Você está na página 1de 150

WBA0744_v2.

CARACTERIZAÇÃO,
PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS
E EXPLORAÇÃO DO SOLO
Flávia Gonçalves
Mateus Amarante Constancio

Caracterização, propriedades geotécnicas e


exploração do solo

1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021

2
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.

Head de Platos Soluções Educacionais S.A


Silvia Rodrigues Cima Bizatto

Conselho Acadêmico
Alessandra Cristina Fahl
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Mariana Gerardi Mello

Revisor
Alana Dias de Oliveira
Flávia Gonçalves
Mateus Amarante Constancio

Editorial
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Márcia Regina Silva
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


________________________________________________________________________________________
Gonçalves, Flávia
G635c Caracterização, propriedades geotécnicas e exploração do solo /
Flávia Gonçalves, Mateus Amarante Constancio.
São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A. 2021.
145 p.

ISBN 978-85-5221-581-3

1. Origem e formação dos solos 2. Plasticidade dos Solos


3. Dimensionamento das fundações. I. Constancio, Mateus Amarante. II. Título.

CDD 333.72
____________________________________________________________________________________________

Evelyn Moraes – CRB 010289

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/

3
CARACTERIZAÇÃO, PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E
EXPLORAÇÃO DO SOLO

SUMÁRIO
Origem e formação dos solos________________________________________________ 05

Textura e estrutura dos solos________________________________________________ 29

Ensaios de Campo: SPT, SPT-T, CPT e Ensaio da Palheta (VaneTest)__________45

Ensaios de Laboratório ______________________________________________________ 65

Classificação dos solos___________________________________________________ 93

Resistência ao cisalhamento_________________________________________________ 111

Tensão X Deformação X Resistência dos Solos_______________________________ 129

4
Origem e formação dos solos
Autor: Flávia Gonçalves
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Conceituar o que é o solo considerando a


abordagem da Engenharia de Estruturas e
Fundações.

• Compreender a origem e formação das rochas e


dos solos.

• Conhecer os principais agentes que atuam no


processo de intemperismo.
1. Origem e Formação do Solo

Compreender os aspectos pedogenéticos vinculados à formação


do solo pode ajudar nas definições necessárias para um projeto
geotécnico. Diferentes tipos de solo, formados a partir de fatores
intempéricos diferentes, tendem a se comportar de maneira distinta
quando solicitados por uma fundação ou quando são utilizados como
material de construção para barragens e outros tipos de aterros,
por exemplo. Ao conhecer os aspectos de formação do solo, somos
capazes de inferir sobre suas características e, porque não, seu
possível comportamento.

Nesta unidade, você entenderá o que é o solo, como ele se forma


a partir do que chamamos de intemperismo, como este processo
ocorre de maneira diferente nos diferente locais, fazendo com que
tenhamos uma grande variedade de perfis de solo distintos, e quais
os principais vínculos disso com projetos geotécnicos.

PARA SABER MAIS


Os aspectos pedogenéticos estão vinculados à pedologia,
que é a ciência que trata de estudos relacionados com
a identificação, formação, classificação e mapeamento
dos solos. Segundo os autores Ker et al. (2012, p.5), “as
informações geradas por esses estudos pedológicos,
além de sua utilização pelos demais ramos da Ciência
do Solo, encontram aplicação nas mais diversas áreas da
ciência, como Agronomia, Geografia, Geologia, Engenharia,
Arqueologia, Biologia, Medicina e outras mais”.

6
1.1 Afinal, o que é solo?

O solo é um elemento que compõe a paisagem, constituindo a superfície


da Terra. Desde quando as primeiras civilizações deixaram de ser
nômades e começaram a plantar aquilo que lhes era necessário para
a subsistência, o solo passou a ser analisado pelo homem. No início,
esta análise servia apenas para subdividir aqueles solos nos quais a
produção era satisfatória daqueles que não era. Essa compreensão,
muito incipiente, perdurou por algum tempo, até que o desenvolvimento
fizesse o homem observar que o solo estava relacionado a inúmeras
áreas de conhecimento.

Deste modo, uma melhor compreensão do que realmente é o solo é


algo mais recente. Atuando como escopo para desenvolvimento de
diferentes ciências, o solo pode ter várias definições, dependendo do
seu papel. Para um Engenheiro Agrônomo, o solo pode ser definido
como o material suporte e de desenvolvimento para as plantas, cujo
conhecimento e adequação de seu caráter químico é imprescindível para
a produtividade da cultura. No entanto, se um geólogo for questionado
quanto à definição do que é o solo, sua resposta certamente estará
vinculada à determinação das formações geológicas que demonstram
a ação e interação dos fenômenos locais que levaram aquele substrato
a ter as características que apresentam. Já para um engenheiro civil, o
solo é o terreno de suporte ou realização de uma obra, o qual precisa
ter suas características hidro-geo-mecânicas definidas para que a obra
geotécnica esteja pautada também em segurança.

Nenhuma das definições anteriores está errada. Pelo contrário! Todas


caracterizam aquilo que para cada ciência é o solo. Por estar associado
a diversas áreas de estudo, o solo precisa ser compreendido dentro das
suas especificidades.

Considerando uma definição mais conceitual, o manual do Sistema


Brasileiro de Classificação dos Solos, elaborado pela EMBRAPA (2013,

7
p. 31), define o solo como um sistema tridimensional de material
heterogêneo, estruturado e de caráter dinâmico, apresentando uma
fase sólida, constituída de minerais e compostos orgânicos, e outra
fase porosa, representada por porções líquidas e gasosas, ambas
responsáveis por catalisar diversas reações. Ao analisar esta definição,
você pode observar que o solo é um meio bastante complexo, cujas
características devem ser determinadas para que o profissional,
qualquer que seja a área de atuação, saiba como utilizá-lo.

Trazendo o conceito para a realidade da Engenharia Civil, Vargas (1977,


p. 2) conceitua o solo como uma mistura natural de diversos minerais,
às vezes com matéria orgânica, que não oferece grande resistência
à escavação mecânica, ou seja, para obter o material escavado não
se faz necessária utilização de técnicas especiais como, por exemplo,
explosivos ou ponta diamantada.

