Você está na página 1de 7

Seminário Teológico de Gramado

Graduação 2023

Os Macabeus e a firmação
Identitária dos judeus
A resistência de um povo pela tradição, religião e cultura

História de Israel- Ticiano Castoldi


Gabriel Joumblat
Resumo:

O presente artigo abordará a história de Israel no recorte temporal do domínio dos


Macabeus, destacando a importância desse evento na manutenção da cultura,
religião e política de Israel. Argumentar-se-á que tal revolução manteve viva a
tradição messiânica e foi palco da providência divina na história de Israel

Sumário:

Introdução: O exílio e a desolação de Israel--------------------------------------------------- 3


1.0 O pós-exílio e o domínio grego.--------------------------------------------------------------3
2.0 Selêucidas, Epifânio e a desolação de Israel-------------------------------------------- 4
3.0 O período Macabeu e a cultura Judaica--------------------------------------------------- 5
Conclusão: A relevância dos Macabeus e a Providência Divina------------------------- 6
Referências Bibliográficas:------------------------------------------------------------------------- 7

"A história é o palco em que Deus revela Sua soberania e graça. Ele trabalha através
de eventos e circunstâncias, guiando a humanidade em direção ao cumprimento de
Seus planos redentores."
- Charles Spurgeon

2
Introdução: O exílio e a desolação de Israel

“Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda, e muito te
multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o SENHOR, Deus de teus pais.” 1
Deuteronômio 6.3

Alguns profetas corriam pelas ruas de Jerusalém e relembravam os decretos


de Javé quando o Império Babilônico abalava a mesopotâmia e até mesmo o Egito2.
Não só os profetas estampavam as ruas, as estatuetas de ídolos, os adivinhos,
prostitutas cultuais, ladrões e sacerdotes corruptos atentavam contra as ordenanças
claras e explicitas expressas na Torá.
Era uma questão de tempo para que o Cálice da Ira transbordasse e Deus
derramasse castigo sobre seu povo. E esse castigo aconteceu, com a revolta do, até
então, regente Zedequias em uma aliança com os egípcios, Nabucodonosor II invade
Jerusalém, derruba o templo e as muralhas e subjuga a cidade ao império dos
Caldeus3(cf. 2Rs 25.1-4; 2Cr 36.17; Jr 52.4).
A destruição leva muitos hebreus ao exílio na Babilônia, período que durou
setenta anos, tendo seu fim com o decreto de Ciro, após a conquista Meso-Persa da
Babilônia e o retorno a Jerusalém iniciado por Zorobabel, na reconstrução liderada
por Neemias e na reforma religiosa instaurada pelo escriba Esdras. Após isso, há o
período de silêncio profético de 400 anos, do pós-exílio. Todavia, o silêncio profético
não se refletiu em um silêncio histórico.

1.0 O pós-exílio e o domínio grego.


O fim do Império Persa ocorreu no século IV a.C. com a conquista de
Alexandre, o Grande. O Império Persa, também conhecido como Império
Aquemênida, havia alcançado seu apogeu sob o reinado de Dario I, que expandiu seu
território até abranger vastas regiões da Ásia Ocidental, Central e do Norte da África.

1
Deuteronômio 6.3, Almeida Revista e Atualizada(ARA)
2
Batalha de Karkemish (605 a. C.), JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas, XI, 419. São Paulo:
CPAD, 2004.
3
Ibid, XI, 425.

3
Em 334 a.C., Alexandre, o Grande, liderou uma campanha militar contra o
Império Persa com o objetivo de conquistar seu território. Após uma série de batalhas
decisivas, incluindo as famosas batalhas de Granico, Isso e Gaugamela, Alexandre
derrotou o exército persa liderado por Dario III. Após a morte de Dario III em 330 a.C.,
Alexandre continuou sua campanha e conquistou rapidamente as principais cidades e
territórios persas, incluindo Persépolis, a capital imperial. O Império Aquemênida
colapsou e Alexandre tornou-se o governante das terras anteriormente sob o domínio
persa.4
Embora Alexandre tenha estabelecido uma nova administração nas regiões
conquistadas(satrapias), sua morte prematura em 323 a.C. desencadeou uma luta
pelo poder entre seus generais, conhecidos como os Diádocos. Dentre essas
disputas, surgiu o Império Selêucida, fundado por um dos generais de Alexandre,
Seleuco I, que controlou grande parte do território persa até o século II a.C, incluindo
o território da Israel pós-exílica.5 Santiago Colombo Reghin, sobre esse período,
afirma:
A formação do Império Selêucida se dá na conjuntura do violento período de guerra
entre os generais de Alexandre, que buscavam estabelecer-se como sucessores desse
último(...) As diversas satrapias que compunham esse território foram divididas entre
seus generais e indivíduos mais próximos6.

2.0 Selêucidas, Epifânio e a desolação de Israel

Esse cenário global influenciava, também, Israel. Com o domínio dos


selêucidas intentando a expansão da cultura grega sob os judeus(helenismo), os
gregos assumiram um caráter mais duro durante o domínio de Antíoco IV, também
conhecido como Antíoco Epifânio. Havia um interesse político por trás da implantação
da cultura grega na conquista de outro povo: a unidade cultural, religiosa e linguística
favorecia a manutenção do império.

