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MANUAL DE INTRODUÇÃO

AO ESTUDO BÍBLICO
(Colégio Nossa Senhora da
Anunciação)

8ª CLASSE

Direcção de Capelania e Pastoral


Direcção de Capelania e Pastoral - CNSA

MANUAL DE INTRODUÇÃO
AO ESTUDO BÍBLICO
(Colégio Nossa Senhora da
Anunciação)

8ª CLASSE

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FICHA TÉCNICA

TÍTULO: Manual de Introdução ao Estudo Bíblico – 8ª Classe

AUTORIA: Capelania e Pastoral – Nossa Senhora da Anunciação

REVISTO E CORRIGIDO POR: Joaquim Sangueve, Gonçalves Vieira e Armando Jorge

EDIÇÃO:

IMPRESSÃO:

1ª EDIÇÃO:

Não fotocopie este livro! Todos os direitos


estão reservados em nome da Capelania e
Pastoral – Nossa Senhora da Anunciação

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FOCO: Maior familiaridade com a Bíblia.

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TEMA 1
A HISTÓRIA DO POVO DA BÍBLIA

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1.1. O POVO DE ISRAEL

A história de Israel é muito longa e turbulenta. A Bíblia conta sobre as origens do


povo e do país de Israel, desde a época de Abraão. Ao longo da História, Deus usou Israel
para revelar Sua vontade e trazer salvação ao mundo.

O povo de Israel tem uma história violenta e cheia de sofrimento, mas também
com muitos milagres de Deus.

Há cerca de 2000 anos Antes de Cristo, Deus chamou um homem chamado


Abraão, que vivia em Ur, e prometeu dar uma terra aos seus descendentes, que seriam
o povo especial de Deus (Gênesis 12:1-3). Essa terra seria Canaã, onde Abraão viveu
como estrangeiro pelo resto da vida.

Abraão teve um neto chamado Jacó, que teve seu nome mudado por Deus para
Israel, que significa “ele luta com Deus”. Israel teve 12 filhos que deram origem às 12
tribos de Israel. Muito tempo depois, a terra de Canaã também teve seu nome mudado
para Israel.

A família de Jacó passou 400 anos no Egipto e se tornou um grande povo, apesar
de ser escravizado. Pela mão de Moisés, Deus tirou os israelitas do Egipto e os levou
através do deserto para a terra prometida. Nesse tempo, Deus deu sua Lei aos israelitas,
ensinando-os a viver de maneira diferente de outros povos.

40 anos depois, liderados por Josué, eles conquistaram Canaã e se


estabeleceram no território. Vários outros povos moravam no território de Israel e
houve muito conflito. Mas, após alguns séculos, os israelitas se tornaram o povo
dominante da região. Nessa época, os israelitas estavam muito divididos entre tribos e
nem sempre tinham um líder para os unir.

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1.2. HISTÓRIA DO POVO DE ISRAEL

De Abraão até Destruição do segundo templo

ANTES DE CRISTO

c. Séc. XVII
Abraão, Isaac e Jacó, os patriarcas do povo judeu, se estabelecem
na Terra de Israel. A fome força os israelitas a emigrar para o Egito.

c.Séc. XIII Moisés lidera os israelitas na saída do Egito, seguido por 40 anos
de peregrinação no deserto; a Torá, incluindo os dez
mandamentos, é recebida no Monte Sinai
c.Séc. XIII a XII Os israelitas se estabelecem na Terra de Israel
c.1020 A monarquia judaica é estabelecida; Saul é o primeiro rei
c.1000 Jerusalém torna-se a capital do reino de Davi
Primeiro templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, é
c.960
construído em Jerusalém pelo rei Salomão
c. 930 Reino dividido: Judá e Israel
722-720 Israel é destruído pelos assírios; 10 tribos exiladas (Dez Tribos
Perdidas)
587 Judá é conquistado pela Babilônia
Jerusalém e o Primeiro Templo são destruídos; a maioria dos
judeus é exilada.

PERIODO DE SEGUNDO TEMPLO


538-142 Períodos persa e helenístico
538-515 Muitos judeus retornam da Babilônia; Templo é reconstruído
332 A Terra é conquistada por Alexandre, o Grande; domínio
helenístico
166-160 Revolta dos Macabeus (Asmoneus) contra as restrições à prática
do judaísmo e profanação do Templo

142-129 Autonomia judaica sob a liderança dos Asmoneus

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129-63 Independência judaica sob a monarquia dos Asmoneus


63 Jerusalém capturada pelo general romano Pompeu

63 AC a 70
DC Domínio romano
63-4 AC Herodes, rei vassalo romano, governa a Terra de Israel
Templo de Jerusalém é reformado

(DEPOIS DE CRISTO)
c. 20 a 33 Ministério de Jesus de Nazaré
66 Revolta judaica contra os romanos
70 Destruição de Jerusalém e do Segundo Templo

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1.3. OS PRIMEIROS REIS

A época dos juízes e da vida tribal representou um grande passo nas relações
comunitárias e na vivencia do projeto igualitário da Javé. As tribos não tinham uma
centralização política, a economia era de subsistência e partilhada, não havia tributação,
trabalhos forçados e nem escravidão. Não havia exército permanente e o culto a Javé
era descentralizado baseado na experiência do êxodo e da aliança. Mas com a
corrupção dos juízes e dos sacerdotes (1Sm 1-3) e os ataques dos reis das nações
vizinhas, principalmente os filisteus, que queriam aumentar o seu domínio, sua
economia, controlar as rotas comerciais, acabar com o culto a Javé e promover a
escravidão, fez-se com que as tribos de Israel desejassem uma nova forma de vida, a
monarquia.

O primeiro rei foi Saul.

Há três relatos sobre sua eleição (1Sm 10,1 – conta que Samuel ungiu Saul; 1Sm 10,
20-25 – conta que foi escolhido por sorteio; 1Sm 11, 12-15 – conta que foi proclamado
rei pelas tribos no santuário de Guilgal). Saul foi ungido como chefe militar,
representado os donos de bois (latifundiários). Ele não tinha uma máquina
administrativa. A estrutura do seu reinado limitava-se a:

Mas Saul não foi fiel ao projeto das tribos e não inovou. Ele tomou para si a
condição de sacerdote (1Sm 13, 7b-14), não cumpre o projeto de Javé (1Sm 15), passa a
ter momentos de crise (depressão aguda) e fixa sua atenção sobre seu rival Davi (1Sm
16,14-23), mata os sacerdotes de Nob (1Sm 22, 6-23), consulta os mortos (1Sm 28) e
comete a insanidade do suicídio quando está no campo de batalha lutando contra o
inimigo (1Sm 31). No lugar de Saul fica seu filho Isbaal ou Isboset. Ele assume a realeza
(2Sm 2,8-11) mas não tem consistência e forças que lhe apóie. Desse modo, entra em
cena o figura de David.

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O segundo rei propriamente dito foi David.

O livro de 1Samuel 16 até 2Samuel 6, mostra a “história da ascensão de David”


e 2Samuel 7 até 1Reis 2 mostra a “história da sucessão de David” quando Salomão
assume o poder, cujo reinado está escrito em 1Reis de 3 a11.

Na vida de David podemos distinguir duas fazes: na primeira ele foi um líder
popular, solidários com os excluídos, músico e escudeiro de Saul, chefe militar do
exército do rei e casado com Micol (1Sm 18, 20.28) filha do rei; na segunda faze, lutou
pelo poder, consolidado seu reinado primeiro em Hebron, depois em Jerusalém. Davi
foi ungido por Samuel e o espírito de Deus estava com ele (1Sm 16, 1-13). Quando os
filisteus ameaçaram a Israel, Davi mata Golias (1Sm 17, 1-18,5). Saul com ciúmes tentou
matá-los muitas vezes e gastou muito tempo com essa investida fracassada (1Sm 18,7 e
21,12. [18,6 até 30,31];31).

Davi tornou-se líder de um grupo de camponeses empobrecidos e endividados


(1Sm 22, 1-5) e das grandes famílias de Judá (1Sm 25). Colocou-se a serviço de Aquis, rei
da cidade filistéia de Gat, de quem recebeu a cidade de Siceleg (1Sm 17, 1-7) de onde
saia para fazer saques na região (1Sm 27, 8-12). Assim David foi conquistando o povo e
os anciãos de Judá. Em Hebron, cidade que fica a 37 Km de Jerusalém, David foi ungido
rei pelos homens de Judá (2Sm 2, 1-4) e reinou durante 7 anos e meios (2Sm 5, 5).

Depois do assassinato de Isbaal filho de Saul (2Sm 4, 2-8; 16, 8-10) as


comunidades do norte também fazem aliança e aceitam David como seu rei (2Sm 5, 5-
12). Isto porque, antes, ele conquistou Jerusalém, que era a cidade dos jebusitas e
estava num território neutro em relação ao sul e ao norte.

David consolidou seu reino e poder trazendo a Arca da Aliança para Jerusalém.
Ela era sinal da presença de Deus no meio do povo. É como se ele manipulas se a religião
ao seu favor (Cf. 1Sm 16, 13. 18; 17,37; 18, 14.28 2Sm 5, 10; 7,3; 2Sm 6) esses textos nos
mostram como Deus legítima a Davi e a cidade de Jerusalém como eleita por Javé. O
mesmo se dá no tempo de Salomão.

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Davi é considerado um grande rei, porque não exigia das tribos de Judá soldados
para o serviço militar, pois boa parte deles eram estrangeiros e mercenários. Não cobrou
tributo dos judaítas porque os estrangeiros que ele dominava os abastecia. Ele
favoreceu mas a Judá do que ao Norte e por fim ele conteve os filisteus. Morreu sendo
aclamado como um grande rei e passou para a história como o modelo do rei justo,
mesmo que isso custasse para o povo nortista o silencio de sua tradição.

