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O PONTO DE PARTIDA DA

PROLEGÔMENA

Algumas considerações
Importante
• Por “ponto de partida” queremos dizer se a
Prolegômena deve começar da mesma forma
que a teologia dogmática, que começa com a
revelação “from above”, ou se ela deve
começar com o homem e a possibilidade de
receber revelação. Em outras palavras, a
Prolegômena deve ser teocêntrica ou
antropocêntrica? Ela deve vir de cima ou de
baixo?
PROLEGÔMENA REFORMADA
• Há duas abordagens diferentes sobre
Prolegômena na teologia Reformada. A
primeira é representada por Calvino e pelos
teólogos de Amsterdam. A segunda
abordagem é representada pelos teólogos da
antiga Princeton e Benjamin B. Warfield
sendo um dos seus principais representantes.
Prolegômena na Teologia de
Amsterdam
• Representantes:
• João Calvino (1509‐1554);
• Abraham Kuyper (1837‐1920);
• Herman Bavinck (1854‐1921);
• Louis Berkhof (1873‐1956);
• Cornelius Van Til (1895‐1987).
• Eles começam teologia com o reconhecimento (afirmado
ou implícito) das pressuposições da fé cristã. Eles não
tentam provar que Deus existe, para estudar sobre Deus,
porque todos que estudam sobre Deus têm que pressupor
que Ele existe. Na abordagem de Warfield ou da antiga
Princeton, eles começam mostrando as provas da
existência de Deus.
Continuação
• Os teólogos da linha de Amsterdam reconhecem o ponto de
partida da fé, e as suas pressuposições básicas são:
• que Deus é triuno e existe;
• que o Deus triuno revelou‐se na criação (que também é chamada
revelação geral), na historia da redenção que está registrada na
Escritura (que também é chamada de revelação especial), e
através de Jesus Cristo que é a Palavra Encarnada;
• que o homem foi criado por Deus à sua própria imagem ‐ santo,
justo e capaz de conhecer Deus através de sua revelação;
• que o homem caído em sua rebelião e apostasia suprime a
verdade da revelação de Deus, e é tornado capaz de conhecer
Deus corretamente somente quando o Espírito Santo restaura a
visão pela qual ele pode propriamente saber algo de Deus e
conhecê‐lo e amá‐lo e servi‐lo mediante sua revelação
Continuação
• Portanto, a primeira parte da Prolegômena à teologia
trata principalmente das questões históricas e
filosóficas, como por exemplo; “o que é ciência?”, “é
a teologia uma ciência?”, ou “qual a natu‐reza da
teologia sistemática?”, etc... todas estas perguntas
são analisadas à luz da revelação total que Deus dá de
si mesmo.
• A segunda parte da Prolegômena, ou introdução à
teologia, trata dos assuntos que são especificamente
teológicos, como por exemplo: revelação especial,
inspiração, iluminação, revelação geral, etc...
• É esta a Prolegômena sugerida neste curso.
Prolegômena na Teologia da Antiga
Princeton
• A abordagem de Prolegômena na teologia de Princeton é diferente da de
Amsterdam. A Apologética faz parte da Prolegômena, segundo B. B.
Warfield:
• “A afirmação de que a teologia é uma ciência pressupõe a afirmação de
que Deus existe, e que ele tem relação com suas criaturas. Se Deus não
existisse, não poderia haver nenhuma teologia; nem poderia haver uma
teologia se, mesmo que ele existisse, ele existiria fora da relação com
suas criaturas. Todo o corpo da Apologética filosófica está, portanto,
pressuposta na e subjaz a estrutura da teologia cientifica5”.
• A Apologética é a ciência introdutória da teologia. Ela tem a tarefa de
estabelecer (não de defender ou vindicar) a realidade e a verdade das
seguintes pressuposições:
• que Deus existe;
• que o homem tem uma natureza religiosa capaz de conhecer a Deus;
• que Deus revelou‐se ao homem.
Continuação
• Segundo Warfield, é a Apologética que lança todo o
fundamento sobre o qual a teologia é construída.
