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1 Literatura Cearense
Notas Introdutórias
Charles Ribeiro Pinheiro e Lílian Martins
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Realização
Copyright © 2020 Fundação Demócrito Rocha
C977
Curso Literatura Cearense / vários autores ; organizado por
Raymundo Netto; coordenação de Lílian Martins; ilustrado por Carlus
Campos - Fortaleza, CE : Fundação Demócrito Rocha, 2020.
192 p. ; 25cm x 29,5cm. - (Curso Literatura Cearense; 12v.).
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-23-7 (Fascículo 1)
1. Literatura brasileira. 2. Literatura cearense. I. Netto, Raymundo. II.
Martins, Lílian. III. Campos, Carlus. IV. Título. V. Série.
CDD869.31
2020-881 CDU821.134.3(813.1)
Lílian Martins
COORDENADORA DE CONTEÚDO
1.
O PIONEIRISMO ARTÍSTICO-
CULTURAL CEARENSE
Eu sou de uma terra que o povo padece /
Mas nunca esmorece, procura vencê,/
Da terra adorada, que a bela caboca/ De riso SABATINA
na boca zomba no sofrê./
Não nego meu sangue, não nego meu nome,/ Patativa do Assaré (1909-2002) foi
Olho para fome e pergunto: o que há?/ um poeta e repentista brasileiro,
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,/ Sou cabra considerado um dos principais
da peste, sou do Ceará. representantes da arte popular
[...] nordestina do século XX. O
Patativa do Assaré seu poema “Triste partida”,
em Cante lá que eu canto cá. em 1964, foi musicado e
gravado por Luiz Gonzaga
(1912-1989), o que lhe
poema “Sou cabra da pes- rendeu projeção nacional.
te”, do qual destacamos Seus versos, traduzidos em
um trecho acima, é um dos vários idiomas, são temas
mais conhecidos de auto- de estudos em diversas
ria de Patativa do Assaré. universidades pelo mundo, a
Publicado no livro Cante lá exemplo da Universidade de
que eu canto cá, o poema Sorbonne, na França, em sua
expressa a condição so- disciplina “Literatura popular
frida do homem cearense universal”. Estudaremos mais
que, apesar das dificul- sobre ele adiante. Por ora,
dades do meio em que vive, não esmorece aproveite para assistir o poeta
e tem resiliência para vencer. Ele é definido declamando “Sou cabra da
como “cabra da peste”, expressão nordesti- peste” no link a seguir, do
na que designa homem valente, corajoso e canal do Museu de Arte Kariri:
batalhador. Desta forma, o poeta situa sua https://www.youtube.com/
condição expressando-a de modo múltiplo. watch?v=FNZTn6w8cXQ
Ele se identifica como o sujeito do tipo cabra
da peste, o cearense, nordestino e brasileiro.
4.
e uma obra a ser descoberta com o Cearense. Fortaleza: Academia Cearense
ato mágico da sua leitura. Que tal de Letras, 1976.
fazermos dessa experiência de deleite, BARREIRA, Dolor. História da Literatura
um espaço de partilha? Crie um clube Cearense. Fortaleza: Ins�tuto do Ceará, 4.
Lílian Martins
É jornalista, tradutora, professora, pesquisadora e
militante em Literatura Cearense. Mestre em Literatura
Comparada pela UFC, vencedora do Prêmio Bolsa de
Fomento à Literatura da Fundação Biblioteca Nacional
e Ministério da Cultura e do Edital de Incentivo às Artes
da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor).
ILUSTRADOR
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes
como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção
gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, São
Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
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2 Sob as Asas
da Jandaia
Romantismo PARTE I
Paulo de Tarso Pardal
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1.
ALÇAR VOO:
APRESENTAÇÃO
Romantismo, um dos princi-
pais movimentos artísticos
do século XIX, teve como
marco inaugural no país a
publicação de Suspiros poé-
ticos e saudades, de um con-
troverso Gonçalves de Ma-
galhães (1811-1882).
Emoções à flor da pele,
coração saindo pela boca,
não podemos deixar de destacar o papel
essencial que os romances românticos ti-
veram na construção do público leitor bra-
sileiro. Ou seja, eu e você!
Nem de longe pretendemos abarcar
tudo ou a todos nesses módulos que vi-
rão, mas esperamos despertar em cada
um dos cursistas a curiosidade e o inte-
resse pelo estudo, pesquisa e leitura de
algumas das obras produzidas no estado
do Ceará e de seus autores que este breve
espaço ousa trazer à luz.
Neste módulo, em primeira parte, conver-
saremos sobre o Romantismo, em especial
de algumas de suas manifestações no Ceará.
Por ser um tema, além de saboroso, mui-
to complexo e diverso, optamos pelos seguin-
tes recortes temáticos: o indianismo e o re-
gionalismo de José de Alencar (1829-1877) e o
regionalismo de Juvenal Galeno (1836-1931).
Preparem os seus lenços e que as lágri-
mas adocicadas brotem de seu coração:
eles chegaram!
6.
e é considerado um dos primeiros poetas
abolicionistas e folcloristas do Brasil.
Como podemos constatar, não seria
possível nesse módulo dar conta de expor
O REGIONALISMO a vida e a obra desse autor que inaugura
quase tudo a que se refere à literatura pro-
DE JUVENAL duzida no estado.
“Era um romântico, mas com uma parti-
GALENO cularidade que faz dele figura ímpar nos qua-
Romantismo cearense tem dros da poesia cearense, ou mesmo brasilei-
como marco inaugural o ra: a inspiração genuinamente popular.”
lançamento de Prelúdios Dessa forma o pesquisador Sânzio de Azeve-
poéticos (1856), livro de do apresenta Juvenal Galeno. E diz mais:
estreia de Juvenal Galeno, O cantor das Lendas e canções populares re-
publicado no Rio de Janei- presenta, assim, melhor talvez do que qual-
ro (Iracema teria sua publi- quer outro poeta do Brasil, aquela vertente
do Romantismo que procurava identificar-
cação 9 anos depois). E se- -se profundamente com a alma popular,
ria apenas esse o destaque produzindo a arte anunciada por Herder,
de Galeno na Literatura Cearense? Decerto antes mesmo do advento da escola.
que não, vejamos: Por isso, falando da obra do poeta cearen-
Ainda aos 13 anos, ao lado de Gustavo se, disse João Clímaco Bezerra ser ela, “na
Gurgulino de Souza, foi fundador do primeiro literatura brasileira, a primeira tentativa de
jornalzinho puramente literário do Ceará:
Ceará uma poesia tipicamente regionalista”.
o Sempreviva. Aos 17, ao ingressar no Liceu, De fato, reconhecido poeta social, com
junto com colegas, criou o Mocidade cearen- o olhar voltado aos pobres, aos humildes –
se, pioneiro da imprensa estudantil no es- embora de origem socialmente privilegiada
tado. Em 1859, escreveu Quem com ferro fere –, Galeno dedica a eles a sua obra, ao afir-
com ferro será ferido, primeira peça escrita mar: “Sei que mal recebido serei nos salões
e encenada no Ceará (1861). Em 1859, publi- aristocratas e entre os críticos que, estudan-
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3 Poemas para
a Liberdade
Romantismo PARTE II
Carlos Vazconcelos
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1.
POESIAS EM
CLARO-ESCURO
rezado(a) estudante, é com
satisfação que convido você a
mergulhar nas páginas do nos-
so passado. Faremos juntos
uma viagem marcante e delicio-
sa pelos meandros da Literatura
Cearense: conhecer nosso pas-
sado, revisitar tempos poéticos
e revolucionários, dar a mão a
personalidades que cultivaram
o terreno árido da nossa cultura e escreve-
Indeléveis ram páginas indeléveis no solo literário so-
Que não se podem bre o qual pisamos. Grandes vultos, homens
apagar ou destruir. abnegados, agremiações e jornais pioneiros,
palavras gritadas, cantadas, silenciadas, re- Estamos na era da informação, mas pre-
verberadas. Quem são esses que ocupam cisamos aproveitar os meios para fazer dela
com seus nomes as placas das ruas do nosso conhecimento, do conhecimento sabedo-
presente itinerário de vida? O que fizeram? ria, da sabedoria o nosso deleite.
Como lutaram? O que legaram à posterida- Hoje temos acesso a tantas fontes: biblio-
de? Por que merecem ser lembrados? tecas, internet, conexão sem limites, texto,
Percorreremos as poesias do Romantismo paratexto, hipertexto, mas às vezes não sa-
cearense desde os sombrios poemas satâ- bemos o que fazer com tanta matéria-prima.
nicos e byronianos até o alumiar dos versos Só há um caminho: determinação! Portan-
abolicionistas de nossa geração condoreira. to, determinado(a) cursista, mãos à obra!
A pesquisa é sempre um manancial de Do conforto do seu lar, podemos juntos
encantamento. O conhecimento é uma fon- superar cada vez mais desafios através do en-
te inesgotável e é esse o grande achado: sino a distância. Que a leitura destas páginas
quanto mais aprendemos, mais seden- os envolvam como sendo o meu mais frater-
tos ficamos de aprender mais, porque o no abraço e os votos para que aproveitem ao
prazer da descoberta é fascinante... e vicia! máximo este curso de Literatura Cearense.
BOLACHINHAS
Dolor Barreira conta que a primeira
associação literária propriamente
dita que o Ceará possuiu foi a Fênix
Estudantal, composta por Rocha
Lima (15), Castro e Silva, Fausto
Domingues da Silva (19 anos) e João
Lopes (16 anos). Fica aí a questão a ser
pesquisada e discutida.
ILUSTRADOR
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou
a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Todos os direitos desta edição reservados à:
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4 Mulheres Escritoras
as pioneiras do século XIX
Gildênia Moura e Carla Castro
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Bárbara de Alencar, Jovita Feitosa
e Maria Tomásia
são tipos que honram o nosso sexo
pela sinceridade do
sentimento que as impelem
a transpor o poético
domínio do lar”
Alba Valdez, em Dias de Luz:
recordações da adolescência (1907)
1.
NEM PERNAS,
NEM BRAÇOS
CRUZADOS
uando falamos em lite-
ratura de autoria femi-
nina cearense, logo nos
vem à mente o nome
de Rachel de Queiroz
(1910-2003). Nascida em
Fortaleza no dia 17 de
novembro de 1910 e fa-
lecida no Rio de Janeiro
em 4 de novembro de
2003, a autora foi tradu-
tora, romancista, poeti-
sa, jornalista e cronista. Eternizada pelo ro-
mance de estreia O quinze e pela vasta obra
produzida, foi ela a primeira mulher a ingres-
sar na Academia Brasileira de Letras, em 1977.
ILUSTRADOR
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na
Todos os direitos desta edição reservados à:
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas Fundação Demócrito Rocha
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, fundacao@fdr.org.br
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5 Juntou a Fome
com Vontade de Ler
o Realismo e o Naturalismo
José Leite Jr.
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1.
PEQUENAS
REVOLUÇÕES
s últimas décadas do sé-
culo dezenove foram defi-
nitivas para a instituciona-
lização cultural no Ceará. guras como Rodolfo Teófilo e de Guilher-
Comparado com a informa- me Studart, que participaram ativamente
lidade da Academia Fran- de algumas dessas agremiações oitocen-
cesa do Ceará, de 1873, o tistas. O estudante que hoje lê obras como
Clube Literário, de 1886, Dona Guidinha do Poço ou A normalista,
teve maior estabilidade para dar apenas dois exemplos, não pode
funcional, com reuniões esquecer que seus respectivos autores, Oli-
literárias regulares e periódico próprio, A veira Paiva e Adolfo Caminha, surgiram
Quinzena. Logo em seguida, em 1887, mas nesse decisivo contexto histórico.
com propósitos científicos, seria fundado o Num tempo de grandes transformações,
Instituto do Ceará. Na última década des- é importante que se diga, abriu-se espaço na
se século, surgiram a Padaria Espiritual, cena intelectual a setores socialmente des-
de 1892, o Centro Literário e a Academia prestigiados. As agremiações, coerentes com
Cearense (de Letras), ambos de 1894. Conti- ascendência abolicionista e índole republi-
nuam até os dias atuais tanto o Instituto do cana, acolhiam os filhos do povo, a exemplo
Ceará como a Academia Cearense de Letras. de comerciários e pequenos funcionários pú-
No contexto cearense, literatura e ciên- blicos, como foram Antônio Sales e Álvaro
cia são parceiras históricas, convocadas Martins (MARQUES, 2018). Quebrando todo
que são a decifrar a mesma sociedade desi- um paradigma histórico, também as mulhe-
gual, tendo prestado relevantes serviços na res começaram a ocupar espaços num am-
abolição da escravatura e na compreensão biente marcadamente masculino, a exemplo
dos efeitos sociais e endêmicos das secas. de Francisca Clotilde, pioneira num século
O universitário de hoje deve lembrar-se que de pioneirismo civilizatório.
recebeu toda uma herança científica de fi- Quer saber mais? Aprochegue-se!
