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Princípios de Direito Público e Constitucional Se passou de uma liberdade extrema a uma extrema servidão.

Desde sua aparição se mostraram despóticas as instituições sociais, em


Maurice Hauriou conformidade com a lei ordinária e as ações e reação. Porém, a antiga
liberdade, momentaneamente sufocada, não estava morta; ainda
Capítulo I – A era das instituições primitivas, dos costumes e das
despertaria em um mundo das ideias pela discussão, quando a escrita lhe
nações
deu a possibilidade material. A lei escrita, facilmente modificável, ainda
Desde que a humanidade entrou na era das instituições, os povos sucederia de um costume imóvel, e o Estado, sobrepondo-se às instituições
civilizados viveram três eras sucessivas: primeira, a era do costume, das nacionais primitivas, deveria ser o protetor das liberdades e da sociedade
instituições primitivas e das nações; segundo, a era da discussão, da lei civil.
escrita e do Estado; terceira, a era constitucional. Cada uma dessas eras
Porém, mesmo o Estado tem os seus inconvenientes. Há nele uma
tratou de salvar os inconvenientes que a elas precederam.
espécie de ambição subjetiva que se exalta e se exaspera; sua soberania
A era dos costumes e as instituições primitivas tiveram que ser acaba pela insurreição contra a ordem das coisas, naquilo que é imutável.
organizadas para evitar os inconvenientes da liberdade ilimitada da O regime constitucional está obrigado a uma certa racionalidade,
primeira era do mundo, porque a convivência social havia se tornado reconstituindo, em um mesmo Estado, uma ordem constitucional que será
impossível, dada a incompatibilidade existente entre qualquer trabalho um limite para o poder do Estado e, talvez, um limite para a liberdade.
regular e a mobilidade, filha do capricho e da inconstância dos homens. As
I. A era dos costumes e das instituições primitivas – É difícil fazer
instituições primitivas se estabeleceriam com extraordinária dificuldade, e
conjecturas, nem mesmo aproximadas, acerca da época de aparição
a solidificação social que trataram de formar só se mantiveram graças a
das instituições primitivas. Entenda-se bem; por mais longe que
uma regulamentação compacta, quanto aos costumes, intervindo até nos
formos buscar na história, encontraremos instituições. Temos a
atos mais insignificantes da vida, entrelaçando seus ritos e seus preceitos.
certeza de que as suas origens estão na pré-história, porém, a pré-
história da humanidade possui uma duração indeterminada; como Para as populações mediterrâneas, de onde nasce a civilização
ocupa vários milênios, é prudente decompô-la. A distinção entre o ocidental, alguns cálculos moderados emplacam entre 10 mil e 14 mil
paleolítico e o neolítico pode nos servir de ponto de partida. O anos antes de Cristo. A história, do Egito e Caldeia, não começa até 5
paleolítico é a época da pedra esculpida, a era das cavernas e das casas a 6 mil anos de nossa era. Cinco mil anos, mais ou menos, de
de rocha. Embora possuamos numerosos testemunhos da indústria do instituições pré históricas devem ter precedido pois, as instituições
homem nesta época distante, e mesmo do seu sentido artístico históricas, pode-se contar a dez mil anos. O período neolítico contém
(esculturas e pinturas rupestres do Magdaleniano), embora talvez os certamente as origens da civilização; o clima era parecido com o atual;
bandos organizados para as grandes caçadas ao bisão possam nos a fauna, idêntica; os homens se dedicam a agricultura e atividades
oferecer o tipo de instituições militares, vale mais supor, enquanto pastoris, não habitam mais em cavernas mas sim em cabanas, em
não se dispuser de informações mais abundantes, que o Paleolítico, tendas ao ar livre ou em casas construídas sobre pilhas, das quais se
com a sua prodigiosa antiguidade, desde o Acheulense, o Queeliano e aglomeram em aldeias; tem animais domésticos, plantas de cultivo,
o Mutierense ao Magdaleniano e ao Aziliano, foi o longo período de cereais, materiais têxteis; fazem objetos de barro e tecidos; possuem
liberdade primitiva, em que os grupos humanos, extremamente uma arquitetura, monumentos, sepulcros, rituais funerários, ideias
reduzidos, nômades e instáveis, vagavam em busca de alimento, que religiosas (Marcellin Bouse, Les hommes fossiles, 1921, página 330).
ainda lhes era oferecido em abundância, e, fora isso, abandonavam-se Existe evidentemente estabilidade social e, por consequência,
aos seus caprichos. instituições e costumes.
