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METODOS E TÉCNICAS
DE PESQUISA SOCIAL
Do
5º Edição
SÃO PAULO
EDITORA ATLAS S.A. — 1999
O 1985 by EDITORA ATLASS.A.
1. ed. 1987; 2. ed. 1989; 3. ed. 1991; 4. ed. 1994; 5. ed. 1999; 2º tiragem
ISBN 85-224-2270-2
ISBN 85-224-2270-2
93-3004 CDD-300.72
As objeções acima não são emocionais. São bastante sérias e merecem ser
estudadas à luz da Filosofia da Ciência. Por essa razão é que a melhor defesa do
caráter científico da Psicologia, Sociologia, Antropologia e outras disciplinas de-
signadas sob título de ciências sociais não está em demonstrar a falácia dessas
argumentações, mas, antes, em evidenciar que, mesmo nasciências naturais, não
se observa a rigorosa observância dos itens considerados. E também que, a des-
peito de suas dificuldades, as ciências sociais podem ser capazes de fornecer ex-
plicações segundo padrões que não se distanciam muito das ciências naturais.
Com o apoio de pesquisadores e de estudiosos da Filosofia da Ciência, po-
de-se proceder à defesa do caráter científico das ciências sociais. Em resposta a
essas objeções, podem-se considerar:
a) O determinismo absoluto das ciências naturais é hoje bastante questio-
nado. Se aceito rigorosamente, disciplinas como a Genética não poderiam ser
consideradas científicas, visto que muitas de suas explicações são de natureza
probabilística. Em função das explicações probabilísticas cada vez mais em
voga, o determinismo vem sendo rejeitado por muitos cientistas, como Heisen-
berg, Born e Bohr, que integram o chamado “grupo de Copenhagen” (Hegen-
berg, 1969, p. 174-6). Assim, a diferença entre as ciências naturais e sociais, no
tocante às suas explicações, estará somente em que as últimas são mais probabi-
lísticas que as primeiras.
b) É impossível negar que o cientista social lida com variáveis de difícil
quantificação. Também é difícil discordar da alegação de que o grande adianta-
mento de uma ciência pode ser determinado pela precisão de seus instrumentos
de medida. Contudo, o problema da quantificação em ciências sociais, se anali-
sando com a merecida profundidade, mostrar-se-á bem menoscrítico do que
aparenta.
NATUREZA DA CIÊNCIA SOCIAL 23
seria condenável. Vê-se assim que o problema da estatização pode ser enfocado
do ponto de vista teórico, quando são consideradas as suas consequências, e do
ponto de vista de ação, quando é examinada a sua conveniência.
Já os problemas técnicos são de tipo diverso. Poderiam ser caracterizados
pela pergunta: “Como construir algo segundo determinadas especificações?”
Neste caso não são envolvidosvalores, já que os problemas técnicos conduzem à
verificação do que é e não do que deve ser.
Estas considerações não devem indicar, entretanto, que as ciências sociais
devem relegar ao esquecimento todas as questões de valor. O valor precisa ser
considerado pelas ciências sociais, para que cumpra um de seus mais importan-
tes papéis, que é o de auxiliar na promoção do ser humano.
d) É verdade que o experimento em investigações sociais é bem pouco uti-
lizado, visto que, de modo geral, o cientista não possui o poder de introduzir
modificações nos fenômenos que pretende pesquisar. Cabe, no entanto, indagar
se de fato o experimento controlado é realmente indispensável para a obtenção
de resultados cientificamente aceitáveis.
Não há como deixar de admitir que a experimentação representa uma das
mais notáveis contribuições ao desenvolvimento da ciência. Isto não significa,
no entanto, que se deva superestimar o papel do experimentocontrolado.À gui-
sa de exemplo, pode-se lembrar que a Astronomia e a Geologia não devem sua
respeitabilidade à utilização de procedimentos experimentais. A Embriologia,
até há bem pouco, desenvolveu-se independentemente da experimentação. E o
que dizer da Física Relativista?
Cabe ainda lembrar que as possibilidades de experimentação nas ciências
sociais têm sido muitas vezes negligenciadas. Significativos domínios da Psicolo-
gia são suscetíveis de experimentação. Em Psicologia Social e mesmo em Sociolo-
gia já têm sido criadas situações de laboratório muito parecidas com as que exis-
tem nasciências naturais. Um exemplo podeser dado pelas pesquisas em Sociolo-
gia Industrial, em que sistemas “democráticos” e “ditatoriais” são implantados
entre grupos de operários de umafábrica. Outros exemplos ainda mais amplos
são as pesquisas sobre migrações, comportamento político e variação de índices
de natalidade, que, embora não sendorigidamente experimentais, possibilitam
razoável grau de controle das variáveis envolvidas.
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