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FACHA

Méier/Noite
Comunicação Social

Alunos: Bruna Ribeiro, Leonidas França e Tiago Lima


Professora: Patricia Guimarães

TEMA: Matriarcado
Introdução

O papel da mulher como influenciadora foi formado há milhões de anos, antes mesmo
da chegada ao Período Neolítico, caracterizado pelo aparecimento de novas formas de
organização social — criadas em torno da emergência por líderes — e pela transformação dos
metais. Chamada de Idade dos Metais, essa época foi marcada pelo desenvolvimento de
armas e utensílios a partir do cobre, bronze e ferro. No entanto, o aparecimento do forno de
incêndio (similar ao de olaria) foi registrado há milhões de anos antes e é o que prepara todo o
cenário seguinte para a chegada da era Neolítica, dando base para a escrita, domesticação de
animais e de plantas e instalação dos primeiros acentamentos urbanos Indus, na China,
Mesopotâmia e no Mediterrânio Oriental.
Tudo isso sai da tecnologia mais elementar do forno (conservação e produção) e da
estrutura social matriarcal. É nesse período que aparecem rápidas mudanças de uso, hábitos,
costumes e modos de vida, gerando crises que tão cedo não serão absorvidas, entendidas ou
compreendidas, devido ao processo acelerado e que deixa por resolver a situação mental e
psicossocial. É necessário desbloquear e transferir conteúdos coletivos do substrato matriarcal
e torná-los disponíveis ao imaginário coletivo atual, pois a base de toda civilização e de todo
progresso espiritual.

Contexto

O ser humano habita este planeta há mais de dois milhões de anos, porém durante três
quartos desse tempo a nossa espécie passou coletando e caçando pequenos animais. Em
virtude disso, não havia necessidade de força física para sobreviver — inerente ao homem —,
e as mulheres tinham um papel central.
Ainda hoje existem remanescentes dessa cultura, como os Mahoris (Indonésia),
Pignmeus e Bosquimanos (África Central), em que as mulheres são consideradas sagradas,
pois podem dar a vida e, por isso, ajudam na fertilidade da terra e dos animais. Nesses grupos,
os princípios masculinos e femininos governam o mundo juntos. Há a divisão de trabalho, mas
não há desigualdade. A vida é mansa e paradisíaca.
A supremacia masculina teve início nas sociedades que sucederam as mais primitivas,
em que era necessária a força física para caçar grandes animais, por conta da redução dos
recursos naturais vegetais e de pequenos animais. Nessa fase, teve início também a busca por
novos territórios, causada pela competição por um alimento escasso. No entanto, se
desconhecia a função masculina na procriação e, por este motivo, as mulheres tinham o
privilégio de Deus para reproduzir a espécie. Essa “inveja do útero” pelos homens é a
antepassada da moderna “inveja do pênis”, sentida pelas mulheres nas culturas patriarcais
mais recentes.
A “inveja do útero” dá origem a dois títulos universais encontrados em sociedades de
caça observadas em partes opostas do mundo, como no Brasil e na Oceania. Um é o
“Convade”, onde a mulher começa a trabalhar dois dias depois de dar à luz e o homem fica de
resguardo com o recém nascido, recebendo visitas e presentes. O outro é a iniciação do
homem na adolescência, em que ele é retirado da mãe e vai para a “Casa dos homens” para
participar de um ritual de parto com objetos de madeira e instrumentos musicais. A partir desse
dia, os homens podem “parir” ritualmente, tomando o seu lugar na cadeia das gerações. Nesse
contexto, a mulher possui o “poder biológico” e, o homem, o “poder cultural”.
Enquanto essas culturas eram de coleta, as mulheres mantinham uma espécie de
poder, porém diferentemente das culturas patriarcais, tais sociedades tinham de ser
cooperativas para sobreviver em condições hostis, portanto, não havia coersão ou
centralização, mas rodízio de liderança. As relações também eram mais fluídas nessa forma de
convivência.
É importante observar que nos grupos matricêntricos não havia transmissão de poder e
nem de herança, por isso a liberdade sexual era maior. Por outro lado, não existia guerra, pela
inexistência de pressão populacional pela consquista de novos territórios.
Na sociedade patriarcal, as guerras se tornam costantes e são mitificadas, em que os
homens guerreiros são mais valorizados. Começa a se romper a harmonia que liga a espécie
humana à natureza, mas ainda não existe a lei do mais forte. O homem não conhece a função
reprodutora e acredita que a mulher engravida dos Deuses, por isso ela conserva o poder de
decisão.

