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medievais, caracterizou o modo de pensar filosófico da Baixa Idade Média como “Pensamento
medieval do séc. XIV pode ser entendido em dois sentidos. Primeiramente, e mais comumente,
tais termos signigicam aspectos do ser que transcendem qualquer gênero ou espécie particulares
de ente, características da existência que inerem a tudo que é, enquanto é. A lista clássica inclui:
ente, uno, verdadeiro e bom. Em segundo lugar, “transcendental” denota aquilo que é mais
derradeiro e nobre, aquilo que transcende todas as realidades finitas e dependentes, a saber, o
transcendentais comuns a todos os entes chamam nossa atenção para seu caráter criatural, na
medida em que todos eles participam em perfeições comuns do ser de uma maneira finita. Cada
um deles é uma concreção derivada e limitada de existência, tendo uma unidade, verdade e
bondade dadas. Nada do que experimentamos é a causa de sua própria existência, mas, ao
contrário, todas as coisas que conhecemos participam imediatamente no ser e derivam sua
existência de outras. Elas são, portanto, indícios de um pano de fundo ou horizonte comum de
entes, uma composição global em que cada ente desempenha um papel limitado e é sempre
apenas uma manifestação limitada daquilo de que podemos predicar a existência, a unidade, a
verdade e a bondade. Mas uma multiplicidade de realidades derivadas nos aponta para um
fundamento e causa latentes de tudo que participa na existência, da qual todas as coisas recebem
seu ser. Apontam, portanto, na direção de um exemplar desconhecido, mas transcendente, do ser:
Antes da grande cisão entre o mundo externo das leis empíricas e o mundo interno das
leis racionais, desde Descartes, Hume, e Kant, os doutores comuns do período medieval
pensadores modernos. Esses doutores admitiam “ascender” em direção a Deus pela razão natural
por um “caminho externo”, mas esse caminho externo era refletido por um “caminho interno” da
alma que descobria sua própria aptidão para Deus. Por ‘caminho externo’, refiro-me à rota
percorrida por um raciocínio metafísico, a partir da natureza e existência das realidades que
exemplar e final transcendente de todas as coisas, a qual chamamos Deus. Por ‘caminho interno’,
diferiam notavelmente entre si em seu modo de aplicar essas duas abordagens e correlacioná-las,
mas normalmente estavam de acordo em relação a um ponto mais geral, já que tentavam
mantê-las juntas como sendo duas rotas distintas, mas relacionadas, para o transcendente. É
possível até dizer, com um anacronismo proposital, que para os grandes doutores medievais, o
sujeito transcendental interior desenvolve suas próprias inclinações naturais para Deus
exatamente na medida que empreende uma subida metafísica rumo a Deus pela via do estudo
contraste com S. Tomás. Por um lado, Boaventura afirma que Deus, em seu ser, perfeição e
bondade infinitos, é a primeira coisa conhecida pelo intelecto humano, como se o olhar nebuloso,
imperfeito da mente para a natureza de Deus, por meio de uma concepção da perfeição divina,
tudo mais é conhecido na luz de Deus. Não causa espanto, então, que, ao seguir as pegadas de
Anselmo, Boaventura também abrace o argumento que parte da própria idéia de Deus como ser
perfeito em direção à conclusão de que tal ser deve existir, dado que a idéia de perfeição
necessariamente inclui a idéia da existência real. Se somos capazes de conceber aquilo que é
mais perfeito, isto só pode ocorrer porque Deus realmente existe em sua perfeição infinita e
pensamento que tenhamos seja acerca de Deus ou de suas criaturas finitas que têm seu ser,
argumentativas externas para a existência de Deus, a partir das realidades conhecidas pelos
consideração da perfeição e bondade reais, mas limitadas, das formas de ser que encontramos por
existência, ordem e bondade do mundo externo carrega o traço de seu Criador, donde podemos
derivar denominações metafísicas para Deus como bondade, transcendente e uno não-originado.
