Você está na página 1de 7

POVOS AMERÍNDIOS

QUEM CONTA A HISTÓRIA?


O estudo da História é sempre baseado em fontes históricas (que podem ser imagens,
escritos, fontes arqueológicas, fontes orais, etc.). Isso significa que as fontes são a
base da narrativa histórica, e tem grande importância para compreendermos o período
histórico que queremos estudar.

Quando estudamos os povos ameríndios, aqueles que dominavam o continente


americano antes da chegada dos espanhóis, é preciso entender que as fontes históricas
disponíveis são, em sua maioria, produzidas pelos espanhóis. Portanto, foram formadas
a partir do olhar europeu sobre os indígenas e a conquista da América. Muitas
das fontes produzidas pelos próprios povos da América foram destruídas durante o
processo de conquista, ou mesmo antes, por outros povos que habitavam a América.

As fontes disponíveis hoje são escritas (como documentos administrativos e


religiosos, textos literários, calendários etc.) e arqueológicas. Elas são essenciais para
compreendermos o outro lado da narrativa oficial, criada por navegadores, escritores e
historiadores europeus, sobre a conquista da América pelos espanhóis.

MAIAS
Os maias foram uma das principais civilizações a ocupar a América antes da chegada
dos espanhóis em 1492. Essa civilização se formou na Península do Iucatã, região da
Mesoamérica, onde hoje é a América Central.

Os espanhóis não tiveram contato com os maias durante o ápice dessa civilização, ao
contrário do que ocorreu com os astecas e os incas, pois os maias já haviam se dispersado
para o restante da península séculos antes da chegada de Cristóvão Colombo.

Não se sabe exatamente o motivo para a dispersão da população maia, mas fontes
indicam que esse processo tenha iniciado por volta de 950.

Agricultura: Inicialmente era feito o cultivo do milho por meio da agricultura de coivara,
uma técnica de queima de parte da vegetação para adubar o solo antes do plantio.
A produção agrícola era feita de forma itinerante, levando à formação de aldeias
temporárias. Com o maior desenvolvimento dessa sociedade, passaram a produzir
também algodão, cacau, e frutas diversas, além de criarem cães, abelhas e perus.

www.aprovatotal.com.br 1
Usavam principalmente ferramentas de madeira e pedra, apesar de usarem também
Povos Ameríndios

machados de cobre. Passaram a exportar parte da produção de sal e obsidiana para


outras regiões da Mesoamérica. Participavam das intensas trocas comerciais com a
cidade de Teotihuacan.

Sistema político: Os maias habitavam cidades independentes umas das outras. Essas
cidades-Estado eram governadas por reis e por conselhos de nobres.

Cultura: Arquitetura de grandes e suntuosos


monumentos, incluindo pirâmides usadas
em rituais religiosos. Desenvolveram uma
escrita hieroglífica, somente parcialmente
decifrada.

Religião: Os maias eram politeístas e


faziam cultos a deuses representantes
da natureza e da fertilidade, com deuses
da chuva, do vento e do milho. Durante
grandes secas, faziam sacrifícios animais e
humanos em nome dos deuses. Pirâmide de Kukulcán, no atual México.

CIDADE DE TEOTIHUACAN
Não se sabe se a cidade de Teotihuacan era o centro de algum império ou reino, mas
seu legado influenciou as culturas maia e asteca.

Era uma cidade dedicada ao artesanato e ao comércio, tanto o comércio interno, com
feiras na cidade de Teotihuacan, quanto comércio externo, se conectando a uma extensa
rede comercial que cortava toda a Mesoamérica. Havia também a produção agrícola,
mas, em seu auge, a maioria dos habitantes se dedicavam ao comércio e ao artesanato.

Cidade com milhares de habitantes, com


fontes indicando que chegou até 170 mil
habitantes. No seu auge, Teotihuacan
era um grande centro de migração de
populações vizinhas, e se tornou um destino
de migração religiosa, graças à construção
de pirâmides e templos, como as pirâmides
do Sol, da Lua e de Quetzalcoatl. Havia
um grande e complexo planejamento
urbano que organizava o imenso fluxo de
pessoas. Pirâmide do Sol, em Teotihuacán (atual México).

Entre os anos de 650 a 750, houve um incêndio que destruiu grande parte da estrutura
da cidade, e forçou milhares de habitantes a abandonarem Teotihuacan. Boa parte
desses habitantes migraram para áreas de ocupação maia.

2
ASTECAS

Povos Ameríndios
A civilização asteca, assim como os Maias, se desenvolveu na Mesoamérica, região
também conhecida como América Central. O chamado “império” asteca era, na
verdade, um conjunto de alianças, confederações e relações tributárias entre vários
povos vivendo em um local comum. A principal cidade era Tenochtitlán, que teve sua
posição hegemônica consolidada com o governo do rei Moctezuma I (1440 - 1469).
Tenochtitlán era uma enorme cidade, muito povoada, cosmopolita e com intenso
comércio e trânsito de pessoas de toda a região.

