirá os seus objetivos diante do seu auditório,
porém, se este faltarem-lhe alguma destas propriedades, o seu objetivo, com certeza,
não será alcançado, já que o seu discurso será vazio e sem conexões. Giovanni Reale
comenta o porquê estas características são importantes:
O primeiro caráter que o filósofo comenta é sobre o ethos dos jovens, estes
possuem muitas características, dado que são bem agitados e tendem a seguir seus
impulsos, são também irritadiços, gostam de chamar atenção, possuem desejos que
relacionam com o futuro, porque ainda são jovens e possuem uma expectativa de vida
longa (ARISTÓTELES, Ret., 1389a, 2012).
Logo, desencadeia-se uma série de fatores que fazem o jovem seguir os seus
impulsos, visando sempre algo que está para vir, porém este algo que está para vir,
deve já começar a realizar no presente, por isso, “tudo fazem em excesso [...]”
(ARISTÓTELES, Ret., 1389b, 2012, p. 123), e quem faz tudo em excesso também
tende a ter mais coragem e confiança em suas ações, já que, são impetuosos.
Conclui-se que os jovens possuem um caráter que visam o futuro e possuem
uma personalidade difícil, por isso são iludidos facilmente e seguem seus impulsos
intensivamente, abandonando assim o uso racional para tomar atitudes.
Visto que os idosos possuem pouco tempo de vida, observar-se-á que eles
tendem a ter uma vida mais modesta e ter saudades de tudo o que já possuíram no
passado, por isso escolhem ser mais calculistas do que buscar a virtude, pois esta
depende do caráter e aquela do que venha a ser mais conveniente em cada situação
(ARISTÓTELES, Ret., 1390a, 2012, p. 125).
Portanto, a vida dos idosos é mais reflexiva do que os jovens, pois cada ação
daqueles pode desencadear ainda mais pessimismo, já que tende a olhar a vida como
algo ruim, pois foram enganados muitas vezes e aquilo que mais desejam não podem
alcançar.
Este terceiro caráter representa o que estão no auge da vida, isto é, os adultos.
Aristóteles define que este caráter é o intermediário entre os dois anteriores (ethos
dos jovens e dos idosos), pois o adulto possui aquilo que é de qualidade tanto do
jovem como também dos idosos, mantendo-se assim a justa medida.
Os poderosos são mais relevantes do que os ricos, dado que, estes não ligam
para o próximo, já aqueles, sim. O poderoso tende a ser uma pessoa mais justa e
virtuosa, devido ao seu próprio respeito que carrega consigo, e se vier por acaso a
cometer injustiça, deve ser punido de maneira rigorosa, pois tem a responsabilidade
de passar exemplo em suas atitudes no dia-a-dia.
Verificados os seis tipos de ethos que Aristóteles expõe em seu tratado
Retórica, observar-se-á que as mesmas características que orador pode apresentar
ao seu ouvinte, o mesmo pode encontrar em seus interlocutores, e isso é de grande
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valia, pois se o orador sabe a sua própria característica e também do seu auditório,
ficará mais fácil conquistar a confiança e, consequentemente, a persuasão. O ethos
pode ser entendido através da afirmação de Miriam Mendonça:
Portanto, o ethos, é um dos pilares para a arte retórica, pois sem ele, o orador
não ganhará credibilidade de seus ouvintes, como também não seria possível a
existência do discurso retórico.
2.2 Páthos
O páthos pode ser um grande aliado para o orador, mas também pode
despertar nos ouvintes coisas não tão boas, como a ira, indignação ou até mesmo
inveja; estes sentimentos observaremos mais adiante de acordo com o filósofo.
Pelo fato do páthos mexer com os sentimentos das pessoas, alguns filósofos
veem a retórica como algo negativo e, Platão, é um desses pensadores, em seu diálogo
Górgias defende que a retórica é uma bajulação, pois além de ensinar coisas
aparentes, cria crenças nos ouvintes.
