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Alguns apontamentos da História de Israel

III
 A fé de Israel e o sentido da nacionalidade parecem ter sido mantidos e reinterpretados com eficácia pelos
exilados de Judá na Babilónia.
Os babilónios permitiram que os exilados do reino de Judá formassem famílias, construíssem casas, cultivassem
pomares e chegassem a consultar os seus próprios chefes e anciãos (Ez.20,1-44) e, igualmente, permitiram-lhes
viver em comunidades. Assim, pouco a pouco, foram-se habituando à sua situação de exilados na Babilónia.
Em tais circunstâncias, a participação comum nas práticas da religião foi, provavelmente, o vínculo mais forte
de união entre os membros da comunidade exilada e a instituição da sinagoga teve um papel relevante como
ponto de encontro para a oração, a leitura e o ensinamento da Lei, o canto dos Salmos e o comentário dos
profetas.
O desterro foi uma catástrofe nacional que levou a uma profunda reflexão teológica quer como objeto (a estreita
relação entre o destino do povo e a infidelidade a Deus) quer como causa, uma vez que criou condições únicas
para renovar toda a vida religiosa deste povo exilado.
Com o exílio, a Babilónia converteu-se num centro de atividade religiosa, onde um grupo de sacerdotes se
entregou com empenho à tarefa de reunir e preservar os textos sagrados que constituíam o património espiritual
de Israel. Entre os componentes desse grupo contava-se Ezequiel que, na sua dupla condição de sacerdote e
profeta (Ez.1,1-3.2,1-5), exerceu uma influência singular.
Ezequiel tem como preocupação a condenação das práticas idolátricas e sincretistas, logo apontadas como as
causas da ruína, mas veicula uma mensagem de esperança, afirmando que o regresso estaria condicionado por
uma renovada fidelidade a Javé, que só poderia ser dom do próprio Deus (Ez.36,24-28).
O autor anónimo de Deutero-Isaías pregou na Babilónia por volta do final do exílio e a sua mensagem é de
alegria e de esperança, afirmando que a era da misericórdia divina e da restauração está prestes a chegar (Is.40,1-
5).
Quer Ezequiel, quer o Deutero-Isaías, nos seus ensinamentos, afirmam, claramente, o monoteísmo, pela
primeira vez: Deus não é apenas a divindade maior, mas é a única (Is.44,6). Além disso, permitem perceber o
valor teológico que adquire o exílio: os desterrados revalorizam os seus usos pois são eles que os distinguem e,
assim, o sábado, a circuncisão, a pureza ritual ganham valor distintivo e nacionalista num ambiente que apesar
de ser nostálgico era de esperança.
Outra obra, fruto do exílio, é a redação sacerdotal do Pentateuco. Os sacerdotes hebreus, convertidos em guias
espirituais do povo desterrado, escrevem sobre uma coleção de tradições mais antigas sobre o passado de Israel,
fazendo uma releitura dos acontecimentos à luz da sua situação de exilados. É o passado que se converte em
modelo do presente e sinal de esperança para o futuro. Esta é a chave para ler muitos dos textos do Pentateuco.

 Desterro – normalmente designado como exílio ou ainda como cativeiro, refere-se à deportação dos judeus para
a Babilónia no tempo de Nabucodonosor (587 a.C.), que terminou no primeiro ano de reinado de Ciro após a
conquista persa da cidade de Babilónia (539 a.C.). Em consequência do Decreto de Ciro, os judeus exilados
foram autorizados a regressar à terra de Judá (538 a.C.). Estes 50 anos de desterro marcaram, de forma definitiva,
a consciência judaica.
Judaísmo – povo agrupado em torno de uma fé, que nasce como consequência das reformas de Esdras e
Neemias e que tem como pilar a Torá, expressão direta da vontade de Deus, e o culto, como forma de relação
com Deus, numa organização quase teocrática, em que os sacerdotes assumem o poder com um crescente
impulso legalista, como forma de preservar a própria identidade nacional e religiosa que tem como centro o
Templo de Jerusalém. É esta religião que vai manter unidos os diversos grupos de judeus da diáspora que,
nomeadamente, após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., constituem uma nova instituição como centro
da unidade do povo judeu: a sinagoga, local de assembleia e de reunião; A fé javista assume, pois, a primazia
sobre qualquer outra realidade social, política ou económica.
Reforma de Neemias – conjunto de reformas sociais e religiosas com vista a melhorar a vida dos judeus.
Socialmente, restitui aos judeus os bens que lhes haviam sido penhorados e liberta os que haviam sido vendidos
como escravos, resultado da excessiva fiscalização e das consequentes dificuldades económicas.
Religiosamente, restaura o sacerdócio, rejeitando os sacerdotes e levitas que abusavam do poder e que se
afastavam dessa forma do seu ministério, renova o respeito pelo sábado e proíbe os casamentos mistos bem
como o sincretismo.
