Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A liga tribal
Israel tinha uma religião sem paralelo no mundo antigo, ela que singularizou seu povo, separando-o de todos os povos que o cercavam e
tornando-o um fenômeno especial. Israel era uma confederação ou liga sagrada de doze tribos (muitas vezes chamada anfictionia), sua
religião e não um mero adjunto da liga ou uma excrescência em sua vida, mas era parte constitutiva da federação.
1. O problema e o método
A crítica bíblica que se faz a história e a religião do Israel primitivo, é que os documentos históricos que descrevem estes fatos foram são
considerados produtos de séculos posteriores.
a. A religião de Israel primitiva à luz dos conhecimentos atuais.
A idéia de Deus e o forte elemento ético na descrição da religião mosaica e a própria noção da aliança, eram considerados
todos como retrospectos de crença posterior e que Israel tenha passado a ter unidade somente com a criação da monarquia, dos códigos de
leis e o culto oficial só foram aperfeiçoados depois em condições posteriores.
Sua religião tinha uma adoração exclusiva de uma deidade nacional tribal Yahweh, não negando a realidade de divindades
protetoras dos outros povos. Todas as religiões antigas antigo Oriente praticavam o politeísmo já que concediam domínio cósmico aos
Deuses, o que nega o henoteísmo no sentido convencional neste tempo.
Donde se conclui, não ser o henoteísmo parte da religião do Israel primitivo. Tornou evidente que a unidade de Israel antecede em
muito o período da monarquia. Nesta suas tradições sagradas e instituições características já tinham adquirido forma normativa no período
mais remoto de sua vida na Palestina.
b. Fontes primárias de conhecimento.
Sabe-se que muito do material do Pentateuco datam de período mais primitivo, como o Livro da Aliança, que longe de ser do século
nono, como quer a ortodoxia crítica, é certamente de origem muito mais primitiva, refletindo o procedimento legal nos dias da liga tribal.
Em outros códigos de leis (D e H), o material básico é igualmente de origem muito antigo, existindo fortes razões para se crer que
ele se encontra em sua forma original mosaica (cf. versões paralelas de Ex 20 e Dt 5). Uma comparação dos documentos J (provavelmente
escritos no século décimo) e E indica que os elementos básicos da tradição do Pentateuco e os temas principais de sua teologia já haviam sido
normalizados no período dos Juízes. Não há nenhuma razão para se presumir que a religião de Israel tenha mudado fundamentalmente
com seu estabelecimento na Palestina ou que tenha recebido seu caráter essencial depois deste acontecimento.
2. A Sociedade da Aliança
Yahweh já era adorado por Deus de Israel desde do tempo do deserto, não se encontrar nenhum vestígio deste tipo de adoração antes
de sua chegada na Palestina nem em parte alguma. Uma noção única no mundo antigo, um fenômeno que por suas características desafia
qualquer explicação racional. Não tinha proposições teológicas abstratas, mas uma experiência histórica interpretada e correspondida. Pelo
poder de sua onipotência, Yahweh - seu Deus, o havia livrado Israel do Egito, mediante uma aliança o havia constituído seu povo.
a. O povo de Yahweh: Eleição e Aliança.
Quanto à eleição, não encontramos nenhum período na história de Israel em que ele não tenha acreditado que fosse o povo
escolhido de Yahweh. Nos períodos posteriores, esta crença é tão óbvia que não necessita ser enfatizada. a noção de eleição era
inerente à religião de Israel desde o seu começo. O Eloísta nos fala igualmente da vocação dos patriarcas, referindo-se a Israel (Ex
19,3-6) como “possessão própria” de Deus entre os povos 19.
Israel libertado do Egito (Êx 15,1-18) por um ato misericordioso de Deus (hesed) e guiado para a sua “santa morada” (v. 13);
Israel é um povo separado, segregado por Yahweh para ser seu próprio povo (Nm 23,9; Dt 33,28 ss; cf. 32.8ss), caminhando seguro com a
contínua proteção da ação poderosa do seu deus (Jz 5,11; SI 68,19ss). Israel se considerou um povo escolhido por Yahweh, objeto de
seus favores especiais. a eleição não é atribuída a qualquer mérito por parte de Israel, mas somente a um favor gracioso de Yahweh.
a teologia da aliança recebe sua expressão clássica no Deuteronômio. Devido a isto, a própria noção de aliança tem sido considerada
como tardia. Mas não se pode aceitar tal julgamento. Israel era constituído de elementos de origem extremamente heterogênea, não sendo
unificado por nenhum governo central. Israel conseguiu sobreviver e manter sua identidade como povo, interligados pela força de
coesão de um pacto solene ou tratado (isto é, uma aliança), feito por ele diante de seu deus. A misericórdia de Yahweh para com eles
desde os dias dos patriarcas até a entrega da terra, comprometeram-se com um juramento solene a ser seu povo e a Ele ser fiel. A ordem
tribal do Israel Primitivo foi criada em aliança com Yahweh e mantida por uma aliança.
os escravos hebreus tinham escapado do Egito de maneira maravilhosa (e sob o comando de Moisés!) e que eles interpretavam esta
libertação como a intervenção misericordiosa de Yahweh, “novo deus” uma sociedade baseada não no sangue, mas numa experiência
histórica e numa decisão moral.
