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FAJE – Departamento de Filosofia

Disciplina: Brasil passado e presente em perspectiva – 2021/2°


Professor: Robson Sávio
Aluno: Alexandra Silva Veiga
Luiz Gustavo Honorio
Silvana Vargas dos Reis
Data: 04/10/2021

O PATRIARCADO E A POSIÇÃO DA MULHER NO MUNDO DO


TRABALHO

1. INTRODUÇÃO

As relações de poder na sociedade que se estabelecem estão submetidas as bases


materiais que moldam o seu modelo, o status social, os papeis e as formas de se relacionar entre
os indivíduos. A formação da sociedade humana pode ser compreendida pela análise das
relações de poder estabelecidas e existentes entre homens e mulheres em seus distintos modos
de produção, desde comunidade simples sem a presença do Estado e grupo matrilineares1 a
sociedade complexas com a formação do Estado em grupo patriarcais.
Com o advento do Revolução Agrícola, foi estabelecido a centralidade da mulher nas
relações de poder, mas que foi se enfraquecendo ao decorrer da história, com o surgimento do
Estado, da propriedade privada e da família; as relações de poder passam a ser antagônicas entre
homens e mulheres, tendo a noção do patriarcado2, estabelecida pelas relações de poder do
homem sobre a mulher. O homem passa a ser visto como dono dos meios de produção e a
mulher fica relegada aos espaços privados e à função de reprodutora da prole que por
conseguinte é vista como força de trabalho. Com o surgimento da sociedade capitalista, torna-
se possível perceber que essas mesmas relações antagônicas de poder entre homens e mulheres,
o que leva a mulher a estender sua função aos espaços públicos, assumindo espaços tipicamente
masculinos, mesmo que de forma gradativa, instaurando-se sua emancipação política.

2. A MULHER NO INCIO DA CIVILIAÇÃO

1 Sistema de parentesco, de filiação através do qual somente a ascendência (família) da mãe é tida em consideração para a
transmissão do nome, dos benefícios ou do status de se fazer parte de um clã ou classe.
2 Organização social e política em que o papel do homem prepondera sobre a mulher.

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Ao longo da história as bases materiais foram sendo produzidas de modo a determinar
os modos de produção e tipos de relações sociais, políticas e jurídicas na sociedade. Essas bases
levaram a uma concepção de que o homem que determina as relações culturais e de poder no
grupo social, definido e organizado, os papéis sociais de cada membro da sociedade em seu
interior.
Durante o decorrer do processo histórico, as relações entre homens e mulheres foram se
constituindo implicando a materialização de novas relações a partir dos gêneros dentro de um
mesmo grupo social. Um dos fatores que contribuiu para esse materialização foram as bases
econômicas, definindo toda a divisão social do trabalho dentro do grupo.
No primeiro momento temos a construção dos agrupamentos nômades onde o homem
se viu preso a uma determinada localidade geográfica, com uma atividade econômica que
consolidou a posição social da mulher nesse momento. A mulher aqui não tem um papel de
subordinação ao homem, pois nesse contexto histórico, homem e mulher se veem um como
complemento um do outro. Esse primeiro momento da revolução agrícola podemos chamar
como agricultura incipiente3 promovendo nos agrupamentos humanos uma nova estrutura
política de organização das funções. Temos aqui nesse uma estrutura das relações baseadas a
partir de uma comunidade matrilinear em que o sistema de parentesco era definido pela
descendência da mulher, que podemos chamar de matriarcado.4
Aqui a mulher tem um lugar de destaque no grupo, passando a desempenhar funções
políticas. As necessidades fundamentais, como a alimentação, são agora supridas pela mulher.
O papel do homem, que outrora fora importante à sobrevivência do grupo, como agilidade,
força física e velocidade, nesse momento passa ser secundária. Essas características do gênero
masculino citadas aqui, teve sua importância no início da humanidade, quando o homem sobre
o meio natural, teve que suprir às necessidades básicas pela sobrevivência, já que o homem
vivia em meio a natureza totalmente hostil. “Cabia somente a ele, antes da Revolução Agrícola,
prover a alimentação do grupo e, para isso, necessitou desenvolver algumas características
físicas, que o foram definindo como gênero masculino dentro do grupo” (IOP, Elizandra, 2009,
p. 234).
Mumford (1998, p. 18) definiu muito bem essas características, “[...] pronto para matar,
impiedoso por necessidade vocacional [rude, cruel e frio] [...]”. O papel da mulher teve uma intima

3 Agricultura da enxada ou lavoura. Desenvolvida pela mulher e de sua responsabilidade. A agricultura insipiente cultivava
pequenas áreas de terra com o uso de instrumentos de produção simples, o que não permitia que a terra fosse remexida
muito funda, para que houvesse a semeadura.
4 Organização social ou política em que o papel da mulher prepondera sobre o do homem.