“irracional”, isto é, o mesmo não escolhe suas ações de maneira lógica, mas através
dos sentimentos que sente quando ouve o discurso pelo qual está sendo persuadido,
logo, para Platão “não há uma técnica da persuasão, porque a capacidade de persuadir
cabe só a ciência”, (FRANCO, 2003, p. 127), dado “que o nexo entre retórica e filosofia
não só corresponde ao objetivo de substituir a persuasão aparente pelo ensinamento
fundado na ciência, mas comporta também um enfraquecimento da ciência filosófica”
(FRANCO, 2003, p. 128); Aristóteles não vai concordar totalmente com o seu mestre,
já que a retórica tem a sua área que usa a razão como grande instrumento para garantir
a persuasão no discurso, como também a ciência.
Observado o que é o páthos e quais são as consequências que traz ao
interlocutor, demonstrar-se-á os tipos de sentimentos que Aristóteles apresenta no livro
II de sua obra.
2.2.1 Ira
O primeiro sentimento que o filósofo observa sobre o páthos é sobre a ira, esta
pode ser definida como “um desejo acompanhado de dor que nos incita a exercer
vingança explícita devido a algum desprezo manifestado contra nós, ou contra
pessoas da nossa convivência, sem haver razão para isso” (ARISTÓTELES, Ret.,
1378a, 2012, p. 84).
A ira incita na pessoa um desejo de vingança, pois a pessoa que possui este
sentimento, só o possui por causa que sofreu algum dano de outrem, é por isso que
o indivíduo deseja se desforrar do dano que foi cometido contra ele. Além do mais,
Aristóteles evidencia que a Ira traz também o desdém, que é uma opinião subjetiva e
que não parece digna de confiança. Segundo o filósofo:
2.2.2 Calma
Admitamos que amar é querer para alguém aquilo que pensamos ser uma
coisa boa, por causa desse alguém e não por causa de nós. Pôr isto em
prática implica uma determinada capacidade da nossa parte. É amigo aquele
que ama e é reciprocamente amado. Consideram-se amigos os que pensam
estar mutuamente nestas condições. (ARISTÓTELES, Ret., 1380b, 2012, p.
95).
podem interferir nos juízos das pessoas e, consequentemente, também nas escolhas
cotidianas.
Portanto, é observável que a amizade e a inimizade podem ser um dos motivos
para persuadir uma pessoa, ainda mais se o orador for amigo dos que o ouvem,
fazendo com que seu auditório acolha o seu discurso mais facilmente e sem duvidar
das razões que são apresentadas a ele.
Vamos admitir que a vergonha pode ser definida como um certo pesar ou
perturbação de espírito relativamente a vícios, presentes, passados ou
futuros, suscetíveis de comportar uma perda de reputação. A desvergonha
consiste num certo desprezo ou insensibilidade perante estes vícios.
(ARISTÓTELES, Ret., 1383a, 2012, p. 104).
2.2.6 Amabilidade
2.2.7 Piedade
A piedade é uma das tantas emoções que pertence ao páthos nos modos de
discurso, esta emoção é definida por Aristóteles como:
Vamos admitir que a piedade consista numa certa perna causada pela
aparição de um mal destruidor e aflitivo, afetando quem não merece ser
afetado, podendo também fazer sofrer a nós, ou a algum dos nossos,
principalmente quando esse mal nos ameaça de perto. (ARISTÓTELES, Ret.,
1385b, 2012, p. 111).
A piedade só pode ser sentida por aqueles que possuem sentimentos para com
o próximo, seja familiar ou não, dado que, a piedade que uma pessoa sente é devida
ao fato que de que a mesma entende que pode sofrer a mesma injustiça que outra
pessoa sofreu, ou até pior; por isso, Aristóteles adverte novamente, “em geral, há que
admitir aqui que as coisas que receamos para nós são as mesmas que geram piedade
quando acontecem aos outros” (ARISTÓTELES, Ret., 1386a, 2012, p. 133). Com a
afirmação anterior, o pensador de Estagira deixa ainda mais claro que sentir piedade
exige compaixão dos que tem este sentimento de piedade.
Os que já sofreram muito tendem a ter piedade, e os que estão felizes tendem
a não ter piedade, pois no caso dos primeiros a sua vida é enxergada com
pessimismos e sem esperança de mudança de vida, já para o segundo, acham que
jamais chegará qualquer mal que possa destruir seus momentos felizes, deixando-o
ainda mais orgulhosos.