Na era do neolítico, quer dizer, da pedra polida, é quando, quase Estas instituições e costumes primitivos duraram na civilização
certamente, pode ser invocada a aparição das instituições sociais. A mediterrânea até as aproximadamente o último milênio antes de
idade da pedra polida foi precedida a do bronze e a do cobre, que por Cristo, em que já haviam iniciado algumas agitações da era da
sua vez, foi precedida a do ferro. Se remonta mais ou menos ao tempo, discussão. Os povos estrangeiros e a civilização ocidental, duraram,
que teve uma duração maior ou menor segundo diversas populações.
todavia; sua liquidação definitiva na velha Ásia, é um dos fenômenos quais dependia todo o futuro; eles lançaram as bases de nossa vida
prodigiosos que nos é possível assistir. civil, que permaneceram o eixo da totalidade de nossa vida social.
Em nossa civilização ocidental, os costumes primitivos, portanto, Os costumes primitivos eram considerados como imutáveis e
preencheram os quinze mil anos de história ou pré-história anteriores indisputáveis. Só nessa condição poderiam perdurar, pois, como só
à fundação da cidade antiga, que se situa próximo ao último milênio foram preservados pela tradição oral, teriam se perdido se fossem
antes de Cristo. Isto supõe quinze mil anos e costumes primitivos, contestados. Estavam, ademais, vigorosamente ligados a um conjunto
contra três mil anos de idade de discussão; o costume primitivo de crenças morais e religiosas. Mesmo tendo sido estabelecidas pelos
resistiu por muito tempo à discussão e à lei escrita, mesmo na Grécia poderes políticos, considerou-se que não poderiam ser por eles
e em Roma, e reapareceu, tomando a ofensiva, durante nossa Idade mesmos modificados. Em virtude de uma supremacia dos costumes
Média. sobre o poder material, esta primeira era da humanidade merece ser
Graças à sua larga duração e graças também ao casuísmo tirânico, chamada de orgânica.
os costumes primitivos estavam acostumaram o homem caprichoso e Sem dúvida, esta ordem moral não se criou sem um grande esforço
selvagem das primeiras idades à disciplina social e a ordem. Nem todas do uso do poder, porque o poder está na base das sociedades, como
eram razoáveis; algumas era extravagantes, absurdas, imorais e é tendencia ocasionalmente perceber, porém, uma vez estabelecidos
nocivas, porém outras eram prudentes e justas. Desde o princípio, os costumes, o poder se enfraquece diante deles, que parecem
entre os povos menor dotados, houve quem consagrasse os princípios dominá-lo.
fundamentais da civilização, que depois se desenvolveram com o vigor As instituições primitivas, em um momento em que há surpresas,
que só uma tradição milenar lhes poderia incutir. Esses costumes são no início da história, apresentam certas personagens constantes:
veneráveis, não por sua antiguidade, mas porque estabeleceram as 1º Os grupos humanos são pequenos; sedentário ou errante,
primeiras diretrizes da ordem social, as mais difíceis de traçar e das baseia-se, sobretudo, no parentesco material e na raça (tribos
patriarcais, clãs, genp, fatrias, genes).
2º Existem nesses grupos, classes sociais e até castas; o regime é sociedades se fixaram no terreno de forma definitiva. As contínuas
aristocrático e desigual; os membros da classe baixa estão ligados aos emigrações das tribos de pastores ou dos bandos de caçadores foram
da classe alta pelos laços pessoais de vassalagem e clientela (o poder um obstáculo ao desenvolvimento dos grupos sociais, mas, com a
do homem sobre o homem). fixação na terra e com o progresso no cultivo da terra, a população
3º O poder político se confunde com o poder econômico, ou seja, aumenta rapidamente, a quebram-se as formas sociais primitivas dos
que as personalidades superiores são as que detêm as riquezas, os quadros, são necessárias outras novas, ao mesmo tempo mais vastas
rebanhos ou a terra. Os palácios dos reis egeus da era minóica, como e mais flexíveis; Estes serão os quadros nacionais.
os dos faraós do Alto Egito, como os dos pastéis de Suziana ou da A formação das nações é um fenômeno da maior importância: 1º
Caldéia, são também despensas e depósitos de grãos. porque ainda perdura e continua a agitar o mundo pelos movimentos
4º Os poderes não estão centralizados, mas dispersos. A contraditórios do nacionalismo e do internacionalismo; 2º porque as
semelhança entre as características dessas instituições primitivas e as nações constituem a matéria-prima dos Estados; 3º porque, do ponto
das instituições feudais da Idade Média não pode deixar de chamar a de vista constitucional, engendram a oposição entre poder de governo
atenção. De forma visível, depois do grande esforço do antigo Estado e soberania nacional.
e depois que a discussão apareceu pela primeira vez, quando a As nações podem ser assim definidas: grupos populacionais fixados
sociedade cansada buscava descanso, tendia a reencontrá-lo nos à terra, unidos por um vínculo e parentesco espiritual que desenvolve
velhos moldes milenares das instituições fundadas na vassalagem, e, o peso da unidade do próprio grupo.
ao menos ao mesmo tempo, ele caiu sob o domínio do costume. A Não insistiremos na condição de "fixação no terreno", que não oferece
solidez desses velhos moldes sociais pode ser comparada à do regime dificuldades, mas devemos insistir no "vínculo de parentesco
feudal que, por muitos séculos, pareceu indestrutível. espiritual" e no "pensamento da unidade do grupo".