ASSIMILE
Os termos técnicos que usamos quando atuamos na
área de Geotecnia são muito importantes. Sendo assim,
assimile que o que chamamos de rocha é aquele material
consolidado e não intemperizado. Solo é o resultado da
decomposição das rochas através do intemperismo físico
e químico, caracterizado por ser um material estruturado,
peculiar de determinado local e, via de regra, com função de
suporte para as obras civis. Por fim, denominamos terra o
solo desestruturado, sem função suporte.

Agora que você já compreende o que é o solo, você vai aprender qual
sua origem e como ele é formado. No entanto, antes de falar do solo

8
propriamente dito, é preciso conhecer seu material de origem – as
rochas – e o ciclo ao qual elas pertencem.

1.2 O Ciclo das Rochas

Todo solo tem como origem uma rocha. Por definição, rocha é um
material consolidado caracterizado pela união natural de minerais
(TEIXEIRA et al., 2000, p. 38). A principal forma de classificar os diferentes
tipos de rochas é quanto ao modo de sua formação na natureza,
podendo ser denominadas rochas ígneas, rochas sedimentares ou
rochas metamórficas.

a. Rochas magmáticas:

As rochas magmáticas, ou também conhecidas como rochas ígneas,


são o resultado do resfriamento do magma. O material fundido em
partes profundas no interior da Terra pode se deslocar no interior
da crosta. À medida que se desloca para regiões com temperaturas
menores, o magma se consolida, cristalizando os minerais, formando
as rochas magmáticas. Quando o resfriamento acontece no interior
do globo terrestre dizemos que a rocha resultante é uma rocha ígnea
intrusiva. Entre suas principais características temos que a cristalização
de minerais ocorre de modo lento, possibilitando a criação de minerais
maiores, visíveis ao olho nu. Alguns exemplos deste tipo de rocha é
o granito (Figura 1 – A), o pegmatito, o gabro e o diorito. Já quando o
magma sofre resfriamento na superfície da crosta, a rocha magmática
é denominada extrusiva. Suas características englobam o resfriamento
rápido, não possibilitando a formação de grandes cristais, ou seja, a
textura da granulação é fina. Um exemplo deste tipo de rocha extrusiva
é o basalto (Figura 1 – B), oriundo da erupção vulcânica. Por fim, se a
rocha é formada em profundidade intermediária, pode ser chamada de
rocha hipo-abissais, formada nos diques ou sills no interior da crosta,
como, por exemplo, o diabásio.

9
Figura 1 – Exemplos de rochas ígneas

A B
Fonte: jxfzsy/iStock.com. Fonte: Andreas Wass/iStock.com.

Outro fator que pode chamar a atenção na observação das rochas


magmáticas é sua coloração. Em síntese, por serem diferenciadas em
máficas, siálicas e félsicas. As máficas (cujos constituintes minerais
principais são o magnésio e o ferro) têm tons mais escuros. Já as
rochas ígneas mais claras podem ser siálicas ou félsicas, variando que
nas siálicas os principais minerais contidos são o silício e o alumínio,
enquanto que nas félsicas são o feldspato e o quartzo (TEIXEIRA et al.,
2000, p. 38).

b. Rochas sedimentares:

As rochas sedimentares, como o próprio nome já nos remete, são


aquelas originadas da disposição de sedimentos em camadas sobre a
superfície terrestre. Trata-se de uma rocha que pode ser originada de
diferentes maneiras. A primeira delas é resultante da consolidação de
fragmentos soltos provenientes de rochas preexistentes e acumuladas
(rochas clásticas ou mecânicas), na qual os processos que regem sua
formação são a compactação e a cimentação. Os exemplos mais comuns
são o arenito, o siltito e o argilito. As rochas sedimentares também
podem ter origem química ou orgânica, formadas pela precipitação de
compostos químicos dissolvidos a partir de solução tanto por processos
orgânicos como inorgânicos (TEIXEIRA et al., 2000, p. 39). Como exemplo
para estes dois últimos casos, tem-se o calcário, gipsita para as rochas

10
químicas, e a coquina e o folhelho pirobetuminoso para as rochas
orgânicas.

Figura 2 – Exemplos de rochas sedimentares


A – ARGILITO B – ARENITO C – CONGLOMERADO

D – CALCÁRIO E – CALCÁRIO F – FOLHELHO


CONQUÍFERO RECIFAL PIROBETUMINOSO

Fonte: adaptadas de Couto (2016) e Rainho (2011).

Independentemente do tipo de rocha sedimentar, é possível notar


que a necessidade de uma rocha anterior, que pode ser do tipo
magmática, metamórfica ou mesmo sedimentar, para que, por meio
do intemperismo, seja formado o sedimento que será transportado
para outro local, por agentes como o vento, a água ou pela própria
gravidade, até certo ponto de deposição. Uma vez que o material esteja
sedimentado, os processos mencionados anteriormente passam a agir
para a formação da rocha (TEIXEIRA et al., 2000, p. 38-39).

c. Rochas metamórficas:

Segundo Teixeira et al. (2000, p. 39), as rochas metamórficas são aquelas


formadas por transformações (metamorfismo) de uma rocha magmática

11
ou sedimentar, exposta a condições físicas de pressão e temperatura
elevadas, sem que seja atingido o ponto de fusão de seus minerais.

De acordo com o Departamento de Petrologia e Metalogenia do Museu


Heinz Ebert (2019), o metamorfismo pode ser subdividido em diversos
tipos, dentre os quais tem-se como mais importantes os citados a seguir:

1. Metamorfismo de contato (ou termal): tipo de metamorfismo


que ocorre devido à elevação da temperatura, o qual recristaliza
os minerais. Via de regra, desenvolve-se ao redor de corpos
magmáticos intrusivos, os quais cedem energia térmica a
rochas vizinhas.
2. Metamorfismo regional (ou dinamotermal): tipo de matemorfismo
que ocorre por pressão e em grandes extensões da superfície da
Terra, o qual propicia a reorientação dos minerais do material
preexistente. Ocorre a grandes profundidades, mas podem atingir
a superfície.
3. Metamorfismo dinâmico (ou cataclástico): tipo de metamorfismo
que ocorre devido à associação de pressão não uniforme e ao
aumento de temperatura, os quais provocam fraturas, originando
texturas e estruturas próprias. Ele ocasiona o deslocamento de
massas de rochas em zonas de falhas, restringe-se a partes pouco
profundas da crosta terrestre. Não há recristalização de minerais.
4. Metamorfismo plutônico: tipo de metamorfismo em que há a
influência de temperatura elevada onde as rochas entram na fase
plástica, cuja característica pastosa do material já não permite
que as mesmas transmitam pressões dirigidas, o que faz com
que percam a orientação dos seus minerais, enquanto novos
se formam.