Yahweh através do mar e, no Sinai, tornaram-se seu povo numa aliança solene. O prólogo histórico é igualmente uma característica
padrão. Pode ser breve, (cf. “que te tirou da terra do Egito, da casa da escravidão”, Ex 20,2) ou muito extenso (cf. a longa recitação dos
atos misericordiosos de Yahweh em Js 24,2b-13).
b. A Forma da Aliança.
Os tratados em causa começa tipicamente com um preâmbulo, no qual o Grande Rei se identifica (“estas são as palavras de...”),
dando seu nome, seus títulos e o nome de seu pai. O vassalo deve estar sempre pronto a atender a chamada às armas, devendo
fazê-lo com a maior boa vontade (literalmente, “com todo o seu coração”). O atendimento ao chamado às armas, embora não mencionado
no decálogo, era claramente reconhecido como obrigatório na liga tribal israelita (cf. Jz 5,14-18.23;21,8-12). Uma confiança ilimitada no
Grande Rei, não devendo de maneira nenhuma falar mal de seu Soberano, nem permitir que outros falem.
A invocação de vários deuses como testemunhas não poderia naturalmente ter paralelo na Bíblia (mas cf. Js 24,22.27, onde o
próprio povo e a pedra sagrada dão testemunho.
Este fato, juntamente com o de que, na Bíblia, a aliança recebe sua expressão formal e clássica no livro dos Deuteronômios, levou
muitos especialistas a crer que a forma de tratado começou em Israel numa data relativamente tardia.
Também surgiu uma concepção diferente da relação entre suserano e vassalo, baseada na força bruta e não no favor gracioso e na
persuasão, extremamente diferente em espírito da aliança da Bíblia.
Através de um juramento solene, as tribos israelitas aceitaram o domínio absoluto do deus todopoderoso que os livrou como seus vassalos,
e se empenharam a viver sob sua dominação em paz sagrada uns com os outros e em obediência às cláusulas estipuladas.
c. As obrigações da aliança: o reinado de Yahweh.
A aliança significava a aceitação da soberania de Yahweh por Israel, e foi justamente aqui que começou a noção do domínio
de Deus sobre seu povo, o Reino de Deus, tão central no pensamento de ambos os Testamentos 27.
a Arca era o trono de Yahweh (cf. Nm 10,35ss)29, a vara do Moisés era o seu cetro etc. Os poemas mais antigos
ocasionalmente o saúdam como rei (Ex 15,18; Nm 23,21; Dt 33,5; SI 29,10ss; 68,24).
A aliança não era de modo algum um trato entre iguais, mas uma aceitação de vassalagem em termos de soberania.
As cláusulas da aliança, primariamente, eram que Israel aceitasse o domínio do seu Deus-Rei, não tivesse qualquer contato com nenhum
outro deus-rei e obedecesse à sua lei em todos seus atos com outros súditos do seu domínio (isto é, irmãos de aliança).
d. Aliança e Promessa.
Não se pode achar nenhuma doutrina das “últimas coisas” na religião primitiva de Israel, nem mesmo a antecipação de acontecimentos
concluídos dentro da história que pudesse ser tomada como escatologia num sentido limitado. Entretanto, as sementes da esperança futura de
Israel, que um dia deveriam aparecer numa escatologia plenamente desenvolvida, permanecem no solo da sua religião primitiva de
aliança.com efeito, os pagãos não tinham nenhum senso de uma finalidade divina na sua história e as religiões pagãs não tinham nada
que mesmo remotamente se parecesse com uma escatologia. Ela tampouco se originou do culto real posterior, e muito menos de mera
projeção para o futuro de ambições nacionais frustradas As suas raízes remontam à estrutura da própria religião primitiva de Israel 30.
3. O Deus da Aliança
Devemos mais uma vez tornar claro que a religião de Israel não se centralizava numa idéia de Deus.
a. O nome “Yahweh”.