II. A formação das nações – No final da era dos costumes primitivos, as 1º O vínculo nacional na medida em que se funda no parentesco
nações aparecem na civilização mediterrânea, uma vez que as espiritual - Os nacionais são pessoas que se sentem ligadas num
parentesco espiritual, não precisamente porque tenham as mesmas Eis a solução que nos parece mais aceitável sobre esta tão discutida
crenças mas porque têm o mesmo modo de sentir, pensar e agir, e, questão: Na população nacional convém distinguir dois elementos:
em suma, a mesma mentalidade. Dois franceses que não se conhecem um núcleo consuetudinário, assimilado pela longa convivência no
e que estão no estrangeiro, se reconhecerão imediatamente como território, e a população imigrante. O núcleo consuetudinário não só
nacionais pela sua estrutura espiritual, pela sua forma de considerar cria nações - que se devem a uma formação consuetudinária e
os acontecimentos, pelo seu equilíbrio de julgar as coisas sem ser territorial - como também lhes permite continuar a assimilar os
demasiado leviano nem demasiado sério, pela sua forma abordagem imigrantes; só ele é capaz de engendrar a relação espiritual nacional,
direta e franca dos assuntos, devido ao seu gosto por ideias gerais. que não parece obra exclusiva da vontade.
Não há dúvida de que esse parentesco espiritual foi engendrado Depois disso, a comunidade de língua e religião não aparece mais
pelo parentesco material sobre o qual se fundaram os grupos como indispensável e, de fato, existem nações trilíngues, como a
primitivos, pela longa convivência, pela comunidade de raça e língua, Suíça, e em quase todas as nações modernas existem muitas religiões.
e pelas crenças comuns que dela derivam. No dia em que a ficção do A comunidade da raça, necessariamente no núcleo
parentesco material não pôde ser mantida devido ao extraordinário consuetudinário da população, como consequência da mestiçagem
crescimento do grupo, pensou-se com muita naturalidade o vínculo do contínua de raças que acarreta a longa convivência no mesmo
parentesco espiritual, que continuou a representar uma grande território. É uma raça mestiça, mas todas as raças nacionais são
realidade. Natureza non facit saltus (do latin “Natureza não dá mestiças; A nacionalidade francesa foi estabelecida na Idade Média,
saltos”); de um tipo de relacionamento ele passou para outro. após a fusão das populações galo-romana e bárbara.
Segue-se daqui que as nações são essencialmente formações Quanto à assimilação voluntária de imigrantes, é admissível, desde
espirituais, mas isso não é o mesmo que considerá-las como que o número de naturalizados permaneça sempre relativamente
formações puramente voluntárias, porque o parentesco espiritual não baixo em relação a um núcleo consuetudinário nacional.
é necessariamente voluntário.
2º O pensamento e a vontade da unidade nacional - O vínculo 3º A organização da nação - É natural que, ao longo dos muitos
nacional de parentesco espiritual não é suficiente para constituir uma séculos em que as nações se formaram, não tenha faltado aos grupos
nação; a única coisa que fornece é a população nacional, um material sociais uma organização política e social.
que é, em si, como o corpo da nação. É necessário que este corpo Uma nação possui todos os elementos organizacionais possíveis,
manifeste um pensamento e um desejo de unidade nacional. E este exceto a centralização política, que será fornecida mais tarde em
será o resultado de um longo trabalho de reflexão, daquilo que virtude de sua transformação em Estado.
Michelet magnificamente chama de "trabalho de si sobre si mesmo", É claro que nas populações que chegaram ao estágio nacional
realizado pela "alma imensa" da nação que se forma. possuiam anteriormente o quadro completo da vida privada ou civil,
Este trabalho será o de um pensamento, vontade e sentimento como a concebemos hoje, como a vida social por excelência. Há um
comuns. O pensamento que surge em cada consciência é que a nação regime familiar que remonta às origens remotas da era patriarcal; um
constitui um ambiente no qual é conveniente viver. A vontade que regime de propriedade privada e comércio de bens que se estabeleceu
surge em cada alma é a vontade de conviver neste ambiente. O com a idade sedentária; um regime de profissões ou ofícios que se
sentimento que anima cada coração é o amor a este mesmo meio justapõe aos anteriores. Na civilização antiga, que era nacional, essas
nacional, que leva o nome de pátria. organizações da vida civil constituíam uma espécie de direito comum
Nada disso desperta a ideia de uma consciência coletiva; a "alma da que os juristas romanos chamavam de jus gentium (do latim “direitos
nação" é apenas uma metáfora; não há nada além do pensamento dos povos), e que foi, entretanto, sendo modificado pelas
comum, da vontade comum, do sentimento comum. Mas tudo isso é particularidades do direito civil de cada nação. Este regime civil
espiritual, e como não há verdadeira unidade que não seja espiritual, continuou a ser o objetivo essencial do próprio Estado, que tem a
é por isso que a unidade nacional é tão forte. missão de o cumprir cada vez melhor; representa o ideal de uma nação
em matéria de ordem social, e esse ideal é, como veremos,
individualizado e traduzido à sua maneira pelas declarações dos individualidade é passiva, não reage aos nacionais de forma formal. A
direitos do homem. personalidade racional, ativa, poderosa que essa individualidade
Mas as nações também têm uma organização da vida pública, cujas amorfa é capaz de gerar só será produzida – na era da discussão – pela
características consistem em ser descentralizadas, individualistas e ideia de Estado.
