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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO


REVERENDO JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO

ANDERSON CLAITOM RAMOS DE MELO


MAYKE CEZAR GOMES DE OLIVEIRA

A COMUNIDADE JUDAICA
NO SÉCULO QUINTO – Cap. 10
(História de Israel - John Bright)

São Paulo
2022
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ANDERSON CLAITOM RAMOS DE MELO


MAYKE CEZAR GOMES DE OLIVEIRA

A COMUNIDADE JUDAICA
NO SÉCULO QUINTO – Cap. 10
(História de Israel - John Bright)

Trabalho elaborado utilizando o Capítulo 10 do


livro: História de Israel de John Bright por
Anderson Claitom Ramos de Melo e Mayke Cezar
Gomes de Oliveira, atendendo às exigências da
matéria de Geografia e Arqueologia Bíblica
ministrada pelo Prof. Drº Wilson Santana Silva.

SEMINÁRIO TEOLOGICO PRESBITERIANO


JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
São Paulo 2022
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Sumário

Introdução ___________________________________________________ 03
As reformas de Neemias e Esdras ________________________________ 04
A. Da conclusão do templo à metade do século quinto ________________ 04
1. O Império Persa até aproximadamente 450 _______________________ 04
a. Dario 1 Histaspes (522-486) ___________________________________ 04
2. A sorte dos judeus em aproximadamente 515-450 _________________ 04
a. As comunidades judaicas no Império Persa no século quinto _________ 05
b. A comunidade em Judá: sua sorte externa _______________________ 05
c. A comunidade judaica: sua situação espiritual _____________________ 06
B. A reorganização da comunidade judaica sob Neemias e Esdras ______ 06
1. Neemias e sua obra _________________________________________ 06
a. A relação entre as obras de Esdras e Neemias ____________________ 06
b. A missão de Neemias ________________________________________ 07
c. Reconstrução das muralhas de Jerusalém ________________________ 08
d. A administração de Neemias: primeiro período _____________________ 09
e. O segundo período de Neemias: suas medidas de reforma ___________ 09
2. Esdras, “o escriba” ___________________________________________ 09
a. A natureza da missão de Esdras ________________________________ 10
b. O começo da reforma de Esdras ________________________________ 10
c. A conclusão da reforma de Esdras: a reconstituição da comunidade à base
da lei _______________________________________________________ 11
d. A significação da Obra de Esdras _______________________________ 11
Conclusão ___________________________________________________ 13
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INTRODUÇÃO

Esdras e Neemias foram personagens emblemáticos na história de


Israel pois sua participação abrange desde a organização política da
sociedade, até a religião, tendo Esdras o papel de lidar com a vida social
politica e religiosa dos judeus, sendo este trabalho possível graças a Jerusalém
estar praticamente reconstruída, fato este atribuído à liderança de Neemias.
Vemos segundo o olhar de John Bright uma Israel rumo a aniquilação
total, tanto de inimigos externos como da própria degradação moral do povo de
Deus. Sabemos que no período em que Zorobabel iniciou a construção do
segundo templo Deus enviou profetas (Ageu e Zacarias) para que
transmitissem mensagens de exortação e encorajamento, tanto para o povo
quanto a seus líderes, porém após a sua morte Israel ficou sem um governador
ativo, fazendo com que a nação sofresse muitos ataques das províncias
vizinhas e internamente acabou perdendo o foco de sua religiosidade e
moralidade.
Deste modo aprouve a Deus chamar Neemias para resgatar e
reestruturar a nação política e administrativamente, enquanto Esdras foi
chamado para influenciar moral e espiritualmente a população judaica,
trazendo assim a esperança de Israel ser a nação que foi chamada por Deus
para ser.
Procuramos nos ater a somente o que o material de estudo nos
proporcionou, nada do que aqui for encontrado provêm de particular
elucidação, todo o texto e pensamento deste trabalho foi retirado do livro
“História de Israel” de John Bright para apresentação do tema aos demais
alunos.
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A COMUNIDADE JUDAICA NO SÉCULO QUINTO


