Você está na página 1de 67

WBA0843_V1.

FUNDAMENTOS BÁSICOS DE
GEOTECNIA EM MINERAÇÃO
2

Eduarda Pereira Barbosa

FUNDAMENTOS BÁSICOS DE GEOTECNIA EM


MINERAÇÃO
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
3

© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.

Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A


Paulo de Tarso Pires de Moraes

Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Nirse Ruscheinsky Breternitz

Revisor
Petrucio José Santos Junior

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_________________________________________________________________________________________
Barbosa, Eduarda Pereira
B238f Fundamentos básicos de geotecnia em mineração /
Eduarda Pereira Barbosa. – São Paulo: Platos Soluções
Educacionais S.A., 2021.
41 p.

ISBN 978-65-5356-026-0

1. Sistema de disposição de rejeitos. 2. Sistema de


disposição de estéril. 3. Barragem de rejeito. I.Título.

CDD 622
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 8 010289

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

FUNDAMENTOS BÁSICOS DE GEOTECNIA EM MINERAÇÃO

SUMÁRIO

Resíduos de mineração e sistema de disposição______________ 05

Gestão ambiental e de água nas pilhas e barragens de resíduos


da mineração_________________________________________________ 23

Gestão geotécnica e aproveitamento dos rejeitos na construção


civil ___________________________________________________________ 37

Alternativas locacionais para disposição de rejeitos __________ 53


5

Resíduos de mineração e sistema


de disposição
Autoria: Eduarda Pereira Barbosa
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Conhecer os tipos de resíduos de mineração.

• Apresentar os tipos de geometria das pilhas de


resíduos de mineração.

• Elencar os sistemas de disposição dos resíduos de


mineração.
6

1. Resíduo estéril e rejeito de mineração

A mineração brasileira é fundamental para o desenvolvimento econômico,


social e industrial do país, no qual ocorre a extração e o beneficiamento
de minérios presentes no subsolo. De modo geral, a mineração pode ser
feita por meio de lavra a céu aberto ou lavra subterrânea, cujas atividades
desenvolvidas de extração e beneficiamento geram basicamente dois tipos
de resíduos: os estéreis e os rejeitos.

Todavia, antes de compreender mais sobre os resíduos de mineração,


é fundamental conhecer o ciclo de uma mina, conforme mostra Figura
1. No ciclo de uma mina podem ser identificadas no mínimo seis fases,
como de descobrimento, investigação do subsolo, exploração, operação,
fechamento e pós-fechamento da mina. Observa-se que em diferentes
fases são gerados resíduos, entretanto na fase de exploração e operação
ocorre a maior geração de resíduos no ciclo de uma mina, como os
estéreis e rejeitos.

Figura 1 – Ciclo da mina

Fonte: Maccaferri do Brasil (2008, [s.p.]).


7

Os resíduos do tipo estéreis são os materiais gerados durante escavação


e extração da cobertura superficial da jazida. Esse processo tem a
finalidade de deixar exposto o minério para extração e o material gerado
não possui valor econômico agregado, portanto, normalmente ficam
dispostos em pilhas. Já os resíduos do tipo rejeitos são oriundos dos
processos de beneficiamento do minério extraído das jazidas e possuem
método de disposição um pouco diferente dos resíduos estéreis.

Os resíduos estéreis são materiais não rentáveis para mineração,


frequentemente compostos pela mistura de solo e fragmentos
grosseiros de rocha e resíduos da lavra oriundo da exploração da jazida
mineral, sendo que ambos apresentam fragmentos com dimensões de
grandeza centimétrica. Já o rejeito, segundo a NBR 13.028 (ABNT, 2017a,
p. 1), é considerado “todo e qualquer material descartado durante o
processo de beneficiamento de minérios”.

De modo geral, o minério não está disponível na superfície do solo ou


completamente exposto, tal que se encontra parcialmente coberto com
alguns locais de afloramento ou ainda completamente coberto por
material estéril. Dessa maneira, o material estéril é constituído por solos
e rochas de naturezas diversas, que pode ser oriundo da sedimentação
de materiais distintos ou da decomposição da própria rocha de minério.

Durante o beneficiamento ocorre o processamento da rocha no intuito


de remover os minerais que estão dispersos na estrutura da rocha.
Para tanto, reduz-se o tamanho do material extraído para que ocorra
a liberação dos minerais. Por conta disso, os rejeitos são materiais
caracteristicamente finos composto por frações milimétricas.

Geralmente, os resíduos estéreis são arranjados a seco em pilhas


denominadas de pilhas de estéril. Enquanto os rejeitos são dispostos em
barragens de rejeitos, visto que são resíduos com granulometria muito
menor comumente dissolvidos e suspensos em água, com presença
8

de metais pesados, reagentes e uma parcela de produtos químicos


proveniente do beneficiamento, o que torna o rejeito tóxico.

Se por um lado algumas lavras de mineração, como de ferro, geram


elevados volumes de rejeitos, por outro, existem lavras que produzem
apenas resíduos estéreis, como no caso lavras que produzem agregados
britados para a construção civil. Nessa situação, não há necessidade de
um processamento do material extraído, a fim de extrair um minério,
mas, sim, para reduzir a granulometria, tal que todo produto gerado
é dirigido para pilha de estéril, na qual comumente é separado por
granulometria.

Durante a produção do resíduo estéril ocorre a remoção de materiais


superficiais com intuito de expor o corpo mineralizado, que é o veio
do minério a ser explorado. Além disso, é retirado, também, o material
com teores abaixo do teor econômico, denominado de teor de corte.
Para tanto, nesse processo, são desenvolvidas operações que envolvem
atividades de perfuração e desmonte do solo, o qual pode ser realizado
de forma mecânica ou com uso de explosivos. Além disso, são feitas
operações de escavação e carregamento do resíduo estéril até as pilhas.

Uma vez que o material mineralizado está exposto e disponível, é


realizada a etapa de lavra, que consiste no processo de retirada no
minério da jazida. Durante a etapa de lavra também são produzidos
rejeitos estéreis. Em seguida, realiza-se a etapa de beneficiamento,
que consiste em realizar operações para extrair o mineral de interesse
econômico e industrial. Na etapa de beneficiamento é gerado tanto o
produto mineral final quanto o rejeito.

Os rejeitos são produzidos devido ao beneficiamento do material


extraído, no qual são desenvolvidas operações de britagem para
fragmentar o material, de moagem para pulverização, de peneiramento
para classificação e, dependendo do tipo de minério, de tratamento
físico, térmico ou químico para remover minerais associados em valor
9

econômico e aumentar, assim, o teor, a qualidade ou a pureza do


produto final. Por conta dessas operações são gerados rejeitos com
partículas granulometricamente finas, cujos tamanhos variam em função
do tipo de minério extraído. Devido ao uso eventual de água, o resíduo
gerado é denominado de polpa à suspensão de rejeito e água, que é
composto majoritariamente por água, com cerca de 70% do volume.

As propriedades físico-químicas, geotécnicas e mineralógicas dos


rejeitos produzidos dependem das operações de beneficiamento para
extração do minério e devem ser investigadas em campo e laboratório
periodicamente, a cada ciclo de beneficiamento. Sob a perspectiva
geotécnica, os rejeitos possuem granulometria que variam de areias
até coloides. As areias são materiais granulares não plásticos com
grãos de diâmetro maior que 0,074 mm. Caracteristicamente, elas
possuem elevada permeabilidade e resistência ao cisalhamento e baixa
compressibilidade. Já os rejeitos coloidais, comumente denominados de
lamas, são caracterizados pela elevada compressibilidade e plasticidade
e difícil sedimentação, uma vez que são compostos por materiais finos,
cujos grãos possuem diâmetro menor que 0,074 mm.

2. Sistema de disposição dos resíduos de


mineração

No passado, até 1975, quando se iniciou o controle da poluição


causado pelas indústrias, por meio do Decreto-Lei 1.413, os resíduos de
mineração, especialmente os estéreis, eram depositados simplesmente
em locais denominados de bota-fora, como em ponta de aterros, nas
encostas ou, até mesmo, em terrenos no entorno das minas. Dessa
maneira, formavam-se pilhas de materiais de forma desordenada, com
condições de estabilidade precárias, que resultavam em desastres
ambientais e até fatalidades humanas. Todavia, com a evolução da
legislação ambiental, atualmente, tem-se buscado práticas técnica,
10

econômica e ambientalmente adequadas para disposição dos resíduos


da mineração.

Por meio da Resolução nº 29, de 11 de dezembro de 2002 (BRASIL,


2002), o Conselho Nacional de Recursos Hídricos orienta sobre como
deve ocorrer o armazenamento de resíduos de mineração. O sistema de
disposição do estéril deve funcionar como uma estrutura previamente
projetada para armazenar os materiais dispostos de maneira planejada
e controlada, sob condições de estabilidade geotécnica, tal que seja
previsto, também, dispositivos de proteção de ações erosivas. Já o
sistema de disposição dos rejeitos deve ser concebido como uma
estrutura de engenharia para contenção e deposição de resíduos, que
podem ser gerados durante o beneficiamento do minério, captação de
água e tratamento de efluentes. Paralelamente a isso, o projeto técnico
de disposição dos estéreis e rejeitos deve, ainda, atender os critérios
estabelecidos na Norma Reguladora de Mineração (NRM) nº 19 (BRASIL,
2001), aprovada pela Portaria nº 237 do Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM), em 18 de outubro de 2001.

Existem, ainda, duas normas da Associação Brasileira de Normas


Técnicas, que estabelecem as diretrizes mínimas para a elaboração
e apresentação de projeto de disposição de resíduos estéreis e
rejeitos de mineração com a perspectiva de atender às condições de
operacionalidade, segurança, economicidade e desativação, a fim de
minimizar os impactos ao meio ambiente gerados pela atividade de
mineração. São elas:

• NBR 13.028 (ABNT, 2017a): Mineração: elaboração e apresentação


de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de
sedimentos e reservação de água – Requisitos. Norma destinada
para disposição de rejeitos de beneficiamento, contenção
de sedimentos gerados por erosão e reservação de água em
mineração.
11

• NBR 13.029 (ABNT, 2017b): Mineração: elaboração e apresentação


de projeto de disposição de estéril em pilha. Norma destinada para
disposição de estéril gerado por lavra de mina a céu aberto ou de
mina subterrânea.

De modo geral, ambas as normas definem os condicionantes de


projeto de disposição dos resíduos de mineração, principalmente
quanto à análise de estabilidade, implantação de sistemas de controle
e percolação, tanto de fluxos naturais quanto de águas pluviais, além
da adoção de mecanismos de proteção superficial das bermas e dos
taludes utilizados na contenção dos resíduos estéreis e de rejeito.

Nesse sentido, o sistema de disposição de resíduo necessita funcionar


com uma estrutura projetada e implantada para acumular os resíduos
gerados, em caráter temporário ou definitivo, tal que fiquem dispostos
de modo estrategicamente planejado e controlado sob condições tanto
de estabilidade geotécnica quanto de proteção das ações erosivas.
Além disso, caso necessário, o sistema de disposição deve, ainda,
ser projetado com estrutura para captação de água e tratamento de
efluentes.

2.1 Disposição de resíduos estéreis

Naturalmente a disposição dos resíduos de mineração ocorre no meio


ambiente, por isso eles devem ser dispostos em áreas licenciadas pelos
órgãos ambientais. A forma tradicional de disposição dos resíduos,
principalmente dos estéreis, é por meio de pilha, que é um método de
disposição tradicional caracterizado por não se atentar aos efluentes.
Todavia, a disposição dos rejeitos necessita ser mais criteriosa, visto
que o material tem características tóxicas. Para tanto, os rejeitos podem
ser dispostos em pilhas em um sistema denominado de empilhamento
drenado, conhecido também como pilha de disposição de rejeito. O
uso de pilhas de rejeitos pode ser usado, portanto, desde que a sua
construção contemple o sistema de drenagem superficial e interna, de
12

modo a garantir que o rejeito empilhado esteja sempre em condições


não saturadas, o que, consequentemente, viabiliza a estabilidade do
maciço. Além disso, a disposição de rejeitos em forma de pilhas acelera
o processo de decantação, necessário para o ganho de resistência e
consequente empilhamento.