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ligação entre sua capacidade reprodutora e o preparo da terra durante esse período da atividade
econômica agrícola. É de extrema importância a ligação desses dois processos para assim
compreender a força das mulheres sobre a concepção das comunidades matrilineares. Segundo
Mumford(1998), houve uma antecipação da atividade agrícola sobre a revolução sexual,
possibilitando a autoridade da mulher e não do homem sobre a comunidade. Essa nova atividade
econômica não exigia força bruta, mas sim uma maior "sensibilidades" no manejo e nos
cuidados com as plantas; cuidado esse que a mulher destinava a sua prole, sendo assim
transferida à domesticação das plantas.

[...] mais passiva, presa aos filhos, reduzida nos seus movimentos ao ritmo de uma
criança, guardando e alimentando toda a sorte de rebentos, inclusive, ocasionalmente,
pequenos mamíferos lactentes, se a mãe destes morria, plantando sementes e vigiando
as mudas, talvez primeiro num ritmo de fertilidade, antes que o crescimento e
multiplicação das sementes sugerisse uma nova possibilidade de se aumentar a safra
de alimentos. (MUMFORD, 1998, p. 18).

O homem aqui desenvolvia o papel do caçador, mas era as mulheres que preparavam a
terra e os cuidados com as plantas, era de sua responsabilidade suprir às necessidades básicas e
imediatas do grupo. Mas com o aumento da produção pela agricultura intensiva5 e com a
domesticação dos animais, começa a ter um capital excedente, possibilitando a volta do homem
diante da organização social, com a finalidade de vigiar e proteger a comunidade de saques que
porventura viessem ocorrer. Aqui já se pode vislumbrar o que mais tarde vamos chamar de
família nuclear, do Estado e da propriedade privada, relegando assim a mulher o papel do
cuidado e da reprodução da espécie para se ter força de trabalho. Portanto, com a revolução
agrícola a presença da mulher passa a ser exigida em toda a estrutura física, social e política do
grupo, desenvolvendo os mais diversos tipos de funções (IOP, 2009, p. 235). “Segurança,
receptividade, proteção e nutrição, tais funções pertencem a mulher; e tomam expressão
estrutural em todas as partes da aldeia, na casa, no forno, no estábulo e no celeiro, no poço, no
paiol, no silo [...]” (MUMFORD, 1998, p. 19).
Nesse período a mulher teve um grande lugar de destaque, devido a organização social
do grupo, as palavras lar e mãe era expressada em todas as fases da agricultura neolítica, além
dos primeiros aldeamentos que vieram se consolidar devido o desenvolvimento agrícola. Foi a
mulher que pôr primeiro cuidou da terra, que fez a seleção e cruzamento das plantas com o