Diáspora – dispersão de grupos étnicos ou religiosos, forçada ou incentivada, de um determinado espaço para
outros distintos. No caso dos judeus, a diáspora é fruto dos inúmeros desterros, Babilónia e Egito, que fizeram
com que eles fossem contactando com outras culturas e religiões e, acima de tudo, que ficassem espalhados por
todo o Médio Oriente. Para o judeu, era fruto da idolatria, infidelidade e rebeldia do povo de Israel e de Judá
para com Deus. Isto levou a que Deus os tirasse da terra que lhes prometera e os dispersasse pelo mundo até
que o povo de Israel retornasse à obediência.

 Os Medos haviam sido aliados dos babilónios contra a Assíria e Nabónides, rei da Babilónia, pensou que poderia
travar a ascensão dos Medos aliando-se com Ciro II, que conseguiu de facto vencê-los. Contudo, o desejo
expansionista de Ciro ficou fortalecido com esta campanha e ele continua a expandir-se (Lídia e as cidades
gregas da Ásia Menor), tornando-se uma ameaça para a Babilónia.
A data da criação do Império é reconhecida como a do ano de 539 a.C., quando Ciro II submete a Babilónia de
Nabónides e cria a dinastia Aquemênida, assim chamada em homenagem ao pai, Aquemenes. Ciro II entra na
Babilónia como um libertador, proclamando-se enviado de Marduk (deus nacional da Babilónia). O próprio
Deutero-Isaías descreve Ciro II como um libertador: “o messias enviado por Deus para salvar o povo do
desterro”. Durante os 25 anos do seu governo, Ciro II conseguiu não apenas conquistar a Mesopotâmia como
também conquistar a Ásia Menor por completo.
Excelente estratega militar, consolida cada vez mais a sua hegemonia com campanhas exemplares, mas trata
com respeito os vencidos, poupando os seus costumes e a sua religião, possibilitando-lhes uma vida bastante
normal, com liberdade de ação. Muito liberal e generoso, permitiu aos hebreus que viviam como escravos na
Pérsia que retornassem à Palestina (2Cr.36,23).
O édito de Ciro, para a reconstrução de Jerusalém, marcou uma grande época na história do povo Judeu
(2Cr.36,22; Esd.1,1-4; Esd.4,3; Esd.5,13-17; Esd.6,3-5). Até aqui, os grandes reis da terra tinham oprimido os
Judeus. Ciro II foi para eles como um “pastor” (Is.44,28 e Is.45,1). Deus usou-o para que rendesse serviço ao
seu povo.

 Durante o domínio Persa, o povo de Israel começa a fomentar reflexões universalistas do judaísmo, abrindo-o
a outros povos (cf.Is.56-66). Porém, este acontecimento não foi muito pacífico no seio de um povo que se
considerava o eleito de Deus e que olhava os outros povos como indignos de serem perdoados por Deus, ou
escolhidos, ou amados por ele. Exemplo claro disso mesmo são as narrações de Jonas que se enfurece com o
perdão oferecido aos povos pagãos.
Na relação com os não judeus encontramos duas respostas distintas: Esdras e Neemias colocam a solução no
isolamento da comunidade judia e na conservação escrupulosa da identidade nacional e étnica; já os livros de
Rute e de Jonas mostram uma grande abertura teológica e social.
Mas o que vai marcar de forma indelével a comunidade é a Lei. A Torá, o Pentateuco, converte-se agora no
núcleo essencial da religião de Israel. É lá que o povo encontra as suas raízes e a sua razão de ser, o seu caminho
e o seu marco social e religioso. No entanto, convém assinalar a ambiguidade da situação: se essa lei adquire
eficácia real na vida do povo é como resultado da autoridade persa. E, de facto, a Torá foi dada no deserto, terra
de ninguém, para que nenhum povo, nem mesmo o povo eleito pudesse reclamá-la como sua propriedade
exclusiva. Ao ser proclamada, ela o foi, simultaneamente, em 70 línguas diferentes (as línguas das 70 nações
do mundo, segundo Gn.10), para que cada nação da terra pudesse entendê-la e aceitá-la. Nesse contexto, o papel
de Israel seria o de viver e zelar pelos preceitos da Torá, como uma nação santa e reino de sacerdotes entre as
outras famílias da terra, dando a conhecer, a todos, verdades universais que estão acessíveis a qualquer um,
independente do seu sexo, raça ou nacionalidade.
A experiência do desterro e, acima de tudo, da diáspora, alterou substancialmente a forma de pensar e de ler as
escrituras e a universalidade tornou-se um facto real, como atestam os capítulos 56 a 66 de Isaías, em que o
profeta fala da conversão dos pagãos e da vinda de um reino universal de Deus. Em Is.56,1-8, duas categorias
de povos deveriam ser incluídas na nova comunidade de adoradores do Deus de Israel: O “estrangeiro” e o
“eunuco”, duas categorias antes proibidas de unir-se à comunidade de Israel. Após a restauração de Israel do
exílio, Deus mesmo traria estes dois novos tipos à sua adoração no templo de Jerusalém.