O Rei Salomão e a divisão das tribos

No fim do mandato de David havia nas intrigas palacianas dois projetos para o
reino: Adonias e Salomão. Pois, o sucessor de David deveria ser o filho mais velho. No
entanto, Amnon, seu primogênito havia sido morto por Absalão (2Sm 13, 23-29). O
terceiro filho, Absalão, foi morto pelo exército de David (2Sm 18, 9-18). Adonias que era
o quarto filho estava vivo. David tinha ainda mais cinco filhos de outros casamentos
(2Sm 3, 4-5; 5, 14-15), contudo Adonias era o legitimo herdeiro do trono. Porém
ganharia o trono quem tivesse mais apoio na corte e nisso Salomão foi vitorioso.

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1.4. OS REINOS DE ISRAEL

O reino dividido na Bíblia refere-se ao período em que a nação israelita foi


dividida em dois reinos: o Reino do Norte e o Reino do Sul. A partir dessa divisão, o Reino
do Norte é referido na Bíblia como Israel, enquanto o Reino do Sul, como Judá.
A história do reino dividido dos israelitas está registrada principalmente em 1
Reis e 2 Reis (1 Reis 12:1 – 2 Reis 17:41). Mas há também os textos paralelos nos livros
de Crônicas; além dos relatos presentes na literatura profética.
O reino dividido surgiu após a morte do rei Salomão. Em 930 a.C., Roboão, filho
de Salomão, ascendeu ao trono de Israel. A nação de Israel unificada era formada por
doze tribos.
Mas naquele tempo havia um descontentamento muito grande entre os
israelitas, especialmente daqueles que pertenciam às tribos do norte. Salomão havia
sobrecarregado o povo com excessivas cargas de impostos.
Porém, quando Roboão assumiu o trono, ele se recusou a atender as
reclamações dos cidadãos que eram totalmente justificáveis naquele contexto. Ao invés
de ouvir a reivindicação do povo, o rei Roboão preferiu dar ouvidos aos seus jovens
conselheiros.
Inicialmente Roboão até uniu um exército para tomar o controle do até então
recém formado Reino do Norte. Mas Deus proibiu a ação militar das tribos do sul
dizendo que eles não podiam lutar contra seus próprios irmãos. Além disso, o Senhor
ainda avisou que aquela divisão estava sob o Seu total controle e tudo estava
acontecendo conforme a Sua soberana vontade (1 Reis 12:24).

1.4.1. O Reino do Norte (Israel)

As dez tribos do norte se unirão a Jeroboão e fizeram dele seu rei, dando início
ao Reino do Norte que frequentemente é chamado de Reino de Israel. Durante o reino
dividido a primeira capital do Reino do Norte foi a cidade de Tirza, mas depois passou a

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ser Samaria. Foi justamente nesse período que tiveram início a tensão que com o tempo
se tornou numa grande rivalidade entre judeus e samaritanos.
Ao longo de sua breve história, o Reino do Norte teve nove dinastias, totalizando
dezenove reis. No geral os reis do Reino do Norte fizeram muitas coisas que
desagradaram ao Senhor. Inclusive, muitos desses reis chegaram ao trono por meios
violentos e perversos.
Politicamente o Reino do Norte foi marcado por muita conspiração, e
religiosamente foi marcado por muita idolatria. O próprio Jeroboão, o primeiro rei do
Reino do Norte, tão logo já esteve envolvido em idolatria e chegou a criar centros de
adoração ilícitos em seu território. Apesar de a divisão política ter sido legítima, a divisão
religiosa era errada. Os israelitas deveriam ter continuado adorando no Templo em
Jerusalém.
Talvez o auge da idolatria no Reino do Norte aconteceu durante o reinado do rei
Acabe que foi profundamente influenciado por Jezabel. Nesse período Deus levantou
o profeta Elias e o profeta Eliseu para denunciar a idolatria em Israel.
A corrupção política, social e religiosa do Reino do Norte também são claramente
percebidas na profecia do profeta Amós. Outro profeta levantado por Deus para
profetizar ao Reino do Norte foi Oseias. Inclusive, através das próprias experiências
pessoais do profeta Oseias com sua esposa adúltera, Deus exemplificou o adultério
religioso do Reino do Norte.

1.4.2. O Reino do Sul (Judá)

A capital do Reino do Sul continuou sendo Jerusalém. Diferentemente dos reis


do reino de Israel que vinham de diferentes dinastias, os reis do reino de Judá eram
todos descendentes da casa de Davi. A única exceção foi o período de pouco mais de
seis anos em que Atalia usurpou o trono de Judá após Acazias, seu filho, ter sido
assassinado.
De modo geral o Reino do Sul teve reis que foram mais comprometidos com a
vontade do Senhor. A adoração continuou centralizada no Templo em Jerusalém,
conforme havia sido nos dias de Davi e Salomão. Mas ainda assim o reino de Judá
também teve problemas com a idolatria. Então por várias vezes o impenitente Reino do

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Sul foi avisado pelo Senhor através dos profetas acerca do juízo iminente que seria
derramado por causa do pecado.
Joel, Isaías, Miqueias, Sofonias, Jeremias e Habacuque foram os profetas do
Reino do Sul antes de sua queda. Durante o tempo do exílio, Deus também levantou os
profetas Daniel e Ezequiel, e após o exílio, Ageu, Zacarias e Malaquias.

O fim do Reino do Norte e do Reino do Sul

O reino dividido em dois estados independentes durou por pouco tempo. O


Reino do Norte durou apenas dois séculos e acabou caindo sob o domínio assírio. Em
721 a.C. Samaria foi invadida pelo exército assírio e a população israelita foi exilada.
Já a autonomia do Reino do Sul também não durou muito mais do que isso. Cerca
de um século e meio depois da queda do Reino do Norte, o Reino do Sul caiu diante do
Império Babilônico. Em 587 a.C. o rei Nabucodonosor invadiu Jerusalém, Reino de Judá,
saqueou e destruiu o templo, e levou sua população ao exílio. Mas conforme as
promessas do Senhor, um remanescente fiel foi restaurado após o cativeiro.

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1.5. O EXÍLIO NA BABILÔNIA

Com o fim do reino do norte (Israel) em 722 e do reino do sul (Judá) em 587
chega ao fim a monarquia em Israel.

Boa parte do povo se encontra no exílio, onde, sem templo, sem rei e sem terra,
tenta se adaptar a novas formas de vida e de compromisso com seu Deus.

No exílio babilônico, floresce uma literatura que retrata certa desolação, mostra
a saudade pela terra que ficou distante, mas também tira, dessa experiência, certas
lições de vida e incentiva o povo a não desanimar. Refaz a compreensão de Deus e
reconstrói sua imagem a partir dessa experiência de vida. Há grande reflexão em torno
desses fatos trágicos e o porquê disso.

Desde a destruição de Jerusalém em 587 a. C., por Nabucodonosor, até 70 d. C.,


quando acontece nova destruição, agora pelos romanos, esse período é chamado de
“período do segundo templo”. São seis séculos de incertezas e decisivos para o “futuro
da religião e da sociedade judaica”.

“O exílio representou o trágico fim da independência nacional com a queda da


dinastia davídica no reino de Judá. O exílio não só abriu um novo capítulo na história da
formação da Bíblia, como também na história do povo judeu após a volta do exílio”
(Scardelai).

Os deportados começaram a reorganizar sua vida comunitária e particular da


forma que acharam melhor. Tentaram reviver da melhor forma a vida e as tradições da
sua terra. Dedicaram-se à agricultura e ao comércio de onde tiravam a sobrevivência.
Mesmo longe do templo, tentaram manter viva a fé em Javé, apesar de estar ameaçada
pelo sincretismo religioso.

Na realidade do exílio, surge uma instituição de grande valia: o sacerdócio. Os


sacerdotes não tendo mais preocupações com o templo dedicam-se à escrita, ampliando
o material que já existia e reinterpretam a história, segundo a visão sacerdotal. Essa
literatura foi preparada por exilados e para exilados. Os sacerdotes, portanto, exercem

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um papel importante, apesar de suas limitações, e, longe do templo, procuram unir o


povo em torno da palavra de Deus. Com isso, surge a “importância do livro”, nova
mentalidade que mudará os rumos de Israel.

1.6. A ALIANÇA

A aliança entre Javé e o povo tem duas dimensões: princípio de vida e o


Decálogo, palavra grega que significa as Dez palavras, que orienta o povo para um ideal
de sociedade

A libertação da escravidão não foi tudo, graças a ela desaparece a opressão, as


tribos que antes estavam dispersas agora constituem um só povo, a ação libertadora de
Deus lhes agrupou entre si e lhes fez experimentar que são um só povo. Se Deus os
libertou, foi em função de algo mais: para que entre em aliança, em comunhão de vida
com o Deus que os libertou, para que o sirvam.
O povo de Israel tinha experiência de alianças entre indivíduos, Clãs e entre
povos. A aliança de Deus com o seu povo não arranca de nenhuma neces sidade ou
obrigação. Se Yahvh faz aliança é por iniciativa absolutamente livre e gratuita. (Deut.7,7-
8)

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1.7. DEUS CAMINHA COM O SEU POVO

Da aliança feita com Abraão, Deus faz de Israel seu povo e estabelece com ele
uma aliança. Por isso, a história do Povo de Israel é diferente da história dos outros
povos daquele tempo. A diferença é que esses povos não descobriram o que Israel,
ajudado por Deus, percebeu: "Não estamos sós. Deus caminha connosco. Estamos na
sua mão. Existe uma relação toda especial entre Deus e nós!"

Esta descoberta da relação profunda entre Deus e seu Povo, nós a chamamos de
Revelação. Claro que o Povo não poderia descobrir isto, se o próprio Deus não tivesse
dado à luz para entender.

