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NAZARÉ DA MATA
2022
OS MAIAS
O povo tupi pode ser entendido como um grupo etnico diversificado e que
compartilhava características culturais, principalmente linguísticas, e práticas
sociais. Estavam estabelecidos ao longo de toda costa leste do sul do continente
americano, mais especificamente na região da mata atlântica, espaço de grande
diversidade animal e vegetal. Apesar da densidade da mata, os nativos conseguiram
desenvolver formas e técnicas para se estabelecerem naquela região, e coexistir
com a biodiversidade. Um dos exemplos é a domesticação de plantas venenosas
como a mandioca, que fazia parte da alimentação dos tupis. O consumo de animais
também era regular, com pratos cozidos. A região também é cheia de rios
navegáveis que forneciam peixe e eram usados para locomoção. A grande extensão
da mata atlântica era imensamente povoada, e os diferentes grupos tupi que
existiam mantinham relações distintas entre si, podendo variar entre uma intensa
amizade ou uma rivalidade alimentada por muitas gerações.
A relação dos indígenas com a terra onde viviam se manifesta nos
elementos xamanísticos e animistas e sua religião. Começando pela ideia de que a
lua, as plantas, animais e outros elementos da natureza são dotados de espírito.
Esses espíritos poderiam auxiliar e guiar ou agir contra o indivíduo, mas por vezes
sendo indiferentes ou alheios a eles. No convívio do grupo o indivíduo que detém
autoridade no aspecto religioso é denominado pajé, que também é quem possui
conhecimentos de ordem medicinal. Em ambos os casos, de males da natureza ou
de desequilíbrio espiritual, o pajé se utilizava de das plantas da mata, em forma de
consumo ou a fumaça, de quando as plantas eram queimadas, para o tratamento e
cura. Como é comum em todos os sistemas de crença, os mitos dos indígenas
buscavam por meio das narrativas criar explicações para eventos e fenômenos
naturais que os envolviam. O ciclo mitológico de Jaci, a lua, é um exemplo, pois a
narrativa traduz em sua própria linguagem o movimento do satélite da terra. Bem
como a lua, os tupis compreendiam outros aspectos astronômicos e espaciais e
incorporaram aos seus conhecimentos e mitos, esse conhecimento era empregado
para determinação dos ciclos de plantação e colheita. Outro ponto relevante na
crença tupi era a ideia da existência da “Terra sem mal”, que de modo simplista era
um espécie de paraíso que poderia ser encontrado no processo de migração.
Os diversos grupos tupi eram semi-nômades, o que significa que eles
faziam assentamentos temporários e passavam alguns períodos antes de mudarem
para uma região próxima. Mitologicamente essas mudanças tinham relação com a
busca da Terra sem mal, no aspecto cultural entretanto era uma forma que os tupis
tinham para controlar o tamanho de uma população em uma aldeia, além de ser uma
forma de evitar a formação de um estado nação. Os tupis eram um povo sem
centralidade de poder, portanto sem estado, as figuras de autoridade dentro de sua
comunidade eram o pajé e os morubixabas, os líderes clânicos das famílias de uma
aldeia, que se reuniam em conselho. As aldeias são organizadas partindo de um
centro aberto que era circundado pelas malocas, uma habitação ampla e sem
divisão de cômodos onde os clãs residiam, e toda aldeia era protegida por uma
estrutura feita de estacas de madeira que a envolviam circularmente. Fora dos
limites da estrutura defensiva ficava uma área destinada ao cultivo das plantas
domesticadas pelos indígenas. Sendo os tupi identificados por suas práticas em
comum, essa é a configuração que os caracteriza, de modo que diferentes grupos
vão ter outras dinâmicas em suas respectivas aldeias.
