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Questões De Universa Theologia

1- Diferença entre cânon hebraico e cânon grego; livros protocanônicos e


deuterocanônicos

O cânon hebraico é organizado em torno da TANAK (Torá, Nebim [profetas] e Ketubim


[escritos]). Esse cânon sintetiza o modo de pensar hebraico, a lei em primeiro lugar, depois os
profetas como comentadores da lei e por fim os escritos que não são lidos na sinagoga. A TANAK
possui 24 livros. Essa será uma diferença para o cânon grego que possui 39. Isso porque no
cânon hebraico 1 e 2 Samuel; 1 e 2 Reis; 1 e 2 Crônicas; Esdras e Neemias e os 12 profetas
menores constituem cada dupla um livro.
O cânon grego (LXX) traz um cânon estendido com 39 livros. Os livros citados acima
são divididos e aqui são inseridos mais 7 livros deuterocanônicos. A organização do cânon grego
também é diferente. Primeiro o pentateuco, livros históricos, livros sapienciais e por fim os
profetas.
Como dissemos o cânon grego inseriu os livros deuterocânonicos. A diferença destes
para os protocanônicos se da em três pontos. A língua em que são escritos, os deuterocânonicos
são escritos em grego e os protocânonicos em hebraico. A questão geográfica e temporal. Os
deuterocanonicos são escritos tardios fora da palestina enquanto os protocânonicos são mais
antigos e escritos na palestina. Desse modo os rabinos não colocaram os livros deuterocânonicos
no cânone. Mas considera-se esses livros igualmente inspirados.

2- Faça uma breve apresentação da história de Israel, destacando as várias fases e as


datas mais importantes.

Podemos dividir a história de Israel em seis períodos.


A formação do povo (final do séc XIII a.C.) a formação original do povo de Israel pode
ser explicada por duas teorias principais. A teoria da conquista, ela é descrita em Josué. Um
grupo externo penetrou no território e o conquistou. A teoria da revolta Israel nasce de uma
revolta de camponeses contra a estrutura dominante. Entre os anos de 1200-1030 a C. temos o
período dos juízes. Israel era uma confederação descentralizada de tribos governada por um juiz.
Esse exercia uma função de poder temporária de acordo com a necessidade. Para estas pessoas
o espaço social mais importante era a casa, o clã.
A monarquia (1030- 586) este é dividido em duas fases, o reino unido e a divisão do
reino 930. O reino unido tem três figuras de destaque Saul, Davi e Salomão. Saul (1030-1010) foi
o fundador da monarquia ele liderava a força militar. Devido a pressões externas e a ascensão de
uma classe econômica interna (donos de bois) os Israelitas decidiram ter um rei. Saul era ainda
um chefe tribal muito mais que um rei. Davi (1010-970) foi o grande unificador e centralizador do
poder na capital Jerusalém (1000). Tendo controlado todas as forças sociais em Judá e em Israel
Davi consolidou a monarquia e expandiu o domínio territorial. Com a ascensão de Salomão (970-
931) o sistema tribal foi definitivamente derrotado. Seu filho Salomão construiu o Templo e firmou
muitas alianças internacionais isso gerou um aumento dos gastos e por consequência da carga
tributária.
Com a morte de Salomão devido a esse peso de tributos o reino de dividiu. Assim
entramos na segunda fase do Reino dividido. O norte reino de Israel estabeleceu sua capital em
Samaria e o sul reino de Judá tinha Jerusalém por capital. No norte Jeroboão estabeleceu o culto
religioso em Dã e Betel como uma tentativa de fazer frente ao culto em Jerusalém.
Em Judá permaneceu reinante a dinastia davídica. Quando o norte é dominado pelos
Assírios no sul Ezequias tenta uma reforma religiosa, mas acaba se tornando vassalo dos
assírios. Passados meio século, chega ao poder o rei Josias (por volta de 620 a.C.) que realizará
reformas significativas: acaba com os “lugares altos” no interior e concentra todo o culto e o
sacerdócio no templo de Jerusalém.
Exílio na Babilônia (586- 538) Em 722 a C. a Samaria é tomada pelos babilônios e
numa politica de evitar revoltas a elite da população é levada para o exílio. Com o exilio o povo
perde as referencias que davam certeza da presença de Deus. O sul permanece de pé com a
2

monarquia davídica até 586 a C. Quando Jesrusalém é destruída e ocorre a deportação das
classes dominantes, na terra ficam os pobres.
Pós-Exílio Domínio Persa (538-333) Em 536 com o edito de Ciro acontece a volta dos
exilados. Com isso um estado teocrático é formado. Nos séculos V e IV a.C., o governador
Neemias e o escriba-sacerdote Esdras consolidam a organização do povo em Jerusalém. A
Esdras atribui-se a leitura da Lei (Ne 8) e a organização das sinagogas como casas de estudo da
Lei. Esdras é chamado de “o pai do judaísmo”.
Dominação Grega (333-67) quando Alexandre Magno conquista o império Persa tem
início o período grego, caracterizado por uma forte helenização. No século II a.C., os reis
helenistas da Síria (selêucidas) dominam Judá. Em 167 a.C., o rei Antíoco Epífanes profana o
templo (coloca uma estatua de Zeus) e provoca a resistência armada de Judas Macabeu e seus
irmãos (período conhecido como a luta dos Macabeus). Em 164 a.C., Judas Macabeu reconquista
e consagra o templo.
Domínio Romano Pompeu torna a Judéia (63) um protetorado romano. Os romanos
eram governados por um imperador que reunia em si todos os poderes e era divinizado
governando o império sob a “pax romana augustana”. Na palestina o poder foi representado por
Herodes o grande, por seus filhos e pelo procurador romano na Judéia. A presença dos romanos
e o governo de opressão realizado por Herodes acabam gerando uma reação social motivada por
questões religiosas. Surgem várias revoltas, as primeiras esporádicas e sem rumo. No ano 70 d
C. o templo de Jerusalém é destruído pelos romanos mudando o foco para as cidades da Ásia
menor.

3- Como se formou o Pentateuco?

Até o séc XVII, o Pentateuco era considerado uma obra de Moisés. Mas, o estudo
moderno desses livros destacou as diferenças de estilo, as repetições e a desordem em histórias
que impedem uma argumentação convincente de que o Pentateuco teria sido elaborado
completamente por um único autor1.
O Pentateuco tem sua forma final no tempo Persa, em torno do ano 400. Isso porque a
pérsia permitiu a seus súditos legislar dentro de suas tradições. Assim houve no Pentateuco uma
síntese das tradições de Israel.
Outro fator foi que Israel passa a ser uma pátria portátil, não há mais Rei. Esses fatores vem ao
encontro da tese de Welhausen (quatro fontes). “Há quatro fontes: a javista (J), escrita no sul, no
século IX; a eloísta (E), escrita, mais ou menos, um século depois, no reino do Norte e
influenciada pelos primeiros profetas (século VIII); o Deuteronômio (D), que, no seu núcleo mais
antigo, remonta à reforma de Josias, em 622a.C.; e a sacerdotal (P), obra exílica ou pós exílica.
Com toda a probabilidade, o Pentateuco atual foi compilado na época do segundo templo, e
muitos ligam essa redação à reforma de Esdras (cf. Ne 8).”2 O problema é que E e J tem
semelhança com o deuteronomista. Com isso se passou a questionar a teoria.
Gunkel introduz um novo método, que consiste na busca dos contextos existenciais dos
textos literários, procurando captar a fase pré-literária e o desenvolvimento da tradição oral que
vieram dar a origem as narrativas (Sitz im Leben) e a natureza da religião do povo3. A partir disto,
abre-se um novo horizonte a cerca da formação do Pentateuco, não se limitando mais as fontes
documentárias conforme um plano determinado, mas passa a ser cogitado a hipótese de ter sido
originado a partir de compilações populares, transmitidos pelas gerações e recolhidas por escolas.
Gunkel coloca que houveram tradições anteriores “antigas” difícil de serem identificadas porque já
foram remodeladas pela escola deuteronomista e sacerdotal. Um exemplo é o texto (tradição) da
saída do Egito. Essa hipótese é conhecida como a do escrito básico + as fontes. Existe uma
única trama narrativa (escrito básico) da criação à morte de Moisés, tendo completado nos
diversos momentos no tempo e no espaço (redação continuada). Isso se deu pela enculturação
dos textos patriarcais escritos ou transmitidos oralmente ou por emendas atualizadoras e
interpretadoras.

1
ZENGER, E. et alii. Introdução ao Antigo Testamento, 2003, p.82.
2
SKA, Op.Cit., p.126.
3
Idem, pp.127-128.
3

A terceira hipótese é a dos círculos narrativos + fontes. Consiste de relatos variados


com seus respectivos amadurecimentos, em torno de alguns temas ou personagens centrais do
Pentateuco posterior. No exílio e pós exílio aconteceu a primeira composição desses círculos
narrativos tendo como fio condutor a narrativa da criação à morte de Moisés. Com a união das
fontes, trabalho de escribas, começam as escolas deuteronomista e sacerdotal (projeto de
unidade 1 Deus; 1 templo). No exílio a história teve de ser revista mostrando que Israel foi infiel a
aliança. No retorno não há mais Rei, nem templo e nem pátria. Os sacerdotes tomam o poder e
amarram o pentateuco em torno de sua ideologia as leis culticas, de santidade, leis sacerdotais,
nação santa.

4- Fale sobre os códigos da Lei existentes na história do povo de Israel (Aliança,


Santidade e Deuteronômico).

O pentateuco é emoldurado por leis e narrativas. Para Israel é normativo, por isso Torá.
Neste contexto ele traz três códigos legais o da Aliança Ex 19-24; Deuteronômico Dt 12-26;
Santidade Lv 17-26.
O da aliança é pré-monarqico, é casuístico. Seu acento teológico está no contrato
(aliança de Deus com o povo). Ali se vê uma realidade agrícola, de aldeias, onde os chefes de
famílias ampliadas podiam regular os conflitos mais importantes em nível local. Suas sentenças
jurídicas não são abstratas, mas formuladas com base em casos concretos.
Depois houve o código deuteronômio que retomou algumas coisas e remodelou com seu
contexto (fidelidade do único povo ao Deus único no único santuário). Há aqui uma centralização
da justiça paralela a centralização do culto. Está ligado as reformas de Josias, se identificam
forças vivas empenhadas na reforma.
Por fim a lei levítica que é possivelmente exílica ou pós-exílica. Defende a santidade a
pureza, o templo, o culto. Por estar ligado aos sacerdotes Israel deve ser uma nação santa. Isso é
uma forma de Israel buscar a sua identidade, uma vez que não se constituiu naquele momento
como nação independente. As leis de pureza buscavam preservar o povo e orientar seu
comportamento.

5- Apresente o livro do Deuteronômio. (processo de redação e características


principais).

Aspecto literário: a questão central é entender o título da bíblia hebraica, debarím (as
palavras). São as palavras de Moisés no limiar da terra prometida, na planície de Moab. Todo o
pentateuco está emoldurado pela promessa. Dt 12-26 é o núcleo central, com leis relativas a vida
na terra. “quando entrardes na terra deveis observar essas leis”. O pentateuco é um grande relato
que tem por objetivo tratar da origem do universo e da origem de Israel.
Uma primeira análise do Dt afirma que se trata da narração do último dia da vida de
Moisés. Uma segunda hipótese diz que o livro contém os atos da última jornada de Moisés,
teríamos assim um texto que recolhe os ditos e fatos concernentes a Moisés. E a terceira
definição mais difusa é que Dt contém o discurso de adeus de Moisés e as narrativas tem por
objetivo informar sobre as circunstâncias desses discursos. Embora seja atese mais difundida os
exegetas têm dificuldade de estabelecer uma forma ou estrutura comum para os textos.4
Aspecto histórico: Dt passou a existir quando o direito do privilégio de Javé foi
aglutinado com a exigência de restringir o culto sacrifical em um único lugar. A centralização do
culto é presente em muitos excertos do livro (12,4-7.8-12.13-19.20-28). Essa primeira redação
pode ser situada durante a centralização dos sacrifícios sob Ezequias entre 725-697 a. C.
Deve-se a reforma de Josias em 622. Chegam a ele tradições proféticas do norte, ele
molda essas tradições de acordo com sua intenção de centralizar o culto (2 Rs 22-23). Seria como
que uma segunda redação.
Durante o exílio Dt sofreu alterações. É nesse período que são inseridos códigos
legislativos nos capítulos 19-25. Essas leis derivam, em parte, das antigas tradições legais como o
código da aliança e a lei de santidade. No séc. IV Dt é destacado dos livros que o seguem (Josué,
Juízes, Samuel e Reis) e inserido no Pentateuco.

4
Cf Jean Louis SKA, O canteiro do pentateuco, p. 208-209
4

As ênfases teológicas são: Teologia da Aliança (memória de ser libertado da


escravidão). Segunda lei (Dt 19,28) fixar as condições para viver na terra que estão para entrar e
habitar em paz. Teologia da fraternidade de respeito aos pobres e marginalizados.
A teologia presente no livro do Dt representa a primeira grande síntese teológica de
Israel. O livro sistematiza as diversas tradições sob as linhas mestras do compromisso exclusivo
de Israel para com seu Deus e também mostra como se dá essa relação contratual entre Deus e o
povo. A teologia do Dt reflete temas como: o monoteísmo, lei, terra, juramento de destruição e
promessa aos antepassados. “O povo de Deus no Dt se concretiza sobretudo:1- por meio do
aprendizado conjunto da fé; 2 – na alegria da festa perante Javé e 3 – pela ética da fraternidade.”5
Como se trata de um texto complexo uma proposta de divisão básica:
I- Introdução histórica e teológica: 1-11;
II- Código Deuteronômico: 12-26: leis cultuais (12,1-16,17), leis sobre a autoridade
(16,18-18,22), leis civis (19,1-21,19), prescrições rituais e conclusão (26)
III- Preparação e conclusão da aliança: 27-30;
IV- Apêndices: 31-34: Conclui o Deuteronômio, ajustando-o ao conjunto do
Pentateuco.

6- Na história de Israel, qual a característica principal da profecia no período da monarquia,


no exílio e no pós-exílio?

Do estudo dos profetas fica claro que “um mesmo problema pode ser tratado de
perspectivas muito diversas e encontrar as respostas mais dispares, sem que isso impeça a
preocupação comum pelo tema.”6 Essa posição precisa ser levada em consideração na resposta
da questão. Portanto não se trata de elaborar um discurso sobre as especificidades de cada
abordagem, mas ter presente que mesmo que o tema seja comum sua abordagem será diversa
diretamente ligada ao grupo do profeta.
No tempo da monarquia os profetas consideram que a sociedade não retrata os desejos
de Deus, não vive segundo a sua vontade por isso denunciam a injustiça (tema da justiça
social). Há um binômio famoso e frequente, direito-justiça. Em linhas gerais o direito (mispat)
equivale ao ordenamento da sociedade; sedaqâ, à atitude interna de justiça que torna possível
viver a fundo o primeiro.7 A expressão disso era muito díspar, poderia se consolidar na defesa da
monarquia como uma instituição divina, na crítica as alianças e comércio com estrangeiros e a
critica ao culto dos Baais. “Em resumo, poderíamos constatar como linha dominante o ceticismo
quanto a estes problemas terem solução humana.”8 Por isso o dia de Javé era muito presente
nesse período. Um exemplo de profeta desse período é Oséias que atuou no norte 750-724, anos
de muita instabilidade. Ele usa a metáfora do casamento para mostrar a infidelidade (adorar
outros deuses) da esposa a javé, e desenvolve um processo que é aberto pelos filhos.
No exílio a característica principal é manter viva a fé e a esperança do povo. Isso se da
por meio de duas vertentes principais. O grupo de Ezequiel que propõe uma restauração de
Jerusalém e da monarquia dravídica. Por outro lado o grupo do II Isaias propõe uma Jerusalém da
partilha. Aqui pode ser citado como exemplo o profeta Ezequiel, mostra que Javé não está em
Jerusalém por isso ela foi destruída, mas se manifesta aos exilados por meio das visões do
profeta. Sua grande preocupação de mostrar que Javé é o Senhor em contraste com outras
divindades do exílio.
No pós-exílio os profetas estão interessados na reconstrução em um primeiro momento
os profetas defendem a monarquia davídica, quando o templo já está funcionando se colocam em
uma posição de crítica e de busca de purificação dos sacrifícios. Um profeta desse tempo é
Malauias (meu mensageiro) situa-se no período em que o templo já está funcionando. Trata do
problema dos casamentos mistos. Sua preocupação principal é purificar os sacrifícios e as
funções do templo.
Neste período está claro que havia uma preocupação com o problema da autoridade
profética. Os profetas que experimentam a resistência de suas sociedades precisam encontrar
5
Erich ZENGER, et alii, Introdução ao Antigo Testamento, p. 110.
6
J. SICRE, A justiça social nos profetas, 1990, p. 587.
7
Cf. J. SICRE, A justiça social nos profetas, 1990, p. 600.
8
J. SICRE, A justiça social nos profetas, 1990, p. 614.
5

uma forma de reestabelecer o apoio social. Com a acentuação do anonimato dos profetas a
profecia foi marcada por um crescente uso de imagens apocalípticas. Isso indica que a literatura
desse tempo passou a mover-se para a apocalíptica.9

7- Como e quando se formou a coleção dos Salmos?