• “A função da Apologética é investigar, explicar e
estabelecer as bases sobre as quais a teologia ‐ uma ci‐
ência, ou um conhecimento sistematizado de Deus, torna‐
se possível... É necessário que ela (Apologética) tome o seu
lugar como cabeça de todos os departamentos da ciência
teológica e encontre sua tarefa no es‐tabelecimento da
validade do conhecimento de Deus que forma o sujeito‐
matéria destes departamentos, para que possamos
proceder, então, os departamentos seguintes da teologia
exegética, histórica, sistemá‐tica e prática, para explicar,
apreciar, sistematizar e propagá‐la no mundo
Continuação
• Segundo Warfield, portanto, o estudo de Deus, da
religião, revelação, cristianismo e Bíblia, constituem
os ramos da Apologética com Prolegômena. Após a
Apologética ter estabelecido estas pressuposições
como uma Prolegômena à teologia, a ciência da
teologia em si começa ‐ Teologia exegética para
explicar; Sistemática para sistematizar; Histórica para
apreciar; e a Prática para propagar. Todos os outros
departamentos da teologia estão vinculados e
dependentes da Apologética.
• A Apologética, portanto é introdutória à inteira
ciência da teologia, não à sistemática somente.
Warfield divide a Apologética em
algumas áreas
• Apologética Filosófica‐ Esta encarrega‐se do estabelecimento do ser de Deus como
espirito pessoal, com Criador, preservador e governador de todas as coisas. A ela
pertence o grande problema do teísmo, com todas as discussões envolvidas com as
teorias antiteístas.
• Apologética Psicológica ‐ Esta encarrega‐se do estabelecimento da natureza
religiosa do ho‐mem e da validade do seu senso religioso. Ela envolve igualmente a
discussão da psicologia, filosofia, e da fenomenologia da religião e, portanto, inclui
o que é chamado “religiões comparadas” ou “a historia das religiões”.
• Apologética Histórica ‐ Esta encarrega‐se de estabelecer a origem divina do
cristianismo como uma religião de revelação no sentido especial daquela palavra.
Ela discute todos os tópicos que naturalmente estão sob a legenda popular das
“evidencias do cristianismo”.
• Apologética Bibliológica ‐ Esta encarrega‐se de estabelecer a confiabilidade das
Escrituras como o documento da revelação de Deus para a redenção dos pecadores.
Ela é ligada com tópicos tais como: a origem divina das Escrituras; os métodos da
operação divina na sua origem; o lugar delas na serie dos atos redentivos de Deus e
no processo da revelação; a natureza, o modo e os efeitos da inspiração, e coisas
semelhantes.
NOÇÕES GERAIS SOBRE A EPISTEMOLOGIA CRISTÃ
O LUGAR DA RAZÃO NA TEOLOGIA
• Geralmente há duas posições extremadas sobre o
lugar da razão na Teologia cristã: alguns tem tido um
enorme temor da razão, com medo do racionalismo,
não dando qualquer lugar de importância a ela.
Quando falamos do papel da razão na elaboração
teológica, alguns ortodoxos logo pensam que estamos
de volta ao movimento filosófico dos dois últimos
séculos, chamado Racionalismo, que tanto prejuízo
trouxe à Teologia cristã. Houve um tempo quando a
razão tornou‐se a medida de todas as coi‐sas na
esfera da religião e da elaboração da Teologia,
especialmente dentro do protestantismo liberal.
Continuação
• Outros, também dentro do protestantismo, porém ortodoxo, têm
o temor de que sua fé seja identificada com a da Teologia católica.
O ensino padrão do catolicismo a respeito da razão é mais ou
menos o exposto por Osterhaven: “A razão precisa da revelação
para completá‐la, mas pelo mundo criado e por seu próprio poder
a razão pode antecipar e indicar a probabilidade das verdades
revelada”. Alguns ortodoxos, especialmente os relacionados à
Prolegômena de Amsterdam, são mais suscetíveis a esse temor.
• Não é salutar para o cristianismo dar à razão o poder que se lhe
tem dado em alguns círculos, mas colocar fé em oposição à razão é
menos salutar ainda. Fazer isso é irracionalismo, é deixar o
cristianismo sem elementos pensantes.
Continuação
• É importante reconhecermos que fazem Teologia num sentido mais
estrito aqueles que crêem na revelação divina, e somente eles. Logo,
teremos que concluir que a razão no crente não é a mesma nos
incrédulos, porque ela foi restaurada, embora ela não seja ainda como no
tempo em que Deus criou o homem. A sua razão pode ser chamada “right
reason”, porque ela pode agora, renovada pelo Espírito, pensar segundo
Deus, com base na revelação divina. Ela pode agora trabalhar
corretamente com os elementos reveladores de Deus. Pessoalmente
creio que não devemos dar, como muitos teólogos Reformados fizeram
no passado, primazia à razão sobre as outras faculdades da alma, mas
temos que concordar que a razão exerce um papel muito importante na
elaboração e na crítica dos conceitos teológicos. “A razão percebe, avalia,
apreende e entende, formula e organiza o material que é apresentado a
ela. Em tudo isto, contudo, ela reconhece‐se ser um instrumento que
Deus usa para o benefício da personalidade total”. E é isto exatamente o
que a razão deve fazer na Teologia.