7.
configuração discursiva cultivada por mui-
tos poetas, que emprestam ao poema uma
feição pictórica, em geral sonetilhos que Sonetilhos
descrevem pequenas cenas. Sonetos feitos
com versos
Sânzio de Azevedo sugere a influência
O REALISMO NA de B. Lopes, autor de obra homônima.
mais curtos,
sobretudo os
POESIA CEARENSE X. de Castro ora flagra cenas domésticas,
captando pequenos diálogos e situações
heptassílabos.
emos em Augusto Xavier de Cas- entre familiares, ora se volta para um pla-
tro (1858 – 1895), o X. de Castro, no mais amplo, descrevendo situações do
nosso maior representante meio popular. Exemplo desta segunda ten-
do realismo na poesia cea- dência é o sonetilho “Em Porangaba”, que
rense. De passagem breve no flagra um pequeno drama do trabalho in-
panorama literário cearense, o fantil, que perde o propósito anedótico se
escritor foi a segunda baixa da passado pelo crivo da contemporaneidade:
Padaria Espiritual – a primeira
tinha sido Joaquim Vitoriano, Para o trem. Da vilazinha
Verde, risonha, engraçada,
em 1894 –, vindo a falecer três Vem para a beira da estrada
anos depois do início da agremiação. Nela, Toda a gente, ali vizinha.
adotou o nome de “Bento Pesqueiro”. Seu
único livro, intitulado Cromos, foi publicado Começa na férrea linha
Por gritar a meninada:
sob o selo da Padaria Espiritual, em 1895. – E olha a castanha assada
Sânzio de Azevedo considera-o romântico É nova, é boa, é fresquinha!
em seus poemas da década de 1870, tran-
sitando ao Realismo na década seguinte, – Dê cá, diz um passageiro
E enquanto puxa o dinheiro
“Sua feição definitiva e mais importante”
Parte o trem já da Estação…
(AZEVEDO, 1976, p. 93). Não se trata de
uma postura realista como a que assumiria Corre, e o menino aturdido
um Cesário Verde, por exemplo, mas não Grita e brada enraivecido:
– Paga as castanhas, ladrão!
deixa de propor versos que lembram uma
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6 À Espera
do Pão
a Padaria Espiritual
e o Simbolismo
i e Sânzio de Azevedo
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1.
SEGUINDO
AS MIGALHAS
D’O PÃO
Rua Formosa, moça bela a passear/
Palmeira verde e uma Lua a pratear/
Um olho vivo, vivo, vivo a procurar/
Mais uma ideia pro padeiro amassar/
Mais uma ideia pro padeiro amassar.
Ednardo, em “Artigo 26”.
4.
despeito da ausência de atas posteriores a
essa, a Padaria continuou a trabalhar, mui-
to embora não tivesse prédio próprio para
as suas reuniões e estas não assumissem
o caráter de fornadas propriamente ditas.
OS NEFELIBATAS Certo é, porém, que os padeiros conti-
nuaram ligados pelos laços de camarada-
CABEÇAS-CHATAS gem espiritual e – cada qual na sua casa
primeira fase do grêmio, – amassando com o suor do rosto como
que data de 1892, deu ori- do corpo inteiro o pão do espírito – comido
gem a apenas um livro, pelos olhos e digerido pelo cérebro.”
Phantos (1893), de Lopes Esse texto, datado de 27 de setembro
Filho. Houve quem estra- de 1894, fala dos Phantos e de livros que
nhasse esse título, mas tal- vieram depois.
vez haja algum parentesco No dia seguinte, 28 de setembro de 1894,
com “fantasia”... Os outros Antônio Sales reuniu os padeiros restantes
livros da entidade são da e com mais treze membros fez a reorganiza-
sua segunda fase. ção do grêmio. Entre outros, entraram José
O certo é que, não havendo uma só Carlos Júnior (Bruno Jaci), Rodolfo Teófi-
ata relativa ao ano de 1893, o que não é lo (Marcos Serrano), Valdemiro Cavalcanti
referido por Leonardo Mota, encontra-se (Ivan d’Azof), José Carvalho (Cariri Braú-
no livro de atas uma página assinada por na), X. de Castro (Bento Pesqueiro), José
“Moacir Jurema” e intitulada “À Posterida- Nava (Gil Navarra), Artur Teófilo (Lopo de
de”. Nela, entre outras coisas, diz o escritor: Mendoza) e Eduardo Saboia (Brás Tubiba).
ILUSTRADOR
Carlus Campos
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7 O Canto Novo
de uma Raça
Pré-Modernismo e Modernismo
Raymundo Netto
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Passando a régua no século XIX, no
Brasil, Canções românticas (1878), de Al-
1.
berto de Oliveira – apesar do título –,
marca o início do Parnasianismo, que
recebeu adesões, como Olavo Bilac, Rai-
mundo Correia, Alberto de Oliveira e Vi-
DO RIGOR cente de Carvalho, embora, numa atitude
irreverente, diz Bilac, que viria a ser o seu
DA DISCIPLINA expoente maior no país: “No Brasil nunca
houve Parnasianismo. O que há entre nós
ÀS VAIAS atualmente é a febre da Perfeição, a bata-
ualquer aluno do en- lha sagrada da Forma, em serviço da Ideia
sino médio em Litera- e da Concepção. [...] Nenhum dos poetas
tura já ouviu falar em da nova geração quer fazer do verso um
Parnasianismo. Possí- instrumento sem vida; nenhum deles quer
vel saber também que transformar a Musa num belo cadáver. O
dois autores franceses, que eles não querem é que a Vênus grega
Théophile Gautier e seja coxa e desajeitada e faça caretas em
Leconte de Lisle, lan- vez de sorrir” (CASTELLO, 1999, v.1, p. 299)
çaram O Parnaso con- O certo é que a estética parnasiana, mes-
temporâneo (1866), uma mo sem adotar a objetividade da escola fran-
antologia de poemas na cesa – o “amordaçamento das emoções”,
qual predominava uma como se refere Ivan Junqueira –, abraçou o
reação antirromântica, ou seja, que procura- cuidado com a criação dos versos perfeitos
va resgatar a visão de arte como sinônimo (gramática e métrica), a manutenção do rit-
de beleza formal alcançada por meio de mo, a escolha intransigente das rimas e o
trabalho cuidadoso e detalhista – comba- olhar voltado para a antiguidade clássica.
tiam o sentimentalismo excessivo dos poe- O Simbolismo, levando em considera-
tas românticos que, criam, haviam abando- ção as obras de Cruz e Sousa de 1893 como
nado os rigores formais na sua composição, marco da escola no país, chegaria apenas
comprometendo a sua qualidade artística. quinze anos depois, com fria recepção do
Alguns desses poetas do “Parnaso” europeu público, ao contrário de sua antecessora.
se destacariam, mais tarde, no Simbolismo. É nesse ponto que Sânzio de Azevedo
nos chama a atenção para uma singula-
Parnaso ridade na historiografia da Literatura Cea-
SABATINA
Montanha grega, rense. No Ceará, o Simbolismo nos chega
morada de Apolo
antes do Parnasianismo, pois como vi-
e das musas
inspiradoras mos no módulo anterior, ele viria no vapor,
dos artistas. Théophile Gautier, além de poeta diretamente de Portugal, com influência de
era um excelente contista, seguidor Antônio Nobre, e não de Cruz e Sousa ou de
de E.T.A Hoffmann. Sua profana “A outros anteriores a ele no Brasil.
morte amorosa” é um dos contos Aqui, ainda no século XIX, quando o
fantásticos mais encontrados em Simbolismo já figurava em, pelo menos, Lí-
antologias do gênero. Gautier vio Barreto (Dolentes) e Lopes Filho (Phan-
afirmava que “a arte não existe para tos), Álvaro Martins publica, em 1903, o
a humanidade, para a sociedade ou soneto “A aranha”, “manifestação verdadei-
para a moral, mas para si mesma”. ramente inaugural da arte marmórea entre
3.
iconoclasta. Ser vanguarda seria antecipar
novos caminhos, prenunciar bases e crité-
rios estéticos para este mundo “em transfor-
mação”. Daí, é nesse contexto que surgiriam
os europeus Futurismo, Dadaísmo, Cubismo,
AVANT-GARDE Expressionismo, Surrealismo e seus respecti-
vos e chocantes manifestos.
MODERNISTA Para resumir o que nos interessa: “A prin-
assagem de séculos. Os no- cipal herança das vanguardas europeias
vos tempos assistiam ao sur- para a Literatura Brasileira [...] é o impulso
gimento de um cenário artísti- de (1) destruir os modelos arcaicos, (2)
co dinâmico, criativo e diverso desafiar o gosto estabelecido e (3) propor
– para alguns, assustador e de um olhar inovador ao mundo” (ABAURRE;
extremo mau-gosto. O avanço PONTARA, 2005, p.504), ou seja, ruptura e
tecnológico (a “Era da Eletrici- transformação seriam as palavras de or-
dade”, o cinema, o telefone, o dem para a fase heroica – como dizia Mário
telégrafo sem fio, o automó- de Andrade – da primeira geração moder-
vel, o avião...), a revolução na nista, que é o objeto deste módulo.
5.
para escritores e artistas irem se buscando,
aos poucos, com uma nova compreensão
do momento. Embora não tivesse exercido
uma influência imediata, o Movimento for-
mou, gradualmente, e com um alcance cole-
E O MODERNISMO tivo, um conjunto de ideias básicas, coeren-
tes com a realidade brasileira” (BOPP, 2012).
FOI? NÃO FOI? Observamos que esse movimento inspi-
ão nos deteremos no que rado pelas ideias europeias e que queria, 100
vastamente encontra- anos depois, proclamar a sua “independên-
mos nos compêndios de cia” dos valores estrangeiros – aparente con-
Literatura Brasileira, que tradição – faria uma forte campanha, espe-
afirmam ser esta primei- cialmente por meio de artigos em jornais
ra geração, a do “espírito (tinham bastante acesso a eles), lançamen-
destruidor” do Modernis- to de revistas e manifestos – entre eles,
mo, a eclodir nos salões em 1928, o “Manifesto da Antropofagia”, que
do Teatro Municipal de mais impactaria no Ceará –, além de excur-
São Paulo, apoiada con- sões de militantes, como Raul Bopp e Gui-
fortável, econômica e so- lherme de Almeida, aos demais estados.
cialmente pela elite paulista: a Semana de Guilherme de Almeida (1890-1969), um
Arte Moderna de 1922. dos “semanistas” e maiores divulgadores do
Mas, vá lá, onde é que nós entramos nis- Modernismo, e que viria a ser, anos depois, o
so? Pois bem, o escritor gaúcho Raul Bopp primeiro modernista a ingressar na Aca-
(1898-1984), que jovem já havia fundado demia Brasileira de letras, em 1925, percor-
periódicos no Rio Grande do Sul, não esta- reu algumas capitais brasileiras, como Porto
va em São Paulo durante a Semana – que Alegre, Recife e Fortaleza, em conferência,
ele denominava “reação modernista” ou a princípio, a convite do jornalista, escritor
“insurreição literária de 22” –, mas no Rio e advogado pernambucano Joaquim Ino-
de Janeiro, o que fez com que acompa- josa, principal divulgador do Modernismo
nhasse os seus acontecimentos a distância, – dizia-se “Futurismo” – nas terras nordes-
assim como também nos seus reflexos em tinas. Inojosa conta que após o seu primei-
outros estados brasileiros. Conta-nos: ro encontro com os “semanistas”, recebeu
SABATINA
A revista baiana Arco & Flexa teve
rápida duração (1928-1929). Seu
diretor era Pinto de Aguiar e a
redação era na casa do diretor.
As edições variavam entre 66 a 77
páginas. A escolha do título, claro,
afirmava um caráter de nacionalismo
brasileiro: o índio, sempre ele. Um
de seus maiores e mais articulados
colaboradores foi Carlos Chiacchio.
Não temos dúvida de que o espírito da Um dos periódicos nos quais mais per-
BOLACHINHAS turma da Maracajá seria o mesmo prati- cebemos esse movimento é o A Manhã (RJ).
cado pela Padaria Espiritual e, mais tarde, Inclusive é nele que encontramos a carta que
Raul Bopp seria o responsável pela pelo grupo CLÃ: apresentar a produção li- Antônio Sales – reconhecido articulador e
sugestão do título “Abaporu” (antropó- terária do Ceará para todo o Brasil e até “mestre-sala” da literatura cearense – envia
fago) à obra de Tarsila do Amaral e pelo ao exterior. Por vezes, até com os mesmos a Raul Bopp, pedindo para não ser mais in-
apelido “Pagu”, pelo qual se tornaria exageros ou utilizando o tom gracejador termediador dos recados entre os “antropo-
conhecida a jornalista Patrícia Galvão, dos “tempos heroicos”, como esse texto de fagistas paulistas” e os “canibais cearenses”,
a “musa dos modernistas”. Carlos “Garrido” em Maracajá nº 2: e que se entendessem diretamente com eles,
Drummond de Andrade dizia ser Cobra “cuja fera simbólica, o Maracajá, tem sua
O primeiro número de Maracajá foi espalha-
Norato (1931) “possivelmente o mais do por todo o globo e até por fora do referi-
toca na redação d’O POVO, à rua Barão do
brasileiro de todos os poemas brasilei- do asteroide. A esta hora, qualquer habitan- Rio Branco, 239. E abro os braços com o de-
ros, escritos em qualquer tempo.” te de Marte já estará fazendo antropofagia. sejo de abraçá-los, mas realmente para não
Vocês lá do Sul que escreveram sobre o ser engolido”. Esse mesmo texto seria publi-
gato selvagem do Nordeste, toquem nos cado no Diário de S. Paulo, quando acolhia a
ossos. Isso!