Salmos são orações do povo que primeiro tiveram seu período oral, depois escrito. É
muito pouco provável que toda coleção tenha surgido em vista da liturgia do II templo ou da
sinagoga mesmo que se utilizassem salmos nestes ambientes. Os salmos nascem de uma
situação que os provocou, assim é preciso conhecer o contexto subjacente a cada um para
descobrir-lhe o sentido.
Em hebraico esse livro é chamado Sefer tehiliim (livro dos louvores). Uma divisão simples
de seus gêneros pode ser: Louvor, Súplica e Instrução.
Esse livro se formou em várias remessas, pela junção de coletâneas menores, parte das
quais possui cada uma sua própria história de surgimento. Não é possível saber quem são os
autores dos salmos, pois nasceram de forma oral espontânea. Poucos salmos isolados são
originários do tempo do exílio. As coletâneas parciais mais antigas podem ser distinguidas nos
saltérios de Davi Sl 3-41 e 51-72, porém já existiam como coleções prontas antes de serem
unificadas em uma coletânea maior. As coletâneas mais antigas foram atribuídas a Davi na época
do exílio porque se buscava no Davi perseguido uma figura de identificação que gerasse
esperança.
Essas coleções vem se formando ao longo do tempo desde o séc VII A.C e
provavelmente se fecham no séc II A. C. Porque que fechou a coleção a editou como um pequeno
pentateuco, (1-41) (42-72) (73-89) (90-106) (107-150). Há uma doxologia em cada fim de coleção.
Então há que se supor que foi editado de coleções mais antigas. Outro elemento é que as
coleções de Qorah, Davi e Asaf são independentes.
Os salmos são um espelho da existência (até contraditória) Humana.

8- Destaque os principais projetos da literatura sapiencial e qual a sua relevância na


vida do povo de Israel?

Os livros sapienciais possuem um substrato antigo VIII – I a.C. Eles se fundamentam em


uma sabedoria prática, com uma incidência sobre essa prática. Nos provérbios mais antigos se
encontram o Mashal que são ditos antigos populares. Uma forma representativa é o pentateuco
sapiencial Provérbios; Eclesiastico; Jó; Coelet e Sabedoria. Cada um desses livros tem uma
leitura da existência humana diferente.
Distinguem-se três correntes básicas dos principais projetos da literatura sapiencial. A
sabedoria popular, que se ocupa com o comportamento social cotidiano, com a proteção dos
valores básicos da vida e da liberdade. Se ocupa também da observação do clima, dos animais e
plantas para formular a sabedoria. A segunda, a sabedoria palaciana, ligada ao surgimento da
monarquia e a organização necessária para ela. Sabedoria ensinada nas escolas e as
advertências para uma ética profissional dos encarregados do rei. A terceira, sabedoria
teologizada, que depois do exílio é caracterizada a partir da revelação do Deus Javé, criação e
torá.
O livro dos provérbios traz uma ideia de retribuição. Ele se concentra nas relações
familiares. As medidas econômicas injustas prejudicam a unidade e a solidariedade familiar. Se
reforça os laços da rede familiar baseados em exemplos do cotidiano.
O livro de Jó faz uma critica a ideia de retribuição. O livro mostra que a comunidade
enfrentava problemas de opressão politica e econômica. É um grito contra a teologia oficial, grita
contra essa visão de Deus que foi apresentada. Jó propõe uma experiência direta com Deus,
Deus está no templo, mas também na realidade dos camponeses. Jó questiona o sistema, pois
para ele a morte do justo não é culpa de Deus, mas do sistema que está ai.
Eclesiastes (Coélet) faz uma reflexão a respeito da fragilidade da vida. Critica
severamente a teologia da prosperidade e o imperialismo grego. É o período depois do exílio,

9
Cf. R. WILSON, Profecia e sociedade no antigo Israel, 1983, p. 263-265.
6

nessa época os Ptolomeus mandam em Judá e assumiram o trabalho diante do Deus sol: é o
trabalho realizado debaixo da opressão.
O livro da Sabedoria tenta dialogar com o helenismo mostrando que ele não conduz o
homem a sua verdadeira felicidade. A verdadeira sabedoria não é a cultura conquistada pelo
pensamento, mas a sabedoria que vem de Deus. Ela não é fruto do esforço humano em primeiro
lugar, mas dom de Deus. É uma resistência a cultura dominante.
Eclesiástico (Sirácida) é um texto de 180 a.C, um texto que foi tratado como canônico.
Excluído da literatura publica em 135 d.C. A leitura do livro do eclesiástico foi muito recomendado
pelo judaísmo. Ele vai dizer o temor a Deus é fonte de sabedoria. É positivo porque incentiva as
pessoas a não abandonarem a sua tradição.
Esses projetos da literatura sapiencial remetem-nos a Javé. Diferente do que pensam os
povos vizinhos à sabedoria está ligada a Deus. Só ele pode conceder esse dom a seu povo que
vive em um contexto de mudança cultural, econômica e social.

9- Apresente as principais características do judaísmo helenista no período


intertestamentário e suas semelhanças com o cristianismo.

Essa questão situa-se entre 50 a.C e 51 d.C. A partir de Alexandre Magno (séc III) a
cultura grega é difundida. Isso cria nas pessoas um esquema cosmopolita, todos falam a mesma
língua e tem a mesma cultura. Os judeus intensificam o uso de suas sinagogas, pela distancia de
Jerusalém e para garantir seu direito de inserção nas realidades locais. Era por elas que Paulo
começava sua pregação ao chegar em uma cidade. A septuaginta como grande esforço para a
intelecção das escrituras, o mundo falava grego. As comunidades cristãs também fizer uso da
septuaginta.
Há que se observar algumas coisas. A língua (sabedoria reflete isso) e a perspectiva
cosmopolita fazem Israel se abrir a uma perspectiva maior de reflexão. Isso será uma
preparação para o cristianismo que tem pretensões de universalidade.
Muitos círculos judaicos reagem a enculturação de forma violenta. Surge então o
fenômeno da apocalíptica. Que prepara a perspectiva messiânica.

10- A partir de um dos evangelhos sinóticos escolha um texto relevante que possibilite
uma chave de leitura para o mesmo.

Escolhemos Lc 4,16-30, trata-se do texto programático de lucas. Tudo o que acontece no


microcosmos de Nazaré será depois apresentado em um contexto amplo.
Jesus retorna a Nazaré sua cidade, é colocado esse lugar para dar um destaque especial
para o inicio do ministério de Jesus, segundo os padrões geográficos teológicos de Lucas. Entre
os seus ele inicia sua missão mas depois passa aos outros. Isso indica que não basta o vinculo de
sangue mas é preciso também fé e amor. Lembra também que o nascimento da Igreja étnico-
cristã dependeu da rejeição do evangelho pelos judeus. Depois a cena se desenvolve em um
contexto litúrgico.
Ele lê um texto de Is 61,1-2 que anuncia a libertação dos cativos e o anuncio de um ano
de graça aos pobres. Faz referencia a que Jesus é o ungido, em seu batismo, profeta escatológico
prometido. Durante todo o seu ministério propôs a Palavra de Deus, aprofundando o seu
profetismo, até tornar-se ele mesmo palavra profética com sua ressurreição. Sua palavra é dirigida
aos pobres, e também por isso sua palavra conhecerá o desprezo.
Em seu comentário Jesus acentua o HOJE. Há uma insistência no aspecto atual da
salvação o que vem a tona também no episodio dos pastores, de Zaqueu e do bom ladrão.
Significa que acabou o tempo das promessas, aqui se inicia o seu cumprimento.
Seus interlocutores reagem com admiração, mas logo questionam a origem daquele que
pronuncia essas palavras. Para mostrar o sentimento deles Jesus usa dois provérbios “medico
cura-te a ti mesmo; e nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. Trata-se de uma reação ao
nacionalismo deles, a exemplo de Elias e Eliseu o profeta escolhe os de fora e a eles leva a
salvação. isso gera uma reação violenta que evoca o linchamento de Estevão e o furor das
sinagogas da diáspora contra Paulo. Lucas quer justificar a missão entre os pagãos que
desencadeou a perseguição por parte do grupo judaico.
7

Eles atentam querendo mata-lo mas ele segue seu caminho. Anuncio do que acontecerá
em Jerusalém, onde os judeus o matam mas Deus o ressuscita. As perseguições não impedem o
avanço da palavra. Por isso o Evangelho toma o caminho dos pagãos, a palavra irá até os confins
da terra.

11- Quais elementos possibilitam dizer que o Evangelho de Lucas e Atos compõe um
díptico?

Do ponto de vista linguístico o grego é uniforme, além do mesmo vocabulário e estilo


literário.
Do ponto de vista de estrutura a relação entre os prólogos demonstra varias questões
que remetem para um mesmo autor. Em atos ele diz ter escrito um livro anterior e dedica esse a
Teófilo, algo que também faz no Evangelho. Naquele tratou de tudo o que Jesus “fez e ensinou”.
Este binômio serve como uma ponte do tempo de Jesus e o tempo novo que agora se abre o
tempo da Igreja. Cita também os apóstolos com o mesmo intuito. Os 12 tem grande importância
tanto que ele fala da entrada de Matias no grupo. São eles as testemunhas oculares a quem
Jesus apareceu (tekmeria) e que conviveram com Jesus.
Outra questão é que Lucas narra duas vezes o episódio da Ascenção de Jesus ao céu: a
primeira em Lc 24,50-53, e a segunda em At 1,6-11. Mas não se trata de mera repetição:
enquanto o primeiro relato possui enfoque cristológico, o segundo relato possui enfoque
eclesiológico – isso mostra a ênfase de cada um dos volumes.
Há uma dobradiça entre as obras At 1,1-5 e Lc 24,44-49 onde muitas expressões são
recorrentes.
Na mesma estrutura, o caminho da palavra, aqui Jerusalém é o ponto de convergência e
partida, movimento centrípeto em Lc e centrifugo em At. Lucas quer mostrar a consequência do
evento Jesus na história e a temática da salvação inclusiva. Dos judeus até os confins do mundo.

12- A partir da leitura da Carta aos Romanos. Como “síntese do pensamento paulino”,
aborde um tema ou temas que você considera principais.

Essa carta serviu de modelo para muitas apresentações da vida cristã. Em seu esquema
a existência sob a Lei, a revelação de Deus em Jesus Cristo, a vida cristã, a relação do Evangelho
com a promessa, os fundamentos éticos da vida nova. A interpretação da morte e da ressurreição
de Cristo como acontecimento de revelação da justiça de Deus lhe serve de ponto de partida e de
fundamento lógico para sua compreensão do conjunto do cristianismo. É a partir daí que ele
repensa sua relação com a cultura grega, relê a história das promessas e da Escritura
veterotestamentárias, redefine sua identidade judaica.
Tomar a tese da carta como itinerário 1,16-17; o Evangelho da justiça de Deus. Dentro
disso a própria carta se divide, 1-4 5-8 9-11 essa é a parte sistemática e dogmática, a segunda
parte vai trabalhar questões pontuais. Então dentro dessa primeira parte. (há a proposição e a
comprovação da tese).
1-3 apresenta a condição do homem sob a lei, em sua condição natural se encontra em
pecado em uma leitura teológica. Um tema central de Romanos é: “a justiça de Deus” agora foi
revelada, ou seja, a qualidade segunda a qual, no julgamento, Deus liberta as pessoas de seus
pecados por meio da fé em Jesus Cristo. A pergunta aqui é: qual a relação entre as pessoas e
Deus antes da vinda do evangelho de Cristo? Voltando-se primeiramente para os gentios, nessa
carta Paulo deseja explicar que um Deus gracioso era cognoscível desde o início da criação (Rm
1,18-23). Apenas por falha e estupidez humana é que a imagem divina foi obscurecida no mundo
pagão; daí a ira de Deus. Uma descrição realista da idolatria pagã, da lascívia e da conduta
depravada à qual ela conduziu (Rm 1,24-32) reflete os valores judaicos de Paulo. A seguir, porém,
em Rm 2,1, em um estilo conhecido por nós como diatribe, Paulo fala a um judeu ouvinte
imaginário, que pode julgar aquilo que Paulo condenou; no entanto, apesar de sua postura
superior, pode estar fazendo as mesmas coisas. Deus não demonstra favoritismo: a vida eterna e
o castigo são atribuídos de acordo com o que as pessoas fazem; primeiramente os judeus serão
julgados de acordo com a Lei; a seguir, os gentios serão julgados conforme a natureza e de
acordo com o que está inscrito em seu coração e em sua consciência (Rm 2,5-16).
8

Paulo ridiculariza a orgulhosa pretensão de superioridade judaica. Ele afirma que a


circuncisão tem valor, mas somente se se observa a Lei. De fato, uma pessoa incircuncisa, que
vive segundo as exigências da Lei, condenará o circunciso violador desta (Rm 2,25-29). Todos os
seres humanos são culpados perante Deus. Qual, então, é a vantagem dos judeus circuncisos, se
eles também estão sob a ira de Deus (Rm 3,1-9) e se ninguém é justo? Em Rm 321-26 Paulo
responde: aos judeus foram dadas as palavras da promessa de Deus, e Deus é fiel. O apóstolo
menciona o que foi prometido ou prefigurado na Lei e nos Profetas, a saber, a justiça de Deus
mediante a fé de/em Jesus Cristo, que justificou judeu e grego, sem distinção. A integridade de
Deus está assegurada: ele não é infiel, pois os pecados de todos foram expiados pelo sangue de
Cristo. Ninguém tem o direito de orgulhar-se, visto que Deus gratuitamente justificou o circunciso e
o incircunciso da mesma maneira, pela fé, independentemente das obras da Lei (Rm 3,27-31).
No cap 4 constatado que ele não consegue sair dessa condição por si, então se
manifesta a justiça de Deus. Essa torna justo o pecador. Trata-se de um atributo relacional, não é
de Deus em si mesmo. Se da a justificção do ser humano pela graça, é o dom da graça. Essa vem
não por seus méritos mas por misericórdia de Deus. Nesse capítulo, retrocede ao primeiro livro da
Lei e cita Abraão para mostrar que Deus agiu coerentemente, pois a justiça de Abraão se deu pela
fé, e não pela Lei.
Os cap 5-8 tratam da existência justificada, quem é justificado com deus está em paz
com Deus. Vida nova com Cristo, a prova disso é que Deus enviou seu espirito que Da
testemunho dessa realidade, ele é o dinamizador.
Reconciliação com Deus em Cristo e seus benefícios. Se as pessoas são justificadas por
intermédio de Cristo, estão reconciliadas com Deus. Isso traz muitos benefícios: paz com Deus,
esperança de partilhar a glória dele e uma infusão do amor divino (Rm 5,15). A explicação sobre
como a morte de Cristo realizou a justificação, a salvação e a reconciliação (Rm 5,611) contém
uma das maiores explanações neotestementárias do que envolve o amor divino: a disposição de
morrer pelos pecadores que não merecem tal graciosidade. – Assim como a transgressão de
Adão levou a condenação de todos, o ato de justiça de Cristo levou todos à justificação e à vida.
Rm 5,12-21 deu origem à teologia do pecado original.
Em Rm 6,1-11, Paulo explica que essa transformação é realizada por meio do batismo –
a mais longa abordagem desse assunto em suas cartas, embora nem mesmo aqui ele explicite a
relação exata entre batismo e fé na obra divina. Nosso velho ser foi crucificado com Cristo; fomos
batizados em sua morte e sepultados com ele, para que, assim como ele ressuscitou dos mortos,
nós possamos caminhar na novidade da vida. O pecado, porém, permanece uma força atuante,
embora agora estejamos sob a graça e não sob a Lei, e Rm 6,1223 adverte contra a escravidão
do pecado.
No capítulo 7, Paulo volta ao tema da Lei mosaica. O princípio básico é que a morte de
Cristo anulou o poder vinculativo da Lei. Esta não pode equiparar-se ao pecado, mas as paixões
pecaminosas são suscitados por ela: ... eu não conheci o pecado senão através da Lei” (Rm
7,5.7).
Mas se Cristo liberta da morte e do pecado, e traz a vida, como se deve levar essa vida,
especialmente porque ainda nos encontramos na carne, e esta não se submete à lei de Deus? No
cap. 8, a resposta de Paulo é: não devemos viver de acordo com a carne, mas conforme o
Espírito de Deus, que ressuscitou Cristo dos mortos. “Pois se viverdes segundo a carne,
morrereis, mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis” (Rm 8,13). Destarte,
tornamo-nos filhos de Deus (capazes de clamar “Abba, Pai”, como Jesus o fez), herdeiros de
Deus e co-herdeiros de Cristo, com a promessa de que, se agora sofremos com ele, seremos
também glorificados com ele (Rm 8,14-17). O povo de Deus compreendeu que era o primogênito
de Deus ou os filhos de Deus (Ex 4,22; Is 1,2); agora, porém, o relacionamento aprofundou-se por
meio do Espírito daquele que era o único Filho de Deus. Nosso corpo será liberto dos laços da
decadência e levado à liberdade. Nós ainda não vemos isso; esperamos, pacientemente, mas a
fim de socorrer nossa fraqueza, o Espírito intercede por nós com suspiros inexprimíveis (Rm 8,24-
27). Em Rm 8,31-39 Paulo termina essa segunda parte da seção doutrinal de Romanos com uma
das declarações mais eloquentes de todos os escritos espirituais cristãos.
5-11 se deus justifica pela fé qual o papel de Israel, significa que Deus se tornou infiel a
seu povo diante dessa teologia.
9

13- A partir do evangelho de João fale sobre o tema: “A oferta de vida plena que Deus
Pai apresenta por intermédio de seu filho Jesus”.