Veja na Tabela 1 algumas imagens de rochas que são exemplos


de transformação de rochas ígneas e sedimentares em rochas
metamórficas. Avalie os aspectos que elas têm: a ordenação dos veios, a

12
disposição das cores e a diferença, quando comparadas às suas rochas
de origem.

Tabela 1 – Exemplos de transformação de rochas metamórficas

Tipo de metamorfismo Rocha original Rocha metamórfica

GRANITO ¹ GNAISSE

Regional
(por pressão)
Origina a ARGILITO ² XISTO
reorientação dos minerais

ARENITO ² QUARTZITO

Contato
(por temperatura)
Origina a CALCÁRIO ² MÁRMORE
recristalização dos minerais

Nota: Rocha Ígnea¹; Rocha Sedimentar²

Fonte: adaptado de Teixeira et al. (2000) e Pinterest (2019).

Uma vez que você compreendeu os tipos de rocha existentes, você


precisa conhecer seu ciclo de formação, também conhecido de ciclo
litológico. Este ciclo descreve as transformações entre os três principais

13
tipos de rochas explicando como elas estão relacionadas umas com as
outras e com a evolução geológica do planeta Terra.

Tudo se origina com o magma. Quando o magma sofre resfriamento,


ocorre a solidificação e cristalização dessa massa mineral, o que dá
origem às rochas magmáticas. Uma vez expostas, as rochas magmáticas
podem ser erodidas e seus sedimentos podem ser transportados até
outro local onde, por meio da diagênese, cimentação, compactação ou
precipitação, irão sedimentar e dar origem a rochas sedimentares. Estas
rochas podem ser novamente erodidas e formar sedimentos que podem
formar outra rocha sedimentar. No entanto, se em qualquer momento
rochas magmáticas ou sedimentares forem expostas a condições de
elevada temperatura ou pressão, as rochas metamórficas podem ser
formadas (DAS, 2012, p. 8). Em suma, todo este ciclo pode ser observado
na Figura 3.

Figura 3 – Ciclo litológico

Fonte: Almeida (2012).

14
ASSIMILE
O tempo do ciclo litológico é baseado no tempo geológico.
Portanto, não espere conseguir ver um tipo de rocha se
transformar em outro durante a sua vida. Isso pode levar
milhões e milhões de anos. O que é importante é saber que
as rochas são mutáveis e que para chegar no caráter que
você vê hoje ao realizar uma obra, aquele material já passou
por inúmeras transformações.

Mas o que tudo isso tem a ver com a origem e formação do solo? Leia os
tópicos a seguir e você irá descobrir.

1.3 Intemperismo

Todos os solos se originam do intemperismo das rochas que


constituem a crosta terrestre. Segundo Caputo (1988), este fenômeno
é caracterizado pela desintegração física e decomposição química da
rocha. De modo geral, eles atuam simultaneamente, porém as condições
do ambiente de formação do solo acabam fazendo com que um se
sobressaia ao outro.

Antes de falar das características dos solos formados, é preciso


que você conheça os tipos de minerais que encontramos no solo.
Segundo Teixeira et al. (2000, p. 28), os minerais são “elementos ou
compostos químicos com composição definida [...], cristalizados e
formados naturalmente por meio de processos geológicos inorgânicos”.
Eles podem ser subdivididos em minerais primários (aqueles que
não sofreram intemperismo químico, não diferem dos minerais do
material de origem, sendo os mais comuns o quartzo, o feldspato e
os piroxênios) e secundários (resultantes dos processos de alteração
físico-química e biológica dos minerais primários, onde os mais comuns

15
são os aluminossilicatos–caulinita, vermiculita, esmectita–e os óxidos,
hidróxidos e oxidróxidos–que podem ser de Fe, Mn, Al e Ti.

Uma vez compreendidos estes conceitos, pode-se dizer que solos


originados em ambientes que propiciam a predominância de ocorrência
do intemperismo físico apresentaram uma composição química e
mineralógica geralmente semelhante à da rocha mãe, com abundância
de minerais primários. Contêm partículas grossas e intermediárias
e, apenas em condições especiais, formam partículas finas. Já solos
gerados em regiões onde há a predominância do intemperismo químico
tendem a ser compostos, principalmente de minerais secundários e de
granulometria mais fina (TEIXEIRA et al., 2000, p. 141-144).

O intemperismo físico ocorre por meio de agentes físicos que provocam


a destruição, fendilhamento, desagregação, fragmentação, corrosão,
desgaste e polimento das rochas. Seus principais agentes são a água
(ação mecânica), o vento, a temperatura (expansão e contração térmica)
e até mesmo os seres vivos.

Por aumentar a exposição da rocha ao ar e a água, o intemperismo físico


é tido como um facilitador para o intemperismo químico. A percepção
disto é facilmente observada na Figura 4.

Figura 4 – Fragmentação de uma rocha acompanhada de um


aumento significativo de sua exposição superficial

Fonte: adaptada de Teixeira et al. (2000, p.143)

16
Na ocorrência do intemperismo químico, há modificação química ou
mineral das rochas de origem. O principal agente é a água, que regula
ou atua diretamente em mecanismos importantes, como a oxidação,
a hidratação, a dissolução, a carbonatação e até mesmo os efeitos
químicos da vegetação.

1.4 Fatores que controlam a formação do solo

Diversas são as condições intempéricas que levam à formação de um


solo. As principais características do ambiente que regem a formação de
cada tipo de solo foram propostas por Jenny (1941) e podem ser vistas
na Figura 5.

Figura 5 – Fatores que influenciam no processo de formação do solo

Fonte: elaborada pela autora.

A rocha de origem é o primeiro fator de destaque. Também denominada


de material parental, a rocha intemperizada para a formação das
partículas do solo determina quais os minerais que estarão presentes no
solo. Em síntese, diferentes minerais constituintes das rochas originarão
solos com características diversas, de acordo com a resistência que estes
tenham ao intemperismo local.