A vida cotidiana nas aldeias se baseava nas atividades exercidas pelos
indivíduos. Semelhante aos maias, os tupi tinham um lógica de divisão das
atribuições baseada no gênero do indivíduo. Na perspectiva tupi, o gênero estava
tão atrelado às funções na aldeia que elas efetivamente determinavam sua
identidade como masculina ou feminina. Aos homens cabiam funções como a caça
e a guerra, que emulam as características animais, e as mulheres se ocupavam das
atividades manuais mais elaboradas como cozinha e artesanato. As cerâmicas
também são parte do que caracteriza a arte tupi, a estética é baseada em formas
geométricas pintadas nas cerâmicas ou nos corpos. A formação das famílias tupi se
dava através dos casamentos, e os indivíduos passavam a viver na maloca da
família da mulher, também forma de representar o compromisso assumido com a
família e seu patriarca. Somente o chefe da família se relacionava com mais de uma
parceira, por lógica que funciona pensando na relação de aumento do clã pela prole
e aumento de produção por parte das mulheres, para os demais as relações se
limitavam à monogamia. Não sendo materialistas e vivendo basicamente de
subsistência, os excedentes eram compartilhados entre os membros sem distinções
mas com prestígio aos que mais contribuíram. Apesar de não serem pecuaristas, os
indígenas domesticaram espécies de pássaros que serviam de mascotes.
Um dos elementos que caracterizam os tupi é a guerra e como sua
dinâmica de conflito faz sentido dentro do contexto de sua cultura. Uma vez que os
tupi não registravam sua história na escrita com livros ou em estruturas
arquitetônicas, a guerra se torna instrumento de manutenção da memória, através
das alianças e rivalidades construídas ao longo de gerações de conflitos. A guerras
também tinham uma função de rito de passagem para a vida adulta dos jovens, que
se tornavam homens ao fazer um prisioneiro de guerra, o prisioneiro por sua vez
faria parte do ritual antropofágico, que também era parte dos elementos da guerra
tupi. O consumo de carne humana era feito seguindo uma série de práticas e rituais
que poderiam levar meses ou anos para serem concretizados. O ritual antropofágico
reunia várias tribos aliadas que faziam uma festividade em que consumiam bebida,
inclusive o prisioneiro que seria consumido, e faziam encenações teatrais de
juramentos de vingança, contribuindo para a manutenção da memória. A forma de
consumo da carne também seguia uma lógica, com os homens comendo os
músculos e as mulheres preparavam um cozido, o que ressalta as atribuições
técnicas das atividades femininas. Também nesse ritual havia uma ideia de que ao
consumir a carne do indivíduo, também seus atributos e qualidades seriam
absorvidos. Com o propósito de manter a história do povo por meio dos conflitos as
aldeias não eram saqueadas e destruídas, já que da existência dela e de suas
populações que o processo de preservação da memória e da identidade acontecia.
O povo tupi sofreu grandes mudanças em sua dinâmica social e cultural
desde a chegada dos portugueses no Brasil. Começando pela mudança espacial,
uma vez que houve uma ocupação e devastação massiva da Mata Atlântica e isso
naturalmente interferiu na disposição dos indígenas no território, sendo empurrados
cada vez mais para o Oeste. Com o contato com os ibéricos também se modificou a
língua, os tupi precisavam utilizar uma língua imposta pelos jesuítas e pela coroa
portuguesa. Esse fato fez com que a língua original tupi, e suas variações da época
da América Indígena, fosse perdida. A escravidão também afetou os nativos que
inicialmente serviram cmo mão de obra. Todavia talvez o maior impacto seja no
aspecto religioso, pois os jesuítas fizeram dos indígenas os principais alvos de sua
missão de conversão ao cristianismo. Esse contato, entretanto, não eliminou a etnia
tupi que existe, mesmo que com distinções do período pré-colonial, nas identidades
de seus descendentes que se reconhecem como tupi e fazem um trabalho de
resgate e manutenção da sua cultura.
BIBLIOGRAFIA
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Gregas à Ciberguerra. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 2018. PP. 155-175.
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Acesso em: 03/06/2022