2ª dentição da Revista da Antropofagia.
Nós estamos ligados por um sentimento
único – o da voracidade. Sim, Raul Bopp, autor de Cobra Norato,
Juntemo-nos para comer tudo o que deva seria uma espécie de “embaixador do Mo-
ser comido no Brasil. dernismo de lá” por aqui, assim como em
Demócrito Rocha (assinando “Antônio Gar- outros estados. Ele mesmo explica a sua
rido”) Maracajá nº 2, em 20 de maio de 1929. atuação na época:
ILUSTRADOR
ISBN: 978-65-86094-18-3 (Fascículo 7)
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas
Todos os direitos desta edição reservados à:
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes Fundação Demócrito Rocha
como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. fdr.org.br
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CURSO
l c
8 Literatura
e Artes Plásticas
Grupos Clã e Scap
Vera Lúcia Albuquerque de Moraes
i e e Anderson Sousa
t a
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r e
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a
Realização
1.
NO MESMO
CALDEIRÃO
studante de letras, ouvia profes-
sores falarem sobre o “grupo CLÔ
e pensava: “Mas isso não é um
pleonasmo?”
Nessa época, já existia uma
revista para as publicações desse
grupo eclético, múltiplo e bem re-
presentativo da intelectualidade
cearense: a Revista Clã.
Poucos, entretanto, a conhe-
ciam. Com números escassos na biblioteca,
os próprios professores/autores não levavam
os exemplares para as salas de aula, nem fa-
lavam de seu conteúdo para os alunos.
Então, anos mais tarde, ao cursar o mes-
trado em Teoria da Literatura na Universi-
dade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), meu
orientador, Mário Camarinha da Silva, fez
com que eu mudasse meu projeto origi-
nal para estudar uma revista do moder-
nismo cearense, convencendo-me de que
eu estaria prestando uma contribuição mui-
to maior ao meu campo de estudos e ao Ce-
ará, desvendando aos leitores essa revista
de grande qualidade estética que precisava para falar de seus projetos artísticos e de-
de uma chance para vir à tona e projetar-se. fender seus pontos de vista a respeito de
E o que havia de especial em seu conteúdo? qualquer coisa. Não se limitavam à políti-
Voltamos a 1942, em plena Segunda ca ou a ideologias, mas, principalmente,
Grande Guerra Mundial. Muitos eram contrá- voltavam-se às artes. Embora jovens, eram
rios a festividades e celebrações, como con- pessoas reconhecidas nos meios acadêmi-
gressos de escritores, congressos da poesia, cos, teatrais, informativos, sociais, existin-
entre outros, pela situação dramática que o do grande amizade entre eles.
mundo estava passando naquele momento. Dito isso, como estivéssemos também
Contudo, no Ceará havia um grupo de pegando um ventinho sentados em banco de
jovens intelectuais representantes de vá- praça, vamos conhecer um pouco do vasto
rias áreas – literatura, teatro, cinema, artes território e legado dessa geração, não apenas
plásticas – que se reunia, frequentemente, de escritores, mas de artistas plásticos – ou
nos cafés da cidade, nos bancos de praça, ambos – em um Ceará há mais de 70 anos.
Vera Lúcia de Moraes
5.
da geração anterior, a exemplo de Carlos publicação da Revista Clã evidencia o es-
Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo critor voltado para as renovações que se
e Jorge de Lima. Abrir caminho para o re- processavam no mundo artístico. É um dos
encontro com a essência, possibilitando a autores, de Os hóspedes, obra que reuniria
transmissão de uma mensagem de sólido Artur Eduardo Benevides, Aluízio Medeiros
O GRUPO CLÃ humanismo ao leitor, constitui o compro- e Otacílio Colares.
misso do escritor com seu espaço vital. Segundo Pedro Lyra, a escassa poe-
EM VERSOS Os poetas do CLÃ procuram fugir à ideia sia de Antônio Girão Barroso é o legado
Como as árvores, que já andam da desumanização, à ideia do homem exilado cearense mais identificado com o mo-
carregadas de frutos, os meus bolsos no interior de uma solidão coletiva, perdido vimento renovador de 22, apesar da de-
estão carregados de poemas. entre semelhantes, afastado pelo individualis- fasagem sofrida: seu livro de estreia é de
Antônio Girão Barroso, mo da concorrência pela vida, principalmente 1938, quando o Modernismo já superara a
em “O poeta” (1950) nas grandes cidades. Entre os poetas do gru- fase localista e consolidava a reconstrução
po, o único a cultivar o soneto, na linha apu- empreendida pela geração de 30. Sua lin-
rada dos neoclássicos, foi o escritor Otacílio guagem se apresenta como literatização
mesmo Sânzio, em sua Lite-
Colares. Por sua formação humanista, conti- da linguagem popular, de expressões
ratura Cearense, conta que
nuou a assumir as normas fixas do verso, com coloquiais, singularizando-se por constru-
“essa agremiação surgiu,
grande segurança, registrando, de modo sen- ções como as que transcrevemos de seu
portanto, quando já havia
sível, sua realidade interior, sem limitar as pos- livro Alguns poemas, publicado em 1938:
passado a fase primitivista
sibilidades expressivas do poema. Toda sua
do Modernismo e os poe- “O trem passa pinicando sordades”
produção poética é de um lirismo fortemente
tas entravam em outra fase “Vem danado pra chegá”
marcado pela confidência, pela plenitude dos “Um bando de colegiais tão fazendo
chamada por alguns de
sentidos, pela visão familiar do mundo. sururu na rua”
construtivista. Despontava,
De acordo com o livro Poesia cearense “Minha noiva foi simbora”
portanto, a geração de 45, quando o CLÃ, já
e realidade atual do escritor Pedro Lyra, a Em todos esses casos, observamos uma
com alguns livros publicados, começou a pro-
primeira fase de Otacílio Colares como po- fixação do autor à tradição oral do portu-
jetar-se”, o que é ratificado pelo depoimento
eta, contém vinte sonetos líricos, quase to- guês do Brasil, através da incorporação
do poeta Antônio Girão Barroso:
dos de amor, oscilando entre a serenidade dos vulgarismos mais usuais à lingua-
Depois, muito tempo depois, falou-se
do “Soneto em tons menores” e a exalta- gem literária, procurando sintonizar a
numa geração de 45. Se ela existiu, se-
gundo os justos desejos de um Lêdo Ivo ção do “Estudo em nu”, sintetizadas essas
e de Domingos Carvalho da Silva, não atitudes no ideal amoroso do belo “Soneto
soubemos na época, o que não deixa de de Nove de Outubro”:
ser lamentável. A verdade é que, pelo me-
nos alguns de nós – estreados em livro na Vai longe o tempo? Nem sei bem, só vejo
década de 30 ou um pouco depois de 40 que, quanto mais e mais se faz distante
– funcionamos aqui como uma espécie a hora do amor nascente, mais desejo
de ponte entre o modernismo e algo que estar junto de ti, amigo e amante.
talvez só esteja surgindo agora. Otacílio continuou a escrever seus belos
Essa geração representa uma volta da sonetos, compondo o que chamou de “Co-
poesia à sua depuração formal e à res- roa de Sonetos”. Isso aconteceu no número
tauração de certos gêneros fixos como o 26 da revista, sendo antecedido por uma
soneto e a ode. Existe uma certa preocu- análise crítica do professor, historiador e
pação no sentido de selecionar temas e crítico literário Sânzio de Azevedo.
7.
desenhista, pintor, escritor e um dos Azevedo era também poeta e foi
fundadores do Centro Cultural de Belas membro da Academia Cearense de
Artes (CCBA), em 1941, e da Sociedade Letras. Sua obra é composta de livros
Cearense de Artes Plásticas (Scap), de poesia e de um livro de crônicas,
em 1944. Escreveu o livro Esquema da Fortaleza Descalça, referência nos
DOS LIVROS pintura no Ceará em 1949. Participou estudos historiográficos no estado. É
PARA OS ATELIÊS e foi premiado em diversas edições
do Salão de Abril, em Fortaleza
pai do poeta, historiador e pesquisador
Sânzio de Azevedo, do astrônomo,
E ESTÚDIOS (MONTEZUMA, 2003, p.21). quadrinista, pintor e escritor Rubens
de Azevedo e do historiador,
Barrica (1908 – 1993) foi desenhista,
DE FOTOGRAFIA pintor e ceramista. Iniciou nas artes musicólogo e colecionista Miguel
Descobrimos todo um inquieto número plásticas nos anos de 1920, tendo Ângelo de Azevedo, o “Nirez”.
de pintores e desenhistas que se escondia aulas de pintura com Gérson Faria. Foi
numa suja e pequena sala do último andar também um dos fundadores do CCBA
de um velho prédio ali da Praça do Ferreira. e da SCAP. Em Fortaleza, participou CONFEITOS
Mas que embora escondido, trabalhava sem e foi premiado em diversas edições
interrupção. Aos pintores nos juntamos. Eles do Salão de Abril. Inaugurou, com
Para saber mais sobre a história do
vieram também para o Congresso [de Poesia]. uma mostra individual, o Centro de
Minimuseu Firmeza, legado do artistas
Artes Visuais Casa Raimundo Cela,
Aluízio Medeiros, em Crítica 2ª série (1946-1948). Estrigas e Nice Firmeza, conhecer o seu
em 1967. No cenário nacional, figurou
acervo e as suas salas de exposições,
em exposições de outras regiões do
té aqui abordamos sobre os confira: minimuseufirmeza.org
Brasil, especialmente em galerias
escritores do grupo CLÃ e da de São Paulo e do Rio de Janeiro
revista homônima. Como já (MONTEZUMA, 2003, p.21).
sabemos, os escritores do
CLÃ tinham uma relação
muito próxima com os artis-
tas plásticos da época, daí Os estúdios de fotografia surgidos na
nos preocuparmos em tra- segunda metade do século XIX, mas prolife-
tar um pouco das ações em rados nas primeiras décadas do século XX,
conjunto desenvolvidas por esses dois gru- foram espaços de aprendizagem e de atua-
pos: o CLÃ e a Scap. ção profissional dos pintores de Fortaleza,
O início das atividades da Sociedade em razão da crescente prática da técnica
Cearense de Artes Plásticas (Scap) data do retratismo (PONTE, 2014). Entre esses
do ano de 1944. No entanto, consideramos estúdios, mencionamos o Foto Walter e o
necessário discorrer sobre o movimento Photo Ribeiro, pertencentes, respectiva-
artístico que antecede à sua criação, pois a mente, a Walter Severiano e a J. Ribeiro,
sociabilidade entre os artistas plásticos e os onde predominavam a tradição dos retratos
intelectuais da literatura já era vivenciada a óleo ou a crayon (MARQUES, 2007, p.38-
nos anos e nas décadas anteriores. Nesse 39). Os artistas cearenses Barbosa Leite e
contexto, destacamos a importância dos Clidenor Capibaribe, o "Barrica", traba-
estúdios de fotografia e dos ateliês. lharam nesses estúdios de fotografia.
8.
A SOCIEDADE
A primeira edição do Salão de Abril
foi realizada pela Secretaria de Arte da
União Estadual dos Estudantes (UEE),
em 1943. Em seguida, houve o primeiro
O Salão de Abril, em sua trajetória, passou
por algumas mudanças e permanece
vivo até os dias atuais. Configura-se como
uma das mais importantes mostras de
artes visuais do país, sendo que neste ano
CEARENSE intervalo na história do Salão. Entre 1946
e 1958, a Scap realizou o Salão. Após (2020) ocorrerá sua 71º edição. A Prefeitura
DE ARTES um segundo intervalo em sua história, o
Salão de Abril ressurge no cenário artístico
de Fortaleza alimenta um site, no qual
estão disponíveis a maioria dos catálogos
PLÁSTICAS (SCAP) de Fortaleza em 1964, passando a ser das edições do Salão de Abril, entre outras
de responsabilidade da Prefeitura de informações acerca da tradicional mostra
A 27 de agosto de 1944, funda-se a Scap,
Fortaleza a sua realização. Quem estiver de arte. Confira: salaodeabril.com.br.
que representou a mais forte contribuição
interessado em conhecer mais sobre a
ao nosso desenvolvimento artístico. A
história do Salão de Abril, confira: O Salão
Scap mantinha uma Escola de Arte da qual
de Abril em dois momentos: Sociedade A seguir, destacamos, a partir de matérias
fizemos parte, lecionando perspectiva de
Cearense de Artes Plásticas e Prefeitura de jornais, algumas iniciativas da Scap em
anatomia. Ensinara nela os escultores Honor
Municipal de Fortaleza (1944-1970), de relação à organização de escolas e cursos de
e Angélica Torres, formados pela Academia
SILVA, Anderson de Sousa, dissertação arte, especificamente em 1955 e 1956:
de Belas Artes do Rio de Janeiro, Chabloz,
(mestrado em História), pela Universidade O Correio do Ceará, em 29 de janeiro
Mário Baratta e outros. Os intelectuais da Federal do Ceará, Fortaleza, 2015, em de 1955, trata do Curso Livre de Desenho
terra aderiram e podiam lá ser vistos, como nossa Biblioteca Virtual do AVA. e Pintura da Scap, realizado no início da
os escritores Artur Eduardo Benevides, década de 1950. Esse curso revelou impor-
Otacílio Colares, Mozart Soriano Aderaldo, tantes nomes da história das artes plásticas
João Clímaco Bezerra, Eduardo Campos, composição hierárquica, as funções entre cearenses, como Estrigas, Heloísa Juaçaba
Aluízio Medeiros, Antônio Girão Barroso e os membros associados, sendo que “a co- e Nice Firmeza (SILVA, 2015, p. 67). A mesma
Fran Martins. (AZEVEDO, 1996, p. 148) missão elaboradora dos estatutos foi com- matéria destaca que este curso passou a ser
posta por: Raimundo Cela, Mário Baratta, chamado, anos depois, de Curso de Dese-
citação acima é bastante elu- Raimundo Vieira Cunha, Melo Machado e nho e Pintura Vicente Leite e, em seguida,
cidativa no que diz respeito Fran Martins” (SILVA, 2015, p.52). de Escola de Belas Artes do Ceará (Ebac).
