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A CIVILIZAÇÃO ASTECA

Klaus Hilbert PUCRS

Os Astecas eram considerados o povo mais civilizado e poderoso da América pré-


colombiana, até serem subjugados pelos espanhóis, comandados por Hernán Cortês, em
1521. A partir de sua capital, Tenochtitlan (hoje cidade do México), situada no planalto
central, os Astecas controlavam um grande império que incluía quase todo o centro e o sul
do México. Foram guerreiros famosos com organização militar muito desenvolvida.

A origem mitológica dos Astecas


De origem étnica mexica, os Astecas chegaram ao vale do México no início do século
XII, procedentes da região de “Chicomoztoc”, situada ao noroeste do México. Outros povos
de língua miáuatle, (nahuatl) como os Chichimecas, Acolhuas, Tepanecas e Toltecas entre
outros, haviam chegado anteriormente a região. As sete tribos Astecas, guiadas por vários
sacerdotes e líderes guerreiros, e obedecendo aos desígnios do deus Huitzilopochtli. Em
1276 os Astecas governados por Hutzilihuitl o Velho, estabeleceram-se em Chapultepec,
onde ficaram famosos pela agressividade e pela prática de cruéis sacrifícios. Em 1319 foram
derrotados pelos Culhuas e outros povos do lago Texcoco e tiveram que se refugir numa das
ilhas do lago. A visão de uma águia que comia uma serpente lhes indicou o lugar onde
deveriam construir sua nova capital, Tenochtitlan, fundada em 1325. (A bandeira e as armas
do México mantêm até hoje este símbolo). Os mexica começaram construir um pequeno
templo, mas logo se tornaram os líderes da grande nação Asteca.

História política dos Astecas


A primeira parte da história asteca é lendária, mas o resultado das escavações
arqueológicas e os livros astecas servem de base para um relato histórico verídico.
Possuímos um registro bastante exato da linhagem dos reis astecas desde Acamapichtli, em
1375, a Montezuma II, que era o imperador quando Hernán Cortês entrou na capital asteca
em 1519.
Entre 1440 e 1469 reinou em Tenochtitlan Montezuma I que consolidou as conquistas
anteriores e empreenderam outras. Nessa época se iniciou o período áureo de Tenochtitlan,

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tanto no aspecto econômico, como no artístico, e organizaram-se as “guerras floridas”,
campanhas militares anuais contra as cidades independentes de Tlaxcala e Huejotzimugo
com a finalidade de fazer prisioneiros para sacrifícios religiosos.
Axayáeatl sucedeu Montezuma I em 1469. Durante seu reinado, os Astecas
conquistaram a cidade de Tlatelolco e as regiões do vale de Toluca.
Entre 1481 e 1486 reinou Tizoc, que morreu assassinado por uma conspiração
palaciana. Seu sucessor, Ahuízotl, ampliou ao máximo as fronteiras do império asteca,
impondo seu poderio sobre Oaxaca e parte da Guatemala. Artesãos e comerciantes
prosperaram durante seu reinado, e Tenochititlan viveu um período de grande
desenvolvimento artístico e arquitetônico.
Em 1502, depois da morte de Ahuízotl, seu sobrinho Montezuma II, continuou a
política imperialista de seus precursores. Durante seu reinado houve o primeiro contato com
os conquistadores espanhóis, em 1519.
Naquela época, o império asteca se estendia por uma superfície de mais de
200.000km² e tinha uma população de cinco a seis milhões de habitantes.

Destruição da civilização Asteca.


Algumas centenas de espanhóis, apoiados por tribos indígenas inimigas dos Astecas,
chegaram a Tenochtitlan, onde foram recebidos como hóspedes. Montezuma II de início
acolheu os espanhóis, mas depois conspirou contra eles. Hernán Cortês então aprisionou o
imperador. Os Astecas rebelaram-se contra os invasores, e Montezuma II foi morto no
levante. Em 30 de junho de 1520, os guerreiros de Tenochtitlan, dirigidos por Cuitláhuuac,
irmão de Montezuma II, obrigaram os espanhóis e seus aliados a abandonar a cidade. Cortês,
com quase 1.000 soldados espanhóis e a ajuda de milhares de aliados indígenas, finalmente
conquistou os Astecas em 1521. Sua vitória foi notavelmente fácil. Os espanhóis possuíam
armas de fogo, cavalos e armas de ferro. Mas o principal é que Cortês conseguiu aliados
entre os índios do México ocidental, que haviam sido conquistados pelos Astecas. Outro
fator foi a crença de que os espanhóis eram divindades. Hernán Cortês era a encarnação do
Deus Quetzalcoatl, cuja chegada havia sido anunciada por profecias. O império asteca caiu
imediatamente após a conquista. Uma epidemia de varíola, trazida do Velho Mundo pelos
espanhóis, dizimou, durante os meses seguintes, a população de Tenochtitlan. Os espanhóis