Portanto, a piedade, é um sentimento que afeta somente aqueles que
conseguem enxergar o outro como exemplo de vida, pois o que o outro sofre, um dia
também a pessoa que observa também poderá passar, e se isto se concretiza a
pessoa sofrerá males que jamais queria possuir.
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2.2.8 Indignação
“À pena que sente por males imerecidos contrapõe-se de algum modo, embora
provenha do mesmo caráter, a pena experimentada por êxitos imerecidos”
(ARISTÓTELES, Ret., 1386b, 2012, p. 114), esta é a definição que o autor do livro
Retórica estabelece para mais um tipo de emoção do páthos, a indignação.
Esta emoção é causada quando o indivíduo observa que outros indivíduos
estão “se dando bem” em algo que não deveriam, o que nos faz recordar um pouco
da inveja, mas Aristóteles estabelece que a principal diferenciação entre essas
emoções são, de que a inveja é causada quando percebemos o êxito de alguém
independentemente se esse alguém merece ou não, já a indignação, como foi
analisado na definição aristotélica da mesma, está preocupada se alguém recebe algo
indevido, isto é, se recebe algo injusto, no sentido de que um indivíduo faz uma ação,
no qual deveria ser penalizado, mas que no fim ganhou honrarias.
2.2.9 Inveja
2.2.10 Emulação
Percebe-se então que a emulação só virar sobre a pessoa, se esta está sendo
conduzida pelos sentimentos, achando que é digna de receber tais bens, mas que
também outras pessoas da mesma natureza podem adquirir, por isso, causa um mal-
estar, como diz o estagirita na citação acima.
Percorridas as emoções que condizem ao páthos, perceber-se-á que este
modo de discurso pode ser instrumento também para os outros modos de discurso, o
ethos e o logos, dado que, é através de alguém ou de algo que as emoções surgem
e são instaladas nos indivíduos, e visto que as emoções são grandes aliadas para os
oradores nos discursos retóricos, os mesmos devem possuir atenção sobre o páthos,
já que é um modo de persuasão.
2.3 Logos
segundo Olivier Reboul é um jogo, e num jogo o importante é ganhar, porém o jogo
também possui regras na retórica, as regras são a lógica, pois ela organiza os modos
e quais são os meios de persuasão mais apropriado para cada caso. Luiz Rohden
comenta:
3.1 Premissa
Percebe-se que para a premissa ser formada existe uma dependência entre o
sujeito e o predicado, mas essa dependência só será possível se entre os mesmos
existir uma afirmação ou negação entre o sujeito e o predicado, ou seja, se o sujeito da
premissa condiz com o predicado ou não, “resulta, assim, que uma premissa silogística
em geral consiste ou na afirmação ou na negação de algum predicado acerca de algum
sujeito, tal como acabamos de expor” (ARISTÓTELES, An. Ant., 24a, 1986, p. 10).
Outro aspecto que é necessário saber sobre as premissas é que além de serem
afirmadas ou negadas, as premissas podem ser quantificadas, como bem afirma
Aristóteles no seu conceito de premissa (An. Ant., 24a, p. 9).
A premissa quando é afirmada ou negada deve ser quantificada em um dos
três modos, que são: universal, particular e indefinido.
sentenças começam com o prefixo “TODO” com o acréscimo do termo afirmativo “é”;
exemplo: Todo cachorro é animal.
Já as universais negativas começam com o termo “NENHUM” com o acréscimo
do termo de negação, “não-é”; exemplo: Nenhum gato não é humano. Perceber-se-á
que “o nome de universal negativa é apropriado, porque a proposição nega que haja
uma relação de inclusão entre as duas classes [...]” (COPI, 1981, p. 141), ou seja, o
sujeito não está contido no predicado na premissa universal negativa, visto que o termo
que os liga é uma negação.
Outro modo de conceber as premissas é considerá-las como casos
particulares. Deduz-se que uma premissa é particular quando o predicado dado a um
sujeito só se encaixa em determinado grupo, graças as características dadas ao sujeito,
isto é, o predicado não pode ser não englobado ao todo, mas somente a uma parte.
considerados como ocultos e são estes que podem fazer parte das premissas
indeterminadas, logo deve-se levar em consideração que as particulares tanto
afirmativa quanto negativa podem ser confundidas, já que usam o mesmo termo. Já as
particulares determinadas é quando o sujeito não fica oculto, o sujeito é nominado; por
exemplo: Robson é policial.
