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A CONSTITUIÇÃO E A RELIGIÃO

A. A RELIGIÃO DE ISRAEL PRIMITIVO DE ISRAEL PRIMITIVO

A liga tribal

Israel tinha uma religião sem paralelo no mundo antigo, ela que singularizou seu povo, separando-o de todos os povos que o cercavam e
tornando-o um fenômeno especial. Israel era uma confederação ou liga sagrada de doze tribos (muitas vezes chamada anfictionia), sua
religião e não um mero adjunto da liga ou uma excrescência em sua vida, mas era parte constitutiva da federação.
1. O problema e o método

A crítica bíblica que se faz a história e a religião do Israel primitivo, é que os documentos históricos que descrevem estes fatos foram são
considerados produtos de séculos posteriores.
a. A religião de Israel primitiva à luz dos conhecimentos atuais.

A idéia de Deus e o forte elemento ético na descrição da religião mosaica e a própria noção da aliança, eram considerados
todos como retrospectos de crença posterior e que Israel tenha passado a ter unidade somente com a criação da monarquia, dos códigos de
leis e o culto oficial só foram aperfeiçoados depois em condições posteriores.
Sua religião tinha uma adoração exclusiva de uma deidade nacional tribal Yahweh, não negando a realidade de divindades
protetoras dos outros povos. Todas as religiões antigas antigo Oriente praticavam o politeísmo já que concediam domínio cósmico aos
Deuses, o que nega o henoteísmo no sentido convencional neste tempo.
Donde se conclui, não ser o henoteísmo parte da religião do Israel primitivo. Tornou evidente que a unidade de Israel antecede em
muito o período da monarquia. Nesta suas tradições sagradas e instituições características já tinham adquirido forma normativa no período
mais remoto de sua vida na Palestina.
b. Fontes primárias de conhecimento.