sem cabeça. Isso é o que significam pequenas cidades, senhores
feudais, pequenos principados, corporações, gildas, hansas Capítulo II – A era da escritura e da discussão, da lei escrita e
mercantes. do Estado
Não há uma confederação contínua desses poderes divididos nem
Quando uma população deixa as tradições e costumes orais para
um líder comum permanente, mas, no máximo, e em casos de perigo
entrar na era da escrita, ocorrem grandes mudanças.
nacional iminente, uma confederação temporária, um conventus e um
Em primeiro lugar, a discussão torna-se possível porque as ideias
generalíssimo improvisado; o parentesco espiritual é normalmente a
fixadas pela escrita não correm o risco de serem volatilizadas pela
única fonte comum. Tal era o estado da nação gaulesa na época da
controvérsia e porque a escrita espalha novas ideias por todo o lado. A
conquista de Júlio César: a irmandade das almas existia, mas a
melhor prova de que existe uma ligação entre escrita e discussão é que a
organização política estava dividida em cidades rivais, e o líder comum
impressão, que é escrita reforçada, provocou um aumento da discussão
- Vercingetorix - foi instituído tarde demais, na luta suprema.
nos tempos modernos.
Também não há lei escrita comum, nem mesmo costume geral,
Como a discussão é materialmente possível, ela passa a ser
mas apenas costumes locais e particulares; não se realiza uma unidade
utilizada nos cenáculos onde se pratica a escrita. Na Idade Média começou
de Direito, nem política. É por isso que as nações pertencem à era dos
com disputas teológicas e escolásticas em mosteiros e universidades, as
costumes e instituições primitivas.
únicas instituições onde existiam manuscritos. Na antiguidade egípcia e
Em suma, a nação, como unidade viva, é larva; e somente sua
metamorfose em Estado centralizado a tornará um ser perfeito. A sua
caldéia deve ter dominado, pela mesma razão, em templos e colégios Segundo a frase de Michelet, é "a era das inquietações", e perdurará até
sacerdotais. que novas convicções político-morais, fundamento de instituições mais
A discussão começa assim que encontra um caminho livre, equilibradas, sejam novamente reconstituídas pelo regime constitucional.
porque o espírito humano a ela aspirou por muito tempo. Embora seja A era da discussão foi lentamente se estabelecendo nos assuntos
verdade que a idade dos costumes prestou grandes serviços nas origens da políticos, e lentamente também culminou nas assembléias populares.
humanidade, não se deve disfarçar que seu jugo foi pesado e que o espírito Como observa Bagehot, era tão difícil submeter os homens a
do homem foi esmagado sob a massa de idéias consideradas costumes primitivos quanto lançá-los em discussões, críticas e
incontestáveis, muitas das quais foram nada além de preconceitos controvérsias, uma vez que eles se acostumassem com esses costumes e
absurdos. Não havia essa liberdade de pensamento nem essa liberdade de com o espírito de conformidade que eles engendravam. Se o impulso não
consciência que nos acostumamos a considerar hoje como os bens viesse de povos tão bem dotados como os fenícios e os helenos, que entre
principais e mais preciosos. Espíritos livres sufocados nesta atmosfera de os Angus experimentaram a discussão, seria difícil determinar quando ela
conformismo obrigatório; nenhum progresso era possível quando cada começou. De qualquer forma, o impulso foi dado por volta do século X ou
nova ideia era baixa e ímpia. A era da discussão é a que deslocou o enorme IX aC. A discussão reina com plena soberania na civilização mediterrânica
bloco das instituições primitivas e a que fundou a civilização progressista durante o milénio que constitui a era cristã, aparece e desaparece
em que vivemos desde os primórdios da cidade antiga. gradualmente, sufocada pelo despotismo do Império Romano, e
Pois toda medalha tem um reverso. Quebrando os costumes adormecida durante toda a Idade Média. É como se a Humanidade,
morais que fundamentavam as instituições na era do costume, a discussão cansada de tantas novidades, descansasse e se reocupasse no mecanismo
destruiu a primazia da ordem moral, cuja coerção bastava para conter as do hábito. A discussão, que surge nas disputas teológicas do século XI,
forças político-econômicas. O primeiro período orgânico se encerrou e a ainda não transcenderá, mas muito lentamente, aos assuntos públicos.