Jesus é o revelador do Pai, esse é o tópico central, e dentro disso uma vida plena e de
amor. Depois a questão se desdobra no livro dos sinais que mostra a vida plena que Jesus
oferece.
No dialogo com Nicodemos Jesus mostra a ineficácia da lei. Este texto está inserido no
ciclo das instituições onde Jesus tece criticas as grandes instituições de seu tempo. Um texto
programático aqui é o dialogo com Nicodemos. Jesus propõe a ele um novo inicio (sem a lei), e
um novo principio vital (água e espírito) e do alto a cruz porque o Filho do Homem já tem em si o
principio vital, o Filho do Homem é o Filho de Deus. O ser humano é chamado a ser recriado em
Cristo, mas para isso precisa dar a adesão a ele. Vida plena não se trata de continuidade temporal
mas de profundidade existencial (isso voltará em Lazaro), por isso o nascer de novo é um refazer-
se o que é incompreensível para Nicodemos e para muitos ainda hoje.
No segundo ciclo, e seu texto programático (cura do filho do funcionário real) se verá qual
é a proposta de Jesus e como ele se aproxima do homem. Nos encontros com as pessoas ele
apresenta sua proposta de vida. Mostra a caducidade do poder (funcionário real e seu poder não
da a vida) e dos bens (multiplicação dos pães a reconhecer que os bens são dons de Deus). No
realto do cego há uma explicação figurada do nascer de novo do cap 3 e a realidade da exclusão
do judaísmo. Por fim Lazaro o ser humano que experimenta a fraqueza e Jesus que lhe oferece a
vida nova. Jesus partilha sua vida como dom de si mesmo.
No cap 13 apresenta como deve ser a comunidade de Jesus. O texto do lava pés mostra
homens livres e que o serviço é parte essencial de sua missão.
No cap 19 Jesus consciente de sua missão entrega a vida, “tudo está consumado” o
projeto do Pai de um homem novo. Todo aquele que se aproximar da cruz terá a vida definitiva.
No fim Cristo entrega o Espírito. A aliança do novo cordeiro é selada com sangue e água. O
sangue além de significar a vida é a vida oferecida por amor. É o amor oferecido até o extremo. A
nova aliança não mais é selada pela lei mas por uma atitude.
Na ressurreição se manifesta que o projeto de vida não tem fim. Isto é que a morte física
não pode por fim a esse projeto.
Em 20,31 é sintetizada essa temática: crer é a adesão ao projeto de Jesus.

14- Em relação às cartas católicas: qual a relação entre teologia e ética cristã
apresentada nas diferentes cartas?

As cartas católicas são sete Tg; 2Pd; 3Jo; Jd; Hb. Elas são cartas que surgem na
diáspora judaica. Por esse motivo possuem um cunho prático de orientação aos cristãos que
vivem em meio a uma mentalidade, uma cultura que não favorece a vida cristã. Por isso elas tem
um cunho de ortopráxis. Essa questão é expressa por exemplo nas saudações, Tg “aos filhos da
dispersão, as doze tribos...”
Uma vertente dessa relação entre teologia e ética é a compreensão da relação fé e obras
na carta de Tiago 2,14-26. “A fé sem obras é morta”. Muitos compreenderam isso como uma
antítese ao pensamento paulino. Isso acontece porque em Gl 3,1-6 Paulo afirma que a salvação
se da pela fé e não pelas obras. Em Gl 5,6 Paulo afirma que a fé age em obras. Para a justa
compreensão disso é preciso ver o contexto em que foram escritas. Paulo está em um polêmica
com os judaizantes por isso coloca em primeiro lugar a fé e não as obras da Lei. Não se trata de
primeiro ser judeu e depois ser cristão. O que ele se opõe é a justificação que se da pela Lei. Ele
rejeita o valor das obras humanas que visam merecer a salvação sem a fé em Cristo. Essa
confiança no esforço do homem para tornar-se justo ignora o fato de que ele é pecador e torna vã
a fé em Cristo. Assim a fé precisa redundar em uma vida coerente. Que é aquilo que Tiago busca
afirmar em sua carta. Não basta aderir através da inteligência aos ensinamentos é preciso a
prática.
A carta de 1Pd é uma carta de exortação e confirmação na fé. Suas temáticas principais
são a eleição do cristão, a alegria no sofrimento e a páscoa de Jesus. desenvolve uma teologia da
eleição, a ressurreição de Jesus gera uma nova vida e uma herança incorruptível. Ela gera uma
esperança nova, não está reservada na terra mas no mundo de Deus. Essa herança é alcançada
por meio de uma fé perseverante. O sofrimento é parte da vida cristã e não pode desviar da
10

esperança primeira. Mesmo em meio aos sofrimentos os cristãos não devem voltar a esperança
vazia, devem se apegar a nova esperança. Para superar essa tendência devem viver a
solidariedade. E obedecer a verdade isto é a palavra proclamada.

15- Discorra sobre profecia e apocalíptica: semelhanças, diferenças, contextualizações


histórica de ambas.

Há uma tese de que a apocalípticas seja um prolongamento da profecia. Isso porque as


duas tem uma leitura teológica da própria história. Para a profecia a chave é a aliança que não é
unicamente religiosa, mas também social estrutural, lê as coisas como fidelidade e infidelidade a
aliança. Por isso a profecia exerceu um papel crítico da sociedade.
A apocalíptica é um prolongamento da profecia quando a história se torna crítica. Chega
um momento em que essa ação sobre a história não é mais suficiente. Por isso no AT se tem o
livro de Dn e NT o Ap. Dn surge no helenismo diante de pressão desse sobre as tradições do
povo. Antioco Epifanes que profanou o templo. A apocalíptica é uma resposta e por isso transfere
a uma dimensão superior o juízo. Isso porque a história não da conta dessa realidade cristica, não
basta à ação humana. Deus comanda essa história. O Ap também surge em época de
perseguição.
Ainda que o profeta tenha um componente escatológico à tônica está no presente: o
profeta convoca a conversão a mudar o presente pela aceitação da vontade de Deus a fim de
preparar um futuro de paz e bem-estar. A apocalíptica tem um horizonte mais amplo da história da
salvação e interpreta as dificuldades do presente como parte do combate escatológico entre bem
e mal.
11

16- Faça uma descrição dos fundamentos e características do ínicio da problemática do


Jesus histórico, passando pela chamada teologia liberal, teologia querigmática (Bultmann)
e as considerações teológicas a partir de Kasemann até as tendências marcantes obre o
tema na teologia recente.

Durante muito tempo a centralidade da cristologia permaneceu fixada no evento da


encarnação, intuído a partir dos textos bíblicos e, sobretudo reforçado pelo dogma de Calcedônia.
Citava-se a escritura como fonte de autoridade sem questionar o próprio texto. Durante um longo
período a cristologia se ocupou de refletir sobre a figura de cristo exaltado com poder e glória à
direita de Deus. Com o advento da modernidade e o surgimento dos métodos sistêmicos e um
rigor científico mais apurado a reflexão cristológica muda de enfoque. Temos um novo interesse
por Jesus, não mais sobre o que a teologia tem a dizer a respeito dele, mas por aquilo que os
textos, lidos em uma outra ótica, dizem a respeito. É o início de um movimento inverso que é
assumido pelas ciências históricas e posteriormente pela teologia. A reflexão teológica se
distancia da sua forma dogmática e se encaminha em direção dos textos bíblicos. É a busca por
Jesus histórico.
Início da problemática: Reimarus: Trata a figura de Jesus em uma perspectiva historiográfica.
Ele separa a doutrina de Jesus da doutrina dos apóstolos. Ele questiona os dados do NT
principalmente dos evangelhos. Quer saber se o que é contado corresponde a realidade mesma
de Jesus. O Jesus que existiu em Nazaré e o Cristo pregado nos evangelhos não são o mesmo, é
necessário diferenciar o que foi de fato ensinado por Jesus e o que é apresentado pelos
apóstolos. Chega a essa conclusão a partir de seu conhecimento cultural. Volta a questão
sinótica, e afirma que os evangelhos não são um contar o fato mas a interpretação. Para
Reimarus, centro da pregação de Jesus é a iminência do reino dos céus, um reino já esperado e
aguardado pelos judeus. Todavia a sequência dos eventos culminou com a morte de Jesus.
Então, os discípulos, para não se verem envolvidos no mesmo fracasso do mestre, roubaram o
seu cadáver e passaram a anunciar a sua ressurreição. Desta forma, se abre um novo cenário:
aquele que pregava o Reino é agora a expressão visível ou a personificação do reino. Não mais
um Reino em sentido político terreno, mas o Reino escatológico. O mérito de Reimarus está em
trazer para reflexão teológica a questão da historicidade, numa crítica, dos eventos narrados nos
Evangelhos.
Teologia Liberal: As teses de Reimarus suscitaram respostas e posicionamentos. Toda essa
problemática coincide com o aparecimento da história como ciência. entende-se, portanto, ter
sido justamente da ciência histórica que surgiram as primeiras tentativas de respostas. Nasce se a
corrente de pesquisa que se ocupa de descobrir quem foi Jesus de Nazaré. É Neste contexto que
aparece teologia liberal, cujo objetivo é buscar, o máximo possível, a historicidade da vida de
Jesus. A TL movida por um interesse quase apologético, quis dar cientificidade a vida de Jesus,
para que a fé em Jesus se movesse também por uma razão bem fundamentada e não somente
pela força do dogma. Os estudiosos desse tempo buscavam libertar Jesus de um contexto
mitológico, por isso a racionalidade dos estudos das “vidas de Jesus” e o apresentavam como um
liberal moderno portador de seus valores. A Teologia Liberal não trabalha com o sentido o que
gera uma teologia limitada e criativa.
SCHWETZER entende que esse estudo redundou em um grande fracasso pois fazia de
Jesus o ideal de homem que estava na mente do estudioso. Jesus precisa ser entendido em seu
tempo e há sempre um mistério que o envolve por isso a linguagem mítica tem seu valor. O mérito
da TL é ter colocado o método histórico-crítico em ação e a acentuação da cultura e línguas. As
criticas a essa teologia foram à base para a teologia dialética.
Teologia querigmática: quer interpretar a escritura sendo fiel a palavra. Não é possível
acessar o Jesus histórico pela falta de fontes. A fé se relaciona não com o que Jesus pregou (pois
isso não é conhecido) mas com o querigma da comunidade. Ela não contou uma biografia mas a
sua adesão de fé. Com a ajuda de Heiddeger ele procura estabelecer uma relação existencial
entre Jesus e sua mensagem. A comunidade retomou a tradição de Jesus e passou a anuncia-la
mas nisso Jesus foi visto como mestre e profeta e se tornou ele mesmo o messias que passou a
ser anunciado. Ela da um tom escatológico. Antes o portador da mensagem é agora ele mesmo
incluído na mensagem, o anunciador passou a ser o anunciado. Ele rejeita a ligação entre Jesus e
o querigma, a comunidade não o via como messias mas o esperava como messias, ao recontar
isso já o coloca como messias. A cristologia do Maranatha endossa isso. A figura do messias e
12

transportada para Jesus em sua ressurreição. O cristianismo começa com a experiência da


páscoa e com o querigma da Igreja. Bultmann faz um corte radical entre Jesus, o personagem
histórico, e o cristianismo que deriva da pregação do Cristo exaltado e glorificado. O Jesus da
história e o Cristo do querigma figuram, na teologia bultmanniana, como duas grandezas distintas.
A vantagem dessa abordagem é reconheciemento da influencia da comunidade na contrução do
querigma e a relevância dos mitos. A desvantagem é a negação total do acesso ao Jesus
histórico.
Reações: Vieram de vários lugares inclusive entre seus discípulos. Kasemann aceita a proposta
histórico critica (não biografia). Pergunta por que a Igreja depois de ter proclamado o ressuscitado
voltou ao crucificado? A comunidade não podia separar a história de Jesus e sua própria. A
narrativa não é algo desvinculado da realidade pois ali se pode alcançar elementos dessa história.
O método por deficiência não estabelece a ligação mas não significa que ela não tenha existido.
Käsemann busca um ponto de equilíbrio entre o otimismo liberal e o pessimismo bultmanniano a
respeito da questão do Jesus histórico. Ele quer, fundamentalmente, salvaguardar a continuidade
entre o Jesus da história e o querigma. Mesmo sem saber, Käsemann estava inaugurando a era
“pósbultmanninana”. Não se trata necessariamente de uma ruptura. Trata-se de voltar a refletir
sobre um problema, aparentemente solucionado para Bultmann, acerca do significado do Jesus
histórico para o querigma
A cristologia atual, devido a todas essa discussões abriu seu horizonte e se tornou mais
crítica com a pesquisa bíblica mais apurada sem dispensar os dogmas. Busca um equilíbrio entre
o Jesus histórico e o Jesus da fé, uma conciliação entre TL e querigmática evitando os extremos.

17- Desenvolva um argumento especificando as observações acima, levando em


consideração os aspectos: circunstâncias históricas e características. Disserte sobre a
caracterização de Jesus como Lógos; o conceito de geração eterna a partir de Orígenes; a
questão ariana e a resposta de Nicéia e a síntese dogmática de Calcedônia.

A investigação sai do texto bíblico com uma forte presença da filosofia. Busca-se
especificar cada vez mais a identidade de Jesus. Isso surge de um processo de helenização
devido ao distanciamento histórico e a presença do cristianismo em território helenista.
O termo Logos em sua longa história tem o sentido principalmente de razão, discurso e
fundamento último. Filon de Alexandria associou esse termo a palavra de Deus que cria o mundo.
Deus da inteligibilidade as coisas criadas e um sentido pelo logos. Mais tarde os cristãos irão se
apropriar desse conceito e atribui-lo a Cristo. O logos como conceito totalizante como uma
espécie de razão que organiza toda a realidade, assume uma semântica teológica e no
cristianismo é identificado com Cristo. Assim se faz uma ponte entre filosofia e cristianismo. O
logos ganhou identidade e personificação.
Duas grandes problemáticas emergem: A) Por um lado salvaguardar o monoteimo
judaico (Como JC é Deus com Deus). B) Assegurar a humanidade e divindade de JC (como ele é
Deus e homem).
No contexto da primeira problemática se colocam Ário e Orígenes e a resposta de Nicéia.
Orígenes afirma que “Deus é sempre Pai de seu Filho único, que dele nasceu e dele toma tudo o
que é, sem que ai exista qualquer tipo de início.” 10 Fala de filho e nascimento no sentido
ontológico. Desde sempre o filho procede do Pai. Usa texto de Jo 1,1-2 “no princípio a palavra era
Deus e estava com Deus”. “Quem atribui um começo a palavra de Deus ou a sua sabedoria
ofende pela impiedade o próprio Pai, não gerado, impedindo que ele tenha sido desde sempre o
Pai que tenha gerado a sabedoria.” Com isso ele desenvolve o conceito de GERAÇÃO ETERNA
(não se refere a um tempo mas ao princípio). “É impossível pensar que o Pai jamais tenha existido
um átimo que seja, sem gerar a sabedoria de que fala Pr 8,22. O Pai é princípio sem princípio. O
filho é princípio de princípio.
Ário por meio de uma leitura literal de Pr 8,22 entende que a sabedoria (logos) é criada.
Ela é a primeira e mais excelente das criaturas, mas fundamentalmente criatura. Deus sempre foi
Deus mas nem sempre foi Pai, só passou a ser depois que gerou o filho que não é coeterno. O
filho não procede do pai como essência mas procede da vontade do pai ele tem um desde quando
e um desde quem. Logo não é Deus por essência mas por participação. A isso reagiu o concílio

10
ORÍGENES, De princiipis I, 2,2
13

de Nicéia (325) que pendeu para Orígenes. Usa a metáfora da Geração (homoousius) que não
tem princípio temporal. Com isso quer afirmar que o Filho coexiste com o Pai. O pai é princípio
constitutivo e não temporal como pensava Ário. Com homoousius se traduz o termo bíblico
unigênito do Pai. Para o nosso bem esse filho desce do céu e se encarna. Longe da questão estar
totalmente resolvida surge a duvida sobre o modo de compreender a encarnação, o Cristo na
história.
Apolinário de Laodiceia afirmou que na encarnação a alma humana foi substituída pelo
logos, assim a plenitude da humanidade não está no verbo e ele não tem duas naturezas.
Nestório nega a união hipostática. Ele postula em Cristo dois sujeitos um divino e um humano, a
paixão se atribui ao humano e a glória ao divino. Êutiques defende as duas naturezas antes da
união, mas depois constituem uma única natureza. Trata-se de um monofisismo, a natureza divina
traga a humana. Cirilo respondeu a Nestório com o conceito de união hipostática, em Cristo há
uma só pessoa e duas naturezas, sem confusão ou mistura.
O concilio de Calcedônia (451) afirmou a união hipostática e que Cristo é
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, co-existem no mesmo Jesus as duas
naturezas humana (alma racional e corpo) e divina (verbo divino) consubstancial a humanidade e
consubstancial ao pai.

18- “A boa nova da salvação é, segundo Sesboué, o coração do cristianismo. A boa


nova se identifica com aquele que a trouxe, Jesus Cristo. E os beneficiários desta boa nova
são as pessoas que escutam a palavra de Deus pronunciada e exemplificada por Jesus.”
Disserte, a partir desta explicitação, sobre a realidade salvífica trazida por Jesus. Faça
paralelos com as grandes categorias salvíficas do Antigo Testamento e estabeleça uma
interpretação com a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo em vista da salvação do ser
humano.