As pilhas de resíduos podem assumir diferentes geometrias


dependendo da topografia do local de deposição, do tipo de resíduo e
das características e propriedades do material. Entre os tipos de pilhas
mais comuns se destacam a pilha em vale, a pilha transversal a um
vale, a pilha de encosta, a pilha de crista e a pilha piramidal, também
conhecida como pilha de “bolo de noiva” (HAWLEY; CUNNING, 2017).

No Brasil, geralmente as pilhas de estéreis são formadas pelo método


ascendente ou descendente. A formação da pilha pelo método
ascendente possui geometria pré-estabelecida, o que garante
estabilidade à estrutura, em que são previstos sistemas de drenagem
tanto interna quanto superficial, além da implantação de dispositivos
de proteção dos taludes, como hidrossemeadura ou placa de gramas.
A execução da pilha pelo método ascendente é feita de jusante para
montante, tal que se estabelece enquanto direção de disposição as
cabeceiras da bacia de drenagem iniciando-se em um enrocamento
de pé. Já no método descendente, a pilha de resíduo estéril é formada
sem qualquer controle geotécnico quanto à estabilidade, de modo que
ocorre o lançamento e basculamento de forma direta do material a
partir da cota mais elevada, que, por sua vez, corresponde à altura final
da pilha.

2.2 Disposição de rejeitos

A disposição dos rejeitos pode ser realizada por diferentes sistemas,


como embaixo d’água (subaquática), de forma subterrânea ou a céu
aberto, em superfície ou em reservatório. A disposição subaquática
13

ocorre quando o rejeito oxida em contanto com o ar e/ou possui elevado


teor de finos, todavia, é um método em desuso, pois gera impactos
ambientais, principalmente aos ecossistemas aquáticos.

Quando se formam câmaras devido à extração do minério, o


rejeito pode ser depositado nesse espaço por bombeamento até
o preenchimento completo das câmaras, nesse caso a disposição
do rejeito é dita subterrânea. O sistema de disposição subterrânea
é recomendável quando o rejeito se apresenta como inerte e sem
perigos potenciais de contaminação do solo e da água, para tanto é
imprescindível avaliar a suscetibilidade do rejeito em gerar poluentes
com o tempo. Além disso, é necessário que o rejeito a ser disposto
subterraneamente apresente elevada permeabilidade, rigidez e
compressibilidade baixa. O uso desse sistema de disposição de
resíduo possibilita que o material seja utilizado como piso de trabalho
durante a exploração do minério e suporte para as paredes das
escavações, além de permitir recuperar o corpo no minério.

No sistema de disposição do rejeito a céu aberto em superfície, o


resíduo é descartado de forma direta em bancos de areias e praias
e deixado para secar exposto ao ar, como é o caso das pilhas de
rejeitos a seco. A céu aberto, ainda, o rejeito pode ser disposto em
pit, onde o rejeito a úmido é lançado paralelamente à extração do
minério ou quando a extração foi concluída. Enquanto a disposição
em pilha necessita que seja extraída a água da polpa, a disposição em
pit demanda por um sistema de drenagem.

Já a disposição a céu aberto em reservatório, que é o método


mais utilizado no Brasil, utiliza barragens ou diques para alocar os
rejeitos. Para a disposição dos rejeitos é necessária a construção
de reservatório estanque para conter o resíduo, bem como impedir
14

que ocorra infiltração dos efluentes nocivos, como metais pesados,


solução com cianetos ou ainda com pH muito básico ou ácido, o que
pode comprometer a qualidade dos corpos hídricos. Além disso, a
construção do sistema de disposição de rejeitos deve levar em conta,
também, aspectos construtivos e de segurança, para tanto, deve-se
realizar investigações geológicas e geotécnicas.

A construção das barragens e diques para disposição dos rejeitos


pode ser feita com solo natural, resíduo estéril ou ainda com o
próprio rejeito. Inicialmente a estrutura de contenção deve ser
construída com um dique de partida, tal que o solo utilizado,
preferencialmente de empréstimo, tenha capacidade mínima
de retenção dos resíduos de mineração. O dique inicial deve ser
concebido de preferência com material permeável a fim de garantir
drenagem e fluxo de água e restringir a erosão. Todavia, é admissível
utilizar material impermeável no dique de partida, desde que a sua
estrutura contenha sistema de drenagem interna composto por filtros
e tapete drenante.

Posteriormente, ocorre os estágios de alteamentos do reservatório,


em que é possível utilizar materiais de diferentes origens, como solo
natural, estéreis e/ou rejeitos. Os alteamentos das barragens de
rejeitos podem ser feitos basicamente por três métodos em função
da direção dos alteamentos em relação ao eixo da barragem: de
montante, da jusante e da linha de centro.

2.2.1 Alteamento pelo método de montante

Os alteamentos pelo método de montante de disposição do rejeito


ocorrem a partir do dique de partida com alteamento deslocando-se
para montante em relação ao eixo inicial, conforme mostra Figura 2.
15

Figura 2 – Método de montante para alteamento da barragem de


rejeito

Fonte: adaptada de Vick (1983).

Uma vez concluído o dique de partida, o rejeito é descarregado no


montante da periferia da parte mais alta da estrutura, a crista do
dique, tal que ocorre a formação de uma praia. O lançamento do
rejeito com ciclones, ou um conjunto de tubulações denominado de
spigots, vai garantir uniformidade na distribuição do rejeito durante
a formação da praia, conforme mostra a Figura 3. O processo de
spiggotings permite que as partículas granulares do rejeito sejam
depositadas junto ao dique inicial.

Figura 3 – Deposição de rejeito por ciclonagem (spiggotings) a partir


da crista da barragem de contenção

Fonte: Zuquette (2015, p. 263).


16

Durante o descarregamento do rejeito, naturalmente ocorre a


segregação granulométrica do resíduo, tal que as partículas mais
grossas e mais densas (underflow) rapidamente sedimentam, enquanto
as partículas mais finas e menos densas (overflow) mantêm-se em
suspensão. Por consequência disso, as partículas que sedimentam
dispõem-se em zonas próximas ao dique e servem de suporte para
os próximos alteamentos, enquanto as partículas em suspensão são
carregadas para zonas internas da bacia de sedimentação.

Ao se atingir níveis próximos à capacidade máxima do reservatório,


novos diques devem ser executados, de forma que fiquem sobre os
rejeitos e alteados com orientação na direção montante do dique de
partida. Esse procedimento deve ser repetido sucessivamente com
alteamentos até atingir a elevação final prevista em projeto, da mesma
maneira, com o eixo da crista sempre se dirigindo para montante,
conforme ilustra a Figura 2. Para construção dos novos diques podem
ser utilizados o próprio rejeito, desde que sejam realizados ensaios para
avaliar as propriedades físicas e geotecnias do material.

O método de montante para disposição de rejeito é caracterizado


por apresentar baixo custo, exigir menor quantidade de materiais e
operações para realizar os alteamentos, além de poder ser executado
com relativa rapidez e construído em topografias íngremes. No entanto,
o método apresenta como desvantagens a baixa segurança quanto
à estabilidade; susceptibilidade à liquefação devido a vibrações tanto
naturais (sismos) quanto de operação, limitação e possibilidade de
ocorrência de piping, principalmente em decorrência da dificuldade para
implantação de sistema de drenagem eficiente (BOSCOV, 2008).

2.2.2 Alteamento pelo método de jusante

Depois do dique de partida, o alteamento pode ser feito no sentido


a jusante em relação ao primeiro dique, neste caso, ocorre o método
da jusante, visto que os próximos alteamentos são feitos com
17

deslocamentos para jusante em relação ao eixo da barragem, conforme


mostra Figura 4. Para tanto, os rejeitos são ciclonados e as partículas
mais grossas e densas são depositadas no talude da jusante, a fim de
garantir estabilidade a estrutura.

Figura 4 – Método de jusante para alteamento da barragem de


rejeito

Fonte: adaptada de Vick (1983).

Nesse método, a execução dos alteamentos pode ser feita tanto com
material natural quanto com resíduos de mineração provenientes da
lavra (estéreis ou rejeitos), desde que sejam garantidos a estabilidade,
a permeabilidade e o fluxo d’água com sistema de drenagem interno
e contínuo, ampliado a cada alteamento. Para isso, caso seja utilizado
rejeito, apenas underflow é utilizado no alteamento, que deve ser
adequadamente compactado de acordo com a umidade ótima.

O método de jusante configura-se como uma solução mais segura que


o método de montante, visto que o sistema de drenagem da estrutura
garante maior qualidade ao maciço e à posição da linha d’água,
promovendo, assim, redução do risco de liquefação e piping. Além disso,
como vantagem do método, a estrutura é mais resistente às vibrações,
pois possui relativa facilidade para execução da drenagem, permite
compactação de todo maciço da barragem e possibilidade de uso de
18

grande quantidade de estéril e rejeito da lavra para realizar o alteamento.


No entanto, o método de jusante apresenta como desvantagem o elevado
custo associado à necessidade de grande volume de material para
execução dos alteamentos, o que consequentemente ocupa grande espaço.
Ademais, esse método necessita usar ciclones para assegurar a separação
das partículas de forma apropriada, e ainda não permite a utilização de
cobertura vegetal para proteção do talude de jusante, nem instalação de
sistema de drenagem superficial durante a operação e alteamento da
barragem (ZUQUETTE, 2015).

2.2.3 Alteamento pelo método da linha de centro

Já o método de alteamento da linha de centro é tido como uma solução


geotécnica intermediária entre os dois métodos anteriores para
contenção dos rejeitos, visto que nesse método o eixo da barragem é
fixo enquanto se faz os alteamentos, conforme mostra Figura 5. A partir
da construção do dique de partida, o resíduo é disposto na periferia
da crista, a fim de formar a praia, assim o alteamento é feito sobre o
limite da praia de modo que o rejeito seja lançado também no talude de
jusante do maciço inicial. Dessa maneira, o eixo da crista, tanto do dique
de partida quanto dos alteamentos subsequentes, coincide.

Figura 5 – Método da linha de centro para alteamento da


barragem de rejeito

Fonte: adaptada de Vick (1983).


19

Nesse caso, o material utilizado para realizar o alteamento da barragem


pode ser oriundo de empréstimo, resíduo estéril da lavra ou ainda
underflow obtido por ciclonagem. Ao fazer o alteamento sobre o limite
da praia anterior é possível controlar a linha freática no talude de
jusante da estrutura de contenção, de modo que o nível da água não
se torne crítico como no método de montante, reduzindo, assim, a
possibilidade de ocorrência de piping.

Por conta dos aspectos apresentados, pode-se destacar como


vantagens do método da linha de centro, o eixo constante, a facilidade
de construção e redução da quantidade de material necessário para
o alteamento, em comparação com o método de jusante. No entanto,
como desvantagem destaca-se a demanda por um sistema eficiente de
drenagem e de contenção a jusante, a fim de evitar o comprometimento
da estabilidade do maciço. Além disso, as operações de alteamentos
são complexas por conta da necessidade de equipamentos específicos
para lançamento a jusante, tal que, por conta disso, o investimento
inicialmente é elevado.