Sabe-se que muito do material do Pentateuco datam de período mais primitivo, como o Livro da Aliança, que longe de ser do século
nono, como quer a ortodoxia crítica, é certamente de origem muito mais primitiva, refletindo o procedimento legal nos dias da liga tribal.
Em outros códigos de leis (D e H), o material básico é igualmente de origem muito antigo, existindo fortes razões para se crer que
ele se encontra em sua forma original mosaica (cf. versões paralelas de Ex 20 e Dt 5). Uma comparação dos documentos J (provavelmente
escritos no século décimo) e E indica que os elementos básicos da tradição do Pentateuco e os temas principais de sua teologia já haviam sido
normalizados no período dos Juízes. Não há nenhuma razão para se presumir que a religião de Israel tenha mudado fundamentalmente
com seu estabelecimento na Palestina ou que tenha recebido seu caráter essencial depois deste acontecimento.
2. A Sociedade da Aliança
Yahweh já era adorado por Deus de Israel desde do tempo do deserto, não se encontrar nenhum vestígio deste tipo de adoração antes
de sua chegada na Palestina nem em parte alguma. Uma noção única no mundo antigo, um fenômeno que por suas características desafia
qualquer explicação racional. Não tinha proposições teológicas abstratas, mas uma experiência histórica interpretada e correspondida. Pelo
poder de sua onipotência, Yahweh - seu Deus, o havia livrado Israel do Egito, mediante uma aliança o havia constituído seu povo.
a. O povo de Yahweh: Eleição e Aliança.
Quanto à eleição, não encontramos nenhum período na história de Israel em que ele não tenha acreditado que fosse o povo
escolhido de Yahweh. Nos períodos posteriores, esta crença é tão óbvia que não necessita ser enfatizada. a noção de eleição era
inerente à religião de Israel desde o seu começo. O Eloísta nos fala igualmente da vocação dos patriarcas, referindo-se a Israel (Ex
19,3-6) como “possessão própria” de Deus entre os povos 19.
Israel libertado do Egito (Êx 15,1-18) por um ato misericordioso de Deus (hesed) e guiado para a sua “santa morada” (v. 13);
Israel é um povo separado, segregado por Yahweh para ser seu próprio povo (Nm 23,9; Dt 33,28 ss; cf. 32.8ss), caminhando seguro com a
contínua proteção da ação poderosa do seu deus (Jz 5,11; SI 68,19ss). Israel se considerou um povo escolhido por Yahweh, objeto de
seus favores especiais. a eleição não é atribuída a qualquer mérito por parte de Israel, mas somente a um favor gracioso de Yahweh.
a teologia da aliança recebe sua expressão clássica no Deuteronômio. Devido a isto, a própria noção de aliança tem sido considerada
como tardia. Mas não se pode aceitar tal julgamento. Israel era constituído de elementos de origem extremamente heterogênea, não sendo
unificado por nenhum governo central. Israel conseguiu sobreviver e manter sua identidade como povo, interligados pela força de
coesão de um pacto solene ou tratado (isto é, uma aliança), feito por ele diante de seu deus. A misericórdia de Yahweh para com eles
desde os dias dos patriarcas até a entrega da terra, comprometeram-se com um juramento solene a ser seu povo e a Ele ser fiel. A ordem
tribal do Israel Primitivo foi criada em aliança com Yahweh e mantida por uma aliança.
os escravos hebreus tinham escapado do Egito de maneira maravilhosa (e sob o comando de Moisés!) e que eles interpretavam esta
libertação como a intervenção misericordiosa de Yahweh, “novo deus” uma sociedade baseada não no sangue, mas numa experiência
histórica e numa decisão moral.
Yahweh através do mar e, no Sinai, tornaram-se seu povo numa aliança solene. O prólogo histórico é igualmente uma característica
padrão. Pode ser breve, (cf. “que te tirou da terra do Egito, da casa da escravidão”, Ex 20,2) ou muito extenso (cf. a longa recitação dos
atos misericordiosos de Yahweh em Js 24,2b-13).
b. A Forma da Aliança.
Os tratados em causa começa tipicamente com um preâmbulo, no qual o Grande Rei se identifica (“estas são as palavras de...”),
dando seu nome, seus títulos e o nome de seu pai. O vassalo deve estar sempre pronto a atender a chamada às armas, devendo
fazê-lo com a maior boa vontade (literalmente, “com todo o seu coração”). O atendimento ao chamado às armas, embora não mencionado
no decálogo, era claramente reconhecido como obrigatório na liga tribal israelita (cf. Jz 5,14-18.23;21,8-12). Uma confiança ilimitada no
Grande Rei, não devendo de maneira nenhuma falar mal de seu Soberano, nem permitir que outros falem.
A invocação de vários deuses como testemunhas não poderia naturalmente ter paralelo na Bíblia (mas cf. Js 24,22.27, onde o
próprio povo e a pedra sagrada dão testemunho.
Este fato, juntamente com o de que, na Bíblia, a aliança recebe sua expressão formal e clássica no livro dos Deuteronômios, levou
muitos especialistas a crer que a forma de tratado começou em Israel numa data relativamente tardia.
Também surgiu uma concepção diferente da relação entre suserano e vassalo, baseada na força bruta e não no favor gracioso e na
persuasão, extremamente diferente em espírito da aliança da Bíblia.
Através de um juramento solene, as tribos israelitas aceitaram o domínio absoluto do deus todopoderoso que os livrou como seus vassalos,
e se empenharam a viver sob sua dominação em paz sagrada uns com os outros e em obediência às cláusulas estipuladas.
c. As obrigações da aliança: o reinado de Yahweh.

A aliança significava a aceitação da soberania de Yahweh por Israel, e foi justamente aqui que começou a noção do domínio
de Deus sobre seu povo, o Reino de Deus, tão central no pensamento de ambos os Testamentos 27.
a Arca era o trono de Yahweh (cf. Nm 10,35ss)29, a vara do Moisés era o seu cetro etc. Os poemas mais antigos
ocasionalmente o saúdam como rei (Ex 15,18; Nm 23,21; Dt 33,5; SI 29,10ss; 68,24).
A aliança não era de modo algum um trato entre iguais, mas uma aceitação de vassalagem em termos de soberania.
As cláusulas da aliança, primariamente, eram que Israel aceitasse o domínio do seu Deus-Rei, não tivesse qualquer contato com nenhum
outro deus-rei e obedecesse à sua lei em todos seus atos com outros súditos do seu domínio (isto é, irmãos de aliança).
d. Aliança e Promessa.