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arrasaram completamente o centro cerimonial de Tenochtitlán, e usaram a área para seus
próprios prédios públicos e suas igrejas. Da capital reconstruída, Cortês organizou diversas
expedições pelo território mexicano e centro-americano. Em 1534 foi criado o vice-reino da
“Nova Espanha” ou do México.

Economia e costumes.
A civilização asteca se baseou do ponto de vista econômico, na agricultura e no
comércio. As condições climáticas e topográficas do vale do México, núcleo do império,
permitiam o cultivo de produtos de zona temperada, mediante uma adequada organização
dos trabalhos agrícolas de forma a amenizar os efeitos das estações secas e das geadas.
Grande parte dos 80.000 km² do vale de Tenochtitlan apresentava colinas, lagoas e zonas
pantanosas que foram adaptadas à agricultura mediante aplicação de engenhosas técnicas de
preparo de terreno para cultivo através de canalizações e aterros. Uma das mais interessantes
entre essas técnicas consistia na construção de canteiros flutuantes, as “chinampas” por meio
do acúmulo de galhos de árvores, barro e limo, que acabavam por fixar-se no fundo dos
lagos. Sem animais de tração para a agricultura, os Astecas contavam com cães e perus para
uso doméstico. O milho era o cultivo mais importante, ao lado da pimenta e do feijão.
Provavelmente a maioria dos Astecas vivia como os índios de hoje, nas mais remotas
aldeias do México. A família morava numa casa simples. O pai trabalhava no campo com os
filhos mais velhos, a mãe cuidava da casa e treinava as filhas. As mulheres passavam a
maior parte do tempo moendo milho numa pedra chata, e fazendo bolo sem fermento
chamado “tortilla”. Também fiavam e teciam. Os alimentos básicos eram milhos e feijões. O
chocolate era a bebida preferida, tão valorizada que os Astecas usavam as sementes de cacau
como dinheiro. As roupas eram feitas de algodão ou de fibras de folhas de sisal. Os homens
usavam tangas, capas e sandálias, as mulheres vestiam saias e blusas sem mangas. Desenhos
coloridos nas roupas revelavam a posição social dos Astecas.

Sociedade e política.
A base da sociedade asteca era a família de caráter patriarcal e geralmente
monogâmica. Um grupo de várias famílias compunha o “calpulli”, unidade social complexa
de funções muito diversas, como a organização do trabalho agrícola, a arrecadação de

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impostos, o culto religioso, a educação e o recrutamento de guerreiros. Um conselho
formado pelos chefes de família, elegia o líder do calpulli. Cada família pertencente a um
calpulli recebia em usufruto parte das terras comunais, que revertia ao calpulli se não fosse
cultivada.
Acima dos calpulli estava a estrutura estatal, centrada no rei. Depois da morte de um
rei, um conselho de nobres (tlatoani) elegia seu sucessor, geralmente entre os membros da
dinastia. O tlatoani, cuja figura inspirava enorme respeito entre seus subordinados, nomeava
os cargos estatais e militares, dirigia as campanhas de guerra, supervisionava o fisco e a
atividade comercial, administrava justiça, em última instância, e presidia os ritos religiosos.
O funcionamento do estado se baseava numa ampla rede burocrática formada por
funcionários profissionais, tais como os sacerdotes, inspetores do comércio e coletores de
impostos.
Uma das características que mais marcavam a sociedade asteca era a divisão em
castas. A nobreza (pipiltin) era formada pelos membros da família real, os chefes dos
calpulli, os chefes militares e as pessoas que haviam realizado algum serviço de mérito ao
estado. Os macehualtin (plebeus) eram os lavradores, comerciantes e artesãos enquadrados
nos calpulli, que constituíam o grosso da população. Os mayeque (servos) trabalhavam nas
terras do estado ou da nobreza. Também havia escravos, empregados como força de trabalho
ou reservados para os sacrifícios religiosos.
A confederação asteca organizava-se em torno do pagamento de tributos e da
contribuição militar por parte dos estados submetidos. Apesar disso, esses estados eram
praticamente independentes. O estado era dividido em 38 províncias. A vinculação familiar
das casas reais de cada estado com Tenochtitlan e a introdução do culto nacional do deus
Huitzilopochtli foram algumas das medidas integradoras empreendidas pelos Astecas.

