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Inaicyra Falcão
4 CARTA EDITORIAL
8 VOZ CORPO TERRITÓRIO DE
REVOLUÇÕES E ALEGRIAS
damaso bueno
16 MÚSICAS
24 ÈRÒYÀ ṢÀNGÓTÒKUNBỌ̀:
ANCESTRALIDADE E GÊNIO
CRIATIVO AXIPÁ NA ARTE DE
INAICYRA FALCÃO
Félix Ayoh’OMIDIRE
34 TOKUNBÓ: SONS ENTRE
MARES
Inaicyra Falcão em conversa
com a curadoria
44 COLABORAÇÕES
4 TOKUNBÓ: Sons entre mares
Mãe
Teu grande fervor
Teu doce rigor
Exemplo da essência da
vida
A2.2 SEGREDO DAS
FOLHAS
(Beto Pellegrino/Pedreira
Lapa)
E no coração de Olorum
Onde o amor tem saída
Verde mais vivo brotou
Pra não morrerem as
florestas
Voltaram na luz de angorô
Ero o da lo eyn o
Omo eyn laiye
Ero o da lo eyn o
E wre
Ewa o ntolo mo mi xe
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Èròyà!
Àyabá xirê
24 Ọya ṣirê lọjà, Èròyà!
Èròyà!
Àyabá xirê
Ọya ṣirê lọjà, Èròyà a!
Ọyá xirê!
Xirê loni
Ọya Olúwoyè àìjó
Ọyá xirê!
Xirê loni
Ọya Olúwoyè àìjó
Èròyà!
Xirê Ọyá o!
Èròyà!
Xirê Ọya à à!
INTROITO (ÈRÒYÀ!)
BÍBÍ IRE KÒ ṢE É FOWÓ RÀ! Uma das poucas famílias que
conseguiram burlar esse genocídio
A intérprete-coreógrafa Inaicyra Falcão identitário foi a de Mestre Didi Alapini,
traz na voz e nos movimentos uma pai de Inaicyra Falcão. Gerações
dramaturgia ancestral que atravessa sucessivas conseguiram manter sua
séculos, numa trajetória impossível identidade ancestral na África e na
pelo tempo e pelo espaço – desde as Diáspora graças à memória da linhagem
longínquas savanas de Ketu, antigo Axipá mantida viva na família desde
reino yorubá na África Ocidental, até as a época de sua pentavó, Marcelina da
marés da Bahia de Todos-os-Santos, Silva – Obá Tossi, passada através
viajando na memória de genitores daquilo que Mestre Didi chamava de
ilustres como Marcelina da Silva – Obá “brasão oral”, o oríkì da linhagem: Axipá
Tossi (sua pentavó), Maria Bibiana do borogum, elese kan gongo. O próprio Mestre
Espírito Santo (sua avó) e seu próprio Didi documentou como a simples
pai, Deoscóredes Maximiliano dos declamação desse “brasão oral” na
Santos, mais conhecido como Mestre corte do antigo Alákétu Àdiró Adetutu
Didi, Alapinni nile Axipá (cargo máximo no (soberano do reino de Ketu na África
culto de baba egum). Eis o que confirma Ocidental) permitiu que a linhagem
a veracidade do ditado yorubano usado dos Axipá, à qual pertencia a família
logo acima, como intertítulo: “Bíbí ire kò de Marcelina, recebesse de volta seus
ṣe é fowó rà!”, ou seja, “[para os povos descendentes do lado brasileiro, em
yorubá-africanos] nada se compara Ketu. Assim, em 1967, na primeira
ao bom nascimento numa família que viagem de Mestre Didi àquela terra,
confia na grandeza de seus ancestrais”. na atual República do Benim, reuniram-
Trata-se, assim, de uma virtude que não -se as cinco gerações: dos Axipá dos
se pode comprar e que por isso não Santos da Bahia aos seus irmãos Aṣípa
está ao alcance de qualquer um. É o na aldeia de Kosikú, nos arredores da
que reza a exaltada visão e princípio do Ketu, terra ancestral da família. Nessa
Omolúàbí nagô-yorubano. história fantástica da superação da
perda da memória ancestral, ainda mais
Quando o sujeito de bíbí ire é um emblemáticos são o elo e a força das
sujeito afro-diaspórico, como é o mães, avós e tataravós na recuperação
caso de Inaicyra, essa virtude ganha desse passado ancestral por parte
um acréscimo, pois a maior tragédia de Inaicyra Falcão. E, como nada
e perversidade da escravização foi o acontece por acaso, na cosmovisão
apagamento sistêmico e sistemático nagô-yorubana à qual pertence a
dos registros genealógicos dos família Axipá de Inaicyra, o nome do
indivíduos escravizados. O resultado foi meio de sua avó, aquela que a colocou
o genocídio identitário que obrigou milhões firmemente no meio dessa história da
de africanos escravizados nas Américas reclamação da memória ancestral, tinha
a deixar de usar as maiores marcas de que ser Bibiana! Ou seja, o prefixo Bibi
sua identidade africana, como nomes do nome da avó Bibiana já prefigurava
e linhagens, oríkì e outros atributos a herança de bíbí ire da neta Inaicyra,
ancestrais. Dessa forma, na Diáspora que passou a maior parte de seus anos
seus descendentes perderam para formativos sob a generosa tutela dessa
sempre os “localizadores” étnicos ao grande dama do candomblé da Bahia –
serem tratados apenas com a etiqueta Maria Bibiana do Espírito Santo, Oxum
genérica de “afrodescendentes”, sem Muiwá –, terceira iyalorixá do Ilê Axé
a menor possibilidade de identificar a Opô Afonjá.
26 A METÁFORA DO MERCADO
SEMENTES ANCESTRAIS
Você diz que a tradição é um universo onde tudo habita: dança, canto, comida,
imagem. Após anos dedicados exclusivamente à dança, como você percebe a
relação entre a sua voz e o canto?
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Esta célebre frase de Mãe Senhora, “da porteira para dentro, da porteira para
fora”, é muito importante, pois ajuda a explicar como se produz e se transmite o
conhecimento nos terreiros e outros espaços de herança africana no país. Por
meio desses saberes que fazem e se refazem no cotidiano, a porteira acaba por
ser a imagem que determina o que é o conhecimento litúrgico, e que, portanto,
deve ser salvaguardado, e o que pode ser compartilhado intelectualmente ou
reelaborado criativamente para toda a sociedade. Poderia então nos contar um
pouco sobre a origem do nome “Tokunbó”?
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PRODUÇÃO
Equipe Fundação Bienal de São Paulo
CRÉDITOS DE IMAGENS
TRANSCRIÇÃO
Maria Luiza Meneses pp. 14-15, 32, 33, 46-47:
Acervo pessoal de Inaicyra Falcão.
DESIGN GRÁFICO Edição: Leo Monteiro.
Namibia Chroma
pp. 6-7, 43:
PRENSAGEM Grupo de dança da UFBA, acervo
Lombra Records pessoal. Edição: Leo Monteiro.
CRÉDITOS MUSICAIS
OBÁ BIYÍ
(Beto Pellegrino/Luiz Ariston)
Falcão, Inaicyra
Tokunbó : sons entre mares / Inaicyra Falcão. --
1. ed. -- São Paulo : Bienal de São Paulo, 2023.
ISBN 978-85-85298-82-1
23-165894 CDD-700.74