Não se pode achar nenhuma doutrina das “últimas coisas” na religião primitiva de Israel, nem mesmo a antecipação de acontecimentos
concluídos dentro da história que pudesse ser tomada como escatologia num sentido limitado. Entretanto, as sementes da esperança futura de
Israel, que um dia deveriam aparecer numa escatologia plenamente desenvolvida, permanecem no solo da sua religião primitiva de
aliança.com efeito, os pagãos não tinham nenhum senso de uma finalidade divina na sua história e as religiões pagãs não tinham nada
que mesmo remotamente se parecesse com uma escatologia. Ela tampouco se originou do culto real posterior, e muito menos de mera
projeção para o futuro de ambições nacionais frustradas As suas raízes remontam à estrutura da própria religião primitiva de Israel 30.
3. O Deus da Aliança
Devemos mais uma vez tornar claro que a religião de Israel não se centralizava numa idéia de Deus.
a. O nome “Yahweh”.
É provável, contudo, que Yahweh seja a forma causativa do verbo “ser”. Podemos supor que Yahweh fosse uma invocação litúrgica da
divindade, possivelmente de El, conhecido entre os hebreus nos tempos pré-mosaicos, pode ter sido yahweh asher yahweh (“Yahweh que
cria/traz ao ser”), com o nome de Yahweh substituido por El (a fórmula “El que cria” yahweh asher yihweh (“é ele que faz ser o
que existe”),
Moisés dá a seu deus nada menos que os títulos e prerrogativas do principal deus do panteão egípcio. Desde o começo, Israel
não adorou nenhuma divindade de natureza local, mas um deus supremo de domínio cósmico.
b. Somente Yahweh é Deus.

Israel proibiu a adoração de qualquer outro deus que não Yahweh. Esta proibição, classicamente expressa no Primeiro
Mandamento (onde as palavras “diante de mim” têm o sentido de “além de mim”: cf. RSV, mar; e também Ex 22,20; 34,14), o
vassalo deve ter somente um soberano.Yahweh é um Deus zeloso, que não admite rivais (Ex 20,5). Nem sequer se pensava que ele
tivesse qualquer rival. Yahweh é idealizado sempre cercado de uma corte celeste ou assembléia — seus anjos ou seus “santos” (Dt 33,2;
SI 29,1; Gn 3,22; 11,7; etc.). a corte celestial desempenha um papel maior no período posterior do que nas épocas primitivas Com efeito,
o fato dele ser chamado Eloim (deus no plural) constitui provavelmente uma indicação de que ele é a totalidade das manifestações da
divindade.

c. Era a religião mosaica um monoteísmo?


Se entendemos monoteísmo em sentido ontológico, entendendo pelo termo a afirmação explícita de que só existe um deus, podemos
perguntar se a religião primitiva de Israel merece tal designação.
Embora lhe fosse proibido adorar outros deuses além de Yahweh, a literatura primitiva de Israel não fornece nenhuma negação explícita
de que existam outros deuses. períodos posteriores, quando Israel era indubitavelmente monoteístas
A religião de Israel certamente não era politeísmo. Tampouco henoteísmo ou monolatria são termos adequados, porque, embora a
existência de outros deuses não fosse negada expressamente, Israel não lhes reconhecia o status de deuses.
Como Israel estava ligado por aliança para servir a Yahweh, e só a Yahweh, dando-lhe todo o poder e toda a autoridade, era-lhe
proibido dirigir-se a eles como deuses. O vassalo só pode ter um suserano!
Para Israel, somente um Deus era Deus: Yahweh, cujo favor o tinha chamado à existência e sob cuja divina soberania ele se havia
comprometido a viver.
Israel acreditou somente em um Deus desde o começo, neste sentido funcional. se houve tal influência, ela foi indireta e de modo algum
fundamental.

d. A proibição de imagens.
O Javismo era anicônico; era expressamente proibida a representação da Divindade. Embora não possamos assegurar que eles nunca
tenham feito tal imagem, seria pelo menos uma coisa muito rara. Mas é um fato surpreendente que as escavações até agora levadas a efeito
nunca tenham descoberto uma única imagem de Yahweh 39.
Israel primitivo não espiritualizava o seu deus, nem o concebia de maneira abstrata. Pelo contrário, Israel sempre pensava nele em
termos intensamente pessoais, às vezes empregando para descrevê-lo antropomorfismos ingênuos para o nosso gosto, quando não
grosseiros Deus, para Israel, sempre foi o Senhor santo e soberano, que não deve ser invocado familiarmente, nem sem motivo grave.

e. A natureza do Deus de Israel.