O Povo da Bíblia é um punhado de gente simples, que vai crescendo e se


multiplicando. Mas acontecem coisas importantes na vida dessa gente: a mudança para
o Egipto, a opressão lá, a saída sob a liderança de Moisés, a passagem pelo deserto.
Assim, o Povo aprende a lutar, a observar e a refletir sobre tudo o que acontece. Vão
descobrindo a mão de Deus em tudo isso e expressam sua fé em celebrações festivas,
em cantos e orações. Contam de pai para filho as grandes obras de Deus.

De volta à terra de Canaã, liderados pelos juízes, e, mais tarde, pelos primeiros
reis, o Povo vai se unindo mais. Começa a formar uma nação mais bem organizada, com
uma certa liderança no mundo daquele tempo. E começam a escrever já então no tempo
de Salomão, suas lutas, suas reflexões, suas orações, seus cantos. Assim, a Bíblia começa
a ser escrita.

Assim, a Bíblia é o reflexo de uma vivência do Povo com seu Deus, de Deus com
o seu Povo. Deus está na história do Povo, e, por isto, está na Bíblia. Por sua vez, a Bíblia
vai ajudar o Povo a viver. É Deus, através da Bíblia, que anima e orienta seu Povo para
continuar a lutar e viver e nunca desanimar. É por tudo isto que dizemos que a Bíblia é
palavra de Deus, Revelação de Deus.

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1.8. OS MANDAMENTOS: CAMINHO DA FELICIDADE

Depois de celebrar a Aliança com Deus, o povo acolhe os dez mandamentos, ou


seja, as dez palavras. Nestes dez mandamentos é evidente o caminho da felicidade.
Podemos encontrar este texto em Êxodo 20, 1-17 e Deuteronômio 5, 6-21. Os dez
mandamentos mostram ao povo o tipo de vida que Deus quer para os seus filhos. Deus
quer vida, vida em abundância. Este é o projecto de Deus, bem oposto ao do faraó.
Deus detesta a opressão e todas as atitudes que provocam morte. E Jesus, que veio
para realizar este projecto afirma: “Eu vim para que todos tenham vida” (cf. Jo 10, 10).
Jesus é o projecto do amor de Deus.

Os dez mandamentos são a expressão clara de uma sociedade fraterna e


igualitária, aquela sociedade fraterna e igualitária, aquela sociedade que as tribos
tentaram construir na época dos juízes. Os dez mandamentos são o caminho da
felicidade. Por isso o povo da Bíblia considera-os como um presente de Deus. O Salmo
119 manifesta este carinho que o povo tem pela Lei de Deus e pede sabedoria e força
para não se desviar. A Lei de Deus é o caminho seguro para viver a Aliança e encontrar
a verdadeira felicidade.

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1.9. OS PROFETAS

Apesar de saber a vontade de Deus estabelecido com Ele na aliança, O povo foi,
muitas vezes, infiel à Deus e à Aliança, mas são sobretudo os chefes do povo, levados
por desejos ambiciosos, desobedeceram à Lei de Deus introduzindo a idolatria, a
opressão e a injustiça. Caem no Pecado. Correm atrás de outros amores (Os. 2, 7.15-4,)

Surgem, então homens e mulheres corajosos e sábios, muito ligados a Deus e ao


povo, chamados profetas. Os profetas criticam sobretudo os reis em nome da Aliança.
Eles falam em nome de Deus e defendem o seu projecto. Eles apelam à conversão, à
mudança de vida e de sistema e advertem: se continuarem a agir assim as coisas irão de
mal a pior (cf. Am. 8, 4-8; Jn 1, 2-3; Is 62, 1).

Mas a principal missão dos profetas é manter viva a esperança no coração do


povo. Por isso, eles não se limitam a ameaçar e a fazer denúncias contra o abuso do
poder ou contra o sistema tributário que destrói a vida do povo. Em tempos difíceis, de
grande sofrimento e exploração, são eles que falam de esperança (Is 35, 1-5).

Os profetas anunciam a misericórdia e compaixão de Deus, mostram ao povo


que Deus é fonte inesgotável de amor e de justiça e consolam o povo nos momentos de
aflição (cf. Is 40, 1-11; 51, 12; Jl 2, 12-14; Jr 14, 7-9, etc).

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Os profetas lêem a história e o presente, com outros olhos, fazendo assim, uma
leitura crítica dos factos.

A acção dos profetas é a expressão mais pura e profunda da resistência e dos


anseios do povo. Por isso, o Povo da Bíblia recorda com carinho a memória viva dos seus
profetas, por exemplo: Elias, Oseias, Isaías, Jeremias, Amós, Ezequiel, João Baptista e
tantos outros. E apesar das suas infidelidades, o povo vai descobrindo a pedagogia de
Deus que como esposo fiel ama e educa a sua esposa para a felicidade.

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TEMA 2
O ANÚNCIO DA BOA NOVA

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2.1. JESUS É A BOA NOVA

«Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de
uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus
filhos adoptivos» (Gl 4, 4-5). Deus visitou o seu povo e cumpriu as promessas feitas a
Abraão e à sua descendência fê-lo para além de toda a expectativa: enviou o seu «Filho
muito-amado». Por isso, Jesus é a Boa Nova por excelência. Jesus veio para que Deus
ficasse mais perto de nós. Ele é Emanuel, Deus conosco (Mt1, 23).

Esta “boa nova” é que Deus se tornou nosso próximo, através de Cristo, que reina
no meio de nós, como demonstrou com seus milagres e curas. Deus reina no mundo
através de seu Filho, que se fez homem, e com a força do Espírito Santo”.
Jesus revela a verdadeira face de Deus, um Deus presente e cheio de misericórdia
para com o ser humano; um Deus que nos deu a vida em abundância. Enfim, o Reino de
Deus, portanto, é a vida que vence a morte, a luz da verdade, que dissipa as trevas, a
ignorância e a mentira.

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2.2. O ANÚNCIO DO REINO DE DEUS

O centro da mensagem de Jesus é o anúncio do Reino de Deus. Com ele inicia-se


um novo tempo: "Completou-se o tempo, o Reino de Deus está próximo" (Mc 1,15).
Com essas palavras Jesus nos fala que existem dois reinos: o Reino deste mundo e o
Reino de Deus. Este último cujo rei é o próprio Filho de Deus, que assumiu a condição
da natureza humana e inaugurou uma nova maneira de nos relacionarmos como filhos
do mesmo Pai, isto é, como irmãos, além de estabelecer a fraternidade universal -
"Amai-vos uns aos outros". Foi solidário com os mais fracos, viveu a partilha e foi
servidor de todos.

A missão de Jesus foi anunciar o Reino de Deus. Missão esta deixada à Igreja, “ide
pelo mundo inteiro e anunciem a boa nova para toda a humanidade” (Mc. 16,15). Em
Mateus, diz Jesus: “… vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos,
(…) ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês” (Mt. 28,19-20).

Anunciar o Reino de Deus é a missão de todo baptizado. Todo aquele, ou aquela,


que pertence a Igreja pelo batismo deve ter a tarefa de anunciar o Reino de Deus. O
Reino é uma realidade que deva ser partilhada. Comunicada. Vivida em comunidade.
Não se faz o Reino de Deus de forma isolada.

Quando se anuncia o Reino, quando se observa o que Jesus nos ensinou, forma-
se comunidade: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na
comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações” (At. 2,42). E a comunidade reflete
a realidade da partilha, “todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em
comum todas as coisas” (At. 2,44). O Reino de Deus se realiza na medida em que
aceitamos a proposta de Jesus.

Anunciar o Reino é servir. É colocar-se diante do Pai, assumindo o compromisso


com Jesus, deixando-se guiar pelo Espírito Santo e vivendo a esperança e a misericórdia
de Deus dentro da Igreja. Lembrem-se sempre, o primeiro é aquele serve. E quem serve
está disposto ir às últimas consequências para anunciar o Reino de Deus, i nclusive
doando a própria vida.

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2.3. SINAIS DO REINO DE DEUS: OS MILAGRES

Jesus, em sua vida, realizava actos de poder: dava vista aos cegos, curava os
coxos, expulsava demônios, alimentava os famintos, tal como nos mostram os
evangelhos. Tudo isso era sinal do Reino que ele anunciava. Socorrendo os
empobrecidos, em suas dificuldades, trazia o Reino para perto. “[...] Entre tantas
expectativas, Jesus anuncia um reino diferente. É Universal, para todos.

As acções de Jesus, nunca estavam desligadas daquilo que anunciava, eram o


sinal da ecfetividade do Reino junto às pessoas. Jesus acompanha suas palavras com
numerosos “milagres, prodígios e sinais” (At 2,22) que manifestam que o Reino está
presente nele (CIC§547). Jesus dizia: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: cegos
recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos
ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova” (Lc 7, 22-23).

É justamente aquilo que fazia e falava que revelava sua missão: era, de facto, o
Cristo, isto é, o Ungido enviado por Deus, para realizar no mundo o seu Reino. Os
chamados milagres, então, nunca estão fora do contexto do Reino, que é situação de
graça na vida de homens e mulheres, sobretudo na vida dos empobrecidos. Os sinais,
que despertavam a admiração dos homens e mulheres contemporâneos a Jesus,
estavam a serviço da evangelização, isto é: inserir os sujeitos históricos na dinâmica do
Reino.

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Os actos de poder realizados por Jesus, e também por seus discípulos, eram
convite à fé. Fé nesse Reino que traz vida nova e condições de dignificação da pessoa.
Jesus não precisava provar nada a ninguém, isso não fazia parte de sua missão.
Revelando o Reino, inseria as pessoas nele, convidando-as a fiarem-se no Deus que dá
esse Reino. É por isso que Jesus inverteu a lógica da multidão, quando ela pediu a ele
sinais, para que pudesse crer nele, isso logo depois de ter multiplicado os pães (cf. Jo
6,30-35). Uma fé que se sustenta apenas pelos sinais, não é uma fé autêntica. É preciso
crer naquilo que Jesus diz e faz, confiando a vida no Reino que ele anuncia. Isso porque
ele foi enviado pelo próprio Deus. Milagres, insisto, são convite à fé e não condição para
que haja a fé.

