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3.3.

Proposições condicionais e
bicondicionais
Proposições condicionais
As proposições condicionais são proposições compostas ou complexas,
visto que se dividem em duas partes, correspondentes a duas outras
proposições: o antecedente e o consequente.

Se tenho dinheiro, então sou feliz.

ANTECEDENTE CONSEQUENTE

Na condição de «eu ter dinheiro» (antecedente),


então «sou feliz» (consequente).

Nesta relação de implicação, é impossível que o antecedente seja


verdadeiro e o consequente falso (se é «verdade que tenho dinheiro»,
então «é impossível não ser feliz»).
As proposições condicionais estabelecem condições necessárias e
suficientes entre as proposições que as integram.

Se sou lisboeta, então sou português.

Ser lisboeta é uma condição suficiente para ser português e ser


português é uma condição necessária para ser lisboeta.
Nem sempre, todavia, as proposições condicionais se apresentam, na
linguagem corrente, segundo a forma-padrão, ou forma canónica,
equivalente ao esquema «Se P (antecedente), então Q (consequente)»

Se sou lisboeta, então sou português.

equivale a

Se sou lisboeta, sou português.


Caso seja lisboeta, sou português.
Sou português, se sou lisboeta.
Sempre que sou lisboeta, sou português.
Sou lisboeta apenas se for português.
Não sou lisboeta se não for português.
Para eu ser português, basta eu ser lisboeta
Ser lisboeta é uma condição suficiente para eu ser português.
Ser português é uma condição necessária para eu ser lisboeta.
Negação de proposições condicionais

Para negar proposições condicionais, ter-se-á de mostrar que o


antecedente não é uma condição suficiente para o consequente.

Exemplo

Se és empresário, então és rico.

Negação
És empresário, mas não és rico.
Sendo a condição suficiente indicada por “se” e a condição necessária por “só
se”, usa-se a expressão “se, e só se” (ou “se, e apenas se”, “se, e somente se”)
para indicar condições que sejam, em simultâneo, suficientes e necessárias.

Proposições com a forma “P se, e só se, Q” chamam-se bicondicionais, uma


vez que cada uma das proposições que aí estão presentes implica ou tem
como consequência a outra: “Se P, então Q” e “Se Q, então P".

Sou poeta se, e só se, escrevo poemas.

Isto significa que “Se sou poeta, então escrevo poemas” e “Se escrevo
poemas, então sou poeta”, ou seja, ser poeta é uma condição necessária e
suficiente para escrever poemas, e vice-versa.
Negação de proposições bicondicionais

Para negar uma proposição bicondicional, ter-se-á de mostrar que as duas


proposições em causa não constituem condições necessárias e suficientes
uma para a outra, podendo verificar-se o que é dito numa, sem que se
verifique o que é dito na outra.

Exemplo

Sou saudável se, e só se, faço exercício físico.

Negação
Sou saudável, mas não faço exercício físico.
Ou
Faço exercício físico, mas não sou saudável.
3.4. Formas de inferência válida – lógica
proposicional
PROPOSIÇÃO

Pensamento ou conteúdo, suscetível de ser considerado


verdadeiro ou falso, expresso por uma frase declarativa.

As proposições têm valor de verdade.

Simples Complexas

São proposições em que São proposições em que


não estão presentes está presente um operador
quaisquer operadores. ou mais do que um.

Exemplos Exemplos
As casas são brancas. As casas são belas. As casas são brancas ou as casas são belas.
Gertrudes é arquiteta. Paulo é engenheiro. Gertrudes é arquiteta e Paulo é engenheiro.
Deus existe. O mundo foi criado por Deus. Se Deus existe, então o mundo foi criado por Deus.
Eu sou jogador de futebol. Eu não sou jogador de futebol.
Proposições

Simples Complexas

O seu valor de verdade


O seu valor de verdade
depende do valor de
depende do facto de elas
verdade das proposições
estarem ou não de acordo
simples e dos operadores
com a realidade.
utilizados.

Gertrudes é arquiteta. Paulo é engenheiro. Gertrudes é arquiteta e Paulo é engenheiro.

verdadeira falsa falsa

Gertrudes é arquiteta ou Paulo é engenheiro.

verdadeira
Operadores proposicionais

Trata-se de palavras ou expressões que, sendo ligadas a determinada(s)


proposição(ões), permitem formar novas proposições.