A Salvação constitui um dado fundamental da fé cristã, tanto que, encontra-se presente


no Símbolo de fé quando lemos: “Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus; e
encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e Se fez homem.” Jesus, o Verbo
encarnado, veio ao mundo para nos salvar e nos reconciliar com Deus. “Foi Deus que nos amou e
enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). “O Pai enviou o
Filho como salvador do mundo” (1Jo 4,14). “E Ele veio para tirar os pecados” (1Jo 3, 5).
São Gregório de Nissa explicita essa realidade salvífica trazida por Jesus dizendo que:
“enferma, a nossa natureza precisava ser curada; decaída, precisava ser elevada; morta,
precisava ser ressuscitada. Tínhamos perdido a posse do bem; era preciso que nos fosse
restituído. Encerrados nas trevas, precisávamos de quem nos trouxesse a luz; cativos,
esperávamos um salvador: prisioneiros, esperávamos um auxílio; escravos, precisávamos dum
libertador.”
Porém essa salvação é oferecida ao ser humano há muito tempo e podemos verificar a
salvação já presente no Antigo Testamento (AT). Já no AT temos uma história que perpassa todas
as narrativas contadas e recontadas ao longo da Bíblia: Deus se revela salvando. Esse é fato
central presente na narrativa bíblica.
No que diz respeito à questão da salvação presente na vida de Jesus podemos dizer que
a vida de Jesus é inteiramente uma vida que salva. Ele coloca em ação o programa que se
resume no significado do nome Jesus: Iahweh salva. E Jesus não faz isso de fora, por meio de um
poder mágico. Jesus está inscrito na própria história da humanidade finita e pecadora. Ele vem
compartilhar o destino com cada um de seus membros. Ele expressa sua singularidade única na
vulgar particularidade da vida de alguém que de modo algum se distingue dos seus semelhantes.
O exemplo de Jesus mostra que a vocação do homem é ser livre como ele. Por isso a salvação
pode ser lida na chave de libertação, no AT se pensava que o pecado coletivo fazia perder a
liberdade e Deus resgata o seu povo. Jesus em muitas vezes agiu libertando os seus
interlocutores, seu sacrifício é a definitiva libertação do homem.
Cristo se torna solidário no sentido mais humano da palavra. Em Jesus temos um grande
movimento da busca e aproximação de Deus para com homem, que se desenrola do Éden e
cruza toda a história do povo escolhido. Quando Jesus pisa na terra da Galiléia, e começa a
anunciar que o reino de Deus está próximo, ele realiza um projeto que estava em andamento
desde a fundação do mundo. Agora "Deus está conosco", a salvação está aí. Porque a salvação é
14

o próprio Cristo. Ele é o Iluminador a salvação se da pela revelação, em Cristo está a plena
revelação de Deus. Já no AT Deus foi se mostrando aos homens. A revelação quer mostrar quem
é Deus para nós.
A estes homens aos quais Deus se mostrou ele os elegeu. Categoria eleição é de suma
importância para a teologia, porque é por meio dela que podemos elaborar um discurso sobre as
razões pelas quais Deus interage de modo especial com um povo específico, e, a partir desse
povo, universaliza o sentido de sua presença. Essa eleição é universalizada em Cristo. Deus
promete terra e descendência, símbolos da vida eterna e da prosperidade dadas por Cristo.
A Salvação oportunizada por Jesus tem seu ápice na morte e ressurreição de Jesus. A
morte de Jesus é compreendida a partir de imagens do Antigo Testamento como resgate da
servidão; redenção pelo sangue de Cristo; entrega da vida em resgate por muitos; autoentrega,
como sacrifício expiatório; expiação dos pecados. O resultado da ação salvífica de Jesus também
pode ser lida por diversas categorias teológicas como: justificação, graça, santificação,
reconciliação, nova aliança, novo nascimento, etc.
O evangelho de João vê a morte sacrificial de Jesus como “cordeiro de Deus” o
fundamento da redenção do mundo, e isso tem fundamento quando se lê “No dia seguinte, ele vê
Jesus aproximar-se dele e diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.” (Jo 1,29) A
morte de Jesus serve para que o Pai revele a glória de seu amor: “Pois Deus amou tanto o
mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida
eterna.” (Jo 3,16). Nele se estabelece uma nova aliança em que Cristo é o mediador.
Outros autores como SESBOÜE vêm o sacrífico de Jesus como um sacrifício existencial,
de entrega da vida, pois não temos elementos a partir do próprio Jesus que designem um
sacrifício com um tom de expiação ou mesmo um sacrifício ritual nas circunstâncias da sua morte.
O que se nota é uma perspectiva de entrega constante, segundo a vontade de Deus em
manifestar o seu amor às pessoas. Não uma entrega voluntarista diante da morte, mas uma vida
pró-ativa para o próximo e para Deus. Seu sacrifício é a plena satisfação pois só um homem Deus
poderia realizar.
Jesus é o modelo de homem justificado é o homem livre. Sua justiça é uma atitude moral
e espiritual. Jesus dirige-se aos pecadores um paradoxo, não chama os justos mas os torna
justos.
Sobre a temática da ressurreição é importante destacar os relatos bíblicos que tratam a
respeito do tema. A carta aos Rm 4,25 diz que: “Ele foi entregue por nossos pecados e foi
ressuscitado para nossa justificação.” Paulo atribui à ressurreição um valor salvífico. A
ressurreição não é um adendo; não é apenas um sinal necessário para a fé e para a comunicação
de nossa justificação. A ressurreição é um ato de salvação. Ela termina o que a cruz realizou. A
ressurreição é o cumprimento perfeito da salvação em Jesus para nós; é também a sua última
revelação.
O reconhecimento da ressurreição é indispensável para uma razoável compreensão do
bem da salvação. Logicamente, cruz e a ressurreição não são mais salvíficas do que a outra. É
importante reter que a cruz e ressurreição estão intimamente associadas. A cruz e cruz de
ressurreição; e a ressurreição será sempre a de um homem crucificado (cf. Mt 28: 5-7). Sem o
segundo, o primeiro, apesar de toda sua grandeza, permanecerá marcado por uma ambiguidade
radical; sem o primeiro, o segundo seria reduzido a uma representação mágica, indigno de
qualquer credibilidade.

19- É correto afirmar, então, que o mistério da pessoa humana (o filho) só é esclarecido
no mistério de Cristo (o Filho)? Posicione-se e justifique.

Sim. Pois a abertura ao transcendente é parte essencial do humano, logo para uma
correta compreensão se requer o dado da revelação. A encarnação do Filho possibilitou uma
revelação plena de Deus e assim o filho pode compreender a grandeza de sua vocação
(chamado a comunhão com Deus).
Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece
verdadeiramente. Adão, o primeiro homem, era efetivamente figura do futuro, isto é, de Cristo
Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o
homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime. Ele é o homem perfeito, que restitui
aos filhos de Adão a semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que, n'Ele, a
15

natureza humana foi assumida, e não destruída, por isso mesmo também em nós foi ela elevada a
sublime dignidade. Porque, pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a
cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com
uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se
verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado.
O cristão, tornado conforme à imagem do Filho que é o primogênito entre a multidão dos
irmãos, recebe “as primícias do Espírito” (Rm 8,23), que o tornam capaz de cumprir a lei nova do
amor. Por meio deste Espírito, “penhor da herança” (Ef 1,14), o homem todo é renovado
interiormente, até à “redenção do corpo” (Rm 8,23): “Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus
de entre os mortos habita em vós, Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos dará também
a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rm 8,11).
É verdade que para o cristão é uma necessidade e um dever lutar contra o mal através
de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas, associado ao mistério pascal, e configurado à morte
de Cristo, vai ao encontro da ressurreição, fortalecido pela esperança.
E o que fica dito, vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em
cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos morreu Cristo e a
vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o
Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só
de Deus conhecido.
Em suma, a filiação divina é a graça de o homem poder participar, em virtude do Espírito
Santo, naquela única e irrepetível relação que Jesus tem com o Pai. Não podemos falar da
plenitude do homem de um ponto de vista teológico, senão em categorias cristológicas; a
conformação a Ele é o plano original do Pai, nele fomos escolhidos. E, ao mesmo tempo, não
podemos compreender o ser de Cristo se não consideramos sua filiação divina. Nela se baseia
sua identidade (cf. Mc 1,11 e par.), que o NT vê fundamentada no próprio ser de Deus, na
preexistência do Filho junto ao Pai. No modo concreto de viver essa filiação divina em sua história,
tem papel fundamental o Espírito Santo, que torna possível sua encarnação até sua constituição
de Filho de Deus em potência por sua ressurreição dos mortos.
Dando-nos seu Espírito, Jesus não nos comunica, portanto, nada de estranho a ele. Pelo
contrário, dá-nos a si mesmo, na medida em que, com o dom de seu Espírito, Jesus nos torna
partícipes de sua filiação, de sua relação com o Pai, que constitui o que é mais íntimo do seu ser.
Se, em virtude de sua filiação eterna, Jesus é o Filho unigênito de Deus, e nesse sentido sua
relação com o Pai é irrepetível, em virtude da unção do Espírito que recebe em sua humanidade,
que assim se torna a única fonte de tal Espírito para os homens, Ele se torna o primogênito de
muitos irmãos (cf. Rm 8,29). Assim, nós, homens podemos participar de sua condição irrepetível
de Filho. Somos filhos no Filho.

20- Em que sentido a esperança é categoria determinante para a escatologia a partir da


modernidade? Disserte sobre as vantagens e limites de uma leitura escatológica embasada
na categoria de esperança.

Em certo sentido a esperança é o eixo norteador da reflexão teológica. É na esperança


que fomos salvos (Rm 8,22). O cristianismo marca a história, mas não termina na história. Se tem
esperança porque se tem fé, a revelação tem um conteúdo de promessa que não se esgota e não
se apreende no simples devir histórico. Pela adesão ao Rino de Deus os cristãos atuam de modo
transformador no mundo. Neste sentido, a esperança configura o meio pelo qual a religião se
desenvolve na história sem se tornar prisioneira dela. É por ela que o ser humano abandona as
realidade de certeza para se fixar na busca das realidades prometidas, sempre confiante, mas
sempre a caminho. Aqui se vê uma vantagem dessa leitura a sua dinamicidade, não deixa o
homem estático em uma situação.
Para Moltmann quando em escatologia se adia tudo para um fim último se perde a
significação orientadora, animadora e crítica para os tempos vividos antes do fim. Por isso mutas
vezes a escatologia vegetou nas últimas páginas da dogmática cristã.
Mas o cristianismo nasce escatológico, carrega a esperança do reino pretendido por
Jesus. Ele sendo presença na história lança o homem para compreende-lo em sua dimensão
transcendente. Isso não é fuga da história mas sentido esperançoso de que a história remete para
a plenitude de Deus. Com a herança do estado romano o cristianismo perdeu força mobilizadora,
16

e se concentrou em manter-se. O cristianismo é total e visceralmente escatologia, não só como


apêndice: ele é perspectiva, tendência para frente e por isso mesmo renovação e transformação
do presente. Sem escatologia/esperança ele seria apenas um rememorar o passado. É a
escatologia como esperança salvifica que torna a lembrança viva e atuante. A eucaristia e sinal
disso.
Cristos se manifesta na história e aponta para o ainda não. Assim a história lida na
perspectiva cristã mostra que o presente nunca é completo. Por isso Cristo é colocado como
pedra de toque, falamos de um futuro por conta de um presente que nos é mostrado. A
expectativa de futuro em contraste com o presente deve provocar a transformação deste, isso da
um tom revolucionário que é inerente a dinâmica do Rino de Deus. A esperança espera o que
intui, essa intuição parte da realidade que nunca está pronta.
A desesperança e ceder ao pecado e ficar na inércia. O protesto contra a esperança
cristã sempre acentuou os bens presentes e a acusou de alienação. Mas quem da sentido ao
presente é a esperança. Ela é pro yacto que possibilita o presente ser vivido. A esperança não
anula o presente, mas lhe da sentido. Ela é ativa, faz no presente a concreção dos projetos
esperados.

21- Elabore uma reflexão articulada na seguinte ordem: juízo particular e universal,
destinos inferno, purgatório e céu.

Em momentos de crise o povo judeu desperta para a apocalíptica, assim os problemas


são lidos em chave teológica. Deus soberano intervirá. O pano de fundo da escatologia de Israel é
sempre um problema social e político. O agir escatológico de Deus se realiza em um horizonte de
julgamento em uma tríplice vertente governa (restabelece a ordem) julga (contapõe as injustiças)
e salva (novo rumo para a história). Na apocalíptica judaica, o juiz será o messias – o Filho do
Homem (Dn). A comunidade cristã vincula o juízo com Jesus o juiz escatológico. O juízo se liga a
seu retorno glorioso. Tem a ver com a realidade do ressuscitado e ninguém sabe o dia nem a
hora. A decisão final é a floração daquilo que o homem semeou e deixou crescer.
A doutrina cristã afirma um juízo particular quando cada pessoa se encontrara dinte do
juiz e terá em sua vista o mais profundo de si. Esse juízo tem um caráter definitivo e esclarecedor,
se desliga dos condicionamentos para uma relação clara com Deus. O que sucede dai é
tematizado como destino definitivo. O Juízo universal é uma recapitulação do mundo fim da
história e inicio de uma nova era. Está associada a segunda vinda, a palavra de Cristo no tempo é
parâmetro de julgamento. É o meio pelo qual a fé cristã entende que tudo depende de Deus, dele
procede e pra ele se dirige.
Os que morrem sem estar completamente purificados , passam por uma purificação. Não
há um texto especifico mas em 2Mac 12,41-45 oferecimento de sacrifício pelos mortos. Isso indica
que eles não estão totalmente mortos, e que sua situação pode mudar por intervenção dos vivos.
1Cor 3,11-15 a metáfora do fogo induz um processo de purificação. Mc 12,31-32 fala do pecado
contra o ES que não será perdoado nem na outra vida. A tradição leu isso e elaborou a doutrina
do purgatório. Famoso é o exemplo da coroa de flores de S. Cirilo de Jerusalém. O habito de
rezar pelos mortos. O aquinate a coloca no contexto da justiça de Deus e Florença (1439) define
dogmaticamente sua existência. A teologia atual vê um processo de purificação fora do tempo
parte do destino positivo.
Os que morrem na graça veem Deus face a face, são semelhantes a Deus e vivem com
Cristo. Esse destino está associado a morda de Deus o ouranós (sede do olimpo) celum que é o
céu. Céu é uma paráfrase para indicar a transcendência de Deus sem perder sua proximidade.
Diversos são os textos que apontam para ele como o lugar dos cristão, a imagem do banquete, o
paraiso prometido ao bom ladrão, o pai nosso. O tema nunca foi posto em duvida pela tradição, os
medievais resgataram a ideia de paraíso. Céu é uma participação na vida divina caminho para
onde tende o homem.
Os que morrem em pecado mortal tem o destino dos danados isto é o inferno. Designa
inferus (que está abaixo) xeol e ades. O vale de geena (2Rs 16,3) ajudou a criar a imagem de
lugar de fogo. O AT deixa ver um lugar de tormento para os maus. Jd 16,20-21 tormento pelo
fogo. Dn 12,2 ressucitar para a vida eterna ou para a condenação. No NT a noção de recompensa
de justiça a imagem do abismo e segunda morte. na tradição ele foi discutido se entendeu que os
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que sofrem esse destino tem uma pena de dano (privação de Deus), pena de sentido (atinge o
corpo que ressurgirá para o castigo, imagem do fogo) e eternidade da pena.

22- Como entender graça como experiência do amor e de amizade com Deus, que supõe
ao mesmo tempo compromisso de amor fraterno e de prática da justiça?