Mudanças na sociedade
A estratificação social e sexual passa a existir em algum momento da Era Neolítica,
quando o homem passa a dominar a sua função biológica reprodutiva e, com isso, controla
também a sexualidade feminina, dando origem ao casamento como conhecemos hoje, em que
a mulher é propriedade do homem e a herança se transmite através da descendência
masculina. Nas sociedades pastoris bíblicas, por exemplo, o homem já tinha aprendido a fundir
metais, isso por volta de 10 mil a 8 mil A.C.. Com o aperfeiçoamento, dá-se início à fabricação
de armas e instrumentos para cultivar a terra, como o arado, por exemplo.
Existe um concenso entre os antropólogos de que os primeiros humanos a descobrirem
os ciclos naturais foram as mulheres, porque podiam compará-los com o próprio corpo. Elas
devem ter sido as primeiras plantadoras e também ceramistas, porém foram os homens que
sistematizaram a agricultura, dando início a uma nova era.
Para poder arar a terra, o homem deixa de ser nômade e se torna sedentário, divide a
terra para formar as primeiras plantações, aldeias, cidades, cidades-estado, estados e
impérios. A sociedade se torna patriarcal, os portadores dos valores e de sua transmissão
passam a ser os homens. Não são mais os princípios femininos-masculinos+natureza que
governam o mundo, mas sim a lei do mais forte. Nesse contexto, quanto mais filhos, mais
soldados e mão de obra barata para arar a terra. O casamento torna-se monogâmico e as
mulheres tinham que sair virgem do Pai para o marido, pois o adúltero ou o filho de outro
homem viria ameaçar a transmissão da herança.
A partir dessa nova formação, a mulher se reduz ao âmbito doméstico, perde a decisão
no domínio público e fica reservada ao homem. Essa dicotomia entre o público e privado dá
origem à depêndencia da mulher, gerando ao longo do tempo uma submissão além de física,
também psicológica, passando, então, do matricentrismo para o patriarcal.
Marilym French cita em seu livro “Além do poder” que podemos retratar os caminhos da
história através de seus mitos. Um mitólogo americano citado por French divide em quatro
grupos todos os mitos conhecidos da criação e que coincidem com as etapas cronológicas da
história humana:
1ª etapa - O mundo é criado por uma Deusa mãe sem o auxílio de ninguém. Ex: Mito Grego, a
mãe terra, a criadoura “Gaia”. Dela nasce Reia, mãe de Zeus.
2ª etapa - O mundo é criado por um deus andrógeno ou um casal criador. Ex: No hinduísmo, o
yin e o yang, o princípio feminino e masculino que governam juntos na mitologia chinesa.
3ª etapa - Um Deus macho toma o poder da Deusa ou cria o mundo sobre o corpo da Deusa
primordial. Ex: Mitologia Sumeriana, em que primitivamente a Deusa Siduri reinava no jardim
das Delícias e, cujo poder, foi usurpado por um Deus Solar. Mais tarde, na epopeia de
Gilgamesh, ela é descrita como serva.
4ª etapa - Um Deus macho cria o mundo sozinho. Ex: a partir de 2000 A.C, os mitos persas,
medas e cristão, em que Javé (aquele que traz a existência tudo que existe), cria o mundo em
7 dias e depois o homem, e só a partir do homem cria a mulher, colocando ambos no jardim
das delícias, onde o alimento era farto e colhido sem trabalho, porém graças a sedução da
mulher, o homem cede à tentação da serpente e o casal é expulso do paraíso.
Nas culturas primitivas, a grande mãe é permissiva, amorosa e não coercitiva. Javé
representa bem a transformação do matricentrismo em patriarcado. O Jardim das delícias são
as lembranças arquetípicas da antiga harmonia entre o ser humano e a natureza, onde não
existe pressão para o trabalho sistemático e, por isso, era frouxo com a permissão de viver
prazerosamente.
O homem se separa da natureza em que está imerso, o trabalho agora é mais rígido,
tornando-se punição pela transgressão. Além disso, se usa a coersão e a violência, sendo a
coersão localizada no corpo, na repressão da sexualidade e do prazer. Há o pecado original, a
culpa máxima. Por isso a árvore do conhecimento é também a árvore do bem e do mal.
Conhecimento -> gera -> trabalho -> corpo -> amaldiçoado -> transgredindo a lei do pai.
Existe uma divisão entre o sexo x afeto, corpo x alma, razão x emoção. A relação
homem x mulher x natureza não é mais de integração e, sim, de dominação.
A mulher se dirimiu por sua sexualidade e o homem pelo trabalho. Em cada menino
nascido no sistema patriarcal, repete-se, em nível simbólico, a tragédia primordial. Primeiro
estão no jardim das delícias, desejos satisfeitos. Busca o prazer que dá o contato com a mãe, a
única mulher a que tem acesso, porém a lei do pai proibe a posse da mãe; ele é expulso do
mundo do amor para assumir a autonomia e maturidade. Para se tornar homem, ele tem que
passar pela punição maior que é a ameaça da morte pelo pai, como na história de Adão.