“Penso que”,
“E”, “ou”, “se…,
“acredito que”, “é
então”, etc.
possível que”, etc.

Operadores
verofuncionais
(operadores lógicos
ou conetivas
Proposição complexa função de verdade proposicionais).

Operadores que nos permitem, uma vez conhecidos os valores de verdade das
proposições simples, determinar, apenas com base nessa informação, o valor de
verdade da proposição resultante.
Variáveis Letras P: Deus existe.
proposicionais proposicionais Q: A vida tem sentido.

Exemplo Forma lógica

Deus existe e a vida tem sentido. P e Q.


Logo, Deus existe. Logo, P.

Argumento dedutivamente válido.

É possível determinar, com base nos operadores


verofuncionais, a validade dos argumentos em que as
proposições se integram.
OPERADORES VEROFUNCIONAIS

Símbolo Leitura Formas proposicionais


 não Negação
 e Conjunção
Constantes  ou Disjunção inclusiva
lógicas
 ou 
.
ou… ou Disjunção exclusiva
→ se..., então Condicional
↔ se, e só se Bicondicional
Forma lógica Exemplos
P Não P. Deus não existe.
PQ P e Q. Deus existe e a vida tem sentido.
PQ P ou Q. Deus existe ou a vida tem sentido.
PQ Ou P ou Q. Ou Deus existe ou a vida tem sentido.
P→Q Se P, então Q. Se Deus existe, então a vida tem sentido.
P↔Q P se, e só se, Q. Deus existe se, e só se, a vida tiver sentido.

Operador singular,
Aplica-se apenas a uma proposição. “não”
unário ou monádico
“e”, “ou”, “ou… ou”,
Operador binário ou
Aplica-se a duas proposições. “se..., então”, “se, e só
diádico
se”
Negação Tabela de verdade ou matriz lógica

P: Portugal é um país asiático. Tabela que apresenta as diversas condições


de verdade de uma forma proposicional
específica, permitindo determinar de modo
 P (Não P)
mecânico a sua verdade ou falsidade.
Portugal não é um país asiático.
A tabela de verdade exibe os valores de
Expressões verdade possíveis da(s) proposição(ões) e os
alternativas valores de verdade resultantes das
operações efetuadas.
Não é verdade que Portugal é um país asiático.
É falso que Portugal seja um país asiático.
É errado afirmar que Portugal é um país asiático. Tabela de verdade da
negação

A negação é uma proposição com a


P P
forma “Não P”, representando-se por
“ P”. Se P é verdadeira,  P é falsa;
V F
Coluna de referência
se P é falsa,  P é verdadeira. F V
A negação de uma negação (ou dupla Primeira parte Segunda parte
negação) – que se representa por “  P” Sendo o operador da negação o único operador
– equivale a uma afirmação. unário, só haverá duas filas na tabela.
Tabela de verdade da conjunção
Conjunção
P Q PQ
P: A vida é enigmática.
Q: A morte é enigmática. V V V
V F F
P  Q (P e Q) F V F
A vida é enigmática e a morte é F F F
enigmática.
Sendo o operador da conjunção, à semelhança dos
que estudaremos a seguir, um operador binário,
Expressões haverá na tabela quatro condições de verdade.
alternativas
A vida é enigmática e a morte também o é. A conjunção é uma proposição com a
A vida e a morte são enigmáticas. forma “P e Q”, simbolizando-se por “P 
A vida é enigmática, mas a morte é-o igualmente. Q”, a qual é verdadeira se as proposições
Quer a vida quer a morte são enigmáticas.. conectadas forem ambas verdadeiras e é
falsa desde que pelo menos uma dessas
proposições seja falsa.
P: Descartes era racionalista. Tabela de verdade da
Disjunção
Q: Locke era empirista. disjunção inclusiva
inclusiva
P Q PQ
P  Q (P ou Q) V V V
Descartes era racionalista ou V F V
Locke era empirista. F V V
F F F
A disjunção inclusiva é uma proposição com a forma “P ou Q”, simbolizando-se por “P  Q”, a qual é
sempre verdadeira, exceto quando P e Q forem simultaneamente falsas.

