Você está na página 1de 3

Resumo

No presente artigo, temos como objetivo mostrar como o tema da dignidade do


homem, percorreu a Filosofia Grega até a medieval. Como o homem passa a se colocar no
centro de suas pesquisas filosóficas notando seu estado privilegiado diante de tudo que
existe.
Como ser racional, entende que seu fim último não limita-se a morte corporal, mas
que tende a retornar ao seu originário estado de contemplação ou participação de um ser
divino, e que para isso deve tornar-se um verdadeiro amante da sabedoria, ou da virtude
para o encontro com a felicidade, já alcançável em parte na vida terrena. Nos deteremos
sobretudo na concepção bíblica do homem na filosofia medieval, concepção essa que
através da revelação que Deus faz de si próprio, dá ao homem a revelação de si mesmo.O
homem como ser racional, mas intrinsicamente espiritual já que tem como seu princípio o
Ser suprassensível ou metafísico.
E por fim, veremos como a partir da filosofia moderna e sua concepção do homem,
passando esse a anular como consequência de suas novas conquistas e interesses essa
dimensão, ou seja o seu início e fim ultimo, as respostas para seus mais profundos
questionamentos acima de tudo acerca de si mesmo, vai perdendo-se essa noção da
dignidade humana, resumindo o homem ao agir, à matéria, e esvaziando o homem de um
sentido da vida, de um sentido acerca de quem ele próprio é.

A dignidade do homem.
A filosofia clássica e medieval X a filosofia moderna

A história da Filosofia é um crescente em busca da verdade. O homem como autor


e ator dessa história e busca, caminha entre as mais variadas correntes e teses na construção
de tão almejada verdade, como necessidade de felicidade e construção de sua imagem.
No início dessa busca, o homem pergunta-se como surgiu o mundo que o cerca.
Mas é a partir do momento em que ele se coloca como o centro dessa procura, que começa
então a percorrer o verdadeiro caminho de encontro a felicidade e suas maiores conquistas,
é quando percebe então, sua dignidade diante de tudo o que é criado.
A Filosofia Grega da qual bebemos, atinge esse apogeu com Sócrates, que é o
precursor desse brilhante período juntamente com Platão e Aristóteles. E há de se concordar
que mesmo sendo as questões morais que inauguram esse período, a sua feição
característica é a metafísica.
A moral e ética, são os pontos altos dessa filosofia, ensinando o bem pensar, para o
bem viver, para o bem morrer. O objetivo do viver do homem é alcançar a sabedoria que é
sinônimo de virtude, para então assim encontrar a felicidade. O sábio tende a retornar para
junto da divindade, encontrando na contemplação do sumo bem a felicidade, o homem na
vida corpórea deve libertar-se de todo o sensível desordenado e viver na ordem e harmonia
da virtude. Já entende-se que o seu fim último não encerra-se com a morte física e uma
marca do eterno salta da intuição para a razão, dando as diretrizes de como viver uma vida
digna da sua condição de ser racional mas que tende ao retorno a um bem maior que não
está limitado ao campo do corruptível e mutável das coisa sensíveis. A racionalidade
humana empregada nesse meio para esse fim é a marca dignificante do homem que o
coloca no topo da hierarquia de tudo o que é criado.
Mas como dado histórico sabe-se que a Filosofia Grega no seu começo não obteve
contato com a revelação do Deus do povo hebreu, portanto com a revelação de Deus ao
homem, que vem em auxílio de sua busca incessante e feita as apalpadelas, busca essa que
tem seu início e fim n’Ele. E é nessa revelação do próprio Deus na história humana e não
só, mas na história particular de cada homem que lhe dará a verdadeira compreensão da sua
dignidade. A revelação divina é o que portanto fundamenta a concepção bíblica do homem,
essa revelação de Deus que consequentemente revela quem é o homem.
A dignidade do homem está, pois pautada sobre a unidade radical do seu próprio
ser, essa unidade não no caráter ontológico, mas soteriológico.
“ Trata-se, poi, da unidade de um desígnio de salvação que da parte
de Deus é dom ou oferecimento e da parte do homem é resposta ou
aceitação, a recusa do dom implicando justamente a perda da
unidade ou a cisão irremediável do seu ser por parte do homem.” 1
Sendo essa primeira unidade a de origem, onde é expressa a criação do homem
como imagem e semelhança de Deus. Pode dizer que aqui está a marca da dignidade
humana, o homem criado a imagem do Sumo Bem, dotado da graça de ter-lhe sido soprado
o espírito vivificante do próprio Deus, o Ser Supremo princípio de toda vida. E o homem
como um todo, corpo, alma espírito e coração. Entra aqui a diferença com a concepção
dualista do homem grego. O homem enquanto corpo na sua fragilidade, alma expressão de
vitalidade, espírito manifestação do conhecimento e coração sede dos afetos e paixões,
criado e redimido inteiro por Deus. O homem criado livre, portanto afasta-se pela queda de
seu criador, mas por desígnio de salvação recebe a promessa da salvação. O dualismo no
pensamento bíblico entra na separação feita pelo pecado, do homem e Deus. O homem cai,
perdendo seu lugar privilegiado de já contemplar e viver na presença de Deus, mas Deus
promete-lhe restituir, puramente por graça de sua bondade, tal condição inicial que
alcançará sua consumação na encarnação do Verbo, plenificando e clarificando ao homem
a condição privilegiada que lhe foi conferida. E a vinda de Deus na carne humana, vem
reafirmar a anulação do caráter pejorativo do dualismo grego, em que o corpo seria a prisão
da alma e sua condenação após a queda, até libertar-se dele pela morte e retornar ao Bem.
O homem é um ser criado à imagem de Deus, que não está isento da fragilidade e
não pode excluir-se da vida corpórea que não está em oposição à construção da vida
virtuosa. Ele é chamado por Deus a vida de santidade assim como seu criador que é Santo.
Aquilo que foi a base do pensamento filosófico, digamos que já por inspiração divina, o
próprio Deus revela quando dá as diretrizes de como bem viver, libertar-se das más
inclinações que induzem a uma vida amoral, para chegar por fim a volta definitiva de junto
de si, Ele que é a felicidade e verdade tão almejadas.
O homem traz também em si uma unidade de vocação, que se expressa na Aliança
que o próprio Deus por iniciativa quis estabelecer, vemos isso em todo o Antigo
Testamento. Deus caminhado com o povo, presente nas suas provações que já são mesmo
a pedagogia de Deus para esse caminho de volta a Si que o homem deve traçar, que mostra
sua fidelidade acima das fraquezas humanas, que diz-se um Deus ciumento de sua criatura
e que se apresenta como necessitado do seu amor, Ele que de nada precisa. Essa aliança
atingirá seu ponto máximo no Novo Testamento com a encarnação do Verbo, o Filho único
do Pai, dado em sacríficio de expiação pelos pecados do homem, demonstrando assim
como de tal forma Deus amou o mundo.
E por fim, a unidade de fim expressa na volta definitiva para Deus. Esse é o objetivo
de toda peregrinação do homem e o reconhecimento que ele próprio faz de sua dignidade

