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A Marca da Vitória

A autobiografia do criador da NIKE


Phil Knight

Phil Knight, o homem por trás da Nike, sempre foi uma figura envolta em mistério. Agora, neste livro franco e surpreendente, ele conta sua história.
Aos 24 anos, depois de se formar e viajar como mochileiro pelo mundo, Knight decidiu que não seguiria um caminho convencional. Em vez de
trabalhar para uma grande corporação, iria à luta para criar algo próprio, dinâmico e diferente.
Com 50 dólares emprestados pelo pai, ele abriu em 1963 uma empresa com uma missão simples: importar do Japão tênis de alta qualidade e
baixo custo. E mal acreditou quando conseguiu vender rapidamente todos os calçados de suas primeiras encomendas.
Mas o caminho até tornar a Nike uma das marcas mais emblemáticas, inovadoras e rentáveis do mundo não foi fácil, e Knight fala em detalhes dos
riscos que enfrentou, dos concorrentes implacáveis e de seus muitos triunfos e golpes de sorte.
Ele relembra a criação do nome e da logomarca - um dos poucos ícones reconhecidos em todos os cantos do planeta -, os primeiros modelos de
tênis e os contratos com grandes atletas. Também destaca as relações com as pessoas que formariam a alma da Nike: seu ex-treinador de
corrida, Bill Bowerman, e os primeiros funcionários, um grupo de desajustados geniais que rapidamente se tornou uma família.
Com uma visão ousada e a crença no poder transformador do esporte, juntos eles criaram uma marca e uma cultura que mudariam os parâmetros
de desempenho e superação para sempre.
Nosso caráter, nosso destino – nosso DNA “Os covardes nunca começaram, os fracos morreram pelo caminho, e nós estamos aqui”.
Gostando ou não, a vida é um jogo. Quem nega essa verdade, quem se recusa a entrar no jogo, fica esperando nas linhas laterais - e eu não
queria isso. Mais do que qualquer outra coisa, isso era algo que eu não queria para a minha vida.
Decidi que o mundo era feito de ideias malucas.
Além disso, poucas ideias são tão malucas quanto a minha atividade favorita: correr. É difícil. É doloroso. É arriscado. As recompensas são poucas
e nunca são garantidas. Quando você corre em uma pista oval ou em uma estrada vazia não tem um destino verdadeiro. Pelo menos não um que
justifique todo o esforço. O ato em si se torna o destino. Não é apenas por não haver uma linha de chegada; é porque é você quem define a linha
de chegada. Os prazeres ou ganhos que podem ser obtidos por meio do ato de correr, sejam quais forem, precisam ser encontrados dentro de si.
Tudo depende de como você encara a corrida, de como a negocia consigo mesmo.
Todo corredor sabe disso. Você corre, quilômetro após quilômetro, e nunca sabe exatamente o por que. Diz a si mesmo que está correndo em
direção a um objetivo, que persegue algum ímpeto, mas, na verdade, você corre poque a alternativa, que é parar, o faz tremer de medo.
Deixe que todos chamem a sua ideia de maluca... Apenas continue. Não pare. Nem pense em parar enquanto não chegar lá e não pense muito
sobre onde fica esse “lá”. O que quer que aconteça, não pare.
Lewis Carroll, Alice atráves do espelho – Pois aqui, como vê, você tem que correr o máximo que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser
chegar a alguma outra parte, terá que correr no mínimo duas vezes mais rápido.
Foi a primeira vez que tive consciência de que nem todas as pessoas do mundo gostarão de nós, ou nos aceitarão, e de que muitas vezes somos
deixados de lado justo quando mais precisamos sentir que fazemos parte de algo.
Kensho, ou satori – iluminação que vem em um lampejo, um estalo ofuscante.
Segundo o zen, a realidade não é linear. Não existe futuro nem passado. Só o agora.
De acordo com o zen, a vitória vem quando nos esquecemos do eu e do oponente, que não passam de duas metades de um todo. Em a arte
cavalheiresca do arquivo zen, isso está explicado com total clareza: A perfeição da arte da espada só será alcançada quando o coração do
espadachim não for mais afetado por nenhum pensamento a respeito do “eu” e do “outro”, do adversário e de sua espada, de sua própria espada e
de sua maneira de usá-la... Tudo é um vazio: você mesmo, a espada que é brandida e os braços que a manejam. Até a ideia de vazio desaparece.