É provável, contudo, que Yahweh seja a forma causativa do verbo “ser”. Podemos supor que Yahweh fosse uma invocação litúrgica da
divindade, possivelmente de El, conhecido entre os hebreus nos tempos pré-mosaicos, pode ter sido yahweh asher yahweh (“Yahweh que
cria/traz ao ser”), com o nome de Yahweh substituido por El (a fórmula “El que cria” yahweh asher yihweh (“é ele que faz ser o
que existe”),
Moisés dá a seu deus nada menos que os títulos e prerrogativas do principal deus do panteão egípcio. Desde o começo, Israel
não adorou nenhuma divindade de natureza local, mas um deus supremo de domínio cósmico.
b. Somente Yahweh é Deus.
Israel proibiu a adoração de qualquer outro deus que não Yahweh. Esta proibição, classicamente expressa no Primeiro
Mandamento (onde as palavras “diante de mim” têm o sentido de “além de mim”: cf. RSV, mar; e também Ex 22,20; 34,14), o
vassalo deve ter somente um soberano.Yahweh é um Deus zeloso, que não admite rivais (Ex 20,5). Nem sequer se pensava que ele
tivesse qualquer rival. Yahweh é idealizado sempre cercado de uma corte celeste ou assembléia — seus anjos ou seus “santos” (Dt 33,2;
SI 29,1; Gn 3,22; 11,7; etc.). a corte celestial desempenha um papel maior no período posterior do que nas épocas primitivas Com efeito,
o fato dele ser chamado Eloim (deus no plural) constitui provavelmente uma indicação de que ele é a totalidade das manifestações da
divindade.
d. A proibição de imagens.
O Javismo era anicônico; era expressamente proibida a representação da Divindade. Embora não possamos assegurar que eles nunca
tenham feito tal imagem, seria pelo menos uma coisa muito rara. Mas é um fato surpreendente que as escavações até agora levadas a efeito
nunca tenham descoberto uma única imagem de Yahweh 39.
Israel primitivo não espiritualizava o seu deus, nem o concebia de maneira abstrata. Pelo contrário, Israel sempre pensava nele em
termos intensamente pessoais, às vezes empregando para descrevê-lo antropomorfismos ingênuos para o nosso gosto, quando não
grosseiros Deus, para Israel, sempre foi o Senhor santo e soberano, que não deve ser invocado familiarmente, nem sem motivo grave.
1. A Liga Tribal
Embora todos estes clãs se proclamassem descendentes do antepassado Jacó (Israel), o sistema não era uma simples descrição de
realidades genealógicas, mas um aspecto da religião de aliança de Israel, em verdade a expressão externa dessa religião.
a. As doze tribos de Israel.
O esquema clássico das tribos é dado na histeria (Gn 29,16 a 30,24;35,16-20) do nascimento dos doze filhos de Jacó: Vemos que os
graus de parentesco não se refletiam nas posições das tribos na terra, mas deveriam provir de uma pré-história tribal, antes da colonização
final e da formação da liga da aliança na sua forma normativa. Apesar de existir rivalida des e de certas tribos, em virtude do seu
tamanho (por exemplo, José, Judá), serem capazes de assumir posições dominantes, não existe nenhuma evidência de que qualquer tribo
ficasse em posição inferior às outras: todas as doze eram iguais.
apesar do número “doze” ser conservado com rigor, parece que seus componentes podiam flutuar, O melhor exemplo é o modo como
a perda de Levi, que logo deixou de ser uma tribo secular, foi compensada pela bifurcação de José em Efraim e Manassés (Gn
48). Não obstante Rúben tenha perdido cedo a sua importância e Simeão tenha sido absorvida em Judá (Js 19,1-9), ambas continuaram a
ser reconhecidas como tribos plenas. Por outro lado, embora Manassés tenha realmente se dividido em secções oriental e ocidental, sempre
era considerada como uma só tribo. O número “doze” era sacrossanto.
Israel Primitivo não era nenhuma unidade racial ou uma unidade nacional, mas uma confederação de tribos, unidas em aliança com
Yahweh. Embora tivesse um caráter territorial com o estabelecimento e a absorção de povos já sedentários, a estrutura de Israel permaneceu
teoricamente tribal. Israel não tinha Estado, não tinha governo central, não tinha capital, não tinha máquina administrativa. não havia
em absoluto nada que se parecesse com um governo organizado. Os membros das tribos se reuniam nos dias de festa, para procurar a presença
de Yahweh e renovar-lhe sua aliança, bem como para resolver divergências ou discutir assuntos de interesse mútuo das tribos.
O número “doze” (ou “seis”) não é uma coincidência, tendo sido provavelmente ditado pela necessidade de um revezamento mensal
(ou bimensal) na manutenção do templo central.
Em tempos de perigo, surgia um juiz (shôphèt), homem sobre quem “descansava o Espírito de Yahweh” (por exemplo, Jz 3,10;
14,6) e que convocava as tribos para repelir o inimigo.