A escolha do sistema de disposição dos resíduos de mineração deve


levar em conta as características do material e os mais diversos
fatores envolvidos, uma vez que cada método apresenta vantagens e
limitações. Portanto, cabe ao profissional de engenharia avaliar qual o
sistema mais adequado para o estéril e o rejeito. Para tanto, as normas
regulamentadoras da ABNT, NBR 13.028 (ABNT, 2017a) e NBR 13.029
(ABNT, 2017b) que estabelecem as diretrizes mínimas para a elaboração
e apresentação de projeto de disposição de resíduos estéreis e rejeitos
de mineração, destacam como as principais diretrizes a serem seguidas:

• Estudos locacionais–Avaliar minuciosamente as opções de locais


em potencial para receber o resíduo de mineração, de forma que o
projeto executivo contenha a justificativa da escolha feita;
20

• Caracterização química–Desenvolver e realizar ensaios que


atestem as propriedades do resíduo, seja inércia ou atividade
química do estéril, de forma que possibilite adotar ainda em
projeto medidas apropriadas para proteção ambiental, como
tratamento de efluentes e evitar a contaminação do lençol freático.

• Estudos hidrológicos e hidráulicos–É necessário tanto identificar


cursos d’água existentes quanto mapear surgências naturais
d’água nos locais de implantação do projeto. Além disso, deve-
se, ainda, estimar os volumes de precipitações para que sejam
dimensionados dispositivos de drenagem eficientes, como
canaletas de bermas, descidas d’água, canais periféricos, sistema
de drenagem interna, entre outros, dependendo da demanda
hídrica.

• Estudos sedimentológicos–Estimar o quantitativo volumétrico


de sedimentos a serem produzidos, tal que permita avaliar
adequadamente que tipo estrutura deve ser utilizada para
contenção dos materiais carreados.

• Estudos geológico-geotécnicos–Realizar a caracterização geológico-


geotécnico do solo, do subsolo e dos materiais empregados nas
contenções. Para isso, devem ser programadas investigações de
campo para coletar amostras dos materiais, seja empréstimo
(solo natural) ou resíduos (estéril e rejeito), e realizar ensaios
laboratoriais, a fim de obter os parâmetros que possibilitem a
avaliação de estabilidade de seções críticas do maciço da estrutura
a ser construída.

Esses estudos são essenciais para elaboração do projeto do sistema de


disposição dos resíduos de mineração, especialmente a caracterização dos
rejeitos, pois apresentam consideráveis variações em função da natureza
do minério e dos processos envolvidos no seu beneficiamento, incluindo
até mesmo operações influenciadas por mudanças nas frentes de lavra,
como método de extração e variação na composição mineralógica.
21

Além disso, o projeto final de disposição dos resíduos de mineração


deve prever, tanto durante a operação quanto após o término, um
plano de monitoramento periódico, que contemple inspeções visuais
regulares, limpeza e desobstrução dos dispositivos de drenagem,
além de realizar o acompanhamento de instrumentos que atestem o
funcionamento do sistema de drenagem, contenção e fluxo d’água,
como piezômetros. O projeto para disposição de resíduos de minas
deve, também, comtemplar programas de manutenção preventiva e
corretiva, como de erosões e rupturas ocorridas, com intuito de garantir
condições seguras, disposição de estéreis e rejeitos.

Por fim, a disposição dos resíduos de mineração representa um


risco social e ambiental se não for concebida adequadamente. Tanto
que, em 2010, foi sancionada a Lei nº 12.334 (BRASIL, 2010), que
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabeleceu a Política
Nacional de Segurança de Barragens e criou o Sistema Nacional
de Informações sobre Segurança de Barragens. As diretrizes da
legislação preveem que a exploração mineral do país deve ocorrer
levando em consideração os princípios da sustentabilidade ambiental.
Nesse sentido, cabe à engenharia desenvolver um plano de
gerenciamento de resíduos, que, no caso da atividade de mineração,
cabe a elaboração de projeto para disposição de estéril, rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13028 – Mineração:
elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água–Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT,
2017a.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13029 – Mineração:
elaboração e apresentação de projeto de disposição de estéril em pilha. Rio de
Janeiro: ABNT, 2017b.
BOSCOV, M. E. G. Geotecnia ambiental. São Paulo: Oficina de textos, 2008.
22

BRASIL. CONAMA. Resolução nº 29, 11 de dezembro de 2002. Define diretrizes


para a outorga de uso dos recursos hídricos para o aproveitamento dos recursos
minerais. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2002.
BRASIL. Decreto-lei nº 1.413, de 31 de julho de 1975. Dispõe sobre o controle
da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais. Brasília, DF:
Presidência da República, 1975. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/1965-1988/del1413.htm. Acesso em: 30 dez. 2021.
BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Portaria nº 237, em
18 de outubro de 2001. Norma Regulamentadora nº 19. Brasília, DF, 2001.
BRASIL. Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Brasília, DF: Presidência da
República, 2010.
HAWLEY, M.; CUNNING, J. Guidelines for mine waste dump and stockpile design.
CSIRO Publishing, 2017.
MACCAFERRI do Brasil. Infraestrutura em Minas: necessidades e soluções. [S.l.]:
Biblioteca técnica Maccaferri América Latina, 2008.
VICK, S. G. Planning, design and analysis of tailings dams. New York: Wiley
International, 1983.
ZUQUETTE, L. V. Geotecnia ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
23

Gestão ambiental e de água nas


pilhas e barragens de resíduos da
mineração
Autoria: Eduarda Pereira Barbosa
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Compreender o sistema de gestão ambiental na
mineração.

• Estabelecer os principais tópicos do sistema de


gestão ambiental na mineração.

• Entender os aspectos predominantes da gestão


de água nas pilhas e barragens de resíduos da
mineração.
24

1. Gestão ambiental na mineração

A exploração de recursos minerais provoca alteração no meio ambiente


natural, que pode afetar os ecossistemas locais. Para tanto, a legislação
brasileira determina que a autorização e a concessão para mineração
estão condicionadas à obrigatoriedade de recuperar o meio ambiente
degradado. Nesse sentido, a gestão ambiental visa gerenciar programas
que buscam minimizar os impactos ambientais gerados pela mineração,
levando em consideração o equilíbrio de forma sustentável entre a
atividade de exploração mineral e a preservação do meio ambiente.

Quando se estuda sobre gestão ambiental é necessário compreender


alguns conceitos que se relacionam no planejamento ambiental e no
gerenciamento ambiental. Enquanto o planejamento ambiental implica
em determinar metas, objetivos e ferramentas que permitam um
cenário socioambiental futuro, o gerenciamento ambiental estabelece
etapas e processos para aplicação, controle e monitoramento das
soluções apontadas no planejamento ambiental. Nesse sentido, a
gestão ambiental integra esses dois conceitos às políticas e legislações
ambientais existentes, de forma a racionalizar as decisões a serem
tomadas, a fim de assegurar um ambiente em equilíbrio.

1.1 Sistema de gestão ambiental

Atualmente uma maneira eficiente e sustentável de aumentar o


desempenho ambiental durante a exploração mineral é por meio
de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), cuja estrutura permite
auxiliar as mineradoras a planejar ações, prevenir e controlar impactos
ao meio ambiente, bem como melhorar continuamente e gerenciar
riscos, conforme define a NBR ISO 14001 (ABN, 2015). Nesse sentido,
a norma NBR ISO 14001, intitulada Sistemas de gestão ambiental–
Requisitos com orientações para uso, estabelece as exigências para um
SGA e, de forma sistemática, auxilia as empresas no gerenciamento
25

das responsabilidades ambientais, contribuindo, assim, para a


sustentabilidade ambiental.

A norma NBR ISO 14001 (ABNT, 2015) busca aprimorar o desempenho


das empresas por meio da aplicação ativa dos recursos e da
redução da quantidade de resíduos, ganhando, dessa maneira,
vantagens competitivas e a confiança das partes interessadas.
Paralelamente, tem-se, ainda, a norma NBR ISO 14004 (ABN,
2018), que traz uma série de orientações sobre o estabelecimento,
implementação, manutenção e melhoria de um SGA robusto, crível
e confiável. Nesse sentido, ambas as normas oferecem base técnica
para o gerenciamento das obrigações ambientais, a fim de obter
sustentabilidade, no caso, para exploração mineral.

Para mineração, baseando-se na norma NBR ISO 14001 (ABNT, 2015), é


possível identificar quatro fundamentais tópicos para o SGA:

1. Gestão de barragens.
2. Defesa da biodiversidade.
3. Emissão de poluentes atmosféricos.
4. Gestão dos recursos hídricos.

Com base na NBR 13028 (ABNT, 2017), que estabelece os critérios


mínimos para a elaboração e a apresentação de projeto de barragens de
mineração, e nas legislações vigentes, como a Lei Federal 12.334/2010
e a Portaria do DNPM 70.389/2017, pode-se destacar como práticas
recorrentes de gestão de barragem:

• Desenvolvimento e aplicação de técnicas para aumentar a vida útil


das barragens.

• Monitoramento periódico de águas e efluentes nos poços de


controle para avaliar a qualidade da água.
26

• Atualização das técnicas para processamento de minérios com


perspectiva de reduzir a quantidade de resíduos produzidos.

• Aumento de investimento nos dispositivos de monitoramento para


maior controle do volume das barragens de resíduos.

• Manutenção periódica preventiva e preditiva, bem como corretiva,


para maior segurança e estabilidade das estruturas da barragem.

Evidentemente, os processos associados à mineração causam diversos


danos ao meio ambiente e, por conta disso, o SGA deve prever a defesa
da biodiversidade. A diversidade biológica, tanto de fauna quanto de
flora, é um patrimônio da sociedade e a atividade de mineração deve
atuar da melhor maneira para mitigar os prejuízos ao meio ambiente.
Para tanto, como dispositivo de defesa da biodiversidade é exigido,
minimamente, o Licenciamento Ambiental para mineração.

1.2 Licenciamento Ambiental

O Licenciamento Ambiental é um instrumento de gestão ambiental que


antevê os estudos prévios sobre avaliação dos impactos ambientais que
as atividades envolvidas na exploração de minério podem causar, tanto
ao ambiente natural quanto ao ambiente humano. Esse instrumento
foi introduzido inicialmente em 1981 pela Política Nacional do Meio
Ambiente, pela Lei 6.938/1981, instituindo um conjunto de normas para
a preservação ambiental, e, posteriormente, o Decreto 9.7507/1989
regulamentou o Licenciamento Ambiental de atividade mineral.

Com intuito de defender a biodiversidade, o Licenciamento Ambiental


deve conter medidas mitigatórias para minimizar ou, até mesmo,
eliminar acontecimentos adversos que são potenciais causadores de
danos ambientais ao meio natural. Nesse sentido, o licenciamento
necessita apresentar medidas em caráter preventivo, corretivo,
compensatório e potencializador, as quais podem se destacar :
27

• Programa de educação ambiental para os funcionários sobre


proteção e preservação ambiental.

• Disposição adequada de substâncias químicas potencialmente


contaminadoras do solo e/ou da água.

• Criação, implantação e/ou manutenção de unidades de


conservação.

• Quantificação e qualificação de agentes físicos, químicos e


biológicos.

• Programa de regeneração e recuperação das áreas degradadas.

A defesa da biodiversidade pode, também, ser feita por iniciativa própria


das empresas mineradoras, que podem criar e/ou implementar ações
adicionais de preservação ambiental, além das obrigatórias exigidas no
licenciamento ambiental. Essas ações adicionais devem ser concebidas
no sentido de compensar o impacto causado pela mineração, por
exemplo, a criação de áreas verdes de preservação para proteger a
natureza contra incêndios, caça e coleta de espécies silvestres, entre
outras.