5Atividade de remexer a terra por meio do arado. A cultura do arado ampliou a energia limitada do manejador da enxada
primitiva com maior produção de energia dos animais de tração, que se alimentavam de grãos e capim. O resultado foi básico
para a revolução urbana e para o sustento dos artesãos urbanos, para os quadros dos dirigentes sacerdotais e militares e
proprietários de terra (FROST; HOEBEL, 2000, p. 120).
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intuito de enriquecer a alimentação e que utilizou o bastão e a enxada rústica para remexer a
terra. Foi a mulher que nesse período foi responsável pela criação da olaria e da cestaria.
Também outro possível mérito que podemos dar a mulher foi a criação dos primeiros
aldeamentos. As primeiras aldeias eram entendidas como pequenos úteros maternos, trazendo
a imagem de uma proteção dentro delas, estabelecendo uma segurança e assim proporcionado
o aumento da população.
De acordo com Mumford (1998), esse período histórico caracteriza-se com a forte presença
feminina na organização sociopolítica, sendo possível perceber tal domínio pela predominância de
recipientes confeccionados com pedras e cerâmicas, como vasos, jarros, tina, potes, depósitos,
celeiros, casa e de grandes obras coletivas com fossos de irrigação e a própria aldeia. O que se
percebe é que os traços da cultura material seguem as mesmas formas arredondadas do corpo da
mulher, dos seios que amamentam e do ventre que gesta uma nova vida. As obras da cultura
material, como a casa, a aldeia e até mesmo a cidade possuem o mesmo significado de “mãe”, que
é quem gesta, alimenta, cuida, protege e educa.
Contudo, com o acúmulo de alimentos o homem volta ao seu lugar de caçador, para proteger
a aldeia e a produção que pode se tornar alvo de saques. Nesse mesmo período o homem começa a
arar a terra para o aumento da produção, começa a conhecer e dominar novas tecnologias criando
novas ferramentas, dominando o metal e fundindo o minerário, fazendo que gradativamente o modo
de proteção, organização social vai tendo novas características. Dessa forma, a produção do capital
excedente permitiu ao homem de modo geral que:

[...] a energia alimentar disponível per capita na razão inversa à quantidade de energia
de trabalho gasta na sua produção. Isto significa que os excedentes cada vez maiores
de energia ficam disponíveis para outras utilizações sociais. O fato de serem tais
excedentes utilizados, ou não, e a maneira de os serem dependerão dos valores e fins
que caracterizem a cultura do povo. Mas, em geral a elevação das tecnologias de
subsistência dá como resultado níveis aperfeiçoados de complexidade social e
integração heterogênea e a diversidades de funções especializadas, de funcionários e
organização. (FROST, HOEBEL, 2000, p. 107, grifo do autor).

Dessa forma, temos novos tempos, novas funções e outras hierarquias, fazendo com que
a mulher perder seu poder para o homem, tendo assim a ascensão da sociedade patrilinear,
instituindo a sociedade marcas masculinas. Aqui, as relações são estabelecidas pelo homem,
bem como as propriedades que deixam de ser coletivas, e se tornam privadas, pertencente ao
homem, assim como também a mulher que passa ser um dos seus bens.
As condições físicas e biológicas e físicas do homem, garantiram o seu retorno ao lugar
de poder, como é possível afirmar segundo, Mumford (1998, p. 32):

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Certamente a coerção e a persuasão, a agressividade e a proteção, a guerra e a lei, o
poder e o amor, achavam-se igualmente solidificados nas pedras das mais antigas
comunidades urbanas, quando estas finalmente tomaram forma. Quando surgiu a
realeza, o senhor da guerra e o senhor da lei tornaram-se também o senhor da terra.

Com o estabelecimento da sociedade privada e do Estado, as formas sociais se


modificam, drasticamente, instituindo assim o patriarcado, onde a presença do homem passa a
ser dominante no grupo em todas as esferas da vida cotidiana, política e social, representando,
assim, a evolução do homem caçador para chefe político e sua ascensão ao poder. Para
Mumford (1998, p. 31), a figura do “[...] caçador exaltava a vontade de poder e acabava por
transferir sua perícia em matar animais de caça para a vocação mais altamente organizada de
arregimentar ou matar outros homens [...]”. A mulher definitivamente perde seu espaço, novas
estruturas, hierarquias se formam, fazendo com que elas percam totalmente o poder para o
homem, deixando de ter sua função honrosa para se tornar uma propriedade privada.

2.1 A lógica do poder no sistema patriarcal

As mudanças das famílias foram de fundamental importância para que os homens


passassem a ser únicos donos da propriedade. Como vimos, o homem quando deixa de ser o
caçador e passa a ser uma agente social e político a mulher se torna para ele um bem, no qual
seu único papel é servir as suas necessidades, tanto na esfera social, doméstica e também sexual,
pois o homem percebe que a gestar a mulher se torna uma fonte de produção de mão de obra,
pois para o homem os filhos é tido como uma força de trabalho, desempenhando os seus papeis
estabelecidos pela ordem estrutural e hierárquica patriarcal.
Ao perceber que com o acúmulo de capital excedente, a criação de rebanhos, a
domesticação das plantas e a própria terra, isso se torna uma fonte de riqueza, o homem vai
buscar para si, ele lugar de posse, pois está presente para ele uma realidade de novas riquezas,
riquezas estas a pertencer as gens6. Se no primeiro momento da história da humanidade a
descendência do grupo era estabelecida pela linhagem materna, passa agora vigorar a
descredencia da linhagem masculina, através da consolidação da propriedade privada. Para
Engels (2000), o desmoronamento do direito materno consolida a derrota do sexo feminino em
todo o mundo.