A palavra utilizada para “estrangeiro” não é ger (que se refere a um prosélito), mas sim ben hanechar, ou seja,
realmente “um estrangeiro”. Segundo Isaías, esse estrangeiro iria unir-se a Deus, e não “aos judeus”. As
condições para admissão na comunidade seriam em primeiro lugar, guardar o Shabat e, em segundo, não praticar
o mal, abraçando assim a Aliança de Deus.
Os direitos e os deveres impostos sobre esses novos membros da comunidade seriam os mesmos impostos sobre
Israel, no entanto, eles permaneceriam como um grupo distinto, um grupo de status igual a Israel, embora
distinto de Israel. Daí a postura cada vez mais legalista e exigente com as tradições: o que os identificava já não
era uma zona geográfica mas uma crença, uma fé que tinha por isso de se assumir nos seus contornos exteriores
(Lei, Sábado, Circuncisão, etc.) – tão criticados por Jesus – de forma a serem elementos unificadores e
distintivos.

 O helenismo trouxe ao Médio Oriente uma nova visão do mundo e Israel não é exceção. A língua grega substitui
o aramaico como língua internacional e as cidades sofrem novos ordenamentos dos seus territórios também por
influência grega (ginásios, teatros, termas, etc.). A influência grega veio para ficar.
Os livros bíblicos não fazem alusão a esta fase, excetuando o primeiro livro dos Macabeus, que traça uma
imagem de Alexandre pouco simpática (um rei ensoberbecido e cheio de orgulho), motivada pelas
características divinas que pretendia atribuir-se, inaceitável para um judeu, apesar de sabermos que até foi
bastante tolerante para com os costumes e religiões dos povos conquistados - no caso de Jerusalém, reconheceu
a autoridade do sumo-sacerdote e da Torá como lei.
Para além destas questões, a crescente influência helénica na cultura judaica não foi propriamente pacífica.
Criou algumas cisões entre os conservadores e os mais tolerantes para com as inovações helenísticas.
Neste período, muitos autores judeus da época helenística escrevem em grego com o objetivo de explicar aos
seus conterrâneos da diáspora, que falam ou leem apenas o grego, a validade e a importância dos antigos
preceitos e da lei judaica. Outras vezes, escrevem possivelmente para demonstrar aos gregos, com os quais
convivem, que o judaísmo tem práticas bem fundamentadas, antigas e de muito valor.
Há de facto uma abertura ao mundo circundante, que não seria com certeza generalizado, que permite um melhor
acompanhamento das comunidades da diáspora falantes, já somente, do grego, assim como um enorme
enriquecimento cultural, nomeadamente, nas áreas da historiografia e da filosofia, que confronta a Torá com a
filosofia grega. Contudo, é preciso dizer que a filosofia judaica produzida na época helenística permanece ligada
aos conceitos da sabedoria palestina. O objetivo desta filosofia não é a discussão da lógica ou da física, e sim
da ética. “O objetivo dos filósofos judeus era apenas um: educar as pessoas na verdadeira moralidade e piedade”.

 O levantamento dos Macabeus tem razões de ordem religiosa e outras de ordem social.
A revolta popular começa como uma rebelião religiosa cuja finalidade era restaurar as tradições e permitir uma
vida de acordo com as prescrições da lei mosaica. Mas esta revolta caracterizar-se-á por uma transformação
num movimento de libertação nacional com a finalidade de restabelecer o antigo reino independente. Essa
aspiração era agora possível graças à decadência do poderio selêucida e aos seus constantes conflitos internos.
A nível social, os partidários do helenismo eram na sua maioria membros das classes ricas, pelo que, com a
transformação de Jerusalém numa polis, a cidadania já não dependia do facto de ser parte do mesmo povo
mediante a circuncisão e o respeito pelo sábado e pela lei, mas sim da posição social, sentindo-se o
favorecimento dos mais ricos, e esta situação gerava o desagrado.
Os decretos de Antíoco IV são encarados inicialmente com uma resistência passiva entre a maioria do povo.
Mas rapidamente passa a uma resistência armada que começa com a execução de um judeu disposto a oferecer
um sacrifício pagão e do oficial real que o obrigava a apostatar. Matatias, o responsável, refugia-se nos montes
e deu origem a uma guerrilha que, devido aos seus êxitos, começou a juntar um grande número de apoiantes.
Segue-lhe as pegadas Judas Macabeu, que vai lutar até conseguir ocupar Jerusalém, purificar o templo,
reconstruir o altar e restabelecer o culto, dando cumprimento aos motivos da revolta. Mas os anos de revolta
despertam uma dinâmica própria e Judas continua a lutar para consolidar o seu poder. Após a sua morte, os seus
sucessores conseguem concentrar nas suas mãos o poder civil, religioso e militar, de tal forma que obtêm para
a Judeia uma autonomia efetiva. Aquilo que nasceu de um desejo de resistência contra o domínio selêucida,
pouco a pouco, transformou-se num instrumento de domínio. De tal modo que, com João Hircano, é fundada a
dinastia asmoneia, que atinge o seu esplendor, mais tarde, com um dos seus sucessores: Alexandre Janeu.