A biota também influencia na formação dos solos. Seja na escala macro


ou microscópica, os organismos são responsáveis por realizar ou

17
catalisar diversas reações químicas, além de terem substancial influência
na desintegração mecânica do meio.

O clima é o fator que, isoladamente, tem a maior influência no


intemperismo. Ele determina a velocidade e a intensidade com que
o intemperismo atuará, sendo a temperatura e a precipitação os
dois parâmetros climáticos mais expressivos. A temperatura pode
agir fisicamente, quando pensamos na expansão e contração dos
materiais, mas também pode ser atuante nas reações químicas do solo
(o aumento da temperatura pode funcionar como um catalisador).
Já quanto à precipitação, à análise de deficiência e excedente hídrico
estão vinculados à hidratação dos constituintes, a remoção dos cátions
e a aceleração das transformações e do processo evolutivo do solo. A
importância da precipitação ou falta dela é tanta que se observarmos,
por exemplo, dois locais que estão na mesma latitude, sob materiais
tipicamente parecidos, mas com regimes de chuva distintos, os perfis de
solo podem ser muito diferentes. Como exemplo básico para isso temos
a Amazônia (solos intemperizados, profundos, cauliníticos, pobres e
ácidos) e o Nordeste (menor intensidade dos processos pedogenéticos,
solos rasos, cascalhentos ou pedregosos, teores de minerais primários
elevados). É típico notarmos que regiões mais quentes e úmidas
apresentam solos mais evoluídos.

Indiretamente ligado ao fator climático, a fisiografia (ou relevo) regula


o escoamento superficial da água no solo. As reações químicas do
intemperismo acontecem com maior intensidade em regiões de
boa infiltração, ou seja, um relevo mais suave (plano a quase plano)
condiciona uma situação hídrica mais duradoura, possibilitando o
aparecimento de uma vegetação mais exuberante. Já em terrenos mais
íngremes, a declividade atua de modo haja uma menor infiltração e, até
mesmo, uma maior possibilidade de transporte de material.

Por último, mas não menos importante, temos o tempo. Mesmo


havendo todas as demais premissas para a formação de um solo,

18
suscetibilidade dos constituintes minerais, sem que haja o tempo
suficiente para que o solo se desenvolva, os processos de desintegração
e degradação ocorram, não teremos um perfil de solo estabelecido.

1.5 O perfil do solo

A ação dos fatores que controlam a formação do solo rege como este
estará na natureza. É comum dizermos que o perfil do solo estará
apresentado em camadas dispostas geralmente na horizontal. A
Figura 6 apresenta um perfil hipotético e os possíveis horizontes (ou
camadas) de solo.

Figura 6 – Perfil de solo hipotético e seus horizontes (camadas)

Fonte: elaborada pela autora a partir de Guia do Estudante (2016).

19
O perfil apresentado mostra as características de cada camada. Nem
todos os solos apresentam todas as camadas, nem todo solo também
está estruturado sobre o seu material de origem. A importância de
compreender os diferentes perfis de solo, para a área da construção
civil, está vinculada na inferência dos possíveis comportamentos que as
obras podem ter. A primeira maneira de distinguir e começar a pensar a
respeito do comportamento de um dado perfil do solo é sabendo qual a
sua classificação pedogenética, conforme explicado a seguir.

1.6 Solos Residuais e Solos Sedimentares

Os solos podem ser classificados de inúmeras maneiras. Uma delas


é quanto à pedogênese, que distingue os solos em solos residuais e
sedimentares.

Os solos residuais são aqueles em que a rocha é intemperizada e as


partículas formadas se estruturam sob o material de origem. É comum
encontrarmos a definição de que nestes solos a decomposição da
rocha é maior que a remoção do solo, o que faz com que o perfil se
estabeleça. Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para
baixo, as camadas superiores são, via de regra, mais trabalhadas que as
inferiores, com granulometria menor, por exemplo.

Já os solos sedimentares (ou também conhecidos como solos


transportados) têm seus constituintes formados em um local
diferente de onde estão depositados e estruturados. Eles podem ter
sido transportados de diferentes formas, o que nos ajuda inclusive
a distingui-los, por exemplo: solos eólicos (transportados pelos
ventos), solos aluviais (transportados pela água), solos coluvionares
(transportados pela ação da gravidade), entre outros.

Você pode estar se perguntando por que isso é importante para as


obras de terra, como fundações, barragens, túneis, estabilidade de
encostas, etc.? A Figura 7 explica de forma gráfica a relação existente (ou

20
não) de duas variáveis muito úteis para a construção civil: a resistência e
a permeabilidade do solo em relação a profundidade, considerando um
solo residual e um solo sedimentar.

Figura 7 – Relação da resistência e permeabilidade com solos


residuais (A) e sedimentares (B)

Fonte: adaptada de Campos (2014, p. 35).

Compreendeu agora por que é tão importante saber mais sobre


a origem e o tipo do solo com o qual se está trabalhando? As
características pedogenéticas podem auxiliar você na tomada de
decisões ou mesmo, de modo prévio, a perceber quais aspectos
precisam ser levados em consideração para que o projeto geotécnico
seja elaborado e executado com rigor técnico e segurança.

TEORIA EM PRÁTICA
Um engenheiro geotécnico foi escolhido para fazer o
projeto de um viaduto para uma cidade bastante afastada
do local onde mora. Como ainda não foram ajustados os

21
detalhes da contratação, e o tempo é curto, ele começa a
fazer pesquisas voltadas para a descrição dos tipos de solo
que tipicamente são encontrados na região. Ele descobre
que o principal substrato rochoso encontrado naquelas
redondezas é o basalto, oriundo de derrames vulcânicos,
que os perfis de solo são residuais e bem desenvolvidos. Se
você fosse este engenheiro, o que você poderia dizer sobre
o substrato rochoso? E sobre o possível comportamento
do solo frente à alocação dos elementos de fundação
do viaduto?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O solo pode ser definido como a camada superior


da superfície terrestre. Sua compreensão frente às
diversas ciências que o têm como escopo é dependente
da respectiva área de estudo, porém em todas o solo
pode apresentar camadas distintas, passíveis de serem
classificadas A figura a seguir apresenta um perfil
hipotético de solo, cujas camadas estão sinalizadas.

