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A RELEVÂNCIA DE UM DEUS CRIADOR

Por Jânsen Leiros Jr.

Que importância pode haver em se saber se foi mesmo Deus que criou o
universo, ou se esse mesmo universo não passa de obra do acaso, de uma geração
espontânea de matéria, ou de processo evolutivo autônomo? Talvez para o pragmatismo
do mundo moderno, saber “o que”, “quando”, “como”, “quem” e “por que” o universo
surgiu, não tenha mesmo a menor relevância, uma vez que se trata de um assunto que na
concepção científica, pode ter ocorrido há milhões ou até mesmo bilhões de anos. Um
acontecimento tão cronologicamente remoto não pode, numa primeira análise, ter
importância alguma para os dias de hoje.

A sociedade moderna anda em busca do novo, do surpreendente, ou do que é


ousado. E a menos que o assunto criação venha ao noticiário temperado com revelações
surpreendentes, não haverá por ele qualquer interesse. E o que há de novo, diferente ou
ousado na clássica discussão sobre a criação do universo? Mesmo nós cristãos, quando
falamos da criação, somos infantis, tratando o tema como verdade absoluta e
inquestionável (quase intocável), simplesmente porque está na Bíblia, sem qualquer outra
forma de argumentação ou crença sustentável. Não que o fato de estar na Bíblia não seja
relevante. Muito pelo contrário. Mas creio que a narrativa bíblica da criação seja ainda
mais rica do que normalmente utilizamos na defesa de nossa crença. É como se alguém
fosse ao teatro e após ter lido a sinopse, se retirasse sem ver a peça, sem ver o que havia
por detrás das cortinas.

Mas se por um lado a sociedade moderna passa de largo pela questão da


criação, de outro, perguntas como “quem somos”, “de onde viemos”, e “para onde
vamos”, continuam a freqüentar a mente humana, incomodando-a, e a deixando
continuamente instável, pois se é verdade que não se deve viver o presente lamentando a
culpa pelo passado, ou ansiando pelo futuro, também é verdade que a vida no presente
perde a referência, se eu desconheço o meu passado, ou sofro a insegurança de
desconhecer meu futuro.

O que acontece na verdade, é que a sociedade moderna vive uma grave crise
de convicção. Por seu caráter dinâmico, instável e evolutivo, quase que diariamente,
pressupostos científicos considerados inquestionáveis são derrubados por novos
pressupostos, baseados em novas descobertas promovidas pelo avanço tecnológico.
Métodos produtivos e comerciais consagrados tornam-se obsoletos numa velocidade tão
grande, que muitas das vezes nem mesmo chegam a ser compreendidos em todas as suas
possibilidades, e já são postos de lado pela geração seguinte de profissionais. O prazo de
validade dos conceitos e ideologias está tão curto, que muitas das vezes não conseguem
sequer chegar às prateleiras, para consumo daqueles que anseiam por acreditar em
alguma coisa que lhes faça algum sentido. Na sociedade moderna, aquilo que é verdade
hoje, pode amanhecer amanhã como uma desprezível visão míope daqueles que a
defendiam.
Nessa realidade conjuntural, ninguém quer se comprometer com idéia alguma,
ou defender conceito algum que possa lhe caracterizar como alguém ultrapassado. E o
que pode ser mais ultrapassado na sociedade moderna do que a fé num Deus Criador? Não
que a crença na existência de Deus ou numa força superior seja considerada antiquada.
Não. Na verdade, está cada vez mais em moda especular sobre Deus, confessar-se uma
pessoa de fé, declarar-se interessado nas questões espirituais, metafísicas ou extra-
sensoriais. Nunca a mídia abriu tanto espaço para a religiosidade. Em nenhum outro
momento da sociedade moderna se falou tanto em sobrenatural como agora. Religiões
orientais avançam poderosamente, conquistando devotos das mais variadas posições
sociais e condições econômicas. O cristianismo reascendeu com o movimento carismático
e a popularidade do neo-pentecostalismo. Além disso, os espiritualistas se propagam
rapidamente entre os tendenciosamente gnósticos. Isso sem falarmos dos chamados
esotéricos de última hora, que na falta de compromisso com uma só filosofia, crêem em
quase tudo ao mesmo tempo, misturando doutrinas e superstições.

Ora, se o “sagrado”, o “espiritual” e o “metafísico” estão na moda, por que um


DEUS CRIADOR é uma idéia considerada antiquada? Simplesmente porque a criação Divina
foi, ao longo do tempo, banalizada pelo uso de interpretações que, em vez de tentar
levar às pessoas a compreensão do “porque” e do “para quê” o universo foi criado,
tentavam explicar aquilo para o qual a própria Bíblia não se apresenta como fonte: o
“quando” e o “como” se deu a criação. Diante de uma postulação muitas das vezes
impúbere e desprezível à luz da sociedade moderna, a humanidade correu para tentar
explicar o universo através daquilo que pudesse parecer mais aceitável. Nessa busca pelo
racionalmente provável e crível, descartou-se por completo a idéia de que Deus criou o
universo, e se avançou a favor das teorias evolucionistas, e filosofias cosmosóficas, onde
até se pode admitir a existência de Deus, mas não sua participação direta na criação. A
partir daí, passamos a conhecer algumas teorias absurdamente contraditórias. Ainda que
o método científico prime por postular sobre aquilo que possa ser comprovado, trabalham
com hipóteses tão remotas e conjecturas tão criativas, que às vezes é preciso mais fé
para crer naquilo que defendem, do que na Criação Divina.

Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas,
conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo
Cristo.
Colossenses 2:8; RA

Diga a essa gente que deixe de lado as lendas e as longas listas de nomes de
antepassados, pois essas coisas só produzem discussões. Elas não têm nada a ver com o
plano de Deus, que é conhecido somente por meio da fé. Essa ordem está sendo dada a
fim de que amemos uns aos outros com um amor que vem de um coração puro, de uma
consciência limpa e de uma fé verdadeira. Alguns abandonaram essas coisas e se
perderam em discussões inúteis. Eles querem ser mestres da Lei de Deus, mas não
entendem nem o que eles mesmos dizem, nem aquilo que falam com tanta certeza.
1 Timóteo 1:4-7; NTLH
Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação,
confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas
obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens. Evita discussões insensatas,
genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis.
Tito 3:8-9; RA

Há que se destacar ainda, que a teologia praticada com displicência também


tem sua parcela de culpa, contribuindo, ainda que indiretamente, no afastamento do
Homem da noção do DEUS CRIADOR. Não por defender o princípio incondicional de que Deus
criou o universo, o que continuam defendendo heroicamente, mas pela aventura a que
alguns teólogos se lançaram, ao debaterem nuances secundárias, que desviam o
pensamento piedoso daquilo que na verdade importa na questão da origem do universo e
da vida no planeta. Ora, que importância teológica há, em se saber se o período da
criação corresponde a uma semana do nosso calendário, ou se o autor de Gênesis está
fazendo alusão a um período de centenas, milhares ou milhões de anos? Que diferença faz
crer na Teoria do Intervalo, ou acreditar que a criação foi um ato progressivo e
cronológico? É sobre temas como esses que Paulo fala nos textos acima. Para ele,
questões como estas são vãs e sem proveito para o espírito do homem. Não me
surpreende, portanto, que a sociedade atual tenha se distanciado do DEUS CRIADOR.
Fracassamos em apresentá-Lo ao homem moderno, quando não destacamos aquilo que
realmente pode lhe servir de conforto, na sua busca frenética pela verdade que o liberte
de seus questionamentos e dúvidas inconfessáveis.

Há um fator muito importante que nos deve orientar na apresentação do DEUS


CRIADOR. Não é o pretenso conhecimento da verdade dos fatos que nos aproxima d’Ele,
mas sim, o que Ele nos revela de seu Ser na narrativa da criação. Isso sim pode influenciar
diretamente o relacionamento da criatura com seu Criador. Não é o saber teológico ou
uma presunçosa erudição que opera o fortalecimento espiritual, mas o que o próprio Deus
revela de Si mesmo através das Escrituras, e da interação que cada indivíduo estabelece
com Ele. Assim, reconhecer que NO PRINCÍPIO CRIOU DEUS OS CÉUS E A TERRA , é mais do que
tomar conhecimento da autoria de uma obra. Através dela e de tudo que a envolveu e a
circunstanciou, podemos conhecer a Pessoa que a realizou. Isso mesmo; a Pessoa do
Criador é o objetivo final da narrativa da criação.

Aí está a grande diferença entre o movimento espiritualizante presente na


sociedade, e a narrativa sempre atual da Criação. No primeiro, temos a crença num deus
energia, cósmico, abstrato, ou ainda em um deus observador, distante e ausente,
características concluídas do conjunto das idéias defendidas por esses modernos
religiosos. Em contrapartida, nos sugere a narrativa bíblica, crer num DEUS CRIADOR é crer
num Deus que pretendeu, planejou e quis criar o universo. Quis trazer você, eu, nossas
famílias, todos e todas as coisas à existência por amor. Ele se importou comigo mesmo
antes de eu existir. Nem você, nem eu, nem ninguém é obra do acaso. Deus se envolveu
na criação, cuidou de tudo nos mínimos detalhes, realizou toda a obra de forma
participativa e soberana, estabelecendo formas, métodos, princípios... Tudo o que fosse
necessário para que ao final pudesse dizer: “... muito bom!”.