A teologia da graça11 é a dimensão subjetiva da teologia trinitária. A autocomunicação é


uma palavra paradigmática. Discernir a ação da trindade na pessoa remida.
O vocábulo graça só surge no grego e como categoria teológica surge com Paulo. Assim
é preciso interpretar a escritura com um olhar paulino retroativo. No AT Deus é que atende a
suplica do homem e se inclina (Hanan) inclinação (Hen) para socorrer. Os 11,4 “eu me inclinava e
lhe dava de comer”. O termo que melhor se adapta a um Deus que se abaixa é HESED (Ex 34,67)
que significa afeição, amabilidade, benevolência, solidariedade, bondade, graça... Designa uma
relação interpessoal, sobretudo de generosidade que ultrapassa o esperado. Aqui podemos ver
um elemento da graça como experiência de amor e amizade com Deus. Hesed é um
comportamento de Deus perante seu povo. É uma relação evoca sempre uma reciprocidade.
Assim o homem também deve ser hesed para seu próximo.
Até Jesus a graça divina hesed é entendida como atributo que revela a bondade com a
qual Deus ajuda seu povo. Em Jesus se entende que Deus não só envia benefícios para seu
povo, mas que ele é o próprio benefício de salvação através de Jesus. A encarnação é a
manifestação visível do hesed de Deus. O envio do Espirito Santo é a segunda manifestação
disso. Rahner o Filho e o Espírito são as duas formas da manifestação da graça de Deus. Deus
em sua imanência é amor, quando é na economia da salvação é graça. Dessa autocomunicação
em duas formas fundamentais se entende que Deus só pode ser revelado por meio de si mesmo.
Oriente e ocidente seguiram duas direções, a primeira influenciada por João e a segunda
por Paulo. No oriente parte-se da encarnação do verbo com ascento no aspecto divinizante da
graça. No ocidente parte-se da redenção de Cristo na cruz com ascento na dimensão libertadora e
sanante. Não há oposição, uma pressupõe a outra.
Para os orientais a graça é a ação de Deus que santifica, incute na pessoa a glória da
divindade que vai transformando a pessoa. Isso por três formas sacramentos (ontológica) ética
(vivencia das virtudes) e mística (amizade com Deus). Isso se chama divinização. A divinização foi
a finalidade da encarnação, restauração do humano como imagem de Deus. É obra do Espírito
que inabita o homem e o transforma, o aproxima do modo de ser de Deus. (abertura ao outro)
No ocidente ela é experiência de justificação, uma vez que o pecado rompe a amizade
com Deus. A graça o justifica e restaura essa amizade. O advento de Cristo mostra isso, Deus se
inclina para restaurar essa amizade. Todos pecaram mas todos são justificados, gratuitamente por
meio da graça na redenção de Cristo (Rm3,23-24). Esse amor é iniciativa divina ao homem cabe
aceitar: “eis que estou a porta e bato” (Ap 3,20). Pelagio negou isso atribuindo as próprias forças
do homem a capacidade de fazer o bem. Para Agostinho a liberade humana não pode superar o
pecado por si mesma ela precisa da graça.
Na teologia contemporânea Rahner faz uma teologia ascendente. Ele faz a inversão
porque parte do ser humano, como ser necessitado de salvação, este é o destinatário da graça
salvadora. Antropologia e teologia possuem uma simbiose que não pode ser desprezada. Ele não
coloca o primado da graça em uma perspectiva exclusivamente descendente, mas no ato de criar
há no ser humano uma abertura que o faz esperar uma autocominicação. Em seguida ele tece um
discurso sobre a fonte da graça que é Deus. A graça é a autocomunicação de Deus. Ele não só se
inclina mas se da ao homem.
Tal Dom que é também o Doador, move o homem a configurar-se a Cristo, que se
oferece ele mesmo ao Pai. Por isso a amizade com Deus, fruto da graça, deve conduzir ao amor
fraterno e a justiça. No dom de si ao outro a pessoa libertada pela graça encontra a sua própria
realização. Há aqui uma relação muito concreta.

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O termo Graça é polivalente e denota uma realidade multiforme onde confluem dimensões e estratos diversos,
inseparáveis e complementares. Graça designa, antes de tudo, o dom que Deus faz de si mesmo: graça incriada.
Designa também o efeito desse dom no homem: graça criada. A imbricação de ambas constitui a chamada graça
habitual, realidade permanente, estável, inerente, da qual se distinguem aquelas outras moções divinas no homem, de
caráter pontual, denominadas graças atuais.
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23- Indique o que é singular e o que é plural na forma de conceber Deus. Explique as
relações e processões ao interno da Trindade e disserte sobre a problemática do Filioque.

Dentro das relações e processões ao interno da Trindade encontramos a pluralidade,


sabemos que a divindade do Filho e do Espírito são um só Deus com o Pai, mas possuem uma
presença de características distintas que são próprias da onipresença de Deus. O Pai enviou, mas
não é enviado; não pode ser enviado, segundo Agostinho, porque não procede de nenhum outro.
O Filho é enviado e envia. O Espírito Santo é enviado e não envia. As missões de cada um dão a
conhecer a unidade e as distinções em Deus. Segundo Sto. Tomás mostram-nos a processão do
enviado a respeito do que envia, a missão em Deus interessa a processão de origem, por isso o
Pai não pode ser enviado. Mas o fato de que Deus Pai tenha enviado ao mundo o Filho e o
Espírito Santo mostra-nos que eles vêm de Deus. Essas missões divinas, que nos introduzem na
questão da origem em Deus mesmo do Filho e do Espírito Santo, à “geração” do Filho e a
“processão” do Espírito Santo no qual tem o Pai por seu princípio último. Ou Seja, como o Pai
enviou o Filho e (com o Filho) enviou o Espírito Santo, assim o Filho recebe seu ser do Pai, como
também dele recebe primariamente o Espírito Santo, embora com a participação do Filho.
Podemos dizer que o que é “singular” em Deus é a sua essência (ousia). O Pai é aquele “princípio
sem princípio” e fonte de Divindade.
A fórmula trinitária afirma que há três pessoas distintas em uma só natureza divina.
Agostinho segue na linha da tradição que se firma a partir do oriente e procura demonstrar a
Trindade se refere a um só e verdadeiro Deus, entendido como o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
possuindo uma só e mesma substância ou essência. Eis a síntese daquilo que Agostinho
encontrou no seu estudo: O Pai, o Filho e o Espírito Santo perfazem uma unidade divina pela
inseparável igualdade de uma única e mesma substância. Não são, portanto, três deuses, mas um
só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Pai não é o que o Filho é. E o Espírito
Santo não é o Pai nem o Filho, mas somente o Espírito do Pai e do Filho, igual e ao Filho e
pertencente à unidade da Trindade. O Pai é princípio sem princípio, o Filho tem seu atributo em
relação ao Pai que é ser gerado e o Espírito, por sua vez é aquele que do Pai procede, sendo seu
atributo ser procedido. Desde modo, “não só a unidade que é divina, mas a multiplicidade também
é uma característica original, pois tem no próprio Deus a sua causa intrínseca” como descrito
acima. A “pluralidade” das relações entre hipóstases trinitárias, a paternidade e a filiação são mais
facilmente compreendidas. São relações opostas que pertencem ao Pai e ao Filho, e busca as
relações entre si destas pessoas. O atributo de expiração ativa pertence ao Pai e ao Filho: ambos
expiram o Espírito Santo.
O Filioque foi uma questão de vivo debate entre os séculos IX-XI, e foi um dos fatores
que levaram ao cisma do oriente em 1054. Em suma essa questão versa sobre a procedência do
Espírito Santo. Os gregos afirmam que o Espírito Santo procede do Pai pelo Filho, enquanto os
latinos afirmam que Ele procede do Pai e do Filho. Por isso Filioque, pois a partícula que significa
e. Como a compreensão do significado da palavra ekporeúetai (proceder) era diverso para gregos
e latinos o filioque se tornava algo substancial. Os gregos entendiam ekporeúetai como
procedência a partir de um princípio absoluto, não procedente, não gerado, como somente é o
Pai; o Filho é um princípio gerado (com isso não se tenciona afirmar uma inferioridade no Filho,
pois em Deus não há maior ou menor nem anterior ou posterior), do qual não se pode dizer por
conseguinte que procede o Espírito Santo. Já os latinos compreendiam ekporeúetai por
procedere, entendido como “derivar-se de, originar-se de, provir de...” por isso diziam que ele
procedia do Pai e do Filho.

24- Articule uma reflexão sobre o conceito de Povo de Deus aplicado a Igreja.

O cap. III da Lumen gentium é “o povo de Deus” esse povo é formado por todos os
batizados. Supera-se assim uma visão marcada pela hierarquia. Os fundamentos desse conceito
são bíblicos.
O AT fala em Laos que mais do que um conceito sociológico é uma categoria salvifica.
Refere-se a um povo eleito por Deus. Deus escolheu um povo e com ele fez aliança, a estes ele
gradativamente instruiu e manifestou-se. No chamado que Abraão há o dado da eleição mas um
apontamento para a universalidade, “em ti serão abençoadas todas as nações.” Na sarça Deus se
revela a Moisés e afirma que eles serão seu povo e ele será seu Deus. Mas no AT há grave crises
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o pecado do povo varias vezes rompe a aliança, mas Deus se mantem fiel. A mensagem do AT
sobre o povo de Deus é a história da eleição amorosa de Deus de sua misericórdia e fidelidade a
promessa. Essa permanece aberta a uma consumação.
No NT povo de Deus é aplicado a Igreja por meio de citações do AT. Agora fala-se me
EKKlesía (igreja de Deus em Cristo). A Igreja é povo de Deus porque realiza a vocação universal
a qual Deus havia chamado Israel. Deus sendo único queria ser Deus de todos os homens. A
Igreja nesta perspectiva é a realização definitiva da reunificação do Israel, que tinha por missão
ser sinal entre as nações (Is 11,12), se torna esse povo messiânico instrumento de redenção de
todos e sacramento universal de salvação.
Desde sempre a Igreja estava na vontade salvifíca de Deus. Ela foi prefigurada na
Trindade, preparada na convocação de Israel como povo de Deus, instituída por JC a quem
coube realizar na plenitude dos tempos o plano de salvação do Pai, manifestada pelo Espírito
Santo que a santifica permanentemente à caminho da consumação celeste no dia do retorno
glorioso de Cristo.
Ao povo de Deus a pertensa se da pela fé em Cristo e pelo batismo. Jesus é a cabeça
desse povo, que garante a condição e a dignidade de filhos de Deus por ele mesmo ser o filho de
Deus que se encarnou. A mesma missão de Jesus é a da Igreja: ser o sal da terra e a luz do
mundo tendo como meta o Reino de Deus.
Retomando esse conceito o VII foi capaz de enquadrar a Igreja na totalidade da história
da salvação e da humanidade aproximando-a dos não cristãos. Serviu para dizer que todos os
batizados tem parte na dignidade sacerdotal profética e real do povo de Deus. Neste interim ele se
relaciona com o conceito de comunhão que é uma das bases do concílio.
O DAp afirma que a comunhão eclesial se da na diocese na paróquia nas comunidades
eclesiais e conferencias episcopais. Isso implica o caráter universal da noção de povo de Deus.
Todos são chamados por Deus a uma missão especifica, ministerial e todos devem encontrar
espaço no interior da Igreja. Ela sendo a casa de todos deve ser inclusiva chamada a promover a
esperança no mundo inteiro.

25- Sobre as notas fundamentais da Igreja. Comente sobre o referido tema apresentando
as características e consequências eclesiológicas de cada uma das notas.

Em 381 o concílio de Constantinopla afirmou que a Igreja é Uma, santa, católica e


apostólica. São quatro dimensões que permitem conhecer a Igreja revelando a sua intima relação
ao mistério de Cristo.
A Igreja é una porque Deus é uno e único em si mesmo. Os santos padres gostavam de
apresenta-la como ícone de trindade, definindo-a como “o povo reunido na unidade e do Filho e
do Espírito Santo. Essa unidade se consumará escatologicamente quando Deus for tudo em todos
mas já acontece no já da história. Há três princípios de união na Igreja a fé, os sacramentos e a
comunidade. A fé une as pessoas que crêem do mesmo modo. Ela é unidade interna porque
todos creem no mesmo objeto e exterior implicada por uma série de mediações exteriores comuns
uma vez que a revelação é uma palavra confiada a comunidade(tradição). O sacramento máximo
da unidade é a eucaristia, que juntamente com o batismo realiza e significa a Igreja. Seu efeito é a
unidade do corpo místico de Cristo, o corpo eucarístico faz o eclesial. A construção do corpo
místico diz respeito a todos os cristãos em sua diaconia. O papa e o bispo diocesano são
princípios visíveis de unidade.
Santa foi o primeiro adjetivo aplicado a Igreja no pastor de Hermas. Como Israel, em
virtude da eleição divina e da aliança com Deus, os cristãos são “uma nação santa”. Cristo amou
tanto a sua Igreja e quis se entregar por ela, com isso ele quis torna-la santa. Ela está a serviço
dos santos e de sua santificação. O VII a chama de indefectivelmente santa (LG 39), Igreja santa
(LG 5), esposa imaculada (LG 6). Mas ao mesmo tempo ela abriga em seu seio pecadores, por
isso sempre necessitada de purificação.
Inácio de Antioquia usa pela primeira vez o atributo católica. Ele torna-se definitivo no
niceno-constantinopolitano. Tem um duplo significado universalidade (aspecto extensivo) e
autenticidade (aspecto qualitativo). O aspecto qualitativo sublinha a fé enuncia a verdade sobre
Deus e por isso responde à totalidade das aspirações dos homens. A catolicidade pode ser vivida
de dois modos: como universalidade e veridicidade das Igrejas locais. O papa é perpétuo e visível
sinal de unidade, assim também o são os bipos em suas Igrejas particulares.
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A ideia de apostolicidade tem sua origem no NT, tendo sido elaborada por Irineu na
polemica contra os gnósticos. A igreja inteira sucede os apóstolos mas o colégio dos bipos recebe
uma missão especial de perpetuar esse vicariato dados aos apóstolos por Cristo. Há uma
participação nos poderes e uma perpetuação no tempo da herança recebida. A apostolicidade
assume vários aspectos: doutrinal, pela perseverança na fé transmitida pelos apóstolos.
Existencial pelo estilo de vida da igreja apostólica. Missionária significando toda a área de
atividade da Igreja. Ministerial que diz respeito a aqueles cujos o ministério é chamado a ser
garantia visível dessa apostolicidade.

26- Considerando que a definição sobre a maternidade divina proferida no Concílio de


Éfeso ocupa na hierarquia dos dogmas marianos a primeira posição: A) Justifique
que seu conteúdo é primeiramente cristologico e consequentemente mariologico. B)
e em que sentido essa colaboração de Maria de Nazaré com o mistério da salvação
pode ser entendido como o “coração” de uma espiritualidade mariana
cristologicamente coerente.

Na controvérsia de Nestório que afirmava o Cristotókos se coloca essa questão. Para


Nestório a maternidade dizia respeito somente a dimensão humana de Jesus. E acaba por fazer
uma confusão das duas naturezas divina e humana de Cristo. Ele rejeita a formulação “gerar um
que é Deus”. Com isso quer salvaguardar a natureza de Cristo. Sua autonomia e liberdade. Ele
postula em Cristo dois sujeitos negando a união das naturezas (união hipostática). Com isso ele
afirma que a encarnação e a paixão podem ser atribuídas ao Cristo mas não ao verbo a quem
cabe a glória e a elevação.
Cirilo de Alexandria se opõe a ele fazendo uma exegese de niceia. Ele reafirma a união
hipostática. Ele afirma que a união se da na hipóstase, é o verbo (divindade) que se une a uma
carne animada de alma racional. As duas naturezas são diferentes mas reunidas resultam num só
e mesmo Cristo. A diferença das naturezas não foi suprimida pela união. Assim se afirma a
unidade da pessoa de Jesus contra um monofisismo de Nestório.
Essa união só é possível se o verbo assumir em si mesmo a geração segundo a carne,
possibilitando utilizar o titulo de mãe de Deus. A santa virgem deu a luz carnalmente ao verbo de
Deus feito carne. Maria não é apenas mãe de Cristo mas é mãe de Deus porque gerou o Deus
feito homem, ela é mãe da pessoa completa. Ao esclarecer a geração humana do verbo, ou seja,
sua concepção e seu nascimento “de mulher” é que emergem as intimas razões da maternidade
divina: daquele que é gerado eternamente pelo Pai, se diz que nasceu de uma mulher segundo a
carne, no sentido de que uniu a si a natureza humana segundo a hipóstase.
Quanto a espiritualidade, a partir de sua maternidade divina ela é a pessoa que Cristo
mais incluiu em sua obra salvadora. Ela é a que mais participou da mediação de Cristo único
mediador. Por isso nela tudo é relativo a Cristo. Desde toda a eternidade Deus a escolheu como
virgem santa e a plenificou de dons. Assim o culto prestado a ela se orienta para Cristo em uma
correta orientação cristologica.

27- No poema “novena de pentecostes” Edith Stein procura descrever de forma poética
algo da identidade do Espírito Santo. Identifique uma categoria comum aos dois
textos e explique-a.

No poema é possível relacionar a passagem: “Tu mais próximo a mim que eu mesma. E
mais intimo que minha intimidade” com o atributo da inabitação do Espírito. A este a encíclica se
refere no n 58. Sob a influencia do Espírito Santo o homem espiritual se fortalece e graças a essa
comunicação o homem pode melhor conhecer-se a si. Assim o espirito humano se abre diante de
Deus que se abre para ele com designio salvifico e santificante. Começa pelo dom do espirito uma
vida nova. O homem é introduzido na realidade sobrenatural da própria vida divina e torna-se
habitação do Espírito Santo, templo vivo de Deus.
A “incorporação em Cristo” e está incorporação do Cristo no Cristão é a grande obra do
Espírito. O fruto do seguimento de Cristo é o fato de que Deus habita no cristão e cristão nele, isto
é o ágape. Agostinho: “interroga as tuas entranhas: se está cheia de amor quer dizer que tem o
Espírito de Deus em ti.” O Cristão se torna pneumatóforo.
21

Paráclito é o título que mais claramente exprime o caráter pessoal do Espírito Santo, é
um titulo pessoal em si mesmo que só pode ser predicado de uma pessoa pois implica inteligência
e vontade. Com o termo paraclito tocamos o auge da revelação do Espírito Santo. ele não é
apenas algo mas alguém. Alguém que permanece em nós como um amigo, consolador, defensor,
doce hospede da alma. Quer realizar em nós a obra de Cristo.

28- Amparado pelo esclarecimento proposto pelo papa emérito Bento XVI quanto a
natureza da liturgia (lex orandi- lex credendi), escolha uma nota característica da
teologia da liturgia, explique-a e em seguida estabeleça relações com a práxis da
vida cristã (lex vivendi).