A legitimação do domínio helênico encontrou pouca resistência dentro de

4
BADIAN, E. Alexander the Great and the Greeks. The Journal of Hellenic Studies, 101, 1-19. 1981
5
WILL, É . Histoire politique du monde hellénistique (323-30 av. J.-C.). Lantosque: Seuil, 2012
6
REGHIN, Santiago Colombo. A elite babilônica durante a formação dos selêucida: dinâmicas da
integração imperial a partir dos diários astronômicos.Rio de Janeiro: ANPUH-Brasil, 31° Simpósio
Nacional de História, 2021, p.1-2.

4
outras culturas, muitas delas partilhavam de uma religião panteísta, menos rigorosa e
mais aberta. Essa realidade religiosa, definitivamente, não era a realidade do povo
habitante em Israel. Os judeus eram exclusivistas, monoteístas e carregavam o título
de “Povo de Deus” com muita veemência, principalmente após a punição exílica.

Essa dificuldade de helenizar Israel levou a adoção de medidas de Estado por


parte dos selêucidas, medidas que envolveram a proibição de ritos, a promoção de
cultos pagãos e tiveram ápice na profanação do templo, quando Antíoco sacrifica um
porco(animal impuro conforme a Torá) sob o altar do templo. Sobre isso, o primeiro
livro extra-canônico dos Macabeus comenta:
No dia quinze do mês de Casleu, no ano cento e quarenta e cinco, Antíoco fez
erigir a Abominação da desolação sobre o altar. Também construíram altares
em todas as cidades vizinhas de Judá.7

Isso implicou em uma grande revolta, liderada por uma família sacerdotal, a
dos Macabeus.

3.0 O período Macabeu e a cultura Judaica

Sobre esse período existem duas fontes primárias essenciais, os dois livros
dos Macabeus e a obra “Antiguidades Judaicas”, de Flávio Josefo. Ambas as obras
relatam a revolta dos Macabeus e demonstram esse período onde a religião em Israel
e a cultura judaica se firmaram de maneira soberana.

Os macabeus conduziram grandes reformas que seriam cruciais para o


judaísmo daquele tempo e deixaria marcas no judaísmo contemporâneo. Um dos
eventos mais proeminentes foi a restauração do Templo em Jerusalém. Após a
profanação do Templo pelos selêucidas, os macabeus purificaram-no e
restabeleceram o culto judaico no local, Josefo comenta:
Encontra­ram as portas queimadas e os muros cheios de mato, o qual havia
crescido durante aquele período de inteiro abandono. Tão grande desolação
arrancou(...) lágrimas dos olhos de Judas. E, após ordenar que uma parte da
tropa sitiasse a fortaleza, pôs mãos à obra para purificar o Templo.8

7
I Macabeus 1.54, Bíblia Ave Maria (BAM)
8
JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas, XII, 476. São Paulo: CPAD, 2004.

5
Os macabeus fortaleceram sua posição política e militar para garantir a
estabilidade e a independência de Israel. Eles estabeleceram uma dinastia hereditária
e procuraram expandir seu território. Na ofensiva contra os macedônios, lideraram
campanhas militares bem-sucedidas para expulsar os selêucidas de Israel e
recuperar o controle sobre várias cidades e regiões. Conseguiram expandir o território
de Israel, estendendo sua influência além das fronteiras originais.

Na religião, lutaram pela liberdade religiosa e pelo direito de praticar o


judaísmo sem interferência. Removeram as estátuas e altares pagãos que haviam
sido impostos pelos selêucidas e restauraram a observância das leis religiosas
judaicas. Nesse período surgem diversos grupos religiosos importantes, que serviram
de base para o cenário encontrado no Novo Testamento e na vida de Jesus. Até hoje
os judeus comemoram a “Hanukkah”, a festa relembra a libertação de Israel da mão
dos selêucidas.

O período Macabeu se encerra por disputas internas que terminaram por


enfraquecer Israel e facilitar a dominação romana por Pompeu em 63 a.C.

Conclusão: A relevância dos Macabeus e a Providência Divina

Os macabeus assumiram relativa importância na história de Israel e foram a


resistência que permitiu a manutenção do povo frente ao Helenismo. Ainda que
alguns elementos helênicos tenham sido incorporados ao cenário judaico (o rabinismo
como repetição das escolas de filosofia), Israel pode manter quase intacta sua cultura
e sua esperança messiânica, tal esperança e estabilidade religiosa pavimentaria o
caminho para o Messias.

Os macabeus são prova da providência divina, prenúncio da esperança


messiânica que permeava a Israel subjugada por Roma dos tempos de Cristo. A
história dos Macabeus mostram que Deus cuida do seu povo e nem mesmo os
maiores impérios da terra podem resistir ao povo de Deus. Sobre isso, Cristo afirmou,
“edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela”9

9
Mateus 16.18, Tradução Brasileira(TB)

6
Referências Bibliográficas:

BADIAN, E. Alexander the Great and the Greeks. The Journal of Hellenic Studies,
101, 1-19. 1981

JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas, XI, 419. São Paulo: CPAD, 2004

———————————————,XII, 476. São Paulo: CPAD, 2004

REGHIN, Santiago Colombo. A elite babilônica durante a formação dos selêucida:


dinâmicas da integração imperial a partir dos diários astronômicos.Rio de
Janeiro: ANPUH-Brasil, 31° Simpósio Nacional de História, 2021, p.1-2.

WILL, É . Histoire politique du monde hellénistique (323-30 av. J.-C.). Lantosque:


Seuil, 2012

Versões bíblicas:

Almeida Revista e Atualizada (Deuteronômio 6.3)

Bíblia Católica Ave Maria ( I Macabeus 1.54)

Tradução Brasileira (Mateus 16.18)

Você também pode gostar