humanidade abriu um perigoso período crítico. Sem dúvida, há manifestações imediatas disso no movimento comunal, e
surge aqui e ali no governo estadual, na Inglaterra e na Itália, mas a grande
explosão da discussão pública não acontecerá até depois da descoberta da fórmula redacional lhe parecesse correta, devendo esta consulta conduzir
imprensa, e na França será deletado até o final do século XVIII. a uma discussão. O primitivo procedimento que se seguia nas eleições
O advento da lei escrita e da deliberação pública - quando a legislativas de Roma e os antigos mandatos consagrados são testemunho
escrita se estendeu bastante, pensou-se na comodidade de escrever os desta evolução. O magistrado, que tem sempre a iniciativa de propor uma
costumes, ordenando-os ao escrevê-los. É sob essa forma transitória que lei, consulta o povo pela rogatio; A discussão prossegue, e ao final dela, o
aparece a lei escrita. E foi assim que os costumes foram escritos na França cidadão questionado responde com uma destas expressões: uti rogas
após a descoberta da imprensa. Mas a redação fornece o pretexto para (como pede), ou, antiquo (voto no acima e, portanto, rejeito a inovação). É
introduzir mudanças nos costumes e, na realidade, as leis são feitas. Em o que se chama, do ponto de vista do magistrado, agere cum populo; A
breve, o poder de legislar por escrito para novos casos suplantará o poder soberania do povo caracteriza-se desde as origens, que nunca será outra
de escrever costume, até que venha a suplantá-lo. Este poder de legislar coisa senão a simples participação numa deliberação e discussão
não é necessariamente acompanhado de discussão; Pode ser muito bem conduzidas pelos chefes
exercido por um autocrata, e por isso Hammurabí, por volta do ano 2000 O advento do Estado. - Há uma afinidade evidente entre o
antes de Jesus Cristo, promulgou seu Código, que supôs ter sido dado a ele Estado e a escrita pelo simples fato de que o Estado supõe uma coisa
pelo deus Chamach, e que foi, sem dúvida, nada mais do que a codificação pública, que já não é diretamente coisa de nenhum particular, e cuja
de costumes antigos. perpetuação precisa ser confiada à escrita desde então. Desde a existência
No entanto, era natural que a discussão dos assuntos públicos do Estado, existe um interesse e uma responsabilidade públicos, mais ou
derivasse dos costumes escritos e das modificações que neles se menos rudimentares. Se o Estado pertence à idade da escrita, pertence
introduziram, onde, em todos os tempos, se tivesse recorrido ao pela mesma razão à idade da lei escrita e, a seguir, à da discussão. Chega a
testemunho da Assembleia do povo para a aplicação das leis. Era ser uma espécie de necessidade na era da discussão, pois, possuindo o
obrigatório dirigir-se à Assembleia popular, interessada na conservação dos Estado de uma coerção material aperfeiçoada, consegue suprir as
costumes, para a consultar se esta consentisse em modificá-los ou se a
fragilidades da coerção moral das crenças primitivas, na medida em que O poder de origem militar, que se sobrepõe aos antigos poderes
estas se diluem no espírito crítico. nacionais, é puramente político, o que significa que não pretende se
No entanto, e apesar de todas essas afinidades, o Estado tem misturar diretamente com a produção econômica, nem monopolizar os
origens históricas próprias e, em geral, é determinado pelas exigências da meios de produção, nem utilizar instrumentos de pressão econômica.
defesa militar. A definição do Estado resultará das seguintes proposições: Basta-lhe a coerção de penas aflitivas, e ele abandona a atividade
1º O Estado é uma certa forma adotada por uma nação, ou, pelo econômica à sociedade nacional pré-existente, que se encarregará de
menos, pelas populações que atingiram o estágio de parentesco espiritual mantê-la em troca de proteção militar e paz que lhe serão asseguradas pelo
nacional. Poder público. Esse novo poder se estabelece, então, em virtude de um
2º A forma do Estado reduz-se a uma centralização política e compromisso prático entre o poder político e o poder econômico e,
jurídica; um governo central se sobrepõe à multiplicidade dos poderes consequentemente, a partir de uma separação entre esses poderes.
nacionais, e um direito sólido vem substituir a multiplicidade dos costumes Deste compromisso e desta separação resulta que o poder do
nacionais. Fez-se, então, unidade de governo e unidade de Lei. Estado se estabelece sobre os homens livres, isto é, sobre os homens que
3º A centralização do Estado realiza-se pela dupla ação do poder dispõem da sua atividade económica e que são senhores da sua vida civil.