Contudo, é neste reinado que cresce uma grande oposição por parte dos fariseus, que o acusam de concentrar
em suas mãos o poder civil e religioso, de forma opressiva mas, sobretudo, de inclinar-se ostensivamente mais
para o helenismo do que para a fidelidade ao judaísmo. Assim, a governação asmoneia acaba por assumir um
cunho marcadamente helenista, com gestos de extrema crueldade, de todo similar à monarquia dos selêucidas,
em oposição à qual, paradoxalmente, havia nascido sessenta anos antes.
A oposição popular crescia continuamente, principalmente por parte dos fariseus e, segundo Flávio José, Janeu
mandou matar 6000 de uma vez e 800 de outra, quando na festa dos Tabernáculos o povo, para mostrar o seu
descontentamento lhe atirou limões, o que gerou grande terror.

 Por princípio, por força do monoteísmo hebraico e das prescrições da Lei, os judeus não só se fecharam ao
helenismo como o combatiam. Na verdade, aquela filosofia de vida, a estranheza das categorias lógicas do
pensamento aristotélico, a conceção idealista do universo segundo Platão, o ecletismo e sincretismo religioso,
tudo isso aparecia aos judeus como algo de oposto à sua religião e à tradição dos antepassados.
Por outro lado, a grandeza e a beleza dos edifícios urbanos, como o hipódromo, o teatro, o ginásio, tudo isso
parecia um atentado à grandeza, beleza e santidade do Templo de Jerusalém.
Por isso, com a ocupação dos selêucidas invasores, os judeus revoltaram-se no tempo de Antíoco IV, Epifanes
(174-164 a.C.), e isso levou, de seguida, à guerra dos Macabeus.
Porém, não podemos ignorar que, desde o cativeiro da Babilónia, em 587 a.C. os judeus conheceram o fenómeno
do desterro ou diáspora, que determinou a fixação de comunidades judaicas em terras pagãs ou helenistas numa
espécie de sementeira pelo mundo, o que originou um fenómeno importante de diálogo e de relação entre judeus
e outras culturas, com especial ênfase para a cultura helénica.
A diáspora contribuirá, pois, em grande medida, para essas comunidades entre pagãos se abrirem à cultura
helenista, pelo menos a nível linguístico e cultural, vivendo em cidades helénicas, adotando às vezes a sua
cidadania, e os seus costumes – embora tentassem conservar a sua fé e as suas tradições – bem como a influência
do espírito grego, que se notava na conversão aos seus nomes.
No âmbito religioso, o judaísmo da diáspora insiste menos nos aspetos culturais e muito mais nos ético-morais.
Elementos tipicamente judeus como o templo, o culto, o sacerdócio e as práticas rituais perdem importância em
relação ao conteúdo moral, colocando o judaísmo num nível ético superior ao paganismo.
Para além disso, desenvolve-se também um método de interpretação alegórica das prescrições culturais e rituais
contidas nos livros bíblicos.
Um outro aspeto a salientar é o intuito apologético de mostrar que a fé judia é superior à filosofia grega. A
grande força moral do judaísmo exercia uma certa influência no paganismo, levando muitos pagãos a entrar no
judaísmo como prosélitos. Assim, as comunidades da diáspora deram amplitude e alguma universalidade ao
judaísmo.
Será sobretudo no Egipto que isso mais se evidenciará com a dinâmica cultural dos judeus, traduzindo a Torá
para a língua grega por causa dos muitos judeus que tinham perdido o contacto com a língua mãe.

 A tradução grega da Bíblia hebraica foi, sem dúvida, a obra de maior relevo do judaísmo alexandrino. Conhecida
como a versão dos setenta (LXX), trata-se da mais antiga tradução que compreendia, originariamente, só o
Pentateuco.
O nome “Bíblia dos LXX” baseia-se num livro apócrifo, datado do século II a.C., chamado “Carta de Aristeu”.
Sem dúvida, um escrito apologético para defender a autoridade, senão mesmo a revelação da dita tradução.
Trata-se da lenda sobre os 72 sábios enviados de Jerusalém, seis por cada uma das doze tribos de Israel
(6x12=72/70), que, separados, cada um na sua tenda na ilha, apresentaram uma tradução absolutamente igual.
Terá sido no tempo de Ptolomeu II, Filadelfo (285-246 a.C.).
Inicialmente, só foi traduzido o Pentateuco, mas depois seguir-se-iam os outros. Sabemos que, no final do século
II a.C., o neto do Sirácida (Eclesiástico) traduzira a obra do avô, mas informa que já corriam em grego o
Pentateuco, os Profetas, e outros livros segundo o cânone hebraico.