6 Gens em latim, Genos em grego, são palavras utilizadas para designar o grupo de descendência comum do pai chefe da
tribo, o que está unido por certas instituições sociais e religiosas, formando uma comunidade particular.
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O lugar da mulher passa ser o campo/ambiente privado, tendo como único objetivo
servir ao marido em todas as suas expectativas e desejos. O homem passa deter o poder da casa.
Agora é importante levantar a seguinte pergunta: De que forma as mulheres atuaram no
processo da própria subordinação? Se teve uma participação ativa das mulheres nesse sentindo
como ela se dá? Como ela se forma, como as mulheres são convencidas a essa posição e ao
repasse dessa posição para outras gerações?
Segundo Simone de Beauvoir em sua obra o segundo sexo de 1949: "O opressor não
seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos". Contudo, é preciso clarear
como se deu essa cumplicidade e como ele se dá. Por primeiro cria-se a ideia do público e
privado, favorecendo a ideia que no ambiente doméstico ela (mulher) estaria protegida de toda
a situação de perigo, no segundo ponto a mulher é convencida que a igualdade do mundo
público é nociva para as mulheres, porque elas precisam de proteção, trazendo em seu bojo que
no mundo as mulheres não podem se movimentar sozinhas, pois a igualdade não é benéficas a
elas, e por último é apresentado a ela a ideia de que a mulher no espaço público pertence a
todos, legitimando a ideia da “puta”, e nunca a si mesma, mantendo a desigualdade da estrutura
privada. Essa lógica, acaba legitimando que tudo que remete ao feminino é visto como negativo
e sem valor, tendo como por exemplo que para muitos homens e até mesmo para algumas
mulheres o trabalho doméstico não é tido como trabalho, mantendo assim a exploração da
mulher no cuidado das crianças, idosos...
A apropriação pelos homens da capacidade sexual e reprodutiva das mulheres que
ocorreu antes da formação da propriedade privada e da sociedade de classe e a mercantilização
das mulheres acaba sendo a fundação da propriedade privada. Antes de se apropriar dos campos,
rebanhos será os corpos das mulheres que serão apropriados. Se consegue estabelecer o que,
mais ou menos quando, mas não consegue estabelecer o porquê. As repostas que se tem para
os porquês elas foram econômicas, políticas ou biológicas, mas elas não consegue trazer uma
resposta completa, acabando sempre chegando a um ponto que não vai adiante.
Os estados arcaicos eram organizados na forma do patriarcado e vão ter o interesse na
permanência das famílias estruturadas de forma patriarcal. Os homens aprendem a dominação
e a hierarquia sobre outras pessoas, outros povos praticando com as mulheres de seu próprio
grupo. As primeiras criaturas escravizadas.
A subordinação sexual das mulheres foi institucionalizada já nos primeiros códigos
penais e as cooperações das mulheres era assegurada por meio da força e da dependência

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econômica em relação ao chefe homem da família. A ideia do sexo oposto é criado pelo
patriarcado.
O fato que essas construções metafóricas acaba convencendo as mulheres da ideia que
a subordinação é algo natural e ao ser natural ela se torna invisível e assim o patriarcado como
ideologia nasce.
A negação para as mulheres de sua própria história faz com que a aceitação ideológica
do patriarcado seja mais tranquila, efetiva pelas mulheres porque elas acabam vendo isso como
natural acaba destruindo a auto estima pessoal, pois elas acabam achando que não foram
construtoras de nada e todo nosso conhecimento passa ser visto como intuição e as conversas
como fofocas.
Quando surge a família patriarcal, em sua origem não se aplica aos sentimentos que
envolve os indivíduos da mesma família, no sentido que temos hoje.

