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AULA 1 – PERÍODO

INTERTESTAMENTÁRIO Definição, ambiente e fontes

históricas

Etimologicamente, “interbíblico” quer dizer “entre a Bíblia”, ou melhor,


“entre os dois Testamentos”, isto é, entre o Antigo e o Novo Testamento.
Daí também decorre a designação “Intertestamentário”.
O Período Interbíblico tem início com a interrupção da atividade profética
entre o povo de Deus. Malaquias foi o último profeta a transmitir as
palavras do Senhor até o começo do ministério de João Batista. O
ministério de Malaquias pode ser datado entre 470 a.C. a 433 a.C. O seu
livro foi escrito em alguma data desse período.
Período Persa
Com o fim do Império Babilônico, o Império Persa assume o papel de
superpotência.
Quando a dinastia meda foi fundada por Ciaxiares, a Pérsia era uma de suas
humildes colônias. O ambicioso Cambises, filho de Aquêmenes, fundador
da Pérsia, casou--se com a filha de Astíages, da Média, esperando com isso
ampliar seus territórios, multiplicar seus tesouros e aumentar o seu poder.
Embora ele não tenha conseguido isso, seu filho realizou o que o pai não
conseguiu. Estamos falando de Ciro II, o Grande, rei da Pérsia de 559 a 530
a.C., que incorporou a Média aos seus domínios, além de conquistar a
Lídia, a Síria, a Babilônia ou Caldeia, entre outras nações.
Ciro, o Grande, era um gênio notável, além de um guerreiro magnânimo e
justo. Ele vivia para lutar, lutava para conquistar e conquistava para
libertar. Ele foi, sem dúvida, um célebre libertador. E o mais notável:
Deus havia predito por intermédio do profeta Isaías alguns feitos de Ciro.
Os judeus sob o domínio persa
Muitos anos se haviam passado desde que Zorobabel e Jesua (ou Josué)
reconduziram os cativos a Sião e que os alicerces do templo foram
lançados. As dificuldades eram quase insuperáveis: lutas, inimigos e
outras coisas mais embargavam os passos dos judeus na reconstrução de
Jerusalém e do templo do Senhor.
Mais ou menos em 520 a.C., Deus enviou os profetas Ageu e Zacarias
para exortar o povo a fazer tudo pela reconstrução do templo. Desse
modo, animaram os judeus, que, alegres, prosseguiram nessa santa obra

Período Grego
Os medos-persas foram conquistados por Alexandre, o Grande, da
Macedônia. Chamamos de “Período Grego” ou “Greco-macedônio” o
tempo da dominação macedônica no mundo. Entende-se das primeiras
conquistas de Filipe, pai de Alexandre, o Grande, até as Guerras Macabeias
(333 a 167 a.C.). Os judeus agora estavam sob novo domínio.

Os judeus sob o domínio grego


Privilégios
Os judeus também desfrutaram de privilégios especiais sob o domínio
grego: liberdade de culto, certa liberdade política, subvenções para o
sustento do culto e muitas outras coisas. Isso lhes deu certa consciência de
soberania e garantiu-lhes uma unidade quase perfeita, poucas vezes
quebrada por pretensiosos que ambicionavam e disputavam o sumo
sacerdócio. Dessa unidade, veio-lhes a têmpera, a resistência,
heroicamente demonstrada nas Guerras Macabeias.
Idioma
A língua grega foi implantada na Palestina nas dominações dos
ptolomeus e dos selêucidas.
Poder
Quanto ao poder, este ficou concentrado nas mãos do sumo sacerdote,
razão por que o lugar fora largamente disputado. Flávio Josefo apresenta-
nos a lista dos sumos sacerdotes nesta cronologia: Judua, Onias I, Simão, o
Justo, Eleazar, Manasés, Onias II, Simão II e Onias III (contemporâneo de
Antíoco Epífanes).
Territorialmente, verificamos o seguinte na Palestina: os cativos de
Babilônia localizaram-se em Jerusalém, daí foram se estendendo por
Judá. No tempo de Antíoco Epífanes, a Palestina compreendia um
território menor que o antigo Judá.

Período Macabeu
O nome desse período está associado a Judas Macabeu, líder dos Macabeus.
Esse termo talvez derive da palavra hebraica maqqébet (Jz 4.21) ou da
aramaica maqqaba (“martelo”). Esse período abrange 104 anos (167-63
a.C.). É caracterizado por lutas, perseguições, sacrifícios e, por último, por
um longo período de independência e paz.
O surgimento desse período foi motivado pela nefasta dominação síria
(Período Grego), sob o reinado de Antíoco IV, o Epífanes.
Causas remotas
O governo da Judeia, aos poucos, foi se fortalecendo nas mãos do sumo
sacerdote. Isso levou o sumo sacerdócio judaico a um declínio espiritual,
pois deixou de ser um poder espiritual e divino para tornar-se uma força
política. Em consequência disso, a posição de “sumo sacerdote” começou
a ser disputada. Nem o que a Lei de Moisés dizia a respeito nem a questão
genealógica eram levados em conta. O poder temporal era a única coisa
que realmente importava naquele momento.

Período Romano
O Império Romano já vinha de uma longa história de ascensão e
dominação. Os romanos eram insaciáveis nas suas conquistas e finalmente
subjugaram a Macedônia, que se tornou submissa a Roma. A Grécia
subjugada passou a ser a “Província Romana de Acaia”. Os romanos
sujeitaram depois disso o Egito, a Síria e todo Oriente.
O período romano neste estudo não se refere à dominação romana no
mundo, que começou com as Guerras Púnicas (264 a.C.—146 a.C.), mas à
intervenção de Roma na Ásia, de modo particular na Palestina. O poder
romano em Israel começou em 63 a.C., ainda que muito antes disso a Ásia
já estivesse dominada por esse império.
Roma e Judeia
Roma deu certa liberdade aos povos vencidos. Cada país podia ter seu rei.
Roma mantinha em cada país seu “governador”, ou “procônsul”, ou
“juiz”, além de um corpo de publicanos para arrecadar os impostos.
Vamos estudar agora a vida de Antípater e de seus filhos, principalmente
Herodes, chamado “o Grande”. Em torno de suas vidas, destacaremos os
principais eventos da história judaica sob o Período Romano. Discorrendo
sobre Herodes, somos obrigados a voltar-nos para os pontos principais da
história romana relevantes para esse período.
AULA 2 – PERÍODO DOS TEMPOS DE JESUS

Seitas político-religiosas
No Período Interbíblico apareceram seitas político-religiosas
completamente estranhas ao Antigo Testamento. Algumas dessas seitas
tiveram origem no tempo que os judeus passaram no exílio babilônico;
outras apareceram de acordo com as circunstâncias pelas quais os
descendentes de Davi foram passando na conjuntura política, social e
econômica dos dominadores.

Escribas
No Antigo Testamento, o “escriba” desempenhava algumas funções:
1. O escriba real (heb. há-sofer, sofer há-melek) redigia as ordens e
mandados reais. Era um funcionário público, um alto dignitário,
também chamado de “escrivão” (2Sm 8.17; 2Rs 2.11; 18.18; 19.2).
2. Como escrivão-mór, alistava os homens para a guerra (2Rs 25.19;
2Cr 26.11; Jr 52.25).
3. Um organizador de tropas para a guerra (Jz 5.14).
4. Um recebedor de tributos (Is 33.18).