No prólogo, que antecede a tradução do Ben Sira, o neto que o traduziu deixou bem claro que, ao chegar ao
Egito, “observou uma diferença não insignificante na instrução” e foi isso que o determinou a “concluir e
publicar esta obra, para utilidade dos que, em terra estrangeira, queriam instruir-se, reformar os seus costumes
e viver segundo a Lei”.
Esta tradução dos LXX engloba sete livros apócrifos, que não eram conhecidos do hebraico, que os católicos
chamam Deuterocanónicos e os protestantes Pseudoepígrafos. São eles: Judite, Tobias, 1º e 2ª dos Macabeus,
Sabedoria, Eclesiástico ou Ben Sira, Baruc, com mais alguns fragmentos de Ester e Daniel; todos eles são,
indiscutivelmente, tardios e, muitas vezes, rotulados de apócrifos.
A realidade histórica é simples de compreender: no período ptolemaico, as comunidades judias presentes no
Egito sentiram necessidade de uma tradução que lhes permitisse ler a Bíblia na linguagem diariamente utilizada
que era o grego.
Há muitas discussões sobre quem mandou fazer a tradução e para quê. Sabe-se que segue um texto bastante
diferente do hebraico-massorético, tanto mais que, pelas descobertas de Qumran, também se sabe hoje que havia
diversos e diferentes textos hebraicos. Seja como for, esta tradução grega não é um bloco homogéneo e
uniforme, mas o ponto de chegada, a recolha dum longo e plural esforço, até porque se foram descobrindo
fragmentos gregos, que revelam um original diferente dos LXX.
As traduções latinas posteriores seguiram o texto dos LXX. Pode, pois, dizer-se que a tradução dos LXX se foi
fazendo, por mãos diferentes, em papiros e depois em códices, que, posteriormente, já no adiantado século IV
e V do Cristianismo, serão conhecidos como Codex Sinaiticus, Alexandrinus, Vaticanus.
Claro que, não raro, esta tradução acrescentou e fez paráfrases ao hebraico massorético, a “Hebraica veritas”
de S. Jerónimo (fragmentos gregos de Ester, suplementos gregos de Daniel; oração de Azarias; cântico dos três
jovens na fornalha; história de Susana, de Baal e do dragão), mas permite afirmar que também havia textos
hebraicos diferenciados, como revelaram os documentos bíblicos de Qumran.
Tudo isso proporcionou um enriquecimento dos textos bíblicos, que os primeiros cristãos não desprezaram e
aproveitaram até na exegese e interpretação da Sagrada Escritura. Aliás, esta tradução grega permitiu que se
salvassem livros ou escritos em hebraico ou em grego, que vieram alargar o âmbito da Bíblia hebraica com mais
sete livros, para não falar de outros textos claramente espúrios e apócrifos, como a Oração de Manassés e o 2º
e 3º livros de Esdras. Alguns destes livros são nitidamente helenistas, como o Livro da Sabedoria, outros dão a
conhecer factos da história hebraica (1 e 2º dos Macabeus, Ben Sira, Judite, Tobias, Sabedoria, Baruc), que, de
outro modo, se teriam perdido. São eles que levam o cânone católico da Bíblia a contar 46 livros no AT.
A tradução dos LXX esteve, além disso, na origem das traduções de Áquila, Teodocião, Símaco e das Hexáplas
de Orígenes, e animou a escola teológica cristã de Alexandria entre os séculos III e V da era cristã, fomentando
uma exegese bíblica espiritualizante e alegórica, muitas vezes em diferença e contraste com a escola de
Antioquia, realista e humanista, o que se verifica principalmente na história das heresias.
A tradução grega dos LXX foi, de facto, uma realização importantíssima para a difusão e conhecimento da
Sagrada Escritura dos judeus e não teria sido possível sem o contributo do helenismo.
 Nos primeiros anos do seu reinado, Herodes preocupou-se, sobretudo, em consolidar o poder, eliminando
qualquer possível adversário interno – sobretudo entre a aristocracia sacerdotal e a família asmoneia – e
convencer o imperador Octávio da sua lealdade, de tal forma que este lhe confiou as cidades costeiras, Jericó, a
Samaria e cidades na Transjordânia.
Na verdade, Herodes, o tirano, conseguiu criar um reino politicamente seguro e economicamente estável.
Apoiou a diáspora judaica, de tal forma que aos judeus do império foram concedidos direitos próprios mas, por
outro lado, favoreceu o processo de helenização, construindo em Jerusalém um anfiteatro e noutras cidades,
templos pagãos. A construção foi, de resto, uma das suas principais características.
