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DIÁSPORA AÇORIANA
PRIMEIRA EDIÇÃO
FEVEREIRO 2023
Contents
3 em poucas palavras
4 in a few words
9 lembrança
17 quarantine highway
FICHA técnica
Director: Diniz Borges
Editorial Board: Linda carvalho-Cooley; Eugénia Fernandes, Emiliana Silva and Micahel DeMattos
Advisory Board: Onésimo Almeida, Duarte Silva, Teresa Martins Marques, Renato Alvim, Debbie Ávla, Manuel Costa Fontes, Vamberto Freitas, Irene M. F. Balyer and Lélia Pereira Nunes
Designer: Humberto Ventura - www.illustratetheweb.com
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para o continente norte americano.
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In a few With essays, creative and analytical
texts, poetry, news from the world of
arts and letters, with interviews, we will
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ambos entrámos para o Seminário
Entretanto, há anos para cá uma voz vem Lembro-me de nos nossos anos de
sistematicamente contando num blogue – estudantes em Angra ele me ter mostrado
Pico da Vigia - estórias dos anos cinquenta sonetos seus a imitar admiravelmente os
e sessenta, os da infância e adolescência poetas clássicos que conhecíamos quase
do seu autor, Carlos Joaquim Fagundes. só das selectas literárias usadas nas aulas
É com gosto que passo a apresentá-lo, de Português. Além disso, variadas vezes
revelando a minha cumplicidade no lhe ouvi contar dramáticas histórias da
surgimento do presente livro. sua experiência pessoal, de familiares bem
próximos e da gente da sua Fajã Grande.
Conheço o autor desde 1958, quando Narrava-as com a emoção de testemunha.
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ao lado: capa do livro “entre o
mar e a rocha. estórias“ de carlos
fagundes.
Em baixo: panorama da ilha das
flores fotografado pelo mesmo
autor.
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ocular, pois sentira na pele muitas miríade de aguardentes de fruta feitas
daquelas situações de sofrimento humano pela sua mulher, a Alda, tenho repetido
que também a mim impressionaram inúmeras vezes o refrão: Reúne essas tuas
fortemente narrativas que havemos de arranjar
uma editora.
Décadas mais tarde reencontrámo-nos, e
lembro-me de ter insistido com ele para Após prolongada resistência, o Fagundes
que lançasse ao papel as experiências dos finalmente cedeu e, para meu júbilo, o
seus tempos de menino e de adolescente. volume aqui está pronto para ser lido
Seria uma rica partilha, pois no resto do pelos apreciadores de boas histórias
arquipélago conhece-se pouco da vida (intencionalmente escrevo “histórias”
do passado na sua ilha natal. Dispomos, e não “estórias” porque há uma marca
é certo, de poemas de Pedro da Silveira de veracidade nestas páginas que a
que constituem autênticas pinturas, designação “estória” escamotearia). São
com traços de pincel a oferecerem-nos páginas por vezes duras, tal a nudez da sua
eloquentes quadros dos ambiente da autenticidade e realismo. Plenas de vigor
ilha. Mas faltam narrativas e daí a minha e garra, não deixam o leitor indiferente.
insistência. Elas sugam-nos para dentro daquela
bela ilha e como que nos fazem enfrentar
Alguns anos mais tarde, de passagem por as águas escuras das fundas lagoas e o
Angra, cruzei-me por meríssimo acaso espesso arvoredo circundante deixando-
com o Carlos Fagundes na rua da Sé. À nos frente a cenários impenetráveis, mas
pergunta Que fazes por aqui? respondeu- de que felizmente o narrador, levando-
me que concorrera aos Jogos Florais das nos pela mão, consegue mostrar-nos os
Festas da Cidade e tivera uma narrativa labirintos e mirar os desfiladeiros da vida
contemplada. Tinha ido receber o prémio. local.
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A prosa do Carlos Fagundes é hoje mais
enxuta e directa do que em tempos foi,
evitando o excesso de vocabulário que
se, por um lado, a enriquecia, por outro,
se entrepunha distraindo-nos da acção. O
leitor embrenhar-se-á nela, apreciando-
“Alguns anos mais tarde,
lhe a desenvoltura e admirando a vida e de passagem por Angra,
a resiliência de uma gente que sobreviveu
(nem sempre!) lutando contra tantas
cruzei-me por meríssimo
vicissitudes. Se nalguma ilha se sofreu de acaso com o Carlos
insularidade, fica óbvio que nas Flores ela Fagundes na rua da Sé...”
fazia particularmente doer.
É tempo de me calar e ceder a voz ao
narrador. Só cá vim prometer que o leitor
não se arrependerá da viagem.
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While I paged through Newsweek (I took
Time at home) and the Tulare Advance-
Register (we received the Porterville
Recorder next door), feeding my
voracious appetite for reading material,
family from the Azores and bringing them my own thoughts. barcelos em 1961. foto dos seus
avós deolinda e frank em 1967
to California nearly forty years earlier.
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Every time my grandfather left a dab of
egg yolk or a kale leaf on his plate, he was
preventing it from becoming a part of
him. Instead those items would embark
on an entirely different journey, perhaps
washed down the drain or scraped into a
“I have a souvenir of my
bin. This is the thought that has never left grandfather. It is oddly
me, a meme for the ages.
lodged in my brain, and
Therefore, whenever a slice of olive from I expect Avô will remain
the pizza ends up in the trash, I think of with me the rest of my
life”
my grandfather. When I cannot finish
an entire serving of broccoli, I think of
my grandfather. When a pinto bean is
left behind, I think of my grandfather.