numa espiral ascendente rumo a Deus. De certo modo, isto é o contrário do que faz Tomás, que
começa partindo das coisas exteriores, para alcançar o conhecimento metafísico das realidades
criadas e, a partir daí, ascende ao conhecimento da origem e fim transcendente dessas mesmas
beatitude, como veremos. Contudo, apesar de sua orientação Agostinista Platônica, ou, até certo
ponto, por causa dela, o itinerário de Boaventura segue sendo uma forma vigorosa de
pensamento católico que apresenta as características necessárias para qualquer ponto de vista
filosófico que aspire à uma importância perene e universal, ou a ocupar um lugar comum, de
referência, na vida intelectual da Igreja Católica, num sentido mais amplo. É possível salientar
como os seres humanos podem alcançar um conhecimento natural do Deus uno, transcendente e
Segunda, isto é feito por meio da reflexão metafísica, de modo que tudo que existe e tem
compreendido à luz do mistério de Deus, e de um jeito que também todas as disciplinas podem
ser coordenadas entre si e compreendidas à luz do mistério de Deus e da ciência teológica, que é,
desenvolver, dentro da teologia cristã como tal, uma teoria acerca da vida interior da Trindade,
mediante uma consideração das processões eternas do Verbo e do Espírito, de modo que toda a
uma atividade re-criativa de Deus Trindade Santa, atraindo as mentes de todos os seres humanos
de volta a sua fonte não reconhecida, retornando o olhar da mente humana para a mais
primordial e não-originada das realidades: o Pai, que é a origem do Verbo e do Espírito, de quem
todas as coisas emanam no ser, incluindo o ser humano, feito à imagem da Trindade, pelas
Tomás, é claro, brinda-nos com uma visão diferente, e vale a pena pensar por que ele é
digno de ser considerado um doutor comum da doutrina de Deus, não apenas para as épocas
imediatamente posteriores ao século XIII, mas também para a nossa. Para este fim, consideremos
brevemente, em primeiro lugar, seu caminho externo para Deus; em seguida, seu caminho
na reveleção distintamente Trinitária do ser humano como imago Dei. Isso nos permitirá voltar à
Tomás apresenta mais do que cinco argumentos para a existência de Deus, incluindo seus
vários argumentos a partir da consideração da distinção real de essência e ser nas criaturas,
da hierarquia das perfeições, e dos apelos ao primeiro motor das operações imateriais da alma
humana. Eles estão desenvolvidos ao longo da sua obra. É, de fato, difícil enumerar quantos
argumentos para a existência de Deus podem ser encontrados na obra do Aquinate, e ainda
carecemos de uma análise acadêmica séria sobre este assunto. No entanto, é possível perguntar
quais pressupostos comuns informam aquelas de suas reflexões que passam por aquilo que tenho
que a distinção real entre essência e existência é o pano de fundo de todos os argumentos, ou,
pelo menos, das Cinco Vias da q. 2 da Ia parte da Suma Teológica. Lawrence Dewan
argumentou, de modo mais plausível, que as Cinco Vias correspondem mais ou menos às causas
aristotélicas: material, eficiente, formal, exemplar, e final, cada uma delas ampliada até o mais
entrementes, argumenta que todo esse tipo de argumentação repousa na consideração dos vários
tipos de composição de ato e potência encontrados nas criaturas, de modo a concluir a partir
destes pela consideração consciente de Deus como ato puro e causa primeira, que é a única causa
absolutamente necessária na ordem da existência. Outras teorias poderiam ser mencionadas, mas
meu objetivo aqui não é resolver essas interessantes disputas teóricas. Mais útil, em minha
opinião, é dar um passo atrás e reconhecer um aspecto mais fundamental ou mais logicamente
genérico sobre os vários argumentos de Tomás que é oportuna a nossas considerações. Para
transcendentais do ser acaba por chegar a uma consideração desse tipo, uma vez que se trata de
noções comuns aplicáveis a tudo que é, tudo que deriva de Deus, e suas perfeições à semelhança
de Deus é também de tal modo que podemos até nomear Deus a partir delas, por via de
predicação analógica. Falar de ser, unidade, verdade e bondade na ordem das coisas deste mundo
significa pensar em um ser complexo e composto que é em cada grau, de algum modo,
Aquilo para o qual isso orienta nossa atenção é algo não-derivado, que deve ter as características
medieval indicado), isto é, como referente ao mistério de Deus em si, em sua nobreza
O motivo pelo qual chamo a atenção para esta estrutura transcendental do pensamento no
Aquinate, na forma dupla indicada no início desta apresentação, é que esta forma de penetração
intelectual, tal como vista por ele, também afeta de maneira profundíssima a vida interior e as
para Deus e a semelhança entre o Aquinate e aqueles pensadores modernos que buscam delinear