5. Um perito no Livro Santo, o escriba sagrado (1Cr 27.32; Ed


7.6,11,12,21; Ne 8.1,4,9,13; 12.26,36; Jr 8.8; 36.10).
No princípio, copiar a Lei e interpretá-la era função do sacerdote. Com o
passar do tempo, a função se desdobra. Esdras, por exemplo, era sacerdote
e escriba (Ne 8.9). O escriba, como aparece no Novo Testamento, ou seja,
membro de um bloco político, apareceu depois do exílio babilônico. O
texto de 1Crônicas 2.55 dá-nos a entender que os escribas se reuniam em
família e associações. No tempo de Ben-Sirac, século II a.C., eles ainda
não formavam um partido político. Mas pelas pressões de Antíoco
Epífanes, os escribas se uniram e se tornaram um bloco político ao lado
dos fariseus, e é assim que os encontramos no Novo Testamento. Havia
escribas em toda a terra de Israel (Lc 5.17), na Babilônia durante o exílio e
até em Roma.
Fariseus
O nome “fariseu”, no grego farisaios, vem do adjetivo aramaico que
significa “separado”, “dividido”. Talvez seus inimigos tenham cunhado
esse nome, pois os fariseus viviam separados do povo temendo a
imundície. Eles gostavam de chamar-se haberin, “companheiros”, ou
qedosim, “santos”.
Esdras entregou-se à pesada tarefa de ensinar a Lei ao povo. Ele teve
legítimos continuadores de seu importante trabalho. Aqueles que
continuaram ensinando a Lei ao povo foram chamados hasidhim, que
significa “leais a Deus”.
Quando apareceram? Flávio Josefo faz referência a “fariseus” como seita
já existente em 145 a.C. Entretanto, autores como Broadus, Stewart, Mc
Ginty, Rodrigues, Dana, Smith, Robertson, entre outros, nada adiantam
sobre a origem da famosa seita. O nome “fariseu” não ocorre no Antigo
Testamento. Isso, entretanto, não significa que a seita não existisse. R. G.
Stewart admite a existência dos hasidim no tempo do profeta Malaquias.
Provavelmente os hasidim se dividiram. Uma minoria se opôs de forma
enérgica e categórica contra a ilegitimidade do sumo sacerdócio imposta
pelos selêucidas e depois por Herodes, o Grande, e acabaram sendo
chamados de “separados”. Essa minoria levantou-se no seio da comunidade
de Israel, composta de homens do hasidhim, poderosos guardiães da Lei de
Moisés. Foi a frente de resistência ao helenismo pagão e idólatra. Esse
grupinho pertencia aos “escribas”, homens que copiavam e, portanto,
conheciam a “Lei”. Reconhecidos com o passar dos tempos como
“separados”, “puritanos”, “zelotes”. Eles evoluíram até chegar ao fariseu
tradicionalista e exclusivista do Novo Testamento.
Há dois grupos terrivelmente antagônicos desses “fariseus”: separatistas e
liberais. O primeiro se opunha terminantemente às influências helenísticas
na Palestina, enquanto o segundo era favorável. Nas Guerras Macabeias, os
“separados” combateram ao lado de Judas para resistir ao ambicioso
Antíoco Epífanes.

As principais doutrinas dos fariseus eram:


1. Livre-arbítrio do homem, assim criado por Deus.
2. A alma é imortal. Após a existência terrena, continua vivendo e nunca
morre.
3. A ressurreição do corpo (At 23.8).
4. A existência de anjos (At 23.8).
5. Todas as coisas são dirigidas pela providência divina.
6. No mundo além, os justos serão recompensados e os maus castigados.
7. Os maus serão presos em cadeias eternas, enquanto os justos
desfrutarão a vida eterna.
8. Além da alma humana, existem outros espíritos: bons e maus.

Saduceus
A Bíblia de Jerusalém, edição católica romana, traz “Sadoc”. Trata--se
do sumo sacerdote que Salomão colocou em lugar de Abiatar (1Rs
2.27-35). A linhagem de Zadoque permaneceu no sumo sacerdócio até o
cativeiro babilônico (1Cr 6.8-12). Depois do exílio, quando Jerusalém
foi restaurada, os descendentes de Zadoque continuaram no sumo
sacerdócio (Ne 11.10; 13.13). A família sumo sacerdotal governante dos
hasmonianos não era zadoquita (1Macabeus 2.1; 14.29). Parece mais
provável que “saduceu” tenha derivado de “Zadoque”, ainda que haja
divergências.
Quatro teorias sobre a origem dos saduceus podem ser esboçadas de modo
superficial. M. H. Segal, seguindo Wellhausen, pensava que fosse
principalmente um partido político, derivado em última análise dos judeus
helenistas. G. H. Box, seguindo Geiger, pensava que fosse um partido
religioso, e que alguns dos escribas nos evangelhos, eram escribas
saduceus. L. Finkelstein pensava que tivessem sido originalmente um
grupo aristocrático, em oposição aos fariseus citadinos. T. W. Manson
julgava que tivessem sido originalmente funcionários públicos.1
Podemos resumir nos seguintes pontos os aspectos mais importantes
da sua linha doutrinária que se chocavam com o ritualismo dos
fariseus:
1. Aceitavam somente a lei escrita. Rejeitavam os pre-ceitos orais e
tradicionais dos fariseus. Jerônimo afirmou que os saduceus aceitavam
apenas o Pentateuco, o que parece confundi-los com os samaritanos.
2. Josefo é uma fonte de abundantes informações sobre os fariseus.
Visto, porém, que era fariseu, não podemos aceitar tudo o que diz de
seus adversários. Os saduceus negavam a providência divina e
aceitavam o rigoroso e férreo fatalismo.
3. Negavam, igualmente, tanto a recompensa como o castigo após a morte.
4. A alma para eles não existia. Com a destruição do corpo, tudo está
terminado. Na literatura rabínica encontramos esta máxima: “Como a
nuvem se desfaz, e desaparece, assim o homem desce à sepultura e
jamais voltará”.
5. Negavam a ressurreição (At 23.8; cf. Mt 22.23-33).
6. Negavam a Halakah (conjuntos de preceitos práticos, normas rituais
e jurídicas). Interpretavam o Antigo Testamento, e de modo particular
a Torá, ao pé da letra, por causa de sua posição relativa à lei oral.
7. Não criam em anjos, bons ou maus (At 23.8).
8. Não criam na existência do céu, nem do inferno.
9. Não acreditavam na existência do Diabo.
10. Havia profunda divergência entre saduceus e fariseus sobre o dia da
celebração da Páscoa e do Pentecostes. Quando a Páscoa caía numa
sexta-feira, os saduceus
retardavam para o sétimo dia. Os fariseus, entretanto, celebravam de
acordo com o calendário. Hillel (25 a.C.) diz que para o fariseu a imolação
dos cordeiros pascais era um sacrifício público, maior, portanto, que o
repouso sabático; para o saduceu, era um sacrifício privado e que violava
o sábado. A festa do Pentecostes para os saduceus tinha de coincidir
sempre no primeiro dia da semana. Como havia entre a Páscoa e o
Pentecostes um inter-repouso de 50 dias, eles adiantavam ou atrasavam o
calendário.
Essênios
O nome vem do grego essênoi, essaioi, ossaioi; talvez venha do aramaico
asên, assayyâ, plural de asê, asyâ que significa “curador”.
Há 3 fontes principais sobre os essênios: Flávio Josefo (Antiguidades e
Guerras judaicas), Filo de Alexandria (cuja obra se perdeu, embora
Eusébio tenha preservado trechos em Quod Omnis Probus Liber Sit,
75-91, e Hipothetica ap Eusebium, Evang VIII, 2) e Plínio, o Velho
(História natural V, 17).
Não é tarefa fácil descobrir o núcleo onde nasceu o essenismo. Com as
descobertas do mar Morto, a partir de 1947, o problema ficou claro.
Provavelmente os essênios nasceram dos assideus do Período Macabeu
(veja 1Macabeus 2.43; 7.13-17). Eram homens retos que, pressionados
pela perseguição helenista, refugiaram-se no deserto.
No princípio eram grupos isolados sem qualquer organização, nem
política, nem religiosa. Talvez o “Documento de Damasco” se refira a essa
primeira fase da história dos essênios. Esse documento faz alusão a um
período em que um grupo do povo andou sem rumo por 20 longos anos,
até que apareceu o “Mestre da Justiça”, que organizou os essênios.
Os pontos capitais de sua vida comunitária essênica são:
1. Mesa comum. Todos comem juntos e comem a mesma coisa.
2. Bolsa comum. O que é de um é de todos e o que é de todos é de um.
3. Vida cultural e ascética concebida em função da comunidade.
4. Dentro da comunidade os membros se dividem em “filhos de Arão”
(os sacerdotes) e “filhos de Israel”, os leigos.
5. Os leigos se dividiam em grupos de mil, de cem, de cinquenta e de dez.
6. Não se casavam. Filo diz: “Repelem o matrimônio praticando a
continência
perfeita, porque o consideram como obstáculo mais grave à concordância.
Logo não tomam mulher, porque a mulher sempre se procura a si mesma, é
inclinada demais ao ciúme e se aplica em seduzir os costumes dos homens,
atraindo-os com toda a sorte de sortilégios. Como uma comediante, ela
encanta a vista e o ouvido e acaba por estragar o domínio da reta razão.
Quando tem filhos, então, arranca por força o que tinha conseguido com
seus encantos: tudo isso é hostil à vida comum. Um marido, um pai de
família, não é mais um homem livre, mas um escravo”.1

7. Possuíam uma hierarquia com poderes legislativo, executivo e


judicial, exercidos pelos “filhos de Arão”. Os leigos participavam de
decisões em assembleia geral.
8. Dedicavam-se ao trabalho e à oração. Nas escavações da colônia
essênia do mar Morto foram encontrados vestígios de seus trabalhos
industriais; seu maior trabalho, entretanto, era agrícola.
Do ponto de vista doutrinário e prático, os essênios defendiam os seguintes
tópicos:
1. Consideravam-se servos de Deus e não imolavam animais.
2. Viviam nas aldeias, fugindo à vida contaminada dos grandes centros.
3. Não se preocupavam em ajuntar tesouros.
4. Não fabricavam arco, flechas, espadas, lanças nem os possuíam.
5. Não se interessavam pelo comércio.
6. Todos são livres. Não havia escravos entre eles.
7. Quanto à filosofia, desprezam a lógica e seus termos rebuscados.
8. Eram monoteístas convictos.
9. Aplicam-se com entusiasmo à prática da moral.
10. Guardavam o sétimo dia com zelo e trabalhos dedicados a Deus.
11. Ensinavam a piedade e a santidade.
12. Amavam a virtude.
13. Ensinavam a amar todos os homens.