A indústria da mineração mobiliza grandes volumes de resíduos, que


podem se desprender e formar nuvens de poeiras ou, ainda, que são
lançados diretamente na atmosfera na forma de gases. Esses resíduos,
tanto na forma de poeira como na forma de gases, são facilmente
dispersos pelo vento, comprometendo, assim, a qualidade dor ar. Nesse
sentido, a mineração possui duas fontes de poluição atmosférica que
demandam atenção do SGA:

• Emissão de poluentes particulados: espalhados pelo vento durante


as operações de escavação, explosão, jateamento, transporte e
erosão eólica, especialmente em mineração a céu aberto.
28

• Emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa:


produzidos principalmente durante a queima de combustíveis
fósseis, explosões e etapas do beneficiamento mineral, como o
processo de pelotização de minérios ferrosos.

As emissões atmosféricas de poluentes particulados e gases do efeito


estufa precisam ser controladas para minimizar e reduzir os impactos
ambientais e a saúde humana. Para tanto, as mineradoras devem
implementar um programa de emissões que contemple medidas como:

• Medição e monitoramento rotineiros das emissões atmosféricas.

• Controle e manutenção de equipamentos que são potenciais


emissores de gases em excesso.

• Utilização de dispositivos e tecnologias para reduzir e reter as


emissões de gases.

• Planejamento e implementação de práticas que propõem redução


gradativa das emissões.

A medição e o monitoramento são etapas fundamentais do SGA, visto


que essas medidas possibilitam avaliar se o ar está de acordo com os
padrões de qualidade e com concentrações de poluentes atmosféricos
admissíveis, estabelecidos pelas resoluções do CONAMA 03/1990 e
490/2018. Além disso, o monitoramento do ar permite avaliar, também,
a eficácia das ações adotadas pela mineradora para reduzir as emissões
atmosféricas.

A gestão dos recursos hídricos deve ser contemplada em três


níveis, tendo em vista os impactos que a mineração pode causar.
Primeiramente, a mineração é uma atividade cujas operações
demandam elevado consumo de água; em segundo lugar, existem
problemas associados à extração do minério propriamente, que
pode demandar rebaixamento do lençol freático, comprometendo,
29

assim, a recarga dos aquíferos e da bacia hidrográfica; e, por fim, há


a possibilidade de contaminação dos corpos hídricos, como riachos,
rios e lagos.

A gestão dos recursos hídricos é fundamentada em três legislações,


sendo uma lei federal e outras duas resoluções do Conselho Nacional
de Recursos Hídricos, que auxiliam no planejamento e gerenciamento
ambiental na mineração:

• Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997–Instituiu a Política Nacional de


Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, que traz uma série de fundamentos, diretrizes e
instrumentos para a gestão adequada da água.

• Resolução 29, de 11 de dezembro de 2002–Define diretrizes para


a outorga de uso dos recursos hídricos para o aproveitamento dos
recursos minerais.

• Resolução 55, de 28 de novembro de 2005–Estabelece as diretrizes


para a elaboração do Plano de Utilização da Água na Mineração,
que é um instrumento fundamental na gestão de recursos
hídricos.

Baseando-se nisso e nas práticas correntes das empresas mineradoras,


pode-se destacar as principais medidas adotadas no SGA para gestão
dos recursos hídricos na mineração:

• Gerenciamento regular da qualidade da água para avaliar


eventuais contaminações.

• Estudo rigoroso e eficiente que forneça informações sobre a


realidade da bacia hidrográfica e disponibilidade hídrica no local
onde está instalada a planta de mineração.

• Programa de educação para os funcionários sobre o uso racional


dos recursos hídricos.
30

• Investimento e desenvolvimentos de tecnologias que demandem


menor consumo de água no beneficiamento do minério.

• Planejamento de operações conscientes para não realizar extração


excessiva de água dos lençóis freáticos.

• Realização da extração e de atividades de mineração em áreas com


elevado nível pluviométrico.

Quando a exploração e a extração de minério ocorre abaixo do nível


piezométrico ou intercepta um aquífero, há necessidade de extrair a
água subterrânea enquanto houver operação na lavra da mina. Nesse
caso, deve-se realizar o rebaixamento piezométrico e a drenagem
da água subterrânea para acessar e extrair o minério e, dependendo
do volume de água extraída, ocorre um escoamento superficial.
Geralmente, o escoamento da água é direcionado por tubulações ou
calhas para locais apropriados, como barragens de contenção. Todavia,
quando o volume da água extraída ultrapassa a capacidade de suporte
do sistema de drenagem ocorre o transbordamento. Por conta disso, a
água escoa superficialmente de acordo com a declividade e topografia
do terreno e, muitas vezes, promove erosão no solo e até mesmo
assoreamento.

O principal fator que determina a destinação dessa água subterrânea


extraída é a qualidade, que é influenciada pela composição mineralógica
e litológica, bem como pelo método de drenagem. Assim, se a água tiver
parâmetros adequados pode ser descarregada de forma direta na rede
hidrográfica ou aproveitada, por exemplo, para irrigação, abastecimento
e uso industrial. Todavia, se a água não possuir padrões adequados para
descargar, como a presença de metais pesados, problemas de acidez,
alcalinidade e/ou salinidade, ela precisará passar por um processo de
tratamento apropriado ou ser reservada em barragens de evaporação
até que apresente qualidade admissível para ser descarregada.
31

Os impactos ambientais que a mineração pode gerar são preocupantes,


todavia, um sistema de gestão ambiental eficiente (que contemple ações,
políticas e instrumentos que contribuam para a gestão de barragens, a
defesa da biodiversidade, o controle das emissões de poluentes e gases
do efeito estufa e a gestão dos recursos hídricos) pode ser adotado para
mitigar e minimizar a degradação ambiental, tornando a mineração uma
prática sustentável.

Além das responsabilidades decorrentes da gestão ambiental, as


mineradoras, ao implantarem o SGA, ganham uma série de benefícios,
como a melhoria na imagem institucional, a renovação de portfólio de
produtos, o ganho de produtividade, o acesso ao mercado externo, o
aumento das relações com órgãos governamentais e com a comunidade,
entre outros, que são vantagens estratégicas capazes de proporcionar
economia de custo e incremento de receitas.

2. Gestão de água nas pilhas e barragens de


resíduos da mineração

A mineração está vinculada à disponibilidade dos recursos naturais,


especialmente o recurso hídrico, que pode ser tanto objeto de
exploração quanto aplicado na lavra. Portanto, tanto a disponibilidade
quanto a qualidade da água são essenciais para a operação de
mineração, visto que a mineração demanda água em quase todas as
etapas de seu processo. Por conta disso, necessita-se de um sistema de
gerenciamento de água adequado e eficiente que atenda os aspectos
econômicos, sociais e ambientais.

Na lavra, o uso da água é destinado para as operações de beneficiamento,


transporte de minérios e encerramento da mina. Todavia, nesta seção
abordaremos especificamente a gestão de água destinada às pilhas de
estéreis e barragens, cuja água assume distintas características:
32

• Pilha de estéril: é capaz de causar interferência do escoamento


superficial, que consequentemente pode ocasionar desvios no
curso natural da água, dependendo da forma e tamanho da
estrutura da pilha.

• Barragem de contenção de sedimentos: a chuva pode carrear


sedimentos oriundos da mineração, nesse sentido, esse tipo de
barragem é construído para conter esses materiais e assegurar a
qualidade do efluente.

• Barragem de rejeitos: realiza a contenção de resíduos gerados pelo


beneficiamento do minério e acumula água contida nos rejeitos,
que foi utilizada nas operações de beneficiamento e pode ser
reutilizada.

A gestão de água nas pilhas e barragens deve ter como objetivo a


otimização do recurso hídrico devido a três aspectos. Primeiro, que a
água é um recurso finito e deve ser preservado. Segundo, a água está
diretamente associada aos danos que as estruturas das pilhas e barragens
estão sujeitas, como liquefação, galgamento, erosão interna, contaminação,
entre outros. Por último, a água é responsável por maximizar o potencial
de falha associado à possibilidade de maiores impactos a jusante, caso
ocorra a ruptura da estrutura. Nesse sentido, a gestão de água deve ser
pautada em soluções que busquem otimizar e reduzir a utilização da água
na mineração, para tanto, pode-se destacar as seguintes alternativas:

• Desenvolver e/ou utilizar tecnologias que permitam disposição de


resíduos não saturados, bem como a implementação de sistema
de drenagem.

• Implementar medidas de incentivo para reuso ou aumento da


recirculação da água na planta de mineração.

• Buscar obter condições dilatantes para todos os sistemas de


disposição por meio de compactação dos estéreis e rejeitos.
33

• Projetar estruturas com previsão de eliminar ou reduzir as águas


armazenadas no reservatório e as superficiais sobre as pilhas e
barragens.

• Monitoramento permanente com previsão de visitas in loco para


garantir a qualidade física e química da água e dos efluentes.

O armazenamento de resíduos sólidos não inertes, seja estéril ou


rejeito, é uma fonte potencial de contaminação da água que, devido à
peculiaridade da mineração, pode ocorrer por longo período. Assim,
a gestão de água deve prever mecanismos para reduzir ao máximo
possível a infiltração e o acesso de águas, tanto de escoamento
superficial quanto de chuva. Para tanto, os resíduos reativos devem
ser depositados em local cujo fundo seja impermeável, além disso,
deve ser prevista uma cobertura impermeável dotada de drenagem
superficial e com possibilidade de aplicação de terra vegetal para cultivo,
por exemplo, de gramíneas. Para impermeabilização das fundações,
podem ser utilizadas as técnicas de compactação com argila ou argila
bentonítica, colocação de manta geotêxtil, injeção de calda de cimento e
injeção de poliuretano, cuja escolha da técnica mais adequada deve ser
baseada em estudos geotécnicos e geológicos e critérios econômicos.
Já para drenagem superficial, o sistema deve ser dotado de drenos
filtrantes e tapetes drenantes, bem como canaletas, calhas, valetas e
descidas d’água em degraus, que podem ser construídos de diferentes
materiais.

As barragens de contenção de sedimentos descarregam a água


acumulada na forma de efluente, que pode ser reutilizada nas
operações da mineração. Geralmente os efluentes escoam pelos
vertedouros e através do maciço da barragem por percolação ou, ainda,
por meio de drenos dispostos na fundação da barragem. Todavia,
antes dessa água ser descarregada diretamente na rede hidrográfica
ou aproveitada é necessário avaliar a qualidade, que pode considerar
diversos parâmetros, como sólidos em suspensão, sólidos sedimentares,
34

potencial hidrogeniônico (pH) e presença de contaminantes do tipo


graxos e óleos.

Para evitar a presença de sólidos em suspensão na água é empregada


uma barragem de decantação ou são utilizados floculantes, sendo
comum e recomendável utilizar, também, filtros biológicos para atingir
os mais elevados graus de qualidade da água. O sistema de tratamento
e drenagem superficial deve ser concebido e dimensionados para
suportar intensas chuvas. Além disso, podem ser previstos dispositivos
de correção de pH, que podem utilizar injeção de CO2, cal ou soda para
ajustar o pH, dependendo da qualidade do efluente.

A gestão da água deve, também, antever, além de métodos de


preventivos contra a contaminação da água, métodos corretivos, caso
isso venha a ocorrer. Nesse sentido, primeiramente, deve-se planejar
mecanismos de prevenção desde o início das atividades de operação
da mina, que devem ser contínuos e previstos sem interrupção até o
fechamento. Essas medidas visam, principalmente, preservar a água,
evitando a infiltração de águas das pilhas e barragens de resíduos da
mineração no solo. Todavia, de forma extraordinária ainda pode ocorrer
a infiltração e a contaminação da água, para isso, no planejamento
de gestão de águas, devem ser previstos métodos de correção ou
compensatórios, que são tradicionalmente químicos para neutralização
e minimização dos agentes contaminantes, os quais geralmente são
acompanhados de medidas mecânicas de aeração ou remoção do solo.