Em primeiro lugar, está claro que Tomás começa o estudo da metafísica pelo estudo dos
princípios do ser, não pela consideração das condições epistêmicas do entendimento. Contudo,
ele é bastante claro em relação ao fato de que a busca da mente por compreender a estrutura
causal do campo do ser, a mente entra em contato com a verdade do ser como inteligível e com a
bondade do bem como apetecível. Quando uma pessoa busca a verdade sobre o ser, está na
verdade buscando o bem nato, por antonomásia, da mente humana, e ao buscar a posse da
Em segundo lugar, encontramos aqui, em Tomás, uma dupla motivação para a busca
dinâmica da verdade e da bondade do ser, conduzindo, mesmo por meio das criaturas, ao desejo
refletido pelo próprio Deus em si mesmo. A pessoa humana, argumenta o Aquinate, é motivada
pela busca por explicações causais das coisas, de tal modo que quando uma explicação causal
nos habilita a alcançar o conhecimento de uma causa por seus efeitos, mas não o conhecimento
da essência daquela causa, em si, nós inevitavelmente desejamos conhecer a causa em si, ver a
essência da causa. Tomás emprega essa argumentação na S.T. Ia, q. 12, a. 1 para argumentar
filosoficamente em defesa do desejo natural de ver a Deus, uma orientação da razão natural
correlata, mas não simplesmente proporcional à esperança cristã na visão beatífica da Trindade
Santa como fim último da existência humana. Noutras palavras, o desejo natural pela verdade
conduz-nos para o alto, mesmo através da nossa consideração de todas as criaturas externamente,
na direção de uma compreensão interior da verdade sobre nós mesmos como entes que
naturalmente desejam ver a Deus, e que são, de maneira inata, configurados pela busca pela
verdade de maneira tal que desejam ver, de maneira indiferenciada, a verdade primeira e
fundamental de toda verdade pertinente à realidade. Isto é exatamente o tipo de realidade que
estamos buscando, de fato, a cada vez que conhecemos ou desejamos conhecer, de modo que
assim como cada ente finito em sua veracidade inteligível é uma participação onológica na
conhecimento humano é uma participação noética da forma intelectual criada na vida incriada de
Deus como Verbo ou atualidade pura eterna intelectual. De igual modo, a busca da pessoa
bem que pode unicamente satisfazer as aspirações racionais da pessoa humana à perfeição
noética, e tal bem deve ser infinito e ilimitado em soberana bondade. Esta realidade é o criador
transcendente inacessível, cuja bondade, nesta vida, nós naturalmente somente possuímos
indiretamente nos bens participados deste mundo, que indicam, de maneira oblíqua, o
fundamento oculto e incriado do nosso ser. E é graças a essa aspiração inevitável da pessoa
humana à felicidade perfeita que a pessoa humana nunca deixa objetivamente de buscar Deus
interiormente, ao menos na medida em que busca a felicidade, mesmo que tal fato possa passar
completamente despercebido à maior parte das pessoas. Tampouco é possível que qualquer bem
finito realmente preencha e satisfaça a pessoa humana. Longe de serem garantia da posse de
Deus, esses impulsos da pessoa humana para o conhecimento contemplativo perfeito de Deus, e
Revelação, já que sem estes eles podem logo se desorientar e degringolar em tendências
delirantes. A pessoa humana sem a Revelação tende não somente a não ser um verdadeiro
metafísico, mas além disso, fica facilmente ameaçado de maneira radical por um niilismo ético e
metafísico, precisamente por conta do tipo inerente de nobreza que a pessoa humana possuir
como uma pessoa espiritual dinamicamente orientada. Na falta de Deus, é natural esperar que o
animal metafísico tenda a uma variedade de tipos de niilismo, ao longo de um espectro que
aperfeiçoados nos seres humanos pelos hábitos do conhecimento e do amor que proporcionam
estabilidade aos esforços éticos e filosóficos dos seres humanos. Há aqui uma analogia entre a
noção tomasiana de vida espiritual e a virada moderna para o sujeito transcendental, uma vez que
contemplação metafísica, tanto quanto numa atividade virtuosa estável, entendida por ele, em
Dito tudo isto, é crucial destacar que, para Tomás, nosso caminho externo para deus é
sujeito a limitações genuínas e significativas, uma vez que somente conhecemos Deus por seus
efeitos criados ou por meio deles, de modo que podemos realmente denominá-lo e falar do que
ele é em si, mas não podemos conhecer a realidade que Ele é, a essência incompreensível de
internamente aquilo que unicamente fará de nós perfeitamente felizes por meio da visão
não-participada de Deus, que é desconhecida por nós e que é a causa de toda bondade criada, a
encarnação do Verbo, e à sua noção da revelação do caráter trinitário da Imago Dei nas pessoas
de Deus numa natureza individual humana, e estes aparecem em particular na S.T. III, q. 1 e 2.