Capítulo 10

As reformas de Neemias e Esdras


Com o templo concluído a comunidade Judaica estava assegurada,
porém seu futuro ainda não era garantido, Zorobabel não reestabeleceu
completamente a nação de acordo com a antiga Israel pré-exílica, o máximo
que poderia ser dito deste povo é que ele existia.
Precisamos de um plano de fundo para entendermos como estava a
situação do mundo conhecido nesta época, principalmente do império persa
que é de onde regressaram os personagens estudados.
A. DA CONCLUSÃO DO TEMPLO À METADE DO SÉCULO QUINTO
1. O Império Persa até aproximadamente 450
a. Dario 1 Histaspes (522-486)
Dario sufocou as revoltas que encontrou por ocasião da sua ascensão,
mesmo quando os profetas hebreus antecipavam a queda do império. Dario
deu mostras de ser, em todos os sentidos, um governante capaz e um digno
sucessor do grande Ciro. Além disso, Dario deu a este vasto domínio sua
organização definitiva, dividindo-o em vinte governadores das províncias
(sátrapias), cada uma das quais com um sátrapa, geralmente um nobre persa
ou medo, nomeado pela coroa. Embora fossem governantes quase autônomos,
dos quais dependiam os governadores locais, os sátrapas eram fiscalizados
severamente por comandantes militares diretamente responsáveis perante o
rei. No reinado de Dario, a Pérsia alcançou o seu auge. Somente numa
campanha, e a sua campanha mais ambiciosa, podemos dizer que Dario
fracassou. Foi a tentativa de conquistar a Grécia onde sofreu severas derrotas.
b. Os sucessores de Dario
Xerxes (486-465) - Filho de Dario, Xerxes foi um homem de pouquíssima
capacidade em relação ao pai. Logo no começo, Xerxes teve de enfrentar uma
revolta que rebentou no Egito antes da morte de seu pai, e mais tarde (em 482)
outra na Babilônia. Xerxes invadiu a Grécia tendo algum sucesso momentâneo,
porém foi forçado a abandonar sua investida devido suas frotas marítimas
serem derrotadas no mar Egeu. Xerxes terminou sua carreira assassinado.
Sucedeu-lhe seu filho mais jovem, Artaxerxes I Longimanus, que se
apoderou do trono afastando o herdeiro legítimo, O reinado de Artaxerxes (465-
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424) não começou bem, logo que assumiu sofreu com os ataques gregos
contra Chipre, por volta de 460 ele teve que enfrentar uma rebelião no Egito.
Dificuldades internas, somadas a novos sucessos dos gregos, levaram
finalmente Artaxerxes a consentir na paz de Callias (449). As cidades gregas
da Ásia Menor, aliadas de Atenas, receberam sua liberdade. Embora o seu fim
ainda estivesse longe, já começavam a aparecer as debilidades da maciça
estrutura do império.
2. A sorte dos judeus em aproximadamente 515-450
Não sabemos muito sobre a nação judaica neste período, mas é notável
a desesperança da população, visto que não foi concretizada a instauração de
um Estado dravídico, levando-os a permanecerem onde se encontravam.
Mesmo a comunidade judaica crescendo não houve um regresso a pátria como
Isaías, Zacarias e outros previram.
a. As comunidades judaicas no Império Persa no século quinto.
No século quinto a comunidade judaica estava espalhada por todo o
império Persa. Sua religião era altamente sincrética, totalmente em oposição à
lei deuteronômica, estes judeus tinham um templo dedicado a Iahweh, com um
altar sobre o qual queimavam oferendas e faziam sacrifícios a ele, porém
outras divindades também eram adoradas neste mesmo lugar. Tendo raízes
onde se encontrava, certamente não sentiam nenhuma necessidade de
regressar a sua pátria e reestabelecer uma comunidade na terra de seus pais.
b. A comunidade em Judá: sua sorte externa.
Todavia um remanescente não abandonou a aventura da restauração,
muito pelo contrário, como nos declara Esdras 4.12, muitos regressaram. As
listas do capítulo 2 de Esdras e do capítulo 7 de Neemias, que são
provavelmente listas de recenseamento da época de Neemias que enumeram
os exilados retornados, os seus descendentes e os judeus já estabelecidos na
província, tendo como população total da época como de pouco menos de
cinquenta mil pessoas. Provavelmente não houve nenhum governador nativo
em Judá depois de Zorobabel.
Levando em consideração que durante todos esses anos a nação não
teve proteção militar ou meios de defesa, os judeus estiveram sujeitos a
repetidos ataques, represálias e opressões, tanto de Samaria como de seus
outros vizinhos, sentindo-se profundamente indefesos. Foi por esta razão que,
no reinado de Artaxerxes I (Esdras 4.7-23), eles dominaram a situação e
começaram a reconstruir as fortificações de Jerusalém. Não podemos dizer
exatamente quando isto se deu; sabemos apenas que foi antes de 445 (Esdras
4.23; Neemias 1.3).
Seus profetas esperavam pelo Dia de lahweh, quando Israel
reconquistaria sua terra e os seus inimigos, especialmente os edomitas, seriam
destruídos. Os edomitas e árabes, sem dúvida, respondiam na mesma
linguagem, com ódio e com toda espécie de provocação que podiam.
Neste ínterim os nobres de Samaria, com justiça ou não, apresentaram
novamente acusação de revolta e conseguiram uma ordem do rei para
interromper a obra, ordem que eles executaram então a poder das armas. Sua
intenção era que Judá permanecesse constantemente sem defesa.
c. A comunidade judaica: sua situação espiritual.
A conclusão do templo havia dado aos judeus um lugar de reunião e, ao
mesmo tempo, o status de uma comunidade de culto. Os líderes judeus
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consideravam orgulhosamente sua comunidade, e só ela, como o verdadeiro