do Estado e da ideia de Estado, nas seguintes condições: De resto, o poder político do Estado modela-se no poder militar, que, sem
a) Ação do poder do Estado - Para satisfazer as necessidades, quer de dúvida, é rude, pois implica o direito de vida e morte e disciplina severa,
defesa militar, quer de paz interna, vividas vigorosamente pelo mas que, no entanto, é um poder que apela à liberdade de homens, porque
grupo nacional, surge um novo poder, militar por essência, que em só homens livres lutam bem.
geral é um poder real. O rei, fundador do Estado, dirige as guerras b) Ação da ideia do Estado. - Há ainda uma outra força que impôs a

e administra a justiça, ou seja, assegura a paz no exterior e no formação dos Estados, e é a ideia de Estado, uma transformação
interior, e assegura-a melhor do que na situação de fragilidade das do pensamento nacional que vinha atuando no seio da população.
divisões internas da sociedade nacional.
A ideia de Estado é a ideia de que a comunidade nacional é capaz A centralização da nação, movimento operado sob a dupla ação
de melhorar a condição de cada um, engendrando uma atividade pública e do poder governamental do Estado e da ideia de Estado, em um momento
uma coisa pública que o poder do Estado se encarregará de dirigir. Trata- de discussão e crítica, culmina em uma reorganização racional da nação.
se, então, da ideia da res publica. A coisa pública são as leis, é o domínio Vantagens do regime estatal - Seria infantil e contrário ao
público, o erário público, são os serviços públicos, ou, o que é o mesmo, o sentimento geral negar a superioridade do regime estatal. É preciso repetir
conjunto das atividades públicas, dos meios postos em comum para a constantemente a certos exagerados admiradores dos tempos primitivos
realização do bem comum. em geral e da Idade Média em particular, que a memória do feudalismo se
A ideia de Estado é um uso do pensamento de união ou constituiu em execração dos povos, enquanto que, desde a queda do
comunhão que existe no movimento nacional que geralmente acompanha Império Romano até a restauração do moderno Estado, tem a memória do
a formação do Estado. Pensa-se que a “união faz a força” e que de cada Estado romano tem sido abençoada, ainda que, em muitos aspectos, não
movimento de comunhão pode ser liberada uma força para realizar o tenha sido exemplo de brandura. A Igreja, muito principalmente, e apesar
trabalho comum. da adesão que obteve nos tempos feudais, não cessou de trabalhar na
A princípio, o pensamento da comunidade nacional era restauração do Estado, em aliança com o sentimento popular.
puramente passivo; ele se satisfazia com um modo de vida que o E que o regime estatal realmente oferece vantagens
parentesco espiritual tornava mais agradável. Com a ideia de Estado, o consideráveis:
pensamento se torna ação. 1º Aumento de poder, aquisição preciosa do ponto de vista da
Por essa virtude ativa, a ideia de Estado tornou-se o verbo da defesa militar e da expansão externa. Você não pode imaginar facilmente
nação, e conseguiu expressar todo o poder de ação que existia no o poder que a centralização desencadeia. Não supõe uma soma das forças
pensamento nacional. nacionais primitivas, mas uma multiplicação. Tomemos o exemplo das
armas militares. Suponhamos que cada um dos novena departamentos
franceses fosse obrigado a construir seus armamentos, seus canhões, seus
aviões, suas carruagens, seus fuzis e a fabricar sua pólvora. Noventa esse respeito; porque os poderes econômicos estão separados do poder
fábricas de armas, pólvora, etc., e, por consequência, falta de canhões, político, estão subordinados a ele; porque se romperam os velhos laços de
aviões, carros de assalto eficazes, enquanto a centralização, nas mãos do vassalagem, e o homem já não depende do homem, mas do Estado; porque
Estado, de recursos e competências, a concentração da produção em um o próprio poder do Estado é moderado em virtude de engenhosos
pequeno número de fábricas, com abundância de inventores e equilíbrios internos.