22

Fonte: <https://rachacuca.com.br/educacao/vestibular/
unicamp/2013/primeira-fase/13/>. Acesso em: 30 maio 2019.

Sobre o tema ‘perfil do solo’, analise as


afirmações a seguir:

I. A representação dos solos por meio de seus horizontes


pode ajudar o projetista de uma obra a perceber quais
as soluções mais cabíveis para seu projeto.

II. Todos os perfis de solo apresentam todas as camadas


apresentadas na figura acima, sendo fácil perceber se
um perfil foi subdividido de maneira incorreta.

III. No contexto da engenharia civil, a camada A é sempre a


mais indicada para alocação das fundações de uma obra,
haja vista a pequena profundidade em que se irá trabalhar
e a grande atividade biológica que a mesma tem, ambos
fatores que auxiliam na execução do projeto.

IV. A camada ‘C’ é considerada como horizonte de transição


entre solo e rocha, podendo apresentar fragmentos da
rocha não alterada.

V. A rocha sã aparece apenas em perfis de solo residuais,


não sendo identificada em perfis de solo sedimentar.

Assinale a alternativa correta:

a. Apenas as afirmações II, III e IV estão corretas.


b. Apenas as afirmações I, II e V estão corretas.
c. Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
d. Apenas as afirmações IV e V estão corretas.
e. Todas as afirmações estão corretas.

23
2. Uma rocha é um agregado sólido que ocorre
naturalmente e é constituído por um ou mais minerais.
Considerando os diferentes tipos de rochas existentes,
analise as afirmações a seguir:

I. As rochas ígneas ou magmáticas são formadas pelo


magma solidificado, podendo ser subdivididas nos tipos:
intrusivas, extrusivas e hipo abissais.

II. As rochas magmáticas intrusivas são as rochas formadas


pelo magma solidificado na superfície, por exemplo,
o basalto.

III. As rochas sedimentares são formadas por meio


da sedimentação de partículas de outras rochas
existentes.

IV. As rochas metamórficas são rochas que sofreram


alterações na sua estrutura em decorrência de baixas
pressões e temperaturas, sendo exemplos comuns o
mármore e o quartzito.

Assinale a alternativa correta:

a. Estão corretas apenas as afirmações I e III.


b. Estão corretas apenas as afirmações II e IV.
c. Estão corretas apenas as afirmações I, II e III.
d. Estão corretas apenas as afirmações I, III e IV.
e. Todas as afirmações estão corretas.

3. Considerando seus conhecimentos sobre os fatores


pedogenéticos, julgue cada afirmação a seguir em
verdadeira (V) ou falsa (F).

24
( ) O material parental é o que determina se um solo será
residual ou transportado. Se ele for de fácil ataque
químico certamente formará um perfil residual.

( ) O clima tem influência no intemperismo, sobretudo


devido aos parâmetros temperatura e precipitação.
Ambos podem atuar conjuntamente, por exemplo,
quando observamos perfis desenvolvidos em regiões
com baixa temperatura e incipiente incidência
de chuvas.

( ) Um relevo mais suave condiciona uma situação hídrica


mais duradoura, possibilitando o aparecimento de
uma vegetação mais exuberante. Já em terrenos
mais íngremes, a declividade atua de modo que haja
uma menor.

Assinale a alternativa que contenha a sequência correta


de respostas do V ou F anterior:

a. V - V - F.
b. V - F - F.
c. F - F - V.
d. F - V - V.
e. F - V - F.

Referências Bibliográficas
ALMEIDA, F. Princípios da formação dos solos. Disponível em: http://
thiagoazeredopedologia.blogspot.com/2012/05/apostila-2-principios-da-formacao-
dos.html. Acesso em: 26 maio 2019.
CAMPOS, M.S. Origem e formação dos solos. 2014. 38 p. Disponível em: https://
docplayer.com.br/59600809-Origem-e-formacao-dos-solos.html. Acesso em: 30
maio 2019.

25
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: Fundamentos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC–Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1988. 244 p.
COUTO, C. Conceitos e Processos relativos à formação das Rochas
Sedimentares. 2016. Disponível em: http://cienprof7.blogspot.com/2016/10/
conceitos-e-processos-relativos.html. Acesso em: 18 jun. 2019.
DAS, B.M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007. 577 p. Tradução da 6ª edição norte-americana.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Sistema
brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI,
2013. 306 p.
GUIA DO ESTUDANTE. Características dos solos–Curso Enem Play. 2016.
Disponível em: https://images.app.goo.gl/Xfv5SDsgubMQKweo6. Acesso em: 26
maio 2019.
JENNY, H. Factors of soil formation: a system of quantitative pedology. New York:
MacGraw Hill, 1941. 281 p.
KER, J.C. et al. Pedologia: Fundamentos. 1. ed. São Paulo: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 2012. 343 p.
MUSEU HEINZ EBERT. Departamento de Petrologia e Metalogenia–Rio Claro/SP,
2019. Disponível em: https://museuhe.com.br/rochas/rochas-igneas/texturas-de-
rochas-magmaticas/trama-de-rochas-igneas/. Acesso em: 20 jun. 2019.
PINTEREST. 2019. Disponível em: https://www.pinterest.com.mx/
pin/861524603691436420/. Acesso em: 26 maio 2019.
RAINHO, A. R. Classificação de rochas sedimentares. 2011. Disponível em: https://
pt.slideshare.net/ritarainho/16-classificao-sedimentares. Acesso em: 18 jun. 2019.
TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. 558 p.
VARGAS, M. Introdução à Mecânica dos Solos. São Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil,
Ed. Da Universidade de São Paulo, 1977, 509 p.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
Correção II – Considerando a grande variabilidade de processos
pedogenéticos que podem ser observados para a formação dos
solos, não necessariamente todos os perfis de solo apresentaram
todas as camadas/horizontes.

26
Correção III – A atividade biológica não auxilia necessariamente na
execução de um projeto de obra civil.

Correção V – A rocha sã está presente tanto em perfis de solo


residuais como em perfis de solo transportados. A diferença é que
naqueles o solo permanece sobre seu material de origem e neste,
não (é transportado por algum agente).

Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Estão corretas apenas as afirmações I e III.
Correção: II – As rochas magmáticas extrusivas são as rochas
formadas pelo magma solidificado na superfície, por exemplo,
o basalto. Rochas magmáticas intrusivas são aquelas em que o
resfriamento acontece no interior do globo terrestre e entre suas
principais características temos que a cristalização de minerais
ocorre de modo lento, possibilitando a criação de minerais maiores,
visíveis ao olho nu.

Correção: IV – As rochas metamórficas são rochas que sofreram


alterações na sua estrutura em decorrência de ALTAS pressões e
temperaturas, sendo exemplos comuns o mármore e o quartzito.

Questão 3 – Resposta: C
Resolução: F - F - V.
Correção I – O que determina se um solo será residual ou
sedimentar está relacionado ao transporte dos materiais formados
a partir do intemperismo da rocha mãe. Se o transporte for
mais rápido/maior do que a degradação ou decomposição, os
sedimentos serão transportados até serem estruturados em outro
local. Caso contrário, ficarão sob a rocha e formarão um solo
residual. O material parental determina os tipos de minerais dos
quais será constituído o solo.

27
Correção II – O clima tem influência no intemperismo, sobretudo
devido aos parâmetros temperatura e precipitação. Ambos podem
atuar conjuntamente, por exemplo, quando observamos perfis
desenvolvidos em regiões com temperatura elevada e grande
incidência de chuvas.

28
Textura e estrutura dos solos
Autor: Flávia Gonçalves
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Entender o que é textura, como identificá-la e suas


implicações no comportamento do solo.

• Compreender os parâmetros texturais obtidos pela


curva granulométrica.

• Conhecer os principais tipos de estruturas do solo e


sua formação.
1. Textura e estrutura dos solos

A textura e a estrutura podem definir algumas tendências de


comportamento do solo, sendo duas características importantes a
serem conhecidas quando se pretende utilizá-lo em alguma obra
geotécnica. A textura pode ser identificada em laboratório, por meio
de ensaios, ou ainda estimada em campo, com uma simples análise
tátil-visual. Já a estrutura do solo refere-se ao arranjo das partículas
minerais, podendo ser de diversos tipos, cada um conferindo ao solo um
comportamento distinto.

Nesta unidade, você entenderá o que é textura do solo, como identificá-


la e que implicações esta propriedade tem sobre o comportamento
geotécnico. Além disso, você conhecerá alguns tipos de arranjos
estruturais possíveis de se encontrar na natureza e suas características.

1.1 Textura do solo

A composição do solo só é alterada sob a ação da erosão ou do


intemperismo, mudança esta ocorrida de forma lenta, durando séculos
ou milênios. Por isso, a característica textural do solo não é variável em
um curto espaço de tempo, fato que, em uma escala limitada, sem que
haja grandes variações geológicas no terreno, o comportamento do solo
devido à sua textura será semelhante em uma mesma área (REINERT;
REICHERT, 2006, p. 4).

A proporção e combinação dos diferentes tamanhos de partículas do


solo definem sua textura. Segundo a NBR 6502 (ABNT, 1995, p. 8, 9, 15 e
17), os solos podem apresentar as seguintes frações texturais, baseado
nos diâmetros (D) das partículas:

a. Pedregulho: 2,0 < D < 60,0 mm.


b. Areia grossa: 0,60 < D < 2,0 mm.

30
c. Areia média: 0,20 < D < 0,60 mm.
d. Areia fina: 0,06 < D < 0,20 mm.
e. Silte: 0,002 < D < 0,06 mm.
f. Argila: D < 0,002 mm.

Os pedregulhos nada mais são do que fragmentos de rocha


com algumas partículas de minerais. Já as areias são compostas
principalmente por quartzo e feldspato. Os siltes são partículas
microscópicas de quartzo ou lâminas de outros minerais. Por fim,
as argilas são partículas micro e submicroscópicas que possuem
principalmente a forma laminar, compostas por mica, argilominerais e
outros (DAS, 2007, p. 14).

Solos compostos por pedregulhos e areias são denominados de solos


grossos, e solos compostos por siltes e argilas são conhecidos como
solos finos. De acordo com essa composição textural, o solo pode
apresentar comportamentos distintos, como mostra a Quadro 1.

Quadro 1 – Comportamentos dos solos segundo sua textura


SOLOS GROSSOS SOLOS FINOS
Maior porosidade Menor porosidade
Menor micro e maior macroporosidade Maior micro e menor macroporosidade
Baixa retenção de água Alta retenção de água
Maior permeabilidade Menor permeabilidade
Menor densidade Maior densidade
Maior resistência à compactação Maior suscetibilidade à compactação
Maior suscetibilidade à erosão Maior resistência à erosão
Baixa coesão Alta coesão
Menor plasticidade Maior plasticidade

Fonte: adaptado de Reinert e Reichert (2006).

Para a identificação da textura do solo em campo, pode-se utilizar a


análise tátil-visual, manuseando o material e baseando-se nos sentidos

31
(tato, visão e olfato, principalmente), sendo brevemente descrita pela
NBR 6484 (ABNT, 2020). A partir da sensação ao tato do solo nas mãos,
é possível determinar se há apenas grãos de areia (mais áspero) ou
se há também partículas de argila e silte (mais sedosos). A resistência
à compressão dos dedos pode definir se o solo é mais argiloso (mais
resistente) ou mais siltoso (mais frágil). Já a moldagem de esferas ou
cilindros com o solo úmido permite observar se o solo possui mais argila
(mais plástico e moldável) ou mais areia (menos plástico e moldável).
Quando se coloca uma amostra de solo em um recipiente com água,
pode-se notar a diferença entre os tempos de sedimentação das
diferentes partículas, onde a areia sedimenta muito mais rápido que a
argila. Outras análises ainda podem ser feitas, contudo, é necessário
ressaltar que estes procedimentos não são completamente confiáveis,
haja vista a subjetividade envolvida.