14. Respeitavam os anciões.


15. Cuidavam com carinho e amor dos enfermos.
16. Referiram-se à “Nova Aliança” de Jeremias 31.
17. Conheciam com profundidade a doutrina de Isaías do “restante” de
Israel. Criam que o Israel endurecido e claudicante não seria salvo,
mas apenas um restante que havia sido qualificado por Deus.
18. Reconheciam suas limitações para praticar o bem e, por isso,
confiavam na força de Deus.
19. Seus banhos rituais os ajudavam a se purificar e agradar a Deus.
20. Esperavam dois messias: um para o grupo de Arão, e outro para o
grupo de Israel.
21. Acreditavam em anjos.
22. Aceitavam a ressurreição e vida além-túmulo.
23. Em doutrinas, seguiam fielmente a linha do Antigo Testamento.
Herodianos
Os herodianos eram um partido mais político que religioso. Eram um com
os saduceus em religião, divergindo apenas em um ou outro ponto político.
Assim, em Mateus 16.6, Jesus previne os discípulos contra o fermento dos
saduceus; em Marcos 8.15, no mesmo episódio, os herodianos são
incluídos.
Essa seita nasceu com Herodes, o Grande. Para identificá-la, basta-
nos recordar a política de Herodes.
Jerônimo, Tertuliano, Epifânio, Crisóstomo, Teófilo e outros admitem que
os herodianos apareceram devido à crença de alguns judeus em acreditar
que Herodes, o Grande, fosse o Messias. Até hoje essa teoria não foi
provada. Se esse grupo de judeus achou que Herodes era o Messias e o
adorou, uma vez morto o idumeu, não haveria razão para continuar a seita.
Outra teoria defende que os herodianos constituíram uma fraternidade
em honra de Herodes, como em Roma se fazia ao imperador. Essa praxe
em Roma, no entanto, só começou com Augusto, após a morte de
Herodes.
Em Marcos 8.15, Jesus preveniu seus discípulos contra o “fermento dos
fariseus” (hipocrisia) e o “fermento de Herodes” (extorsão, crime, injustiça,
violação).
Zelotes
Josefo diz que os zelotes descendem de Judas de Gâmala, que incitou os
judeus a uma revolta contra Roma, na ocasião de taxar os impostos em 6
d.C.2
O nome “zelotes” foi dado pelo seu fanatismo em observar a Lei de
Moisés. Achavam que essa Lei devia ser guardada mesmo à custa de
espada. Depois ganharam o nome de “sicários”, que deriva de “sica”, uma
arma romana. Deram-lhes esse nome em virtude do formato da arma que
usavam em defesa da Lei mosaica.
Em termos doutrinários, os zelotes se igualavam aos conceituados
fariseus. Destes distinguiam-se pelo acentuado amor à liberdade e o
desprezo à própria vida. Não pagavam absolutamente tributo a César.
Quando Arquelau foi exilado, a Judeia foi anexada à Província Romana
da Síria. Quirino governava essa Província (Lc 2.2) e mandou recensear o
povo da Judeia, para cobrar os impostos. Judas de Gâmala e um fariseu
Zaduc levaram o povo a resistir aos romanos dizendo que pagar-lhes
tributo era um sacrilégio e repugnante à Lei de Moisés. Muitos judeus se
juntaram a eles e pereceram conforme lemos em Atos 5.37.
Embora Jesus tivesse um apóstolo, Simão, que pertenceu ao grupo dos
zelotes (Mt 10.1-4; Mc 3.13-19; Lc 6.12-16), ele nunca apoiou esse
movimento radical. Ao contrário, ele disse e fez coisas inaceitáveis aos
zelotes, como pagar impostos e ensinar a submissão aos governantes.
Grupos à margem entre os judeus
Publicanos
Eles não formavam nem um partido político nem muito menos religioso.
Antes, eram uma classe imposta pelos dominadores romanos não só na
Palestina, mas em todas as províncias do grande império. Archibald T.
Robertson afirma: “Os romanos empregavam uma classe de homens
chamados publicanos (empregados públicos = publicani) para lhes
coletarem os impostos”.
Os publicanos, pela natureza de seu trabalho, eram odiados por todos onde
arrecadavam os impostos, principalmente na Palestina. Eram igualados a
pecadores e prostitutas (Mt 9.10s; 21.31; Mc 2.15; Lc 5.30; 7.34 e 15.1).
Samaritanos
Trata-se de uma classe odiada pelos judeus mais do que propriamente uma
seita.
Salmanazar IV, rei da Assíria, sitiou Samaria. O cerco durou 10 anos. Ele
morreu e não viu Israel destruído. Seu sucessor, Sargão II, completou a
obra de seu antecessor. Como já foi dito, os assírios dispersavam os povos
conquistados. Foi assim que Sargão levou para a Média, a Pérsia e outras
regiões, os judeus do norte, e para Samaria levou povo estrangeiro. Quando
os estrangeiros se acharam na terra, foram atacados por feras, e os
remanescentes samaritanos, velhos, aleijados etc., disseram-lhes que aquilo
lhes acontecia porque não temiam o Senhor. O Antigo Testamento nos
apresenta com clareza o quadro do desespero em que os estrangeiros se
encontravam em Samaria (leia 2Rs 17.24-41).
Quando o reino do sul foi levado para Babilônia por Nabucodonosor, os
samaritanos, esse povo misto — em raça, religião, costume e língua —,
tiveram certa liberdade em Jerusalém e na Judeia. Essa liberdade
continuou durante o poderio caldeu. Quando Ciro tomou Babilônia,
permitiu que os judeus voltassem para Jerusalém, e seus sucessores
ordenaram a reconstrução do templo e dos muros da Cidade Santa. Isso
despertou ciúmes nos samaritanos que, na pessoa de Sambalá e Geshem,
quiseram impedir a obra dos judeus (Ne 4; 6). Os judeus não se
comunicavam com os samaritanos antes do exílio babilônico por eles
serem gentios; agora, no tempo de Neemias, acentuou-se profundamente a
rivalidade entre eles por causa da reconstrução de Jerusalém.
A rivalidade aumentou quando Esdras admoestou os sacerdotes a
deixarem as mulheres estrangeiras (Ed 9; 10). Muitos deles não aceitaram
o conselho de Esdras. Um desses sacerdotes era genro de Sambalá. Não
querendo repudiar a esposa, foi abrigar-se em Samaria. Seu sogro
prometeu construir um templo em Gerizim, e ele seria não mero sacerdote,
mas sumo sacerdote. Aceitou a proposta. O templo foi construído e ele
investido na nova função.
O Novo Testamento mostra o efeito da antiga divergência entre os dois
povos. Ambos criam no Messias que havia de vir e aceitavam as mesmas
Escrituras (ainda que os samaritanos só aceitassem o Pentateuco). Ou seja,
eles tinham a mesma esperança, mas não se comunicavam. Paulo, o
grande intérprete de Cristo, declara que a cruz de Jesus “derrubou o muro
da separação” entre judeus e gentios (Ef 2.11-22).

Instituições judaicas
As principais instituições dos judeus nos dias de Jesus eram o templo, a
sinagoga e o Sinédrio. O que eram e o que significavam nos dias do
Senhor refletem a influência do Período Interbíblico.
O templo
Vale a pena reproduzir ipsis litteris a exposição sobre o templo
de Jerusalém apresentada pelo especialista Archibald Thomas
Robertson (1863-1934):

O templo de Jerusalém era a coroa da glória de Israel, e não meramente de


Jerusalém. Situado no monte Moriá, dominava a cidade. O edifício foi
construído por Salomão e destruído por Nabucodonosor. O segundo
templo foi erguido por Zorobabel e permaneceu até o tempo de Herodes, o
Grande. Este edifício, terceiro templo, começou sua construção no ano 19
a.C. No ano 70, este terceiro templo foi destruído por Tito. Os judeus eram
tão ciosos do templo (segundo) que não consentiram que Herodes o
derrubasse de uma vez para construir outro; aqui jaz a razão dele ser
derrubado aos poucos, e do outro templo (terceiro) se construir por partes,
de modo que, por ocasião da Páscoa do ano 26 a.C. o trabalho se fazia há
46 anos (João 2.20). O santuário incluía o lugar Santo e o lugar
Santíssimo, segundo o modelo do tabernáculo; era imediatamente
circundado pela corte dos judeus, que por sua vez, mais embaixo, era
circundado pela corte das mulheres e finalmente esta, mais em baixo, era
circundada pela corte dos gentios. A torre Antônia, no canto noroeste, era
ocupada por soldados romanos. Os muros do oriente davam frente para o
vale de Josafá, e ao sul para o vale de Hinon (Gehenna), onde se
queimavam os detritos da cidade. As grandes festas atraíam multidões à
cidade, e a adoração centralizava-se no templo. As horas de culto eram às
9, 12 e 15. Os sacerdotes serviam por turmas, e observava-se um elaborado
ritual de sacrifícios. Havia sacrifícios pelos pecados de omissão e de
comissão, para os ricos e para os pobres. Na corte dos gentios havia lugar
para venda de ovelhas e pombas, e cambiadores de dinheiro, para atender
os judeus da dispersão. A vida religiosa e social dos judeus centralizava-se
neste templo maravilhoso e cheio de glória. Os judeus tinham como uma
realidade incontestável a manifestação do Senhor no Propiciatório. Só o
sumo sacerdote podia penetrar no lugar Santíssimo, e só uma vez por ano.1