Os paganismos antigos eram religiões naturais, e seus deuses eram geralmente identificados com os corpos celestes ou com as forças e
funções da natureza, sem ter, como a natureza, um caráter moral particular. à renovação das forças cósmicas, os deuses eram invocados
para manter e conservar o status quo.
Os paganismos antigos não tinham nenhum senso de orientação divina da história num determinado fim 41.
le não era identificado com nenhuma força natural, nem localizado em ponto algum do céu ou da terra. Embora controlasse os
elementos (Jz 5,4ss.21) e os corpos celestes (Js 10,12 ss) e cavalgasse nas asas da tempestade (SI 29), ele não era nem o deus do
sol, nem o deus da lua, nem o deus da tempestade.
Na religião de Israel, apesar de ser uma coisa sem vida, a natureza era destituída de personalidade e “desmistificada”.
E ele agia nestes acontecimentos tendo uma finalidade em vista. Ao tirar seu povo do Egito, ele mostrou o seu poder salvador,
dominando todas as forças da natureza — pragas, águas do mar, ventos, terremotos e tempestades — para alcançar sua meta. Além disso,
ele aproxima-se repetidas vezes do seu povo com atos salvadores, nas suas angústias e dificuldades (Jz c. 5).
E estes atos salvadores e reveladores do poder de Yahweh, por mais importância que seu culto possa assumir ou por mais mecanicamente que
ele seja praticado, Israel nunca considerou realmente o culto como técnica para fazer pressão sobre a vontade divina.
Yahweh não era um mantenedor benigno do status quo, que devesse ser ritualmente acalmado, mas um deus que chamou seu
povo de um status quo de negra escravidão para um novo futuro, e que dele exigia obediência à sua justa lei.

B. A CONSTITUIÇÃO DE ISRAEL PRIMITIVO: A LIGA TRIBAL E SUAS INSTITUIÇÕES

1. A Liga Tribal

Embora todos estes clãs se proclamassem descendentes do antepassado Jacó (Israel), o sistema não era uma simples descrição de
realidades genealógicas, mas um aspecto da religião de aliança de Israel, em verdade a expressão externa dessa religião.
a. As doze tribos de Israel.

O esquema clássico das tribos é dado na histeria (Gn 29,16 a 30,24;35,16-20) do nascimento dos doze filhos de Jacó: Vemos que os
graus de parentesco não se refletiam nas posições das tribos na terra, mas deveriam provir de uma pré-história tribal, antes da colonização
final e da formação da liga da aliança na sua forma normativa. Apesar de existir rivalida des e de certas tribos, em virtude do seu
tamanho (por exemplo, José, Judá), serem capazes de assumir posições dominantes, não existe nenhuma evidência de que qualquer tribo
ficasse em posição inferior às outras: todas as doze eram iguais.
apesar do número “doze” ser conservado com rigor, parece que seus componentes podiam flutuar, O melhor exemplo é o modo como
a perda de Levi, que logo deixou de ser uma tribo secular, foi compensada pela bifurcação de José em Efraim e Manassés (Gn
48). Não obstante Rúben tenha perdido cedo a sua importância e Simeão tenha sido absorvida em Judá (Js 19,1-9), ambas continuaram a
ser reconhecidas como tribos plenas. Por outro lado, embora Manassés tenha realmente se dividido em secções oriental e ocidental, sempre
era considerada como uma só tribo. O número “doze” era sacrossanto.

b. A natureza do sistema tribal.

Israel Primitivo não era nenhuma unidade racial ou uma unidade nacional, mas uma confederação de tribos, unidas em aliança com
Yahweh. Embora tivesse um caráter territorial com o estabelecimento e a absorção de povos já sedentários, a estrutura de Israel permaneceu
teoricamente tribal. Israel não tinha Estado, não tinha governo central, não tinha capital, não tinha máquina administrativa. não havia
em absoluto nada que se parecesse com um governo organizado. Os membros das tribos se reuniam nos dias de festa, para procurar a presença
de Yahweh e renovar-lhe sua aliança, bem como para resolver divergências ou discutir assuntos de interesse mútuo das tribos.
O número “doze” (ou “seis”) não é uma coincidência, tendo sido provavelmente ditado pela necessidade de um revezamento mensal
(ou bimensal) na manutenção do templo central.
Em tempos de perigo, surgia um juiz (shôphèt), homem sobre quem “descansava o Espírito de Yahweh” (por exemplo, Jz 3,10;
14,6) e que convocava as tribos para repelir o inimigo.
Sua força militar consistia somente no recrutamento das tribos 49 Apesar dessas tribos não serem legalmente obrigadas a atender à
convocação do juiz elas tinham certa obrigação moral de atendê-la porque o chamado às armas era o chamado para combater Guerra Santa
de Yahweh.
Sua autoridade dependia unicamente das qualidades pessoais (o carisma), que mostravam ser ele um homem do espírito de
Yahweh. o Deus-rei governava diretamente seu povo, através de seus representantes, designados por seu espírito.

c. As origens do sistema tribal.