engenheiros, permite o fornecimento de um material melhorado. Depois, porque o regime de discussão fez nascer novas fontes de
Não é apenas um aumento na quantidade de energia, mas liberdade; deste ponto de vista, é conveniente estabelecer uma distinção
também na qualidade. O poder do Estado é de qualidade superior, porque entre os Estados antigos e os Estados modernos. Nos antigos Estados não
é um poder superestrutural, porque se sobrepôs efetivamente aos poderes se admitia a discussão sobre as crenças religiosas oficiais, havia uma
primitivos, cuja substância e experiências assimilou. Na série política religião de Estado e, consequentemente, a liberdade de consciência não
representa o estado que os grandes carnívoros representam na série era plena. Esta é filha do cristianismo, não só porque com ele se estabelece
biológica: alimenta-se de carne que já é política. O que o rei da França a separação entre Igreja e Estado, mas porque a fé cristã é essencialmente
devorou foram os barões feudais e uma nobreza, ou seja, a própria "elite". uma adesão individual de consciência, um movimento que ocorre
Esse alimento, já espiritualizado, eleva o poder do Estado, abrindo novos livremente após pregações incessantes e em meio às contradições. O
horizontes. A separação do político e do econômico o espiritualiza ainda cristianismo é verdadeiramente uma religião da era da discussão. Isso não
mais. constitui um argumento contra o fato de ele ter fundado uma Igreja cujo
2º Uma paz interior mais perfeita obtida por uma justiça governo se baseia no princípio da autoridade. Não há contradição nesse
superior - A supressão das guerras e conflitos internos entre pequenos fato, assim como não há contradição no fato dos Estados modernos, que
poderes locais, maior segurança, e, numa palavra, paz, a paz do rei. também admitem a livre discussão em sua base e, não obstante, têm
3º Aumento da liberdade - Primeiro, porque o poder do Estado governos fundados no princípio da autoridade.
equilibra os antigos poderes locais ou particulares da nação e os obriga a
Há, pois, no mundo moderno uma liberdade de consciência influência dessas instituições que lançam uma sombra sobre a soberania
muito mais ampla do que no mundo antigo, e essa liberdade, que flutua do Estado, e não é incomum que este último entre em conflito com elas.
acima de todas as outras, confere ao nosso regime de Estado um encanto Esta atitude do Estado, que consiste em colocar o ouro material
inexprimível. acima da ordem moral, e o poder material acima dos poderes morais, é,
Desvantagens do regime de Estado – Elas existem, embora não em si, revolucionária e não tarda em se tornar perigosa para a liberdade e
apareçam enquanto o regime se mantiver nos limites da moderação, a sociedade. Sem falar nas violações à liberdade de consciência que daí
enquanto a resistência das velhas instituições não for totalmente quebrada derivam, todas as outras liberdades logo se sentem trancadas, porque
e enquanto as velhas crenças não forem totalmente dissolvidas pela crítica, todos os poderes do Estado mergulham no arbítrio e na injustiça. É
espírito que segregava a discussão. Mas chega o dia em que o Estado, tendo compreensível que quando, durante muitos anos, se segue uma política
feito uma limpeza completa das instituições e crenças primitivas, se semelhante, que vem a repercutir nos inúmeros serviços do Estado,
mantém orgulhoso em sua jovem soberania e se considera o centro do produza-se como consequência uma alteração da ordem das coisas,
mundo. É quando as desvantagens vêm à tona. semeando por toda a parte, mesmo nas possessões coloniais , germes de
A própria tendência do Estado, uma organização coercitiva rebelião que criam um perigo externo e interno.
aperfeiçoada, leva-o a pensar que a força material, racionalmente disposta A maioria dos estados modernos está presa entre dois incêndios
e judiciosamente utilizada, é suficiente para manter a ordem na sociedade. - em uma situação de ansiedade. Eles ainda detêm a força e ainda mantêm
Sua ilusão é acreditar que a ordem material pode ser assegurada sem o a ordem material, mas já começam a se perguntar se sua resistência será
auxílio de uma ordem moral. A vida civil, sobre a qual exerce sua proteção, vitoriosa; Eles olham para trás e examinam sua consciência. Talvez tenham
só a considera do ponto de vista de uma polícia puramente temporária. Em cometido o erro de desdenhar a aliança dessa ordem moral tradicional que
consequência disso, não cuida das crenças morais fundamentais, nem das até agora sustentou e sustentou a ordem material. Pode ser que, mesmo
instituições sociais, imediatamente fundadas nessas crenças que têm a permitindo a mais ampla liberdade de discussão, seja necessário
missão de mantê-las e propagá-las. Ao contrário, ele tem ciúme da contrabalançar os perigos dessa liberdade por meio de uma propaganda
enérgica em favor da ordem moral. Para isso, tinham em mãos uma o qual a liberdade de discussão era proibida. Este passado autoritário está
formidável máquina: a da instrução pública; mas o Estado não o utilizou. morto e não pode ser revivido. Trata-se simplesmente, mantendo a livre
Em vez disso, por interesses políticos miseráveis, tem sido usado para discussão, de estabelecer categorias para decidir que certas questões de
destruir o que desafiou como radiação. O que fazer agora para remediar o excepcional importância para a ordem social e política, não podem ser
poder explosivo das ideias subversivas em países cuja moral foi tão disputadas todos os dias, nem pelos mesmos procedimentos que as
profundamente abalada? demais. Em suma, trata-se de organizar a discussão dos assuntos públicos
É verdadeiramente a era da inquietação. Felizmente, as nações e sociais.