Os judeus que se orgulhavam do seu templo construído por Herodes, o


Grande, tinham razão, porque era majestoso. Josefo diz que “Herodes
construíra o santuário do templo com pedras brancas e fortes”.
Sinagoga
O nome é essencialmente grego: sinagogê. Ocorre uma só vez no Antigo
Testamento, em Salmos 74.8.
É o hebraico mo’edh. Nem todas as traduções vertem o mo’edh por
“sinagoga”. Algumas traduzem por “lugares santos”, “santuários”,
“lugares sagrados”, “casas de Deus” etc. A Almeida Corrigida (IBB) verte
por “sinagoga”.5 No Novo Testamento, a palavra aparece quase 70 vezes.
O correspondente hebraico é keneseth, como em Êxodo
12.3 e dezenas de outras referências, sempre traduzido por
“congregação”. A Septuaginta e as versões no grego moderno vertem
keneseth por sinagogê. O sentido básico é um lugar de reunião, e dessa
maneira veio a denotar o lugar de adoração dos judeus. Nas Escrituras,
trata-se da reunião de indivíduos de uma localidade com o fim de adorar
ou de fazer alguma coisa em comum (Lc 12.11; 21.12). O termo acabou
designando o edifício onde tais reuniões eram efetuadas.6
Em Ezequiel 11.16, lemos a significativa Palavra de Deus: “Embora os
tenha mandado para longe entre as nações e os tenha espalhado pelas
terras, eu lhes servirei de santuário por um pouco de tempo, nas terras
para onde foram”. A sinagoga foi a instituição que realmente imprimiu
caráter à fé judaica. Nela o judeu aprendeu a ler e a interpretar a Lei. No
exílio, longe da pátria querida, da suspirada Jerusalém (Sl 137), sem o
templo com seus complicados sacrifícios, os judeus se voltaram para algo
que lhes serviu de compensação: a Torá. A. Manes escreveu:
Nos sábados e dias santos a perda do templo e a ausência das celebrações
sacrificiais solenes eram grandemente sentidas pelos exilados... a
sinagoga... servia como substituto do templo. Na sinagoga não havia altar,
e a oração e a leitura da Torah tomavam o lugar do sacrifício. Além disso, a
casa de oração realizava uma importante função social... era ponto de
reunião onde o povo podia congregar-se sempre que fosse necessário
aconselhar-se sobre importantes negócios da comunidade. A sinagoga se
tornou berço de um tipo inteiramente novo de vida social e religiosa,
estabeleceu o alicerce para uma comunidade religiosa de escopo universal.
Pela primeira vez o monoteísmo judaico se emancipou, na prática religiosa,
de suas peias a um local específico designado. Deus agora era levado ao
povo onde quer que ele habitasse.
Sinédrio
Termo que vem do grego sinagogê megále, ou seja, “a grande sinagoga”.
Palavra aramaicizada por empréstimo do grego sinédrion, que vem a ser
“concílio”. Aparece também gerousía, que quer dizer “senado”. O termo
sinédrion foi usado no Talmude na forma hebraica sanhedrin. Tanto antes,
como depois de Cristo, designava o mais alto tribunal de justiça dos
judeus. Reunia-se em Jerusalém. Por extensão, refere-se a outros tribunais
de menor importância. Parece-nos que a palavra foi usada na Grécia e em
Roma. Josefo emprega pela primeira vez o termo referindo-se à
convocação que o jovem Herodes recebeu pelos abusos que cometera.
Alguns acham a semente do sinédrio nos 70 anciãos que Moisés designou
em Números 11.16-24; outros veem o berço do sinédrio na sinagogê
megále, que Esdras e Neemias organizaram após o exílio (Ed 7.25,26;
10.14; 5.5-9; 6.7-14; 10.8; Ne 2.16; 4.14-19; 5.7; 7.5). Em 1Macabeus
12.3-6 e 14.30 registra-se um tribunal judaico que tinha contato com
Antíoco, o Grande. Esse corpo da judicatura era constituído de anciãos e
representava a nação. Eram escolhidos dentre a aristocracia (veja também
2Macabeus 1.10; 4.44; 11.27). Esse concílio, nas Guerras Macabeias, se
aliou a Jônatas para fazer aliança com Esparta (1Macabeus 12.5); esse
mesmo concílio aconselhou a construção de fortalezas na Judeia
(1Macabeus 12.35; 13.36; 14.30,28,47). Com Gabino, os poderes do
sinédrio foram limitados; sob os “procuradores”, porém, bastantes
extensos. Chegavam até a Diáspora (At 9.2; 22.5; 26.12). No tempo de
Arquelau, o poder do sinédrio limitou-se à Judeia. Não teve poder sobre
Jesus, enquanto esteve na Galileia. Depois da destruição de Jerusalém em
70 d.C., o sinédrio foi substituído pelo Beth Din (tribunal de julgamento),
que se reunia: em Jabné (68-70), em Usah (80-116), em Safra (140-163),
em Seforis (163-193) e em Tiberíades (193-220).
O Sinédrio era inicialmente constituído pela aristocracia sacerdotal,
predominantemente de saduceus. No tempo da rainha Alexandra (76-67
a.C.), fariseus e escribas foram acrescentados. Herodes favoreceu os
fariseus em detrimento dos saduceus. Nos dias do Novo Testamento, o
sinédrio era constituído do sumo sacerdote, bem como daqueles que já
haviam exercido esse cargo, os anciãos (gente importante da sociedade) e
alguns sacerdotes; também escribas, homens versadíssimos na Torá, e, por
último, fariseus e saduceus (Mt 26.3,57,59; Mc 14.53; 15.1; Lc 22.66; At
4.1,5; 5.17,21,34; 22.30; 26.6).
Os membros do Sinédrio eram bouletês (conselheiros), como José de
Arimateia (Mc 15.43; Lc 23.50). O sumo sacerdote em exercício era o
presidente do Sinédrio. Nessa condição, Caifás presidiu o julgamento de
Paulo (At 23.2). Nos dias do Senhor Jesus, o poder jurisdicional do
Sinédrio era grande. Abrangia as áreas civil e criminal. O Sinédrio tinha
autoridade administrativa e podia ordenar prisões (Mt 26.47; Mc 14.43; At
4.1; 5.17; 9.2). Podia julgar casos, excetuando-se de pena capital (At 4—
5). Penas de morte precisavam de sanção romana (Jo 18.31). O procurador
romano autorizou em caráter permanente o Sinédrio a aplicar pena capital a
todo gentio que ultrapassasse a barreira que dividia o átrio do templo do
átrio dos gentios. O único caso de pena de morte aplicado pelo Sinédrio foi
o de Jesus. O de Estevão parece-nos tratar de um ato ilegal da multidão. Ao
Sinédrio competia pregar na área civil e religiosa.

AULA 3 - O LIVRO DE MATEUS


Autor
Hoje em dia é discutível a identificação do Evangelho de Mateus com o
coletor de impostos que é relatado no próprio evangelho de Mateus, bem
como por Marcos e Lucas (Mt 9,9 || Mc 2,13-14; Lc 5,27-28).
O estudioso Wilfrid Harrington aborda esta questão trazendo
informação e questionamento sobre o possível autor deste
evangelho:
A tradição unânime da igreja primitiva é de que Mateus, um dos Doze, foi
o primeiro dos quatro evangelistas a escrever um evangelho, e que ele
escreveu em aramaico. Todavia, o evangelho de Mateus, como nos chegou
às mãos no Novo Testamento, foi escrito em grego; não é uma tradução. A
relação entre o tradicional escrito aramaico e o evangelho posterior é
obscura. Mateus pode ter sido o autor da obra aramaica; é-nos impossível
dar o nome do autor do evangelho grego. Por questão de conveniência ele
continua a ser, em nossas referências, o evangelho de Mateus.”