Religião
Da mesma forma que outras civilizações mesoamericanas, como os Maias, os Astecas
supunham viver a era do quinto sol, as quatro anteriores haviam acabado em catástrofes. Isso
constituía uma justificativa ideológica para as contínuas guerras astecas, pois era necessário
capturarem inimigos e sacrificá-los aos deuses, a fim de proporcionar sangue para que o Sol
não se apagasse. A vida dos Astecas era dominada em todos os aspectos pela religião,

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fortemente unida com o estado. As leis civis tinham a força religiosa. Quando entravam em
guerra, os Astecas lutavam não só por vantagens políticas e econômicas, como também, pela
captura de prisioneiros. O mais bravo era sacrificado.
Os mortos em sacrifício, os que morriam nas guerras e as mulheres que morriam em
partos tinham seu lugar garantido no império do sol. Os Astecas consideravam o mundo um
lugar instável, em que as colheitas, os homens e até os deuses estavam ameaçados por
catástrofes naturais. Só uma religião dura e severa podia oferecer segurança. O sincretismo
encheu de deuses o panteão asteca. Para uma mesma missão, havia deuses provenientes de
diversas culturas. A tradição dualista opunha deuses benfazejos aos destruidores. A classe
dirigente louvava suas divindades guerreiras, enquanto os camponeses atribuíam a
fertilidade ou as calamidades aos deuses agrícolas. Cada lugar, cada profissão, agregava ao
panteão asteca suas próprias divindades.
Os membros do clero pertenciam às classes superiores; estudavam em suas próprias
escolas, a escrita e a astrologia, além de praticarem a mortificação e os cantos rituais. Os
templos mantinham asilos e hospitais. Os ofícios religiosos, freqüentemente celebrados ao ar
livre nos arredores dos templos, reproduziam fenômenos cósmicos e, dada sua estreita
relação com os ciclos da vida, regiam-se por um complicado ritual, centrados nos sacrifícios.
Estes podiam ser de flores ou animais, mas com freqüência eram humanos. Segundo relatos
feitos pelos espanhóis, sem dúvida o número de vitimas foi bastante grande. Em geral
sacrificavam-se os prisioneiros. As vítimas eram executadas pelos sacerdotes, de formas
diversas segundo o deus a quem se oferecia o sacrifício; quando era dedicado a
Huitzilopochtli, o sacerdote extraía o coração do guerreiro para alimentar seu Deus.

Cultura e arte.
Os Astecas conheciam uma escrita hieroglífica, mas a transmissão de sua cultura se
realizou principalmente de forma oral. A educação se dividia em duas instituições, para os
nobres e para a população comum. O sistema de ensino era severo e disciplinado e se
baseava no estudo da história, da religião, na formação moral, na aprendizagem de ofícios e
no treinamento militar.
Os Astecas tinham vários calendários, como os Maias. O calendário ritual ou sagrado,
o tonalpohualli, era de 260 dias. O calendário solar tinha 18 meses de vinte dias, aos quais

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se somavam cinco dias nefastos para completar os 365. A cada 52 anos, o início dos
calendários coincidia com o começo de um novo ciclo. Além disso, havia um calendário
baseado no ciclo do planeta Vênus, que coincidia com os demais a cada 104 anos. Os
Astecas desenvolveram também a astronomia e a matemática.
Da arquitetura asteca só se conheceu alguns poucos exemplos que sobreviveram as
destruições dos espanhóis. As edificações mais características são os templos, de estrutura
piramidal, como o de Cholula. A escultura era naturalista. Os Astecas foram também hábeis
artesãos. Algumas de suas principais artes decorativas foram a ourivesaria, plumas,
empregadas como adorno pessoal ou arquitetônico, a lapidação de pedras semipreciosas e a
pintura de códices. Nestes registravam-se os acontecimentos importantes em livros de papel
preparados com folha de sisal, dobrados como mapas ou enrolados como pergaminhos. A
literatura dos Astecas, predominantemente oral, desenvolveu temas históricos, religiosos e
líricos.

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