Memorial no vocabulário bíblico é Zicaron, evoca a memória, a recordação. Mas é muito


mais que simples recordação, pois lembrar-se da benevolência do Senhor não é remetê-lo ao
passado, é tomar consciência de que ele está presente hoje para nós.12 Assim quando o hebreu
celebra sua liturgia ele se recorda de Deus para que Deus se recorde dele.
O fundamento real que sustenta a liturgia cristã é a crucificação de Cristo, a sua morte na
cruz e a sua ressurreição (mistério pascal) conferem incorruptibilidade ao corruptível. São eventos
históricos únicos, que como tais pertencem ao passado (ephapax) “uma só vez”. Mas não são
apenas fatos como aqueles que extraímos de um livro de história, pois se assim fosse seria
impossível ter alguma contemporaneidade com eles.13 O que impede que a liturgia seja apenas
um simples recordar é a ação do Espírito Santo nela. “O memorial, isto é, o trazer à memória e
tornar presente as ações agraciates que Deus realizou por nós. Ao mesmo tempo, pede-se que
Deus prossiga com a sua atividade salvadora de modo a atualizar aqui e agora os atos pretéritos
da história santa.”14
“Se passado e presente se interpenetram, o essencial do passado não é de fato o
passado, mas é força que se transmite aos presentes que se suscedem, isso significa que
também o futuro está presente nesse evento, que por sua natureza deve ser definido como
antecipação daquilo que acontecerá.”15
Encontramos uma tríplice passagem na liturgia que é parte essencial para a
compreensão do que é memorial. “A liturgia se caracteriza pela tensão com a páscoa histórica de
Jesus (cruz e ressurreição), seu fundamento real. Na singularidade desse evento, formou-se algo
permanente, que - é esse o segundo passo – na ação litúrgica entra em nosso presente e que, -
terceiro passo – a partir dai, quer alcançar e atingir a vida daqueles que celebram e assim toda a
realidade histórica. O evento imediato - a liturgia – possui um sentido, que só é significativo para a
nossa vida se traz em si as outras duas dimensões: passado e presente se entrecruzam e tocam
a eternidade.”16
A ligação com a lex vivendi se da porque a celebração memorial não é um simples
recordar o passado, um rito ou um jogo litúrgico. Mas ela comporta uma realidade antropológica,
que visa sensibilizar o homem e transformar sua existência em direção ao logos. Há uma
contemporaneidade interior entre a mim e a oferta de Cristo. A sua oferta quer se tornar a minha
para que a contemporaneidade se cumpra e se realize a assimilação com Deus.17

29- Em que sentido Jesus Cristo é autor dos sacramentos?

Os Sacramentos são a linguagem da salvação de Cristo presente no grande sacramento


que é a Igreja. Cristo instituiu, pois, os sacramentos, instituindo a Igreja. Assim, devem ser aceitos
como instituídos por Jesus Cristo, enquanto estão implicitamente no próprio ato da instituição da
Igreja.
O Concílio de Trento definiu que os sete sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo
(DS 1601; cf. 1804, 2536). Esta afirmação é fundamentalmente certa. Todavia não devemos forçar
os escritos neotestamentário, uma vez que explicitamente Cristo institui o batismo, eucaristia e

12
Cf. P. BÉGUERIE; J. BEZANÇON, A missa de Paulo VI: retorno ao coração da Tradição, 2016, p. 25.
13
Cf. J. RATZINGER, Introdução ao Espírito da liturgia, 2013, p. 49.
14
D. BOROBIO, A celebração na Igreja: liturgia sacramental e fundamental, 1990, p.216.
15
J. RATZINGER, Introdução ao Espírito da liturgia, 2013, p. 50.
16
J. RATZINGER, Introdução ao Espírito da liturgia, 2013, p. 53.
17
Cf.J. RATZINGER, Introdução ao Espírito da liturgia, 2013, p. 50.
22

penitência, que estão correlacionados com suas experiências de vida entre as pessoas. O batismo
corporifica o nascer novo em Jesus Cristo; a eucaristia, a alimentação da vida nova em Jesus
Cristo; a penitência, o renascimento da vida que foi ameaçada de morte fatal. Inseridos em Jesus
Cristo, os sacramentos comunicam a vida que provem dele.
Alguns pontos para entendermos porque Jesus Cristo é autor dos sacramentos. Primeiro:
enquanto Verbo eterno, era sempre Ele que se comunicava em amor e salvação nos ritos que
expressavam a relação dos homens para com o Alto. Segundo: enquanto Verbo eterno
encarnado, dentro de uma história concreta, manifestou que tudo está vinculado com seu Mistério.
Por isso, tudo possui uma profundidade crística. Terceiro: Pelo menos para três sacramentos –
Batismo, Eucaristia e Penitência – o próprio Cristo estabeleceu uma referência explícita a si
mesmo. Estes três sacramentos pertencem aos eixos fundamentais da vida humana, pelos quais
o homem se sente, de modo especial, referindo a Jesus Cristo.
Querendo a Igreja, sacramento universal de salvação, Cristo quis também os
sacramentos que detalham para a concretização da vida o sacramento universal. Neste sentido,
não quis apenas os sete sacramentos, mas quis a própria estrutura sacramental da Igreja; isto
significa: quis a visibilidade da graça em termos de ritos, gestos, ações de serviço, de testemunho,
de santificação entre os homens. Neste quarto sentido, podemos falar de Cristo como autor dos
sacramentos enquanto é autor do Sacramento Universal da Igreja.
Podemos dizer, de certa forma, que os sacramentos são corporificação de Deus em
nossa vida. Assim, a encarnação de Deus não só significa a aceitação da condição humana, mas,
através dos sacramentos a qualifica de maneira radicalmente nova.
Jesus Cristo é o sacramento de Deus para os homens. Ele é o sacramento originário do
qual decorrem os demais, como desenvolvimento e concretização. Ele não é só o autor dos
sacramentos, mas também o ministro. É Cristo quem batiza, quem consagra e quem perdoa os
pecados. Os sacramentos são encontros pessoais com Cristo. Os sacramentos não só indicam
para a salvação, mas a transmitem. Por isso são necessários para a salvação. Eles nos dão
participação no ministério, na missão de Jesus Cristo e na sua vida.
Os sacramentos são sinais da Igreja e sua celebração – deveria ser – na celebração
litúrgica da comunidade, pois a Igreja, em Jesus Cristo, é o sacramento universal de salvação. Se
Cristo quis a Igreja, quis também sua realização nas situações humanas fundamentais. Os
sacramentos são a linguagem da salvação de Cristo presente e atuante no grande sacramento
que é a Igreja.

30- Fundamentação antropológica e teológica dos sacramentos.

Todo o discurso teológico consiste em referir “os mistérios” ao grande mistério de Deus, à
sua livre comunicação salvífica18. Todo o cristianismo pode de certa forma, ser reduzido ao
mistério de Deus que se nos revelou historicamente, de maneira singular e única, na humanidade
de Jesus Cristo. Por isso, toda reflexão teológica sobre os sacramentos deve começar em Jesus
Cristo, pois os sacramentos, em última análise, sempre são os sacramentos de Cristo19.
Somente a partir de Cristo, palavra e sacramento, na Igreja têm autoridade e força.
Palavra e sacramento são meios de salvação, não a salvação por si. Por essa razão, são
inseparáveis do único mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo (1 Tim 2, 5).
Os sacramentos são o Mistério Pascal realizando-se na vida dos homens20.
O grande sacramento de Deus, para nós é Jesus de Nazaré. Por sua humanidade, seus
gestos, palavras e atitudes, revelou-nos a presença do Pai entre nós. Filipe lhe diz: “Senhor,
mostra-nos o Pai e isto no basta”. Jesus lhe responde: “Há tanto tempo estou convosco e tu não
me conheceste, Filipe? “Quem me viu, viu o Pai (Jo 14, 8-9). Com isso, podemos entender que
Cristo é o sacramento do encontro com o Pai. Nele o Pai se torna visível na face humana.
Em Jesus, Deus tornou-se homem pleno e verdadeiro. Tornou-se igual a nós em tudo,
exceto ao pecado (Hb 4,13). Por seu ser, falar, agir, tornou-se sinal da presença de Deus para o

18
Urbano ZILLES. Os sacramentos da Igreja católica. Porto Alegre: Edipucrs, 1995, p. 38.
19
Ibidem.
20
Ibidem.
23

homem. Revelou- se como Lógos, a palavra originaria de Deus para o homem21. Ele é o Lógos do
Pai (Jo 1,14).
Nos sacramento assume uma situação humana fundamental e sobre ela diz a palavra do
Evangelho. Com isso, tal situação tornou-se hora da graça – (kairós) para o homem crente.
“Sacramento, então, significa dom divino da salvação, concretizado por uma forma exteriormente
apreensível, corpórea, ou seja, é o dom da salvação em perceptibilidade histórica22.
Nos sacramentos, situações fundamentais da vida humana são qualificadas de maneira
radicalmente nova pela palavra de Deus. Conforme a teologia tradicional, o símbolo sacramental
não é apenas a água, o óleo, o pão e o vinho. Tudo isso é “matéria remota”. A matéria próxima é o
uso dessas coisas, em determinadas situações e condições. Assim, por exemplo, na Eucaristia,
temos a liturgia da palavra ordenada para a celebração sacramental. No centro da própria
celebração sacramental está a palavra que interpreta a ação “Tomai e comei, isto é o meu Corpo!”
– “Fazei isto em minha memória!” Essa palavra eficaz qualifica uma situação bem concreta.
Por fim, os sacramentos revelam o Pai para a humanidade. É o dom da salvação, que dá
ao ser humano a graça de Deus, através da ação sacramental.
Na fundamentação antropológica, Jesus Cristo entra na situação do ser homem,
qualifica-se de maneira radicalmente nova23.
O mundo é o mundo dos homens. O homem chega a si no relacionamento com o
mundo. Ele é interprete do mundo (Gn – o homem dá nome as coisas). Só conhecemos as coisas,
quando sabemos sua significação. Essa visão antropológica encontra base na bíblia. Segundo a
primeira narrativa (Gn 1, 1-2,4), a criação tem sua coroação no homem. Conforme a segunda
narrativa (Gn 2,4b-2,25), o homem é o centro. Ele é compreendido a partir da terra.
As coisas e os homens são apenas símbolos. O símbolo é um sinal visível,
perceptível com um significado mais profundo, constituído por sua significação. O sinal participa
do ser. O Símbolo é tudo que é, mas em seu relacionamento com o homem e com o mundo24.
O homem, por ser corpo, é um símbolo vivo, que uma vez através do corpo tende a
expressar intimidade, liberdade e vontade, sentimentos e pensamentos, que somente aparecem
por mediação corporal25. E porque o homem é simbolicamente necessita de símbolos para se
comunicar e se realizar. Portanto, se isso acontece no campo da relação entre os homens, muito
mais acontecerá na relação com Deus. A única forma de nos comunicarmos e nos relacionarmos
com Deus são os símbolos religiosos.
O mundo e o homem tornam-se mais um símbolo, indicando para a transcendência.
O homem torna-se símbolo de uma transcendência que, de início, permanece aberta. Essa
abertura coloca o homem na liberdade de ousar um sentido para sua vida e para o mundo.
Os símbolos, no sentido originário, são as situações fundamentais e originárias do
ser homem, nas quais o homem (Adão), e com ele o mundo, se torna transparente para uma
pergunta que leva para além do homem e o provoca a uma decisão pessoal. O relacionamento
entre o bios e espírito funda-se no relacionamento entre homem e cosmo, tornando-se sinal do
relacionamento entre Deus e o homem26.
Por fim, há no ser humano uma dependência e uma abertura ao transcendente. O
ser humano procura reconhecer-se com consigo, com o outro e com Deus, assim o ser humano
se reconhece quem ele é, na verdade. E, isso, nos faz compreender a eficácia dos sinais
sacramentais, que depois o homem responde na fé.

21
Idem, 39.
22
Idem, 41.
23
Idem, 46.
24
Idem, 48.
25
Dionísio Borobio. Celebrar para viver. Liturgia e sacramentos da Igreja. São Paulo: Loyola, 2009, p. 126.
26
Urbano ZILLES. op. cit., 48.
24

31- O ato moralmente bom supõe a bondade do objeto, da finalidade e das


circunstâncias. Comente essa afirmação.

O objeto a intenção e as circunstâncias são as fontes ou elementos constitutivos da


moralidade dos atos humanos. O ato moralmente bom supõe a bondade do objeto da finalidade e
das circunstâncias. A circunstância não muda a moralidade do ato, ela só agrava ou atenua. A
finalidade sim pode mudar. Uma finalidade má corrompe a ação, mesmo que seu objeto seja bom
em si (como por exemplo rezar e jejuar para ser visto pelos homens).
O objeto da escolha por si só pode viciar o conjunto de determinado agir, por exemplo a
fornicação é sempre uma escolha errônea. Escolher um objeto assim significa uma desordem da
vontade, isto é, um mal moral. Existem objetos que por sua natureza são intrinsecamente maus,
então sua escolha será sempre gravemente ilícita. Ex a blasfêmia o perjúrio o adultério. Não é
permitido praticar um mal para que resulte um bem.
Não se pode justificar uma ação má embora feita com boa intenção, os fins não justificam
os meios.

32- O que se entende por consciência moral? Qual a importância da consciência moral
para o discernimento moral? Qual a relação entre consciência moral e norma moral?

Ela é a voz de Deus em nós, ela diz faça o bem evite o mal. Ela vai discernir o bem e o
mal. Deus coloca em nós a sua sabedoria. Isso é recebido pela criação. Assim a consciência é a
aplicação da lei ao particular, pois mediante a consciência o homem discernindo o bem e o mal, é
obrigado pela lei natural a fazer o bem. O individuo é assim mediante o juízo da consciência
instigado a um compromisso pelo bem a partir de seu conhecimento. Há porém, de se
compreender que a consciência não é autônoma para criar verdades relativas, pois possui um
princípio de obediência à lei natural. Assim o homem descobre pela consciência uma lei natural
inscrita em seu intimo que o inclina para o bem sendo um verdadeiro santuário para o homem no
qual ele se encontra com Deus e se compromete com sua verdade já inscrita nele.
Sua importância no discernimento moral é que ela é a participação subjetiva do homem
nesse processo. Ela o coloca perante a lei, mediante a qual a mesma acusa o bem ou o mal feito
pelo homem.
Diante dos valores (absolutos, objetivos) a expressão deles é a norma. A consciência é
como que uma mediação ela irá elaborar as normas. A minha relação não está na norma mas
com o valor. Uma norma que não representa um valor não obriga a consciência, objeção de
consciência. Formar a consciência é desvelar o valor que é velado pelo pecado.

33- Comente a seguinte frase: “Todo comportamento moral faz referência à pessoa e
deve ser entendido dentro da estrutura fundamental do homem integral.” Quais as
condições do ato ou do comportamento responsável?

Quem age é a pessoa, o sujeito da ação é sempre a pessoa. O agir humano é auto
possuído, provem do querer humano iluminado pela razão. Portanto somente essa é
responsabilizada. “Da pessoa para a pessoa”. Uma ação será mais profunda ou menos
dependendo o quanto da pessoa estiver envolvida naquela ação. Devemos considerar as
dimensões da corporeidade, espiritualidade, sociabilidade Não é só a razão que age mas o todo.
A primeira condição para o ato responsável é a liberdade. No comportamento se fala em uma
liberdade humana que tem seus condicionamentos.
Desde o Aquinate se paravam-se atos humanos que se referem a pessoa onde entra a
própria liberdade são os atos próprios da pessoa algo feito consciente com liberdade e
responsabilidade. Atos do homem são aqueles realizados de uma forma inconsciente, ou por
exemplo no estado de embriagues.
Outro aspecto do comportamento responsável é a sua ressonância prática ou afetiva. Os
sentimentos estão presentes em todo o agir humano. Pois mesmo que em uma pequena
porcentagem o sentimento sempre está em todo o agir, isso porque o homem não é só razão. Da
mesma forma o agir responsável não é só razão mas também sentimento.
25

Para identificar um ato responsável segue-se a lógica estrutural: Desejo (eu desejo A);
deliberação (B é o meio para chegar a A); percepção (N é alguma coisa que posso fazer agora);
eleição (escolho N) para chegar ao ato (faço N).

34- Definição de Virtudes.

No NT a virtude é caracterizada pela dynamis (força, potência que vem de Deus e


manifesta a realidade da graça). Por isso se traduziu para o latim “virtus” (vis é força) trata-se da
força que move e sustenta a vida moral. Agostinho “é a justa ordem do amor”. Sto Tomás “virtude
é um habito ou disposição firme e constante para agir bem”. Uma virtude é adquirida pela
disciplina e eduação, é um processo gradual e integrativo sendo uma conquista. Ser virtuoso é um
dom de Deus e uma construção humana. A virtude vai plasmando e configurando a
personalidade. A virtude é um habito que aperfeiçoa as virtudes operativas. Auto dispõe o sujeito
a agir segundo uma alta escala de valores. Cat é “uma disposição habitual e firme para fazer o
bem.”
Três elementos estruturam a virtude. A) está ordenada ao agir. B) Conaturaliza-se com o
bem (eu me torno o que prático). C) é estilo de busca e fidelidade. A virtude capacita a decidir com
ponderação e julgar com justiça acontecimentos e pessoas.
Tradicionalmente são divididas em dois grupos: as Cardeias são naturais adquiridas
humanas ou morais. Sua ordem é Prudência docilidade, conselho, discernimento (distinguir o
verdadeiro bem e dispor meios para realiza-lo)- Justiça obediência, veracidade (dar a Deus e ao
próximo o que lhes é devido, seu fruto é a paz) fortaleza paciência, constância (é a força para
realizar o bem) temperança abstinência, sobriedade (ligada ao domínio próprio ela modera a
atração pelos prazeres e da equilíbrio moral). Podem ser alcançadas graças a luz da razão e a
força de vontade humana. É por meio delas que o homem encontra estabilidade, equilíbrio e
espírito de unidade.
As virtudes Teologais surgem diretamente da graça divina e capacitam a pessoa
acrescer e agir na vida de Deus (Ef 2,19). Ainda que suponham uma capacidade natural para
confiar, aguardar e colaborar, recebem da graça a perfeição da natureza. são oferecidas
gratuitamente por Deus e constituem a capacidade para participar já durante a vida terrena da
glória e da intimidade de Deus.