Levou a cabo vários empreendimentos públicos como a construção de cidades, fortalezas e palácios (a
edificação da cidade de Samaria; a fundação da nova cidade de Cesareia Marítima; a construção de uma série
de fortalezas, a fim de reforçar as fronteiras do reino, entre elas o Herodium, em Belém; a fortaleza de
Maqueronte e a de Masada, no Mar Morto; a fortaleza Antonia, em Jerusalém; as torres da cidadela e, ainda, os
seus palácios, como o de Jericó) e ampliou o Templo de Jerusalém, considerada a sua obra mais importante.
Foi também relevante o desenvolvimento económico quer na agricultura (com colonos nas novas regiões e no
vale do Jordão) quer no comércio, facilitado pelo porto de Cesareia e por renovadas vias terrestres.
Ao nível das instituições, reformou o sinédrio – presidido pelo próprio e com membros inclusive pagãos – que
passou a ter apenas funções consultivas, e o sumo sacerdócio, que deixou de ter funções vitalícias e de ser
hereditário, passando a ser ocupado sobretudo por judeus da diáspora que o apoiavam nos seus propósitos
políticos.
Apesar de tudo isto, nunca conseguiu o agrado do seu povo, que o considerava um estrangeiro. Herodes era um
tirano que atuava como mecenas da cultura grega, apesar de respeitar as tradições judaicas. Era desconfiado e
perspicaz a descobrir o que lhe pudesse fazer frente e por isso os historiadores da época dão dele uma imagem
profundamente negativa, um psicopata, o que está em sintonia com o que dele diz o evangelho de S. Mateus
(Mt.2,13-18) a propósito da matança dos inocentes.

 Fariseus – eram considerados os santos do tempo. Flávio Josefo diz-nos que eram homens piedosos, íntegros e
que aguentavam a perseguição e o martírio no tempo de Herodes. Pessoas profundamente crentes, mas de
tendências teológicas diversas: uns viviam mais da esperança no apocalipse, outros apostavam no cumprimento
da Lei no tempo presente. Constituíam a classe média judia, uma sociedade fechada, caracterizada pela oração
e pela fidelidade minuciosa aos preceitos e à lei, na pureza ritual, no pagamento do dízimo sacerdotal, no estilo
de vida simples, mas, por outro lado, procuravam adaptar a letra da lei a novos condicionalismos históricos
através da interpretação dos escribas. Nasceram assim as diversas tradições orais vistas como “rede em volta da
lei”. A lei tinha uma função escatológica (acreditavam na ressurreição) e implicava o livre arbítrio e a
predestinação. O rigor das suas normas, levava-os a evitar o contacto com os pecadores, sendo este o grande
motivo de choque e de discussão de Jesus com os Fariseus.
Os seus atos quotidianos eram: a oração, o jejum e a esmola. Eram teologicamente abertos e politicamente
neutrais, embora com uma perspetiva religiosa.
Saduceus – o nome deriva, provavelmente, de Sadoc, o sacerdote ligado à história de David e Salomão
(1Sam.2,12-15). Provinham maioritariamente da aristocracia sacerdotal e das classes nobres e ricas. Não sendo
numerosos, a sua influência era enorme, pois ocupavam todos os cargos de maior importância, quer políticos,
quer religiosos. Eram conservadores ainda que pragmáticos em todos os campos. Na política, defendiam a
ordem reinante, defendendo a ordem e a paz; controlavam o sinédrio, colaborando com a soberania romana e
defendendo assim os seus interesses. Queriam que a lei fosse cumprida. Do ponto de vista religioso, aceitavam
apenas a lei escrita e rejeitavam as novas conceções como a ressurreição e a existência de anjos e espíritos.
Tinham uma visão deísta do mundo, afirmando que Deus não intervém na história nem se preocupa com a vida
de cada um. Eram um grupo fortemente tradicionalista e conservador, que rejeitava a tradição oral, bem como
as conceções teológicas novas, acolhidas pelos fariseus. Tolerados pelo povo, tiveram, todavia, um papel
decisivo na morte de Jesus e de Tiago menor e perseguiram os primeiros cristãos. Desapareceram com a
destruição do Templo de Jerusalém.
Essénios – tratava-se de uma comunidade de autênticos monges. Não são mencionados no NT mas por Flávio
José e pelas descobertas de Qumran. Terão sido herdeiros remotos de grupos de conceções apocalíticas. Eram
caracterizados por viverem à margem da sociedade, em dois tipos de comunidades – consoante habitassem ou
não o mesmo edifício – muito bem organizadas e fechadas, com uma disciplina interna muito rigorosa e onde
existia (ou não) a comunhão de bens, uma vivência ascética e uma forte exigência moral, o celibato (ou não),
uma observância rígida das prescrições rituais de pureza. Dedicavam-se à leitura e interpretação da Bíblia, à
oração e ao trabalho manual; estavam proibidos de exercer atividades comerciais e de fabricar armas; rejeitavam
toda a espécie de sacrifícios pois eram contra o templo e o seu sacerdócio (consideravam que não estava no
templo o devido sacerdote); os seus hábitos eram inspirados no cumprimento rigoroso da lei (refeições
comunitárias de teor litúrgico, repetidas lavagens rituais, observância rigorosa do sábado, etc.); consideravam-
se o resto de Israel (o que se mantinha puro) que preparava a vinda do Messias real, profético e sacerdotal e
tinham uma visão dualista da história: o confronto entre Deus e Beliar, a verdade e a mentira. Herodes tinha por
eles um grande respeito. Discute-se a influência deles em S. João Baptista, em Jesus e nos primeiros cristãos. A
comunidade de Qumran terá desaparecido com a guerra judaica.

