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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

AYRTON RENNAN GOMES LIMA MELO DA SILVA

AMÉRICA INDÍGENA: SOCIEDADE MAIA E TUPI

NAZARÉ DA MATA
2022
OS MAIAS

A sociedade Maia nasceu e floresceu na Península de Yucatán, no


México, uma região particularmente hostil por causa das condições adversas para o
estabelecimento de grupos humanos. Começando pelo aspecto geográfico, mesmo
com um período regular de chuvas entre junho e outubro a região é propensa à seca
e com poucos rios para prover recursos hídricos, limitando também as
possibilidades para a agricultura. Mesmo as regiões alagadas dos pântanos não
poderiam suprir a necessidade de água já que eram excessivamente salgadas para
uso e consumo. A engenhosa superação desse desafio se deu por meio de
aquedutos e cisternas que filtravam e armazenavam águas pluviais. Ainda pensando
nos desafios para o assentamento dos maias, outra foi a pouca diversidade de
animais para domesticação e pecuária, sendo cachorros e patos os mais comuns,
todavia a diversidade de vegetais e legumes cultivados pelos maias, sendo os
diversos tipos de milho o exemplo mais importante, forneciam uma alimentação rica
e saudável.
O milho também está presente nas narrativas religiosas, e a religião é
muito importante na sociedade, pois os maias acreditavam que os deuses haviam
criado os seres humanos do milho. Esses deuses eram variados com muitas
atribuições distintas entre si, a proteção e regência de uma cidade é um exemplo. O
calendário também era composto de elementos simbólicos religiosos, com eventos e
ciclos de atividades religiosas. A astronomia, ciência na qual os maias tinham grande
conhecimento, também era elemento de constituição do calendário, e portanto da
religiosidade, e aos astros eram atribuídas características que influenciavam as
atividades cotidianas e até aspectos do indivíduo que estavam regência.Os reis das
cidades concentravam em si o poder e a influência tanto política como religiosa,
sendo uma das principais autoridades pelas atribuições de rei-deus. Devido a sua
posição, cabia ao rei também as maiores demonstrações de devoção por meio de
sacrifício. A vida humana era considerada sagrada e preciosa, tornando o sangue a
oferta mais natural em razão de seu valor. A quantidade e os meios variam pela
posição social das pessoas, os mais elevados tendo os maiores deveres, e portanto
maior era o sacrifício necessário.
No que se refere ao modo de organização dos maias, a estrutura política
e social se assemelhava, em parte, às cidades gregas do período clássico. A
principal comparação está na forma de poder centralizado na figura de um líder, no
caso um rei, que controla a cidade-estado e suas zonas de influência. Fisicamente
as cidades eram divididas também nos centros de poder, com os templos religiosos
e políticos, e as áreas urbanizadas com a população se estabelecia. O rei também
tem a função de autoridade dentro da estrutura militar, como é comum nas
sociedades estatais e bélicas. O trono era comumente ocupado por uma figura
masculina, mas houveram rainhas que exerceram a soberania como sucessoras e
antecessoras de maridos e filhos. A sucessão do poder era hereditária mas poderia
ser interrompida caso da captura do rei por um outro adversário, que escolhia o
novo sucessor, ou conquistada mediante golpe. A legitimidade de um rei estava
diretamente ligada com o status divino atribuído ao ocupante do trono, mas em um
período conturbado em que a população estivesse encontrando dificuldades para
manter a subsistência, a narrativa religiosa também poderia se fazer associar com a
ideia de deuses irados com um governante ruim que precisa ser deposto.
A dinâmica das cidades também passa pela vida privada das pessoas,