Comparações

A misoginia patriarcal aponta para uma estrutura psíquica feminina bem diferente da
masculina, a mulher não se desliga da mãe, não se divide de si mesma como o homem e nem
suas emoções. Portanto, para o resto da vida, conhecimento, prazer, emoção e inteligência são
mais integrados na mulher do que no homem, um conhecimento dissociado das emoções e,
portanto, abstrato. Por isso é introjada uma ideologia que convença a mulher de sua própria
inferioridade em relação ao homem. Na biblia, o homem dá a luz à primeira mulher, que é
retirada de sua costela.
Na era matricêntrica, a serpente era o símbolo da fertilidade e tida na mais alta estima
como símbolo máximo da sabedoria, se transformando, mais tarde, em demônio, no
patriarcado. Atualmente, estão se tentando deslocar o pecado da sexualidade para o do poder,
por conta da sacralização do domínio do homem.
O Cristianismo se torna oficial a partir do seculo IV. Do 3º ao 10º século, ele tende a
ocupar um lugar de destaque, porque os homens se ausentavam. Na alta idade média, a
condição da mulher floresce, ela tem as artes, a ciência, a literetura, A monja Hsosvitha de
Gadersherm, por exemplo, foi a única poeta em 5 séculos. É durante as cruzadas que a igreja
alcança seu maior poder e o mundo se prepara para transformações da renascença.

Caça às bruxas

No período do século XIV ao XVIII acontece uma repressão sistemática ao feminino, a


“caça às bruxas”. O número estimado estava na casa de milhões e as mulheres constituíam
85% de todos os bruxos e bruxas que foram executados. Pesquisas realizadas por Marilym
French indicam que o número mínimo de mulheres queimadas vivas foi de 100 mil.
Desde os tempos mais remotos, as mulheres eram as curadoras populares, as
parteiras, xamãs, enfim, detinham saber próprio, transmitido de geração em geração. Na Idade
Média, o saber se aprofunda e o papel de curadoras se intensifica. Esse “poder” era uma
ameaça às universidades que se formavam na época. Elas cumpunham organizações pontuais
(comunidades) que, juntas, tornaram-se confrarias, trocando entre si segredos da cura do
corpo e, muitas vezes, da alma. Essas mulheres participaram das revoltas camponesas que
precederam à centralização dos feudos e à origem das futuras nações.
No século XIII, os feudos são centralizados, dando origem à noção de pátria
(Klausevitz). A religião católica e, depois, a protestante, contribuem de maneira decisiva para a
centralização do poder, fazendo valer a sua força por meio dos tribunais da inquisição,
torturando e assassinando os hereditos ou bruxos. Essa postura visava colocar dentro das
regras de comportamento dominante as massas camponesas que se rebelavam,
principalmente as mulhures.
Muchel Foucault cita em sua obra “História de sexualidade” um controle estrito do corpo
e da sexualidade no forjamento do capitalismo, no seio do feudalismo. O corpo dócil do futuro
trabalhador que vai ser alienado do seu trabalho e não se rebelará. Dessa forma, todos os
homens e mulheres passam a ser, então, os próprios controladores de si mesmos, a partir do
íntimo de sua mente. É assim que se instala o puritanismo, a partir do qual, segundo Weber e
Tawnwy, nasce o capitalismo avançado anglo saxão, tudo por meio de muita violência.
Em meados da Idade Média, ainda existiam núcleos de paganismo. A perseguisão foi
planejada pelas classes dominantes para chegar a maior centralização do poder. Num mundo
teocrático, transgredir a fé era também transgredir o poder. Assim, os inquisidores ligaram as
transgressões sexuais às transgressões da fé; as grandes teses de expurgo do feminino são as
teses da inquisição.
Se nas culturas de coletas as mulheres eram quase sagradas por poderem ser férteis
e, portanto, eram as grandes estimuladoras da fecundidade da natureza, agora elas são, por
sua capacidade orgástica, as causadoras de todos os flagelos a essa mesma natureza. As
feiticeiras se encontram entre as orgastivas e as ambiciosas, aquelas que não tinham a
sexualidade normatizada e queriam se impor no domínio público, até então exclusivo do
homem. Isso mostra como a estrutura do patriarcado funciona concretamente sobre a
repressão da mulher e do prazer.
Quando no século XVIII a caça às bruxas é cessada, há uma transformação na
condição feminina, em que a sexulaidade se normatiza e as mulheres se tornam frígidas, pois o
orgasmo era do diabo, passível de punição. Como elas não têm mais acesso ao estudo,
passam a transmitir voluntariamente aos seus filhos valores patriarcais que já estão
introjetados por elas. Em fins do século XVIII, a sociedade de classes já está construída e é
composta por trabalhadores dóceis que não questionam o sistema.

O retorno

Atualmente, dois terços da população mundial passam fome para que um terço da
população restante superalimente-se. Existe possibilidade de destruição instantânea do
planeta, destruição do meio ambiente. A aceleração tecnológica mostra-se muito mais louca
que os inquisidores.
No final do século XX, voltam à sociedade dois fenômenos que, séculos atrás causaram
a morte das “feiticeiras”: a inserção da mulher no mundo público e a procura do prazer sem
repressão pela mulher jovem, que hoje são os dois pilares da opressão feminina.
No entanto, as mulheres do século XX não podem ser queimadas vivas, pois são elas
que estão trazendo, pela primeira vez na história do patriarcado, os valores femininos. Esta
reinserção do feminino na história, resgatando o prazer, a solidariedade, a não competição, a
união com a natureza, talvez seja a única chance que a nossa espécie tenha de continuar viva.

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