35- Como compreender as virtudes teologais como atitudes fundamentais da existência


cristã? Comente cada virtude teologal.

Fazem participar da natureza divina e se referem diretamente a Deus. Porque tem origem
em Deus e se referem a Deus. “Só Deus pode levar a Deus”. Elas anima e caracterizam o agir
moral cristão pois colocam a pessoa em comunhão com a Trindade. Informam e vivificam as
virtudes cardeais. São infundidas por Deus para agirmos como seu Filho e merecermos a vida
eterna. Estão expressas em 1 Cor 13,13. São dadas pela ordem da redenção pois são elas que
proporcionam a vida eterna. É o encontro do coração humano com Deus.
Cada uma tem uma especificidade mas guarda uma conexão vital com as demais, e onde
uma está também estão as outras duas. A fé é o princípio que inaugura a vida divina em nós. A
esperança é o princípio do dinamismo da tendência para Deus, que reconhece na fé Deus como o
sumo bem. A caridade se da e se revela como plenitude, pois ela nos une com Deus. São virtudes
porque a forma de vive-las apresenta intensidade diversa.
A fé é um sentimento religioso, crença na existência de Deus, o assentimento da vontade
e da inteligência a revelação. É a religião no sentido mais amplo. É a resposta a palavra de Deus.
O aceitar o objeto é um ato de fé. É uma antecipação da vida eterna suscitada pela graça na livre
adesão da inteligência. A fé é o princípio o fundamento e a fonte da salvação, como afirmou
Trento. Para o cristão é acreditar naquele que promete e sair em um caminho que é a cruz.
A esperança por ela desejamos a felicidade o reino dos céus e a vida eterna. É preciso
confiar no que é prometido, a promessa de Deus, confio naquele que prometeu. Assim eu espero
alcançar um dia e por isso a esperança. Isso apoiando-se na graça do Espirito Santo ai está seu
caráter infuso. Ela responde ao desejo de felicidade aspirado pelo coração humano, ela assume
as esperanças humanas e as purifica para alcançar o reino dos céus. Ela faz o homem viver
sustentado pela confiança.
26

A caridade está ligado ao amor, ágape. Se define por amar a Deus por si mesmo e amar
ao próximo por causa de Deus. Para Sto Tomás amar é querer bem, querer o bem de alguém e
querer alguém como bem. Para Jesus no amor acontece a unidade indissolúvel do mandamento
do amor a Deus e aos irmãos, ou seja, toda religião e moralidade, toda a prática cristã estão
contidas no amor a Deus e ao próximo. Jesus em seus ensinamentos e ações mostra que o amor
ao outro é universal e total, deve acontecer tanto quanto sua necessidade oi a nossa
possibilidade.

36- O que se entende por pecado conforme a teologia atual?

O pecado obscurece a consciência moral do ser humano, isto é, o sacrário humano, onde
ele se está sozinho com Deus. Logo no inicio precisamos definir que o pecado é um ato humano,
obra da liberdade humana, ao mesmo tempo em que está profundamente imerso na dimensão do
mistério do mal, do pecado original e do pecado atual. Apenas se faz necessário destacar que o
mal é maior que a estrutura de pecado. Todos os seres humanos nascem numa situação de
pecado (solidariedade da humanidade), mas igualmente numa situação de redenção, sendo
permanente o tripé de sustentação de todo homem: criação, encarnação e redenção.
O pecado se define por ser uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta, é um
ato de exclusão, de ruptura ou desobediência a Deus, à sua lei divina, bem como à norma moral
que foi gravada no coração do homem (cf. Gn 3,3-5; 11,1-9). Além disso, o pecado é uma falta ao
verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo. O pecado fere a natureza do homem. É
um ato contra a lei eterna. “Pequei contra ti, contra ti somente; pratiquei o que é mau aos teus
olhos” (Sl 51,6). O pecado é, portanto, o amor de si mesmo até o desprezo de Deus. O pecado
causa desequilíbrio interior e, inevitavelmente destrói as relações com os outros homens e com o
próprio mundo. O pecado perpassa tanto uma questão social do ser humano, bem como
psicológica e principalmente espiritual.
Não se pode falar de pecado quem não tem adesão ao projeto revelado pelo Pai em Jesus
Cristo na ação do Espírito Santo. Desta maneira, podemos falar de pecado pessoal e pecado
social, recordando que é sempre a pessoa que comete o pecado e não as estruturas ou grupos. O
pecado social se fundamenta nas seguintes características: se baseia no princípio da
solidariedade, na qual o pecado de cada um repercute sobre os outros da mesma maneira que se
desenvolve no âmbito religioso o profundo e magnífico mistério da comunhão dos santos, graças
a qual se pode dizer que “cada alma se eleva, eleva o mundo”; é uma agressão direta ao próximo,
colocando em risco a lei do próprio Cristo de amar o próximo (cf. Mt 22,39; Mc 12,31; Lc 10,27).
Além disso, todos os pecados que quebram com o valor moral, isto é, contra os direitos da
pessoa, contra a integridade física; contra a liberdade de outrem; especialmente contra a suprema
liberdade de crer em Deus e adorá-lo; contra o bem-comum e suas exigências.
Os pecados podem ter várias divisões, ou seja, “podem-se distinguir os pecados segundo
seu objeto, como em todo ato humano, ou segundo as virtudes a que se opõem, por excesso ou
por defeito, ou segundo os mandamentos que eles contrariam. Podem-se também classifica-los
conforme dizem respeito a Deus, ao próximo ou a si mesmo, podem-se dividi-los em pecados
espirituais e carnais, ou ainda em pecados por pensamento, palavra e ação ou omissão.
Neste ínterim, se faz necessário avaliar a gravidade dos pecados, isto é, a divisão entre
pecado mortal e pecado venial. “O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por
uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua
bemaventurança, preferindo um bem inferior. O pecado venial deixa substituir a caridade, embora
a ofenda e fira”. Para ser de fato pecado mortal se requer três aspectos: objeto como matéria
grave, cometido com plena consciência e deliberadamente (pleno consentimento). O pecado
venial fere apenas a caridade, já o pecado grave ofende diretamente a Deus. Portanto, dá-se
efetivamente, o pecado mortal quando o homem, sabendo e querendo, escolhe por dado motivo
desviar-se de Deus que é seu fim ultimo, ou quando o objeto é matéria grave, cometida com plena
consciência e deliberadamente contra a lei de Deus. Sem estas condições, há efetivamente
pecado venial. Pio XII declara que “o pecado do século é a perda do sentido do pecado”. Essa
situação demonstra ter se agravado no mundo atual, no qual nada mais é pecado, tudo é
permitido. Há uma forte dessacralização da sociedade que precisa ser enfrentada e resgatada,
afinal o pecado existe, bem como a graça da confissão também.
27

37- Como entender a sexualidade como uma realidade da pessoa? O que ela representa
dentro do conjunto da pessoa humana? Qual é o seu significado moral?

A visão cristã da humanidade reconhece ao corpo uma função particular, na qual


contribui para a realização pessoal. A corporeidade é em efeito o modo específico do existir e pela
qual o espírito humano age no mundo. A distinção física, sexual, perceptível na humanidade entre
homem e mulher, supõe diferenças, mas sempre em igualdade de natureza e dignidade. O
masculino e o feminino são semelhantes no sentido que se unem e diferentes para que se
complementem27. O corpo revela assim a humanidade expressa no homem e na mulher,
configurando uma pessoa28. O corpo é um sinal visível, de um mistério invisível.
Desde o nascimento até a morte todos os homens e mulheres, mediante a corporeidade,
sentem sua dimensão sexual de alguma forma (masculina ou feminina), como uma pulsão vital,
que manifesta a sua vocação ao amor e a reciprocidade29, que não se limita ao desejo de relações
genitais: “é fácil confundir a necessidade de sexo genital com a necessidade de identidade sexual,
a necessidade de aceitação de si mesmo e a necessidade de intimidade30”, “para os seres
humanos a necessidade mais forte não é do sexo em si, mas de relacionamentos, intimidade,
aceitação e afirmação”31. “É possível viver plena, saudável e alegremente sem sexualidade
genital. Não é possível viver assim sem relacionamentos afetivos aperfeiçoados”32.
No conjunto da pessoa humana, a sexualidade sendo assim integrante do ser, de alguma
forma repercute intimamente nas outras esferas a ela vinculada, a saber: na biologia humana, em
sua psique, na cultura, na sociedade, na filosofia, na arte, etc. Desafio da ética antropológica é
integrar com justos critérios a dimensão sexual dentro destas dimensões de forma harmônica, ou
seja, dar qualidade a afetividade sexual humana levando-a a uma verdadeira maturação, para que
o homem e a mulher estejam íntegros consigo e assim possam estar também maduros com suas
outras dimensões.
Frente a esta necessidade de integração da nossa humanidade, a moral tem importância
no que diz respeito a direcionar o caminho verdadeiro da sexualidade ao diálogo interpessoal,
contribuindo para a maturação integral do homem, abrindo-o ao dom de si ao amor, vinculado, por
outra parte, na ordem da criação, para a fecundidade e a transmissão da vida. Amor e
fecundidade são por tanto, significados e valores essenciais da sexualidade humana, que se
incluem e se completam, não podem ser considerados valores alternativos ou opostos33.
Assim a sexualidade, quando integrada permite ao homem experienciar a harmonia entre
suas dimensões, conduzindo a uma realização existencial, pessoal. Tal pessoa é levada a um
amadurecimento na capacidade de amar, que se manifestará na sua vocação específica, seja, na
união conjugal, no celibato consagrado, ou na vida cristã de solteiro. “A pessoa de bem com sua
sexualidade é capaz de amar com maior profundidade, de respeitar melhor, de relacionar-se com
mais dignidade34”. A castidade será a virtude que auxilia toda a sexualidade a estar a serviço dos
propósitos cristãos35.

38- Por que a Igreja considera que os atos homossexuais são intrinsecamente
desordenados e contrários a lei natural (contra naturam)?

Ao longo dos séculos duas linhas de argumentos são usados contra a aceitabilidade dos
atos homegenitais/homoeróticos. Uma condenação feita pela Sagrada Escritura e a proibição

27
Cf. SAGRADA CONGREGACION PARA LA EDUCACION CATOLICA, Orientaciones educativas sobre el amor
humano: Pautas de educación sexual, 1984, n.25.
28
Cf. Idem, n.22.
29
Cf. Idem, n.24.
30
GEOEGEN, The Sexual Celibate, 61, in Vicent J. GENOVESI, Em busca do amor: moralidade católica e
sexualidade humana, 2008, p.134.
31
Rollo MAY, Love and Will, 1969, 311, in Ibidem.
32
Idem, p.135.
33
Cf. SAGRADA CONGREGACION PARA LA EDUCACION CATOLICA, op. cit., n.32.
34
Mario Marcelo COELHO, Sexualidade: o que os jovens sabem e pensam..., 2010, p.52.
35
Cf. GENOVESI, op.cit., p.137.
28

referente a lei natural, porque não possibilitam de modo algum a reprodução36, que é uma das
finalidades do ato sexual.
A primeira se dá pela condenação feita pela Sagrada Escritura. Esta pode ser lida em Gn
19,1-29 a condenação da cidade de Sodoma a Destruição. Lv 18,22 “Não te deitarás com um
home como se deita com mulher; isto seria uma abominação”. São Paulo em três ocasiões
adverte contra essas práticas Rm 1,24-27 onde relaciona as pessoas que não herdarão o Reino
de Deus; 1Cor 6,9-10; 1Tm 1,10.
“Este juízo exarado na Escritura Sagrada não permite, porém, concluir que todos aqueles
que sofrem de tal anomalia são por isso pessoalmente responsáveis; mas atesta que os atos de
homossexualidade são intrinsecamente desordenados e que eles não podem, em hipótese
nenhuma, receber qualquer aprovação.”37 Então aqui temos o primeiro elemento para afirmar que
são intrinsecamente desordenados, que se da pela condenação que a estes atos é feita pela
Sagrada Escritura. Além disso, eles não são fruto de uma verdadeira complementariedade entre
homem e mulher. “Essa complementariedade é considerada física (dois em uma só carne),
psicológica (a alegria do homem com a presença da mulher) e espiritual (ele deixa a família para
se dedicar a ela). É precisamente esse tipo de complementariedade que falta nos relacionamentos
homossexuais.”38 O segundo elemento se da pelo fato de eles serem contrários a lei natural.
São contrários a lei natural porque “Tal comportamento frustra o proposito primordial da
sexualidade, que, segundo a lei natural, é a procriação.”39 As relações sexuais dos cônjuges se
voltam para ter filhos. O amor dos cônjuges pode e deve ser duradouro porque se relaciona
essencialmente aos bens duradouros. Mas o amor homossexual simplesmente não é consagrado
a nenhum bem transcendente que exija essencialmente dos parceiros perfeito dom de si e
fidelidade até a morte.40
Resumindo o que foi apresentado pode-se recorrer a afirmação do catecismo: “Apoiando-
se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou
que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários a lei natural.
Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementariedade afetiva e
sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.”41

39- Como julgar do ponto de vista moral as intervenções artificiais na procriação


humana? Por que são atentados à vida nascente a inseminação artificial e
fecundação in vitro e transferência de embriões?

Estas intervenções são moralmente condenadas pois substituem ou interferem no ato


conjugal, privando-o o desviando-o de seus fins próprios. A transmissão da vida se da por um ato
pessoal e consciente e por isso não pode ser manipulada. Ademais a que se levar em conta os
fins do matrimonio, unitivo e procriativo.
A inseminação artificial (fecundação natural) seja homologa (entre cônjuges) ou
heterologa (com um gameta externo ao casal) é condenada porque separa do ato conjugal. Falta-
lhe a relação sexual exigida pela ordem moral, aquela que realiza o sentido integral de doação
mútua e da procriação humana. Para a hieróloga se acrescenta que o filho será privado da
convivência filial com suas origens parentais. E é uma ofensa a vocação comum dos esposos.
Quanto a fecundação in vitro (fecundação é artificial) se leva em conta o dito antes e mais
que ela atenta contra a vida no caso do descarte de embriões. A questão da transferência de
embriões também se coloca nessa linha.

40- Qual a diferença entre células tronco embrionárias e adultas? Como avaliar células
tronco? A igreja declara que clonagem para fins de reprodução de seres humanos é
uma prática contrária a dignidade humana e não deveria ser permitida. No processo

36
Cf. V. GENOVESI, Em busca do amor: moralidade católica e sexualidade humana, 2008, p. 261.
37
CONGREGAÇÂO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Declaração Persona humana, 1975, n. 8. Disponível em:
<http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19751229_persona-
humana_po.html#_ednref18> Acesso em 19 de outubro de 2017.
38
V. GENOVESI, Em busca do amor: moralidade católica e sexualidade humana, 2008, p. 278.
39
V. GENOVESI, Em busca do amor: moralidade católica e sexualidade humana, 2008, p. 270.
40
Cf. V. GENOVESI, Em busca do amor: moralidade católica e sexualidade humana, 2008, p. 278-279.
41
CAT 2357.
29

de clonagem ficam pervertidas as relações fundamentais da pessoa humana.


Justifique essa declaração da Igreja.

Células tronco embrionárias são células primitivas (indiferenciadas) de embrião que tem
potencial para se tornar uma variedade de tipos de células especializadas de qualquer órgão ou
tecido do organismo. Células tronco adultas são encontradas em um tecido diferenciado, que
pode renovar-se e diferenciar-se para produzir o tipo de célula especializada do tecido do qual se
origina. A questão ética aqui está na origem de obtenção dessas células. Se for embrionárias elas
destroem o embrião por isso não se aceita.
Clonar significa copiar. É uma terminologia errada pois a pessoa é mais que o biológico.
Clona-se o genoma. Há dois tipos a reprodutiva que visa uma pessoa adulta e a terapêutica que
quer obter células tronco. As duas técnicas na prática são reprodutivas pois resultam na produção
de um novo ser humano. Ela implica riscos evidentes e sérios para o ser humano, eliminação do
sentido humano da relação sexual; esquecimento dos valores do matrimonio e da família, ocasião
propícia para a proliferação de outras manipulações (política econômica). O ponto central é a
perda de embriões resultante no processo. Se confronta com a questão da dignidade do indivíduo
humano como pessoa a ser respeitada por si mesma e ser querida como fim e não como meio e
portanto, não devendo ser tratada como objeto.

41- Como podemos afirmar que o embrião humano possui, desde o princípio, a
dignidade de pessoa humana? Qual a importância ética dessa afirmação?