que se organizavam em núcleos familiares e dividiam as atividades pelo gênero da
pessoa. Começando pelas atribuições masculinas, a mais importante é, sem dúvida,
a guerra. Os homens, inclusive o rei e a nobreza, faziam parte do corpo militar do
exército da cidade. Também os homens ficavam nos campos e trabalhavam na
agricultura, sendo responsáveis pela produção. As mulheres por sua vez tinham
suas funções mais limitadas ao espaço doméstico, como a cozinha, que era
composto por um espaço comum sem muitos móveis e decorações materiais, que se
expandiam na medida que a família crescia, por casamento ou nascimento de filhos.
Os casamentos eram acordos feitos pelas famílias dos indivíduos e uma vez
casados os indivíduos passavam a viver, como idealização, inicialmente com a
família da mulher e posteriormente com a do homem. Mesmo sem muitos posses
materiais domésticas, como móveis, os maias tinham apreço por adereços como
jóias. As posses pessoais eram passadas de pai para filho e de mãe para filha.
Umas das atividades mais comuns aos maias era a reunião familiar, e nas
festividades haviam apresentações musicais e de poesia, ressaltando o caráter
artístico dos maias.
A guerra é um dos aspectos mais relevantes da sociedade maia,
principalmente por envolver os diferentes aspectos da sociedade como economia,
política e religião. As razões para as cidades entrarem em conflito podiam ser das
mais variadas, desde a necessidade de ampliar seu controle de uma região,
desentendimentos políticos ou rivalidades alimentadas com o passar de gerações.
Como a península de Yucatán era de difícil locomoção, era necessário uma
preparação para as campanhas. Os soldados precisavam de recursos como comida,
água e suas armas, as mais comuns eram espadas e as melhores eram feitas de
obsidiana, e que precisavam ser transportadas por servos para que os guerreiros
estivessem em plena forma. Além disso, a viagem poderia demorar meses e muito
da produção da lavoura acabavam sendo recolhidos para as campanhas. As guerras
também afetavam a vida cotidiana já que as cidades eram invadidas e pilhadas, os
templos religiosos também eram saqueados e esse fato acaba por também
modificar a dinâmica entre as cidades. Uma vez que as batalhas acabavam com a
captura do rei, que acabava por ser sacrificado, e outro sucessor que não sua
linhagem assumia o trono, a dinâmica política acabava por ser modificada e, por
vezes, abalada e enfraquecida.
Uma das questões mais levantadas sobre o povo maia é em relação ao
seu chamado fim. Primeiro é necessário esclarecer que a população maia deixou
descendentes que vivem no México e se esforça para manter as práticas e cultura,
principalmente a linguagem, de seus ancestrais. Mas é um fato que os maias como
do período que antecedeu a chegada dos espanhóis não existem mais e uma série
de fatores influenciaram as mudanças. O primeiro elemento está justamente na
região em que estavam assentados. A península de Yucatán passou por uma
grande seca e fez reduzir a produção de comida, eventualmente trazendo fome.
Também as guerras nas quais os maias estavam frequentemente envolvidos
esgotaram os recursos da cidades e levou muitos indivíduos a entrarem em um
processo de abandono das grandes cidades. Finalmente a chegada dos espanhóis
de maneira hostil que investiu contra uma já fragilizada sociedade, que apesar disso
resistiu aos assédios por muito tempo. Também os europeus trouxeram consigo
doenças para as quais os maias não tinham defesas biológicas, e acabou por se
espalhar nas cidades e reduzir muito a população dos nativos. Mesmo com a perda
de muito dos recursos que poderiam esclarecer aspectos ainda desconhecidos dos
maias, eles ainda se fazem presentes e resistindo em sua cultura.
OS TUPÍ