 Do ponto de vista religioso, o Templo de Jerusalém converteu-se, com Herodes, no centro definitivo de toda a
actividade cultual, como a peregrinação anual a Jerusalém que se realizava por ocasião da celebração da Páscoa
e na qual a população de Jerusalém triplicava.
O Templo, destruído duas vezes, estava então a ser reconstruído e ocupava uma boa parte da cidade: o átrio
externo ou “pátio dos gentios” (porque admitia os pagãos) era o lugar de mercado; no centro do grande pátio
encontrava-se a parte reservada ao culto, assim como outros dois pátios: um chamado das mulheres (que só
tinham acesso a esse espaço) e outro dos israelitas, onde se encontrava o altar dos holocaustos e o santuário
dividido em duas partes: a mais externa onde estava situado a menorah, a mesa dos pães e o altar do incenso, e
a mais interna, ou o Santo dos Santos, que teria contido a Arca da Aliança e onde só o sumo-sacerdote entrava
uma vez por ano, durante a celebração do Yom Kippur.
O Templo era, pois, o espaço onde eram realizados os sacrifícios, onde o sinédrio reunia, onde eram
armazenadas as riquezas e impostos dirigidos ao Templo, bem como os objetos de culto. Era muito mais do que
um local de culto. Era o centro de toda a vida religiosa, económica e política judaica. As atividades e a
organização à volta do Templo revelavam por isso os valores e as divisões dessa sociedade, onde os sacerdotes
e conhecedores da lei possuíam privilégios.
Organizando a vida religiosa e os cultos no templo, existia um amplo clero chefiado pelo sumo-sacerdote, que
provinha das famílias judaicas mais ricas da palestina. Os sacerdotes eram escolhidos e destituídos pelos
governadores. Logo, a função sacerdotal possuía um marcado caráter político.
Junto ao templo desenrolavam-se, ainda, as principais festas do calendário judeu: a Pessah (recorda o êxodo);
a Shabu´ot ou Pentecostes (recorda o restabelecimento da lei); a Sukkot ou dos Tabernáculos (recorda o
desterro); a Rosh-hashanah (exalta Deus como criador e rei); a Yom Kippur (dia da expiação) e o Hanukah ou
da Dedicação (recorda a nova consagração do Templo realizada por Judas Macabeu). Nestas ocasiões o povo
reunia-se em Jerusalém e celebrava a intervenção divina na sua História. Mais do que um momento de
comemoração, tais datas serviam para perpetuar a memória e as tradições do povo. Para além destas festas,
também constava do calendário judeu a observância do Sábado.
Fora de Jerusalém difundiam-se as sinagogas, que se converteram no centro da vida judia. Eram também centros
religiosos, já que nelas se praticava o culto a Deus e tinha lugar a oração diária. Anexas à Sinagoga havia escolas
elementares, onde era ensinada e estudada a lei e os preceitos relativos à pureza ritual, tal como ocorre ainda
hoje. Nas sinagogas, qualquer judeu poderia, teoricamente, ler e fazer comentários à lei, o que não ocorria na
prática, pois essa função estava controlada pelos especialistas nas escrituras, os escribas e rabis farisaicos. Eram,
contudo, o centro da vida judaica da diáspora já que era o centro da leitura da Escritura.
Outras práticas religiosas judaicas comuns no século I d.C. eram a circuncisão, a guarda do Sábado e a oração
quotidiana, realizada pela manhã e à tarde. Contudo, apesar de uma aparente unidade, o Judaísmo estava
subdividido numa série de fações político-religiosas de diferentes grupos que debatiam e discordavam entre si
sobre muitos detalhes, tais como as expectativas sobre o Messias, os rituais e as leis de pureza, sobre como viver
sob a dominação estrangeira, diferenças que se tornaram bastante mais relativas depois das guerras judaicas.

 As razões são várias e complementares. Aos problemas económicos veio juntar-se a miséria geral e os impostos
romanos constituíam um fardo pesado para os pequenos agricultores e para os comerciantes; também pequenos
episódios, por vezes meros incidentes, aparentemente descontextualizados conduziam a revoltas constantes,
conduzidas, frequentemente, pelos sicários. Quando Pilatos, o procurador romano, trouxe para Jerusalém os
estandartes reverenciados pelos legionários, houve um clamor; quando ele desviou os fundos sagrados do
Templo de Jerusalém para construir o aqueduto, o seu sacrilégio levou à violência; quando um soldado romano
se expôs indecentemente à vista dos que estavam no Templo, provocou desordens em que muito sangue foi
derramado. Os procuradores faziam frente à agitação com medidas duras que só contribuíam para aumentar o
ressentimento dos judeus, preparando-se o cenário da catástrofe final.