remanescente de Israel.
Podemos supor que o ritual do templo pré-exílico foi retomado (com
certas características régias omitidas ou reinterpretadas), entretanto, é mais do
que evidente que a moral da comunidade não era boa, os próprios sacerdotes,
cansados dos seus deveres, não viam mal algum em oferecer animais doentes
e feridos a Iahweh (Ml 1.6-14), enquanto sua parcialidade no tratamento da lei
degradava sua missão sagrada aos olhos do povo (Ml 2.1-9). O Sábado era
desprezado e dedicado ao trabalho (Ne 13.15-22). A falta de pagamento dos
dízimos (Ml 3.7-10) forçou os levitas a abandonarem seus deveres para
trabalhar e ganhar seu sustento (Ne 13.10ss).
Sendo assim, a ideia de que não haveria nenhuma utilidade em ser leal
à religião foi predominante ante o povo (Ml 2,17;3,13-15), levando a nação a
uma falência da moralidade pública e privada, e até ao perigo de que a
comunidade se desintegrasse de dentro para fora. A prática do divórcio era um
escândalo público (MI 2.13-16). Sem princípios que os contivessem, os patrões
enganavam seus empregados, defraudavam-nos em seus salários e se
aproveitavam de seus irmãos mais fracos (Ml 3.5). Tendo hipotecado seus
campos por ocasião das secas ou para levantar tributos, os pobres
encontravam-se antecipadamente presos e, juntamente com seus filhos,
reduzidos à escravidão (Ne 5.1-5). E, o que é muito mais grave, as linhas que
separavam os judeus do ambiente pagão em que se encontravam estavam
começando a se enfraquecer e a quebrar-se. Os casamentos mistos entre
gentios e judeus eram naturalmente comuns (Ml 2.1) e, à medida em que os
filhos de tais uniões tornavam-se mais numerosos, aumentava ainda mais a já
séria ameaça à integridade da comunidade (Ne 13.23-27). Numa palavra, havia
o perigo real de que, se a comunidade não se pudesse reunir, recuperar o seu
moral e encontrar uma direção, cedo ou tarde iria perder seu caráter distintivo,
isto se não se desintegrasse totalmente.
Israel precisava voltar para os trilhos rapidamente se não dentro em
breve deixaria de ser uma nação e sucumbiria diante a devassidão cúltica e
moral.
B. A REORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE JUDAICA SOB NEEMIAS E
ESDRAS
1. Neemias e sua obra
Na última parte do quinto século Israel viu sua salvação como nação e a
comunidade judaica foi reorganizada em todos os sentidos. Esta reforma se
deu diante do trabalho de dois homens: Neemias e Esdras. Embora ambos
tenham se esforçado na reestruturação de Israel, foi o primeiro quem deu à
comunidade uma situação política e uma reforma administrativa, e foi o
segundo quem reorganizou e reformou sua vida espiritual.
a. A relação entre as obras de Esdras e Neemias.
A história de Israel apresenta poucos problemas tão desconcertantes e
difíceis de solucionar corretamente do que este. O problema centraliza-se na
data em que Esdras chegou a Jerusalém. A data do começo da obra de
Neemias é certa, sendo confirmada independentemente pela evidência dos
textos de Elefantina: vai (Ne 2.1) do vigésimo ano de Artaxerxes I (445) até (Ne
13.6) um pouco depois do trigésimo segundo ano daquele rei (433). Com
respeito à carreira de Esdras, já não existe tal certeza. Os historiadores se
dividem em três grandes campos:
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1. Alguns aceitam a posição baseada nos livros canônicos de Esdras e