encarnado. A encarnação divina manifesta sua bondade à raça humana. Seu ensino divino
manifestado em palavras, gestos e exemplos humanos torna mais claro e fácil de entender quem
Ele é pela fé. Sua paixão e ressurreição em corpo humano indicam os fundamentos da esperança
e nos torna mais profundamente cientes que Ele nos amou divina e intensamente desde toda a
eternidade. A presença de Deus em nossa natureza humana torna possível a amizade com Deus
do tempo, para sustento e fruição da Igreja. De fato, o animal humano é mais bem sustentado em
sua vida espiritual e religiosa por sacramentos e, assim, o Verbo feito carne convenientemente
ser elevados ao conhecimento da Trindade e à Sua amizade. Sobretudo: o Filho e Verbo de Deus
veio ao mundo para revelar o Pai e restaurar a humanidade por graça e natureza, à luz do Verbo
eterno, por quem a todas as coisas foi dado o ser. Assim, a marca trinitária em todas as coisas, e
especificamente no ser humano como criatura espiritual, é manifestada aos seres humanos
iluminados por Cristo de um modo que anteriormente era inacessível à compreensão humana.
Este último ponto tem certa importância. Tomás argumenta que a Palavra de Deus
tornada carne carrega consigo, por assim dizer, a presença real das processões eternas incriadas:
o Filho tornado homem não é apenas enviado pelo Pai ao mundo, mas procede eternamente do
Pai, mesmo estando no mundo em forma humana, e o Espírito mandado pelo Pai pelo filho é o
Espirito do Pai e do Filho, que procede eternamente deles dois. Em suma, podemos chegar a
conhecer, a partir do envio da Palavra tornada carne, quem Deus é em si em sua vida
processional eterna, ainda que o conheçamos obliquamente pela fé e por meio da Revelação na
palavra de Deus. Ademais, também podemos chegar a aprender que os seres humanos são
realmente à imagem da Trindade precisamente nesse tipo de vida espiritual interior que, já
do nosso ser. A autonomia substancial da pessoa humana como um agente que busca o
conhecimento e o amor é uma imagem do Pai eterno, que comunica o ser espiritual e a vida
autônoma à pessoa humana criada à sua imagem. A vida intelectual de busca da verdade e
contemplação é em nós uma imagem do Verbo e Filho, que haure do Pai tudo o que é, como
Sabedoria subsistente, mediante quem todas as coisas são feitas, ao passo que a vida volitiva de
amor e união e felicidade em nós é uma imagem do Espírito Santo, a expiração incriada de amor
comum ao Pai e ao Filho, o dom incriado de amor mutuo partilhado por eles desde toda a
eternidade.
Essas observações são pertinentes porque insinuam que, para Tomás, dada a Revelação
termos trinitários e podemos também compreender nossas motivações e nossos ‘eus’ mais
profundos nessa mesma luz. Notei acima que há pelo menos quatro requisitos fundamentais para
qualquer teologia que aspire a ser universalmente útil à Igreja ou sua doutrina comum a respeito
segundo, uma capacidade de pensar universalmente todas as coisas à luz de Deus e unir todas as
disciplinas de ensino; terceiro, uma capacidade de conceber a vida interior das processões em
Deus trindade, de modo a contemplar Deus nele mesmo efetivamente na fé usando a raazão
encarnação como a presença de Deus na natureza humana. S. Tomás, de uma maneira distinta da
de Boaventura, é bem sucedido em todos estes aspectos. Ele o faz, contudo, elaborando uma
explicação muito mais extensa e detalhada das fontes históricas para a doutrina sobre Deus
compreensão hilemórfica da pessoa humana (como substância una que é composto de alma e
corpo), em seu estudo profundo das ações, virtudes e leis próprias ao florescimento da pessoa
intelectual intensivos desta visão teológica e filosófica parecem exceder até mesmo a de
Boaventura.