Uma medida corretiva comum para tratamento de águas ácidas é a


utilização de cal, que promove alcalinização do solo e da água. Dependendo
do nível de contaminação, o solo e a água são removidos para uma lagoa
de decantação, e , em seguida, passam por um processo de filtragem-
prensa, para, então, serem depositados em instalações apropriadas e
seguras. Caso disponha de tecnologia e seja viável, o material pode ser
parcialmente reciclado após a neutralização e depositado em pilha ou
barragem, dependendo das características do material final.
35

Uma maneira eficiente de realizar a gestão de águas na mineração,


especialmente das pilhas e da barragem, é por meio do controle do
balanço hídrico, que quantifica a contribuição de águas de diferentes
origens, tanto na recarga quanto na descarga do contexto da mina.
A eficiência do balanço hídrico está associada à necessidade de ser
atualizado constantemente em função de medições topobatimétricas e
variáveis hidrológicas, como as vazões, as precipitações, as evaporações,
as infiltrações, entre outras. No balanço hídrico é indispensável realizar
o controle e as análises qualitativas das águas descarregadas. Para
maior precisão do balanço hídrico deve ser previsto um programa de
investigação geoquímica, que busca identificar, quantificar e caracterizar
qualquer contaminante potencial da água. Dessa maneira, é possível
predizer quais processos influenciam na qualidade da água, tanto de
maneira imediata quanto ao longo do tempo.

A gestão de água nas pilhas de estéreis e barragens de rejeito por meio


do balanço hídrico deve contemplar de forma ordinária a qualidade
da água liberada para jusante. Para isso, a água que escoa através do
sistema extravasor e do sistema de drenagem interna necessita ser
controlada e monitorada, periodicamente, por meio de coleta e análises
de amostras, de forma que atenda aos limites legais estabelecidos para
descarga, a fim de não alterar o enquadramento de corpos hídricos
receptores. Ademais, para garantir que o sistema de tratamento possua
capacidade de atender as demandas de forma adequada é necessário
avaliar a qualidade e vazão dos efluentes gerados nas barragens de
rejeitos.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13028 – Mineração:
elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água–Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT,
2017.
36

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 14001 – Sistemas


de gestão ambiental: requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT,
2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 14004 – Sistemas
de gestão ambiental: diretrizes gerais para a implementação. Rio de Janeiro: ABNT,
2018.
BRASIL. CONAMA. Resolução CONAMA nº 3, de 28 de junho de 1990. Diário Oficial
da União: seção 1, Brasília, DF, p. 15937-15939, 28 jun. 1990. Disponível em: https://
www.ibram.df.gov.br/images/resol_03.pdf. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. CONAMA. Resolução CONAMA nº 490 de 16 de novembro de 2018. Diário
Oficial da União, 16 nov. 2018. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/
legislacao/?id=369514. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Decreto nº 97.507, de 13 de fevereiro de 1989. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, DF, p. 2282, 14 fev.1989. Disponível em: https://www2.camara.leg.
br/legin/fed/decret/1989/decreto-97507-13-fevereiro-1989-448256-norma-pe.html.
Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Brasília, DF: Presidência da
República, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12334.htm. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1981. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Brasília, DF: Presidência da
República, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm.
Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Diário Oficial da União: seção
1, Brasília, DF, p. 68, 19 maio 2017. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/
asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/20222904/do1-2017-05-19-portaria-n-
70-389-de-17-de-maio-de-2017-20222835. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Resolução nº 29 de 11 de dezembro de 2002. Dispõe sobre o uso e da
outorga de direito de uso de recursos hídricos nas atividades minerárias, conforme
especifica. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em: https://www.
diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?numlink=1-173-34-2002-12-11-29. Acesso
em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Resolução nº 55, de 28 de novembro de 2005. Brasília, DF: Presidência da
República, 2005. Disponível em: https://cnrh.mdr.gov.br/outorga-de-direito-de-uso-
de-recursos-hidricos/36-resolucao-n-55-de-28-de-novembro-de-2005/file. Acesso
em: 31 dez. 2021.
37

Gestão geotécnica e
aproveitamento dos rejeitos na
construção civil
Autoria: Eduarda Pereira Barbosa
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Apresentar os conceitos relacionados à gestão
geotécnica.

• Estabelecer os critérios e ferramentas utilizados para


gestão geotécnica de barragens de rejeitos.

• Elencar as formas de reaproveitamento de rejeitos


na construção civil.
38

1. Gestão geotécnica de barragens

As barragens configuram-se como estruturas complexas e dinâmicas


que necessitam de cuidados especiais ao longo do seu ciclo de vida,
desde a elaboração dos projetos até a sua operação, manutenção
e monitoramento das estruturas, assim como o encerramento de
suas atividades. O rompimento de uma barragem representa perigo
iminente ou risco potencial de danos ambientais em função da descarga
descontrolada dos rejeitos, além da possibilidade de perdas de vidas
humanas. As causas de rompimento de barragens podem ser diversas,
como problemas de fundações, instabilidade dos taludes, falta de
controle da erosão, deficiências no controle e inspeção pós-operação,
falta de procedimentos relativos à segurança durante a vida útil da
estrutura e outras.

O Brasil tem vivenciado na última década uma série de acidentes


envolvendo o rompimento de barragens de rejeitos que resultaram
em inúmeras perdas para a população. As causas para cada um
desses acidentes vêm sendo constantemente estudadas por órgãos
governamentais e especialistas renomados no assunto, onde a gestão
de barragens tem papel fundamental para prevenir e apurar esses
acontecimentos.

Diante desse cenário, é importante conhecer o contexto das condições


das barragens brasileiras. No Relatório de Segurança de Barragens do
ano de 2020 (ANA, 2021) consta que existem cerca de 21.953 barragens
cadastradas por 33 órgãos fiscalizadores no Sistema Nacional de
Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB), onde uma parte
considerável das barragens brasileiras se encontra em estado de
vulnerabilidade. As condições de segurança dessas estruturas foi o
principal elemento que contribuiu para a criação da Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB), que foi estabelecida por meio da Lei º
12.334 de 2010 (BRASIL, 2010a).
39

A PNSB tem como principais objetivos (BRASIL, 2010a) garantir os padrões


de segurança de barragens, de maneira a reduzir a possibilidade de
acidentes ou desastres e suas consequências; regulamentar as ações de
segurança adotadas nas diversas fases da vida útil de uma barragem;
promover o monitoramento e acompanhamento dessas ações; criar
condições para a ampliação do controle de barragens por parte do
poder público, com foco na fiscalização, orientação e correção de ações
de segurança; incentivar medidas de segurança e gestão de riscos de
barragens na cultura organizacional das empresas de mineração; além de
definir procedimentos emergenciais em caso de acidentes, incidentes ou
desastres. Um dos principais instrumentos da PNSB é o Sistema Nacional
de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB), o sistema
responsável pelo cadastro digital das informações sobre as condições de
segurança das barragens por todo o país.

A segurança de barragens tem como preceitos manter a integridade


estrutural e operacional dessas estruturas, a fim de minimizar o risco
de acidentes, cumprindo com a sua finalidade, além de evidenciar a
preservação da vida, da saúde, da propriedade e do meio ambiente.
Recomenda-se que as condições de segurança das barragens sejam
revisadas de forma periódica, sempre considerando alterações
decorrentes do envelhecimento ou deterioração das estruturas. Nesse
ponto, deve-se ressaltar o papel dos empreendedores na adoção de
procedimentos e medidas que assegurem boas condições de segurança
para as barragens ao longo de todas as fases de seu ciclo de vida.

De acordo com o Guia de Boas Práticas em Gestão de Barragens


e Estruturas de Disposição de Rejeitos (IBRAM, 2019), a gestão de
segurança de barragens e estruturas de disposição de rejeitos é baseada
em três pilares, sendo eles:

• Aplicação das melhores tecnologias (Best Available Technologies


-BAT): esse primeiro pilar tem foco no uso das melhores
tecnologias disponíveis no mercado, visando a redução dos
40

riscos, a garantia da estabilidade física e evitar a ocorrência


de vazamentos ou a liberação de resíduos armazenadas nas
estruturas de disposição.

• Implantação de um sistema de gestão que incorpore as


melhores práticas aplicáveis (Best Applicable Practices- BAP):
um elemento primordial para a redução de risco e atendimento ao
desempenho esperado da estrutura passa pela implantação de um
sistema de gestão integrado às fases de ciclo de vida associado ao
uso das melhores práticas aplicáveis. A necessidade de evoluir os
processos empregados na gestão de barragens é um dos grandes
aprendizados adquiridos com a ocorrência de acidentes. Um
dos principais aprendizados com as ocorrências de acidentes é a
necessidade de:

• Operacionalização dos planos de ação de emergência: esse pilar


tem como principal objetivo a elaboração de ações de resposta
frente a possíveis situações de emergência.

• Elaboração pelo empreendedor de um documento técnico


denominado Plano de Ação de Emergência, onde constam as
identificações de potenciais emergências, que podem ocorrer na
barragem, ações a serem executadas e os agentes que devem ser
notificados com as ocorrências.

1.1 Gestão de riscos

A gestão das estruturas de disposição de resíduos de mineração


está diretamente ligada ao controle de riscos. Abordar esse assunto
de forma estruturada oferece subsídios para o um modelo robusto
de gerenciamento de barragens. É uma ferramenta ideal para evitar
os danos decorrentes do rompimento de barragens, como mortes,
danos econômicos, sociais e ambientais. Suas principais vantagens
são (IBRAM, 2019):
41

• Assegurar que os eventos de riscos associados às estruturas


possam ser sistematicamente identificados.

• Identificar modos de falha possíveis, dando ênfase naqueles que


necessitam de investigação detalhada.

• Fornecer orientação no plano de medidas de monitoramento.

• Aumentar a transparência em relação aos riscos das estruturas.

• Permitir a tomada de decisões de forma mais consciente.

• Orientar a distribuição de recursos.

• Determinar estratégias de resposta para os riscos identificados.

O processo de gestão de riscos pode ser realizado tendo como principal


referência a norma ABNT NBR ISO 31000:2018 (ABNT, 2018), que trata
das diretrizes para gestão de riscos. As etapas desse processo estão
detalhadas na Figura 1.

Figura 1 – Etapas do processo da gestão de riscos

Fonte: IBRAM (2019, p. 48).


42

A gestão de riscos atua na segurança de barragens utilizando métodos


que indicam os modos de falha e auxiliam no monitoramento da
estrutura. Vale ressaltar que os riscos presentes nas barragens não são
eliminados, mas minimizados. Os principais métodos de análise mais
utilizados no gerenciamento de riscos de barragens são os seguintes
(IBRAM, 2019):

• Análise de modos de falhas e dos seus efeitos (Failure Modes and


Effects Analysis – FMEA): esse método envolve, primeiramente, a
identificação dos modos de falha de um sistema. Dessa forma,
podem ser estabelecidas medidas prévias para atenuar ou
extinguir os riscos presentes em uma determinada estrutura. Uma
de suas principais características é a possibilidade de aplicação
desses métodos em momentos distintos de uma obra.

• Estudo de perigos e operabilidade (Hazard and Operability –


HAZOP): esse método visa investigar cada segmento do projeto
para realizar a identificação de qualquer discordância das
condições normais de operação de uma barragem, juntamente da
justificativa para a ocorrência.