Neemias, de que Esdras chegou (Ed 7.7) no sétimo ano de Artaxerxes I (458)
por volta de uns treze anos antes de Neemias concluindo sua obra (Ne 8 a 10)
pouco depois da chegada deste (alguns pensam que mesmo antes);
2. Há aqueles que consideram o “sétimo ano” como o sétimo ano de
Artaxerxes II (398) e colocam a chegada de Esdras muito tempo depois que
Neemias desapareceu de cena;
3. Há ainda uma posição dizendo que o “sétimo ano” foi um erro dos
escribas, em vez de um outro ano qualquer (plausivelmente o trigésimo
sétimo), do reinado de Artaxerxes I, colocam a chegada de Esdras depois da
de Neemias, em 428, aproximadamente, mas antes que tivesse terminado sua
atividade.
b. A missão de Neemias.
A reconstituição da comunidade judaica deu-se na segunda metade do
reinado de Artaxerxes I Longimanus (465-424). Coincidiu, então, mais ou
menos, com a idade de ouro de Atenas, quando nas ruas daquela cidade
caminhavam homens como Péricles, Sócrates, Sófocles, Esquilo, Fídias e
muitos outros.
As derrotas para os gregos e os distúrbios no Egito e na Síria, que
marcaram os primeiros anos de seu reinado, deixaram Artaxerxes com a tarefa
de restabelecer sua posição. E ele o conseguiu. Com os gregos, ele escolheu o
caminho da diplomacia, quando não o do suborno, caminho que lhe foi
facilitado pela incapacidade crônica dos gregos de trabalharem unidos por
longo tempo. Ele começou logo a recuperar-se das perdas na Ásia Menor. E
então, quando rebentou a desastrosa Guerra do Peloponeso (431), ele e seu
sucessor tiveram o prazer de se sentar e contemplar os gregos destruindo-se a
si mesmos. O fim da guerra (404) encontrou a Pérsia numa posição mais
segura do que nunca.
Podemos imaginar que os judeus revoltados com o tratamento arrogante
e cruel que tinham recebido dos oficiais de Samaria, com seu desamparo e
com a incapacidade do rei em compreender sua posição (Ed 4.7-23), no
momento não morriam de amores pela Pérsia. Foi o desejo do rei de estabilizar
a situação na Palestina que o fez se interessar pelos problemas dos judeus,
quando deles teve conhecimento.
Na corte de Artaxerxes, em um alto posto como copeiro do rei, havia um
judeu chamado Neemias cujo qual tinha acesso à sua pessoa. Neemias era um
homem enérgico e capaz; e, mesmo um tanto irascível, tinha grande dedicação
à causa de seu povo. Em dezembro de 445 (Ne 1.1-3), uma delegação de
Jerusalém, chefiada por seu próprio irmão Hanani, o informou das deploráveis
condições daquela cidade e também a respeito da impossibilidade de
resolverem esta questão pelos canais oficiais. Neemias, profundamente triste e
deprimido, resolveu dirigir-se ao rei e pedir-lhe permissão para ir a Jerusalém,
com autorização para reconstruir suas fortificações. Era um pedido muito difícil
(Ne 1.11), uma vez que implicava a solicitação de que o decreto anterior do rei
(Ed 4.17-22) fosse revogado.
Quatro meses depois (Ne 2.1-8), ele encontrou sua chance, a sua
solicitação foi mais do que bem recebida. Foi-lhe concedido um rescrito
autorizando a reconstrução das muralhas da cidade e dando orientação para
que o material destinado a esta finalidade fosse levado das florestas reais.
Além disso, imediatamente ou um pouco depois, Neemias foi nomeado
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governador de Judá (Ne 5.14; 10.1), que ficou sendo uma província
independente, separada da Samaria.
c. Reconstrução das muralhas de Jerusalém.
Talvez o problema mais urgente a ser solucionado era a segurança
física da comunidade, assim, Neemias entregou-se imediatamente à
reconstrução das muralhas da cidade, agindo com rapidez e destemor, pois, de
outro modo, seus planos seriam contrariados antes mesmo de iniciada sua
execução. Três dias depois de sua chegada, ele fez uma inspeção secreta nas
muralhas da cidade durante a noite, para avaliar a grandeza da tarefa que tinha
diante de si; e somente ali divulgou seus planos aos líderes judeus (Ne 2.11-
18). Então, assim que recolheu a mão de obra, começou o trabalho e dentro de
cinquenta e dois dias, ficou concluído um muro.
Josephus (Ant XI, V, 8) está quase certo quando afirma que a conclusão
efetiva (reforço, acabamento das ameias, portões e revestimento) exigiu dois
anos e quatro meses (até dezembro de 437, de acordo com suas datas) 16.
Tudo isso foi realizado com incríveis dificuldades.
O principal dentre seus inimigos era Sanabalat, que era governador da
província de Samaria. Apesar de seu nome babilônio (Sinuballit), era javista
como indicam os nomes de seus filhos (Dalaias e Selemias). Sua família aliou-
se depois, por casamento, com sumos sacerdotes de Jerusalém (Ne 13.28).
Com ele estava Tobias, governador da província de Amon igualmente javista
como indicam seu próprio nome e o de seu filho Jocanan (Ne 6.18), e tinha
contatos em Jerusalém.
Tanto Sanabalat quanto Tobias, que se consideravam israelitas e eram
aceitos como tais pelas famílias importantes de Jerusalém, irritaram-se com o
fato de que os judeus mais ortodoxos, como Neemias, achassem que a religião
deles (certamente um tanto sincrética) era inaceitável e os considerassem
como pagãos, por este motivo intentavam várias investidas para frustrar os
planos de Neemias.
Em primeiro lugar, tentaram a zombaria, esperando com ela minar o
moral dos judeus (Ne 2.19;4.3). Vendo que este recurso não produzia nenhum
efeito, um bandos de árabes, amonitas e filisteus (Ne 4.7-12) a realizar
incursões contra Judá. Jerusalém foi atormentada, e as cidades mais
afastadas, aterrorizadas. De acordo com Josephus (Ant. XI, V, 8), não poucos
judeus perderam a vida. Neemias reagiu (Ne 4,13-23), dividindo seus homens
em dois turnos: enquanto uns combatiam, outros trabalhavam.
Como as investidas foram vãs, os inimigos de Neemias tentaram (Ne 6.1-4)
atraí-lo para fora da cidade, formalmente para uma conferência com a intenção
de assassiná-lo porém Neemias recusou o convite. Sendo assim ameaçaram
de acusá-lo de sedição junto aos persas, (vv. 5 a 9) e ele desafiou-os a fazê-lo.
Os inimigos da reestruturação de Israel não estavam apenas fora das
muralhas, mas em meio ao povo que se dizia israelita também, afinal Tobias e
seu filho, tendo contraído matrimônio com mulheres de famílias ilustres de
Jerusalém (vv. 17 a 19), possuíam amigos que os mantinham informados de
tudo o que Neemias estava fazendo e enviavam cartas a ele com a finalidade
de abalar o seu moral. Em sua última tentativa (vv. 10 a 14), contrataram um
profeta para amedrontar Neemias com notícias de um atentado contra sua
vida, na esperança de que ele fugisse para o templo, procurando refúgio, e
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assim ficasse desacreditado diante do povo. Mas Neemias, desprezando sua