Sua força militar consistia somente no recrutamento das tribos 49 Apesar dessas tribos não serem legalmente obrigadas a atender à
convocação do juiz elas tinham certa obrigação moral de atendê-la porque o chamado às armas era o chamado para combater Guerra Santa
de Yahweh.
Sua autoridade dependia unicamente das qualidades pessoais (o carisma), que mostravam ser ele um homem do espírito de
Yahweh. o Deus-rei governava diretamente seu povo, através de seus representantes, designados por seu espírito.
Originalmente, era um templo tabernáculo que, como a arca, fora construído no deserto.cordo com P, e tem sido amplamente
considerada como uma retroprojeção completamente idealista do templo em sua segunda fase, descrição se fundamenta em tradições do
templo-tabernáculo erguido por Davi (2Sm 6,17), que por sua vez foi o sucessor do templo anfictiônico, tendo sido provavelmente
desenhado segundo ele, embora, sem dúvida alguma, com maiores detalhes. já se pensou muito que Israel não tinha culto central na
época. Isto é certamente um erro.
Apesar de não se excluir a adoração em outros lugares, o templo da Arca era o templo oficial da liga tribal e o coração de sua vida
como corporação. Silo, possivelmente tenha sido escolhido devido à inexistência de associações estranhas. As tradições associadas a
Gilgal (Js 4-5, etc.), como o enorme prestígio do templo posterior deste local (l Sm ll.l4ss: 13,4-15; Am 5,5), tornam possível que
o centro tribal tenha sido lá anteriormente, provavelmente durante a conquista.
Costuma-se supor que o templo central estava localizado primeiro em Siquém, depois em Betel. Quanto a Betel, era um templo
importante, com associações patriarcais.as a Arca era freqüentemente levada para o campo, e a mesma narrativa coloca o acampamento
israelita em Siló (Jz 21,12).
b. O Clero e culto.
Um clero chefiado por um sumo sacerdote, cujo ministério era provavelmente hereditário, atuava no templo central (lSm 1-3) 60. todo
o pessoal do culto deveria ser da tribo de Levi e todos os sacerdotes da casa de Aarão não estava em voga em Israel primitivo. mesmo
antes da Arca os não-levitas podiam exercer funções litúrgicas — como o fez Samuel que, embora de Efraim (lSm 1,1) . Mesmo antes da
Arca os não-levitas podiam exercer funções litúrgicas — como o fez Samuel que, embora de Efraim (lSm 1,1) jovem de Efraim sentiu
prazer em encontrar um levita peregrino, que desempenhou para ele as funções de sacerdote (Jz 17,7-13). Levi, sem dúvida, ganhou
prestígio pelo fato de que o próprio Moisés era dessa tribo — o que provavelmente explica a preferência pelos sacerdotes levitas, mas
homens de qualquer clã dedicados a Yahweh poderiam tornar-se levitas. Com o correr do tempo, muitas famílias sacerdotais e indivíduos
que não eram da linhagem de Levi foram reconhecidos como tais em virtude de sua função como Samuel (l Cr 6,28).
Nos dias do deserto, o culto de Israel era certamente muito simples, embora se possa argumentar (por exemplo, Am 5,21-27; Jr 7,21-
23) que Israel não tinha absolutamente culto. Posteriormente na Palestina e com a absorção de elementos sedentários da terra, juntamente
com outros tabernáculos e tradições de culto, que os ritos de adoração de Israel foram enriquecidos e aperfeiçoados.
Sacrifício humano e os ritos da fertilidade, não foram assimilado por Israel e nunca se encontraram lugar no culto do Javismo
normativo. A religião de Israel também não admitia a noção pagã de sacrifício como um opus operatum.
Israel deveria apresentar-se diante de Yahweh: a festa dos ázimos, a festa da ceifa e das primícias e a festa da colheita. De todas estas
festas estas eram as mais antigas em Israel, e salvo a festa da Páscoa, todas eram de origem agrícola. Israel recebeu-as de fora, e que isto não
nos cause estranheza este seu modo de proceder.
Elas deixaram de ser meras festas da natureza, tornando-se ocasiões em que se celebravam os feitos poderosos de Yahweh em
favor de seu povo.
Mas há indícios de uma grande festa anual em Silo, à qual compareciam os israelitas (Jz 21,19; lSm 1,3.21). Embora não tenhamos
documento escrito, esta festa era provavelmente a festa da colheita de outono, na virada do ano, houve uma cerimônia regular de
renovação da aliança — anualmente ou a cada sete anos (Dt 31,9-13) no qual o ofertante e não o sacrifício, era o coração da vida do
culto na liga tribal. O seu culto, portanto, não se destinava a manter um certo bem-estar material, como nas religiões pagãs, mas era
uma recordação de sua história.