• Análise por árvore de eventos (Event Tree Analysis – ETA): esse é um


método de análise quantitativa de riscos. Parte da identificação de
um evento de origem ocorre a partir de onde são traçados dois
ramos que representam a possibilidade de falha ou sucesso do
evento. Dessa forma, é construída uma árvore sempre com essas
duas derivações em cada evento.

• Análise por árvore de falha (Fault Tree Analysis – FTA): esse é um


método gráfico em que são utilizados símbolos definidos para
indicar a relação entre eventos, com ponto de início em uma falha
e combinando eventos para a descoberta da falha.

Para definir a metodologia a ser utilizada é importante que sejam


conhecidas as aplicações e limitações de cada método apresentado.
43

Além disso, métodos diferentes podem ser empregados de forma


conjunta como complementos um do outro.

1.2 Monitoramento geotécnico de barragens

O monitoramento geotécnico e estrutural de uma barragem consiste


no emprego de um técnico, que possibilita diagnosticar o seu
comportamento. Entre as principais técnicas empregadas estão as
inspeções visuais, a instrumentação e inspeções, assim como testes de
equipamentos (IBRAM, 2019).

As inspeções visuais possibilitam avaliar qualitativamente as condições


físicas dos componentes da estrutura das barragens, com o objetivo de
identificar anomalias que possam afetar o estado de conservação ou a
estabilidade das barragens.

As operações de monitoramento de barragens devem ser, primeiramente,


planejadas para detecção de possíveis sinais que aparecerem de forma
precoce na estrutura e que possam ser associados a falhas potenciais. O
entendimento desses modos e dos objetivos a serem alcançados por meio
do monitoramento, permitem que as próximas ações sejam direcionadas
para a busca de evidências visuais e dados de instrumentação que
permitam a identificação do início ou processo de desenvolvimento de
uma falha (IBRAM, 2019). A coleta de dados por meio de instrumentação
é utilizada para acompanhar os tipos de falhas específicas ou para dar o
suporte em decisões que necessitam de um embasamento técnico maior.
A seleção dos instrumentos a serem utilizados e a sua locação consideram
as características da barragem, os modos de falha e áreas de sensibilidade
da estrutura, devendo ser especificados e detalhados em um Plano de
Monitoramento (IBRAM, 2019).

De acordo com Boscov (2008), o monitoramento geotécnico por meio de


instrumentação consiste em ações para acompanhar os deslocamentos
verticais e horizontais com o uso de marcos superficiais, placas de
44

recalques e inclinômetros, assim como acompanhar os níveis de


percolado e pressões de gases com o uso de piezômetros, além de
vazões drenadas de percolado por meio de medidores de vazão. Com
esses dados é realizada a análise de estabilidade e de recalques para
garantir integridade da estrutura.

Os marcos superficiais (Figura 2) são utilizados para medir os


deslocamentos horizontais e verticais dos maciços, são elementos pré-
moldados de concreto com um pino de metal engastado e instalados
na superfície. Através dos deslocamentos medidos, pode-se avaliar a
magnitude da movimentação ocorrida (BOSCOV, 2008). Uma mudança
considerável nos recalques em uma cota do levantamento pode indicar
o início de uma instabilização de massa, assim, o monitoramento
permite que sejam realizadas com ações reparadoras e preventivas.

Figura 2 – Exemplo de marco superficial

Fonte: ANA (2016, p. 83).

Os deslocamentos horizontais na estrutura são medidos com o uso


de inclinômetros ao longo de comprimento vertical situado no interior
do maciço, sendo determinado por meio do desvio em relação a essa
referência. Geralmente, eles são compostos por tubos metálicos ou
plásticos, onde são instalados equipamentos denominados de torpedo,
que são os responsáveis por computar a leitura, tendo em vista que
possuem um pêndulo que permite que as inclinações sejam lidas.
45

As placas de recalque também são instrumentos que medem


deslocamentos verticais na estrutura, sendo compostas por placas
metálicas ou outros materiais que possuem boa rigidez, podem ter
formato quadrado ou circular, sendo dotadas de um orifício central
roscado, no qual se instala um tubo guia de PVC. Geralmente esse
segmento possui comprimento de 1m e, à medida que os alteamentos
vão sendo realizados, esse tubo é prolongado com mais segmentos da
mesma medida, os quais servem como referência para definir o recalque
total na estrutura.

As medidas de pressão na estrutura geralmente são realizadas com


o uso de piezômetros, cujos principais tipos são os de tubo aberto,
pneumático, hidráulico e elétrico. O piezômetro de tubo aberto é
um dos mais utilizados, conhecido, também, como piezômetro de
Casagrande, sendo um instrumento constituído de um tubo disposto
em furo no solo até a profundidade em que se deseja obter a medida
de pressão. A medida é realizada na extremidade inferior do tubo,
que pode ser perfurada ou composta por uma pedra porosa cerâmica
e envolvida por material drenante. O espaço entre o tubo e o furo ao
longo do seu comprimento, geralmente, é preenchido por material
impermeável e o seu topo deve ser protegido com uma tampa,
evitando a ação das intempéries, vandalismos e acessos que não
sejam permitidos (BOSCOV, 2008). Os piezômetros elétricos possuem
um tempo de resposta muito rápido e permitem que a evolução da
pressão da água na estrutura seja acompanhada de forma imediata
(ANA, 2016).

Os dados coletados no monitoramento devem ser analisados


periodicamente e correlacionados com valores referenciais, havendo,
assim, um entendimento global do comportamento da estrutura
e a possibilidade de identificar qualquer tendência irregular no
comportamento da barragem.
46

2. Reaproveitamento de rejeitos de mineração


na construção civil

A mineração é um dos segmentos da economia brasileira que contribui


de forma significativa para o desenvolvimento econômico do país.
No entanto, as operações de lavra e beneficiamento geram grande
quantidade de resíduos, os quais devem ser tratados de forma
adequada com o intuito de reduzir os impactos ambientais decorrentes
dessa atividade (BOSCOV, 2008). A importância socioeconômica dos
minerais vem de longa data, podendo ser exemplificada através do uso
de ferro e carvão na cocção de alimentos durante a Revolução Industrial
e, ao longo do tempo, a demanda por bens minerais e mercado
consumidor sendo expandidos. Essa expansão resultou no aumento
da produção e, consequentemente, em uma maior geração de rejeitos,
o que fez surgir a necessidade de removê-los das áreas de produção
para outros locais, a fim de que pudessem ser depositados e contidos.
Tornou-se necessária, então, a construção de barramentos e diques de
contenção (BONFIM, 2017).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010b) considera


que os rejeitos de mineração são aqueles gerados nas atividades de
pesquisa, extração ou beneficiamento dos minérios. Os principais tipos
de resíduos produzidos pelas atividades de mineração são os rejeitos e
os estéreis. A NBR 13.028 (ABNT, 2017a) estabelece que os rejeitos são
todos os materiais descartados durante o processo de beneficiamento
mineral, enquanto, de acordo com a NBR 13.029 (ABNT, 2017b), o estéril
é todo e qualquer material que não seja economicamente aproveitável,
cuja remoção é necessária para as operações de lavra do minério. Ou
seja, basicamente, os rejeitos representam os materiais escavados e
retirados para atingir os veios dos minérios (BOSCOV, 2008).

A fase de beneficiamento tem como função tratar, concentrar ou


purificar o minério sem alterar sua constituição química. Os processos
47

para beneficiar o minério são as etapas que geram a maior quantidade


de resíduos que, posteriormente, necessitam de deposição, seja
nas bacias formadas por barragens ou diques, como também na
superfície do terreno. Eles representam uma das grandes preocupações
ambientais em relação à mineração, pois, são ricos em substâncias
tóxicas que podem causar a contaminação da água, ar, fauna, flora,
assim como da população (BONFIM, 2017). Em estudos realizados pelo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2016), a quantidade de rejeitos
gerados pelas atividades mineradoras pode ser estimada pela diferença
entre produção bruta e produção beneficiada. Em alguns casos, os
rejeitos possuem quantidade igual à da substância produzida.

A gestão dos resíduos de mineração é fundamental para administrar


os possíveis impactos ambientais e deve ser focada na eliminação, na
redução na fonte, na reciclagem, no tratamento e na disposição final
apropriada. O gerenciamento de resíduos é uma das ferramentas da
Política Nacional de Recursos Sólidos estabelecida pela Lei nº 12.305
de 2010 (BRASIL, 2010b), que determina que os geradores de resíduos
de mineração devem elaborar o Plano de Gerenciamento de Recursos
Sólidos atendendo pontos, como a origem, a quantidade, a classificação,
o acondicionamento, o armazenamento e a destinação final desses
resíduos (BRASIL, 2010b).

Uma das soluções tecnológicas possíveis para minimizar os impactos


gerados pelos rejeitos de mineração encontra-se na recuperação ou
comercialização desses materiais. Dessa forma, a reutilização dos
rejeitos para outras finalidades representa uma aposta tanto de cunho
ambiental quanto econômico, tendo em vista que esses rejeitos seriam
descartados. Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas para reaproveitar
os resíduos provenientes da mineração, no entanto, apenas uma
pequena parcela dos resíduos de mineração é reaproveitada, em função
da falta de planejamento e dos custos adicionais que podem ser gerados
(BONFIM, 2017). Veja no Quadro 1 algumas das opções de reutilização
dos rejeitos de mineração em diversos ramos da indústria.
48

Quadro 1 – Principais opções de reutilização de resíduos de


mineração

Tipo de resíduo Opções de reutilização

Resíduos Resíduos Recheio para vazios abertos.


de lavra de rochas
Material para paisagismo.
Capa de material para repositórios de lixo.
Substrato para revegetação em locais de minas.
Agregado em terraplenagem,
pavimentação e construção civil.
Material de alimentação para cimento e concreto.

Resíduos Aplicações de subpressão de poeira


de águas e processamento de minerais.
Recuperação de metais das águas AMD.
Água potável.
Uso industrial e agrícola.
Refrigerante ou agente de aquecimento.
Geração de eletricidade usando
tecnologia de célula combustível.

Drenagem Extração de óxidos férricos hidratados


de minas para pigmentos de tintas.
Extração de manganês para esmaltes de cerâmica.

Resíduos de Rejeitos Reprocessamento para extrair minerais e metais.


processamento
Rejeitos ricos em areia misturados com cimento
utilizado como enchimento em minas subterrâneas.
Resíduos ricos em argila como alteração aos
solos arenosos e para a fábrica de tijolos,
cimento, pavimentos, sanitários e porcelanas.
Recuperação de energia a partir de misturas
de rejeitos de carvão e compostagem.
Resíduos ricos em fosfatos para a
extração de ácido fosfórico.

Fonte: adaptado de Boscov (2008).


49

Apesar dos benefícios oriundos do reaproveitamento dos rejeitos, é


necessária a caracterização conceitual dos materiais que se encaixam
nesse grupo, tendo em vista que o rejeito da mineração de ontem e
de hoje poderá ser a mineração de amanhã (IBRAM, 2016). A indústria
da mineração possui mecanismos de incentivo ao reaproveitamento
dos rejeitos, por exemplo, a criação de procedimentos de
licenciamento ambiental específicos para atividades que façam
o reuso dos rejeitos em substituição à deposição em barragens
e a criação de incentivos econômicos para permitir maior
competitividade da atividade em relação à mineração tradicional
(IBRAM, 2016). A Figura 3 apresenta um quadro geral a respeito
dos desafios e oportunidades em relação ao reaproveitamento de
resíduos de mineração.

Figura 3 – Quadro geral dos desafios e oportunidades acerca do


reaproveitamento dos resíduos de mineração

Fonte: adaptada de São Paulo (2020).