Apresentada a quantidade de premissas que existem na lógica aristotélica que
são três (universal, particular, indefinida) e também quais são as suas qualidades que
são duas (afirmativa ou negativa), Aristóteles apresenta como as premissas se
ordenam quando estas são divergentes:
1 Figura 1
Fonte: SBG dicionário de filosofia (2022)
Diz-se que duas proposições são contrárias, quando não podem ser ambas
verdadeiras, embora possam ser ambas falsas. A descrição tradicional ou
aristotélica de proposições categóricas sustenta que as proposições
universais que têm os mesmos termos sujeito e predicado, mas diferem em
qualidade, são contrárias. (COPI, 1981, p. 146).
como também porque os predicados das premissas se aplicam a alguns sujeitos e não
a todos. Presume-se que estas premissas “podem ser ambas verdadeiras, mas não
podem ser ambas falsas” (COPI, 1981, p. 147).
O terceiro modo de oposição entre as premissas do quadro de oposições
designa-se como subalternas. As premissas subalternas são (A) e (E) com relação
respectivamente às (I) e (O).
3.2 Silogismo
Ora, como as provas por persuasão se obtêm por estes três meios, é evidente
que delas se pode servir quem for capaz de formar silogismos, e puder
teorizar sobre os caracteres, sobre as virtudes e, em terceiro, sobre as
paixões. (ARISTÓTELES, Ret., 1356a, 2012, p. 14).
[...] três termos estão em relação de forma a que o menor está contido
totalmente no termo médio, e o termo médio contido, ou não contido
totalmente no termo maior, então há necessariamente um silogismo perfeito
entre os extremos. (ARISTÓTELES, An. Ant., 25b, 1986, p. 17).
como na primeira figura repete-se (EIO), que deriva da palavra festino e, a última
(AOO). Um exemplo de segunda figura:
• (A) Todo alfabetizado é ser humano. – (tm) humano
• (E) Nenhum cachorro é ser humano. (tm) humano
• (E) Nenhum cachorro é alfabetizado. – Conclusão
A terceira e última figura apresentada por Aristóteles é formulada da seguinte
forma: “Quando um termo se predica e outro não se predica universalmente de um
sujeito, ou se ambos se predicam, ou se nenhum se predica do mesmo sujeito
universalmente, temos uma figura que denomino de terceira figura” (ARISTÓTELES,
An. Ant., 28a, 1981, p. 28).
Na terceira figura, o (tm) apresenta-se como sujeito tanto na primeira premissa
quanto na segunda premissa. A sigla para a terceira figura de acordo Joelson
Nascimento (2014, p. 22) são: (AAI), (EAO), (IAI), (AII), (OAO) e como nas duas
figuras anteriores (EIO), pois deriva da palavra ferison. Um exemplo de silogismo para
terceira figura:
• (A) Toda mulher sabe cozinhar. – (tm) mulher
• (I) Alguma mulher é mãe. – (tm) mulher
• (I) Alguma mãe sabe cozinhar – conclusão
Essas são as três figuras que Aristóteles estabelece nos Analíticos Anteriores,
e a conclusão que chegar-se-á sobre o silogismo é que as pessoas tendem a acreditar
em assuntos fundamentados, isto é, sistematizados, visto que, quando se demonstra
a veracidade de algo “nenhum homem prudente postularia algo que não é admitido
por ninguém, nem poria em dúvida o que é evidente a todas ou à maioria das pessoas”
(ARISTÓTELES, Tóp., 104a, 1986, p. 25).
Analisado como são formadas as premissas, o silogismo e sua validade, além
das figuras do mesmo, poder-se-á analisar depois deste percurso quais são os tipos
de argumento que são utilizados no silogismo.
3.4.1 Dedução
uma locução em que, dadas certas proposições, algo distinto delas resulta
necessariamente, pela simples presença das proposições dadas. Por simples
presença das proposições dadas entendo que é mediante elas que o efeito
se obtém; por sua vez, a expressão é mediante elas que o efeito se obtém
significa que não se carece de qualquer outro termo a elas estranho, para
obter esse necessário efeito. (ARISTÓTELES, An. Ant., 24b, 1986, p. 11).