são curáveis e o remédio está sempre próximo do mal. O regime Esse caráter essencial do regime constitucional não aparece na
constitucional já começou a construir o parapeito, e, de dedução em história de sua lenta implantação na Inglaterra, onde não passou de uma
dedução, perceber-se-á que seu postulado é a reconstrução livre e construção empírica do organismo político. Isso depende do fato de que a
voluntária de uma reserva de crenças morais, essenciais para a salvação da Inglaterra, por suas tradições e por sua lei consuetudinária, possuía uma
ordem material, e, consequentemente, , para a salvação da liberdade. Não ordem individualista tão vigorosa que ataques legislativos não deveriam ser
há nada além de deixá-lo fazer. temidos em liberdade. Mas esse caráter essencial se manifesta no século
XVIII nas Constituições dos Estados Americanos e no movimento
Capítulo III – A era Constitucional constitucional da Revolução Francesa. Há então uma verdadeira explosão

Esta é a época em que as nações, assustadas com o exagero do de fé social que se manifesta em um duplo símbolo. 1º, o das Constituições

Estado e com os perigos que seus erros e seus caprichos causam à escritas, expressão da crença em uma ordem constitucional do Estado,
liberdade, se esforçam para reagir, restabelecendo, nos próprios quadros diferente da atividade governamental ordinária, superior a ela, e que não

do Estado, uma ordem essencial das coisas, com base em crenças morais, deve ser modificada levianamente; 2º, o das Declarações de direitos,

que não podem ser revogadas na prática pelo poder ordinário. Note bem expressão da crença em uma ordem social profundamente individualista, e

que não se trata de voltar ao costume primitivo ou ao postulado segundo da necessidade de o Estado respeitar as bases dessa ordem social: Toda
sociedade - diz o art. 16 da Declaração de 1789 - em que não está deriva para a crença grosseira na coletividade social, como tem sido
assegurada a garantia de direitos... carece da Constituição. abundantemente demonstrado no curso dos eventos.
Hoje, a importância dessa evidência de fé na ordem moral, que As democracias anglo-saxônicas não cometeram o erro de
caracterizou o final do século XVIII, está muito esquecida. precipitar-se no anticlericalismo; dessa forma, o evangelho individualista
Indubitavelmente, a verdade se misturou ao erro, o sofisma do contrato preservou melhor sua virtude geradora de energia entre eles. Se a
social feriu as vantagens reais da Constituição escrita, e a noção de direitos democracia francesa quiser reconquistar o terreno perdido e aproveitar os
do homem lamentavelmente substituiu a ordem individualista; mas aos benefícios do movimento constitucional, é necessário que, através de uma
temerários que hoje, por moda, consideram de bom tom declamar sem educação espiritual e moral com a qual aceita a concorrência das forças
reservas contra o individualismo revolucionário, pode-se perguntar se religiosas, reabilite a fé individual na alma do seu povo .
preferem ao invés desse evangelho individualizado, com todas as suas Tal é, pois, o sentido do movimento constitucional: reconstituir
imperfeições, o evangelho coletivista ou o comunismo. As coisas são da com as próprias matérias do Estado (com a soberania organizada em vários
natureza que quem não defende uma trabalha para as outras. poderes, com o direito estatutário devidamente diferenciado em leis
O acidente mais desagradável foi o divórcio ocorrido então entre constitucionais e leis ordinárias, com a discussão canalizada em processos
o poder civil e o poder religioso. O individualismo transbordante das de revisão) uma ordem de coisas análoga à que existia nos tempos
Declarações de direitos precisaria ser completado, para constituir objeto de primitivos, ou seja, reconstituir uma reserva formal de ideias fundamentais
fé razoável, com a declaração de deveres contida no catecismo. Isso além e princípios políticos morais, que são uma vedação colocada na atividade
do fato de que tal individualismo carece de uma base sólida. Considerando quotidiana do poder político.
o indivíduo apenas em sua condição secular, retirou-se sua raiz E tais são os princípios do direito público francês, formulados nas
espiritualista, para a qual o homem puramente secular e temporal deixa de Declarações de direitos, que o artigo 1º da Constituição de 14 de janeiro de
acreditar em um destino eterno, entrega-se ao materialismo e logicamente 1852 declarou reconhecer, confirmar e garantir.
Entre esse novo período orgânico e aquele que existiu sob o
costume primitivo, há a seguinte diferença capital: sob o costume
primitivo, as crenças e instituições deixaram apenas uma pequena margem
de liberdade, enquanto, sob o regime constitucional, as crenças e as
próprias instituições estão em favor da liberdade, e apenas as reservas
estritamente indispensáveis foram constituídas em favor da ordem.
Em todo caso, não esqueçamos que o regime constitucional não
é a organização de um mecanismo político perfeito; é sobretudo a
reorganização de uma ordem política moral, base da sociedade.

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