Portanto, os milagres de facto nos inspiram esperança de que Deus é connosco


e que a salvação, pelo Reino, está próxima.

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2.4. A PREGAÇÃO DE JESUS: O QUERIGMA

O conceito de querigma (mensagem, em grego) no horizonte do cristianismo se


identifica com o de Evangelho, Boa Notícia, anúncio, mensagem de salvação. Nesse
sentido é que sempre dizemos que Cristo não veio configurar um sistema de
pensamento, uma norma ética de vida ou uma grande ideia. Mas veio anunciar uma
mensagem de salvação, proclamar o Reino de Deus. A este respeito diz a Sagrada
Escritura:“Jesus começou a pregar e a dizer: ‘Convertei-vos e crede no Evangelho, porque
está próximo o Reino dos Céus’” (Mt 4,17), ou quando Ele dizia: É necessário que se
proclame a Boa-Nova a todas as nações” (Mc 13,10).

Chegou o tempo! O tempo que todos esperavam, o tempo de que falavam as


profecias, o “tempo da presença de Deus agindo” (kairós); e esse tempo era agora, já,
com Jesus agindo. Mas as autoridades, os seus contemporâneos não viram em Jesus
esse tempo, essa presença de Deus agindo (cf. Mt 16,1-4; Lc 20,1-8). Não se
arrependeram, não acreditaram na Boa Notícia (Evangelho) da qual Jesus era portador.
Só alguns poucos acreditaram em Jesus e o tinha como “um profeta” que apareceu com
poder de curar, expulsar demônios, de fazer o bem tão somente (cf. Lc 7,16s; Mc 1,27-
28s). E Jesus os conhecia e conhecia seus pensamentos (cf. Jo 2,23-25) e se admirou da
incredulidade deles (cf. Mt 8,10; Jo 6,28-30.67-69).

A pregação de Jesus era simples, mas carregada de sentido. Trazia para o povo
uma grande expectativa. Aceitar a pregação de Jesus e se converter à essa mensagem
de salvação exige viver um novo estilo de vida a partir de seus ensinamentos, tomando
Jesus como modelo. Porém, muitos de seus contemporâneos não compreenderam
assim. Para muitos ele era apenas mais um profeta que poderia pôr a vida da nação em
perigo diante dos romanos (cf. Mt 26,59-68; 27,25; Lc 23, 2s; Jo 18,12-14) e por isso
passivo de morte.

Entretanto, Jesus lançou a semente com sua pregação. Lutou contra todos os que
queriam impedir a Palavra de agir nos corações; que queriam impedir a palavra de criar
um tempo novo; o tempo de Deus passando no meio do povo.

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2.5. A MAIOR PROVA DE AMOR

Chegou até nós uma nova maneira de nos relacionarmos. Apareceu a força de
Deus para transformar todas as coisas. Acabou de se aproximar de nós o Reino de Deus
na pessoa de Jesus! E este poder real manifesta-se basicamente no cuidado e na defesa
dos pequenos e dos pobres. E esta revolução criou muitas tensões: com os doutores da
lei, com os dirigentes do governo, com os chefes do templo.

Jesus vive e prega um Deus diferente e também uma prática diferente que eles
não são capazes de aceitar. Por isso decidem mata-lo. Jesus é condenado à morte na
cruz. A morte mais escandalosa e humilhante que um judeu podia imaginar. Jesus aceita
esta morte por amor. E por essa grande prova de amor e de fidelidade, o Pai não o deixa
na morte, ressuscita-o e glorifica-o de modo muito especial (cf. Fl 2, 6-11).

A Páscoa é o memorial da ressurreição de Jesus. É a maior festa do cristianismo.


É a festa da vitória da vida (cf. 1Cor. 15, 12-20).

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2.6. AS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS

A palavra de Deus faz caminho primeiro entre os judeus, depois, passando as


fronteiras chegado até aos pagãos. Eles reúnem-se para ouvir as Escrituras, isto é, a Lei
e os Profetas (cf. Lc 24, 27), ou seja, o Antigo Testamento. A partir da ressurreição de
Jesus tudo se ilumina! Começam a ver a “novidade” que é Jesus. Vão surgindo as
primeiras comunidades. Os seus seguidores começam a fazer o que Jesus fez e partilham
entre si os seus bens e os seus dons. Pregam a palavra, cuidam dos pobres, acolhem os
peregrinos e, sobretudo, praticam a lei do amor (cf. Act 2, 42-47). A palavra faz caminho
desde Jerusalém até aos confins da terra (cf. Atc 1, 18). A Igreja (ecclesia) vai
descobrindo na vida concreta e nos acontecimentos da história, acção do Espírito Santo,
e deixa-se conduzir por Ele.

Para manter estas comunidades fiéis à proposta de Jesus, os apóstolos enviam


cartas ou epístolas. Lendo os evangelhos e as cartas compreenderemos melhor quem é
Jesus e o que Ele pretende de nós.

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2.7. A PREGAÇÃO APOSTÓLICA

Cristo Jesus, nosso Senhor, durante a sua vida terena, ensinou quem era Ele,
quem tinha sido desde sempre, qual era a vontade do Pai que vinha cumprir e qual devia
ser o comportamento do homem. Ensinava estas coisas ora em público, diante de todo
o povo, ora em particular, aos seus discípulos. Dentre estes escolheu doze para estarem
a seu lado, e que destinou para serem os principais mestres das nações.

Quando, depois da sua ressurreição, estava prestes a voltar para o Pai, ordenou aos
onze – pois um deles se havia perdido – que fossem ensinar a todos os povos, batizando-
os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Imediatamente os apóstolos (palavra que significa “enviados”) chamaram por


sorteio a Matias como duodécimo para ocupar o lugar de Judas, segundo a profecia
contida num salmo de Davi. Depois de receberem a força do Espírito Santo com o dom
de falar e de realizar milagres (Actos 2,1-4)., começaram a dar testemunho da fé em
Jesus Cristo na Judéia, onde fundaram Igrejas; partiram em seguida por todo o mundo,
proclamando a mesma doutrina e a mesma fé entre os povos. Em cada cidade por onde
passaram fundaram Igrejas, nas quais outras Igrejas que se fundaram e continuam a ser
fundadas foram buscar mudas de fé e sementes de doutrina. Por esta razão, são
também consideradas apostólicas, porque descendem das Igrejas dos apóstolos.

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TEMA 3
SANTIDADE NA FAMÍLIA

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3.1. A SANTIDADE NA FAMÍLIA

1. A santidade na família é o maior mandamento que qualquer membro da


sociedade deve viver, porque, a família é o mais sublime e profundo meio de anunciar a
Deus e evangelizar, através do bom exemplo e do testemunho de uma vida virtuosa, na
busca diária, em todos os momentos, da vivência das virtudes cristãs, do comprimento
dos mandamentos e das Bem-aventuranças. Por exemplo: a família ao viver uma
partilha de amor mútuo, respeito e carinho, faz um caminhar junto para Deus, como a
família de Nazaré, todos como filhos de Deus, através do caminho, da verdade e da vida,
que é Jesus.

2. A santidade na família é nada mais do que procurar viver como filho de Deus
e irmão de Jesus, procurando tornar a santidade como um propósito da família, em viver
sem pecado, no amor e na alegria, confiando absolutamente em Deus, como seu
Protector e Guia, mesmo na dificuldade e no sacrifício. Uma família que vive tendo como
exemplo José, Maria e Jesus, tendo sempre como alegria a obtenção da salvação eterna,
no trabalho diário de tornar outras famílias em bons cristãos, que vivem as virtudes e os
valores cristãos, com a benção de Deus como Senhor, Protetor e Criador.

3. A família, como o pilar da sociedade e o berço da educação dos filhos, é a


missão mais nobre dos pais, na sua caminhada por esse mundo, visto que é a
oportunidade que Deus lhes oferece para encher a terra, mas também, para tornar
santo e cristãos os filhos, que têm que ter Cristo, como o caminho, a verdade e a vida.
Este é para os pais cristãos, o maior dever, no mandato de Jesus, quando ordena: ide e
anunciai o evangelho, a todo mundo. Pois, o primeiro, testemunho, exemplo e anúncio
é no lar, na família, nos filhos, vivendo o matrimónio cristão, com fé, profundidade,
serenidade, seriedade, honestidade, responsabilidade e amor, para tornar a família num
verdadeiro “lar virtuoso e próspero”, onde os filhos são educados para serem pessoas
virtuosas e prósperas, tornando eles em irmãos de Cristo e filhos de Deus. Trata -se de
um trabalho exigente, nos dias de hoje, pois, a vida laboral, nem sempre deixa espaço
suficiente para os pais se dedicaram aos filhos, mas, o matrimónio no seu profundo
sentido teológico é a graça, onde Deus faz nascer os seus filhos, por isso, está sempre
presente, para ajudar, aconselhar e proteger.

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4. O esposo e a esposa são assim no seio da família, o exemplo vivo e o


testemunho permanente, do desafio de ser a imagem e semelhança de Deus, um para
com o outro e diante dos filhos, mesmo no doloroso contexto de desafios,
incompreensões mútuas, fome, desemprego ou infidelidade. É sempre o lugar de busca
para se santificar, na oração e na esperança, para manter a prosperidade espiritual do
lar, a união do matrimónio e amor dos filhos, caindo e levantado, numa busca constante
de ser fiel e leal a aliança com Deus, feito na celebração do matrimónio.