3.4.2 Indução
uma conclusão que é necessária, não em sentido universal, mas uma conclusão que é
imposta de acordo com as premissas, dado que as mesmas são fundadas por analogia,
e esta “constitui o fundamento da maior parte dos nossos raciocínios comuns, na qual,
a partir de experiências passadas, procuramos discernir o que nos reservará o futuro”
(COPI, 1981, p. 314).
Vista a definição de indução, abaixo segue um exemplo de argumento indutivo:
• Os gatos morrem.
• As jaguatiricas morrem.
• Os pumas morrem.
• Gatos, jaguatiricas e pumas são felinos, logo, todos os felinos morrem.
Uma observação que se deve levar em consideração sobre o método indutivo,
é que os mesmos “não podem ser classificados como válidos ou inválidos. Tudo o que
se pretende deles é que tenham alguma probabilidade” (COPI, 1981, p. 314).
Portanto, este método trabalha com conclusões plausíveis, e não com
conclusões necessárias, uma vez que se uma nova premissa é admitida no silogismo
e a mesma é verídica, pode ser que ela contradiga as outras premissas até então
expostas no silogismo, daí se conclui que ela não pode ser considerada válida ou não,
porém Aristóteles enfatiza sobre este método:
3.5 Entimema
Outro aspecto que dever-se-á saber sobre o entimema é que sua conclusão
não necessariamente deva ser algo necessário, mas que na grande maioria dos casos
é apenas habitual ou “apenas frequente” (ARISTÓTELES, Ret., 1357a, 2012, p. 17), o
que torna a conclusão como algo provável, visto que, a mesma “antes versa sobre
coisas que podem ser de outra maneira” (ARISTÓTELES, Ret., 1357a, 2012, p. 18).
O entimema coincide perfeitamente com aquilo pelo qual a retórica existe e que
é sua função, que é buscar os meios apropriados para persuadir, pois a persuasão
deve ocorrer para mostrar a verdade em cada gênero além de mostrar pela qual se está
impondo o discurso, visto que:
Portanto, a lógica é uma grande ferramenta para mostrar a verdade, já que ela
aponta para aquilo que é plausível, e em consequência, o plausível talvez seja verdade,
até que se demonstre o contrário, visto que, as conclusões de um silogismo em forma
de discurso retórico pelas quais são plausíveis, as mesmas são dignas de confiança,
pois existiu um método pela qual as premissas foram inseridas de forma válida, e já
que o são, a conclusão também será. E como a verdade é mais forte do que a mentira,
a retórica é digna de confiança, pois a imoralidade ética, que pode ocorrer no discurso
não é própria dela, mas, sim, do orador; por exemplo, no tribunal de justiça, onde o
orador pode falsificar premissas verdadeiras do seu oponente, só para ganhar a
condenação ou absolvição de alguém.
60
CONCLUSÃO
do discurso, ela não abarca somente a sua área; mais do que isso, a mesma abrange
conhecimento das diversas áreas do conhecimento além de analisar os modos
adequados a fim de persuadir, e é por causa destas característica que a retórica é
considerada arte, visto que ela deve apresentar fundamentos concretos que podem
ser passados para outras pessoas, pois se não tivesse um mínimo de estruturação, o
conhecimento desta arte não poderia ser passado adiante, pois não teria regras,
normas e princípios organizados.
63
REFERÊNCIAS
COPI, Irving Marmer. Introdução à Logica. Tradução: Álvaro Cabral. 2ª ed. São
Paulo: Mestre Jou, 1981.
JAEGER, Werner. Paidéia. Tradução: Artur. M. Pereira. 4ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
JESUS, João Eudes Rocha de. Retórica e fake news: Uma análise da mentira
como meio de persuasão. In Quaestio Iuris 4 (2021), Rio de Janeiro, p. 1001-1038.
Disponível em: <https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/62789/40189>. Acesso em:
25/05/2022 às 14:30.
64
______. Platão. Tradução: ______. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
(Coleção História da Filosofia Grega e Romana – vol. III).