O uso da Lógica
• O uso da lógica na Teologia Sistemática não significa
que a lógica esteja acima de Deus. Deus deu aos seus
a faculdade da inteligência para que eles possam usá‐
la para discernir que Deus lhes deu para que
trabalhem devidamente com a verdade. Deus nos fez
à sua própria imagem e semelhança e nós devemos
refletir aquilo que ele é. Deus é um ser inteligente e
lógico. Ele não se contradiz. Então, devemos trabalhar
com a lógica de tal forma que a doutrina ensinada por
Deus não sofra as contradições da Escritura, tão
freqüentemente alegadas por alguns teólogos que
não crêem na confiabilidade dela.
“Qual é, então, o papel da razão na
Teologia Sistemática?”
• “A razão é o instrumento pelo qual podemos julgar a
credibilidade da fé. Aquilo que é verdadeiramente
contraditório não pertence à fé. O Deus da Bíblia é um
Deus consistente. Nós nos contradizemos, mas Deus não se
contradiz. Infelizmente, a aceitação de um paradoxo é
espalhada nos círculos evangélicos e em muito do
pensamento moderno. Isto é um erro e nos conduz a
aceitarmos não‐criticamente os significados da Escritura o
que não é o que Deus deseja de nós. A Escritura adverte‐
nos enfaticamente a não aceitarmos como uma revelação
de Deus aquilo que contradiz uma revelação previa. (...) os
paradoxos dentro da fé não devem ser abarcados e cridos
pelo cristão fiel. A presença de um paradoxo adverte‐me
de que eu não possuo a verdade naquele ponto
O OBJETO E O SUJEITO DO NOSSO
CONHECIMENTO
• Segundo o entendimento de Van Til, pode ser dito
que para a mente humana conhecer verdadeiramente
qualquer fato, ela “deve primeiro pressupor a
existência de Deus e seu plano para o universo”. Não
se pode mesmo pensar na não‐existência de Deus. Se
alguém deseja conhecer alguma coisa do universo, ele
deve pressupor a existência de Deus. A existência de
Deus é a razão da existência de todas as outras coisas.
Portanto, o conhecimento das coisas deve pressupor
o conhecimento da existên‐cia de Deus. Essa é a
grande pressuposição da mente humana: Deus existe.
Sua existência não precisa ser provada.
Continuação
• Não é bem assim que os evidencialistas pensam. Estes
admitem que o homem possa ter conhecimento das
coisas deste universo, sem que necessariamente
reflitam sobre a existência de Deus. A existência de
Deus pode vir a ser objeto do estudo deles pelo uso
da razão impactada pela observação das obras da
criação. É através do conhecido, isto é, daquilo que
eles conseguem ver, que os homens podem vir a ter
conhecimento de Deus.
• Mas Deus seria, de fato, o objeto do nosso
conhecimento?
Quem é o Sujeito do Conhecimento?
• Há diferenças entre a posição do cristão e a do não‐cristão
com respeito à validade do conhecimento humano, e sobre
a concepção da razão humana:
• A ciência moderna é comumente agnóstica, enquanto que
o cristianismo é o reverso. O pensamento da ciência do
não‐cristão pensa que, porque o homem não pode
compreender alguma coisa exaustivamente em seu
conhecimento, e porque o seu conhecimento não é
exaustivo, o conhecimento não é verdadeiro. Os cristãos,
por sua vez, nunca tiveram a pretensão de que seu
conhecimento pudesse ser exaustivo. Somente Deus
compreende as coisas exaustivamente. Nosso
conhecimento é apenas parcial e, ainda que derivativo,
verdadeiro.
Continuação
• Os cristãos crêem que o homem é uma criatura de
Deus, enquanto os não‐cristãos resistem a essa idéia.
Os cristãos aceitam, mas os não‐cristãos rejeitam a
idéia de que o homem deve ser um re‐intérprete da
interpretação de Deus. Como cristãos deveríamos
crer que a mente humana, como ela existe hoje, não
somente conhece derivativamente, mas também ela
deve ser tida como eticamente depravada. Em
contraste a isto, os não‐cristãos pensam que a mente
humana é eticamente normal Além disso, aqueles que
não crêem na pecaminosidade da mente humana não
crêem também no fato de que ela foi criada

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