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Texto de História – Turma Amora I

Professor: Marcello Paniz Giacomoni


Nome: __________________________

Os Hebreus
Ao estudar os Hebreus, vamos tentar compreender o surgimento de uma ideia absolutamente
importante para o nosso presente: o monoteísmo, ou a crença em apenas um deus. A história deste
povo gira no entorno de um livro essencial: a Torá. Os cristãos conhecem este livro como “Antigo
Testamento”. Escrito ao longo de centenas de anos, a Torá pretende narrar o passado dos hebreus em
sua aliança com Deus, considerado único. Mesmo
que os eventos narrados ajudem a contar parte da
História dos hebreus, a Torá possui poucas
comprovações históricas. É antes um livro que
oferece unidade ao povo hebreu, que se
considerava escolhido por Deus, do que um livro
que narra as coisas “como elas aconteceram”.
Uma das primeiras narrações da Torá fala
de Abraão, e da linha genealógica que formará as
12 tribos de Israel, base do povo hebreu. Sabemos
que tal personagem possivelmente partiu da
Mesopotâmia, da cidade de Ur, em direção à
Canaã (atual Palestina e Israel), sendo que são
identificadas adaptações de mitos mesopotâmicos.
Por exemplo, o conhecido mito de Noé e sua arca
é muito possivelmente inspirado no Dilúvio de Ziusudra (parte da Epopeia de Gilgamesh, a mais antiga
obra literária de que se tem notícia), um mito que narra um grande dilúvio:

“Todos os ventos malignos, todos os ventos tormentosos se juntaram num só e, com eles, o
Dilúvio varreu as cidades das cestas de meio-alqueire por sete dias e sete noites. Depois do
dilúvio ter varrido o país, depois que o vento maligno lançou o grande barco nas grandes
águas, o sol saiu espalhando luz sobre o céu e a terra.”

Desta forma, infere-se que os primeiros hebreus eram clãs seminômades de pastores, que de
forma sazonal migravam por Canaã, eventualmente alcançando regiões da Mesopotâmia e do Egito.
Uma das narrativas na Torá fala de uma destas migrações: durante uma grande seca os hebreus
migram para o Egito, onde são recebidos e assimilados. A narrativa gira no entorno de José, filho de
Jacó, que após ser abandonado à morte por seus irmãos acaba por tornar-se influente na corte do faraó
devido à sua habilidade de interpretar sonhos. Passados muitos anos, a mudança de faraó faz com que
os hebreus sejam escravizados, momento em que surge uma das mais importantes narrativas dos
hebreus: Moisés e a fuga do Egito.
Segundo a Torá, Moisés libertou o povo de Israel da escravidão no Antigo Egito, guiando o seu
povo através de um êxodo pelo deserto durante quarenta anos, que se iniciou através da famosa
passagem em que Deus abre o mar Vermelho para possibilitar a travessia segura dos filhos de Israel.
Ainda segundo a Bíblia, recebeu no alto do Monte Sinai as Tábuas da Lei de Deus, contendo os Dez
Mandamentos. Valores essenciais para os hebreus (e judeus, utilizando o termo que designa o povo
atualmente) surgem desta narrativa: a ideia de que Deus prometeu a terra de Canaã para os hebreus e
a organização de uma ética, ou seja, a ideia de que Deus espera que seu povo siga determinados
comportamentos entre si e para com o próprio Deus.
As tribos hebraicas chegam à Canaã por volta de 1230/1220 a.C., e durante aproximadamente
200 anos (1230-1030 a.C.) lutam contra os Filisteus e outros povos que ocupavam a palestina.
Convencionou-se chamar este período de “Juízes”, já que a luta era organizada por chefes militares das
tribos que se uniam em uma federação.
É apenas por volta do ano 1000 a.C. que os Hebreus conseguem acumular poder suficiente para vencer
os Filisteus e formar um reino. Saul é o primeiro rei, e seu sucessor, Davi, vence filisteus e constrói o
palácio, além de trazer a arca da aliança para a cidade de Jerusalém. Salomão, seu filho, além de
expandir o reino, constrói o grande templo, local de repouso da arca e casa de Iaveh (termo hebraico
para “Deus”).
Após o ápice de poder do reino dos Hebreus sob o reinado de Salomão, conflitos internos
dividem a região em dois reinos independentes: Judá, ao sul (congregando as tribos Judá e Simeão) e
Israel ao norte, com as outras 10 tribos. Israel é destruído no ano de 720 a.C. por uma invasão dos
Assírios. Judá sobrevive por mais tempo, até que é invadido e anexado pelos Babilônios em 586 a.C..
Tal invasão é muito violenta: o templo é destruído, e grande parte da elite (sacerdotes, administradores,
comerciantes, chefes das tribos, etc.) dos hebreus é obrigada a migrar para a Babilônia.
Esta era uma prática comum entre os grandes impérios da antiguidade, como uma forma de
diminuir as chances de revoltas nas regiões conquistadas. Vivendo na Babilônia entre 586 e 538 a.C.,
muitos hebreus foram assimilados à cultura e à religião babilônias, mas outros mantiveram e sua fé à
Iaveh e à Lei de Moisés. Após a conquista da Babilônia por Ciro I da Pérsia, os hebreus são libertados e
muitos retornam à Canaã em 538 a.C. e reconstroem o templo em 515 a.C.. Os historiadores situam
este período como o momento de organização do texto da Torá, que antes eram histórias orais, sendo
que possivelmente Iaveh não era o único deus cultuado.
O grande legado civilizacional dos hebreus é justamente sua construção religiosa. De um início
politeísta (que acreditava em vários deuses), os hebreus desenvolvem a ideia de que apenas um deus
deve ser cultuado, que escolhe os hebreus como o povo escolhido. Este deus é Iaveh. Como se cultua
apenas um deus, mas não se invalida a existência de outros, chamamos essa prática de monolatria.
Apenas posteriormente, após o cativeiro da babilônia, que os hebreus passam a desenvolver a ideia de
monoteísmo (acreditar na existência de apenas um deus, sendo os demais falsos) e monoteísmo
ético (em que existe apenas um deus, que dita normas de comportamento e conduta ética). Temos por
exemplo a ação dos profetas Amós e Isaías, ainda no século VIII a.C., que criticavam a desigualdade
social, a perda de liberdade das tribos e o excesso de ritualidade por parte dos sacerdotes. Segundo
eles, Deus não quer oferendas, quer que as pessoas ajam conforme seus preceitos e regras, e
pratiquem a justiça social.
Cria-se uma ideia de deus cada vez maior e mais englobante da vida cotidiana das pessoas. Um
eu transcendente à natureza. Criou-a, mas não fazia parte da mesma, sendo que o entendimento do
mundo passava pelo entendimento de deus. Ao mesmo tempo, era um deus que escolhera um povo
para cultuá-lo, e amava e se interessava pelos destinos de seu povo escolhido. Ao mesmo tempo,
desenvolvem-se noções de autoconsciência e livre arbítrio, ou seja, a ação dos indivíduos frente aos
desejos do deus em relação ao seu comportamento.