ao estreitamento das re- Entre as principais atividades desenvol- O Gazeta de Notícias, de 6 de maio de
lações entre artistas plás- vidas pela Scap, mencionamos o tradicional 1956, divulgou que a Escola de Belas Artes
ticos e escritores, através Salão de Abril de Fortaleza. Entre os anos do Ceará (Ebac) ofertava um curso de arte
da formação da Scap. Os es- de 1946 e 1958 a entidade realizou, anual- com extensa grade curricular e nomeava
critores mencionados, como mente, o Salão. Por se tratar de uma mostra seus professores: Francisco Matos (Desenho
você já deve ter percebido, competitiva, em cada edição alguns artistas Artístico), Angélica Torres (Modelagem), Car-
faziam parte do CLÃ, cuja tra- eram premiados e recebiam menções hon- los Ribeiro Pamplona (Anatomia e Fisiologia
jetória já foi destacada neste rosas da comissão julgadora, formada, majo- Artística), José Eduardo Pamplona (Geome-
fascículo. De acordo com o Diário Oficial do ritariamente, por membros da própria Scap. tria Descritiva), Roberto Vilar (Arquitetura
Estado do Ceará, de 6 de dezembro de 1944, O artista visual e pesquisador Roberto Analítica), J. Leopoldino (Perspectiva), Mário
as principais finalidades da Scap, segundo Galvão em A escola invisível: artes plásticas Baratta (Pintura), Honor Torres (Escultura). A
os seus estatutos, foram: (1) Realização perió- em Fortaleza (1928 – 1958) analisa a Scap Ebac tencionava ainda acrescentar História
dica de Salões de artes plásticas; (2) Manter como uma escola (invisível) para os artistas, da Arte, que seria ministrada por Araken Car-
uma Galeria de arte; (3) Concursos de moti- pois não havia em Fortaleza nenhuma es- neiro; Estética, por Artur Eduardo Benevides;
vos e (4) Criação de uma Escola de arte. cola formal de arte no período. Nesse sen- Psicologia aplicada, por João Vasconcelos
Os estatutos da Scap também indica- tido, as atividades desenvolvidas pela Scap César; Filosofia da Arte, por Lauro Oliveira, e
vam como funcionaria a associação, a sua proporcionaram uma formação em arte. Didática, por Hipólito Oliveira.
9.
tar que o autor de certo quadro de nossa
coleção, - de época mais remota, fosse o
mesmo que, hoje, assina “Vila suburbana”,
menção honrosa no Salão de Abril 1947,
“Casebres”, da Coleção do Dr. Aderbal
Freire e outros mais que se encontram na
A CRÍTICA posse de colecionadores como o Dr. Jonas
de Miranda e o Sr. Alcides Santos. Como
DE ARTE NA CLÃ pintor, consideramos Barrica o maior no
Ceará, dentro da escola para a qual se in-
Acho que o ponto alto da Clã, no tocante às clinou, a expressionista. (Barbosa Leite.
para eles foi fenômeno que se verificou de fora
artes plásticas, foi a possibilidade de registrar, Clidenor Capibaribe – Barrica. Revista
para dentro, se assim podemos dizer. (Otacílio
com muito zelo, eventos importantes das Clã, n. 4, agosto de 1948, p. 101 e 102).
Colares. Considerações em torno de Barrica.
nossas artes, principalmente o movimento O fragmento acima é um bom exemplo Revista Clã, n. 7, fevereiro de 1949, p. 143).
conhecido como escapiano de artistas do formato dos textos que eram escritos O nome de Barrica apareceu mais uma
integrantes da Scap. sobre os artistas plásticos. Nesse sentido, vez, agora num texto de autoria do escritor
Descartes Gadelha, para Clã: defendemos a ideia de que a revista Clã con- Otacílio Colares. Percebemos o formato
revista de cultura, 2008. tribuiu para a formação de um campo semelhante ao do texto de Barbosa Leite
para a crítica de arte no Ceará. A trajetória destacado anteriormente. A crítica de arte
os primeiros tópicos des- dos artistas era acompanhada por esses in- na Clã apontava elementos como o autodi-
te fascículo, o(a) cursista telectuais do CLÃ, que pontuavam a “evolu- datismo, a visibilidade a partir do Salão de
teve acesso a um pouco ção” do artista. Também era uma forma de Abril, além de atribuir certa aura de “heroís-
da história do grupo CLÃ divulgar as obras expostas no Salão de Abril, mo”, dando a entender que, de algum modo,
e da sua revista com ên- assim como a prática do colecionismo. os artistas estavam “predestinados” a per-
fase na produção de pro- “Barrica” não estudou pintura, não frequen- tencerem e se firmarem no campo da arte.
sa, poesia e teatro desses tou cursos de desenho. Nisto aliás não leva
escritores. Entretanto, a vantagem a qualquer outro dos nossos pinto-
res ora em evidência, esses jovens que come-
Clã era uma revista de
cultura, como anunciava, e seus redato-
çaram a aparecer nos Salões de Abril, desde
Antônio Bandeira a Aldemir Martins, desde
BOLACHINHAS
res tratavam de diversas linguagens. Aqui, Carmélio a Barbosa Leite. A atual geração de
nos deteremos a algumas contribuições pintores do Ceará, para honra sua e sua gló- O artista Barbosa Leite, além de cola-
para as artes plásticas cearenses, enten- ria maior no futuro, não fez pintura porque
borar na escrita da Revista Clã, também
o papai quis e a mamãe achou interessante.
dendo ser notória a parceria entre os publicou um livro pelo selo Edições Clã,
Foi para pintura por tendência e seu primeiro
escritores do CLÃ e os artistas da Scap contato com a arte caracterizou-se logo pelo Esquema da pintura no Ceará, lançado na
que, inclusive, ilustravam o periódico. manejo do pincel e o uso das tintas. A pintura quinta edição do Salão de Abril, em 1949.
10.
Revista de Ciências Sociais (Universidade
Federal do Ceará), vol. 38, n. 1. Fortaleza, 2007.
MEDEIROS, Aluízio. Crítica 2ª série (1946-
O poeta Francisco Carvalho, na revista Clã 1948). Fortaleza: Edições Clã, 1956.
de nº 30 – na verdade, uma homenagem ao MONTEZUMA, Luciano. Dicionário de artes
FECHANDO grupo CLÃ realizada em 2008 –, nos diz: “Não plásticas do Ceará. Fortaleza: Centro
Cultural Oboé, 2003.
há exagero em afirmar que o grupo CLÃ revi-
A REVISTA talizou gradativamente o status da produção MORAES, Vera Lúcia A. de. Clã: trajetórias
alar da Scap como um dos capítu- intelectual no Ceará, ao longo das últimas do modernismo em revista. Fortaleza:
Edições Demócrito Rocha, 2004.
los que compõem a historiografia cinco décadas do século XX. [...] na esteira de
da Literatura Cearense é reconhe- suas realizações e iniciativas, foi abrindo ca- MORAES, V.L.A de; GUTIERREZ, A. e
REMÍGIO, A. (org) Clã: revista de cultura
cer que as linguagens artísticas minho para o acesso das novas gerações, se-
– homenagem aos 6º anos. Fortaleza:
trabalham mais próximas do que dentas de espaço e de liberdade para as suas Imprensa Universitária do Ceará – UFC.
distantes umas das outras e isso criações nos domínios das letras e das artes”.
PONTE. Sebastião Rogério. Fortaleza
vem a contribuir com o fortaleci- Assim, para encerrar o nosso módulo, Belle Époque: reforma urbana e controle
mento da arte, dos artistas e, no propomos as seguintes reflexões e questio- social 1860-1930. 5. ed. Fortaleza: Edições
âmbito geral, da cultura. namentos: quais são os intelectuais que es- Demócrito Rocha, 2014.
A Revista Clã é um bom exemplo, como vi- crevem sobre arte no Ceará, atualmente? Isso SILVA. Anderson de Sousa. O Salão de
mos. Os escritores tinham a oportunidade de vale também para você, em qualquer outro Abril em dois momentos: Sociedade
apresentar seus trabalhos no campo da lite- estado do país. E como se configura o diálogo Cearense de Artes Plásticas (SCAP) e
ratura e, em paralelo, também atuavam como e as fronteiras entre a literatura e as artes vi- Prefeitura Municipal de Fortaleza (1944-
1970). 2015. Dissertação (Mestrado em
críticos de arte através dos textos que divul- suais na produção artística contemporânea?
História). Universidade Federal do Ceará,
gavam, além de promover nossos artistas e No próximo módulo, fique de olhos bem Fortaleza, 2015.
refletir sobre a sua trajetória e renovação. abertos: literatura em encruzilhadas!
ILUSTRADOR
Carlus Campos
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carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Fundação Demócrito Rocha
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como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção fundacao@fdr.org.br
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CURSO
l c
9 Da Vanguarda
à Ditadura
Literatura em Encruzilhadas
Fernanda Diniz e Kedma Damasceno
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Realização
1.
A PALO SECO
omo você já deve ter percebi-
do, nossos módulos têm atra-
vessado variados períodos da
história. Em cada um deles, a
2.
literatura e as artes em geral se
manifestam de forma distinta, a
partir de influências e de novas
contribuições. Neste módulo,
também situado em um deter-
minado recorte de tempo, trazemos a você VANGUARDA?
um estudo que impulsiona a reflexão acerca No sétimo módulo de nosso
dos conceitos de vanguarda e de geração, curso, soubemos um pouco
tanto no âmbito nacional, quanto no local. sobre as vanguardas euro-
Assim, você poderá acompanhar conosco peias e as suas influências no
como se deu a “encruzilhada” entre a literatu- surgimento do Modernismo
ra vanguardista e alguns dos principais fatos brasileiro. A palavra vanguar-
históricos e literários desse período, perpas- da, partindo do pressuposto
sando a ditadura civil-militar brasileira e se es- francês avant-garde – pois
tendendo até a década seguinte, ou seja, es- tem origem latina e alemã,
tamos entre as décadas de 1950, 1960 a 1970. ainda no século XII –, significa, literalmente,
Para você, que admira e busca cada vez a “guarda avançada ou parte frontal de um
mais aprofundar seus conhecimentos so- exército”. Sabendo disso, você consegue
bre a Literatura Cearense, é importante associar o termo ao surgimento dos diver-
saber que durante esse período nossos es- sos movimentos de ruptura artística do
critores, a exemplo de seus antecessores, início do século XX, que tinham por obje-
também se mantinham antenados com o tivo “tomar a dianteira” da esfera artística,
que acontecia no país e procuravam acom- rompendo esteticamente com tudo aquilo
panhar, renovando ou não, os demais mo- que para eles representava uma arte ultra-
vimentos e produções artístico-culturais. E, passada e que privilegiava e atendia princi-
motivados pelo que o professor e escritor palmente aos interesses da classe burguesa.
Batista de Lima denomina de “literatu- Para compreender melhor o contexto van-
ra de mutirão”, criariam por aqui, mesmo guardista da literatura no Brasil e no Ceará, é
quando meteoricamente, novos grupos li- preciso uma revisão no mínimo básica das
terários. Seguindo a rota destes escritores principais vanguardas históricas da Europa,
que buscavam romper padrões estéticos cientes que somos de suas significativas in-
e/ou político-sociais, esperamos contri- fluências. Mas, claro, devido ao curto espaço
buir para ampliar o debate sobre os estudos de que dispomos, não poderemos fazê-la
em Literatura Cearense. Sinta-se convidado aqui mais profundamente, contudo é vasta a
para entoar conosco este canto de ruptura. bibliografia que você poderá inclusive encon-
Está curioso(a)? Pois tomemos as ruas! trar na internet sobre tais estéticas. Pesquise!
4.
outros artifícios que possibilitassem a criação
de uma poesia dotada de objetividade.