Data de redação
A data de redação do Evangelho Segundo Mateus é fixada pela maioria
dos estudiosos por volta dos anos 80 d.C. até 90 d.C. baseando-se no
interesse do autor em salientar uma estrutura de vida eclesial, o que deve
levar a estes anos aproximados indicando uma data relativamente tardia.
Destinatários
A análise do texto de Mateus autoriza a afirmação de que o texto foi
escrito para uma comunidade de origem judaica pois é uso comum
numerosas citações e correlações com os textos da Tanak (a Bíblia
Hebraica, que é composta por três partes distintas: a Torá (Lei), os Nebiim
(Profetas) e o Ktuvim (Escritos).
A maioria dos estudiosos, baseando-se na data de composição, coloca
como local provável de redação a cidade de Antioquia, ainda que São
Jerônimo
(347-420 d.C.) defenda a idéia de local de composição a Palestina tendo
em vista os destinatários.
Alguns Aspectos Literários
Mateus insere Jesus em conexão com a História de Israel, para isso
usa de alguns

artifícios:
Genealogia
Com a finalidade de mostrar Jesus conexo com a história do povo hebreu
a genealogia de Mateus fala claramente que Jesus é Filho de Davi e de
Abraão (patriarca de Israel) passando a narrar a genealogia (Mt 1,1-17).
Jesus, novo Moisés
Para os judeus a parte principal da Escritura Hebraica é a Torá, que tem
por autor o próprio Moisés. Mateus coloca assim a atividade de Jesus
em 10 partes que contém 5 discursos e 5 narrativas, salientando que
Jesus é “o novo Moisés”.
- INTRODUÇÃO (1-2) – Cunho masculino com destaque para a figura de
José;
1 – NARRATIVA (3-4)
2 – DISCURSO (5-7) – O Sermão da

Montanha; 3 – NARRATIVA (8-9) – 10

milagres;

4 – DISCURSO (10) – Missionário


5 – NARRATIVA (11-12) – Jesus é rejeitado
por Israel; 6 – DISCURSO (13) – As parábolas
do Reino;
7 – NARRATIVA (14-17) – Fundamentos da Igreja, com destaque
para 16,13-26. 8 – DISCURSO (18) – O chamado “Discurso
Eclesiológico”;
9 – NARRATIVA (19-23) – A crítica aos grupos judaicos;
10 – DISCURSO (24-25) – Temática do discurso é escatológico;
- EPÍLOGO (26-28) - A Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Neste paralelismo entre Moisés e Jesus, Mateus coloca no relato da
infância a ameaça de morte que Jesus também sofre, a ida para o Egito, e o
retorno no tempo oportuno (Mt 2,13-23)
Jesus, A Lei e os Profetas
Mateus valoriza o texto bíblico hebraico mencionando que Jesus
não vem revoga-lo (Mt 5,17), mas dar pleno cumprimento dele.
Jesus: o Deus conosco
Mateus utiliza referencias escrituristicas judaicas, por exemplo Is 7,14,
falando que Jesus é o Emanuel – Deus Conosco (Mt 1,23).
O Reino dos Céus
Aquilo que os outros evangelistas chamam de “Reino de Deus”, em
Mateus é chamado de “Reino dos Céus”, obedecendo o costume judaico-
religioso de não pronunciar, nem utilizar o nome de Deus, que é sagrado e
não pode ser pronunciado de maneira alguma. INFÂNCIA – 3
MOMENTOS:
A “Eklesia”
De todos os evangelista somente Mateus é quem usa o termo grego
“eklesia” (Mt 16,18; 18,17) para se referir á comunidade dos
seguidores de Jesus – a Igreja.
Assim, o Evangelho segundo Mateus é o que utiliza maiores elementos
semitas tendo em vista anunciar “o evento Jesus Cristo”. Este artifício
quer dar autoridade perante os judeus e entre aqueles recém convertidos
oriundos do judaísmo.

AULA 3 – MARCOS
Até o século XIX o Evangelho segundo Marcos estava no
esquecimento, um pouco deixado de lado. Os Padres da Igreja não
tecem nenhum comentário sobre o Evangelho segundo Marcos.
Em 1943 com a “Divino Afflante Spirito” o Evangelho Segundo Marcos
toma sua importância. Pode-se formular uma pergunta: quais são as
razões para este aparente “esquecimento” do Evangelho de Marcos?
As razões são as seguintes:
Pensava-se que o Evangelho de Marcos era uma síntese das atividades de
Pedro, pois Pedro é uma figura com bastante destaque neste Evangelho,
sendo descrito como uma pessoa sem mácula, é mostrado em Marcos
como uma pessoa ideal.
Até o Concílio Vaticano II acreditava-se que o Evangelho segundo
Marcos era uma síntese do Evangelho segundo Mateus, e até este Concílio
não se tinha a divisão das leituras dos Evangelhos nas liturgias dominicais
como temos no presente (ano A, B e C)
A posição atual:
Hoje se sabe que o Evangelho segundo Marcos é o Evangelho mais
antigo, foi o primeiro a ser escrito e é o mais próximo do Jesus
“histórico”.
Os escritos de Marcos serviram de fonte para os Evangelhos segundo Mateus
e Lucas.
Autor
O autor do evangelho sinótico mais primitivo é identificado pelo nome de
Marcos que tem inúmeras citações nos Evangelhos e no livro dos Atos dos
Apóstolos. Assim temos:
- At 12,12: identifica Marcos com o cognome de João Marcos;
- At 15,37 e Cl 4,10: Marcos – ou João Marcos – primo de Barnabé;

- Mc 14,51-52: aparece um relato único em que fala de um jovem que foge nu


após
uma tentativa de prisão (?), deixando para trás um lençol que o
envolvia; “muitos comentadores entenderam que este jovem é o
próprio evangelista.”
Data
O evangelho de Marcos é o mais primitivo e sua redação deve ter ocorrido
por volta do ano de 65 d.C. aproximadamente, e provavelmente em Roma,
pois utiliza muitas expressões latinas, chegando mesmo a nomear uma
moeda de uso corrente em Roma (Mc 12,42: “quadrante”).
Destinatários
É unânime que os destinatários do escrito de Marcos deve ter sido a
comunidade de Roma devido aos inúmeros latinismos utilizados.

Alguns aspectos literários


Dentre as características do Evangelho de Marcos destacam-se:
- é o relato que tem a linguagem mais simples dos demais evangelhos;
- Marcos utiliza poucas expressões ou vocábulos da língua hebraica, e
quando usa procura
explicar seus significados em virtude da compreensão de seus
destinatários (Mc 3,17;

5,41; 7,34; ...);


- também tendo em vista seus destinatários Marcos usa poucas
citações do Antigo
Testamento e procura amenizar a relação com

os judeus; - etc.

Humanidade de Jesus
O Evangelho de Marcos tem como finalidade principal mostrar Jesus
como o Filho de
Deus (Mc 1,1; 15,39), mas é o evangelho que salienta com mais ênfase a
natureza humana de Jesus. Assim, podemos verificar uma série de
sentimentos humanos de Jesus que Marcos salienta:
- Mc 6,34: “Assim que ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou
tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor.”
- Mc 7,34: “Depois, os olhos para o céu, gemeu, e disse: ‘Effatha’ que quer
dizer ‘Abre-te’ “.;
- Mc 10,21: “Fitando-o, Jesus o amou e disse: ‘Uma só coisa te falta: vai,
vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e
segue-me’ “.;
- Mc 11,15: “(...) E entrando no Templo, ele começou a expulsar os
vendedores e os compradores que lá estavam...”;
- Mc 14,33: “E, levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a
apavorar-se e a angustiar-se”.;
- etc.

O segredo messiânico
É singular do texto evangélico de Marcos a temática do “segredo
messiânico”; este tema não é abordado por nenhum dos outros
evangelistas. No que consiste este segredo?
Após cada ação de Jesus, nos milagres, ele recomenda às pessoas que vão
se apresentar aos sacerdotes, que eram as pessoas que deveriam atestar a
cura, mas proíbe que revelem que foi ele o autor de tal feito. Até mesmo
quando Jesus expulsa demônios (Mc 1,25.34; 3,11s), os proíbe de revelar
sua identidade divino-messiânica.
A explicação para esta recomendação é a seguinte: no conceito e
mentalidade da época a palavra messias, tinha também a conotação de um
“ungido” de Deus para efetuar a libertação do jugo romano, dando um
caráter político-social para a messianidade de Jesus. Além disto, os
contemporâneos de Jesus, incluindo seus adeptos não entendiam que
Jesus deveria sofrer a morte na cruz, causando assim confusão. Ora, que
messias é este que sofrerá e morrerá na cruz? A reflexão final só é
elaborada e compreendida após a experiência da ressurreição de Jesus.