50

Entre os diversos ramos da indústria, a construção civil é vista como


um dos ramos com maior potencial para o uso dos resíduos de
mineração, principalmente em função do alto consumo de matéria-
prima oriunda de recursos naturais. Diante desse contexto, o uso de
rejeitos em substituição às matérias-primas utilizadas pode reduzir
a quantidade de extração de recursos naturais. O uso em concretos,
argamassas, blocos, cerâmicas, azulejos, agregados miúdos e
graúdos para pavimentação são algumas das possibilidades de
reaproveitamento dos rejeitos de mineração na construção civil.

Inúmeras pesquisas têm surgido com o intuito de dar utilidade aos


rejeitos de mineração na construção civil, principalmente, nos centros
de pesquisa das universidades brasileiras. Por exemplo, em estudos
da Universidade Federal de Minas Gerais foram utilizados os rejeitos
de uma mineradora na região de Ouro Preto para produção de
cimento utilizado na construção de uma casa com 48 m², onde foram
utilizadas cerca de 20 toneladas de rejeitos (G1, 2020). Na mineração
de calcário e gnaisse, as frações finas da britagem, que antes eram os
rejeitos provenientes da produção de britas, hoje são utilizadas como
areias artificiais em substituição ao emprego das areias naturais de
rios, sendo um produto em crescente aceitação no mercado (COSTA;
GUMIERE; BRANDÃO, 2014).

Além dos usos citados anteriormente, outro exemplo é o uso dos


rejeitos de sinter feed como agregado miúdo na produção de concreto
usado na geração de blocos pré-fabricados para a pavimentação
(Figura 4).
51

Figura 4 – Piso intertravado com o uso de blocos convencionais e


blocos produzidos com resíduos de mineração

Fonte: Costa, Gumieri e Brandão (2014, p. 258).

Vale ressaltar que essas são apenas algumas das iniciativas propostas
que visam o reaproveitamento dos resíduos de mineração na
construção civil. O número de pesquisas tem aumentado ao longo dos
anos e é de grande importância a continuidade de estudos visando o
desenvolvimento de tecnologias que possibilitem o uso desses materiais,
os quais ainda são fonte de riscos para o meio ambiente.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13028: Mineração–
Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água: requisitos. Rio de Janeiro: ABNT,
2017a.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13.029: Mineração–
Elaboração e apresentação de projeto de disposição de estéril em pilha. Rio de
Janeiro: ABNT, 2017b.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 31.000: Gestão
de Riscos: diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO (ANA). Guia de Revisão
Periódica de Segurança de Barragens. Brasília: ANA, 2016.
52

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO (ANA). Relatório de


Segurança de Barragens 2020. Brasília: ANA, 2021.
BOMFIM, M. R. Avaliação de impactos ambientais da atividade mineraria. Cruz
das Almas, BA: UFRB, 2017.
BOSCOV, M. E. G. Geotecnia ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.
BRASIL. Decreto nº 9.406, de 12 de junho de 2018. Brasília, DF: Presidência da
República, 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/decreto/D9406.htm. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. Brasília, DF: Presidência da
República, 2010b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 31 dez. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Brasília, DF: Presidência da
República, 2010a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12334.htm. Acesso em: 31 dez. 2021.
COSTA, A. V.; GUMIERI, A. G.; BRANDÃO, P. R. G. Piso intertravado produzido com
rejeito de sinter feed. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais [online],
v. 7, n. 2, p. 244-259, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1983-
41952014000200004. Acesso em: 31 dez. 2021.
G1. Pesquisa da UFMG aproveita rejeitos de mineração na construção civil.
2020. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/01/01/
pesquisa-da-ufmg-aproveita-rejeitos-de-mineracao-na-construcao-civil.ghtml.
Acesso em: 10 set. 2021.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). Gestão e manejo de rejeitos da
mineração. Brasília: IBRAM, 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). Guia de Boas Práticas em Gestão
de Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos. Brasília: IBRAM, 2019.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (IPT). Rejeitos de mineração. São Paulo:
2016. Disponível em: https://www.ipt.br/noticias_interna.php?id_noticia=1043.
Acesso em: 11 set. 2021.
SÃO PAULO. Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. Plano de resíduos
sólidos do estado de São Paulo 2020. São Paulo, 2020.
53

Alternativas locacionais para


disposição de rejeitos
Autoria: Eduarda Pereira Barbosa
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Determinar a importância dos fatores ambientais na
locação de pilhas de estéril e barragens de rejeitos.

• Identificar o potencial de danos ambientais causados


pelas estruturas de disposição de rejeitos.

• Estabelecer os fatores técnicos considerados na


locação de pilhas de estéril e barragens de rejeitos.
54

1. Fatores ambientais na locação de pilhas de


estéril e barragens de rejeitos

Uma das etapas de grande importância e que antecede a construção


de pilhas de estéril e barragens de rejeitos trata-se da definição do local
de implantação dessas estruturas, visando otimizar os custos da obra,
de operação e descomissionamento, assim como garantir a segurança
dos trabalhadores, a redução dos impactos ambientais que podem ser
causados e a estabilidade estrutural.

De acordo com a NBR 13.028 (ABNT, 2017a) e a NBR 13.029 (ABNT,


2017b), que tratam da elaboração e da apresentação do projeto de
disposição de estéril em pilha e barragens de rejeitos, respectivamente,
o projeto dessas estruturas deve ser baseado em estudos para a sua
implantação, como estudos locacionais de caracterização química
do estéril, estudos hidrológicos e hidráulicos e estudos geológico-
geotécnicos. Entre esses, destacam-se os estudos locacionais, que
devem avaliar e descrever as opções de locais para implantação
da estrutura, comparando-as e justificando a sua escolha no
projeto executivo. Essa justificativa deve conter as características
geomorfológicas, geológicas e geotécnicas, hidrometereológicas e
ambientais das áreas estudadas (ABNT, 2017a).

Antes do avanço das legislações ambientais no país, a escolha das


alternativas locacionais para a implantação de uma estrutura para
disposição de resíduos de mineração era definida, principalmente, com
base no critério econômico, onde eram geradas as estimativas de custo
para cada alternativa e, geralmente, era selecionada aquela que oferecesse
menor custo (PIRES, 2015). Como a mineração é uma atividade que causa
inúmeros impactos ambientais, esse é um dos principais pontos a serem
considerados no estudo das alternativas locacionais para estruturas de
disposição de resíduos, principalmente em função da necessidade de
licenciamento ambiental para a construção. O estudo das condições
55

ambientais em uma área em que se pretende instalar pilhas de estéril


ou barragens de rejeitos deve ser fundamentado com base na legislação
ambiental vigente, tanto em nível federal quanto estadual (COSTA, 2012).

No Brasil, os projetos de pilhas de estéril e barragens de rejeitos estão


sujeitos a aprovações legais. Dessa forma, devem ser cumpridas as
especificações estabelecidas pelas normas técnicas que abrangem
essas estruturas, assim como as que constam nas Normas Reguladoras
de Mineração (NRM) do antigo Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), que foi substituído pela Agência Nacional de Mineração
(ANM), como NRM nº 19 – Disposição de Estéril, Rejeitos e Produtos,
deliberações normativas do Conselho Nacional de Meio Ambiente
(CONAMA) e legislações estaduais.

1.1 Classificação do potencial poluidor de pilhas de


estéril e barragens de rejeitos

Segundo Forgearini et al. (2015), identificar os impactos ambientais


é uma tarefa que deve ser realizada de forma cuidadosa, para que
sejam elencadas o máximo de alterações ambientais possíveis em
função da construção do empreendimento. Isso parte do entendimento
das atividades e operações realizadas no projeto, assim como o
conhecimento das características do ambiente que será afetado. Dessa
forma, nos estudos ambientais realizados nas alternativas locacionais
para estruturas de disposição de rejeitos, é importante identificar o seu
potencial poluidor ou degradador sobre elementos como água, ar e solo.

Nesse conteúdo é utilizada a classificação praticada no estado de Minas


Gerais, estabelecida pelo Conselho Estadual de Política Ambiental
(COPAM), por meio da Deliberação Normativa COPAM nº 217 (COPAM,
2017), na qual é definido o potencial poluidor ou degradador de uma
pilha de estéril que pode ser classificado como Pequeno (P), Médio
(M) ou Grande (G), determinados de acordo com as características da
56

estrutura. A partir disso, é definida a classe do empreendimento, que


varia de 1 a 6, de acordo com o cruzamento entre o porte e o potencial
degradador do meio ambiente apresentado pela estrutura. Veja o
Quadro 1 sobre o potencial poluidor.

Quadro 1 – Potencial poluidor de empreendimentos de mineração


Potencial poluidor/degradador
geral da atividade
P M G
P 1 2 4
Porte do
M 1 3 5
empreendimento
G 1 4 6

Fonte: COPAM (2017, p. 15).

Segundo a Deliberação Normativa COPAM 217 (COPAM, 2017), as pilhas


de estéril e barragens de rejeitos de mineração possuem diferentes
níveis de potencial poluidor ou degradador, de acordo com o tipo de
elemento natural considerado, veja os casos a seguir:

• Ar – Pequeno.

• Água – Grande.

• Solo – Grande.

• Geral – Grande.

Por sua vez, o porte de pilhas de estéril é definido com base na área
útil da estrutura, que corresponde à área ocupada pela base da pilha,
acrescida de áreas destinadas aos sistemas de controle ambiental e
drenagem pluvial medida em hectares (ha). Vale ressaltar que essa
variável é fundamental na determinação do tipo de licenciamento
ambiental que o empreendimento estará submetido, de acordo com os
itens relacionados a seguir (COPAM, 2017):
57

• Porte pequeno: área útil ≤ 5,0 ha.

• Porte médio: 5,0 ha < área útil ≤ 40,0 ha.

• Porte grande: área útil > 40,0 ha.

O porte das barragens de disposição de rejeitos é definido com base em


sua classificação, de acordo com as seguintes classes:

• Porte pequeno: barragens Classe I.

• Porte médio: barragens Classe II.

• Porte grande: barragens Classe III.

Essas informações são fundamentais para o gerenciamento dos


impactos ambientais, em que são especificados os seguintes
condicionantes a serem cumpridos para fins de aprovação das licenças
ambientais com o intuito de minimizar ou compensar os impactos
ambientais causados pelas estruturas em seu local de implantação:

I – Evitar os impactos ambientais negativos;

II – Mitigar os impactos ambientais negativos;

III – Compensar os impactos ambientais negativos não mitigáveis, na


impossibilidade de evitá-los;

IV – Garantir o cumprimento das compensações estabelecidas na


legislação vigentes. (COPAM, 2017, p. 10)

Forgearini et al. (2015) propõem o uso de uma metodologia de escolha


do local de implantação das estruturas de disposição de rejeitos,
baseada nos fatores ambientais considerados, onde para cada fator
analisado é atribuído um peso que indica o potencial de impacto
ambiental causado pelo empreendimento. Os pesos correspondes aos
valores e critérios estão relacionados como segue:
58

• 0: sem impacto ambiental.


• 1: baixo impacto ambiental.
• 2: médio impacto ambiental.
• 3: alto impacto ambiental.

No Quadro 2 são apresentados os fatores avaliados na análise das


alternativas locacionais e os respectivos pesos atribuídos, de acordo com
as situações analisadas para cada um dos fatores.