A partir do que você leu acima, responda às atividades:

1) Observe o mapa acima. Em relação à Mesopotâmia e ao Egito, onde está Canaã?


2) Você conhecia alguma ou algumas das narrativas relatadas acima. Quais? Onde você ouviu?
3) Tente explicar a seguinte frase: “A Torá não é um livro de história, mas um livro de unidade.”
4) Defina o significado dos seguintes conceitos: Politeísmo; Monolatria; Monoteísmo.
5) Segundo a tradição dos hebreus (hoje designados de judeus) o Deus único estabeleceu uma
série de preceitos positivos (que devem ser feitos) e negativos (que devem ser evitados),
totalizando 613 mandamentos (ou mitzvot, em hebraico). Observemos alguns exemplos:

Positivos (mitzvot assê):


3 - Amar a Ele. Deut. vi. 5
4 - Temer a Ele. Deut. vi. 13
16 - Reunir as pessoas para ouvir a Lei a cada sete anos. Deut. xxxi. 12
50 - Acrescentar uma oferenda na festa de Sucot. Num. xxix. 13
54 - Alegrai-vos nas festas. Deut. xvi. 14
94 - Que um homem mantenha seu voto. Deut. xxiii. 23
158 - comer pão sem fermento na noite da Páscoa. Ex. xii. 18, xiii. 8
Negativos (mitzvot ló taassê):
1 - Crença na existência de alguém que não seja o único Deus. Ex. xx. 3
6 - Adoração de planetas. Ex. xx. 5
16 - Procurar persuadir um israelita a adorar ídolos. Ex. xxiii. 13. Deut. xiii. 11
46 - Usar vestes de lã e linho; Sha'aṭnez. Deut. xxii. 11
57 - Destruir árvores frutíferas em tempo de guerra. Deut. xx. 19

A partir destes exemplos, e o que você estudou em sala de aula, o que significa dizer que os hebreus
praticavam um monoteísmo ético?

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