Aparições de Jesus Ressuscitado


O trecho final do Evangelho segundo Marcos – Mc 16,9-20 – apresenta
certa dificuldade quanto a autoria atribuída à Marcos. Este bloco é um
texto composto posteriormente ao corpo do referido evangelho, tendo sua
datação aproximada por volta do ano 150 d.C.. Trata-se de um acréscimo
que podemos classifica-lo como epílogo do texto.
A Bíblia de Jerusalém, no início da nota explicativa para este trecho
aborda esta questão:
“O trecho final de Mc (vv. 9-20) faz parte das Escrituras inspiradas; é tido
como canônico. Isso não significa necessariamente que foi escrito por Mc.
De fato, põe-se em dúvida que esse trecho pertença à redação do segundo
evangelho. (...)”.
A temática deste epílogo é um resumo sobre as aparições de Jesus
ressuscitado que estão nos outros evangelhos canônicos. Desta forma
temos as seguintes relações:
- Mc 16,9-10 || Jo 20, 11-18: aparição a Maria Madalena;
- Mc 16,11-12 || Lc 24,13-35: aparição aos Discípulos de Emaús;
- Mc 16,14 || Jo 20,19s: aparição aos Onze e demais Discípulos;
- Mc 16,15 || Mt 28,18-20: aparição aos Onze na Galiléia;
- Mc 16,19 || Lc 24,50-53: ascensão de Jesus.

AULA 5 - LUCAS
Autor
Há algumas idéias sobre o autor do terceiro evangelho canônico.
É certo pelos exegetas que o autor do terceiro evangelho – Lucas – não fez
parte do grupo dos Doze Apóstolos. Outros exegetas propõem a idéia de
que Lucas possa ter feito parte do grupo dos setenta e dois discípulos
enviados em missão (Lc
10,1-20). Admitindo-se esta hipótese há um problema que não pode ser
desprezado: o evangelista Lucas não identifica nenhum dos setenta e dois
discípulos. O relato da missão dos setenta e dois discípulos foi colocado
para salientar a característica da universalidade de seu evangelho. Lucas é
mencionado nas viagens do Apóstolo Paulo – a partir da segunda viagem –
e aparece como uma espécie de “secretário”
do Apóstolo dos Gentios (At 15, etc.). “Lucas aparece como amigo e
companheiro de Paulo em Cl 4,14; 2Tm 4,11; Fm 24”.
É comum a idéia de que Lucas tenha sido médico e esta informação pode
ser corroborada verificando-se os relatos de milagres em que Lucas dá
detalhes sobre as doenças quando ocorrem os milagres.
Uma antiga tradição oriental afirma que Lucas teria sido pintor e que foi
o primeiro a retratar o rosto de Nossa Senhora. Tal afirmativa é de difícil
comprovação.
O. que é certo é que Lucas pode ter consultado a própria Mãe de Jesus
para compilar seus relatos da infância, ou mesmo ter se servido de uma
tradição oral que já existia.
O Evangelho Segundo Lucas é o único caso no Novo Testamento em que
se tem dois Livros com um só autor: tanto o Terceiro Evangelho
Canônico e o Livro dos Atos dos Apóstolos atribui-se a compilação a
Lucas.
Fácil verificar esta ligação, pois o final do Evangelho Segundo Lucas é igual
ao
inicio do livro dos Atos dos Apóstolos (Lc 24,51 || At 1,9.12), além dos dois
relatos se dirigirem inicialmente ao mesmo destinatário, identificado como
“Teófilo” (Lc 1,3 || At 1,1). Trata-se de dois escritos interligados em que se
tem uma
só obra em dois volumes e não é possível entender plenamente um livro
prescindindo do outro.

O Evangelho Segundo Lucas tem características próprias de uma


cultura helenista (estilo, mentalidade, cultura, vocabulário, gramática,
etc.).
Data de redação
A fixação de datas para a composição dos textos bíblicos é sempre um
problema sério, pois não é possível precisar a gênese dos escritos, podendo
somente ser atribuídas datas aproximadas. O relato de Lucas não foge a
regra geral e é estimada a composição “nas proximidades do ano 80 d.C. –
se foi composto antes ou depois desta data, isso é impossível determinar.”.

Destinatários
Os destinatários do relato de Lucas são certamente os gentios. Por conta do
publico alvo Lucas evita, coerentemente, muitos temas ou assuntos que
poderiam parecer, de modo excessivo, especificamente judaicos.

Exclusividade de Lucas
Encontramos em Lucas uma série de narrativas importantíssimas e
que só aparecem neste
Evangelho:
- a visita de Maria para Isabel e o “Magnificat”: Lc 1,39 – 56;

- a apresentação de Jesus no Lc 2, 22 – 24;


Templo:

- a missão dos setenta e dois Lc 10,1;


discípulos:

- a parábola do bom Lc 10,29 – 37;


samaritano:

- a parábola do filho Lc 15,11 – 32;


pródigo:

- a parábola do fariseu e o Lc 18,9 – 13;


publicano:

- visita a Lc 19,1 – 10;


Zaqueu:

- os discípulos de
Emaús:
Lc 24,13 – 35;

É próprio ainda de Lucas as temáticas teológicas:


- da misericórdia;
- da ênfase do feminino, salientando o protagonismo da mulher;
- do universalismo da salvação;
- da ênfase pneumatológica (do Espírito Santo);
- da oração;

De todo o material presente no texto lucano, quase a metade, é exclusivo


de Lucas, não aparecendo nos outros evangelhos (Sinóticos e João). Algo
bastante particular no evangelho lucano é o itinerário que Jesus faz da
Galiléia até Jerusalém ocorrendo uma caminhada dinâmica e crescente que
começa na Galiléia, se desenvolve aos poucos neste caminho para
Jerusalém até eclodir na capital Jerusalém.
Alguns aspectos literários:
Cada escritor tem sempre uma forma própria de escrever, um estilo
próprio e inconfundível.
O evangelista Lucas, ao escrever seu relato para os gentios – gregos
que se converteram ao cristianismo –– utiliza uma linguagem própria
destes, e para estes, destinatários. São Jerônimo afirma que o idioma
utilizado por Lucas – o grego – é o mais bonito de todo Novo
Testamento.
Tendo em vista os destinatários de sua mensagem pode-se destacar em
Lucas:

História Bíblica e História Universal


Lucas insere a história bíblica dentro da história universal, ou seja,
coloca dados da história da humanidade junto com seus relatos
neotestamentários. Por exemplo:
Lc 1,5: cita o rei Herodes da Judéia quando fala de Zacarias e Isabel
na ocasião do anúncio do nascimento de João Batista;
Lc 2,1 – 2: menciona o nome do Imperador Romano e do governador da
Síria – Cesar Augusto e Quirino, respectivamente – falando do
recenseamento em que José vai até a cidade de Belém.
Lc 3,1 – 2: elenca vários governantes (imperador Tibério César, Pôncio
Pilatos, Herodes, Filipe, Lisânias, Anás e Caifás) quando relata o início
da pregação de João Batista.
Atitudes opostas
O Evangelista Lucas coloca em seu texto relatos em que une atitudes
opostas entre pessoas:
- Lc 10,38 – 42: Marta e Maria;
- Lc 18,9:O fariseu e o publicano;
- Lc 23,39:Os dois ladrões crucificados com Jesus;
- Lc 17,11:O relato da cura dos 10 leprosos;
- Lc 7,36:A pecadora e o fariseu.
Expectativa ou curiosidade
Lucas deixa o seu leitor na curiosidade / expectativa para saber a resposta
de um tema proposto anteriormente e que a explicação, ou solução,
encontra-se em outra parte de seu evangelho:
- Lc 1,80: O dia da manifestação de João Batista a Israel está contemplado em
Lc 3,1
– 20 quando fala da prisão do próprio Batista;
- Lc 3,19 – 20: O que aconteceu com o Batista está explicado em Lc
9,9 (a morte

por decapitação);
- Lc 4,13: O diabo deixa Jesus para aparecer futuramente em Lc 22,3,

quando satanás entra em Judas;


AULA 6 – SINOTICISMO
A palavra sinótico é utilizada para se referir aos Evangelhos Segundo
Marcos, Mateus e Lucas, onde se encontra grande semelhança – daí o
uso deste termo grego. Mas, desde quando é utilizado tal termo para
estes Evangelhos?
Benito Marconcini, em seu livro “Os Evangelhos Sinóticos – Formaçao,
Redação e Teologia”, esclarece:
“O nome ‘sinótico’ foi dado aos escritos dos três primeiros evangelhos
pelo pesquisador alemão J. J. Griesbach, em sua obra Synopsis
evangeliorum [Sinopse dos evangelhos], publicada em Halle, em 1776.
com efeito, Mateus, Marcos e Lucas têm semelhanças e diferenças, a
ponto de se tornar possível imprimi-los em três colunas e com uma visão
simultânea (syn – hopsis) verificar concordâncias e divergências”.