Provavelmente tenha sido definitivamente constituída logo depois da conquista, quando vários elementos, que estavam estabelecidos
na terra e não eram antes adoradores de Yahweh, adotaram a religião dos recém-chegados.
Pode-se concordar que o sistema normativo das doze tribos surgiu somente na Palestina, e que este sistema representa uma
realização notável da estrutura de Israel. A destruição violenta das cidades da Palestina no século treze, como já notamos, não pode ter
sido obra de bandos pequenos, desorganizados e nômades que se infiltraram na terra.
É difícil ver o que os teria levado a tomar tal decisão se esses recém-chegados não tivessem vindo com uma força considerável e se a
nova ideologia por eles trazida não se tivesse mostrado um agente galvanizador capaz de inspirar a população com uma nova
esperança e levá-la a agir. Não somente a liga israelita tinha consciência de que seu deus viera do Sinai (por exemplo, Jz 5,4 ss; Dt
33,2); sua tradição normativa lembrava-lhe a aliança que tinha sido feita com ele no Sinai. om a ajuda de elementos descontentes que se
bandearam para seu lado — alcançou vitórias espetaculares, é difícil dizer por que grupos de origens tão diversas e geograficamente tão
isolados se juntaram numa confederação, sob as ordens de Yahweh.
Se o Javismo se originou no deserto (como o foi certamente), devemos concluir que também foi lá que se ori ginou a sociedade da
aliança, porque Javismo e aliança são os termos. devemos supor que o Javismo foi levado por um povo que estava ligado por uma aliança a
Yahweh.
podemos supor que, à medida em que este núcleo foi peregrinando, se desmembrou e proliferou da ma neira descrita no capítulo
precedente, recebendo consideráveis acréscimos de convertidos, até chegar a ser uma formidável união de clãs. Isto representou, de certo
modo, uma nova aliança, porque feito com uma nova geração e com elementos que antes não eram adoradores de Israel (Js 24,14ss).

2. As Instituições da Liga Tribal


Em Israel primitivo, a religião encontrava sua expressão em certas instituições tangíveis. Dentre elas, eram importantes o templo
central da liga, o culto neste templo em ocasiões sagradas e, acima de tudo, a lei da aliança. O “Tabernáculo do Encontro” ('õhel
mô(êd) — isto é, onde Yahweh se encontrou com seu povo e manifestou-lhe sua vontade
a. O templo Central

Originalmente, era um templo tabernáculo que, como a arca, fora construído no deserto.cordo com P, e tem sido amplamente
considerada como uma retroprojeção completamente idealista do templo em sua segunda fase, descrição se fundamenta em tradições do
templo-tabernáculo erguido por Davi (2Sm 6,17), que por sua vez foi o sucessor do templo anfictiônico, tendo sido provavelmente
desenhado segundo ele, embora, sem dúvida alguma, com maiores detalhes. já se pensou muito que Israel não tinha culto central na
época. Isto é certamente um erro.
Apesar de não se excluir a adoração em outros lugares, o templo da Arca era o templo oficial da liga tribal e o coração de sua vida
como corporação. Silo, possivelmente tenha sido escolhido devido à inexistência de associações estranhas. As tradições associadas a
Gilgal (Js 4-5, etc.), como o enorme prestígio do templo posterior deste local (l Sm ll.l4ss: 13,4-15; Am 5,5), tornam possível que
o centro tribal tenha sido lá anteriormente, provavelmente durante a conquista.
Costuma-se supor que o templo central estava localizado primeiro em Siquém, depois em Betel. Quanto a Betel, era um templo
importante, com associações patriarcais.as a Arca era freqüentemente levada para o campo, e a mesma narrativa coloca o acampamento
israelita em Siló (Jz 21,12).

b. O Clero e culto.