O conceito de pessoa é elaborado a partir de contribuições genéticas, mas também


filosóficas, teológicas, sociológicas, econômicas, etc. Em primeiro lugar, é fundamental
compreendermos qual o conceito de pessoa humana para pensarmos em “dignidade humana”. A
Bioética afirma que na fecundação forma-se outro ser humano, com um patrimônio genético
daquele do pai e da mãe, que contém a capacidade intrínseca (teleologia interna) de desenvolver
todas as características corporais. A fecundação inicia uma série de acontecimentos articulados e
transforma a célula-ovo em zigoto, que segue uma evolução num processo de coordenação,
continuidade e gradação. “É sempre o mesmo sujeito, o mesmo patrimônio genético
individualizado desde a concepção até o nascimento”. Esse conjunto de fatores, em seu
patrimônio genético próprio e a partir de uma evolução biológica, constitui um indivíduo humano
inserido na sociedade.
Para Boécio, a pessoa é uma substância individual de natureza racional. Para Tomás de
Aquino, o que determina a natureza da pessoa humana é o subsistir (os acidentes não alteram o
ser), raciocinar e ser individual. De dentro da pessoa humana brota a sua dignidade, como algo
que é intrínseco à sua natureza. PESSOA= ser individual de natureza espiritual subsistente. A
Igreja afirma a elevadíssima dignidade de toda pessoa humana: Imago Dei, filho no Filho (o
mistério da Encarnação, identidade ontológica, etc). A pessoa está na ordem da transcendência,
para além da materialidade (dimensão espiritual). Da mesma forma o imperativo categórico de
Kant. Afirmar que o embrião humano possui, desde o princípio, dignidade de pessoa humana,
significa que sua vida deve ser preservada e valorizada pela sociedade, que ele é sujeito imediato
dos direitos humanos e isso reflete na liceidade de certas ações – por exemplo, a questão da
pesquisa com células-tronco embrionárias, toda forma de aborto/interrupção é crime contra a vida
humana (homicídio).

42- Qual o fundamento dos direitos da criança? São direitos adquiridos (que pertencem
a criança por sua própria condição de criança) ou surgem do reconhecimento
social? Por que são atentados a vida nascente o aborto cirúrgico, os contraceptivos
abortivos, a destruição do blastocisto para a obtenção de células tronco etc?

Há um duplo fundamento, alicerçado na razão e um teológico onde se afirma a imagem e


semelhança com Deus e o filhos no Filho. O fundamento dos direitos da criança se baseia nos
direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral que a lei lhe
assegura. Seus direitos são intrínsecos e tanto a sociedade como a Igreja devem ter o proposito
de zelar, lutar e defender para que tais direitos sejam exercidos em sua plenitude.
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Todos meios descritos são um atentado a vida. A pessoa por vocação é chamada a
participar da vida divina. Assim desde o momento da concepção, sua vida deve ser respeitada de
modo absoluto. Ela é sagrada pois desde o início comporta a ação criadora de Deus, e é chamada
a permanecer sempre na relação vital com o criador.

43- Como afirmar que o homicídio, a pena de morte e o suicídio são atentados contra a
vida humana?

Somente Deus pode dispor da vida por isso ela tem um caráter de inviolabilidade desde a
concepção até seu fim natural. Só Deus é o Senhor da vida, ninguém em circunstancia alguma
pode reivindicar o direito de destruir diretamente um ser humano inocente. Há na lei do Senhor o
preceito não matarás que é absoluto.
No caso de homicídio voluntário, onde concientemente se quer tirar a vida de outro o
sujeito invade o santuário da pessoa e usurpa o poder de Deus. O mandamento coloca um limite
mas induz também a uma atitude positiva de preservação da vida. Assim na legitima defesa há
uma ação com duplo efeito. No caso de homicídio involuntário a culpa não é imputável.
Com relação a pena de morte, Cristo no Evangelho fala que ele veio dar a vida a todos,
até mesmo os que cometeram crimes. Punir alguém com a morte significa assumir a própria
violência como forma de comportamento da sociedade.
O suicídio também é contra a dignidade humana. A culpabilidade dele pode ser atenuada
por conta das condições do sujeito. A eutanásia pode ser considerada um suicídio assistido pois
exige em alguns casos uma postura mais ativa do paciente ou do médico. Também viola
sacralidade da vida. A Igreja coloca que analgésicos, nutrição e hidratação não podem ser
retirados de uma pessoa.

44- Explique a seguinte afirmação: “A unidade, a indissolubilidade e a abertura à


fecundidade são essenciais ao matrimônio”.

Existem elementos constitutivos da vida matrimonial dos quais não se pode abrir mão
em vista de sua vivencia em plenitude. O matrimônio pertence a uma ordem natural mas foi
elevado por Cristo a dignidade de sacramento a imagem de sua união com a Igreja.
Assim matrimonio possui estás características de unidade e indissolubilidade. A
comunhão entre os cônjuges já não os torna dois mas uma só carne. Assim são chamados a
crescer na complementariedade que se radica na diferença entre os sexos. A poligamia contradiz
radicalmente uma tal comunhão. Nega de facto, directamente o plano de Deus como nos foi
revelado nas origens, porque contrária à igual dignidade pessoal entre o homem e a mulher, que
no matrimónio se doam com um amor total e por isso mesmo único e exclusivo. Como escreve o
Concílio Vaticano II: A unidade do matrimónio, confirmado pelo Senhor, manifesta-se também
claramente na igual dignidade pessoal da mulher e do homem que se deve reconhecer no mútuo
e pleno amor.
Radicada na doação pessoal e total dos cônjuges e exigida pelo bem dos filhos, a
indissolubilidade do matrimónio encontra a sua verdade última no desígnio que Deus manifestou
na Revelação: Ele quer e concede a indissolubilidade matrimonial como fruto, sinal e exigência do
amor absolutamente fiel que Deus Pai manifesta pelo homem e que Cristo vive para com a Igreja.
Com a criação do homem e da mulher à sua imagem e semelhança, Deus coroa e leva à
perfeição a obra das suas mãos: Ele chama-os a uma participação especial do seu amor e do seu
poder de Criador e de Pai, mediante uma cooperação livre e responsável deles na transmissão do
dom da vida humana: «Deus abençoou-os e disse-lhes: "crescei e multiplicai-vos, enchei e
dominai a terra". Assim a tarefa fundamental da família é o serviço à vida. É realizar, através da
história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração de homem a
homem. A fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena doação
recíproca dos esposos: O autêntico culto do amor conjugal e toda a vida familiar que dele nasce,
sem pôr de lado os outros fins do matrimónio, tendem a que os esposos, com fortaleza de animo,
estejam dispostos a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles aumenta
cada dia mais e enriquece a família.
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45- Comente as categorias básicas da moral social.

A caridade é a categoria fundamental da moral social. Ela expressa a peculiaridade do


ethos cristão, de um lado ela impede que a atitude religiosa desemboque numa piedade
meramente cultual sem empenhos intramundanos. De outro lado ela faz com que a “atitude moral”
não degenere em moralismo legalista. A caridade desperta continuamente a fé de seu “sonho
próximo”. Mas estimula também o compromisso moral dos cristãos para irem além do legalismo. A
caridade é a atitude fundamental do ethos cristão.
As outras categorias básicas são a justiça e o bem comum. A justiça de Jesus é dar ao
outro o que lhe é de direito. A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro o
que é meu. Mas nunca existe justiça que induz a dar ao outro o que é dele, o que lhe pertence em
razão do seu agir. Não posso dar ao outro o que é meu sem antes dar-lhe o que é de seu direito.
A justiça é o primeiro caminho da caridade, no dizer de Paulo VI a medida mínima.
Por um lado a caridade exige justiça: o reconhecimento dos legítimos direitos dos
indivíduos e dos povos. Mas por outro lado a supera e complementa na logica do dom e do
perdão e nas relações de gratuidade, misericórdia e comunhão.
No contexto civil não se emprega a terminologia caridade, justamente por ela estar
permeada de significado transcendente, porém usa-se da categoria justiça para designar aquilo
que no concreto tratamos por caridade. Além de que a justiça é a maneira de viver a caridade da
sociedade.
O bem comum brota da caridade e da justiça. Nada mais é que a busca pela
concretização do amor e da justiça no conjunto social gerando os frutos que lhe são próprios.
Falar de bem comum é sair do universo individualista da busca pela satisfação dos interesses
próprios e percorrer as necessidades do outro ou dos outros.
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46- Por que a teologia pastoral pode ser considerada uma ciência teológica?

Em primeiro lugar, é preciso definir o estatuto epistemológico da disciplina “teologia


pastoral”. O termo linguístico “pastoral” refere-se à prática e a ação da vida da Igreja. Julio Ramos
diz que é importante sublinhar que a teologia pastoral é teologia em primeiro lugar (substantivo),
sendo a pastoral o adjetivo. Contudo, o currículo dos estudos teológicos costuma contrapor a
Pastoral (o agir) à Dogmática (o ser), como se o doutrinal fosse imutável, abstrato, teórico,
doutrinal e científico, enquanto a pastoral seria o inverso: flexível, histórico, concreto, divulgativo e
prático. Embora haja uma parte da verdade nisso, é uma divisão simplista, que reduz a pastoral a
uma posição secundária.
Assim, podemos dizer que a teologia pastoral possui um âmbito (os estudos teológicos),
uma referência próxima (a concepção eclesiológica), uma referência última (a fé da Igreja), um
objeto (a ação da Igreja), dois campos (imanente e histórico) e um método (analise da realidade à
luz da revelação que busca um agir, método indutivo). A teologia pastoral tem sua raiz na Bíblia –
na tarefa do pastor.
Em outubro de 1774, nasce a teologia pastoral como disciplina pela reforma de Maria
Teresa da Áustria. Na esteira do Concílio Vaticano I, os manuais de pastoral vigoram, na
perspectiva da cura animarum, com uma visão antropológica dualista e individualista, uma
abordagem eclesiológica hierárquica e uma metodologia escolástica. No século XIX, no período
das Entreguerras, a teologia da Igreja como Corpo Místico de Cristo (com destaque para Pio XII e
Leão XIII) abriu espaço para a renovação que se sucederia no Concílio Vaticano II. A pastoral de
Conjunto objetiva evangelizar o mundo através da realidade sacramental da Igreja (paróquia). No
Concílio Vaticano II, duas Constituições tornam-se fundamentais para a eclesiologia e pastoral da
Igreja. A primeira é a Constituição dogmática Lumen Gentium, a segunda é a Constituição
pastoral Gaudium et Spes. Os “4 Modelos” de ação pastoral (tradicional, comunitário,
evangelizador e libertador). 3 chaves obrigatórias da Teologia Pastoral: Cristo, o Reino e o Mundo.

47- O que legitima a ação do leigo na Igreja?

O apostolado dos leigos, deriva da própria vocação cristã, realidade que é atestada pela
Sagrada Escritura no início da Igreja (At 11,19-21; Rm 16,1-16). O dever e o direito do apostolado
dos leigos deriva da união com Cristo cabeça. Inseridos no corpo místico de Cristo pelo batismo e
robustecidos pela confirmação com a força do Espírito Santo os leigos são destinados pelo próprio
Senhor para o apostolado. São consagrados em ordem a um sacerdócio real e um povo santo
para que todas as suas atividades sejam oblações espirituais e por toda a terra deem testemunho
de Cristo. Impõe-se a todos o encargo de trabalhar para que a mensagem divina seja conhecida
por todos. O Espírito Santo lhes concede dons particulares para exercerem seu ministério
colocando cada um a serviço dos outros os dons que recebeu.
No vaticano II essa fundamentação pode ser lida em dois documentos; Apostolicam
acuositatetm e LG. A LG apresenta uma eclesiologia de comunhão, que aparece na própria
estrutura do documento. Está fundamenta a ação do leigo pelo seu batismo que o faz participante
do mandato de Cristo e do seu tríplice múnus.
A AC fundamenta a ação no batismo, no Espirito Santo que é dado a todos e no
mandamento do amor. Todos em seu próprio nome são convidados ao apostolado.

48- Quais são os principais aspectos trinitários da missão?

“Deus é amor” (1Jo 4,16). O amor não se contenta consigo mesmo e por causa disso
envia o Filho no Espírito Santo para anunciar a boa nova a toda a humanidade. Falar de Deus
significa, portanto, falar de amor e missão.
A missão tem sua origem na iniciativa do amor de Deus, uno e Trino. Portanto a missão
tem sua origem na Trindade que é anterior a Igreja.
Se Deus é amor, ele não pode ser solidão cerrada. Ele é relação. Transbordar, comunicar
e relacionar são características desse amor independentemente de uma finalidade posterior. Esse
amor que transborda é chamado “fontal”. Dessa fonte procede o logos que é gerado pelo Pai e o
pneuma pela aspiração do Pai e do Filho. O amor fontal é descrito pela teologia em imagens de
processão. A trindade imanente transborda e se desdobra na história da salvação. A missão de
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Deus configura a trindade ad extra ou economica, assim Deus configura e realiza seu plano de
salvação.
A missão do verbo encarnado se prolonga na história por meio da Igreja e nas pessoas
pelo Espírito Santo. Assim se fala da presença de Deus na história.
Na missio Dei, Deus não é somente aquele que envia . Ele é também, no filho e no
Espírito Santo o enviado. Como o Deus uno é também trino a compreensão da missão de Deus é
sempre um entendimento analógico e ou metafórico. Missio Deis é um indicador da presença
integral de Deus no meio da humanidade.

49- De acordo com a Evangelii Gaudium o que significa “Igreja em saída”?

A SE relata sempre o dinamismo do envio. Sendo assim, na esteira dos apóstolos todos
nós somos chamados a sair dos nossos comodismos, “sair da própria comodidade e ter coragem
de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.” (EG 20)
A palavra alegra. Trata-se então de uma alegria missionária, não obstante as
dificuldades. Esta certeza da alegria missionária frutificou e está sempre a anunciar na dinâmica
do êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo e mais além.
A Igreja comunidade itinerante vive em comunhão com Jesus missionário do Pai. Assim é
fundamental que ela sai de si e anuncie a alegria do evangelho a todos e em todos os lugares. A
Igreja em saída é a comunidade de discípulos missionários (EG 24).
Com essa prática a Igreja entra na vida das pessoas e as toca com ações
misericordiosas. Faz isso para que todos tenham a vida, neste contexto os evangelizadores são
impregnados pelo cheiro das ovelhas. A Igreja em saída acompanha a humanidade em todo o seu
processo histórico, ela cuida do trigo, mas não perde a paz por causa do joio (EG 24).
Ela sabe entregar-se até o martírio, seu sonho não é estar cercada de inimigos mas que
a palavra seja acolhida e manifeste sua força libertadora. Assim a comunidade pode festejar cada
pequena vitória e cada passo a frente na evangelização.
A Igreja deve passar por um processo de transformação. “Sonho com uma opção
missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem
e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais a evangelização do mundo
atual que à autopreservação.” (EG 27)
Para isso é preciso a seu interno haver um verdadeiro espírito de comunhão. O
testemunho é um dos principais elementos para uma evangelização eficaz. Uma Igreja em saída
não é apenas aquela que vai ao encontro das pessoas, mas a que responde as suas
necessidades e lhes possibilita vida digna. É uma igreja samaritana que socorre os que estão
caídos a margem, que serve e que leva Jesus ao mundo. Ela serve a todos sem exessão.

50- Como se desenvolve a Teologia dos ministérios no período pós Vaticano II até
nossos dias?

O concilio ensina que os leigos podem assumir verdadeiros e próprios ministérios


conservando sua condição. A SC que as ações litúrgicas “pertencem a todo o corpo da Igreja,
manifestam-no, atingindo, porém, cada um dos membros de modo diverso, segundo a variedade
de estados, funções e participação atual” (SC 26). Toda a Igreja é o sujeito integral da ação
litúrgica nos seus mais variados ministérios. Isto afirma o caráter de unidade e diversidade da
realidade eclesial. Este princípio irá influenciar no conjunto da obra conciliar particularmente na
eclesiologia.
Na LG aparece claramente a diversidade de ministérios. Supera-se o modelo de Igreja
sociedade perfeita para a Igreja Sacramento, sinal e instrumento de salvação oferecida pelo Pai,
mediante o Filho no dom do Espírito Santo, como comunhão.
Então na linha da eclesiologia eucarística da Igreja local, temos o bispo como ministério
fundamental que garantirá a unidade e a comunhão dentro da Igreja. O presbitério, por sua vez,
não é mais aquele que tem o poder sacramental de consagrar a eucaristia, mas a missão de
anúncio, celebração e guia pastoral, participando também do tríplice múnus. Os diáconos servem
na diaconia da liturgia da palavra e da caridade. Os ministérios não ordenados reportam-se à
totalidade da eclesiologia do Concílio. São vistos em sua dignidade cristã e em seu valor
carismático e em sua participação ativa na missão da Igreja. o fundamento último de sua atuação
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está no mistério de comunhão da Igreja que se exprime social e historicamente como povo de
Deus.
A comum incorporação a Cristo e a igreja é constantemente enriquecida por uma
inesgotável pluralidade de carismas. O concilio ensina que todos os cristão participam na missão
de Cristo e que os leigos tem uma participação própria, que brota da pluralidade de carismas.
Os ministérios não ordenados fundamentam-se num carisma especial, que, florescendo
dentro e a partir da condição cristã comum (na qual todos os carismas cristãos florecem)
distingue-se ao mesmo tempo dela do carisma dos apóstolos (especifico dos ministros
ordenados). Para dar forma concreta ao ensinamento conciliar Paulo VI publicou a Ministeria
Quaedam que revisou as ordens menores e as denominou ministérios e as colocou em ordem ao
serviço, e não mais aos sacerdócio. Com isso conferiu aos ministérios dignidade ontológica
própria (retirando-os da suplência do padre) e finalidade especifica (serviço).

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