Deste modo, ela deve ser usada apenas como uma identificação prévia
e estimada. Quer exemplos de como ela pode ter interpretações
equivocadas? Imagine que uma pessoa percebe a amostra muito áspera,
enquanto outra presta mais atenção na sujidade que esta deixa ao ser
esfregada sobre a pele. Um pode afirmar que a amostra é puramente
granular, composta apenas por grãos visíveis a olho nu, enquanto a
outra pode afirmar que, na verdade, há torrões ou aglomerados de
partículas de argila que podem ser desfeitos até dimensões menores.
Qual das duas pessoas está correta? Não há como saber apenas com as
afirmações feitas.

No entanto, para diminuir tais divergências, este ensaio de campo deve


ser feito com a amostra úmida, uma vez que o aglomerado argiloso
se torna uma pasta quando umedecido, ao contrário do grão de areia,
sendo facilmente identificado pelo tato (SOUSA PINTO, 2006, p. 21).
Outra observação pertinente é que, com o passar do tempo, a prática
na identificação de inúmeros solos faz com que o profissional passe
a ser mais assertivo em suas análises, possibilitando uma margem
menor de erro.

32
Em laboratório, é possível realizar o ensaio de granulometria conjunta,
baseado na NBR 7181 (ABNT, 2016), composto pelos procedimentos de
peneiramento (para partículas maiores que 0,075 mm de diâmetro) e
sedimentação (para partículas menores que 0,075 mm de diâmetro).
Neste método conjunto, a textura do solo é definida obtendo-se a
proporção exata de cada fração textural presente na amostra por meio
da curva resultante, chamada de curva granulométrica, como mostra
a Figura 1. Nesta mesma figura, abaixo da curva, está representada a
escala granulométrica, segundo a NBR 6502, citada no início do capítulo,
que fornece a faixa de variação de tamanho de partícula em cada
fração textural.

Figura 1 – Curva e escala granulométrica

Fonte: Pinheiro et al. (2013)

A partir desta curva granulométrica, ou mais especificamente das


frações proporcionais de cada subdivisão de tamanhos das partículas
de solo, é possível classificá-lo segundo a escala dada pela NBR 6502,
em ordem decrescente de proporção. No exemplo da curva acima,
o solo seria então classificado como um pedregulho areno siltoso, já
que possui maior quantidade de pedregulho (50%), seguido da areia
(37%) e do silte (7%). Também é possível fazer uma classificação prévia

33
do solo por meio do triângulo textural (Figura 2) quando se tem um
solo composto apenas por argila, silte e areia. Esta textura auxilia na
tomada de decisão de projetos e obras, uma vez que ajuda a apontar
características preponderantes do comportamento do solo.

Figura 2 – Triângulo textural

Fonte: Oliveira (2016)

Além desta classificação prévia, também é possível obter alguns


parâmetros que caracterizam a distribuição do tamanho das partículas
(CAPUTO, 1996, p. 26-27):

a. Diâmetro efetivo ( D10 ): é o diâmetro referente a 10 % em massa


de partículas menores que ele.
b. Coeficiente de uniformidade ( Cu ): definido pela Equação 1.

D60
Cu =
D10

Equação 1

34
Onde D60 é o diâmetro referente a 60 % em massa de partículas
menores que ele;

c. Coeficiente de curvatura ( Cc ): definido pela Equação 2.

2
D30
Cc =
D60 * D10
Equação 2

Onde D30 é o diâmetro referente a 30 % em massa de partículas


menores que ele.

Os valores de D10, D30 e D60 são obtidos na curva granulométrica,


conforme a Figura 3. Caso o solo não apresente frações correspondentes
a tais porcentagens (10, 30 e 60 %), adota-se o menor diâmetro
encontrado no ensaio.

Figura 3 – Diâmetros obtidos da curva granulométrica

Fonte: adaptada de Varela (2019).

35
Em posse dos valores destes parâmetros, o solo pode ser classificado
conforme descrito na Quadro 2:

Quadro 2 – Classificação do solo por meio dos coeficientes de


uniformidade e curvatura
Coeficiente de Uniformidade Coeficiente de curvatura
Muito uniforme: Cu < 5 Bem graduado: 1 < Cc < 3
Com uniformidade média: 5 < Cu < 15 Mal graduado: Cc < 1 ou Cc > 3
Desuniforme: Cu > 15

Fonte: Caputo (1996).

A Figura 4 mostra três curvas granulométricas distintas. O Solo A é


definido como mal graduado ou uniforme, pois a maioria das partículas
está em uma pequena faixa de diâmetro. O Solo B possui uma
granulometria descontínua, pois apresentou poucas partículas em uma
determinada faixa de diâmetros (0,1 a 1 mm). Já o Solo C é classificado
como bem graduado ou desuniforme, uma vez que as partículas estão
compreendidas em uma ampla faixa de diâmetros (DAS, 2007, p. 28).

Figura 4 – Tipos de curvas granulométricas e sua relação com os


tipos de solos

Fonte: adaptada de IFF-RS (2016) e Caputo (1996, p. 26).

36
ASSIMILE
Quando se diz que o solo é mal graduado ou uniforme,
significa que há apenas uma pequena faixa de tamanho
de partículas em sua composição. Já quando se diz que o
solo é bem graduado e desuniforme, significa que ele
possui uma extensa faixa de tamanhos de partículas em
sua composição. Por fim, um solo com granulometria
descontínua é carente de alguma faixa específica de
tamanho de partículas.

Agora que você já entende o que é textura do solo e conhece os


possíveis tamanhos de partículas, é capaz de classificá-lo segundo sua
distribuição granulométrica. Por exemplo, um solo com 30% de argila,
60% de silte e 10% de areia seria classificado como um silte argilo
arenoso. Vamos agora entender os principais tipos de estruturas que
podem formar o solo e suas características.

1.2 Estrutura do solo

Segundo Terzaghi (1967), a estrutura do solo pode ser definida como


o arranjo formado pelas partículas, sendo dependente dos tamanhos
e suas respectivas quantidades na massa de solo. Sendo assim, as
estruturas do solo podem ser de quatro tipos:

a. Granular simples:

Neste caso, grãos com diâmetros maiores que 2.10-5 m são depositados
e acomodados em sedimentos argilosos, dando origem a uma estrutura
de característica arenosa fofa que pode ser adensada por meio de
vibrações. Esta formação se dá pela predominância do peso das
partículas em relação ao atrito entre elas e os sedimentos, provocando
uma rotação e consequente acomodação (Figura 5 (A)).