Quadro 2 – Atribuição de pesos para cada parâmetro observado nas


alternativas de pilhas
Fator de impacto
Parâmetros
ambiental
Dentro da própria cava da mina 0
Mais próximo Próximo 1
possível da cava Distante 2
Áreas degradas 1
Limites do empreendimento 2
Pouca drenagem 1
Áreas com drenagem
Muita drenagem 2
Poucas nascentes 1
Áreas com nascentes
Muitas nascentes 2
Inexistente 0
Áreas com cursos d’água Fracos 2
Fortes 3
Nenhuma APP 0
Áreas com APP Poucas APPs 2
Muitas APPs 3
Áreas com terrenos instáveis, alagadiços e inundados 2
Pouca vegetação 1
Áreas com vegetação
Média vegetação 2
nativa exuberante
Muita vegetação 3
Áreas com solo fértil 1
Áreas cortadas por estradas 1
Áreas com presença da rede de transmissão de energia 3

Fonte: Fogearini et al. (2015, p. 91).


59

Cada alternativa locacional proposta deve ser avaliada segundo


os critérios estabelecidos no Quadro 2, assim é contabilizado o
somatório total dos pesos atribuídos. A partir disso, é estabelecida
uma hierarquização das alternativas do menor para o maior valor do
somatório, que indicam o potencial de causar menos ou mais impactos
ambientais, respectivamente. Segundo essa perspectiva ambiental, o
local de implantação das estruturas de disposição de rejeitos é definido
com base na alternativa que apresenta menor valor no somatório
dos pesos, pois, em tese, ela causará menores impactos ambientais.
Todos os locais estudados devem ter seus impactos identificados
minuciosamente.

São consideradas localidades com restrição ou vedação para


implantação de estruturas de disposição: áreas de preservação
permanente, áreas de restrição e controle de uso das águas
subterrâneas, bioma Mata Atlântica, corpos d’água de classe especial,
rio de preservação permanente, terras indígenas, terra quilombola e
unidades de conservação de proteção integral (COPAM, 2017).

2. Fatores técnicos na locação de pilhas de


estéril e barragens de rejeitos

O planejamento e projeto de uma estrutura de disposição de rejeitos


deve incluir programas de ensaios de campo e análises laboratoriais
para avaliação das características da localidade, com o intuito de avaliar
e determinar a melhor localidade para a implantação da estrutura,
considerando aspectos econômicos e técnicos. Dessa forma, Lozano (2006)
especifica uma série de atividades realizadas para o estudo dos possíveis
locais a receber estruturas como pilhas de estéril e barragens de rejeitos:

• Estudo da topografia das áreas analisadas para selecionar aquelas


que possuem potencial da implantação das estruturas.
60

• Análise de fotos aéreas para avaliação das condições do local


com foco em características como as fundações e materiais de
empréstimos.

• Identificação do maior número de locais potenciais.

• Investigação do local para definição do comportamento dos solos,


rochas, águas subterrâneas, ensaios em materiais de empréstimos.

Diversos são os fatores que podem ser considerados na escolha do


local, que visam prioritariamente reduzir possíveis perdas e impactos e
maximizar benefícios como a estabilidade e segurança das estruturas,
assim como os custos, o tempo de construção e a facilidade de operação
(LOZANO, 2006). No Quadro 3 são apresentados os principais fatores
e dados a serem avaliados na seleção adequada para implantação de
pilhas de estéril considerados por Pires (2015).

Quadro 3 – Fatores que contribuem na seleção de local de


implantação de pilhas de estéril

Fator Dados avaliados

Topografia Topografia original, capacidade da pilha, área


da pilha, distância de transporte.

Hidrologia e Precipitação, velocidade e direção do vento, drenagem


condições climáticas ácida, regime hidrológico, escoamento e qualidade
superficial, condições de escoamento, qualidade da
água subterrânea, lençol freático, taxa de drenagem.

Geologia e Geotécnica Condições da fundação, infiltração e porosidade, falhas ativas,


resistência do estéril, ângulo de repouso, sismicidade.

Aspectos técnicos Método de lavra, limite de cava, sistemas


de transporte, volume de estéril.

Aspectos econômicos Custos de capital e operacional, custos de


fechamento e riscos econômicos.

Fonte: adaptado de Pires (2015).


61

Os fatores apresentados no Quadro 3 devem ser avaliados


individualmente e em conjunto. Além disso, é necessário considerar
que os melhores locais para a implantação de pilhas de estéril são
dentro da própria cava da mina ou o mais próximo possível dela, dando
preferência para áreas já degradadas e dentro dos limites legais do
empreendimento. Por outro lado, os locais mais inapropriados são
vales com talvegues que apresentem inclinação maior que 18º, terrenos
instáveis e alagadiços sujeitos a inundações (FORGEARINI et al., 2015).

Pires (2015), em seus estudos, utiliza o método de classificação de


pilhas de estéril proposto por Aragão (2008) como uma ferramenta de
tomada de decisão na escolha do local de implantação. Pois, por meio
dela, é possível determinar os níveis de esforços na investigação, no
projeto, nas condições de estabilidade e nas restrições operacionais e de
monitoramento de pilhas de estéril. Pilhas de Classe I, consideradas de
baixo potencial, necessitam de poucos esforços com relação aos critérios
analisados, no entanto, pilhas de Classe IV, que são consideradas de
alto potencial, requerem investigações e projetos mais detalhados.
Nessa classificação proposta por Aragão (2008) são analisados diversos
aspectos de uma pilha de estéril, como a sua configuração geométrica, a
sua inclinação da fundação, o grau de confinamento, o tipo de fundação,
a qualidade do material da pilha, o método construtivo, as condições
piezométricas, a taxa de disposição, a sismicidade para a determinação
das classes de estabilidade da pilha.

Segundo Lozano (2006), o estudo de alternativas locacionais para


uma barragem de rejeitos abrange duas fases distintas na vida útil da
estrutura. Na primeira delas é realizada uma avaliação macro com o
objetivo de descartar áreas impróprias e identificar áreas aceitáveis,
além de classificá-las com base em critérios definidos pelo projetista. Na
segunda fase essas áreas identificadas passam por uma análise mais
criteriosa. É importante que nessa avaliação sejam consideradas todas
as variáveis, de forma direta ou indireta, que possam influenciar a obra,
62

como características geológicas, geotécnicas, hidrológicas, topográficas,


ambientais, sociais, entre outras.

A fase 1, chamada de avaliação preliminar, pode ser realizada com o


uso de mapas topográficos. As principais informações analisadas sobre
o local estudado são a geologia, a posição da mina, a infraestrutura, a
natureza e a produção dos rejeitos e estéreis, a localização de outras
minas na área, a regulamentação ambiental e outras. A fase 1 é
composta pelas seguintes atividades (LOZANO, 2006):

• Investigação regional: nessa etapa é estabelecida uma área


que varia de 10 a 50 km, onde são analisadas as condições
topográficas, climáticas, ecológicas, de uso do solo, hidrológicas e
geológicas.

• Identificação de locais: são identificados todos os possíveis locais


para locução da estrutura, considerando o arranjo em planta de
uma barragem de rejeitos que também define a viabilidade do
local. Veja os casos a seguir (VICK, 1983 apud LOZANO, 2006):

Represamento tipo anel (Figura 1): esse tipo de arranjo se comporta


melhor em terrenos sem depressões topográficas, ou seja, em terrenos
planos.

Figura 1 – Represamento em anel: a) Simples, b) Múltiplo

Fonte: Vick (1983 apud LOZANO, 2006, p. 24).


63

Represamento em bacia (Figura 2): esse tipo de barragem é localizado


em uma única depressão topográfica ou em várias etapas.

Figura 2 – Represamento em bacia: a) Simples, b) Múltiplo

Fonte: Vick (1983 apud LOZANO, 2006, p. 25).

Represamento a meia encosta (Figura 3): é indicado para locais em que


a zona de disposição de rejeitos não possui drenagem natural e quando
os taludes da encosta possuem inclinação menor que 10%.

Figura 3 – Represamento em encosta: a) Simples, b) Múltiplo

Fonte: Vick (1983 apud LOZANO, 2006, p. 26).

Represamento em vale (Figura 4): pode ser considerado como uma


combinação do represamento em bacia e meia encosta. Sendo
mais utilizado em vales largos e com margens adequadas para a
construção das barragens sem interferência na drenagem natural do
solo.
64

Figura 4 – Represamento em vale: a) Simples, b) Múltiplo

Fonte: Vick (1983 apud LOZANO, 2006, p. 27).

• Análise de características desfavoráveis: nessa fase são


identificadas as características da região que podem causar danos
à estrutura da barragem e não favorecem a sua implantação como
taludes íngremes com cerca de 15% de inclinação. Essas regiões
que possuem acessos mais difíceis, possuem grande incidência de
ventos, possuem solo altamente intemperizado, com ecossistemas
sensíveis ou espécies de animais em extinção, com importância
arqueológica, com descarga de águas subterrâneas, são áreas de
deposição aluvial ou altamente permeáveis e suscetíveis à erosão,
assim como a viabilidade de execução do projeto nas alternativas
locacionais estudadas. Após essa análise, as áreas consideradas
impróprias são excluídas do estudo.

• Investigação dos locais restantes: essa fase é realizada com base


na compatibilização entre características para a barragem com
os possíveis locais de implantação. São analisadas características
como volume, altura, área, distância da mina, acessos, distância
para assentamentos populacionais, tipologia de solos e rochas
disponíveis para as fundações.

• Avaliação qualitativa e classificação: cada local é avaliado de


forma subjetiva com base em suas principais características e, a
partir disso, são dados conceitos que indicam as suas condições de
qualidade.
65

• Avaliação semiquantitativa e classificação: podem ser


utilizados dois métodos nessa fase, sendo o primeiro a avaliação
por aspectos visuais, uso do solo e fatores de operação, onde
os conceitos qualitativos recebem uma determinada pontuação.
Outro método utilizado se dá por meio dos fatores de risco
e poluição do ambiente, que são quantificados por meio de
conceitos que variam de 1 a 5.

• Análise de custos: deve ser realizada a análise de custo para


cada alternativa de local de forma separada, sendo um ponto
importante na escolha do local. São considerados, nessa análise,
aspectos como métodos construtivos, tipo de deposição dos
rejeitos, custos com mão de obra e equipamentos necessários.

• Seleção de alternativas para a investigação detalhada: por fim,


após os estudos realizados na análise preliminar são selecionados
os locais mais adequados de acordo com as alternativas propostas
que deverão passar por mais estudos durante a fase 2.

A fase 2, chamada de investigação detalhada, corresponde ao


detalhamento das características de cada local selecionado com base
nos estudos realizados na fase 1. Assim, é composta por atividades
como o projeto conceitual dos locais, a avaliação dos custos e riscos
ambientais para cada um dos locais, conforme visto na seção anterior e,
por fim, a classificação dos locais e seleção do principal (LOZANO, 2006).

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13028: Mineração–
Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água: requisitos. Rio de Janeiro: ABNT,
2017a.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13.029: Mineração–
Elaboração e apresentação de projeto de disposição de estéril em pilha. Rio de
Janeiro: ABNT, 2017b.
66

COPAM. Conselho Estadual de Política Ambiental. Deliberação Normativa nº 217.


Minas Gerais, 2017.
COSTA, W. D. Geologia de barragens. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
FORGEARINI, R. G. et al. Metodologia de avaliação ambiental na análise de
alternativas locacionais de pilhas de estéril. Revista Monografias Ambientais, v.
14. Santa Maria, 2015. p. 80-97.
LOZANO, F. A. E. Seleção de locais para barragens de rejeitos usando o método
de análise hierárquica. 2006. 142 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
PIRES, L. C. Estudo de alternativas locacionais de pilhas de estéril como
estratégia de sustentabilidade. 2015. 110 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Mineral) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2015.
REIS, E. M. dos. Aspectos ambientais aplicáveis a uma pilha de disposição de
estéril de minério de ferro. 2014. 33 f. Monografia (Especialização em Engenharia
de Recursos Minerais) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas
Gerais, Minas Gerais, 2014.
67

BONS ESTUDOS!

Você também pode gostar