O contexto social, político e econômi-
co da década de 50 no Brasil, o governo JK,
a construção de Brasília (1957-1960), entre
O CONCRETISMO outros, contribuiu bastante para a inserção
e fortalecimento das ideias de ruptura pos-
ARARAJUBA tuladas pelo movimento de poesia concreta
“É a poesia concreta quem inaugu- no país. Perceba que, no âmbito dos grandes
ra o segundo ciclo vanguardista centros São Paulo e Rio de Janeiro, a vanguar-
no contexto da modernidade lite- da concretista encontrou o espaço ideal para
rária brasileira. ” A professora de Te- o lançamento de suas ideias que claramente
oria Literária Iumna Maria Simon, dialogavam com o anseio pela moderniza-
em seu ensaio “Esteticismo e parti- ção tão em voga. A valorização dos meios de
cipação: as vanguardas poéticas no comunicação de massa também foi bastante
contexto brasileiro (1954-1969)”, faz significativa nesse momento, como mencio-
essa afirmação para ratificar que, na o crítico Antonio Candido em seu ensaio
depois do Modernismo de 22, nos “Literatura e Subdesenvolvimento” (1970).
anos de 1950, o Concretismo surge no Bra- E como aconteceu a chegada do Concre-
sil e assume o posto de segundo momento tismo ao Ceará, sabido que este era um es-
vanguardista de relevância no país. tado periférico e ainda predominantemente
O movimento nacional de Poesia Concreta agrário, ou seja, longe deste afã urbanístico
nasceu nos primeiros anos da década de 1950, que predominava o eixo sul e sudeste brasi-
pelo trabalho do grupo brasileiro Noigandres, leiro? É o que veremos a seguir.
6.
que conseguiam acompanhar as técnicas tudo, apesar de não se dedicarem tanto ao
da nova poesia. Em linhas gerais, pode-se projeto da poesia concreta, percebe-se que
dizer que o movimento da poesia concre- a manifestação dessa vanguarda no estado,
ta no Ceará encontrou, aqui, solo fértil para além de legar aos poetas cearenses técni-
seus adeptos e suas atividades e produções. cas de composição e experimentação es-
tética, causou alguma estranheza no meio
A GERAÇÃO 60
Geração 60 do Modernis-
ainda fortemente tradicionalista, cumprin-
mo Brasileiro se caracteriza
do assim, ao menos em parte, o desígnio de
como um movimento que
todas as vanguardas.
apresenta aspectos artísti-
cos e literários provenien-
tes de diferentes tempos
e espaços. Nelly Novaes
Coelho é uma das primeiras
estudiosas a abordar, em
plano nacional, autores dessa faixa geracio-
nal, reunindo-os na Geração 60. Em Carlos
Nejar e a “Geração 60”, a autora escreve:
Chamamos de ‘Geração de 60’ aos poetas
das mais variadas tendências que se reve-
laram ou firmaram na década que acaba
de findar e que apresentam como denomi-
nador comum, a intensa pesquisa no sen-
tido do reajustamento da linguagem às
solicitações dos novos tempos, e o impulso
dinâmico da integração do homem e da
poesia no processo histórico em desen-
volvimento. (COELHO, 1971, p. 170).
Notamos que no discurso de Coelho
verifica-se na Geração 60 o surgimento de
novas preocupações, tanto no que se refere
à construção da linguagem quanto às te-
máticas a serem desenvolvidas.
Em 1995, o poeta, teórico, ensaísta e crí-
tico cearense Pedro Lyra organizou uma
antologia intitulada SINCRETISMO: a poesia
da Geração 60. Trata-se de uma coletânea
de 628 páginas, antecedida por um longo
estudo inicial sobre o conceito de “Geração”.
Nessa obra, o autor mapeia, classifica e ana-
7.
primeiros livros de poemas), Ciro Colares,
Caio Cid (pseudônimo de Carlos Cavalcan-
ti), Juarez Barroso (seu único livro publicado
em vida ganhou o Prêmio José Lins do Rêgo,
em 1968), Sânzio de Azevedo (publicaria seu
O GRUPO SIN livro de estreia como poeta, sendo, entretan-
s anos 60 no Ceará, cul- Ou seja, os anos de 1960, seriam de grande to, mais reconhecido futuramente pela ex-
turalmente, foram mar- produção literária no Ceará, do CLÃ e de in- tensa bibliografia sobre Literatura Cearense),
cados por diferentes dependentes, o que é facilmente constatado Caio Porfírio Carneiro, entre outros.
levantes de resistência em uma breve lista de publicações do perío- É no meio desse contexto que, em 1967,
artístico-social, no que do que você poderá encontrar na Biblioteca surge o grupo SIN, tendo como principal
se refere à literatura, ao Virtual do AVA. A seguir, alguns de nossos diretriz o sincretismo literário e artístico.
teatro e ao cinema. autores que publicaram na década de O movimento teve vida curta, porém
É importante nunca 1960: Fran Martins, Aluízio Medeiros, Eduar- produtiva. Iniciou-se com a articulação de
esquecermos que apesar do Campos (com grande profusão de gêne- estudantes, principalmente dos cursos de
de tratarmos aqui de ros: contos, romances e dramaturgia), Artur Direito e de Letras da Universidade Federal
outros movimentos que surgiriam nos anos Eduardo Benevides, Otacílio Colares, Morei- do Ceará (UFC), interessados por literatura e
50, 60 e 70, o CLÃ continuaria suas atividades, ra Campos, Milton Dias, Lúcia Martins (es- outras artes. Observe que o nome do grupo
entretanto, como afirma Sânzio de Azevedo, treando em livro), Durval Aires (publicando deriva de sincretismo, palavra oriunda do
“perdendo este sentido de movimento revo- suas “novelas-reportagens”), João Jacques étimo grego (synkretismos), que, conforme
lucionário (como aliás seria de se esperar), (irmão de Paulo Sarasate e redator-cronista o Dicionário online Caldas Aulete é um “sis-
até transformar-se numa agremiação aber- de O POVO, que surgia na cabeça do Cipó tema filosófico que consiste em combinar
ta, na qual vão ingressando outros nomes de Fogo, em 1931, publicaria crônicas e con- as opiniões e os princípios de diversas esco-
de nossa literatura”. (AZEVEDO, 1976, p.500). tos), Margarida Saboia de Carvalho (filha de las; mistura de opiniões combinadas para
9.
nha Jr, Juarez Leitão, Mário Nogueira, Vicente
Freitas, Márcio Catunda, Guaracy Rodrigues, lando por bancas de revistas em dezessete
Stênio Freitas, Costa Senna, Ricardo Guilher- estados do Brasil e contando com 12 cola-
me, Walden Luiz, Aluísio Gurgel do Amaral Jr. boradores internacionais, de países como
e Mário Gomes, entre muitos, muitos outros. Portugal, Espanha, Suécia, Estados Unidos e
Entre as atividades do Clube estava a or- LITERATURA Suíça. Alguns dos nossos escritores estreariam
n’O Saco, como o cronista Airton Monte, por
ganização e publicação de antologias – che-
gou a publicar quatro, sendo a última com N’O SACO exemplo, que apenas em 1979 lançaria seu pri-
organização de Carneiro Portela, capa de Nos dias primaveris, colherei flores / meiro livro de contos: O grande pânico.
Rosemberg Cariry sobre desenho de Luiz Ca- para meu jardim da saudade. Em 2006, em entrevista para um peri-
rimai –, bem como publicações em revistas e Assim, exterminarei a lembrança ódico local, Carlos Emílio argumentou:
jornais, além da realização de eventos como de um passado sombrio. “algumas pessoas achavam a literatura ‘um
a “Semana de Estudos de Literatura Cearen- saco’, então resolvemos colocá-la dentro de
Frei Tito de Alencar (12.10.72) um para divulgá-la”.
se” e o “Festival de Poesias”.
os anos de 1970, o cenário O objetivo do periódico era propor algo
artístico nacional estava novo para os padrões da época e, para tanto,
cada vez mais fragmentado. a publicação se valeu de um projeto experi-
Os “anos de chumbo”, espe- mental, considerado até os dias atuais ainda
cialmente com o advento arrojado. A revista não vinha encadernada,
do cruel e sangrento Ato colada ou grampeada. Pelo contrário, suas
Institucional nº 5 (AI-5), folhas eram arrumadas em quatro encartes:
ainda em 1968, perseguiram prosa, poesia, artes plásticas e um anexo com
e levaram muitos artistas ao entrevistas, críticas literárias, reflexões e ma-
exílio e à clandestinidade, térias jornalísticas. Esses encartes viam quase
ao cárcere (como o poeta soltos num envelope de papel que era pendu-
Gerardo Mello Mourão – na mesma cela de rado nas bancas de revista.
Zuenir Ventura, Ziraldo e Hélio Pellegrino – e Para Nilto Maciel, O Saco não se confi-
a jornalista Heloneida Studart – quando gurava como um movimento. Segundo
É graduada em Letras pela Universidade Federal do Ceará FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
(UFC), com mestrado em Letras, MBA em Docência e João Dummar Neto Presidente
Metodologia do Ensino Superior, especialização em Gestão André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
e Coordenação Escolar, doutorado em Letras e pós- Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
doutorado em Educação, também pela UFC. Professora
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes
efetiva da Secretaria da Educação do Estado do Ceará. e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
Tutora no curso de Letras da UFC Virtual. Coordenadora
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Pedagógica da Escola de Gestão Pública do Ceará (EGPCE). Viviane Pereira Gerente Pedagógica
É membro da Academia Maracanauense de Letras (AML), Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
na cadeira 25, cujo patrono é Pedro Lyra. Integra o Grupo de Joel Bruno Designer Educacional
Pesquisa Estudos de Residualidade Literária e Cultural (UFC) CURSO LITERATURA CEARENSE
e o Grupo de Pesquisa em História da Educação do Ceará Raymundo Netto Coordenador Geral,
(UFC). É organizadora das publicações do grupo Ceará em Editorial e Estabelecimento de Texto
Letras e é acadêmica de Psicanálise (IAPB). Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Kedma Damasceno Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
É graduada em Letras, com mestrado em Literatura Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Comparada e Graduação em Letras (Português/Literaturas)
Luísa Duavy Produtora
e é doutoranda em Letras pela Universidade Federal do
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
Ceará (UFC). Professora efetiva da Secretaria da Educação ISBN: 978-65-86094-21-3 (Fascículo 9)
do Estado do Ceará. Integrante do Grupo de Estudos de
Literatura, Tradução e suas Teorias (GELTTTE/UFC/CNPQ) e
do Grupo Antonio Candido/ História e Literatura, da UFC.
ILUSTRADOR
Carlus Campos Todos os direitos desta edição reservados à:
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira em Fundação Demócrito Rocha
1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas fdr.org.br
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nacionais importantes como a Caros Amigos e a Bravo.
Dentro da produção gráfica ganhou prêmios em salões de
Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
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10 Escritos
do Ignoto
A Literatura Fantástica
Aíla Sampaio
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xarmos surpreender por aparições e fantas-
magorias, ou melhor, estamos prontos para
apreciá-las de outro modo, como elementos
da cor da época” (CALVINO, 2004, p. 9).
1.
Na obra, Calvino seleciona narrativas
de diversos autores, alguns reconhecida-
mente marcados pelo fantástico, como
Hoffman, Poe, Hawthorne, Stevenson, en-
VOCÊ! AINDA tre outros que apenas experimentaram o
fantástico, mas destacaram-se em outros
HÁ TEMPO gêneros, embora o organizador reconheça
o relevo das narrativas elencadas, que ser-
PARA VOLTAR... vem de base de sustentação ao fantástico
Antigas como o medo, as ficções mundial, como é o caso de Théophile Gau-
fantásticas são anteriores às letras. tier que, conforme Calvino, tem “A morte
As assombrações povoam todas amorosa” (1836) como “o mais famoso e o
as literaturas: estão no Avesta, na Bíblia, mais perfeito (talvez até perfeito demais,
em Homero, no Livro das mil e uma noites. como frequentemente ocorre em Gautier),
Talvez os primeiros especialistas executado e burilado de acordo com todas
no gênero tenham sido os chineses. as regras. O tema dos mortos-vivos e dos
vampiros (no caso em questão, uma vampi-
Adolfo Bioy Casares, em Antologia da
ra) apresenta-se aqui numa espécie de alta
Literatura Fantástica (2013).
qualidade, que mereceu os elogios de Bau-
as se eu fosse você, fica- delaire” (CALVINO, 2004, p. 213).
ria por aqui! Na sua seleção, Gogol, Mérimée, An-
Ítalo Calvino, na in- dersen, Dickens, Turguêniev, Balzac, Scott,
trodução de sua antolo- Maupassant, James, Kipling, Wells, Poto-
gia Contos fantásticos do cki, entre outros.
século XIX, afirma em seu É notável como as lendas, os causos e as
primeiro parágrafo: “O tradições locais, especialmente os interiora-
conto fantástico é uma das nos, se transfiguram em fantástico literário,
produções mais caracterís- seja no Ceará ou no Mundo. São histórias de
ticas da narrativa do sécu- vingança – pós-túmulo ou não –, a presença
lo XIX e também uma das mais significativas de entes supra-humanos, inclusive empres-
para nós, já que nos diz muitas coisas sobre tados do folclore, assombrações – mortos
a interioridade do indivíduo e sobre a simbo- em acidentes trágicos ou assassinados – e
logia coletiva. [...] Sentimos que o fantástico os castelos ou casarões amaldiçoados. Por
diz coisas que se referem diretamente a nós, outro lado, apenas estados psicológicos de
embora estejamos menos dispostos do que horror, medo ou mesmo um pesadelo po-
os leitores do século passado [XIX] a nos dei- dem configurar uma boa narrativa fantástica.