5. O matrimónio é assim a aliança com Deus, através da benção que o Sacerdote


faz ao casal, para serem esposos, para cumprirem uma ordem de Deus: multiplicai e
enchei a terra, dando assim, continuidade a obra da criação de Deus, como
cooperadores e continuadores na obra da criação divina na família e na comunidade.
Portanto, o matrimónio é a aliança com Deus, para constituição da família e criação dos
filhos de Deus, tendo como fonte de sustento o trabalho, que deve ser um meio de
santificar, de se santificar e de santificar os outros.

6. É necessário olhar o matrimónio, como uma suave cruz de Cristo e a


caminhada nele, como uma paixão alegre e libertadora que nos leva para junto de Deus,
como meio de santificar e santificar os outros, por isso, deve ter sempre a capacidade
de confiar e acreditar em Deus, suportando, aguentando, sacrificando, nos momentos
de angústia, de problemas, de desafios, de fome, pois, Deus Pai, a qualquer momento
providencia aos seus filhos o consolo e paz desejada.

7. A família, para que ela seja uma graça divina, uma benção do Criador, em
abundância e prosperidade cristã, o esposo e a esposa, devem:

1. Santificar a família (matrimónio);

2. Santificar-se na família (matrimônio);

3. Santificar os outros, através da família (matrimónio);

4. Salvação, através da família (matrimónio).

Deus para levar o homem a viver a sua plenitude, como filho, imagem e
semelhança Sua, atribuiu-lhe o poder de constituir um lar e multiplicar-se, a partir do

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matrimónio, para que o mundo tivesse um núcleo fundamental como pilar, para que
seja sempre sustentado por Deus.

3.2. SANTIFICAR A FAMÍLIA

Deus quando ordenou o homem para encher a terra e para deixar pai e mãe para criar
um lar, fez com a consciência de o homem criar uma família abençoada por Ele e que
seria o suporte da sociedade, para que o mundo vivesse, segundo as Suas ordens e a Sua
imagem e semelhança.

Por isso, a família tem de ser, antes da sua constituição, consagrada a Deus, através do
santo Sacramento do matrimónio, que é uma aliança entre Deus, os Anjos, os Santos e
os esposos, para que a família alcance a prosperidade espiritual, mental e
comportamental, através de uma vida virtuosa, na fé, na caridade, na esperança.

O matrimónio é assim, a consagração da esposa, do esposo e dos filhos à Deus. Em


outros termos é a entrega à Deus do seu lar, da sua vida familiar, dos seus filhos, do seu
ventre da fertilidade da esposa, do leito matrimonial (cama), que São Josemaria Escrivá
chama de altar da família, que deve não só ser abençoado, mas, ao longo da vida, ser
protegido.

O matrimónio é o sacramento da aliança entre Deus e os cônjuges , sendo a santa


consagração da união dos dois a Deus, para constituírem uma família, que se edifica
entre o casal e os filhos, sendo mais alargada, com a presença de outros membros da
família.

Trata-se, pois, de consagrar e oferecer o casal, o lar, a família e os filhos a Deus, para
receber a graça divina da benção e da proteção, para a caminhada neste mundo, visto
que Deus é o criador e o protector, quer no mundo espiritual quer no material. O
matrimónio é, também, uma vocação onde o casal consagra a fecundidade do lar, para
a procriação dos filhos; consagra o amor, a paz, a saúde e a prosperidade da família;
consagra os filhos, como doação de Deus, pois, são seus filhos, pela criação e pelo
sacramento do baptismo.

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Consagrar o matrimónio e a família a Deus, como uma vocação dedicada a viver a


plenitude de vida cristã, é a melhor forma de proteger espiritualmente a sua família e
os seus filhos, bem como, é a melhor forma de agradecer a Deus pela graça de realizar
o sacramento do matrimónio, constituir família e procriar os filhos.

Como dizia São Paulo, o matrimónio é o “grande sacramento”, pois, o casal, decide viver
a sua vida consagrada ao matrimónio, na união santa de castidade conjugal, na criação
dos filhos de Deus e na obrigação de alimentá-los dignamente. Grande sacramento,
porque dedica os filhos a Deus e toda a sua descendência, abrindo as mãos ao Senhor
para superabundar a graça da sua benção e da sua protecção, para sempre.

Muitas famílias, não vivem a graça das virtudes, da santidade e da abundância, porque
não consagraram o seu lar ao Criador, visto que o lar é, somente, uma continuidade da
obra da criação, quando Deus disse: ide multiplicai e enchei a terra (Gn 1, 28). É preciso
ter a noção que o lar é uma continuidade da obra da criação e da salvação, por isso, deve
ser oferecida ao Criador, como Sua obra, sendo os cônjuges, meros cooperadores na
obra de Deus, como diz São João Paulo II. As vezes os seus filhos, netos ou bisnetos,
vivem depois, desgraças, porque, não foram consagrados, entregues , oferecidos,
doados e abençoados por Deus e pela Igreja, para que as suas vidas, neste mundo,
fossem consagradas nas bem-aventuranças e no caminho, verdade e vida que é Nosso
Senhor Jesus Cristo.

Assim, consagrar o matrimónio é garantir uma vida de graça, repleta das virtudes da fé,
da caridade e da esperança, para o casal, o lar e a família, como filhos de Deus e irmãos
de Jesus, pois, se esforçam em todos os momentos simples da vida, viver a plenitude de
vida cristã, consagrando suas vidas para santificar a família, santificar-se na família e
santificar os outros (especialmente os filhos), através da família.

Santificar a família ou o matrimónio é:

1. Amar a Deus sobre todas as coisas e consagrar a Ele a família, dedicando-se


para a prosperidade da família como uma missão divina oferecida a Deus;

2. Amar e respeitar a esposa (o) e os filhos, como o seu principal trabalho,


dedicando todo o carinho, generosidade, tempo, esforço e sacrifícios;

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3. Educar os filhos nos valores e virtudes cristãs com o seu bom exemplo, o
testemunho de vida, o bom conselho, anunciando a eles, com simplicidade,
como viver segundo os mandamentos, as virtudes e as bem-aventuranças.

4. Sentir a responsabilidade integral de ocuparem-se dos filhos com carinho, no


interesse profundo dos seus corpos, das suas almas e da sua inteligência para a
benção de Deus. Procurar ser limpos e puros para os filhos vos imitarem, por
isso, nunca discutam a frente deles, tenham paciência, e quando estiverem no
quarto, procurem conversar, depois da raiva passar, e pedir perdão um ao outro
(São Josemaria Escrivá).

5. Viver a castidade do Santo Sacramento do matrimónio, amando-se, amando


os filhos e amando todos os outros, numa fidelidade e lealdade mútua, na pureza
do sentimento do amor mútuo, na pureza afectiva mútua, na pureza da vida
sexual mútua, como uma só carne e uma só alma, como diz a Bíblia: “E Adão
disse: Eis aqui agora o osso dos meus ossos e a carne da minha carne… Por isso
deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois
uma só carne” (Gn 2; 23-24).

6. Viver o matrimónio, a vida familiar diante de Deus, em todos os momentos e


em todos os lugares, como seus filhos, na oração diária em conjunto, para juntos
como casal, oferecerem os seus desafios, os seus problemas, o seu trabalho, os
seus planos e os projectos a Deus, a Jesus, a Maria, aos Anjos e aos Santos, pois,
o Criador das coisas é Deus, e o casal, somente coopera na obra de Deus para
criar e gerir a sua família.

7. Ter consciência que como esposo (a) és um cooperador de Deus na obra da


criação do mundo, continuando com a criação da família e com o trabalho de
criar coisas e realidades, como também, és um continuador da obra da salvação
de Cristo, pois, o teu lar é a primeira escola e catequese onde os teus filhos
devem aprender e viver as virtudes humanas e cristãs.

Os conflitos e divergências no lar, existirão sempre, por serem pessoas diferentes, por
isso, devem ser sempre resolvidos, mantendo uma vida matrimonial de santidade que
requer no momento de tais conflitos entre ambos, o seguinte:

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a) Pedir juntos, mesmo que difícil, a ajuda de Deus;

b) Ter paciência, esperar um pouco antes de discutir, de falar, para não magoar;

c) Procurar discutir no quarto, onde está a vossa cama, que é o vosso altar,
consagrado a Deus, para que ninguém ouça, muito menos os filhos;

d) Procurar ouvir, escutar e dialogar para encontrarem um bom entendimento,


vivendo a virtude do respeito, da honestidade, da responsabilidade, da sinceridade, da
humildade, da prudência e da justiça.

e) Pedir perdão, um ao outro, sem ressentimento, e procurar oferecer aquela


discussão a Deus, juntos, como meio para Deus perdoar os vossos pecados e purificar as
vossas almas.

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3.3. SANTIFICAR-SE NA FAMÍLIA

A família é o melhor e o primeiro meio para a pessoa se santificar, quer como pai ou
mãe, quer como filho, pois, é a primeira Igreja, onde o casal consagra a sua e a vida dos
seus filhos a Deus, num hábito diário, de oração, meditação e catequese, nas cois as mais
simples do dia.

Santificar-se na família é dedicar a sua vida para viver as virtudes, os mandamentos e as


bem-aventuranças, como bom cristão, sendo um bom pai ou uma mãe, através do
exemplo e do bom comportamento, diante da esposa (o) e dos filhos e de Deus.

Santificar-se na família é fazer as coisas simples ou cotidianas da vida como um meio


permanente de oração e dialogo com Deus. Trata-se de oferecer ao Criador as tarefas
diárias, desde o momento em que acorda, como por exemplo: tratar do asseio pessoal,
saudar os filhos, fazer o pequeno almoço, etc.

Santificar-se na família é, também, manter uma vida de oração e partilhar com o cônjuge
e os filhos, a oração e o diálogo com Deus, como Pai e Amigo, aproveitando, como
momento de catequese para com os filhos, quer nos momentos de alegria, quer nos
momentos de tristeza. A oração em família é um grande meio de salvação e de
santificação.