Um clero chefiado por um sumo sacerdote, cujo ministério era provavelmente hereditário, atuava no templo central (lSm 1-3) 60. todo
o pessoal do culto deveria ser da tribo de Levi e todos os sacerdotes da casa de Aarão não estava em voga em Israel primitivo. mesmo
antes da Arca os não-levitas podiam exercer funções litúrgicas — como o fez Samuel que, embora de Efraim (lSm 1,1) . Mesmo antes da
Arca os não-levitas podiam exercer funções litúrgicas — como o fez Samuel que, embora de Efraim (lSm 1,1) jovem de Efraim sentiu
prazer em encontrar um levita peregrino, que desempenhou para ele as funções de sacerdote (Jz 17,7-13). Levi, sem dúvida, ganhou
prestígio pelo fato de que o próprio Moisés era dessa tribo — o que provavelmente explica a preferência pelos sacerdotes levitas, mas
homens de qualquer clã dedicados a Yahweh poderiam tornar-se levitas. Com o correr do tempo, muitas famílias sacerdotais e indivíduos
que não eram da linhagem de Levi foram reconhecidos como tais em virtude de sua função como Samuel (l Cr 6,28).
Nos dias do deserto, o culto de Israel era certamente muito simples, embora se possa argumentar (por exemplo, Am 5,21-27; Jr 7,21-
23) que Israel não tinha absolutamente culto. Posteriormente na Palestina e com a absorção de elementos sedentários da terra, juntamente
com outros tabernáculos e tradições de culto, que os ritos de adoração de Israel foram enriquecidos e aperfeiçoados.
Sacrifício humano e os ritos da fertilidade, não foram assimilado por Israel e nunca se encontraram lugar no culto do Javismo
normativo. A religião de Israel também não admitia a noção pagã de sacrifício como um opus operatum.
Israel deveria apresentar-se diante de Yahweh: a festa dos ázimos, a festa da ceifa e das primícias e a festa da colheita. De todas estas
festas estas eram as mais antigas em Israel, e salvo a festa da Páscoa, todas eram de origem agrícola. Israel recebeu-as de fora, e que isto não
nos cause estranheza este seu modo de proceder.
Elas deixaram de ser meras festas da natureza, tornando-se ocasiões em que se celebravam os feitos poderosos de Yahweh em
favor de seu povo.
Mas há indícios de uma grande festa anual em Silo, à qual compareciam os israelitas (Jz 21,19; lSm 1,3.21). Embora não tenhamos
documento escrito, esta festa era provavelmente a festa da colheita de outono, na virada do ano, houve uma cerimônia regular de
renovação da aliança — anualmente ou a cada sete anos (Dt 31,9-13) no qual o ofertante e não o sacrifício, era o coração da vida do
culto na liga tribal. O seu culto, portanto, não se destinava a manter um certo bem-estar material, como nas religiões pagãs, mas era
uma recordação de sua história.

c. A lei da aliança e seu desenvolvimento.


Embora tais cláusulas não constituíssem um código de lei, elas possuíam uma autoridade que obrigava, porque definiam o modo pelo
qual os membros da comunidade devem regular suas ações, tanto com respeito a Deus como em relação a si próprios. A lei do Pentateuco
apresenta numerosas semelhanças com os códigos de lei da Mesopotâmia (o Código de Hamurabi e outros). Deve haver alguma ligação
entre eles. As leis do Pentateuco podem ser classificadas em duas grandes categorias quanto à forma: apodícticas e casuísticas. Embora “Tu
deverás... — tu não deverás...”, tem paralelos perfeitos nos tratados de suserania, inteiramente apodíctico na forma e em sua maior
parte expresso negativamente. O Decálogo estabelece antes cláusulas divinas, áreas definidas de conduta que são proibidas (ou exigidas),
enquanto deixa outras áreas inteiramente livres.
Moisés embora não tivesse escrito todas as leis do Pentateuco, como quer a tradição, ele formulou as cláusulas constitutivas
da aliança, às quais toda a lei específica devia conformar-se e cuja intenção devia expressar,Sua lei tinha de expressar o que a lei de
Yahweh queria naquela situação. Devido a esta necessidade — podemos supor —, eles tomaram de empréstimo muitas formas legais e
muitas tradições. provavelmente de povos absorvidos na sua estrutura, da mesma origem que seus próprios antepassados, cuja tradição le-
gal, em última análise era de origem mesopotâmica.
O Livro da Aliança (Ex 21-23; cf. c. 34), que não é nenhuma lei oficial, mas a descrição de um procedimento ju dicial normativo de
Israel na época dos juízes, é o melhor exemplo deste processo. Os sacerdotes eram chamados para resolver casos difíceis por oráculo ou
juízo de Deus (cf. Nm 5,11-31; Dt 17,8-11), ou então por conhecimento superior da lei. Os assim chamados Juízes Menores (Jz 10,1-5;
12,7-15) tam bém parecem ter desempenhado um papel importante na admi nistração da lei.