2.
do fenômeno, assegura que a hesitação é
característica do fantástico tradicional –
século XIX. O fantástico moderno não va-
cila entre aceitar ou não o fato sobrenatural,
O GÊNERO raízes nas histórias de deuses, fadas e feiticei- não provoca espanto diante dele, ou seja,
ras da Antiguidade Clássica. Como todo gê- o evento insólito é naturalizado (ERDAL
FANTÁSTICO E nero, o fantástico teve estabelecidos os seus JORDAN, 1998, p. 110), embora seja patente
cânones, continuamente fundamentados e uma inexplicável transgressão de ordem.
SEUS “VIZINHOS” revisados por teóricos como Roger Callois, Corroborando essa concepção atual, Ana
gênero fantástico se con- Tzvetan Todorov, Irene Bessière, Louis Vax, María Barrenechea afirma a configuração do
solidou como estética a Victor Bravo, Filipe Furtado, e, mais adiante, fenômeno “em forma de problemas feitos a-
partir do período do Ro- pelo crítico Erdal Jordan e pela filóloga ar- -normais, a-naturais ou irreales em contraste
mantismo – mais espe- gentina Ana María Barrenechea, entre outros. com factos reais, normais ou naturais”, con-
cialmente, do Romantis- Mestres do horror, como H.P. Love- siderando-se, assim, fantástico todo texto
mo alemão –, com suas craft, E. T. A. Hoffmann, Edgar Allan cujo enredo encene acontecimentos que
narrativas góticas (essas, Poe e Téophile Gautier, deixaram um le- transponham as leis naturais, ou seja, que
desde o século XVIII, ori- gado para os amantes do sobrenatural e coloquem em conflito o mundo empírico e o
ginária da Inglaterra), exerceram influências na ficção fantástica mundo fantasioso, sem necessariamente
embora já tivesse suas produzida em todo o mundo. instalar o espanto ou o medo.
4.
veem na obra o componente fantástico,
mas, sim, de maravilhoso, um de seus “vi-
zinhos” fronteiriços aqui destacados.
O enredo desse romance cujo subtítulo
A POLÊMICA atribuído pela autora é “romance psicológi-
co”, além de trazer questões relativas à situ-
RAINHA DA ILHA ação da mulher da época, mostra o espírito
revolucionário da autora que cria, em sua
DO NEVOEIRO narrativa, uma sociedade secreta de mulhe-
romance A rainha do ig- res liderada por uma misteriosa rainha, por
noto, de Emília Freitas, meio da qual se resgatam, principalmente,
editado originariamente mulheres de diferentes partes do Brasil, li-
em 1899 e que teve uma bertando-as de suas vidas trágicas e dando-
segunda edição apenas -lhes oportunidade de independência.
em 1980, por iniciativa de A protagonista – conhecida com o epíte-
Otacílio Colares, é consi- to de “Rainha do Ignoto” ou ainda pelas al-
derado por alguns como cunhas de Funesta, Moça Encantada, Diana,
o primeiro romance fan- Zuleica Neves, Zélia, de acordo com o disfarce
tástico brasileiro. Há que usava em suas empreitadas – era repu-
também quem o apresente como primei- blicana, abolicionista e espírita. Percorria
ra obra de fantasia da literatura brasi- várias cidades no Brasil no intuito de encon-
leira, o que justifica o número de edições trar mulheres que sofriam algum tipo de vio-
por editoras distintas que encontramos lência física ou moral, ou que sofresse pela
hoje no mercado, com apresentações de sua condição de subjugada, ou em estado de
Constância Lima Duarte (2003) e de Ale- solidão, depressão ou situações afins, para
xander Meireles da Silva (2020). levá-las à sociedade secreta que liderava, na
qual poderiam desenvolver trabalhos de acor-
do com suas habilidades: engenheiras, médi-
cas, marinheiras, generais, cientistas.
6.
Pontes, Carlos Gildemar Pontes, Beatriz
Alcântara, Durval Aires Filho, Claudio
Portella, Vicente Jr. (também pesquisador
do gênero entre nós), Sérgio Telles, entre
tantos que utilizam ou utilizaram um dia o
insólito como fonte de inspiração. O FANTÁSTICO NO ROMANCE
MODERNO E CONTEMPORÂNEO
ambém orientando-me pe- a aparição de um terceiro, embuçado em
-la coletânea O cravo roxo um capote escocês, que se acocorou ao
do diabo: o conto fantástico pé de Manoel e pôs sobre as brasas a sua
no Ceará, apesar do título espetada. Esta, em vez de ser de carne, era
se referir ao gênero conto, um sapo enorme, cuja gordura derretia-
registram-se 17 romances -se e pingava nas brasas, que crepitavam
escritos por cearenses com, sinistramente. Os dois olharam-se como
pelo menos, alguma inter- quem dizia: temos obra. O intruso, mudo
venção de fantástico. e impassível, virava o sapo, ora de barriga
O primeiro, A casa as- para cima, ora de costas, e, por fazer ob-
sombrada, de Bezerra de Menezes. Como séquio a quem lhe fornecera as brasas,
o próprio título prenuncia, traz a inserção levava-o acima da espetada vizinha para
do sobrenatural, a presença de barulhos untá-la com a gordura que escorria do bi-
estranhos e mesmo uma assombração cho.” O fantástico se realiza de forma tra-
corporificada, capaz de interagir com os dicional, tanto pelo espaço, como pelo
vivos para horrorizá-los: “De repente, foi clima soturno que se estabelece, quanto
a atenção de um e de outro atraída para pelo motivo que conduz o enredo.
7.
tações se deram, inicialmente, na poesia do
patriarca Juvenal Galeno, do poeta Bar-
bosa de Freitas, dos romancistas Bezer-
ra de Menezes, Rodolfo Teófilo e Emília
Freitas, bem como em contos e poemas de
POEMAS Antônio Sales, percorrendo as correntes
estéticas que se seguiram e se sobressaindo
FANTÁSTICOS? em gêneros textuais variados.
s teóricos do gênero não Tomando o fantástico na acepção de
citaram, em nenhum de fantasia ou encenação de evento trans-
seus estudos, textos em gressor da normalidade, em O cravo roxo
versos para ilustrar carac- do diabo, o organizador decidiu incluir po-
terísticas do fantástico, tão emas em que transparecem imaginações
somente mostraram a sua delirantes ou evocam criaturas que subver-
configuração em compo- tem fatos naturais, como bruxas, duendes,
sições narrativas como o gnomos, feiticeiras, morcegos, sereias, sata-
conto e o romance. nás. Compreendendo-o, em sua concepção
8.
expressão hiperbólica de sua paixão”.
Cabe a você, cursista, caso se interesse
pelo tema, pesquisar, estudar e
defender o seu argumento.
SOBRE
A COLETÂNEA
O CRAVO ROXO
DO DIABO
antologia O cravo roxo do
diabo: o conto fantástico
no Ceará é uma referência
para as narrativas do gê- A pesquisa e a organização, que durou
nero produzidas no estado quase cinco anos, reúne textos fantásticos
por cearenses e por outros – ou que margeiam as suas características
radicados no estado. Como – escritos no Ceará, catalogados pelo es-
vemos, nela não se levaram critor Pedro Salgueiro, e que contou com
em consideração os crité- alguns nomes da nossa literatura para a
rios de ser ou não escri- efetivação da pesquisa histórica e a execu-
tor cearense expostos em nosso primeiro ção do audacioso projeto: Sânzio de Aze-
módulo. Assim, por exemplo, Tomás Lopes, vedo, Alves de Aquino (“O Poeta de Meia-
que nasceu em Fortaleza, mas teve a sua -Tigela”), Carlos Vazconcelos e Raymundo
produção literária no Rio de Janeiro, teve Netto (também responsável pelo projeto
seu lugar nesta antologia. gráfico, ilustrações e capa).
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11 Mala de
Romances
a Literatura de Cordel
Arievaldo Vianna
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1.
A PELEJA
DO CORDEL
Em memória de Arievaldo Vianna
Nordeste, por onde come- Como veremos neste módulo, o Ceará
çou o processo de coloni- também se configurou como um lugar im-
zação do Brasil, veio a ser portante na impressão e difusão da litera-
o principal berço da acli- tura de folhetos, tendo se tornado o berço
matação do cordel vindo acolhedor e exportador de vários cantado-
da Europa a uma nova re- res e poetas populares, muitos deles que
alidade social. mesmo não residindo mais neste mundo,
Comprovamos isso ainda continuam presentes nas praças e nas
com a presença de um calçadas, por meio de suas obras ou perma-
conjunto de elementos que ainda hoje são nentemente vivos no declamar fervoroso e
recorrentes nas narrativas populares em colorido de seus seguidores e leitores.
verso,, cujos enredos se destacam pelo uso
de expressões linguísticas da região, pela
presença de personagens do panteão local
(figuras do cangaço, profetas milagreiros,
sertanejos astutos etc.), pela constância
de elementos associados com o semiárido
(secas, coronelismo, religiosidade popular
etc.), entre outros.
Alguns estados nordestinos exerceram
um papel de destaque no processo de sis-
tematização da criação, publicação e
distribuição do cordel. A capital de Per-
nambuco, onde já havia uma tipografia
desde 1815, foi o principal polo de im-
pressão dos folhetos no século XIX. Da
Paraíba, saíram muitos poetas em direção
a Recife, incluindo Leandro Gomes de
Barros (1865-1918), poeta que, pela qua-
lidade e variedade de sua obra, veio a ser
merecidamente considerado o pai da lite-
ratura de cordel brasileira.
2.
Leandro Gomes de Barros, que chegou
ao editor por meio da obra Violeiros do
Norte, de Leonardo Mota.
3.
importante destacar, no jornal O Cearense, Por exemplo, o epíteto de “criador
de 1871, encontramos um poema seu sobre da poesia popular” Juvenal não o
a Guerra de Paraguai, o que faz com que merece, nem o queria.
Santaninha anteceda em pelo menos duas A poesia popular surgiu com o
desenvolvimento da humanidade,
UM POETA décadas o “pai do cordel”, Leandro Gomes
de Barros, que só começaria a publicar os sabe-se lá Deus exatamente quando,
POPULAR NA seus cordéis a partir de 1889.
Deslocando-se para o Rio de Janeiro, ca-
primeiramente transmitida por
gerações ancestrais pela
CAPITAL DO pital do Império, em 1877, Santaninha deu oralidade. E Juvenal, no
prosseguimento a uma atividade artística Prólogo de Lendas e
IMPÉRIO que conciliava música e poesia popular, canções populares, afirma:
omo já destacado, no Ceará apresentando-se em lugares públicos em “[...] ouvi e decorei seus
do século XIX não havia ain- troca de contribuições dos passantes. Tam- cantos, suas queixas, suas
da uma produção sistemática bém utilizou-se dos jornais para divulgar lendas e profecias [...] – com
de cordéis. Podemos verificar tanto os pontos de vendas de suas obras ele [o povo] sorri e chorei, – e
isso quando buscamos e não quanto os lugares e horários de suas apre- depois escrevi o que ele sentia, o
encontramos nos jornais cea- sentações públicas ou privadas. que cantava, o que me dizia,
renses daquele período qual- Além de Santaninha, outros poetas vin- o que me inspirava.”
quer anúncio de tipografias dos de fora do estado deram importante Juvenal não criou a poesia popular,
que vendessem folhetos. Nos contribuição para a floração da literatura mas se inspirava na musa popular, a
periódicos, era Juvenal Galeno pratica- de cordel no Ceará, contando-se entre eles partir da qual criava a sua poética.
mente um sinônimo de poesia popular. o também potiguar Luiz da Costa Pinhei-
Não obstante, como informam os pesqui- ro, o alagoano José Bernardo da Silva e o
sadores Arievaldo Vianna e Stélio Torqua- paraibano João de Cristo Rei. Juntam-se a
to Lima (2017), autores deste fascículo, eles os nomes dos cearenses João Mendes
pelo menos um poeta verdadeiramente de Oliveira e José Cordeiro da Silva. O úl-
popular ganharia alguma notoriedade na timo, a propósito, aproveitando a passagem
mídia impressa da capital cearense: João de Lampião pela “Meca do Cariri” (Juazeiro
Sant’Anna de Maria, o “Santaninha”, do Norte) em 1926, escreveu o folheto Visita
autor dos poemas em cordel Guerra do Pa- de Lampião a Juazeiro, no qual cita o nome
raguai; Imposto do vintém; O célebre chapéu de todos os cangaceiros do bando, nomes
de sol de Sua Majestade o Imperador; A seca ditados pelo próprio Virgulino. Além desse
do Ceará; O pai da criança; O russinho; As cordel, escreveu, entre outros, Perseguições
moças chorando pelo fim do carnaval, etc. de Lampião pelas forças legais.
5.
dos cabeludos e os usos de hoje em dia. representou um golpe de morte nas tipo-
No que diz respeito em específico a sua grafias artesanais; (2) o crescente proces-
devoção ao padre Cícero, cabe citar os seguin- so de urbanização das cidades nordes-
tes títulos que evidenciam o protagonismo do tinas, levando a novos padrões e hábitos
sacerdote: A opinião dos romeiros sobre a cano-
nização do Padre Cicero pela Igreja Brasileira;
O MISTÉRIO de consumo e ao fortalecimento de novas
mentalidades; (3) a ampliação do acesso
O Padre Cícero, o sertanejo e os coronéis e Em
defesa da memória do Padre Cícero. O último
DO PAVÃO QUE dos nordestinos aos meios de comunica-
ção de massa, pincipalmente a TV, levando
se constitui uma reação à publicação da obra RECOLHEU o público a se dividir entre outras formas
de divertimento; (4) a popularização de
A CAUDA outros gêneros literários e o aumento do
m 1981, por ocasião do II Ciclo da preço do cordéis. Também, é claro, não se
Literatura de Cordel, encontro pode deixar de trazer novamente à lembran-
de poetas populares e pesquisa- ça a morte de José Bernardo da Silva, com
dores do cordel realizado na Uni- a (5) posterior diminuição das atividades
versidade Federal do Ceará, o pro- da Tipografia São Francisco. O somatório
fessor Átila de Almeida decretava de tudo isso e de outras coisas mais podem,
o “fim do cordel” (Cf. Literatura po- de alguma forma, tentar explicar o declínio
pular em questão, 1982, p. 17). do cordel nesse período.