[...] não se aplicava sequer ao par de cônjuges e aos seus filhos, mas somente aos
escravos. Famulos quer dizer escravos domésticos e família é o conjunto de escravos
pertencentes a um mesmo homem. Nos tempos de Gaio, a família “id est
patrimonium” (isto é, herança) era transmitida por testamento. A expressão foi
inventada pelos romanos para designar um novo organismo social, cujo chefe
mantinha sob seu poder a mulher, os filhos e certo número de escravos, com o pátrio
poder romano e o direito de vida e morte sobre todos eles. (ENGELS, 2000, p. 61,
grifo do autor).

A família patriarcal, se torna donos de todos os que de uma forma ou de outras estão ali
presente no aumento de sua riqueza. O escravo, os filhos, a mulher são vistos como uma mera
força de trabalho no qual ele tem o total domínio. Essa ideia de família até hoje é valorizada,
pois representa o poder do senhorio sobre a mulher, representando a unidade econômica da
sociedade.

A família num sistema social, funcionando como uma espécie - porque devemos
conferir grande importância à família e às mudanças que a têm alterado a sua estrutura
no decorrer do tempo. Não é por outra razão que a Constituição Federal dispensa
atenção especial à família, em seu art. 226 da Constituição Federal, ao estabelecer que
a família é base da sociedade e deve ter especial proteção do Estado. (BRASIL.
Câmara dos Deputados. Projeto de Lei PL 6.58/2013, p. 6).

Essa ideia da mulher como propriedade do homem, perdurou nas sociedades ocidentais
civilizadas até a segunda metade do século XX. A mulher poderia ser devolvida para o seu pai,
se caso o esposo comprovasse que ela não era mais virgem, e podendo matá-la em caso de

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adultério. Isso era tido como direito legal do homem sobre a mulher. A condição da "virgindade
da mulher" possibilitava à mulher ser escolhida por um homem para ser sua esposa. A
monogamia7, teve como desejo sustentar os direitos do homem sobre a propriedade, e para isso
passa a exigir “[...] fidelidade da mulher e, por conseguinte, a paternidade dos filhos, aquela é
entregue, sem reservas, ao poder do homem: quando este a mata, não faz mais do que exercer
o seu direito.” (ENGELS, 2000, p. 62). Mas, ao homem é garantindo o direito da infidelidade.
Nas sociedades escravagistas, e aqui citamos o Brasil, a condição da mulher era de total
humilhação da mulher pelo marido, tendo que suportar diariamente condições de abusos,
humilhações, como por exemplo ser submetida a aceitar a presença das amantes e dos filhos
tidos com elas no interior do seio de seu lar. Também era exigida a elas castidade e fidelidade
e podemos tomar como exemplo os famosos cintos de castidades usadas pelas mulheres no
período medieval. Assim, podemos afirmar que a ideia de monogamia foi exercido apenas pelas
mulheres e os homens eram livres para terem seus casos extraconjugais. Aqui peço licença para
fazer elocução de um ditado muito presente em nossa cultura mineira: "segura suas cabritas,
pois o meu bode está a solta".
A monogamia não surgiu como forma de reconciliação entre o homem e a mulher, nem
“[...] como a forma mais elevada de matrimônio. Pelo contrário, ela surge como forma de
escravização de um sexo pelo outro, como proclamação de um conflito entre os sexos [...]”
(ENGELS, 2000, p. 70). Ainda, como afirma o autor, “A primeira divisão do trabalho é o que
se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos.” (ENGELS, 2000, p. 70). Tal
divisão repercutiu para a divisão da sociedade em classes sociais.
Esta desarmonia é sentida até os dias de hoje, basta analisar as condições trabalhistas da
mulher durante a revolução Industrial no século XVIII e XIX, onde ela estava submetida a todos
os tipos de trabalho análogo a escravidão, opressão e abuso do proprietário pelo simples fato
dela ser mulher. Desde a criação do capitalismo, a mulher sempre esteve em desvantagem em
relação à posição que o homem ocupa e sempre ocupou em nossa sociedade. Basta vermos a
dupla jornada que muitas mulheres desenvolve, trabalho x família (lar). No auge do capitalismo
concorrencial8, a força de trabalho masculina é substituída pela feminina gradativamente,
passando a assumir cada vez mais os postos de trabalho. Destacamos, contudo, que essa
substituição pois a força de trabalho da mulher era mais barata para os proprietários.