Desta forma temos uma visão conjunta dos três evangelhos, uma
visão simultânea (syn + hopsissyn + hopsissyn + hopsissyn + hopsis
= syn-hopsis).
A "equação" grega esta dizendo :

Juntos + (juntando a visão de) Mateus + (junto com a visão de) Marcos +
(com a visão de)Lucas + visão = Formam os Sinóticos, ou seja, os livros
Mateus Marcos e Lucas estão “dentro" da palavra SINÓTICO.

Sinóticos – semelhanças
Verifica-se assim que Marcos, Mateus e Lucas têm basicamente uma
mesma estrutura, cronologia e geografia.
Há grandes semelhanças e podemos destacar blocos distintos de capítulos
para o início da vida pública de Jesus após o batismo, para o ministério de
Jesus na Galiléia, para o itinerário que Jesus fez da Galiléia até Jerusalém
e a atividade de Jesus na própria Jerusalém.
Assim temos:
!

Assim observamos no quadro acima que Mateus e Marcos dão grande


destaque para a atividade de Jesus na Galiléia e que Lucas, por sua vez,
destaca a caminhada de Jesus que parte da Galiléia até chegar em
Jerusalém. A teologia lucana é voltada toda para Jerusalém.

Sinóticos - diferenças
Conforme supra citado, encontram-se diferenças em blocos semelhantes
nos três evangelistas sinóticos, por exemplo:
- Os relatos da infância: Marcos não tem; Mateus narra dentro de uma
perspectiva masculina, dando ênfase ao papel de José; Lucas faz seu
relato dentro de uma perspectiva feminina salientando a figura de Maria.
- As bem-aventuranças: Marcos não tem; Mateus relata oito bem-
aventuranças (Mt
5,1-12); Lucas menciona apenas quatro bem-aventuranças (Lc 6,20-23).
- Genealogia: Mateus remete até Abraão fazendo três grupos de 14
gerações (Mt 1,1-17); Lucas relaciona setenta e sete nomes chegando até
Adão (Lc 3,20-38).
- Jesus ressuscitado: Marcos e Mateus na Galiléia ao passo que
Lucas em Jerusalém.
- Parábolas da misericórdia: somente em Lucas (Lc 15).
Devido às datas de composições de seus evangelhos também fica
patente a diferença quanto ao número de versículos que cada
evangelho sinótico contém:
- Marcos totaliza 678 versículos,
- Mateus totaliza 1.068 versículos;
- Lucas totaliza 1.149 versículos.
Quanto mais distante a data de composição de um escrito evangélico do
Jesus histórico, mais elaborado é este evangelho podendo observar um
desenvolvimento maior quanto a reflexão teológica dos acontecimentos
relatados.
Para determinar a posição histórica de João é necessário levantar uma
comparação entre os evangelhos sinóticos e o evangelho de João. Em
Observações ao texto de Rudolf Bultmann (Teologia do Novo Testamento)
em uma nota de roda pé aponta para a possibilidade de que o autor do
evangelho não seja necessariamente o autor das epístolas. Também
considera a possibilidade de que poderia ter sido fruto da escola de João.
Embora não possa demonstrar, Rudolf Bultmann acredita que João não
teria conhecido qualquer dos evangelhos sinóticos. Entretanto, “ele
conhece a tradição trabalhada neles” (pg.431). Evidências desse ponto são
percebidas em alguns ensinos de Jesus, alguns milagres e especialmente na
história da paixão.
PORQUE JOÃO NÃO PODE SER CONSIDERADO SINÓTICO?

Não é sinótico porque a temática é demonstrar a Divindade de Cristo, cf. Jo


1:1

Redação a partir de fontes em estágio avançado: Em relação a teologia


dos sinóticos, o relato dos milagres (em especial) parece ter sofrido um
desenvolvimento além do que
é relatado nos evangelhos sinóticos. O ponto de partida dessa informação
está no estilo da redação: Os milagres que eram narrados nos sinóticos
como fatos, em João tomam um sentido simbólico ou alegórico, sendo
que, tais fatos servem de ponto de partida para discursos ou discussões.
Essa estrutura literária traça um quadro totalmente diferente dos
encontrados nos relatos sinóticos.

Estrutura do relato das conversas e discursos de Jesus: Nos sinóticos


vemos breves diálogos “didáticos ou de controvérsia, nos quais Jesus dá a
resposta aos que tem perguntas honestas ou aos adversários com um breve
dito categórico”. Entretanto, João valoriza os discursos de Jesus com
discursos prolongados, que além de serem introduzidos por milagres (em
geral), são constituídos por afirmações paradoxais (aqui usei o termo
paradoxal em preferência ao termo usado por Rudolf Bultmann
“ambíguos”): nascido do alto (3.3), água vida (4.10) entre outros. Nos
sinóticos vemos ditos encadeados. Em João eles são exposições coesas
sobre determinados temas. Nesses discursos é possível perceber,
entretanto, a influência da tradição sinótica: 2.19; 4.44; 12.25ss; 13.16, 20;
15.20.

Temas diferentes dos tratados nos sinóticos: Em João Jesus não se


apresenta como Rabi (mestre da lei), interessado nas discussões sobre a
lei, nem como profeta que anuncia o Reino de Deus. Ele é, acima de tudo,
Aquele que fala de sua pessoa como do revelador que Deus enviou. Não
fala sobre assuntos “judaicos” por excelência como pureza, divórcio,
contra a justiça própria ou a inverdade, mas aponta para a natureza de sua
missão que traz paz ao mundo, e denuncia a falta de fé nele, como Aquele
que é o salvador do mundo. Mesmo em situações próximas as
testemunhadas nos sinóticos, como na acusação da transgressão do
mandamento do sábado (cp. 5 e 9), podemos perceber alguma diferença:
O foco. Nos sinóticos a discussão parece centrada na questão da lei e de
sua validade para o ser humano (Mc.2.23-3.6), que no evangelho de João
é centrada na autoridade de Jesus como Filho de Deus.

Ausência de Parábolas: Nos sinóticos a presença das parábolas é parte


integrante dos discursos, o que eventualmente constituem os discursos de
Jesus. Em João as parábolas faltam totalmente. Em contrapartida em João
temos grandes discursos figurados, como o do pastor (cp.10) e o da
videira (cp.15). Acredita-se que na “imagem simbólica,
apresentam Jesus como revelador. Eles pertencem ao grupo de palavras e
discursos que recebem seu caráter pelo ‘egõ eimi’ [EU SOU] do revelador,
e que não tem analogias nos sinóticos”.

Reestrutura do relato da paixão: Fato interessante nesse ponto é que


percebemos similares diferenças entre os sinóticos e o 4º. evangelho, pois
mesmo onde soam parecidos percebemos diferenças. Nos sinóticos
vemos na cena da ceia que antecede a prisão de Jesus, como a
oportunidade para instituir a celebração da ceia, mas no 4º. evangelho é o
início de grandes discursos de despedida que não tem ponto de
comparação nos sinóticos. “Os diálogos perante o sinédrio e Pilatos são
totalmente modificados, bem como o relato da crucificação, que termina
como o tete,lestai do revelador”.

Distinção do papel de João Batista: Nos sinóticos João Batista é o


pregador do arrependimento, enquanto em João é a testemunha a favor de
Jesus como Filho de Deus.

Distinções sobre a comunidade primitiva: Enquanto nos sinóticos


percebe-se alguma preocupação com o destino, problemas e a fé da
comunidade primitiva, em João não nota-se nada disso. As questões sobre
a validade da lei, a vinda do Reino de Deus não estão presentes. Não
parece mais atual o problema da missão aos gentios (compare Jo. 4.46-54
e Mt.8.5-18 e Lc.7.1-9). A história da mulher samaritana, que poderia ter
sido explorada do ponto de vista dos sinóticos (a validade da missão aos
gentios como parte legítima da obra de Cristo), foi apresentada como a
relação entre fé e milagre.

Distinção de ênfase no que se refere às profecias: O cumprimento das


profecias parece insignificante (em comparação com os sinóticos). Esse
assunto está presente apenas em 2.17; 12.142, 38, 40; 13.18; 15.25; 19.24,
36s. É possível que esteja presente também em 6.31, 45.

Foco geral: O foco sobre o qual é constituído o evangelho de João é a


situação atual da comunidade primitiva, cujo problema está na desavença
entre Judaísmo e Cristianismo e seu tema é a fé em Jesus como Filho de
Deus. Tal fato é claramente percebido pela própria apresentação de Jesus
como alguém já destituído da própria nacionalidade, pois fala da lei dos
judeus (“vossa lei”) como um estranho a ela (cf. 8.17; 10.34; 7.19, 22).
Não existe em João uma distinção clara entre tipo de judeus (pecadores,
publicanos, escriba pescadores) mas são tratados como judeus,
diferenciados somente entre judeus e líderes judeus, também distintos entre
principais sacerdotes ou fariseus, que são identificados como autoridades
públicas (7.45, 47s; 11.47, 57). “Além disso, para João os ‘judeus’ são os
representantes do ‘mundo’ por excelência, que nega a fé a Jesus”.
CADERNO DE PERGUNTAS

1. Leia Mt 1.1-17 e Lc 3.23-38. Qual a importância do “Livro da


Genealogia de Jesus Cristo”?