O povo tupi pode ser entendido como um grupo etnico diversificado e que
compartilhava características culturais, principalmente linguísticas, e práticas
sociais. Estavam estabelecidos ao longo de toda costa leste do sul do continente
americano, mais especificamente na região da mata atlântica, espaço de grande
diversidade animal e vegetal. Apesar da densidade da mata, os nativos conseguiram
desenvolver formas e técnicas para se estabelecerem naquela região, e coexistir
com a biodiversidade. Um dos exemplos é a domesticação de plantas venenosas
como a mandioca, que fazia parte da alimentação dos tupis. O consumo de animais
também era regular, com pratos cozidos. A região também é cheia de rios
navegáveis que forneciam peixe e eram usados para locomoção. A grande extensão
da mata atlântica era imensamente povoada, e os diferentes grupos tupi que
existiam mantinham relações distintas entre si, podendo variar entre uma intensa
amizade ou uma rivalidade alimentada por muitas gerações.
A relação dos indígenas com a terra onde viviam se manifesta nos
elementos xamanísticos e animistas e sua religião. Começando pela ideia de que a
lua, as plantas, animais e outros elementos da natureza são dotados de espírito.
Esses espíritos poderiam auxiliar e guiar ou agir contra o indivíduo, mas por vezes
sendo indiferentes ou alheios a eles. No convívio do grupo o indivíduo que detém
autoridade no aspecto religioso é denominado pajé, que também é quem possui
conhecimentos de ordem medicinal. Em ambos os casos, de males da natureza ou
de desequilíbrio espiritual, o pajé se utilizava de das plantas da mata, em forma de
consumo ou a fumaça, de quando as plantas eram queimadas, para o tratamento e
cura. Como é comum em todos os sistemas de crença, os mitos dos indígenas
buscavam por meio das narrativas criar explicações para eventos e fenômenos
naturais que os envolviam. O ciclo mitológico de Jaci, a lua, é um exemplo, pois a
narrativa traduz em sua própria linguagem o movimento do satélite da terra. Bem
como a lua, os tupis compreendiam outros aspectos astronômicos e espaciais e
incorporaram aos seus conhecimentos e mitos, esse conhecimento era empregado
para determinação dos ciclos de plantação e colheita. Outro ponto relevante na
crença tupi era a ideia da existência da “Terra sem mal”, que de modo simplista era
um espécie de paraíso que poderia ser encontrado no processo de migração.
Os diversos grupos tupi eram semi-nômades, o que significa que eles
faziam assentamentos temporários e passavam alguns períodos antes de mudarem
para uma região próxima. Mitologicamente essas mudanças tinham relação com a
busca da Terra sem mal, no aspecto cultural entretanto era uma forma que os tupis
tinham para controlar o tamanho de uma população em uma aldeia, além de ser uma
forma de evitar a formação de um estado nação. Os tupis eram um povo sem
centralidade de poder, portanto sem estado, as figuras de autoridade dentro de sua
comunidade eram o pajé e os morubixabas, os líderes clânicos das famílias de uma
aldeia, que se reuniam em conselho. As aldeias são organizadas partindo de um
centro aberto que era circundado pelas malocas, uma habitação ampla e sem
divisão de cômodos onde os clãs residiam, e toda aldeia era protegida por uma
estrutura feita de estacas de madeira que a envolviam circularmente. Fora dos
limites da estrutura defensiva ficava uma área destinada ao cultivo das plantas
domesticadas pelos indígenas. Sendo os tupi identificados por suas práticas em
comum, essa é a configuração que os caracteriza, de modo que diferentes grupos
vão ter outras dinâmicas em suas respectivas aldeias.
A vida cotidiana nas aldeias se baseava nas atividades exercidas pelos
indivíduos. Semelhante aos maias, os tupi tinham um lógica de divisão das
atribuições baseada no gênero do indivíduo. Na perspectiva tupi, o gênero estava
tão atrelado às funções na aldeia que elas efetivamente determinavam sua
identidade como masculina ou feminina. Aos homens cabiam funções como a caça
e a guerra, que emulam as características animais, e as mulheres se ocupavam das
atividades manuais mais elaboradas como cozinha e artesanato. As cerâmicas
também são parte do que caracteriza a arte tupi, a estética é baseada em formas
geométricas pintadas nas cerâmicas ou nos corpos. A formação das famílias tupi se
dava através dos casamentos, e os indivíduos passavam a viver na maloca da