Quando o imperador Calígula determinou que a sua estátua deveria ser erguida no Templo, para os judeus mais
piedosos isto era uma agressão direta à sua fé monoteísta. A oposição deles foi absoluta. Apenas a morte do
imperador impediu que a guerra que eclodiu em 66 a.C. fosse antecipada. Este projeto de Calígula, embora
nunca concretizado, revelava que os imperadores romanos não mereciam mais confiança do que Antíoco
Epífanes, cujos planos de sincretismo da religião judaica, e, consequentemente, da destruição do modo de vida
judeu, havia levado à rebelião dos macabeus e à fundação do Estado asmoneu independente. A história das
ações sacrílegas de Antíoco permanecia como um forte mito entre os judeus do séc. I a.C. Não lhes era difícil
ver Roma como um opressor semelhante, especialmente quando nos anos 60 a.C. a mania de Nero parecia, aos
seus súbditos, perigosamente similar à de Calígula.
O notável sucesso da campanha militar macabeia, então, encheu de otimismo os defensores de uma Judeia
politicamente livre, criando assim todas as condições propícias para um exacerbado sentimento nacionalista e a
instabilidade política durante os anos 60 foi o trampolim natural para o desejo de recuperação do passado áureo
do reino davídico.
Neste contexto, o comportamento do último procurador romano, Géssio Floro, foi o rastilho. A grande revolta
dos judeus (66-73 d.C.) irrompeu quando este ao exigir uma avultada soma em ouro do tesouro do Templo e ao
obrigar a população de Jerusalém a receber as suas tropas com solenidade, agiu não só com dureza, mas com
provocação, despertando um motim incontrolável, que rapidamente se tornou numa guerra de libertação.
Surpreendidos os romanos, a revolta conquista quase toda a Judeia, mas a resposta imperial, às mãos de Tito,
foi implacável. Conquista Jerusalém e destrói por completo o Templo em 70 d.C.
A resistência contra os romanos só terminou em 73 d.C., quando o último baluarte, Masada, o antigo monte
fortificado do rei Herodes caiu.
Apesar da derrota, os judeus continuavam a sentir-se provocados, e aconteceu uma segunda revolta.
Com o controlo militar romano mais apertado, o imposto pago anteriormente para o templo é agora cobrado
para o templo de Júpiter capitolino, o que era um insulto para qualquer judeu.
Além disso, o Imperador Adriano, depois de proibir por decreto a circuncisão, toma a decisão de transformar
Jerusalém numa cidade romana, construindo um Templo dedicado a Júpiter, o que vai provocar nova rebelião.
Também esta segunda revolta teve, inicialmente, notáveis êxitos, mas terminou com a repressão romana (mais
forte que a anterior) e com um banho de sangue. Os judeus foram proibidos de aceder à cidade de Jerusalém, a
qual foi transformada numa colónia romana e a Judeia passou a denominar-se Palestina.

 As repercussões políticas, sociais e religiosas da ocupação romana, prendem-se com as consequências da


segunda guerra judaica em 135 d.C.
Essas consequências foram desastrosas. O número de vítimas terá rondado as 850000 pessoas, sem contar com
as que foram reduzidas a escravos.
Politicamente, a situação agravou-se em relação à primeira revolta judaica: Jerusalém foi transformada em
colónia romana com o nome de Aelia Capitolina, sendo vedado o acesso aos judeus, sob pena de morte. A
Judeia vê o seu nome mudado para Palestina e aos raros judeus que por ali permaneceram não restaram
elementos identificativos, pelo que se sentiam estrangeiros na sua pátria.
No plano religioso, foram impostas diversas medidas de perseguição aos judeus. Desde a proibição da
circuncisão e do estudo da Torá, à proibição de guardar o sábado, passando pelo facto de verem no lugar do
templo destruído um templo a Júpiter Capitolino.
O centro espiritual do Judaísmo passou para a Galileia, em cujas academias se complementaria a revolução
começada em Yabne, que culmina com a codificação da Mishná. Foi desta revolução interior que surgiu um
judaísmo com um centro indestrutível: a Torá.
A fusão dos fariseus e dos escribas, dos seus ideais, e o estabelecimento da Torá como centro da vida diária
formaram o alicerce para a transformação do judaísmo que se legitimou mediante uma cadeia de transmissão
oral que estabelecia a união entre os ensinamentos mosaicos e proféticos e a tradição rabínica. Esta renovação
foi fundamental pois o judaísmo teve de adaptar-se a viver na diáspora, sem um estado próprio, sem culto
sacrificial e sem templo como centro da vida religiosa.

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