2. Como João Batista descreve o Messias? Mt 3.11-12; Mc 1.7-8, lc


3.15-18

O NASCIMENTO E INFÂNCIA DE JESUS CRISTO


3. Mt 1.18-25 Leia e responda:
a. A gravidez de Maria envolve elementos peculiares. Cite alguns deles? (vs
18)
b. Descreva o caráter de José (vs 19-24)

4. Quais foram os desafios de Cristo na sua infância? Mt 2:13-23, Lc


2:39-40
5. Por que precisou Jesus ser batizado por João?
6. Mt 4.1-11, Mc 1.12-13, Lc 4.1-13 A tentação no deserto.

a. Qual o propósito da tentação à Jesus no deserto?


b. b. Quais foram as 3 tentações do diabo no deserto e como Jesus venceu a
tentação?

O CHAMADO DOS DISCÍPULOS


7. Leia Mt 4.18-22, Mc 1.16-20 e Lc 5.1-11. Qual foi o chamado feito por
Jesus aos pescadores (qual era a importância dessa profissão segundo o
contexto da época) e explique por que esses homens, tão prontamente,
seguiram a Cristo?

8. Mesmo sendo esta uma passagem sinótica, somente Lucas relata a “pesca
maravilhosa”. Qual a importância desse relato de Lucas e qual foi o
impacto da atuação de Jesus na vida daqueles homens?

9. Mt 9.9-14, Mc 2.13-17 e Lc 5.27-32. O que significava ser um publicano e


qual foi a repercussão entre os fariseus e os escribas, por causa do
chamado de um publicano? Ler Mt 9.10-13, Mc 2.15-17 e Lc 5.29-32.?

10.Mt 10.1-4, Mc 3.13-19, Lc 6.12-16. Qual o nome dos doze discípulos e


suas origens (família, região e profissão)?

A CONTROVÉRSIA DO SÁBADO
Leia Mt 12.1-8, Mc 2.23-28 e Lc 6.1-5.
11. Por que os fariseus ficaram “escandalizados” com a atitude de Jesus e
seus discípulos?

12. Jesus quebrou a lei sabática? E por que Jesus cita o rei Davi para explicar
sua atitude?

13. Leia os capítulos de Mt 5-7 e Lc 6:17-49. Apesar da aparente diferença,


o que nos confirma que o trecho de Lucas é sinótico ao Sermão do
Monte de Mateus e qual a importância de Mateus ter entrada em leis e
questões civis e religiosas e Lucas não?

14. Lc 6.17. Por que Lucas diz que Jesus fez esse sermão num lugar plano, e
Mateus declara que foi num monte? E Qual a localização onde o sermão
do monte foi pregado? M 5:1; Lc 6:17

15. Como conciliamos a aparente contradição de Cristo no Sermão do


Monte nos textos Mt 7:1-5;Lc 6:37-42 e 7:16-20; Lc 6:43-45, sendo
que não podemos julgar, mas conheceremos as pessoas pelos
frutos?

16. Analise os textos Mt 8:1-4; Mc 1:40-42; Lc 5:12-13.


a) Qual era a situação do leproso diante do povo?
b) O que é demostrado por Jesus além do poder de curar enfermidades?
17. O que podemos entender nas passagens Mt 8:14-17; Mc 1:29-34; Lc
4:38-41 sobre os tipos de enfermidade que Jesus curou? E como isso se
aplica a nossa realidade hoje?
18. Como podemos aplicar em nossas vidas o acontecimento em Mt 8:23-27;
Mc 4:35-41; Lc 8:22-25?
19. Segundo Mt 9:1-8; Mc 2:1-12; Lc 5:17-26 qual foi o motivo do
escândalo para que os fariseus começassem a questionarem Jesus? E qual
ensinamento farisaico Jesus estava quebrando ali?
20. Que barreiras Jairo, um dos principais da sinagoga, precisou quebrar para
que se achegasse a Jesus? Mt 9:18-26; Mc 5:21-43; Lc 8:40-56
21. Explique a expressão “tua fé te salvou” que Jesus usou em Mt 9:19-22;
Mc 5:25-34; Lc 8:43-48.
22. O que o milagre da multiplicação de pães nos ensina sobre o compadecer
das almas? Mt 14:13-21; Mc 6:30-44; Lc 9:10-17.
PARÁBOLAS E ENSINAMENTOS
23. O que são parábolas e com qual objetivo Jesus as usava?
24. Quais as verdades que nos deparamos em Mt 9:36-38; Mc 6:7-13; Lc
10:2 ? E quais mandamentos Jesus nos deixou nessas passagens?
25. Qual o significado do reconhecimento que Pedro teve de Jesus e no que
isso implicava? Mt 16:13-20; Mc 8:27-30; Lc 9:18-22.
26. Que exigência Jesus nos deixou em Mt 16:24-25; Mc 8:34-35; Lc 9:23
-24 e 14:26-27? E o que isso implica na prática?
27. O que significa ser “GRANDE” no Reino de Deus? E o que Jesus está
nos ensinando ao afirmar que “...qualquer que receber uma criança, a
mim me recebe...”? Leia Mt 18:1-5; Mc 9:33-37; Lc 9:46-48 e também
Mt 20:20-28; Mc 10:35-45; Lc 22:25-27.
28. Leia atentamente Lc 16:18; Mc 10:10-12; Mt 19:1-9 e responda qual a
condição para se contrair novas núpcias? Leia também Rm 7:1-4; I Co
7:11,39; Mt 5:32
29. O que significa o Sinal de Jonas? Mt 12:38-45; Mc 8:11-12; Lc 11:
29-32.
30. Qual o ensinamento aprendemos no Parábola do Grão de Mostarda? Mt
13:31-32; Mc 4:30-32; Lc 13:18-19
31. Qual grande verdade aprendemos sobre o Reino de Deus na Parábola do
Fermento? Mt 13:33-35; Lc 13:20-21.
32. O que Jesus quis dizer com a expressão “Guardai do fermento dos
Fariseus”? Mt 16:5-12; Mc 8:14-21; Lc 12:1-3.
33. Leia Mt 19:16-30; Mc 10:17-31; Lc 18:18-30. Qual ensinamento Jesus
nos traz sobre as riquezas?
34. Qual foi o maior ensinamento de Jesus? Mt 22:34-40; Mc 12:28-34; Lc
10-25-37.
A PRISÃO DE JESUS
35. Qual a acusação que Jesus recebeu antes de ser preso? E o que significa?
Mt 26:57.
O JULGAMENTO DE JESUS
36. Explique a expressão "Tu o dizes" em Mc 15:2. Leia também Lc 22:70 e
Mt 26:64

37. Qual foi a expressão que fez com que o Sumo Sacerdote rasgasse sua
veste e condenasse Jesus à pena de morte? E por quê? Mc 14:61-64, Mt
26: 63-66 e Lc 22:67-71
38. Quais acusações Cristo recebe perante Pilatos? Lc 23:1-3, Mt
27:1-2,11-14 e Mc 15:1-5
39. O julgamento entre Jesus e Barrabás serve de arquétipo para a salvação
do homem? PORQUE? Comparar Lc 23:13-25, Mt 27:15-26 e Mc
15:6-15 com Is 53:5, I Pe 2:24,3:18
40. Leia Mt 27:14-25, Lc 23:1-25 e Mc 15:1-15 e responda quais atitudes
Pilatos tomou para tentar se livrar da condenação de Cristo? E Como isso
se aplica em nossa vida, o fato de sabermos o que devemos fazer, mas
por opiniões de pessoas ou circunstâncias não fazemos? Tg 4:17; Ez
33:1-20.
41. De que forma o sofrimento de Cristo serve de exemplo para nossa vida
cristã diária? Compare Mt 27:27-31; Mc 15:16-20 com 1 Pe3:15-18; 1
Co 1:5-6.

A VIA DOLOROSA
42. Como a situação de Simão, o Cirineu, pode ser entendida nos dias de
hoje? Lc 23:26; Mt 27:32; Mc 15:22; Zc 4:6;

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

43. O que a epígrafe que Pilatos fez para Jesus escritas nos idiomas político
(romano), religioso (hebraico) e no filosófico (grego) nos faz
compreender sobre o reinado do Messias? Mt 27:37; Mc 15:26
44. Leia Ex 12; Lv 16 e Nm 19 e responda: Quais as relações dessas
passagens com o sacrifício de Cristo?

O SEPULTAMENTO DE JESUS
45. Descreva quais foram as atitudes de José de Arimatéia e o que nos
ensina.

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO

46. Quais a importância da ressurreição de Cristo para nós? 1 Co 15:19

ASCENSÃO

47. Quais foram as últimas palavras e quais ordenanças Cristo deixou para
nós antes de subir aos céus?

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