Não se pode trilhar o caminho antes de se tornar o próprio caminho – Buda.
Tudo dependia de eu estar à altura da ocasião.
Analetos de Confúcio – O homem que move uma montanha começa carregando pequenas pedras.
O sol martelava minha cabeça, o mesmo sol que martelara a cabeça dos milhares de homens que construíram as pirâmides e dos milhões de
visitantes que vieram depois. Nenhum deles era lembrado, pensei comigo mesmo. Tudo é vaidade, diz a Biblia. Tudo é agora, diz o zen. Tudo é
poeira, diz o deserto.
Eleazar bem Azariah afirmou que nosso trabalho é nossa parte mais sagrada. Todos têm orgulho de seu trabalho. Deus fala de Seu trabalho; mais
deveria fazê-lo o homem.
Se nem Michelangelo gostava do trabalho dele, pensei, que esperança existe para o resto de nós.
Patton – Não diga as pessoas como fazer as coisas, diga a elas o que fazer e permita que elas o surpreendam com os seus resultados.
Então, por que vender tênis era tão diferente? Porque, percebi, não era uma venda. Eu acreditava na corrida. Acreditava que, se as pessoas
saíssem e corressem alguns quilômetros por dia, o mundo seria um lugar melhor, e acreditava que aqueles tenis eram os melhores para se fazer
isso. Notando a firmeza da minha crença, era como se as pessoas quisessem um pouco dela para si mesmas. Acreditar, decidi. Acreditar é
irresistível.
Avisei a mim mesmo que precisava deixar de lado as mágoas e os pensamentos sobre injustiça, pois eles só me fariam ficar emotivo e me
impediriam de pensar com clareza. Emoção seria fatal. Eu precisava manter a calma.
As pessoas presumem que a concorrência é sempre algo bom, que sempre traz à tona o melhor do ser humano, mas isso só serve para quem
consegue se esquecer da competição. Eu havia aprendido nas corridas que a arte de competir era a arte de esquecer e, agora, estava me
lembrando disso. Você deve e esquecer os seus limites. Deve esquecer as duvidas, a dor, o passado. Você deve esquecer aquela voz interior que
grita e implora: Não de nem mais um passo! E, quando é impossível esquece-la, você precisa negociar com ela. Pensei em todas as corridas nas
quais a minha mente queria uma coisa e o meu corpo, outra, naquelas voltas em que tive que dizer ao meu corpo “Você tem excelentes
argumentos, mas vamos continuar mesmo assim...”.
Havia muitos caminhos para descer o monte Fuji, de acordo com o meu guia, mas apenas um para subir.
A corrida nos faz ter um enorme respeito pelos números, porque você é o que seus números dizem que é, nada mais, nada menos.
A inspiração, ele aprendeu, pode chegar a partir de coisas cotidianas. Coisas que você pode comer. Ou encontrar pelos cantos da casa.
Meu estilo gerencial lhe dava liberdade. Podendo fazer o que quisesse, ele respondia com criatividade e energia ilimitadas.
A vida é crescimento. Ou você cresce, ou morre.
Confiança. Mais do que de patrimônio liquido, mais do que de liquidez, é disso que o homem precisa.
Com todo esse trabalho, como poderíamos não fazer sucesso?
Quando o esforço é total, ele conquista os corações.
Demonstração de paixão, não importa se você está correndo 1 milha ou administrando uma empresa.
Estávamos tentando criar uma marca, eu disse, mas também uma cultura. Estávamos lutando contra o conformismo, contra o tédio, contra o
trabalho penoso. Mais do que um produto, estávamos tentando vender uma ideia – um espirito.
Alguém pode me vender – mas terá que sangrar para faze-lo.
Alguém pode me vencer, eu disse a mim mesmo, algum banqueiro, credor ou concorrente pode me parar, mas por Deus, eles vão ter que sangrar
para faze-lo.
Queria que as pessoas trabalhando para mim sentissem a mesma chama, aquela mesma sensação de rejeição, como um soco no estomago.
Não há linha de chegada – Vencer a competição é relativamente fácil. Vencer a si mesmo é um compromisso sem fim.
Mas, em vez de me regozijar por ver quão longe tínhamos chegado, eu só enxergava a distância que ainda precisávamos percorrer.
Naquele momento, eu não entendia o que estava acontecendo. Agora entendo. Os anos de estresse estavam cobrando a conta. Quando você só
enxerga problemas, é porque não está vendo claramente. Bem no momento em que eu precisava de todo o meu equilíbrio e sensatez, um
esgotamento atrapalhava tudo.