6.
Um fato importante a se destacar nesse
Sete temas de cordel (ensaio) e Saudade
período foi o aparecimento inesperado de
enluarada (poesia - póstumo).
um poeta em um cenário em que a poesia
popular impressa não possuía ainda uma
tradição, comprovando que, mesmo na Uma das primeiras foi a Academia Brasi-
dificuldade, a poesia popular continuava ABRINDO leira de Cordel (ABC), cujo fundador e pre-
sidente era Vidal Santos. A instituição, cabe
resistindo. Trata-se do surgimento do poe-
ta-pescador José da Rocha Freire, mais co- A NOVA MALA informar, passou a administrar, a distância, a
DE ROMANCES Lira Nordestina (antiga Tipografia São Fran-
cisco), quando esta veio a ser adquirida pelo
pesar do discurso pessimista Governo do Estado do Ceará. Essa administra-
de alguns de seus pesquisa- ção, diga-se de passagem, recebeu várias críti-
dores (e até mesmo de poetas cas, como as que assinou o pesquisador ma-
populares), o cordel resistiu ranhense Ribamar Lopes (Cf. LOPES, 1987).
aos anos mais duros, chegan- Ainda nos anos 80, nascia o Centro Cul-
do aos dias atuais com o vigor tural dos Cordelistas do Nordeste, que
renovado, passando a ocupar surgiu da constatação dos poetas piauienses
espaços que antes lhe eram radicados no Ceará, Gerardo Carvalho Fro-
vedados. E, ao contrário do ta (o “Pardal”, atual presidente da instituição)
que se esperava, sendo privi- e Guaipuan Vieira, a partir de uma pesqui-
legiado em compras governamentais, in- sa realizada em 1985, de que eram poucos
gressando nas escolas, ganhando espaços à época os cordelistas em ação em nosso
em grandes eventos e sendo laureado em estado. A partir daí, procuraram espaços que
prêmios literários reconhecidos no país. permitissem a venda das obras que os dois
Para o revigoramento do cordel no Cea- produziam. Juntaram-se a eles, JotAmaro,
rá, porque não podemos falar de ressurei- José Caetano e Horácio Custódio. Funda-
ção de algo que nunca morreu, concorre- ram, então, em 1987, uma associação que ti-
ram vários acontecimentos. Um deles foi, nha inicialmente o nome de Centro Cultural
sem dúvida, o desenvolvimento de uma dos Cordelistas do Ceará, que logo depois
consciência coletiva que resultou no movi- passou a ostentar o nome atual: Cecordel.
mento de integração dos nossos poetas Seguindo a cronologia, cabe destacar
populares em agremiações, que passa- ainda outras duas importantes instituições
ram a concentrar esforços para conquistas de cordelistas que ajudaram a projetar o
comuns de seus associados. gênero poético em foco: A Academia dos
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12 Itinerários
de Leitura:
Um Passeio pela
Literatura do Ceará
i e Vanessa Passos, Nina Rizzi e Raymundo Netto
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1.
nuais e/ou roteiros de estudo de Literatura vence na Terra?” (GALENO, 2010, p.70) Para
Cearense, entre os quais a literatura infanto- isso, criou alguns poemas para o começo e
juvenil, os movimentos que nos chegam das término das aulas, para quando um colega
periferias, em formatos nada acadêmicos ou maltratasse outro ou mentisse, para aulas
tradicionais, além de um panorama do mer- em campo, para datas célebres, em casos
ERA UMA VEZ... cado editorial e da sua produção, seja por de visitas de inspetores à sua escola, para
A vida do escritor da província é um drama editoras independentes ou pelas formais. os finais de semana etc. Acreditava ele que
pungente. Trancado no silêncio e na distância Para começar nosso trajeto, gostaría- “além de desenfadar o menino, alegrando-
sem estímulo, sem recompensa, com jornais mos de lembrar que já vimos aqui a afir- -lhe o espírito e de predispô-lo para con-
de circulação limitada, com edições precárias mação de que Canções da Escola (1871) de tinuar o trabalho, ensina-lhes úteis pre-
– os que se dão às letras têm o destino dos Juvenal Galeno é o primeiro registro no ceitos, e serve-lhes de estímulo, prêmio e
emparedados: vivem subterraneamente. O Ceará de uma obra destinada ao públi- castigo, acabando por uma vez com a
Brasil não é só o Rio de Janeiro. co infantojuvenil. Na época, Juvenal tra- palmatória, esse brutal recurso da inépcia
balhara como inspetor da Instrução Públi- do magistério”. (GALENO, 2010, p.69)
Mário Linhares, em História
ca e, contrário à palmatória, acreditava O certo é que a obra foi impressa na Ti-
literária do Ceará, 1948.
que para resolver todo tipo de mau com- pografia do Comércio, de propriedade do
sse prometido passeio pela Literatu- portamento ou mesmo para disciplinar as poeta, e foi “adotada pelo Conselho de Ins-
ra Cearense já vem acontecendo, de crianças, elas teriam apenas que cantar: trução Pública do Ceará para uso nas aulas
forma breve, desde o nosso primeiro “E qual meio mais eficaz do que a canção, primárias”, ou seja, uma prima-pioneira dos
módulo. Você, que se abancou nesse a harmonia, esse doce poder que a tudo nossos atuais paradidáticos.
curso, por sua “janela virtual” leu e
ouviu, certamente, muita coisa que
ainda não conhecia ou mesmo de
que já havia ouvido falar, mas... E é
2.
por isso que esse curso existe!
Porém, como não é possível sintetizar
toda a literatura produzida no Ceará em ape-
nas 12 módulos, neste derradeiro optamos
por elencar alguns recortes (“itinerários”) que
nunca antes foram sistematizados em ma- O BERÇO DAS NARRATIVAS
INFANTOJUVENIS
om a evolução, mesmo que enveredar pelo caminho dessa literatura
lenta e restrita, do mercado tão peculiar. Alguns, certamente, saíram
editorial cearense, uma certeza exitosos; outros se limitaram a emprestar
se confirmava: a necessidade seus pomposos (e comerciais) nomes às
de publicações destinadas capas de obras que nem de longe refletem
a esse público infantojuve- a sua competência em outros gêneros. Ao
nil, na tentativa de conquistar contrário, demonstram total inexperiência
a adoção em listas escolares e e inabilidade para com esse público.
para a venda em compras es- Em nosso estado, boa parte dos escrito-
peciais dos programas governamentais res e escritoras, iniciantes ou não, tiveram
supostamente de todas as esferas. Daí, esta travessia” (ou ousadia) pelas poucas
não acontece apenas no Ceará, muitos au- editoras do estado, inclusive pelas portas
tores foram convidados e se arriscaram a das Edições Demócrito Rocha (EDR), braço
3.
crita. Esta representação se estabelece seja em entrevista que o que tocava de forma
por meio das cantigas de ninar, das brinca- mais direta e mais funda o coração da au-
deiras de roda ou das contações de histórias tora era “o seu amor pelas crianças, pelos
realizadas pelos familiares. Contudo, quan- bichos e pelos passarinhos”.
do as crianças chegam à escola é que a lite- Horácio Dídimo (1935-2018) é também
LITERATURA ratura passa a ter o poder de construir uma um dos nomes mais importantes da litera-
PARA... ligação artística entre o mundo da imagi-
nação, dos símbolos subjetivos, e o mundo
tura infantil cearense, tanto que o Dia Esta-
dual da Literatura Infantil, no Ceará, desde
CRIANÇAS? real da escrita, dos signos convencionais, da
cultura sistematizada. É através da literatura
2019 é comemorado em 23 de março, data
de nascimento de Horácio.
Vanessa Passos infantil que praticamos o impossível e recon- Mas a sua contribuição literária foi
e alguma vez você já ouviu al- duzimos nossa própria história. além da produção de seus livros, pois
guém dizer que literatura infantil Escolhemos aqui, como mostra, alguns como professor do Departamento de Li-
não tem valor literário, porque é dos autores cearenses que têm mais obras teratura e da Pós-Graduação em Letras
algo feito para crianças e, portan- destinadas às crianças e/ou jovens: da UFC, foi o responsável pela criação da
to, tem uma linguagem fácil e sem Rachel de Queiroz (1910-2003), consi- disciplina de Literatura Infantil.
valor estético, ao acompanhar derada uma das maiores autoras da litera- Com quase vinte livros publicados no
a trajetória literária desses(as) tura cearense e brasileira, não se prendeu gênero, além dos seus livros de ensaios so-
autores(as), vai perceber o quan- a um único gênero, publicando contos, ro- bre literatura para crianças, Horácio exalta a
to essa afirmação é equivocada. mances, crônicas, dramaturgia, críticas lite- relevância da poesia para esse público lei-
Peter Hunt, escritor e professor emérito rárias e três livros infantis, todos publicados tor e afirma que “No labirinto da Literatura
em literatura infantil da Cardiff University, de- pela Editora José Olympio: O menino mági- Infantil, a poesia, ainda que esquecida, nun-
fende que escrever literatura infantil é ain- co, Cafute & Pena-de-Prata e Andira. ca estará perdida. Mesmo quando se cala –
da mais difícil, porque é preciso manter uma Sua estreia na literatura infantil foi em amarga – da boca pra fora, na canção, ai de
preocupação estética mesmo quando há a grande estilo, porque seu primeiro livro, O nós se não adoçar por dentro o coração”.
exigência de limitação em relação à extensão menino mágico, foi vencedor do Prêmio Assim que tiver a oportunidade de se
do texto e ao emprego de vocabulário para Jabuti de Literatura Infantil em 1969. O debruçar sobre a literatura de Horário Dídi-
que a obra seja acessível para as crianças. Dá livro conta a história de Daniel – nome de mo, o leitor descobrirá que ela é simples, e
muito trabalho fazer parecer ser simples. Isso, seu sobrinho-neto –, um menino diferen- nunca simplória. Ele diz muito com o pouco
sem falarmos da capacidade atrativa que o te que, com imaginação fértil, tinha pode- e não subestima os pequenos leitores. A es-
texto deve ter, pois a criança quando se depa- res mágicos e conseguia viajar durante o critora Marília Lovatel diz sobre o autor ce-
ra com um livro que não a atrai, simplesmen- sono para os mais incríveis lugares e fazer arense que “ele consegue construir os tex-
te, o abandona. Vale ressaltar que, se existem coisas que um menino normal nem so- tos com a profundidade necessária e com
restrições quando um autor escreve, ele preci- nharia. Em Cafute & Pena-de-Prata – “ca- uma linguagem que abraça as crianças”.
sará desenvolver muito mais sua criatividade. fute é o nome de uma pulga que se dá Entre as obras destinadas a esse públi-
Sobre o gênero literatura infantil, concorda- em galinhas” –, dois pintinhos, um pobre co, encontramos: O passarinho carrancudo,
mos com CAGNETI, para quem: “A literatura e nascido em granja (Cafute) e outro rico As historinhas do mestre Jabuti, As reina-
infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, (Pena-de-Prata), nascido em chocadeira ções do Rei, Historinhas cascudas, A escola
é arte: fenômeno de criatividade que repre- elétrica, se conhecem, tornam-se amigos dos bichos, As flores e os passarinhos, Tem-
senta o Mundo, o Homem, a Vida, através da e partem em busca de aventuras. Em An- po de sol, Exercícios de admiração, O me-
palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o dira, a história de uma andorinha aban- nino impossível, O menino perguntador, Os
imaginário e o real; os ideais e sua possível/ donada cedo e criada por uma família de compadres bichos, entre outros.
impossível realização.” (CAGNETI, 1996, p.7) morcegos. Andira nasceu quando uma Após a sua morte, a família, represen-
Assim, entendemos que ela nos é um amiga de Rachel disse que ouviu, durante tada principalmente por um dos filhos, o
caminho lúdico presente em nossas vidas uma noite, o som de morcegos, mas que também poeta Luciano Dídimo, criou o
como representação do mundo em que vive- parecia canto de andorinhas. Instituto Horácio Dídimo, hoje, um fo-
5.
do como aqueles que os rechaçavam, mas
ali mesmo, na rua! E assim nasceu o Sarau
Também em 2007, surgiria no outro da B1, que desde então acontece a cada
extremo da cidade, no Conjunto primeiro sábado do mês na mesma praça
QUEM TÁ Palmeiras, a Cia Bate Palmas, formada dessa avenida, onde a cada edição uma
pessoa (viva) da quebrada é homenageada,
pelo cantor e compositor Parahyba de
NA RUA É PARA Medeiros, pela produtora Bete Augusta rompendo com a ideia de que para ser ho-
e banda formada por Amanda Fideles, menageado tem que ser rico ou prestigiado,
OCUPAR! Ana Kássia, Cícero Peixoto, Danilo Duarte, branco, heterocisnormativo ou estar morto.