7Casamento de um homem com uma mulher


8O Capitalismo concorrencial, época do domínio do liberalismo, alcança o seu auge durante os anos de 1860 a 1870. O
Capitalismo concorrencial teve como característica a existência em cada setor da economia capitalista (capital-comercial e
capital-produtivo) de empresários individuais concorrendo livremente no mercado.
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Atualmente, os direitos da mulher são garantidos por lei, como direito ao trabalho, mas
não podemos achar que a condição da mulher e sua posição da mulher mudou, pois basta
analisar dados do IBGE para vermos que o trabalho do homem é mais valorizado
economicamente do que o da mulher, ou seja, a mulher recebe pouco, pelo simples fato dela
ser mulher. Então podemos concluir que por mais que existam as leis que garantam os direitos
da mulher, assistimos uma disparidade entre homens e mulheres em pleno século XXI.

3. A INSERÇÃO DA MULHER NO MUNDO DO TRABALHO

A divisão de tarefas a partir de critérios sexuais é muito comum desde o início da


humanidade em quase todas as culturas. O texto bíblico que narra a criação no livro de Gêneses,
reforçou e ainda hoje reforça uma ideia, não só de divisão de papeis entre homem e mulher,
mas a ideia de inferioridade da mulher em relação ao homem. Justificado pelo erro da mulher,
que pecou.
No Brasil, o que sabemos da história dos povos originários são relatos a partir da cultura
dos colonizadores. Não temos como saber ao certo como era feita a divisão de trabalho entre os
povos originários, pois o que sabemos traz uma certa interpretação a partir da cultura dos
brancos que aqui chegaram. Porém, sabemos que nas comunidades indígenas existiam também
a divisão do trabalho a partir do sexo. O sexo masculino com a imagem do guerreiro, o sexo
feminino que cuida da casa e dos filhos.
Os negros escravizados em terras brasileiras também tinham sua força de trabalho
determinados pelos critérios sexuais. Os homens eram destinados a trabalhos de maior esforço
braçal, e as mulheres a trabalhos nas lavouras e espaço doméstico.
Na cultura dos colonizadores não era diferente, e esses traços de divisão entre o papel
do homem e o papel da mulher foram sendo reforçados ao longo da história do Brasil com o
sistema patriarcal.

3.1 Mulheres e mulheres

Desde o início da história do Brasil, no período colonial, as tarefas destinadas às


mulheres mudavam, não apenas pela diferença sexual, mas também eram determinadas de
acordo com a raça e a classe social em que a mulher pertencia. Mulheres escravizadas, índias e
negras, realizavam trabalhos pesados. Mulheres de colonos de classe baixa além de cuidar dos

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afazeres domésticos, em algumas situações precisavam ajudar os maridos em seus trabalhos.
As mulheres pertencentes a elite permaneciam dentro do ambiente doméstico realizando
trabalhos manuais.
Contudo, a participação das mulheres no mundo do trabalho não escravizado, se deu a
partir da classe pobre. A mulher começa a participar do trabalho em pequenas comércios nas
cidades e vilas. As mulheres alforriadas trabalham como ambulantes vendendo mantimentos e
produtos artesanais como doces e bolos, as chamadas “negras de tabuleiro”.
As esposas dos pequenos comerciantes, por permanecerem mais tempo que os homens
no ambiente doméstico, começam aos poucos a trabalhar no comércio. Algumas mulheres
conseguem construir pequenas vendas que se tornam ambientes sociais de grande circulação.
Era comum nestes ambientes haver prostituição.
Outro fator que levou as mulheres a realizarem trabalhos além dos afazeres domésticos,
foi a necessidade de manter sua família. Em algumas famílias o que o homem conseguia ganhar
com seu trabalho não era suficiente para manter a família, que costumava ser numerosa, e era
o trabalho da mulher que complementava a renda. Havia também casos de abandono ou viuvez,
em que a mulher tinha que buscar meios de sobrevivência. Ou longos períodos em que seus
maridos se ausentaram do ambiente familiar em busca de emprego. Em outros casos a mulher
era forçada pelo próprio marido a trabalhar para manter a família. (não sei se é preciso detalhar
mais atividades que as mulheres realizavam. Como: lavar roupas, cozinhar, costurar etc.)
Todos esses trabalhos realizados por mulheres não eram bem vistos pela sociedade. Que
julgava que o homem deveria suprir as necessidades da família, e que a mulher não deveria
possuir dinheiro. Além da questão da desvalorização moral ao se expor na realização de seus
trabalhos.
A mulher da classe baixa começa a trabalhar na sociedade por uma questão de
sobrevivência. Seu trabalho, apesar de muito desvalorizado, contribuiu para a economia e a
sociedade da época, mesmo não tendo reconhecimento histórico desta contribuição. A
participação da mulher no mundo do trabalho na história do Brasil não foi passiva, como narra
a maioria dos livros de história.
No período industrial as mulheres pobres começam a prestar serviços sobretudo nas
indústrias de tecidos. Com longas jornadas de trabalho e baixa remuneração. Ou prestavam
serviços em suas casas para as fábricas como costureiras. E outras trabalhavam no campo, nas
grandes plantações como “boias-frias”. Assumindo jornadas de trabalho duplas, e às vezes
triplas.