família da mulher, também forma de representar o compromisso assumido com a
família e seu patriarca. Somente o chefe da família se relacionava com mais de uma
parceira, por lógica que funciona pensando na relação de aumento do clã pela prole
e aumento de produção por parte das mulheres, para os demais as relações se
limitavam à monogamia. Não sendo materialistas e vivendo basicamente de
subsistência, os excedentes eram compartilhados entre os membros sem distinções
mas com prestígio aos que mais contribuíram. Apesar de não serem pecuaristas, os
indígenas domesticaram espécies de pássaros que serviam de mascotes.
Um dos elementos que caracterizam os tupi é a guerra e como sua
dinâmica de conflito faz sentido dentro do contexto de sua cultura. Uma vez que os
tupi não registravam sua história na escrita com livros ou em estruturas
arquitetônicas, a guerra se torna instrumento de manutenção da memória, através
das alianças e rivalidades construídas ao longo de gerações de conflitos. A guerras
também tinham uma função de rito de passagem para a vida adulta dos jovens, que
se tornavam homens ao fazer um prisioneiro de guerra, o prisioneiro por sua vez
faria parte do ritual antropofágico, que também era parte dos elementos da guerra
tupi. O consumo de carne humana era feito seguindo uma série de práticas e rituais
que poderiam levar meses ou anos para serem concretizados. O ritual antropofágico
reunia várias tribos aliadas que faziam uma festividade em que consumiam bebida,
inclusive o prisioneiro que seria consumido, e faziam encenações teatrais de
juramentos de vingança, contribuindo para a manutenção da memória. A forma de
consumo da carne também seguia uma lógica, com os homens comendo os
músculos e as mulheres preparavam um cozido, o que ressalta as atribuições
técnicas das atividades femininas. Também nesse ritual havia uma ideia de que ao
consumir a carne do indivíduo, também seus atributos e qualidades seriam
absorvidos. Com o propósito de manter a história do povo por meio dos conflitos as
aldeias não eram saqueadas e destruídas, já que da existência dela e de suas
populações que o processo de preservação da memória e da identidade acontecia.
O povo tupi sofreu grandes mudanças em sua dinâmica social e cultural
desde a chegada dos portugueses no Brasil. Começando pela mudança espacial,
uma vez que houve uma ocupação e devastação massiva da Mata Atlântica e isso
naturalmente interferiu na disposição dos indígenas no território, sendo empurrados
cada vez mais para o Oeste. Com o contato com os ibéricos também se modificou a
língua, os tupi precisavam utilizar uma língua imposta pelos jesuítas e pela coroa
portuguesa. Esse fato fez com que a língua original tupi, e suas variações da época
da América Indígena, fosse perdida. A escravidão também afetou os nativos que
inicialmente serviram cmo mão de obra. Todavia talvez o maior impacto seja no
aspecto religioso, pois os jesuítas fizeram dos indígenas os principais alvos de sua
missão de conversão ao cristianismo. Esse contato, entretanto, não eliminou a etnia
tupi que existe, mesmo que com distinções do período pré-colonial, nas identidades
de seus descendentes que se reconhecem como tupi e fazem um trabalho de
resgate e manutenção da sua cultura.
BIBLIOGRAFIA

SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; LEÃO, Karl Schurster Sousa. Das Batalhas
Gregas à Ciberguerra. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 2018. PP. 155-175.
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. A vida nas aldeias dos Tupi da costa. Universidade
de São Paulo.
Rise of Maya, 2018 (15min). Publicado pelo canal Kings and Generals.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sK9yv5wAoY0> Acesso em:
03/06/2022 Maya Star Wars: Tikal - Calakmul War, 2018 (16min). Publicado pelo
canal Kings
and Generals. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=heeOSwoBOjk>
Acesso em: 03/06/2022
Why did Maya civilization collapse. 2018 (13min). Publicado pelo canal Kings and
Generals. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SxwxTgFVUDE>
Acesso em: 03/06/2022
DOCUMENTÁRIO CIVILIZAÇÕES PERDIDAS, ( OS MAIAS ) O SANGUE DOS
REIS, PROJETO CIDADANIA EM D. 2016 (1h 17min). Publicado pelo canal
Counyt Luony. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dBrjRqvqK2I>
Acesso em: 03/06/2022

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