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ao Matriarcado Africano
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Akilah Raawiya
Unidade 1
O que é civilização?
É importante responder a esta pergunta, pois dentro da civilização é onde toda
a história acontece.
Sabemos que o modelo ocidental de civilização é elogiado por seus sistemas
econômicos, comércio, indústria, agricultura, literatura, conhecimento científico,
governo e organização social. Apesar de tudo isso na verdade, ter sido retirado
do povo original ao longo da história nada disso caracterizou o ponto alto da
civilização preta.
• A maioria (ou todo) povo, desfrutava de acesso compartilhado aos recursos
comuns.
• Decisões que afetavam a comunidade eram tomadas coletivamente, e não
por um poderoso em grupo.
• O conhecimento não era escondido propositalmente do povo por uma elite,
mas sim compartilhado livremente.
Nosso povo alcançou o melhor momento na história, quando compartilhou de
uma sociedade igualitária, ao invés desse mundo moderno que promove o
benefício individual acima da prosperidade coletiva.
Então precisamos redefinir o que significa civilização a partir de uma
perspectiva preta. De acordo com o grande historiador Sujan Kumar Dass:
“A civilização é encontrada sempre que o povo é um só, ou seja, um coletivo
que desfruta de acesso compartilhado ao conhecimento e à informação,
compartilha a tomada de decisões e recursos dentro de uma cultura que
permite a todos participarem igualmente, com costumes e valores que
desencorajam as tendências destrutivas, particularmente aquelas práticas que
exploram outros na busca por benefícios individuais.”
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Akilah Raawiya
Unidade 2
Analisando Mitologias
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Akilah Raawiya
“É que eu não tive mãe que me desse à luz, e por isso, sou em tudo e de todo
o coração pelo homem. Sou inteiramente a favor do pai. Assim não terei em
conta especial a morte de uma mulher, que matou o marido, guarda do seu lar.
Orestes será absolvido, mesmo em caso de igualdade na votação.”
(Atena é conhecida como a filha sem mãe:
“A princesa Métis, deusa da prudência, tinha o poder de transforma-se em
qualquer animal. Quando descobriu a sua gravidez, o marido lhe pediu uma
demonstração dos seus dons. Métis transmutou-se em mosca, mesmo sem
saber das intenções de Zeus, que acreditara na profecia de que um dos seus
filhos nasceria mais forte e lhe roubaria o trono.
Na figura de mosca Métis foi engolida pelo marido, indo parar em sua
cabeça. Com o passar dos tempos, o pai de todos os deuses começou a sentir
intensas dores nessa parte do corpo. Cansado da dor incurável, pediu ao filho
Hefesto que lhe arrancasse.
O filho então deu-lhe uma machadada, abrindo o cérebro do pai. Então Atena,
já crescida, saiu armada e entonando um forte grito de guerra. A deusa
logo mostrou-se extremamente inteligente e dona de inúmeras estratégias
militares. Atena era tão imbatível que nem o deus Ares, o senhor da guerra,
conseguia vencê-la.”
Princípio de igualdade e complementaridade na Mitologia Africana
Unidade 3
Matriarcado: Definição e história
O matriarcado é uma característica cultural do continente africano, exatamente
por isso foi definido por antropólogos e etnólogos brancos, como uma forma de
organização familiar primitiva.
Em 1943, Friedrich Engels apresentou um trabalho apontando que houve uma
evolução cultural universal a todos os povos. Segundo o pensamento de
Engels, a organização familiar passou por estágios e isso foi comum em todas
as sociedades humanas.
Primeiro estágio
Imperou uma promiscuidade completa e de forma indiscriminada. O lado
materno seria o único parentesco conhecido de uma criança.
Segundo estágio
Neste momento teria se aplicado normas de conduta sexual e convívio. Desta
maneira a paternidade da criança passava a ser conhecida.
Terceiro estágio
Surgimento de uma família monogâmica matrilinear (parentesco traçado pelo
lado materno).