segurança pessoal, não deu ouvidos às atemorizações.
d. A administração de Neemias: primeiro período.
Segundo indicam todas as evidências, Neemias foi um governador justo
e capaz. Sua lealdade para com o rei estava fora de dúvida, porém pouco
sabemos da administração realizada por ele na província, sendo o centro de
uma cadeia de montanhas, não viviam mais que cinquenta mil habitantes.
Neemias já a encontrou dividida em distritos para fins administrativos, e
provavelmente continuou neste sistema, já que o usou como base do seu
recrutamento para a reconstrução das muralhas (Ne 3).
Nem tudo que ocorre no cap. 13 de Neemias são datados com precisão, não
sabemos quando ele agiu, mas podemos inferir que certamente ele estava a
par da situação, e deve ter logo pensado que era necessário fazer uma reforma
religiosa completa. Uma reforma que ele, como leigo, não podia fazer sozinho,
especialmente porque a lassidão e a tibieza tinham alcançado até a própria
família sacerdotal.
e. O segundo período de Neemias: suas medidas de reforma.
O período da gestão de Neemias durou doze anos (até 433; Ne 5.14),
depois dos quais ele voltou para a corte persa (Ne 13.6). Provavelmente, tendo
já sido ultrapassado o termo da sua licença original (Ne 2.6), ele não pôde mais
prorrogá-la, mas logo deve ter persuadido o rei para que o nomeasse
novamente, pois dentro de breve tempo (provavelmente não mais que um ano
ou dois) já se encontrava novamente em Jerusalém.
Quando Neemias voltou, encontrou a situação pior do que ele havia
deixado, o próprio sumo sacerdote Eliasib instalou Tobias numa dependência
do templo reservada para uso do culto. Neemias, irado, ordenou que os
pertences de Tobias fossem jogados na rua e que o quarto fosse purificado de
sua poluição e restabelecido em sua função própria (Ne 13.4-9).
Diante da indiferença religiosa, Neemias crê que a culpa do desleixo
perante o Senhor e dos levitas terem que trabalhar para se sustentar e não
terem tempo para seu ministério, decide providenciar que o dizimo seja
recolhido como se deve e nomeou tesoureiros honestos para administra-lo,
providenciou também lenha para o altar, para que o mesmo se manteasse
abastecido. Visando deter o comércio que estava sendo praticado no Sábado,
ordenou que as portas da cidade ficassem fechadas todo o dia. Quando os
comerciantes chegavam para montar seus negócios fora da cidade, ele os
ameaçava com prisão e os enxotava (Ne 13.15-22). Quando descobriu que as
crianças de casamentos mistos que não sabiam nem falar hebraico, acendeu-
se em cólera e repreendeu os pais e os amaldiçoava, puxava-lhes a barba e
obrigava-os a jurar que haveriam de desistir de casamentos mistos com
estrangeiros no futuro (Ne 13.23-27). Quando ele soube que um neto do sumo
sacerdote Eliasib havia casado com a filha de Sanabalat (Ne 13.28) ele o
expulsou da terra!
Talvez no momento em que se passavam estas coisas e Neemias
tomava estas medidas violentas, foi que Esdras chegou a Jerusalém.
2. Esdras, “o escriba”
Neemias salvara a comunidade, num sentido físico, dando-lhe uma
situação política reconhecida, segurança e uma administração honesta porém
a reforma espiritual necessária aconteceu no final da gestão de Neemias
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(aproximadamente em 428, na reconstituição aqui adotada), com o