Tabela de verdade da
Disjunção P: Vou ao cinema. disjunção exclusiva
exclusiva Q: Fico em casa. P Q PQ
V V F
P  Q (Ou P ou Q)
V F V
Ou vou ao cinema ou fico em F V V
casa. F F F
A disjunção exclusiva é uma proposição com a forma “Ou P ou Q”, simbolizando-se por “P  Q”, a qual é
verdadeira se P e Q possuem valores lógicos distintos e falsa se P e Q possuem o mesmo valor lógico.
Observação sobre
a disjunção
exclusiva

Pode suceder que o próprio contexto nos permita saber qual a disjunção que
está a ser usada. Por exemplo, a seguinte disjunção, aparentemente inclusiva,
na realidade é exclusiva:
 
António tem cinco anos ou António tem sete anos.
 
A impossibilidade de as duas proposições serem verdadeiras em simultâneo
justifica que estejamos perante um caso de disjunção exclusiva.
Tabela de verdade da
Condicional P: A alma é imortal. condicional
(implicação Q: Deus existe.
P Q P→Q
material)
P → Q (Se P, então Q) V V V
Se a alma é imortal, então Deus V F F
existe. F V V
F F V
Expressões
Antecedente É uma condição suficiente
alternativas
(P) para o consequente.
Deus existe, se a alma é imortal.
Deus existe, caso a alma seja imortal. Consequente É uma condição necessária
Existir Deus é condição necessária para a alma ser (Q) para o antecedente.
imortal.
A condicional é uma proposição com
A alma ser imortal é condição suficiente para
a forma “Se P, então Q”,
Deus existir.
simbolizando-se por “P → Q”, a qual
Se a alma é imortal, Deus existe.
só é falsa se P – o antecedente – é
A alma não é imortal se Deus não existir.
verdadeira e Q – o consequente – é
A alma é imortal somente se Deus existir.
falsa. Em todas as restantes
 
situações, a nova proposição é
verdadeira.
Tabela de verdade da
Bicondicional P: Sou escritor. bicondicional
(equivalência Q: Publico livros.
material) P Q P↔Q
P ↔ Q (Se, e só se) V V V
Sou escritor se, e só se, publico V F F
livros. F V F
F F V

Expressões
alternativas
Sou escritor se, e somente se, publico livros. A bicondicional é uma proposição
Sou escritor se, e apenas se, publico livros. com a forma “P se, e só se, Q”,
Publicar livros é condição necessária e suficiente simbolizando-se por “P ↔ Q” a qual
para eu ser escritor. é verdadeira se ambas as proposições
Se sou escritor, publico livros e vice-versa. tiverem o mesmo valor lógico e falsa
se as proposições tiverem valores
  lógicos distintos.
Formas proposicionais e operadores verofuncionais
Proposições
Disjunção
simples
Negação Conjunção Condicional Bicondicional
inclusiva exclusiva

P Q P Q PQ PQ PQ P→Q P↔Q


V V F F V V F V V
V F F V F V V F F
F V V F F V V V F
F F V V F F F V V
Âmbito dos operadores P: Eu sonho.
Q: Eu estudo.
Operador principal
(operador de maior âmbito): Eu sonho e não estudo. PQ

Uma conjunção e uma negação que afeta a proposição Q.

Operador principal
(operador de maior âmbito): É falso afirmar que eu sonho e não estudo.  (P   Q)

Uma negação que afeta a conjunção de P e de  Q.

Âmbito de um operador: refere-se à proposição (ou proposições)


que esse operador afeta. O operador principal (de maior âmbito) é
aquele que se aplica a toda a forma proposicional.
No segundo exemplo, o operador da negação (enquanto operador principal ou operador
com maior âmbito) apresenta um âmbito diferente do do outro operador da negação.
Formalizar proposições complexas

Isolar as proposições simples


que as constituem e atribuir
Colocar as proposições na variáveis proposicionais a
forma canónica, identificando cada uma. A isto se chama Simbolizar ou formalizar a
os operadores verofuncionais “construir o dicionário” proposição complexa.
envolvidos. dessas proposições ou
proceder à sua
“interpretação”.

Exemplo: Estudar lógica é condição suficiente para eu ser bom aluno a Filosofia.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Se estudo lógica, então sou P: Estudo lógica.