Santificar-se na família é viver a castidade na relação conjugal monogâmica, no respeito


e amor mútuo, como filhos de Deus, dedicando-se ao seu lar, como um meio para a
salvação de ambos e dos filhos, na vivência profunda da lealdade e fidelidade divina,
como Cristo pediu: sede perfeitos, como o vosso Pai Celeste.

Santificar-se na família é santificar e santificar-se no trabalho, como meio de participar


da obra da criação de Deus, e como meio de prover sustento, saúde, educação e
prosperidade financeira à família, para que viva com dignidade, tendo os frutos do
trabalho, uma benção e compensação de Deus, pelo trabalho justo, a Si dedicado e bem
feito, para o bem da comunidade.

Santificar-se na família é concretamente o seguinte:

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a) Viver a plenitude dos deveres matrimoniais e cumprir as promessas feitas no


dia do casamento: viver a graça do matrimónio na tristeza, na saúde, na doença e na
alegria, pois, ninguém separa o que Deus uniu;

b) Viver a fidelidade e lealdade conjugal, no amor mútuo, diante de Deus, todos


os dias;

c) Amar, compreender, respeitar e apoiar o cônjuge, em todos os momentos,


com lealdade;

d) Elaborar e executar os planos, os programas, os projectos da família, em


conjunto com a esposa (o), os filhos e Deus, para receber as graças divinas e humanas;

e) Viver a castidade do matrimónio, dedicando o sentimento matrimonial,


somente, a esposa (o) e filhos, em corpo e alma;

f) Dedicar-se ao sustento digno e próspero da família e a educação espiritual,


acadêmica e profissional dos filhos;

g) Educar os filhos na fé, na Igreja, nas virtudes, nos valores, para que vivam,
plenamente, o Evangelho, os mandamentos e as bem-aventuranças.

h) Oferecer a Deus a família, como seu propósito, como cooperador de Deus,


para que todos cresçam e vivam em graça e santidade.

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3.4. SANTIFICAR OS OUTROS ATRAVÉS DA FAMÍLIA

A família é, também, uma Igreja, como dissemos, a primeira igreja e a primeira


catequese, por isso, é da total responsabilidade dos pais e dos filhos, evangelizar todos
aqueles que nela fazem parte, para juntos caminharem para Deus.

A família é uma comunidade de pessoas, unidas na relação de parentesco e não só, mas
ela precisa de relações profundas de amizade, respeito e cordialidade, que só se
consegue devidamente, quando todos comungam uma mesma fé e mesma
religiosidade.

É responsabilidade dos pais, neste sentido, orientar a família, do ponto de vista


espiritual, para evangelizar, santificar e salvar a todos. É uma obrigação cristã, quando
se constitui família, educar os filhos para que sejam bons cristãos e se salvem, para
viverem na eternidade junto de Deus, pois este mundo é passageiro.

Assim, o casal santifica os outros na família fazendo o seguinte:

a) Orar em família, depois de acordar, à mesa no almoço e no jantar, bem como


antes de dormir, dando o bom exemplo e criando uma cultura de oração. Sem
obrigações, com muita simplicidade e sem demora;

b) Viver a plenitude das virtudes cristãs, principalmente, a honestidade,


humildade, caridade, responsabilidade, solidariedade, dando o bom testemunho de
Cristo, cumprindo, também, com os mandamentos e as bem-aventuranças, pois, os
filhos, tudo reparam e imitam;

c) Educar os filhos e outros membros da família a viverem as práticas religiosas


diárias e semanais, como a missa e outras actividades religiosas comunitárias;

d) Viver um plano de vida na família, segundo o calendário litúrgico, vivendo cada


momento do ano litúrgico, como uma partilha com Deus de todo o processo de salvação,
desde o nascimento, a morte e salvação de Jesus Cristo;

e) Partilhar com os membros da família os momentos de oração, de adoração,


de meditação e leitura da Bíblia (ter sempre uma Bíblia aberta na sala), como
oportunidade de dialogar com Deus e ensinar os filhos.

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f) Esforçar-se para que todos participem das orações, principalmente, da missa


do domingo na Igreja, juntos como família e participar de grupos e actividades da Igreja,
como complemento da actividade espiritual de casa.

g) Matricular os filhos na catequese e em escolas de inspiração católica, para que


possam adquirir um ensino segundo o evangelho e a doutrina social da Igreja e não
permitir que convivam em ambientes e com pessoas que possam influenciar
negativamente, a sua fé.

h) Criar um ambiente de paz, harmonia, religiosidade, fraternidade, como o lar


de Nazaré.

i) Ter um Sacerdote, como Director Espiritual, que aconselha e ajuda


espiritualmente a família.

Daqui que a missão da família na Igreja não é a soma das missões dos membros que a
compõem. A Exortação apostólica Familiaris consortio esclarece que «a família cristã
está chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e
original, colocando-se ao serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto
comunidade íntima de vida e de amor».

O matrimónio e a família, graças ao seu conteúdo fundamental do dom de si ao cônjuge


e aos filhos, são em si mesmos expressão primária e protótipo de todo o vínculo social.
Quando, além disso, é vivificada pelo amor de Cristo, a família converte-se em igreja
doméstica, célula básica do Reino de Cristo entre os homens, sinal participado da
comunhão e amor fecundo entre Cristo e a Igreja.

A família «como “igreja doméstica”, é a esposa de Cristo. A Igreja universal, e dentro


dela cada Igreja particular, manifesta-se mais imediatamente como esposa de Cristo na
“igreja doméstica” e no amor que se vive nela: o amor conjugal, amor paterno e
materno, amor de uma comunidade de pessoas e de gerações».

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3.5. AS VIRTUDES TEOLOGAIS

As virtudes são disposições estáveis de praticar o bem, que se aperfeiçoam com


o hábito. Elas podem ser humanas ou teologais: as virtudes humanas são adquiridas por
meio do aprendizado e da prática, ao passo que as virtudes teologias são resultado da
presença do Espírito Santo em nós, agindo sobre as nossas faculdades e suprindo as
nossas fragilidades.

Vamos hoje ver as virtudes teologias: Fé Esperança e Caridade.


Estas são teologais porque Ele próprio as concede a nós, convidando-nos a
praticá-las de modo cada vez mais perfeito.

A FÉ
A fé «é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos
disse e revelou, e que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos» (Catecismo, 1814).
Pela fé «o homem entrega-se completa e livremente a Deus» [16], e esforça-se por
conhecer e fazer a vontade de Deus (cf. Rm 1, 17) [17].

«O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como também
professá-la, dar testemunho dela e propagá-la» (Catecismo, 1816; cf. Mt 10, 32-33).

A fé teologal é muito mais segura do que a fé natural que temos nas pessoas,
por exemplo. Pelo dom da fé, cremos na Revelação divina manifestada a nós ao longo
da trajetória da criação e da humanidade: pelos Profetas, pelo Filho de Deus que é a
Palavra Eterna, pelo testemunho dos Apóstolos, pelo Magistério confiado à Igreja.

A ESPERANÇA

A esperança teologal é a virtude pela qual desejamos e esperamos solidamente


em Deus e em tudo o que Ele tem de maravilhoso para nós, seja nesta terra, seja na
eternidade que Ele coloca ao nosso alcance respeitando o nosso livre arbítrio de aceitá-
la ou recusá-la. A esperança teologal nos ajuda a enfrentar e vencer os obstáculos,
sabendo que Deus é por nós. Maria é um exemplo perfeito de esperança teologal contra
toda esperança meramente humana, pois ela manteve a plena e firme certeza de que,

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apesar dos sofrimentos, dos silêncios, da cruz e da morte, Deus jamais falharia. Ela
esperou em Deus e não se viu defraudada.

A CARIDADE OU AMOR TEOLOGAL

A caridade, como virtude teologal, não é a simples beneficência ou filantropia,


mas sim a plenitude do amor, por ser participação nossa no Amor de Deus mesmo, que,
aliás, é Amor puro. Deus é Amor e nos convida a participar de Si mesmo mediante a
virtude teologal da caridade, pela qual O amamos acima de tudo e de todos e amamos
ao próximo como a nós mesmos, dispostos inclusive a dar a vida por amor.

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PERGUNTAS DOUTRINAIS

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PERGUNTAS DOUTRINAIS

1. Quais são as virtudes teologais?

R: As virtudes teologais são: “Fé, Esperança e Caridade” (1 Cor 13, 13).

2. Por que são estas chamadas de virtudes teologais?

R: São chamadas de virtudes teologais porque têm como objecto imediato a Deus.

3: Quais são os principais mistérios da fé que um cristão é obrigado a saber?

R: Os principais mistérios que um cristão é obrigado a saber são a Unidade e


Trindade de Deus, o Qual irá dar a cada homem segundo as suas obras, e a Encarnação,
Morte e Ressurreição de Nosso Senhor.

4. O que é fé?

R: Fé é um dom sobrenatural de Deus, que nos permite crer sem duvidar em tudo
o que Deus revelou.

5. Por que deves crer em tudo o que Deus revelou?

R: Eu devo de crer em tudo o que Deus revelou porque Deus é a própria verdade,
e não nos pode enganar nem enganar-Se.

6. Quais foram as principais coisas que Deus revelou?

R: As principais coisas que Deus revelou estão expostas no Credo Apostólico.

ESPERANÇA

7. Podemos salvar-nos pela fé somente?

R: Não nos podemos salvar pela fé somente sem boas obras; temos de ter
também Esperança e Caridade.

8. O que é Esperança?

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R: Esperança é um dom sobrenatural de Deus, pelo qual nós confiamos


firmemente que Deus irá dar-nos a vida eterna e todos os meios necessários
para obtê-la, se fizermos o que Ele nos pede.