It happens nearly every day. Everything
in the world is connected, however
tenuously, to everything else, and this
notion resonates with my grandfather’s
lembranças. When I brush a leaf from the
hood of my car and realize it came from a
tree in my mother’s front yard, over two
hundred miles away, I think how it will
contribute to the organics in my own front
yard instead of its home of origin — and I
oddly recall my avô.
Anthony Barcellos
This piece was originally published in American River Review Magazine (2023).
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mulo para continuar a estudar e a divulgar
Conversa Com personalidades e autores açorianos.
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CMPD, sem qualquer explicação,
censurou dois nomes da minha lista de
convidados. Não tendo a CMPD enviado
convites, à Dra. Maria José Lemos
Duarte, ex-presidente da CMPD e ao
Professor Onésimo Teotónio de Almeida,
reconhecida personalidade da cultura
açoriana, tendo presidido à Comissão de
Honra da Candidatura Azores 2027.
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Sigo a tua obra poética, ficcional e a jorgense Marianna Belmira de Andrade,
ensaística desde estes teus mais recentes responsabiliza a instituição monárquica,
anos açorianos. Não vou canibalizar aqui a Igreja Católica e a sociedade patriarcal
nenhum texto meu. Só te pergunto como é pelo atraso do país. Como não encontrei
que por entre essa escrita contínua entre nenhuma editora interessada em publicar
nós dedicas muitas páginas de ficção esse magnifico livro, cuja primeira edição
na criação de personagens femininas, data de 1884, propus à Publiçor a criação
assim como na recuperação de nomes de uma editora dedicada exclusivamente
supremos de outras mulheres açorianas, à poesia. Assim, surgiu a editora N9na
que para nós permaneciam no limbo do Poesia, de que sou coordenador.
esquecimento?
A partir dai, os Açores, a sua História e
Por ser um agente forte de identificação a sua Cultura passaram a ocupar uma
pessoal e social, a divulgação da Cultura proeminente importância na minha vida
contribui para uma sociedade mais justa literária. Com isto, não quero, de forma
e igualitária. Acredito que é através da alguma, por em causa o notável e meritório
ação de difusão cultural que se permite trabalho desenvolvido por todos os
a integração de segmentos sociais e das agentes culturais da Região. É de salientar
diferentes gerações. A identidade cultural o esforço de autores, editores, livrarias,
de um povo constrói a consciência e municípios e dos vários Governos da
a memória desse mesmo povo. Um Região em proveito da difusão da cultura/
dos principais objetivos dos governos literatura dos Açores.
devia centrar-se na democratização da
cultura, aumentando o acesso aos bens
culturais e possibilitando aos cidadãos
a possibilidade de desenvolver o seu
próprio modo de ser e participar na
comunidade onde estão inseridos. Em
sentido lato, podemos definir Cultura
como o estudo das obras das sociedades
humanas – uma epistemologia que
se propõe analisar o comportamento
humano, sendo, para mim, difícil afastá-
la da definição de Antropologia.
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estudar e a divulgar autores açorianos Não foi, e não será pelo valor financei-
vítimas do ostracismo imposto pela ro, deste ou de outros prémios literários,
República temerosa que a grandeza que os autores se submetem ao escrutí-
e dignidade da Literatura Açoriana nio de um júri. Os valores imateriais
mitiguem e ofusquem o cânone literário associados à atribuição do galardão
imposto pelos interesses económicos dos constituem-se, esses sim, como os os
grandes grupos editoriais e pela censura elementos que motivam os autores a
constante às vozes provenientes destas candidatar-se e não a dimensão material
inspiradoras ilhas atlânticas. Não posso do prémio.
esquecer que muitos poetas, nascidos, ou
adotados por estas ilhas, têm permane- Os prémios literários premeiam obras e
cido sós, ocultos e incompreendidos. os seus autores, mas são essencialmente
Como que oxidados pela crítica literária uma iniciativa que visa a divulgação
de uma república continental que da entidade que os promove. Ponta
tem ignorado, desprezado e omitido o Delgada, com o patrocínio da Câmara
importante contributo dos Açores para a Municipal, tem vindo a dedicar algum
Literatura nacional e europeia. investimento na difusão da literatura.
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O atual elenco camarário, pelo contrário
tem dado bastas provas de estar
voltado de costas para a cultura em to-
das as suas dimensões, não só está
a desperdiçar a sua herança, como
desbarata oportunidades como a soleni-
dade e mediatismo que a atribuição
“O tempo e a História
do Prémio Natália Correia lhes podia vão encarregar-se de
conferir. Outros exemplos poderiam ser
aduzidos, mas, por não lhes conhecer
demonstrar que o lugar
todos os contornos, fico-me apenas por das rosas é nas bandeiras
referir es-ta oportunidade perdida pelo hasteadas junto ao mar”
Presidente da Câmara Municipal de Ponta
Delgada e da sua equipa.
foto de vamberto
freitas
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different, solidary, sensitive, who has in
persistence, in availability, maps without
retreat.
Remarkable for her subtlety, Ângela de Concise and contained, her work has
Almeida advances in the Portuguese made her a reference author within our
literary world by unveiling herself to be- culture.
tter conceal herself through an unequaled
aesthetic, ethic, and poetics. Fernando Dacosta (translation by Diniz
Borges)
Endowed with unique resources that her
intelligence and experience highlight,
she creates her own spaces for herself
and her work, achieving an uncommon
affirmation of writing and imagery.
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together through shared experiences and
collective expectations.
Diniz Borges
Quarantine They Belong Perhaps to
Other Worlds
from a line by José Tolentino Mendonça
Juan J. Morales
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I believe in the incredible, in
amazing things,
In the occupation of the world
by roses,
prodigy! Amen
IV
parts,
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