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As mulheres das classes mais altas tiveram maior dificuldade de inserção no mundo do
trabalho. Pois o poder de dominação masculina sobre elas não permitia que realizassem
atividades além da educação dos filhos e administração do lar.

3.2 Educação: instrumento de ascensão e revolução

No século XIX começam a surgir novas escolas para suprir as necessidades da época.
Escolas para meninos e meninas. E surge a necessidade de formar mulheres para a educação
das meninas. As mulheres, então, entram na atividade docente. A partir deste ambiente de
trabalho, algumas acabaram ganhando certa notoriedade e conquistando certa autoridade. A
pedagogia começa a ser vista como atividade tipicamente feminina. Um trabalho digno e
adequado.
O ambiente da pedagogia abre espaço para outras atividades profissionais que as
mulheres podem exercer na sociedade sempre ligadas a características que a sociedade da época
identificava como feminina, como a enfermagem, o serviço social, o secretariado.
Com o acesso à educação, muitas mulheres começam a escrever para jornais. Alguns
jornais surgem de iniciativas de mulheres.
As mulheres de classe alta tinham acesso a uma educação de melhor qualidade. Porém,
sua formação não lhe garantia acesso ao mercado de trabalho, por serem julgadas
intelectualmente inferiores aos homens para ocupar cargos.

Nos anos 50, com o desenvolvimento econômico, cresce a participação feminina no


mercado de trabalho, especialmente no setor de serviços de consumo coletivo, em escritórios,
no comércio ou em serviços públicos. Surgiram então mais oportunidades de emprego em
profissões como as de enfermeira, professora, funcionária burocrática, médica, assistente social,
vendedora etc. que exigiam das mulheres uma certa qualificação. O que demandou uma busca
maior por escolaridade feminina. A proporção de homens para mulheres com curso superior,
que em 1950 era de 8,6 para 1, baixou, em 1960, para 5,6.

4. A MULHER NO BRASIL: AVANÇOS E DESAFIO

O patriarcado está presente em toda a história do Brasil. Porém, mesmo com a força da
dominação masculina sobre as mulheres, muitas iniciativas para mudar esta realidade
acontecem desde o início da história. A mulher protagonizou esse caminho de revolução. Como
vimos até agora, mesmo com todo controle masculino as mulheres, por motivo de
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sobrevivência, enfrentaram a sociedade e foram em busca de ocupar espaços de trabalho no
espaço público.

Em (1822-1889), durante o período imperial passou a ser reconhecido o direito à


educação da mulher, tendo como expoente a senhora Nísia Floresta (Dionísia Gonçalves Pin,
1819-1885), fundadora da primeira escola para meninas no Brasil e grande ativista pela
emancipação feminina.

Durante a década de 90 algumas mudanças começam a ocorrer no mercado de trabalho.


Podemos sinalizar a greve das costureiras e a greve 1917 que a partir da influência de imigrantes
europeus (italianos e espanhóis) e das inspirações anarco-sindicalistas, que reivindicam
melhores condições de trabalho em fábricas, em sua maioria têxtil, onde predominava a força
de trabalho feminina. Entre as exigências das paralisações, estavam a regularização do trabalho
feminino, a jornada de oito horas e a abolição de trabalho noturno para mulheres. No mesmo
ano, foi aprovada a resolução para salário igualitário pela Conferência do Conselho Feminino
da Organização Internacional do Trabalho e a aceitação de mulheres no serviço público.