Um alto executivo da Foot Locker – Nós pensamos em vocês como deuses – até vermos os seus carros.
Havíamos aprendido uma lição valiosa: não colocar 12 inovações em um só calçado.
Soube, naquele instante, que teria que ir para Washington, DC, e assumir a minha luta. Não havia outro jeito. E talvez isso curasse o meu
esgotamento nervoso. Talvez a cura para qualquer esgotamento, pensei, estivesse em trabalhar mais. (Grandes problemas, você resolve
pessoalmente).
Parece-me errado chamar tudo isso de "negócios". Parece errado rotular aqueles dias agitados, as noites sem dormir, todos aqueles triunfos
magnifi-cos e as lutas desesperadas dessa forma branda e genérica: negócios. O que estávamos fazendo era muito maior do que isso. Cada novo
dia nos trazia 50 novos problemas, 50 decisões difíceis, que precisavam ser tomadas na hora, e sempre tínhamos a aguda consciência de que um
movimento ruim, uma decisão errada, poderia ser o fim. A margem de erro ia ficando cada vez mais apertada, enquanto as apostas estavam
sempre aumentando - e nenhum de nós vacilava na crença de que "apostas" não significavam "dinheiro".
Para alguns, os negócios se resumem à busca por lucro e ponto final, mas, para nós, os negócios serviam para ganhar dinheiro tanto quanto o ser
humano serve para produzir sangue. Sim, o corpo humano precisa de sangue. Ele precisa fabricar plaquetas e glóbulos brancos e vermelhos,
além de distribuí-los de maneira uniforme às áreas adequadas, na hora certa, sem cessar. Só que essa tarefa diária do corpo não é a nossa
missão como seres humanos. E apenas um processo básico que nos permite alcançar objetivos mais elevados. A vida sempre se esforça para
transcender os processos básicos do viver - e, em algum momento no final de 1970, eu fiz o mesmo.
Redefini o que era vencer, expandi esse conceito para muito além da minha definição original de não perder, de simplesmente permanecer vivo.
Isso não era mais suficiente para mim ou para minha empresa. Queriamos, como todas as grandes empresas, ser capazes de criar, de contribuir, e
ousamos dizer isso em voz alta.
Quando você faz alguma coisa, quando melhora alguma coisa, quando entrega algo, quando acrescenta um produto ou serviço novo à vida de es-
tranhos, tornando-os mais felizes, ou mais saudáveis, ou mais seguros, ou melhores, e quando você faz tudo isso de maneira eficiente, inteligente,
da forma como deve ser feito, mas tão raramente o é, você está participando mais completamente de todo o grande teatro humano. Mais do que
simplesmente vivo, você está ajudando outras pessoas a viverem de forma mais plena, e, se isso é um negócio, tudo bem, pode me chamar de
homem de negócios.
Talvez eu me acostume.
Vender – isso era o que eu vinha fazendo na maior parte dos últimos 18 anos, e estava cansado. Não queria mais vender. Cada ação nossa valia
22 dólares. Esse era o número. (valorizar-se).
Na próxima semana, Bowerman valeria 9 milhões de dólares.
Cale, 6,6 milhões de dólares.
Woodell, Johnson, Hayes, Strasser, cerca de 6 milhões de dólares cada.
Números de fantasia. Números que não significavam nada. Eu nunca imaginei que números poderiam significar tanto e tão pouco ao mesmo
tempo.
- Vamos dormir? - disse Penny.
Fiz que sim com a cabeça.
Andei pela casa, desliguei as luzes, verifiquei todas as portas. Então, juntei-me a ela. Durante muito tempo, ficamos deitados no escuro. Ainda não
havia acabado. Faltava muito. A primeira parte, disse a mim mesmo, já tinha passado. Mas fora apenas a primeira parte.
Perguntei-me: o que você está sentindo?
Não era alegria. Não era alívio. Se sentisse alguma coisa, seria... pesar?
Meu Deus, pensei. Sim. Pesar.
Porque eu queria, sinceramente, poder fazer tudo de novo.
Dormi por algumas horas. Quando acordei, o tempo estava frio e chuvoso. Fui até a janela. A água escorria pelas árvores. Tudo era névoa e
nuvens. O mundo estava igual ao dia anterior, como sempre fora. Nada havia mudado, muito menos eu. Entretanto, eu valia 178 milhões de
dólares.