Tu és digno, Senhor e Deus nosso, receber a glória, a honra e o poder, porque


todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.
Apocalipse 4:11; RA

Somos o que somos e estamos onde estamos, pela vontade realizadora de Deus.
Ele, muito embora pleno e tendo em si mesmo a satisfação de tudo o que envolve sua
existência eterna, quis criar a humanidade para, com ela, dividir a glória de existir, de
ter vida. E para isso não mediu esforços. Nem mesmo a falta de matéria para criar o
universo o impediu de realizar sua vontade de trazer à existência aquilo que concebeu.
Deus cria do nada aquilo que antes não existia. Não por pura exibição de poder, mas por
sua determinação última em criar um ser à Sua imagem e semelhança, a quem viria dar o
domínio de tudo o que criasse. O amor de Deus expresso em sua soberana vontade
criadora, não conheceu barreiras que o pudesse deter. Não é de se estranhar que este
mesmo Deus se concentre em buscar o homem, em resgatá-lo. Trazê-lo para perto, e
estabelecer com ele intenso e sincero relacionamento, comunhão estreita, Criador e
criatura, Deus e Homem... Pai e filho.

Acreditar em Deus como criador do universo é mais que um conceito teológico.


É perceber que Ele se revela na criação. Não é em vão que o apóstolo Paulo afirma que
“... o que se pode conhecer a respeito de Deus está bem claro para elas (pessoas que
dizem não crer em Deus), pois foi o próprio Deus que lhes mostrou isso. Desde que Deus
criou o mundo, as suas qualidades invisíveis, isto é, o seu poder eterno e a sua natureza
divina, têm sido vistas claramente. Os seres humanos podem ver tudo isso nas coisas que
Deus tem feito e, portanto, eles não têm desculpa nenhuma. Eles sabem quem Deus é...”
(Romanos 1:19-21; BLH).

Podemos concluir, então, que há grande relevância em se crer que DEUS É O


CRIADOR DO UNIVERSO. Essa crença determina a visão como cidadão do cosmos, amplia a
compreensão da vida em todos os seus aspectos, e influência o grau de relacionamento
com Ele. Pois quando não acreditamos no Criador, O limitamos em sua capacidade
realizadora e anulamos em essência seus atributos. Fazemo-lo espectador da história,
mero observador da vida, que se desenrola alheio a sua vontade e controle.

Não crer num DEUS CRIADOR, é destroná-lo, fazê-lo impotente. Um fantoche,


produto do imaginário coletivo, resultado da fragilidade humana. Porque se Deus não
criou o universo e tudo o que nele há a quem é que adoramos? Em quem é que cremos?
Porque se Ele não criou, também não se envolveu. E se não se envolveu também não se
interessou e nem se interessa pela humanidade, ou apenas o faz naquilo que O convém.
Logo, nos entrega à própria sorte. Ora, um Deus assim não ama. E sem amor, como
poderia se esvaziar de si mesmo para encarnar e salvar o mundo? Se Deus não é Criador,
então o cristianismo é uma grande fraude, e somos todos infelizes, loucos e alienados. Se
Deus não é Criador, em que se sustenta a nossa fé?
De certa forma, a Criação está para o Antigo Testamento no que se refere à
sustentação do poder realizador de Deus em benefício do seu povo, como a Encarnação
está para o Novo Testamento, no que diz respeito ao poder redentor de Deus e sua
vontade de salvar a humanidade. Paralelamente, tanto a criação quanto a encarnação
revelam um Deus pessoal, cheio de amor, agindo incondicionalmente e acima de toda e
qualquer dificuldade. Primeiro para criar um ser com quem dividisse a glória de sua
existência, e com Ele se relacionasse, e segundo para resgatar esse Homem e novamente
restabelecer relacionamento com Ele. Ambos os fatos, cada um em seu contexto
histórico, são os detentores fatuais da demonstração maior do interesse de Deus pela
humanidade, do seu desejo último de ter esse Homem por perto em íntima comunhão e
estreita interação.

Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair
o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser
ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar.
Isaías 40:26;RA

Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a
tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que
andam nela.
Isaías 42:5; RA

Assim diz o Senhor, que te redime, o mesmo que te formou desde o ventre
materno: Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho
espraiei a terra;
Isaías 44:24; RA

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra
nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou,
porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É
Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e
também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou
angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?
Romanos 8:31-35; RA

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois
ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes,
a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de cruz.
Filipenses 2:5-8; RA

Por esta razão, em alguns textos do Antigo Testamento, principalmente nos


capítulos 40 a 57 de Isaías, a criação é citada antes da predição do que Deus pretende
fazer a favor do seu povo. Da mesma forma os escritores do Novo Testamento sempre
sustentaram suas afirmações sobre a misericórdia e o amor de Deus, no fato de ter Ele
enviado seu filho em favor de nós. O que na verdade os autores pretendiam, era
conclamar seus ouvintes e leitores a crerem que, o que virá adiante, é obra do DEUS QUE
CRIOU E DO DEUS QUE ENCARNOU. Estão, na verdade, chamando-os à fé. Numa palavra, à luz
do que diz o autor em Hebreus 11:3, tanto crer num DEUS CRIADOR, quanto crer num DEUS
REDENTOR é uma atitude de FÉ. E FÉ, é por si só, uma atitude definitivamente relevante.

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