Quarto estágio
Surgimento de uma família monogâmica patriarcal. Modelo atual.
Neste momento, segundo Engels, teríamos atingido o ápice do progresso
universal. O modelo europeu seria o estágio mais avançado.
Cheikh Anta Diop e a revolução preta no campo científico do século XX
Nosso Faraó do conhecimento entra em cena para analisar essa e outras
teorias de forma detalhada. De acordo com Diop, nada do que foi posto
possuía base científica.
Observa que se houvesse um progresso universal rumo ao patriarcado, os
impérios de Gana, Ashanti, Kemet (Antigo Egito) que foram civilizações
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Akilah Raawiya
avançadíssimas, seriam exemplos de um “estágio avançado da barbaridade” já
que possuíam uma estrutura social matrilinear. Já as tribos nômades
germânicas, conhecidas por suas práticas bárbaras como a violência
sistemática contra as mulheres, canibalismo e infanticídio seriam a fase da
“civilização superior” devido apenas à sua organização patriarcal.
Diop demonstrou que a afirmação de que os povos avançaram de um estágio
“primitivo’’ e matriarcal para um “superior” e patriarcal nunca foi provada. O que
aconteceu foi que alguns povos devido a colonização e imposição europeia,
adotaram características do patriarcado.
Cheikh Anta Diop e a teoria dos dois berços de desenvolvimento humano
(Norte e Sul)
Essa teoria irá apontar que o modo com a qual a sociedade se organiza,
depende das condições de vida de um povo. E isso fica claro quando se
analisa o povo do norte e o do sul.
Norte:
- Povos Indo-Arianos
- Caráter Nômade
- Subvalorização da mulher*
* Eles enxergavam a mulher como um peso a ser carregado nos
deslocamentos, um empecilho dentro da mobilidade tribal. Essas mulheres
viviam em um contexto onde não possuíam uma função produtiva dentro da
economia social.
Sul:
- Povos Africanos
- Civilização Agrária
- Sociedade sedentária
- Mulher desempenhando a função central
- Representava a estabilidade, era altamente valorizada enquanto base da
comunidade.
(Enquanto o homem desempenhava funções como a caça, a pesca e a guerra,
elas garantiam o sustento de todo o coletivo.)
Esse papel feminino se torna tema de muitos mitos e lendas. Como exemplo
temos Auset, a primeira deusa da mitologia Kemética que teria trazido o
conhecimento agrícola para a humanidade.
O Matriarcado implica uma dominação da mulher sobre o homem?
A resposta para a questão acima é não. No matriarcado se partilha a
responsabilidade, os privilégios e o poder. A ideia e o objetivo é que se
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Akilah Raawiya
assegure um equilíbrio nos negócios do Estado. Arranjo que é muito bem
demonstrado no mito de Ausar, Auset e Heru.
Ausar exercia poder político e espiritual em conjunto com Auset.
Sobre as lendas e mitos que servem como base para as normas e práticas
políticos sociais de Kemet, a estudiosa Sonia Sanchez afirma que:
Consideravam- se as mulheres divinas, da mesma forma que os homens.
Nessas condições favoráveis, as deusas retinham seu prestígio ao se tornarem
esposas. O casal construía a unidade religiosa e social. A mulher atuava como
aliada e complemento do homem; possuía os mesmos direitos que ele, os
mesmos poderes na justiça: ela herdava, era proprietária. Acima de tudo as
mulheres ostentavam nomes que designavam os atributos divinos de Deus.
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todas as responsabilidades da administração civil e militar. A Rainha
Amanirenas colocou o exército romano de joelhos e é uma das maiores
pertencentes à essa linhagem.
Temos a Rainha Nzinga (Angola) como um outro exemplo de rainha guerreira
e estadista, que enfrentou os colonizadores europeus na área militar e política.
Resistiu aos dominadores portugueses e holandeses. Em Gana temos a
Rainha Yaa Asantewa, liderando a guerra dos Asante contra os ingleses.