A civilização asteca se constituiu a partir de uma grande diversidade de culturas,


etnias e ideias, graças às trocas culturais com povos vizinhos, dominados ou não.

Na época da invasão espanhola, a civilização asteca era composta de pequenos


estados diversificados quanto a língua e etnia, politicamente autônomos, porém
dominados economicamente e militarmente pela Tríplice Aliança, composta pelas três
cidades mais importantes: Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopan. Os povos ou províncias
dominadas deveriam pagar impostos em cereais, tecidos de algodão, fibra de agave
ou cacau. Quando da conquista, os espanhóis se utilizaram da insatisfação de vários
desses povos sobre o domínio asteca para enfraquecer o Império.

Sociedade: Os astecas tinham uma sociedade bem estratificada, com uma nobreza
hereditária, uma nobreza de origem militar, comerciantes especializados (residentes
na cidade de Tlatelolco), artesãos reunidos em organizações profissionais, diversas
categorias rurais e urbanas, e serviçais. Apesar de estratificada, a pirâmide social asteca
era dinâmica, permitindo a ascensão social através, principalmente, do trabalho militar.

A sociedade era dominada pelos sacerdotes e pelos dignitários. Os primeiros eram


membros de alta importância para a religião asteca, e eram responsáveis pelo culto aos
deuses, pela educação de jovens aristocratas e pela direção de hospitais. Os dignitários
eram membros de alto escalão do exército ou do governo, não pagavam impostos e não
trabalhavam na agricultura.

A população comum deveria prestar serviço militar, pagar impostos e participar do


trabalho coletivo (manutenção de caminhos e canais, construção de monumentos,
diques etc.). Como compensação, tinham direito, a partir da maioridade (casamento,
ou após os 25 anos de idade) a um lote de terra para a construção de uma casa e
para cultivar seu próprio sustento. Recebiam gêneros alimentícios e vestimentas, e as
crianças (tanto meninos quanto meninas) recebiam educação gratuita.

Os serviçais, ou escravos, poderiam ser condenados pela justiça e deveriam trabalhar


para a coletividade ou para aqueles que haviam prejudicado, prisioneiros de guerra
e pessoas que se vendiam por conta de dívidas. Os serviçais não eram considerados
cidadãos, mas deveriam receber habitação, vestimentas e alimentação como qualquer
outro indígena. Poderiam possuir bens, casar com pessoas livres e deveriam ser bem
tratados. Porém, poderiam ser sacrificados em cerimônias religiosas, se fossem
comprados por corporações de negociantes ou de artesãos.

www.aprovatotal.com.br 3
Economia: A base da alimentação asteca era milho, pimenta e feijão. Criavam cães,
Povos Ameríndios

abelhas e perus. A produção era complementada pelas trocas comerciais, feitas com
vários povos da região. O comércio na cidade de Tenochtitlán era vasto.

As principais cidades astecas, Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopan, recebiam os produtos


pagos como impostos pelas outras cidades. Esses produtos eram utilizados para custear
as despesas do palácio, distribuir víveres e vestimentas ao povo, pagar funcionários e
artesãos e manter o exército.

Cultura: Faziam a construção de grandes templos e pirâmides, que serviam de prédios


oficiais e de oferendas para deuses. Os maiores deles, localizados na cidade de
Tenochtitlán, foram destruídos durante a conquista.

Utilizavam a escrita para estudos, textos literários e registros de tributos. Tinham


um complexo sistema de educação das elites, com variados textos literários que
sobreviveram à conquista.

Religião: A religião era politeísta, e cada


divindade tinha seu santuário e seus
próprios servidores. O principal deus era
Quetzalcoatl, ou Serpente de Plumas, e
as divindades eram ligadas a elementos
naturais (deus da chuva e do trovão, deus
do fogo, deus da terra etc.), mas também
cultuavam deuses ligados a outros
elementos, como Tlazolteotl, a deusa do
amor. Segundo a crença asteca, os deuses
se relacionavam entre si, com laços de
casamento e irmandade. Os cultos a esses
deuses eram feitos com sacrifícios humanos.

Os sacrifícios humanos eram feitos,


sobretudo, com escravizados capturados
em guerra, e eram considerados uma honra,
mesmo para o sacrificado. Eles faziam
também oferendas de alimentos, flores e
tecidos aos deuses. Representação do deus asteca Quetzalcoatl

INCAS
Os incas formaram uma importante civilização na região da Cordilheira dos Andes,
onde hoje é o Peru, a Bolívia, o Equador e partes do Chile e da Colômbia.

Os espanhóis alcançaram o Império Inca em 1531 e iniciaram o processo de colonização


um ano depois. No momento da chegada dos espanhóis em território inca, o Império
estava dividido em uma Guerra Civil entre os apoiadores dos dois filhos do imperador,
que batalhavam pelo poder após a morte do pai.

4
Economia: Economia agrícola com um vasto sistema de irrigação, e utilizavam

Povos Ameríndios
ferramentas produzidas com metais como o ouro, a prata, o cobre e o bronze. Os
incas praticavam a agricultura escalonada, que permitia o cultivo nas encostas
das cordilheiras. Faziam a domesticação de lhamas, que serviam como transporte e
forneciam lã, couro e carne. Além disso, produziam milho, batata e quinoa, base da
alimentação inca.