1
que atinge nesse fim último seu cume, o encontro com a sabedoria, a verdade tão
contemplada a ansiada desde o começo das especulações filosóficas.
Caminhando pela Filosofia Grega e Medieval, nós contemplamos toda vida do
homem embasada num bem moral e ético para a construção da realidade em que vive.
Primeiramente, o homem que busca, e posteriormente a Verdade que se revela. A dignidade
do homem é pautada nessa realidade.

Com o florescer da modernidade, o pensamento acerca do homem, deixa então de


lado a realidade metafísica a ele relacionado. Tudo que possa levar a especulações que não
sejam utilitárias à vida e ao meio concreto em que o homem vive deixa de ser interesse do
conhecimento, as novas ciências ocupam lugar e o próprio homem é engolido por essa
avalanche de novidades, tornando-se uma máquina em meio a nova realidade da
organização do mundo.
Não se pode negar com certeza, a incomparável colaboração à vida humana e ao
funcionamento do mundo, que se deu a partir do pensamento moderno, do rumo que tomou
as especulações filosóficas relacionados à vida concreta, já que não se pode negar que o
homem vive no mundo e precisa entende-lo. Os novos sistemas criados, os métodos e
organizações que surgem direcionados ao utilitarismo é a nova realidade, nenhum mal
haveria nisso, se o pensamento moderno não tivesse rompido definitivamente com o
passado, reduzindo o homem a uma concepção puramente materialista da sua existência e
mesmo do seu fim. A realidade pessoal e particular da vida humana é esvaziada do seu
mais profundo sentido, que há séculos se embasava numa realidade metafísica e divina, que
é portanto bem viver essa vida em uma dimensão intrinsicamente humana interligada à
moral e ética, sabendo bem utilizar-se da realidade sensível sem apegar-se demasiadamente
a ela.
A capacidade de agir e transformar o mundo, mostrada na modernidade como
fundamento da capacidade racional do homem, dá a ele a sua dignidade, e não rompe essa
concepção com o concepção grega e mesma a medieval.

Você também pode gostar