Tomei banho, depois o café da manhã e segui para o trabalho. Fui o primeiro a chegar.
Olha só, Buffett e Gates. Quem é o outro cara?
Na minha cabeça, não posso deixar de fazer uma conta rápida. No momento, estou valendo 10 bilhões de dólares e cada um desses homens vale
cinco ou seis vezes mais. Conduza-me do irreal para o real.
Eu ouvi essa história tantas vezes, dele próprio e de tias, tios e primos, que me sinto como se também tivesse estado lá. De certa forma, eu
estava.
Mais tarde, Bump comprou uma caminhonete; ele adorava colocar os netos na carroceria quando ia à cidade cuidar de alguma coisa. Pelo
caminho, sempre parava na padaria Sutherlin e comprava uma dúzia de rosquinhas com cobertura - para cada um. Só preciso olhar para o céu
azul ou o teto branco (qualquer tela em branco) e logo me vejo, os pés descalços balançando naquela carroceria, sentindo o vento fresco no rosto,
lambendo a cobertura de uma rosquinha quente. Será que eu teria sido capaz de arriscar tanto, ousar tanto, andar sobre o fio da navalha do
empreendedorismo, entre a segurança e a catástrofe, se não tivesse a base sólida daquele sentimento, daquela maravilhosa sensação de
proteção e júbilo? Acho que não.
Qualquer edifício é um templo, se você o faz ser assim.
Pense nos inúmeros escritórios da Nike pelo mundo. Em vários deles, o numero de telefone termina em 6453, algarismos que formam a palavra
Nike no teclado. Mas, por puro acaso, da direita para a esquerda também é o melhor tempo de Pre na milha, até o decimo de segundo: 3:54.6.
Eu uso a expressão “por puro acaso”, mais seria mesmo? Poderia pensar que algumas coincidências são mais do que coincidências? Poderia eu
ser perdoado por pensar, ou esperar, que o universo, ou um guia espiritual, tenha me empurrado, sussurrado ao meu ouvido? Ou apenas brincado
comigo? Poderia realmente não ser nada além de um acaso da geografia o fato de que os sapatos mais antigos já descobertos até hoje são um
par de sandálias de 9 mil anos... recuperadas em uma caverna no
Oregon?
Não haveria nada de especial no fato de essas sandálias terem sido descobertas em 1938, o ano em que eu nasci?
Em outro sentido ainda, é uma expressão viva daquela emoção humana que talvez seja a mais importante de todas, depois do amor. Gratidão.
- Ah, é?
- Você é o fundador.
- Bem, cofundador. Sim. Isso surpreende muita gente.
- E a Nike nasceu em 1972.
- Bem. Nasceu...? Sim. Suponho que sim.
- Certo. Então, eu fui ao meu joalheiro e pedi que encontrasse um relógio Rolex de 1972.
Ele me entregou o relógio. Estava gravado: Obrigado por apostar em mim.
Como de costume, eu não disse nada. Eu nunca sei o que dizer.
Não foi bem uma aposta. Ele estava muito perto de algo certeiro. Mas quanto a apostar nas pessoas - ele tem razão. Você pode argumentar que
tudo tem se baseado nisso.
Eles são todos como filhos e irmãos, uma família.
Sai da sala, mal ouvindo o sinal sonoro das maquinas, as risadas das enfermeiras, os gemidos do paciente no fim do corredor. Pensei naquela
frase: São apenas negócios”. Nunca são apenas negócios. Nunca serão. Caso um dia se tornem apenas negócios, significa que o negócio vai
muito mal.
Você mede a si mesmo pelas pessoas que se medem por você.
E o fizemos. Nos 10 anos seguintes àquelas manchetes ruins e àquela exposição escabrosa, usamos a crise para reinventar toda a empresa.
Por exemplo, uma das piores coisas em uma fábrica de calçados costumava ser a sala da borracha, onde a parte superior e as solas são ligadas.
A fumaça é asfixiante, tóxica e cancerígena. Então criamos um agente de ligação à base de água que não gera fumaça, eliminando assim 97%
das substâncias cancerígenas no ar. Em seguida, cedemos essa invenção aos nossos concorrentes e a qualquer um que a quisesse.
Todos quiseram. Quase todos agora a usam.
Um dos muitos, muitos exemplos.
Mas sei que esse arrependimento não combina com o meu pesar mais secreto – o de não poder fazer tudo outra vez.

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