C. A HISTÓRIA DA LIGA TRIBAL: O PERÍODO DOS JUÍZES

1. A situação mundial em 1200-1050 a.C., aproximadamente


O Egito era naquele momento uma nação fraca. Merneptah (1224-1211, aproximadamente) havia rechaçado os Povos do Mar, o Egito
entrou naquele período de confusão prévio ao colapso da Décima Nona Dinastia, durante a qual ele perderia o controle efetivo de
suas possessões na Ásia. Isto deu a Israel oportunidade de se estabelecer firmemente em sua terra.
a. A Vigésima Dinastia: o fim do Império egípcio.
Ramsés III (1183-1152, aproximadamente) 69. Com este último, que agiu vigorosamente para recuperar o prestígio perdido pelo Egito
na Ásia, parecia que estava para surgir um novo período na história do Império.Ramsés certamente conseguiu restabelecer o controle egípcio
para o norte, até a Planície de Esdrelon, onde foi reconstruída a fortaleza de Bete-Seã.
Entre o quinto e o décimo primeiro ano de seu reinado, Ramsés III foi forçado a enfrentar uma série de constantes assaltos
desferidos pelos Povos do Mar, pelos líbios e pelas tribos aliadas, no fim dos quais o Egito encontrava-se completamente exausto.
Ramsés se vangloriava de vitória em cada uma dessas batalhas e certamente fosse capaz de sustar uma invasão, o Egito sofreu um
golpe terrível. Desprovido de forças para repelir os invasores da Palestina, o faraó viu-se obrigado a fazer da necessidade força,
permitindo que alguns (filisteus, tsikal e talvez outros) lá se estabelecesse como seus vassalos. Egito não podia fazer nada para recuperar sua
posição no exterior. Seus dias de Império estavam contados.

b. A Ásia Ocidental nos Séculos Doze e Onze.