aparecimento em cena do “escriba” Esdras.
a. A natureza da missão de Esdras.
A comissão de Esdras, da qual somos informados no documento
aramaico (Ed 7.12-26), era muito diferente da de Neemias. Ela só dizia respeito
a assuntos religiosos: Ele chegou a Israel com a lei e com um rescrito da parte
do rei, concedendo-lhe plenos poderes para realizar a sua missão; sua missão
específica era regularizar a prática religiosa judaica.
Isto não significa que Esdras pudesse forçar todo o povo de Israel a
obedecer à sua lei. Forçar à obediência deste modo seria contrário à prática
persa, no entanto todos aqueles que aderiam à comunidade de culto de
Jerusalém (todos os que se consideravam judeus) teriam que ordenar suas
vidas de acordo com a lei.
O status de Esdras está contido no título de “sacerdote e doutor da lei do
Deus do céu” (Ed 7.12). Isto não significa um doutor da lei em sentido posterior,
pois o título oficial de Esdras era de comissário do governo. Os persas eram
muito tolerantes com os cultos nativos, como vimos, insistindo apenas, para
impedir luta interna e para que a religião não se tornasse uma máscara para
encobrir rebeliões, que tais cultos fossem regularizados por uma autoridade
responsável. E isto se fazia agora em Judá, onde, devido à sua estratégica
localização, desejava-se sobretudo tranquilidade interna.
Esdras chegou a Jerusalém provavelmente em 428, ou
aproximadamente. De acordo com suas memórias pessoais (Ed 7.27 a 8.3-6),
ele não veio só, mas, conforme a permissão que lhe foi dada (Ed 7.13), à frente
de um grupo considerável, reunido na Babilônia com esta finalidade.
Embora a jornada fosse perigosa, Esdras tinha vergonha de pedir uma
escolta militar, ou então pensava que isto indicaria falta de confiança em Deus.
A caravana partiu em abril, depois de ter jejuado e feito orações; quatro meses
depois, chegou a salvo em Jerusalém (Ed 7.8-31).
b. O começo da reforma de Esdras.
Como o texto não segue uma ordem cronológica não sabemos quando a
iniciativa de Esdras ocorreu, uma vez que sua missão era instruir o povo na lei
e regular os assuntes religiosos de acordo com ela (Ed 7.25), pode-se supor
que ele apresentou a lei publicamente o mais cedo possível, e ele
provavelmente o fez. Se a narração do capítulo 8 de Neemias segue-se
cronologicamente à história da chegada de Esdras, esta se deu dois meses
mais tarde, juntamente com a Festa dos Tabernáculos. Esdras leu a lei
desde o romper da aurora até o meio-dia. Para estar certo de que o povo
estava entendendo (Ne 8.7), ele e seus auxiliares distribuíram uma tradução
aramaica do texto hebraico, seção por seção, possivelmente com explicações.
O povo ficou tão comovido que desatou a chorar. Só com dificuldade é
que Esdras, lembrando a alegria daquele dia, conseguiu contê-los. No dia
seguinte, depois de uma instrução particular aos líderes do povo sobre as
exigências da lei, foi celebrada a Festa dos Tabernáculos, com mais leituras da
lei durante todos os dias que a celebração durou.
Apesar do entusiasmo inicial, porém-, o trabalho de reforma de Esdras
não foi realizado com facilidade. Continuaram os abusos que tanto tinham
chocado Neemias, particularmente os casamentos mistos, e neles estavam
envolvidos profundamente muitos cidadãos importantes, clero, leigos, inclusive
membros da família dos sumos sacerdotes (Ed 10.18; Ne 13.28).
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Esdras ainda escolheu o processo da persuasão moral. Com grande