9. Por que devemos esperar em Deus?

R: Devemos esperar em Deus porque Ele é infinitamente bom, infinitamente


poderoso, e fiel às Suas promessas.

10. Podemos por nós mesmos realizar alguma boa obra para a nossa própria
salvação?

R: Não podemos por nós mesmos realizar boas obras para a nossa salvação;
necessitamos do auxílio da Graça de Deus.

11. O que é Graça?

R: Graça é um dom sobrenatural de Deus, conferido a nós gratuitamente para


a nossa santificação e salvação.

CARIDADE

12. O que é Caridade?

R: Caridade é um dom sobrenatural de Deus pelo qual nós amamos Deus sobre
todas as coisas, e ao nosso próximo como a nós mesmos por amor a Deus.

13. Por que devemos amar a Deus?

R: Nós devemos amar a Deus porque Ele é infinitamente bom em Si


mesmo e infinitamente bom para nós.

14. Como podemos demonstrar a Deus que o amamos?

Nós podemos demonstrar que amamos a Deus mantendo os seus mandamentos,


pois Cristo diz: «Se me amais, observareis os meus mandamentos» (Jo. 14:15).

15. Quais são os sete dons do Espírito Santo?

R: Os sete dons do Espírito Santo são: 1. Sabedoria. 3. Conselho. 5. Ciência.


2. Entendimento. 4. Fortaleza. 6. Piedade. 7. Temor de Deus (Is. 11:23).

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16. Quais são os doze frutos do Espírito Santo?

R: Os doze frutos do Espírito Santo são: 1. Caridade. 2. Alegria. 3. Paz. 4. Paciência.


5. Benignidade. 6. Bondade. 7. Longanimidade. 8. Mansidão. 9. Fé. 10. Modéstia. 11.
Continência. 12. Castidade. (Gl. 5:22).

17. Quais são os dois grandes preceitos da Caridade?

R: Os dois grandes preceitos de Caridade são:

1) «Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de
todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças».

2) «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mc. 12:30-31).

321. Quais são as sete obras corporais de misericórdia? As sete obras


corporais de misericórdia são:

1) Dar de comer a quem tem fome. 5) Visitar os enfermos.

2) Dar de beber ao que tem sede. 6) Visitar os prisioneiros.

3) Vestir os nus. 7) Enterrar os mortos. (Mt. 25; Tb.


12).
4) Alojar os peregrinos.

18. Quais são as sete obras espirituais de misericórdia?

R: As sete obras espirituais de misericórdia são:

1. Converter o pecador. 5. Suportar os erros do próximo com


paciência.
2. Instruir o ignorante.
6. Perdoar as ofensas.
3. Dar bom conselho
7. Rezar pelos vivos e pelos mortos
4. Consolar os aflitos

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19 . Quem é Jesus Cristo?

R: Jesus Cristo é Deus Filho, que se fez homem por nós.

20. É Jesus Cristo verdadeiramente Deus?

R: Jesus Cristo é Deus verdadeiro.

21. Por que Jesus Cristo é Deus verdadeiro?

R: Jesus Cristo é Deus verdadeiro porque tem uma e a mesma natureza


de Deus Pai.

22. Foi Jesus Cristo sempre Deus?

R: Jesus Cristo foi sempre Deus, nascido do Pai por toda a eternidade.

23. Qual das Pessoas da Santíssima Trindade é Jesus Cristo?

R: Jesus Cristo é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

24. Jesus Cristo é verdadeiramente homem?

R: Jesus Cristo é verdadeiro homem.

25. Por que Jesus Cristo é verdadeiro homem?

R: Jesus Cristo é verdadeiro homem porque Ele possui a natureza humana,


composta de corpo e alma tal como a nossa.

26. Jesus Cristo foi sempre homem?

R: Jesus Cristo não foi sempre homem. Ele passou a ser homem apenas depois da
Sua Encarnação.

27 . O que entendes por Encarnação?

R: Por Encarnação quero dizer que Deus Filho tomou para Si a natureza
humana: «o Verbo se fez carne» (Jo 1, 14).

28. Quantas naturezas há em Jesus Cristo?

R: Há duas naturezas em Jesus Cristo: a natureza divina e a natureza humana.


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29. Há em Jesus Cristo uma só Pessoa?

R: Há apenas uma pessoa em Jesus Cristo, que é a Pessoa de Deus Filho.

30. Por que Deus Filho se fez homem?

R: Deus Filho se fez homem para redimir-nos do pecado e do Inferno, e para


ensinar-nos o caminho para o Céu.

31. O que significa o santo nome «Jesus»?

R: O santo nome de JESUS significa salvador (Mt 1, 21).

32. O que significa o nome de Cristo?

R: O nome CRISTO significa ungido.

33. Onde está Jesus Cristo?

R: Como Deus, Jesus está em todo o lado. Como Deus feito homem, Ele está no
céu, e no Santíssimo Sacramento do Altar.

34. Jesus Cristo teve algum pai na terra?

R: Jesus Cristo não teve pai na terra: São José foi apenas o Seu Protector e
pai adoptivo.

35. Onde nasceu o nosso Salvador?

R: O nosso Salvador nasceu numa manjedoura em Belém.

36. Em que dia nasceu o nosso Salvador?

R: O nosso Salvador nasceu no dia de Natal.

37. Quais foram os principais sofrimentos de Cristo?

R: Os principais sofrimentos de Cristo foram: em primeiro lugar, a Sua agonia e a


Sua transpiração de sangue no Horto das Oliveiras; em segundo lugar, a Sua flagelação
na coluna e a Sua coroação de espinhos; e em terceiro lugar, o Seu carregamento da
Cruz, a Sua Crucificação e a Sua morte entre dois ladrões.

38. Como se chamam os principais sofrimentos de Nosso Senhor?

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R: Os principais sofrimentos de Nosso Senhor são chamados de Paixão de Jesus


Cristo.

39. Por que o Nosso Senhor sofreu?

R: O Nosso Senhor sofreu para redimir os nossos pecados, e adquirir-nos a vida


eterna.

40. Por que Jesus Cristo é chamado de nosso Redentor?

R: Jesus Cristo é chamado de nosso Redentor porque o Seu preciosíssimo sangue


é o preço pelo qual fomos redimidos.

41. Em que dia morreu o nosso Salvador?

R: O nosso Salvador morreu na Sexta-feira Santa.

42. Onde morreu o nosso Salvador?

R: O nosso Salvador morreu no Monte Calvário.

43. Por que nós fazemos o Sinal da Cruz?

R: Fazemos o Sinal da Cruz — em primeiro lugar, para lembrarmo-nos da


Santíssima Trindade; e em segundo lugar, para lembrarmo-nos que Deus Filho morreu
por nós na Cruz.

44. De que forma nos lembramos da Santíssima Trindade ao fazermos o


Sinal da Cruz?

R: Ao fazermos o Sinal da Cruz nós nos lembramos da Santíssima Trindade pelas


palavras «Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo».

45. De que forma nos lembramos que Cristo morreu por nós na Cruz ao fazermos
o Sinal da Cruz?

R: Ao fazermos o Sinal da Cruz nós nos lembramos que por nós Cristo morreu na
cruz pela própria forma da cruz que fazemos em nós mesmos.

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46. O que queres dizer com: «Ao terceiro dia ressuscitou de entre os
mortos»?

R: Pelas palavras «Ao terceiro dia ressuscitou de entre os mortos» quero dizer que,
depois de estar morto e sepultado por três dias, Ele ressuscitou à vida o Seu Santo Corpo
ao terceiro dia.

47. Em que dia Cristo ressuscitou dos mortos?

R: Cristo ressuscitou dos mortos no Domingo de Páscoa.

48. O que queres dizer por « Cristo Subiu aos céus»?

R: Pelas palavras « Jesus Subiu aos céus» quero dizer que o nosso Salvador
ascendeu em corpo e alma ao Céu no dia da Ascensão, quarenta dias após a Sua
Ressurreição.

49. O que queres dizer por «Cristo está sentado à mão direita de Deus
Pai Todo-poderoso»?

R: Pelas palavras «Jesus está sentado à mão direita de Deus Pai Todo-poderoso, »
não quero dizer que Deus Pai tem mãos, pois Ele é um espírito; o que quero dizer é que
Cristo, como Deus, é igual ao Pai; e como homem está no lugar mais alto do Céu.

50. Quando Cristo irá retornar?

R: Cristo virá novamente do Céu no último dia, para julgar toda a humanidade.

51. Quais são as coisas que Cristo irá julgar?

R: Cristo irá julgar os nossos pensamentos, palavras, obras e omissões.

52. O que Cristo irá dizer aos maus?

R: Cristo dirá aos maus: «Apartai-vos de mim malditos, para o fogo eterno, que
está aparelhado para o diabo, e para os seus Anjos» (Mt 25, 41).

53. O que Cristo irá dizer aos justos?

R: Cristo dirá aos justos: «Vinde benditos de meu Pai, possui o Reino que vos está
preparado» (Mt 25, 34).

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54. Serão todos julgados após a morte, assim como no último dia?

R: Todos irão ser julgados após a morte, assim como no último dia: «Está decretado
aos homens, que morram uma só vez, e que depois disto se siga o juízo» (Heb 9, 27).

SACRAMENTOS

55. O que é um sacramento?

R: Um sacramento é um sinal externo de uma graça interna, ordenado por Jesus


Cristo, pelo qual é conferida graça às nossas almas.

56. O sacramento sempre confere graça?

R: O sacramento sempre confere graça àqueles que o recebem dignamente.

57. O poder dos sacramentos de conferir graça provém de quê?

R: O poder dos sacramentos de conferir graça provém dos méritos do


Preciosíssimo Sangue de Cristo que é aplicado às almas pelos sacramentos.