ntão, embora os saraus já aconte- Diones Mendes, Elane Fideles, José Cada presença é importante ali. Com lança-
cessem no “Siará” entre os povos George e Rairton Lima. Embora a poesia mentos e sorteios de livros, apresentações
indígenas (Anacê, Gavião, Jenipa- esteja presente nos saraus da Cia Bate e performances diversas, de pessoas não só
po-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Palmas, a música tem protagonismo, do Jangurussu, o sarau agrega várias outras
Kariri, Pitaguary, Potiguara, Tabaja- com letras que contam as histórias do periferias e centros (!) de Fortaleza, inspi-
ra, Tapeba, Tapuba Kariri, Tremem- bairro e da cultura popular brasileira. rando outros a fazerem saraus em suas pró-
bé e Tubiba Tapuia), é no fim dos prias quebradas. Entre outras realizações:
anos 2000 que surge em Fortaleza lançou um livro com poemas de 32 poetas
o movimento dos saraus, culmi- tística em Maranguape, cidade vizinha, onde que participam do sarau, feito e publicado
nando com a efervescência cultural que ve- vigoram os versos de Ítalo Rovere: “O amor totalmente de forma independente; produ-
mos hoje nas periferias. de todo mundo para mudar o mundo/ pra ziu as zines Jangu Livre – o título faz referên-
É difícil falar em uma origem para este mo- mudar o mundo o amor de todo mundo.” cia ao bairro Jangurussu e ao filme Django
vimento, já que os jovens sempre se reuniram O Sarau da B1 surgiu do desejo de qua- Livre; e o lançamento do documentário Sa-
para fazer e compartilhar arte. Naquele mo- tro amigos, Aglailson Di Almeida, Carllos rau da B1: a poesia em Transe!, contando
mento, eram várias as experiências isoladas Preto, Jair Xavier e Samuel Em Transe, de a história do sarau. A principal característica
em diversos pontos da cidade. No entanto, compartilhar poesia na sua própria que- desse Sarau, como de vários outros saraus
destaco algumas que tiveram maior solidez, brada (“território”), o bairro do Jangurussu, de periferias, é o microfone aberto, onde
por terem inspirado outros saraus, ou por já que o movimento de poesia de que eles quem quiser, chega e bota o teu!
continuarem e se mobilizarem ainda hoje. tinham conhecimento aconteciam no cen-
No ano de 2007, um grupo formado por tro da cidade e nem sempre podiam se des-
Ana Lourdes, Carlos Amaro, Carlos Arruda, locar, como no Centro Dragão do Mar de MALACA
Emiliana Paiva, Gervana Gurgel, Ítalo Rovere,
Luana Oliveira, Manoel César, Nilze Costa e
Arte e Cultura, de onde haviam sido recha-
çados por não estarem inscritos e insistirem
CHETAS
Silva, Reginaldo Figueiredo, Rita Carvalho e em dizer seus poemas, e, portanto, não
Talles Azigon se reuniram e fundaram o Tem- poderem se apresentar em determinado Audre Lorde (LORDE, 2019, p.51, 53), diz
plo da Poesia, que ficava em um galpão evento. Foi quando, em 2010, se juntaram à que “o que me é mais importante deve ser
no centro da cidade, e onde duas vezes por Associação de Moradores do Conjunto São dito, verbalizado e compartilhado, mesmo
mês acontecia o Palco Aberto, um formato Cristóvão e formaram Os Poetas de Lugar que eu corra o risco de ser magoada
similar aos dos saraus que acontecem hoje Nenhum, ironizando o fato de não partici- e incompreendida. [...] você jamais é
nas periferias da cidade: ninguém precisa ter parem das “panelinhas” literárias do centro realmente inteira se mantiver o silêncio,
posses nem prestígio, ser amigo de alguém cultural da cidade. O sarau teve um hiato porque sempre há aquele pedacinho
ou mesmo se inscrever para mostrar sua de cinco anos, quando em 2015, enquanto dentro de você que quer ser posto para
arte, seja ela poesia, dança, performance, te- bebiam, conversavam e diziam poemas em fora, e quanto mais você o ignora, mais
atro, bambulim, protesto ou o que quiser, é uma das praças da avenida Bulevar 1 (daí, ele se irrita e enlouquece, e se você não
só chegar! Por volta de 2015, o grupo deixou “B1”), no Conjunto São Cristóvão, onde eles desembuchar, um dia ele se revolta e dá
de acontecer no centro de Fortaleza e fundou moram, o desejo de fazer o sarau se reavi- um soco na sua cara, por dentro. [...] há
a Vila de Poetas, residência comunitária-ar- vou. Perceberam, então, que já o estavam muitos silêncios há serem quebrados”
8.
O movimento de saraus se fortaleceu e o em grupo, já que são vivências comuns dos
Encontro de Saraus continuou acontecendo corpos negros na sociedade, experiências co-
no mesmo modelo, com oficinas pela ma- muns à comunidade; um olhar-se no espelho
nhã, rodas de conversa e cortejos pelo bairro de Oxum, um encontro com a própria beleza,
à tarde e um grande sarau à noite. Teve ain-
da outras edições: a segunda, no bairro do VOCÊS dignidade e que acolhe o coletivo.
Repetimos: a história sempre foi con-
Curió, na Biblioteca Livro Livre Curió, Floresta
do Curió e na sede da Arte de Amar, com
QUERENDO OU tada pelos vencedores. Numa narrativa que
coloca os corpos periféricos como violentos
mais de dez saraus presentes e a terceira, na NÃO, ISTO É e que só são filmados para passar em no-
ticiários sensacionalistas, a contrarrevolta é
LITERATURA! ver esses corpos produzindo cultura: hortas,
s artistas que participam batuques, bibliotecas, filmes, dança, poesia
dos saraus e demais movi- e tudo o que quiserem. Dieguim, poeta da
mentos nas periferias es- Serrinha, diz bem: “Quero ver filmar um sa-
crevem e performam sobre rau e botar em rede nacional.”
tudo: amor, erotismo, me- Hoje, acreditamos não ser mais possí-
mórias de infância e tudo vel parar o movimento dos saraus, que tem
o que quiserem, porque ocupado cada vez mais espaços e trans-
são produtores culturais e, formado a vida de muita gente, desde os
como tais, as possibilida- moleques e as meninas que passam, vêm
des são infinitas. É inegável, aos saraus e começam a participar e a ter
contudo, que a grande tônica no palco e no um outro repertório em que se inspirar, aos
microfone seja a violência policial e esta- próprios participantes que passam a narrar
9.
res, tinham pouca participação nos saraus e do, lido, estudado e publicado. Já pensou
slams do bairro. Em Sobral, uma outra ini- que grande serviço nós prestaríamos às
ciativa só de mulheres é o Slam das Cuma- letras de nosso estado e país? Não restrito
dis, batalha de rima que surgiu no bairro ao Ceará, mas àqueles estados distantes
Terrenos Novos. E o movimento de saraus
está cada vez mais firmão. Nas universida-
E PARA – não apenas geograficamente – de tais
centros, que por uma questão hegemônica
ONDE VAI A histórica detiveram o poder de consagrar,
mas também o de invisibilizar muitos de
LITERATURA nossos autores e obras.
Para nós cearenses, por exemplo, não
CEARENSE? é compreensível que alguns autores, pela
thon Costa, da Academia qualidade de suas obras, e até com certo
Carioca de Letras na Fe- reconhecimento em outros estados brasi-
deração das Academias leiros, não tenham sido alvos de publicação
de Letras do Brasil, nas no mercado editorial – nem cearense, nem
“Notas Preliminares” de nacional – mesmo após a sua morte, como
História literária do Ceará José Alcides Pinto, Moreira Campos, Francis-
(1948), de Mário Linha- co Carvalho, Audifax Rios, Nilto Maciel, Mário
res, já pontuava: Gomes, Airton Monte, Milton Dias, Gerardo
[...] somente se consagram Mello Mourão, Gustavo Barroso, Eduardo
[os escritores das províncias] Campos, Moacir C. Lopes, Jáder de Carvalho,
de todo quando emigram para o Rio de Barros Pinho, Juarez Barroso, Caio Porfírio
Janeiro. As exceções são poucas e quase Carneiro, para citar apenas alguns.
nulas, pela incontrastável influência que os Além disso, perguntamo-nos o porquê
grandes centros de cultura exercem [...] so-
bre quantos mantenham [...] o seu contato.
de a Padaria Espiritual, que em seu tem-
A literatura brasileira, de que geralmente se po teve algum destaque até nesses “gran-
cogita nos trabalhos dessa natureza, nada des centros”, mesmo pela sua originalida-
mais tem sido que o estudo crítico ou sim- de e atitude diante do cenário da época,
ples registro nominal desses escritores que não constar em nenhum desses compên-
os poucos centros de cultura do país con-
dios de Literatura Brasileira, mesmo sendo
sagram e põem em evidência. Mas quantos
grandes espíritos permanecem esquecidos ela, inclusive, bem próxima do espírito mo-
ou desconhecidos na costumeira estagna- tivador da badalada e polêmica Semana
ção social das mais longínquas regiões bra- da Arte Moderna de 22.
10.
mico e membro do CLÃ Martins Filho, a dis-
ciplina Literatura Cearense é optativa e parte
dela não é ofertada há anos. Na Universidade
Estadual do Ceará, em Fortaleza, ela também
é optativa. Em Limoeiro do Norte, entretanto, A CENA LITERÁRIA
a Fafidam traz em seu Plano Político-Peda-
que chamamos de socie- Em todo mundo, encontramos um vigoro-
dade moderna ou socie- so processo de massificação, da propagação
dade da informação, há do consumo, que atinge a todas as popula-
décadas vem passando ções, incluindo, claro, os artistas e a sua pro-
por grandes e rotineiras dução. Em parte, enquanto alguns se rendem
transformações, inclusi- a ela, vestindo-se do mais absoluto individua-
ve de valores, exigindo lismo, outros se unem em sua contramão.
de todos, cada vez mais, As grandes editoras (falamos “editoras”,
a capacidade de estar mas há uma grande cadeia que compõe
atentos e informados, essa “indústria”) por todos os meios identi-
ser flexíveis e ter uma boa dose de criati- ficam e estudam esse público consumidor e
vidade e superação – às vezes, um pouco investem pesado na busca e na “construção”
também de sangue de barata. de novos autores e obras, no afã de lançar
11.
fundamental referida. A bibliografia se torna Autêntica Editora, 2019.
um papel inútil, entre outros, perdido nas ga-
SEVERO, Luana. A ocupação Gregório
vetas das escrivaninhas.” (FREIRE, 1981) Bezerra e as violações de direitos. Jornal
Aqui, a nossa gratidão a todos aqueles O POVO in: https://www.opovo.com.br/
que nos deixaram como legado a sua pes-
SAINDO DE CENA quisa, que resultou nesse curso. Não fos-
jornal/reportagem/2018/06/a-ocupacao-
gregorio-bezerra-e-as-violacoes-de-
oderíamos agora encerrar o sem eles, diríamos hoje que nunca existiu direitos.html [acesso em 19/04/2020]
nosso estudo sobre a Lite- produção literária no estado, assim como SILVA, Francisco Rômulo do Nascimento.
ratura Cearense, mas seria dizem que por aqui não havia negros, Rede de Afetos: práticas de re-existências
poéticas na cidade de Fortaleza (CE).
um absurdo: pois agora é nem índios, nem chuvas...
Dissertação (Mestrado em Sociologia) -
que nós começaremos! O Sânzio de Azevedo, um desses mestres, Programa de Pós-Graduação em Sociologia,
que vocês viram até aqui foi ao fechar das luzes de sua Literatura Cearense Universidade Estadual do Ceará. 2019.
só um arrazoado provoca- (1976), nos conta que o escritor Valentim Ma- 212 f. Disponível em: http://www.uece.br/
tivo do muito que temos a galhães, em 1895, no A Notícia (RJ), por tanto ppgsociologia/index.php/arquivos/doc_
aprofundar-nos, a conhecer que recebia livros originários do Ceará, escre- view/847-?tmpl=component&format=raw
[acesso em: 19/04/2020]
e a compartilhar. O curso básico, este sim, veu: “O Ceará não para, o Ceará não cansa.”
se encerra agora, com a esperança de ter Cremos que 125 anos depois, o Ceará ainda
contaminado (numa “pandemia do bem”) não parou e jamais cansará, contribuindo a
o gosto pelo ainda muito ignorado univer- seu modo, a seu jeito, na composição des-
so literário cearense, por suas obras e por se imenso mosaico polifônico denominado
seus autores. Entendendo por Literatura Literatura Brasileira. E nessa direção, luta
Cearense essa forma particular como e por aguerridamente, como dizia o jornalista e po-
meio de quem a Literatura Brasileira se ma- eta Demócrito Rocha: “resistindo e morren-
nifestou e se manifesta no Ceará. do... morrendo e [sempre] resistindo.”
ILUSTRADOR
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou Todos os direitos desta edição reservados à:
a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Fundação Demócrito Rocha
Na construção do seu trabalho, aborda várias técnicas Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas e Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes como fdr.org.br
fundacao@fdr.org.br
a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção gráfica
ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul.
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