Ainda no início do século XX, são retomadas as discussões acerca da participação de


mulheres na política do Brasil. Foi fundada então, em 1922, a Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino, onde os principais objetivos eram a batalha pelo voto e livre acesso das
mulheres ao campo de trabalho. Em 1928, é autorizado o primeiro voto feminino (Celina
Guimarães Viana, Mossoró-RN), mesmo ano em que é eleita a primeira prefeita no país (Alzira
Soriano de Souza, em Lajes-RN). Ambos os atos foram anulados, porém abriram um grande
precedente para a discussão sobre o direito à cidadania das mulheres.

Alguns anos depois, em 24 de Fevereiro de 1932, no governo de Getúlio Vargas, é


garantido o sufrágio feminino, sendo inserido no corpo do texto do Código Eleitoral Provisório
(Decreto 21076) o direito ao voto e à candidatura das mulheres, conquista que só seria plena na
Constituição de 1946. Um ano após o Decreto de 32, é eleita Carlota Pereira de Queiróz,
primeira deputada federal brasileira, integrante da assembleia constituinte dos anos seguintes.

Durante o período que antecedeu o Estado Novo, as militantes do feminismo


divulgavam suas ideias por meio de reuniões, jornais, explicativos, e da arte de maneira geral.
Todas as formas de divulgação da repressão sofrida e os direitos que não eram levados em

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consideração, eram válidas. Desta forma, muitas vezes aproveitam greves e periódicos
sindicalistas e anarquistas para manifestarem sua luta, conquistas e carências.

Entre os dois períodos ditatoriais vividos pelo Brasil, o movimento perde muita força.
Destacando conquistas como a criação da Fundação das Mulheres do Brasil, aprovação da lei
do divórcio, e a criação do Movimento Feminino Pela Anistia no ano de 1975, considerado
como o Ano Internacional da Mulher, realizando debates sobre a condição da mulher. Nos anos
80 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, que passaria a Secretaria de Estado
dos Direitos da Mulher, e passou a ter status ministerial como Secretaria de Política para as
Mulheres.

Na década de 80 foram implantadas as primeiras políticas públicas com recorte de


gênero. O primeiro conselho Estadual da Condição Feminina, em 1983, e a 1ª Delegacia de
Polícia de Defesa da Mulher, em 1985, ambos no Estado de São Paulo. Já em 1988, com a nova
constituinte, é incluído temas que tange a mulher, relativos à saúde, famílias, trabalho,
violência, discriminação, cultura e propriedade da terra.

A partir dos anos 2000 houve grandes avanços significativos no direitos das mulheres.
No ano de 2002 é promulgado o decreto nº 4.377 de 13 de setembro de 2002 que promulga a
Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, de 1979.
Em 2003 é criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres, órgão Federal que tem como um
dos seus trabalhos o canal de denúncias, o ligue 180. Em 2006 é criada a lei Maria da Penha,
um grande marco no combate à violência contra a mulher. Em 2015 é sancionada a lei 13.104/15
que qualificou o crime de feminicídio, alterando o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40) e
estabelecendo o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. E
recentemente em 2018 o Senado Federal aprovou a nova lei para a licença-maternidade de 120
para 180 dias. Por fim destacamos a Agenda das Nações Unidas (ONU) de 2030 - Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável- que em seu objetivo número cinco destaca a igualdade de
gênero.

Concluindo, destacamos que as Políticas públicas devem ser elaboradas para atender às
carências da população feminina, para impor a igualdade de gênero, assegurar a vida da mulher,
garantir sua participação em espaços onde não estão presentes ou sofrem preconceito, combater
o assédio velado ou explícito, entre tantas outras questões.

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REFERÊNCIAS

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C27E515DF6EEB0712A562.proposicoesWeb2?codteor=1398893&filename=Avulso+-
PL+6583/2013>. Acesso em: 06 nov. 2021.

BRASIL. Decreto nº 4.377, de 13 de setembro de 2002. Promulga a Convenção sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e revoga o Decreto
no 89.460, de 20 de março de 1984. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4377.htm>. Acesso em: 03 nov. 2021.

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