Os incas desenvolveram uma forma de trabalho compulsório, chamado mita, que servia
como tributo pago pela população ao Imperador. Na mita, todos os incas deveriam
trabalhar para o Estado em determinadas épocas do ano, construindo templos, estradas
e na extração de metais. Durante a colonização, os espanhóis exploraram e expandiram
a mita, utilizando essa forma de trabalho compulsório nas minas de prata. O trabalho
para os espanhóis era brutal, e a grande maioria daqueles que eram convocados para a
mita não retornavam com vida.

Método de agricultura escalonada. Cidade Inca de Machu Picchu, atual Peru.

Sociedade: A sociedade era estratificada, com uma camada de homens comuns (puriq)
e de homens privilegiados (kapa). Os homens comuns trabalhavam nas terras dos
homens privilegiados, mas havia um sistema comunitário de distribuição das riquezas,
que levavam os privilegiados a distribuir bens aos homens comuns que trabalhavam
em suas terras.

Sistema político: O Império era dividido em quatro grandes províncias, organizadas


burocraticamente. Era governado pelo Inca, ou Filho do Sol, que atuava como imperador.
A capital era Cuzco, uma cidade com suntuosos palácios e templos.

Cultura: Desenvolveram e aperfeiçoaram um sistema numérico decimal. Os incas


construíram enormes estradas, ligando praticamente todo o território do Império. Essas
estradas eram habitadas por mensageiros, que compunham um complexo sistema de
correios.

www.aprovatotal.com.br 5
Povos Ameríndios

Os prédios e templos incas eram produzidos com pedras cortadas e perfeitamente


encaixadas umas nas outras, como mostrado na seguinte imagem.

Detalhe na construção de um prédio inca, no sítio arqueológico de


Tambomachay, atual Peru.

Religião: Os incas eram politeístas, e cultuavam elementos da natureza, como o trovão,


a chuva, o sol e a lua. O culto ao Sol era feito em todo o território do império Inca.

Potosí é uma região da atual Bolívia, então território inca. A região é abundante em
prata, e os espanhóis exploraram gravemente as minas e os indígenas que deveriam
trabalhar nas minas de prata de Potosí. Os espanhóis adaptaram o sistema de mita,
já utilizado pelos incas, para a metalurgia. Segundo o escritor Josiah Conder, em três
séculos morreram aproximadamente 8 milhões de incas nas minas de prata de Potosí.

A prata e o ouro tomados da América pelos espanhóis foram a base econômica para
o desenvolvimento das indústrias europeias durante a Revolução Industrial do século
XVIII.

A CONQUISTA
Cristóvão Colombo, navegador genovês que representava a Coroa Espanhola, chegou
à América Central em 1492, pensando estar nas Índias (continente asiático).

Os espanhóis promoveram um grande genocídio indígena durante o processo de


conquista. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, metade da população indígena da
América morreu logo no primeiro contato com os espanhóis, vítimas das mais variadas
doenças trazidas da Europa, como a varíola, o tétano, o tifo, a lepra (chamada atualmente
de hanseníase) e a febre amarela.

6
Os astecas e os incas tinham exércitos mais numerosos e com maior conhecimento sobre

Povos Ameríndios
o território, o que dava uma grande vantagem aos ameríndios na guerra de conquista.
Porém, o contato com doenças nunca antes combatidas pelo sistema imunológico dos
indígenas foi um dos principais motivos para a superação da vantagem ameríndia e a
conquista do território pela Espanha.

Outros motivos para a vitória espanhola foi a estratégia de explorar as fraquezas dos
astecas e incas. No primeiro caso, foram os povos insatisfeitos com o domínio imperial
asteca, e que viram nos espanhóis uma forma de combatê-los. No segundo caso, foi a
guerra travada entre os dois filhos do imperador Huayna Cupac, pelo poder do Império
Inca.

Os indígenas que sobreviveram aos massacres iniciais e às guerras de conquista foram


forçados a trabalhar nas minas de ouro e prata. A exploração indígena não ocorreu,
porém, sem resistência.

Podemos citar como formas de resistência indígena as revoltas que estouraram em


território inca contra os exaustivos trabalhos forçados na mita, o suicídio de indígenas
e o aborto. Os povos americanos resistiram também para preservar aspectos culturais,
como a religião e a arte.

Com a chegada dos espanhóis e a catequização forçada, os indígenas criaram novas


formas de se expressar artisticamente e de compreender o mundo por meio da religião.
Essa nova cultura, resultado da influência espanhola nas culturas ameríndias, resiste
até os dias de hoje em países da América Central e da América do Sul. Um exemplo
disso é o catolicismo mexicano, que carrega grande influência da religião asteca.

Celebração da festa de Santa Cruz, no México, resultado do sincretismo


religioso entre o catolicismo espanhol e a religião asteca.

www.aprovatotal.com.br 7

Você também pode gostar