mostra de emoção, ele chorou e confessou o pecado da congregação diante de
Iahweh, até que o próprio povo, sentindo dor de consciência, reconheceu os
seus pecados e a violação da lei (Ed 10.1-5), sugerindo voluntariamente uma
aliança para que se separassem de suas mulheres estrangeiras e jurando
apoiar Esdras em qualquer movimento que ele sugerisse. Em seguida,
enquanto ele continuava a jejuar e a orar, os príncipes e anciãos ordenaram
que todo o povo se apresentasse em Jerusalém dentro de três dias, sob pena
de ostracismo e confiscação de bens (Ed 10.6-8). O mesmo tinha esta
autoridade (Ed 7.2s); mas ele somente a usava através dos líderes do povo,
que ele agora havia conquistado. Isto teve o seu efeito. Uma grande multidão
reuniu-se e, apesar de copiosa chuva que caía, permaneceu docilmente ao ar
livre para ouvir as admoestações de Esdras. Quase por unanimidade (somente
alguns se opuseram), eles concordaram em obedecer às palavras de Esdras,
solicitando apenas algum tempo, porque a inclemência da estação e a
grandeza da tarefa de investigar os casos impediam a imediata execução dos
planos (Ed 10.9-15). A investigação dos casos, levada a efeito por uma
comissão nomeada por Esdras, começou quase imediatamente, concluindo-se
três meses mais tarde (março de 427?) (Ed 10.16). Todos os casamentos
mistos foram dissolvidos (Ed 10.44).
c. A conclusão da reforma de Esdras: a reconstituição da comunidade à
base da lei.
De acordo com a reconstituição adotada aqui, o clímax da carreira de
Esdras foi atingido apenas algumas semanas mais tarde (Ne 9.1), com os
acontecimentos narrados nos capítulos 9 e 10 de Neemias. Tendo sido
resolvida a questão dos casamentos mistos, o povo reuniu-se para uma
confissão solene de seus pecados, depois do que jurou viver de acordo com a
lei (Ne 9.38; 10.29). Especificamente, eles se comprometeram (Ne 10.30-39) a
não se casar mais com mulheres estrangeiras, a evitar o trabalho no Sábado, e
a deixar repousar a terra e perdoar todas as dívidas no sétimo ano. Obrigaram-
se também a dar anualmente uma taxa para manutenção do templo, a
providenciar lenha para o altar e a dar as primícias dos frutos. Os dízimos
também seriam pagos regularmente, de acordo com as exigências da lei.
O compromisso descrito no capítulo 10 de Neemias representa a
conclusão dos esforços dos dois homens. No capítulo 13, nós encontramos um
relato sumário do próprio Neemias sobre a correção de certos abusos que lhe é
plenamente atribuída.
O fato de que Neemias nada fala do papel de Esdras e o Cronista quase
nada do papel de Neemias pode ser explicado supondo-se, plausivelmente,
que os dois homens, ambos de personalidades marcantes, não tinham muita
simpatia um pelo outro. Além disso, Neemias considerava as suas memórias
puramente como apologia pessoal, enquanto que os interesses do Cronista,
predominantemente eclesiásticos, sem dúvida o levavam a considerar o papel
do governador civil como subsidiário
d. A significação da Obra de Esdras.
A reforma de Esdras parece ter sido concluída dentro de um ano da sua
chegada a Jerusalém. Daí em diante, não ouvimos falar mais dele. Muito
possivelmente ele já era de idade avançada, tendo morrido logo depois que
sua missão se concluiu. Se Moisés foi o fundador de Israel, foi Esdras quem
reconstituiu Israel e deu à sua religião uma forma pela qual ele pôde sobreviver
12