58. Devemos nós ter um grande desejo de receber os Sacramentos?

R: Devemos ter um grande desejo de receber os sacramentos, porque são os


principais meios de salvação.

59. Todos os sacramentos imprimem um carácter na alma?

R: Os sacramentos que imprimem um carácter na alma são: Baptismo,


Confirmação, e Santas Ordens.

60. O que é um carácter?

R: Um carácter é uma marca ou selo na alma que não pode ser apagado, e
portanto o sacramento que o confere não pode ser repetido.

61. Quantos sacramentos há?

R: Há sete sacramentos: Baptismo, Confirmação, Santa Eucaristia, Penitência,


Extrema-Unção, Santas Ordens e Matrimónio.

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BAPTISMO

62. O que é o Baptismo?

R: O Baptismo é um sacramento que purifica-nos do pecado original, torna-nos


cristãos, filhos de Deus, e membros da Igreja.

63. O Baptismo também perdoa pecados actuais?

R: O Baptismo também perdoa pecados actuais juntamente com toda a punição


devida a estes, quando recebido com as disposições apropriadas por aqueles que são
culpados de pecado actual.

64. Quem é o ministro ordinário do Baptismo?

R: O ministro ordinário do Baptismo é um sacerdote; mas qualquer um


pode baptizar em caso de necessidade, quando não há um sacerdote para o fazer.

65. Como é administrado o Baptismo?

R: O Baptismo é administrado mediante o verter da água na cabeça da


pessoa a ser baptizada enquanto as seguintes palavras são ditas: «Eu te baptizo em
nome do Pai†, do Filho, e do Espírito Santo».

66. O que prometemos no Baptismo?

R: No Baptismo nós prometemos renunciar ao demónio e a todas as suas obras e


faustos.

67. O Baptismo é necessário para nos salvarmos?

R: O Baptismo é necessário para nos salvarmos, porque Cristo disse que «Quem
não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus» (Jo.
3:5).

SANTA EUCARISTIA

68. O que é o Sacramento da Santa Eucaristia?

R: O Sacramento da Santa Eucaristia é o verdadeiro Corpo e Sangue de Jesus Cristo


juntamente com a Sua Alma e Divindade, sob as aparências de pão e vinho.

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69. Como se transformam o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo?

R: O pão e o vinho transformam-se no Corpo e Sangue de Cristo pelo poder de


Deus, a Quem nada é impossível ou difícil.

70. Quando é que o pão e o vinho se transformam no Corpo e Sangue de


Cristo?

R: O pão e o vinho transformam-se no Corpo e Sangue de Cristo quando as


palavras de consagração, determinadas por Jesus Cristo, são pronunciadas pelo
sacerdote na Santa Missa.

71. Por que Cristo deu a Si próprio para nós na Santa Eucaristia?

R: Cristo deu a si próprio para nós na Santa Eucaristia para ser vida e alimento
às nossas almas. «Assim o que me come a mim, esse mesmo também viverá por
mim»; «O que come deste pão viverá eternamente» (Jo. 6:58, 59).

72. É Cristo recebido por inteiro sob cada uma das espécies?

R: Cristo é recebido por inteiro sob cada uma das espécies.

73. O que é necessário para se receber dignamente o Santíssimo Sacramento?

R: Para se receber o Santíssimo Sacramento dignamente é necessário estar em


estado de graça e manter os jejuns prescritos; água não quebra este jejum.

74. O que significa estar em estado de graça?

R: Estar em estado de graça significa estar livre de pecado mortal, e ser agradável
a Deus.

75. É um grande pecado receber a Santa Comunhão em pecado mortal?

R: É um grande pecado receber a Santa Comunhão em pecado mortal;


«porque todo aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a
condenação» (1 Cor. 11, 29).

76. A Santa Eucaristia é apenas um sacramento?

R: A Santa Eucaristia não é apenas um sacramento; é também um sacrifício.

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77. O que é um sacrifício?

R: Um sacrifício é a oferta de uma vítima realizada por um sacerdote a Deus


somente, em reconhecimento de ser Ele Senhor Soberano de todas as coisas.

78. Qual é o sacrifício da Nova Lei?

R: O sacrifício da Nova Lei é a Santa Missa.

79. O que é a Santa Missa?

R: A Santa Missa é o Sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, realmente


presente no altar sob as aparências de pão e vinho, oferecidos a Deus pelos
os vivos e pelos mortos.

80. São a Santa Missa e o Santo Sacrifício da Cruz um e o mesmo sacrifício?

R: A Santa Missa é o mesmo sacrifício que o da Cruz, na medida em que Cristo, que
ofereceu a Si próprio, como vítima sangrenta, na Cruz ao Seu Pai Celeste, continua a
oferecer a Si próprio de forma não-sangrenta no altar, através do ministério dos Seus
sacerdotes.

81. Com que finalidade é oferecido o sacrifício da Missa?

R: O sacrifício da Missa é oferecido com quatro finalidades: primeira, para


dar honra e glória suprema a Deus; segunda, para agradecer a Deus por todos os Seus
benefícios; terceira, para satisfazer a Deus pelos nossos pecados, e obter a graça do
arrependimento; e quarta, para obter todas as outras graças e bênçãos por intermédio
de Jesus Cristo.

82. É a Missa também um memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor?

R: A Missa é também um memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor, pois


Cristo na Sua Última Ceia disse «Fazei isto em memória de mim» (Lc. 22:19).

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PENITÊNCIA

83. O que é o Sacramento da Penitência?

R: A Penitência é um sacramento pelo qual os pecados, sejam mortais ou veniais,


que tenhamos cometido após o Baptismo são perdoados.

84. O Sacramento da Penitência aumenta a graça de Deus na alma?

R: O Sacramento da Penitência aumenta a graça de Deus na alma, para além


de perdoar os pecados; nós devemos, portanto, ir frequentemente à confissão.

85. Quando instituiu o Nosso Senhor o Sacramento da Penitência?

R: O Nosso Senhor instituiu o Sacramento da Penitência quando Ele assoprou


sobre os Apóstolos e deu-lhes o poder de perdoar os pecados, dizendo «aos que vós
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados» (Jo 20, 23).

86. De que forma o sacerdote perdoa os pecados?

R: O sacerdote perdoa os pecados pelo poder de Deus, quando ele pronuncia as


palavras de absolvição.

87. Quais são as palavras de absolvição?

R: As palavras de absolvição são: «Eu te absolvo de teus pecados, em


nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

88. Há alguma condição requerida ao penitente para que haja perdão dos
pecados?

R: Para que haja perdão três condições são requeridas ao penitente,


nomeadamente: contrição, confissão, e satisfação.

89. O que é contrição?

R: Contrição é uma profunda dor pelos nossos pecados, que sentimos por termos
ofendido a um Deus tão bom, e que é acompanhada por um firme propósito de emenda.

90. O que é um firme propósito de emenda?

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R: Um firme propósito de emenda é a resolução de evitar, pela graça de Deus, não


só o pecado, mas também as perigosas ocasiões de pecado.

91. De que modo obtemos uma profunda dor pelos nosso pecados?

R: Nós podemos obter uma profunda dor pelos nossos pecados pedindo-a
sinceramente por meio de oração, e meditando sobre considerações tais que nos
possam levar a esta dor.

92. Que considerações acerca de Deus podem levar-nos à dor pelos nossos
pecados?

R: Esta consideração acerca de Deus pode levar-nos à dor pelos nossos pecados:
que pelos nossos pecados nós ofendemos a Deus, que é infinitamente bom em Si mesmo
e infinitamente bom para nós.

93. Quais considerações acerca do nosso Salvador podem levar-nos à tristeza


pelos nossos pecados?

R: Esta consideração acerca do nosso Salvador pode levar-nos à dor pelos nossos
pecados: o nosso Senhor morreu pelos nossos pecados, e aqueles que pecam
gravemente «crucificam de novo o Filho de Deus, em si mesmos, e o expõem à
ignomínia» (Heb. 6, 6).

94. A dor pelos nossos pecados causada pela perca do Céu e merecimento do
Inferno é suficiente em para irmos à confissão?

R: É suficiente em confissão a dor pelos nosso pecados causada pela perca


do Céu e merecimento do Inferno.

95. O que é perfeita contrição?

R: Perfeita contrição é uma dor pelo pecado que surge puramente do amor
a Deus.

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96. Que valor especial tem a perfeita contrição?

R: A perfeita contrição tem este valor especial: que os nossos pecados são-nos
perdoados imediatamente, mesmo antes de nos confessarmos; mas, no entanto, se
forem mortais, estamos estritamente obrigados a confessá-los posteriormente.

97. Em que consiste a confissão?

R: A confissão consiste em acusarmo-nos dos nossos pecados a um sacerdote


aprovado pelo bispo.

98. O que dizer de uma confissão em que a pessoa esconde voluntariamente um


pecado mortal?

R: Se uma pessoa esconder voluntariamente em confissão um pecado mortal ela é


culpada de grande sacrilégio por mentir ao Espírito Santo ao fazer uma má confissão.

99. O que devemos fazer para nos prepararmos para a confissão?

R: Nós temos quatro coisas a fazer para nos prepararmos para a confissão,
nomeadamente: rezar sinceramente a Deus para fazermos uma boa confissão; examinar
diligentemente a nossa consciência; tomar tempo e cuidado em fazer um bom acto
de contrição; e resolver-se, pelo auxílio de Deus, a renunciar os nossos pecados e a
iniciar uma nova vida para o futuro.

100. Em que consiste a satisfação?

R: A satisfação consiste em cumprir a penitência dada a nós pelo


sacerdote.

101. A penitência dada pelo sacerdote sempre satisfaz por completo


pelos nossos pecados?

R: A penitência dada pelo sacerdote nem sempre satisfaz por completo pelos
nossos pecados. Nós devemos, portanto, acrescentar outras boas obras e
penitências, e tentar ganhar Indulgências.

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