P→Q
bom aluno a Filosofia. Q: Sou bom aluno a Filosofia.
Exemplo: Não sou rico se, e só se, não tenho dinheiro.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Não sou rico se, e só se, não P: Sou rico.


P↔Q
tenho dinheiro. Q: Tenho dinheiro.

Exemplo: As normas morais têm sentido, caso o dizer-se que o mal não existe e o
bem é ilusório constitua uma falsidade.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Se é falso afirmar que o mal P: O mal existe.


não existe e o bem é ilusório, Q: O bem é ilusório.
 ( P  Q) → R
então as normas morais têm R: As normas morais têm
sentido. sentido.
O método das tabelas de verdade

Expressão canónica Dicionário Formalização

Não é verdade que se está sol P: Está sol.


 (P → Q))
então está bom tempo. Q: Está bom tempo.

1. P Q  (P → Q) 2. P Q  (P → Q)
Colocar na tabela
Desenhar a tabela, os valores de V V
colocando aí as verdade das
letras proposições
V F
proposicionais e a
proposição
simples, esgotando F V
as possibilidades.
complexa. F F

3. P Q  (P → Q) 4. P Q  (P → Q)
Calcular os valores
de verdade das
V V V Calcular os valores
V V F V
proposições, V F F de verdade V F V F
excetuando os que relativos ao
são relativos ao F V V operador principal. F V F V
 
operador principal. F F V F F F V
P Q (P  Q) → ( P  Q) Determinamos primeiro os
valores de verdade de “ P”
V V V V F V V (copiamos também, para
V F F V F F F facilitar, os valores de verdade
F V F V V VV de Q). De seguida,
F F F V V V F determinamos os valores da
disjunção “ P  Q” e da
conjunção “P  Q”. Por fim,
determinamos os valores da
condicional (operador de maior
âmbito) a partir dos valores
obtidos para a conjunção e para
Devemos começar pelos operadores a disjunção.
de menor âmbito e ir avançando para
os de âmbito maior.
Para duas variáveis, são necessárias quatro filas; para
três, oito; para quatro, dezasseis, etc.

P Q R [R  (P  Q)] ↔ (R  Q)

Determinamos primeiro os valores


V V V V V V V
de verdade da conjunção “P  Q” e
V V F V V V V da disjunção “R  Q”. De seguida,
V F V V F V V determinamos os valores da
V F F F F V F disjunção “R  (P  Q)”. Por fim,
F V V V F V V determinamos os valores da
F V F F F F V bicondicional a partir dos valores
F F V V F V V obtidos para as duas disjunções.
F F F F F V F
Modus ponens: Exemplo Formalização
Algumas afirmação do
formas de antecedente na
segunda premissa Se está sol, então vou à praia. P→Q
inferência e do Está sol. P
válida consequente na Logo, vou à praia. Q
conclusão.

Modus tollens: Exemplo Formalização


negação do
consequente na Se está sol, então vou à praia. P→Q
segunda premissa Não vou à praia. Q
e do antecedente Logo, não está sol. P
na conclusão.

Exemplo Formalização

Se Deus existe, então o mundo é finito.


P→Q
Logo, se o mundo não é finito, então
Q→P
Deus não existe.
Contraposição
Exemplo Formalização
Se o mundo não é finito, então Deus
não existe. Q→P
Logo, se Deus existe, então o mundo é P→Q
finito.
Exemplo Formalização

Não é verdade que eu não penso. P


Logo, eu penso.. P
Negação
dupla Exemplo Formalização

Eu penso. P
Logo, não é verdade que eu não penso. P
3.5. Principais falácias formais (formas
de inferência inválida)
PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS (FORMAS DE INFERÊNCIA INVÁLIDA)

Exemplo Formalização

Falácia da
afirmação do Se és meu amigo, então dizes-me sempre a verdade. P→Q A→B
consequente Dizes-me sempre a verdade. Q B
Logo, és meu amigo. P A

Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se afirma o consequente na


segunda premissa, concluindo-se com a afirmação do antecedente.

Exemplo Formalização

Falácia da
negação do Se és meu amigo, então dizes-me sempre a verdade. P→Q A→B
antecedente Não és meu amigo. P A
Logo, não me dizes sempre a verdade. Q B

Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se nega o antecedente na


segunda premissa, concluindo-se com a negação do consequente.

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