através dos séculos. O trabalho de Esdras foi reorganizar a comunidade


judaica de acordo com a lei.
Israel não era mais uma nação e tinha pouca esperança imediata de o
ser. Se não se encontrasse alguma forma externa nova, Israel não sobreviveria
por mais tempo, e se desintegraria num nacionalismo banal (que já se não
desejava mais) ou se diluiria no mundo pagão — como estava ameaçado, e
como se diluiu a comunidade elefantina. Foi Esdras que, dentro da estrutura de
estabilidade política dada por Neemias, fez a necessária reorganização com
base na lei.
Que lei Esdras trouxe, é uma questão para a qual não existe resposta
certa. Alguns supuseram que foi o Código Sacerdotal, que preservou as
tradições oficiais do templo pré-exílico como elas foram transmitidas, recolhidas
e postas numa forma fixa, possivelmente no exílio. Outros pensam que foi o
Pentateuco completado, o qual, existindo há muito tempo todos os seus
componentes, foi certamente compilado mais ou menos em sua forma presente
antes da época de Esdras, embora não existisse ainda nenhuma edição
padronizada. Outros ainda acreditam que foi uma coleção de leis, talvez
incluindo várias outras regulamentações de culto secundariamente anexadas à
narrativa do Código Sacerdotal, cujos limites exatos não podem mais ser
determinados. Certamente, não podemos dizer quais leis Esdras leu realmente
em voz alta. Mas o mais provável é que o Pentateuco completado estivesse em
seu poder, e que ele tenha sido a lei imposta à comunidade como prática e
regra de religião normativa. A Tora, naturalmente, tinha esse status logo depois
do tempo de Esdras, e é plausível supor que esta tenha sido a lei trazida por
ele.
Politicamente sujeitos à Pérsia, eles formavam uma comunidade
reconhecida, autorizada a tratar dos seus assuntos internos de acordo com a
lei do seu Deus. Tinha-se dado a transição de Israel de uma nação para uma
comunidade sujeita a uma lei. E como tal, a partir de então, poderia existir
mesmo sem ser um Estado e encontrando-se espalhada pelo mundo. O caráter
distintivo dos judeus não seria uma nacionalidade política, tampouco
primariamente um background étnico, nem mesmo uma participação regular no
culto do templo (impossível para os judeus da Diáspora), mas a observância da
lei de Moisés. Tinha-se traçado a linha divisória da história de Israel, e seu
futuro estava assegurado para sempre.
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CONCLUSÃO

Em um tempo de profunda depravação no Estado de Israel Deus


levantou homens fieis a Ele para levar a nação novamente a adoração. Esdras
e Neemias alinharam os caminhos da nação voltando-se para os preceitos
estabelecidos por Aquele que os enviou.
A observância da lei de Moisés passava a ser a base da nação de Israel,
que mesmo ainda sob o domino do Império Persa poderia servir ao Senhor
abandonando a derrocada moral e cúltica que se encontravam.
Vemos o cuidado do Senhor governando sobre os governantes da terra,
para o Império, Israel retomar a sua religião era símbolo de paz e contenção de
revoltas, porém para Deus essa era a forma de manter seu remanescente em
seus caminhos. A missão de Esdras e Neemias foi cumprida, e se encerra com
um clamor pela misericórdia divina, em um desejo de obedecer aos preceitos
da lei evitando assim o castigo divino. O povo se converte dos maus caminhos,
passa a sustentar os levitas e sacerdotes, a guardar o Dia do Senhor, a não se
misturar com os povos da terra dentre outras coisas.
John Bright é assertivo em mostrar a história de Israel pelo viés histórico
e cultural da época em que o texto foi escrito, abrindo assim nossa mente para
compreendermos o panorama geral do mundo bíblico antigo.
É impossível olhar para esta história de restauração e não perceber os
paralelos do cuidado do Senhor pelo seu povo durante a história, onde sua
aliança perpétua persevera pelos seus. Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio, João
Calvino entre outros são exemplos de homens que assim como Esdras e
Neemias agiram em favor do povo de Deus em épocas de perversão trazendo-
os de volta a lei do Senhor.

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