Há diversos exemplos e não são casos isolados, o que confirma uma tradição
de profundas raízes históricas e culturais. O Matriarcado é uma característica
da civilização africana desde o princípio.
Este modelo social não despreza ou reprime as mulheres, mas estimula seu
desenvolvimento enquanto seres humanos, permitindo uma contribuição
necessária dentro da sociedade. Então retomando a discussão sobre
civilização que Cheikh Anta Diop já iniciou:
Qual civilização seria mais avançada? A que nega a plena condição humana a
mais da metade da população ou aquela que estimula a capacidade de
realização e participação de todos os integrantes na vida coletiva?
Unidade 4
Matriarcado e Espiritualidade
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Akilah Raawiya
Temos Auset e seu filho Heru, ou a Mãe Real e seu filho o Rei. Auset está
carregando em sua cabeça o mensageiro do Deus Sol, embutida entre seus
chifres de vaca que possuem a função de alimentar a mãe.
As duas imagens representam Auset e seu filho Heru, porém do lado esquerdo
ela está coberta de ouro para reforçar sua característica solar superior. E este
é o motivo pelo qual encontramos muitas mulheres com a pele amarelada nas
tumbas de Kemet (Antigo Egito).
Agora vamos entender como de acordo com esse princípio divino, se dava a
organização social:
A criança levava o nome da mãe, pertencia à família dela, e era colocada sob a
tutela masculina de seu tio. Este último defendia os direitos de sua irmã, e
garantia que seus sobrinhos e sobrinhas permanecessem ligados à família
materna.
Se tratando de poder era a mulher quem detinha os direitos. Ela era a Mãe
Real, a mais alta figura do Estado. Ela tinha o seu filho (o Rei) que executava o
poder e entregava os direitos à sua filha, que carregava o título de Irmã Real. O
Rei encabeçava a política e o exército. Após sua morte ele era sucedido pelo
filho de sua irmã.
O poder passava de mãe para filha, mas era executado por seus respectivos
filhos.
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Akilah Raawiya
Temos Auset sendo uma só (representa a conexão da mulher com o trono),
demonstrando onde seu filho sentaria. Ela o cobre com suas asas de Ma’at
(representando a superioridade moral feminina). Auset na sociedade de Kemet
(Antigo Egito), simbolizava o trono.
Auset simboliza a Filha Real quando nasce, a Irmã Real quando seu irmão se
torna Rei, a Grande Esposa Real quando se casa com um Rei e a Mãe Real
quando seu filho se torna Rei.
Em 1959 o grande Cheikh Anta Diop escreveu em sua obra (A Unidade
Cultural da África Negra):
“No Egito (Kemet) é a mulher que herda os direitos políticos, mas seu marido é
quem reina.”
O homem era poderoso, mas era a mulher que detinha o poder.
Não podemos analisar esta sociedade com uma ótica ocidental; ou seja,
através da visão do branco.
Caso contrário cairemos no erro grotesco de afirmar que a sociedade de Kemet
era patriarcal e consequentemente machista. Que considerava as mulheres
incapazes de reinarem.
Sendo que havia razões espirituais para esse arranjo (o homem
desempenhando o papel de Faraó).
Trata-se de equilíbrio.
O homem personificava a autoridade divina e a fonte de seu poder era a
mulher.
Uma relação completa de interdependência.
Unidade 5
Caminhos para se restaurar a honra das mulheres africanas
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se dá principalmente por influência estrangeira. Este sentimento foi imposto
aos povos africanos pela dominação cristã europeia e muçulmana. O caminho
é se reconectar com nossa filosofia ancestral estabelecendo novamente a
igualdade na complementaridade entre homens e mulheres.
Unidade 6
Conclusão
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Akilah Raawiya
matriarcado já começou. Só precisamos retomar os passos de nossos
ancestrais.
Referências Bibliográficas:
A Unidade Cultural da África Negra (Cheikh Anta Diop)
Black Women in Antiquity (Ivan Van Sertima)
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