Não existia nenhuma potência rival para herdar os escombros das possessões asiáticas do Egito. A Assíria teve um breve período de
ressurgimento sob Tiglat Falasar I (1116-1078, aproximadamente), que derrotou a Babilônia e cujas campanhas o levaram para o norte, até
a Armênia e a Anatólia, e para o oeste até o Mediterrâneo, no norte da Fenícia.
A Assíria se enfraqueceu novamente, conservando-se nesse estado por perto de duzentos anos. A razão disto está sobretudo nos
arameus, que exerciam uma crescente pressão sobre todas as partes do Crescente Fértil na ocasião. Mas, qualquer que tenha sido a crise que
o recém-formado Israel teve de enfrentar, ele gozava de liberdade para se desenvolver sem ameaça de qualquer poder terreno.
Os filisteus, que dominavam o litoral da Palestina e ocupa vam os pontos estratégicos, através da Planície de Esdrelon e no vale do
Jordão, tinham o centro do seu poder numa pentápolis, que eram: Gaza, Ashkelon, Ashdod, Ecrom e Gate, cada uma delas governada por um
tirano (seren), quando se expandiram para o interior, ocupando ou dominando as cidades ao longo das fronteiras dos territórios tribais de
Israel (Gaser, Bet-sames etc.), o conflito foi inevitável.
Os filisteus gozavam de monopólio local na manufatura do ferro, segredo que eles provavelmente aprenderam dos hititas, que
tinham desfrutado de monopólio semelhante.
2. Israel em Canaã: os dois primeiros séculos
A impressão que se tem — de combates contínuos ou intermitentes com tréguas alternadas e períodos de crise externa e interna —
é totalmente autêntica. Ela concorda perfeitamente com as provas arqueológicas que mostram que os séculos doze e onze foram séculos de
grandes perturbações como nunca as houve na história da Palestina.
a. A Posição de Israel na Palestina: adaptação e normalização.
As possessões de Israel não constituíam uma unidade territorial perfeita. Apesar das áreas montanhosas da Palestina es tarem em sua
maioria nas mãos de Israel, ele não podia, uma vez que combatia a pé, aventurar-se na planície para enfrentar os carros de batalha
patrícios das cidades-estados que lá se encontravam (por exemplo, Js 17,16; Jz 1,19). Os israelitas que aí se estabeleceram ou se
misturaram com os canaanitas (Jz l,31ss) ou se tornaram súditos deles (Gn 49,14ss). E mesmo nas montanhas ficaram enclaves cananitas
(Jerusalém, por exemplo).
As tribos da Galiléia estavam separadas das outras pelas possessões cananitas em Esdrelon, Entre as tribos ocidentais e orientais,
ficava o profundo vale do Jordão. a reunião das tribos estivesse geralmente na razão direta da proximidade do perigo. Fatores como estes
servem para explicar a impressão de extrema desunião que o Livro dos Juízes nos dá. O período dos juízes foi uma adaptação e uma
normalização, os recém-chegados não eram, afinal de contas, verdadeiros nômades do deserto, mas povos já acostumados a cultivar a
terra de uma maneira limitada, muitos dos quais descendentes dos hebreus que haviam experimentado longos anos de vida sedentária como
escravos do Egito.
A pobreza do povo, assim como a falta de habilidade técnica, deixa-se ver no fato notado acima, de que as mais antigas cidades
israelitas eram extremamente toscas, sem nenhum indício de cultura material. Já no período dos juízes viu um progresso gradual, porém
marcante, na economia de Israel. A medida que eles aprendiam a técnica, a cultura material aumentava. A introdução de caravanas de
camelos para o transporte no deserto, durante esse período, e a expansão do comércio marítimo, do qual cs membros de certas tribos de
Israel parecem ter participado (Jz 5,17), contribuíram sem dúvida para a prosperidade geral. As tradições dos antepassados da terra,
transmitidas durante muito tempo, foram adaptadas e se tornaram veículos na religião de Yahweh. Além disso, como Canaã estava
incomensuravelmente à frente de Israel em cultura material, o empréstimo cultural naturalmente foi geral. A religião agrária se tornou
parte necessária da vida agrária, por influência pagã os israelitas começaram a fazer sacrifícios aos deuses da fertilidade.
b. O domínio do Carisma.
Pouco podemos acrescentar ao que a Bíblia nos diz dos vários líderes chamados juízes, que surgiram durante este período para
salvar Israel de seus inimigos. , Ao que sabemos, nenhum deles conseguiram unir Israel para combater contra os seus inimigos. Eram
homens que, apresentando-se em épocas de perigo, somente pela virtude de suas qualidades pessoais (carisma), que provavam a seu povo que
possuíam o espírito de Yahweh, reuniam as tribos contra o inimigo.
Como indicamos, Israel nunca conseguiu dominar a planície de Esdrelon, que permaneceu como uma cunha que o dividia quase ao
meio. No século doze, a confederação cananita, que dominava a área, talvez em aliança com certos elemen tos egeus (dos quais Sísera
deve ter sido um), travou duros combates com as tribos israelitas circunvizinhas, reduzindo algumas de las à escravidão (Gn 49,14ss). Houve
uma grande convocação geral, à qual atenderam numerosas tribos, como as de Benja mim, Efraim, Manassés, Zabulon e Neftali (Jz 5,14-
18) — embora as outras tribos, que não estavam diretamente afetadas, não tenham mostrado muito entusiasmo pela guerra. A vitória
foi obtida quando uma chuva torrencial alagou os campos e atolou os carros dos cananitas, possibilitando que a infantaria israelita matasse
todos os seus ocupantes. Pode muito bem ser que os incidentes de fronteira desta espécie tenham em grande parte incitado os filisteus a
uma ação mais agressiva contra Israel.
c. A tenacidade do Sistema Tribal.
Exceto talvez no caso da vitória de Débora, Israel jamais conquistou um novo território.Israel talvez tenha conseguido mais vitórias no
fim do período do que no começo. E todas as tribos continuaram virtualmente a ter enclaves cananitas em seus territórios, enclaves que elas
não podiam dominar. E também não podia impedir rivalidades entre as tribos, rivalidades que acabavam em guerra (Jz 12,1-6). Além disso,
em caso de crimes cometidos por membros de uma tribo contra membros de outra (Jz cc. 19;20), não havia nenhum meio de conciliação,
porque nenhuma das tribos queria dar-se por vencida. A liga sobreviveu durante quase duzentos anos e isto deveu-se, em parte, pelas
emergências enfrentadas por Israel, em sua maioria de caráter local, de modo que uma convocação informal das tribos poderia resolver. Mas
também se deveu ao fato de que, circunscrevendo a ação das tribos apenas a certas áreas bem definidas, enquanto deixava livres
outras áreas, a organização tribal expressava perfeitamente o espírito da aliança com Yahweh que presidira à sua criação.
Yahweh, o soberano de seu povo, governa-o e salva-o atra vés de seus representantes carismáticos. Assim teria continuado
indefinidamente Israel se não tivesse ocorrido a crise dos filisteus, que o colocou diante de uma emergência que a convocação das tribos não
podia enfrentar e que o forçava a uma mudança fundamental.

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