Como podemos então retornar à questão da era moderna? Será que S. Tomás pode ainda
hoje ser um doutor comum na Igreja a respeito da natureza de Deus ? Para responder a essa
interior para Deus, visto à luz de sua ênfase anterior dos elementos metafísicos e transcendentais
do ser, é decididamente de importância moderna. Em uma era em que seres humanos amiúde
a posse do bem numa direção oposta ao desejo natural de conhecer e se unir a Deus, torna-se
tempo à prioridade existencial do exercício do amor na formação dos hábitos da mente quanto
seria conveniente ou necessário numa época caracterizada por um secularismo e uma indiferença
ou alienação em relação às explicações religiosas acerca da existênciaa humana. Saiba o que uma
pessoa ama, e você saberá a que se volta seu olhar. Conserte e afine as cordas do coração e o
olhar da pessoa humana se elevará também. Neste sentido, considero que a antropologia de
Tomás traz consigo alguns recursos para explicar e analisar a banalidade viciosa da pessoa
motivos para a busca religiosa que é desenvolvida de maneira insuficiente por esses nossos dois
interlocutores do séc. XX. A mesma idéia têm aplicações em teologia política, dado que a
inclinação objetiva da pessoa humana para Deus em S. Tomás aponta diretamente para a noção
de Garrigou-Lagrange do pensamento religioso católico como uma filosofia da razão pública, ao
passo que a noção tomasiana de orientação volitiva da razão rumo a Deus ou para longe d’Ele
baseada nos movimentos do coração fala para a preocupação de facto em trabalhar a parir das
liberdades humanas e neles, por mais feridas que estejam, a fim de convidar e informar os
amores mais íntimos das pessoas humanas e de suas sociedades na direção de uma conversão
real e perfeita. O Direito pode ser útil e até necessário para tal, assim como a argumentação
racional, mas são também sempre secundários face à ontologia mais profunda da conversão
Em segundo lugar, Tomás é nitidamente útil para nós hoje precisamente porque ele
argumenta que a ordem real externa do mundo convida a mente a voltar seu olhar para cima, na
direção do horizonte transcendente, fonte e fim de todas as coisas, que é Deus. Embora isso
possa ter parecido uma fraqueza na época de Karl Rahner, em que a antropologia kantiana tinha
uma influência desproporcional na universidade moderna, é-nos possível afirmar, com confiança,
hoje, que, por um lado, os modos metafísicos de argumentação desfrutam hoje de um novo
apreço nas sociedades filosóficas internacionais, que são menos homegêneas metodologicamente
do que em qualquer época nos séculos recentes. Porém, ao mesmo tempo, a ascensão do ateísmo
existencial de Rahner são mais difíceis de manter agora, sociologicamente, e tal situação nos
clássicas a Deus e, com Tomás, considerar novamente os caminhos externos, em diálogo com
identidade cristã e centrais a ela. É justamente pelo fato de ele ser capaz de entender algo do
mistério eterno da vida processional em Deus por meio das formas teológicas analógicas de
reflexão, que lhe permitem dizer de que maneira a vida Trinitária é eternamente imutável, Tomás
também compreende algo acerca de Deus que foi revelado na economia intratrinitária pelas
missões do Filho e do Espírito. Ele o faz sobre o pano de fundo de uma filosofia que aspira ao
conhecimento de Deus, mas que não é capaz de alcançar totalmente aquilo que deseja, de modo
que a luz mais elevada do conhecimento da Trindade eterna aparece como uma realização e uma
vantagem aindda maior da Revelação sobrenatural em relação àquilo que é derivado da razão
natural, mas perfectivo da razão natural em sua própria linha de raciocínio e desejo tendencial.
pelo Aquinate permitem uma releitura, a partir do interior, de toda experiência humana, inclusive
a visão antropológica de homem acima referida, que é tão incisiva e específica da visão teológica
e filosófica de Tomás. Às vezes se diz que neste começo do terceiro milênio vivemos numa
época caracterizada não por uma controvérsia acerca da natureza de Deus, da Santíssima
Trindade, revelada em Cristo, como no caso dos séculos IV-VII, nem por uma controvérsia a
respeito da Igreja ou dos Sacramentos, como no século XVI, mas uma nova controvérisa, ainda
vida humana de maneira responsável, como entes feitos à imagem e semelhança de Deus. Esta
visão antropológica parece questionável e sujeita a uma nova plasticidade nesta era tecnológica,
caracterizada por novas formas de ceticismo filosófico e pela influência de um cálculo moral
comum que visa sobretudo à expansão permissiva de liberdades em nome da aceitação pública
Numa época como esta, como nós, em primeiro lugar, tratamos a questão da natureza humana e
da identidade pessoal filosoficamente e, em segundo, fazemos uma releitura delas à luz dos
parece apto a desempenhar na Igreja um papel de doutor comum para a doutrina sobre Deus.