37
b. Alveolar:

Quando o mesmo processo descrito anteriormente acontece com


grãos de diâmetro menores que 10-5 m, o atrito entre as partículas e
os sedimentos predomina sobre o peso, não havendo acomodação e
as partículas permanecem na posição onde foram depositadas. Assim,
são formados alvéolos, originando uma estrutura esponjosa com
características argilosas e estáveis (Figura 5 (B)).

c. Floculenta:

Quando partículas de dimensões entre 10-9 e 10-6 m formam uma


suspensão coloidal, as diferentes forças elétricas entre elas causaria
movimentos de atração e repulsão, gerando um movimento onde
as partículas se chocariam umas com as outras acarretando uma
aglutinação e, consequentemente, formando os flocos. São formadas
estruturas semelhantes à alveolar, porém os alvéolos serão formados
por flocos de grãos, e não partículas isoladas (Figura 5 (C)).

d. Esqueleto:

São estruturas mais complexas, onde há formação das outras 3


estruturas citadas anteriormente (Figura 5 (D)).

Figura 5 – Tipos de estruturas do solo: (a) Granular simples; (b)


Alveolar; (c) Floculenta; (d) Esqueleto.

(a) (b) (c)

38
(d)

PARA SABER MAIS


A coesão refere-se às forças de atração entre as partículas,
principalmente argilas, que agentes químicos cimentantes
proporcionam à estrutura do solo, geralmente formados
por óxidos e carbonatos. Esta propriedade pode ser
eliminada, por exemplo, por ataques químicos devido à
contaminação do solo por algum efluente ou ainda por
ação mecânica.

Agora você entende a importância do conhecimento acerca da textura


e estrutura dos solos? Estas características podem ajudar a tomar uma

39
decisão prévia ou ainda guiá-lo para decidir quais outras análises devem
ser feitas para uma execução segura de qualquer projeto geotécnico.

TEORIA EM PRÁTICA
Um engenheiro geotécnico foi solicitado para realizar uma
análise prévia de um solo localizado no interior do seu estado,
onde não havia nenhum tipo de informação resultante de
ensaios de campo ou laboratório. Por meio de análise visual-
tátil, ele observou que o solo possuía grãos com sensação
sedosa e que sujavam sua mão. Além disso, ao manusear
o solo úmido, o engenheiro conseguiu moldar uma esfera
facilmente. Ao pressionar o torrão de solo seco entre os
dedos, percebeu que era difícil de desfazê-lo. A partir destas
informações, o que você diria sobre a textura do solo?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Um solo apresentou, diante de uma análise visual-tátil,


aspereza ao tato e partículas visíveis ao olho nu, sem
sujar as mãos ao esfregá-lo. Além disso, ao colocá-
lo em um recipiente com água, o solo sedimentou
rapidamente, depositando-se todo no fundo. De
posse destas informações, pode-se concluir sobre o
comportamento deste solo que o mesmo terá:

I. Alta permeabilidade.

II. Pouca suscetibilidade à erosão.

40
III. Baixa porosidade.

IV. Baixa plasticidade.

V. Baixa coesão.

Assinale a alternativa correta:


a. Apenas as afirmações II, III e IV estão corretas.
b. Apenas as afirmações I, IV e V estão corretas.
c. Apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d. Apenas as afirmações III e V estão corretas.
e. Todas as afirmações estão corretas.

2. Um ensaio de granulometria conjunta resultou em


proporções de frações granulométricas de 20% de argila,
5% de silte e 75% de areia. Considerando a escala dada
pela NBR 6502 (ABNT, 1995), como seria classificado
este solo?

a. Silte argilo arenoso.


b. Areia silto argilosa.
c. Areia argilo siltosa.
d. Argila areno siltosa.
e. Argila silto arenosa.

3. Considerando 3 solos: A – granulometria contínua,


compreendendo uma ampla faixa de tamanhos de
partículas; B – granulometria composta, em sua
maioria, por partículas do tamanho de 0,1 a 0,8 mm;
e C – granulometria carente de partículas do tamanho
de 0,5 a 2 mm; defina qual solo se encaixa nas
denominações a seguir:

41
( ) Solo com granulometria uniforme e mal graduado.

( ) Solo com granulometria descontínua.

( ) Solo com granulometria desuniforme e bem graduado.

( ) Cc < 1.

( ) Cu > 15.

Assinale a alternativa que contenha a sequência correta


de respostas anterior:

a. B - C - A - B - A.
b. C - B - A - A - C.
c. B - C - C - B - A.
d. C - B - A - B - A.
e. A - C - A - C - B.

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6484: Solo – Sondagens de
simples reconhecimentos com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro. 2020.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181: Solo – Análise
Granulométrica. Rio de Janeiro. 2016 Versão corrigida: 2:2018.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de
Janeiro. 1995.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: Fundamentos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC–Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1988. 244 p.
DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007. 577 p. Tradução da 6ª edição norte-americana.
IFF-RS. Instituto Federal de Educação, Ciência de Tecnologia Farroupilha. Caderno
de questões – Prova IFF-RS – Técnico Laboratório – Edificações. 2016. Disponível
em: https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes?exam_
ids%5B%5D=51776&page=5. Acesso em: 20 jun. 2019.

42
MOLINA Jr., W. F. Comportamento Mecânico do Solo em Operações Agrícolas.
Piracicaba: ESALQ/USP, 2017. 223 p.
OLIVEIRA, G. C. Física dos solos. Disponível em: http://www.dcs.ufla.br/site/_adm/
upload/file/pdf/Prof.%20Geraldo%20Cesar/1%20AULA%20TEoRICA_GCS_104.pdf .
Acesso em: 22 jun. 2019.
PINHEIRO, M. L. et al. Avaliação experimental de blocos prensados de solo-cimento
com adição de grits. Ambiente Construído, 13 (2): p. 29-46. Porto Alegre, RS, 2013.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de Mecânica dos Solos: com exercícios resolvidos
em 16 aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 355p.
REINERT, D. J.; REICHERT, J. M. Propriedades físicas do solo. Universidade Federal
de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais. Santa Maria, RS, 2006. 18 p.
TERZAGHI, K. Soil mechanics in engineering practice. New York, John Wiley &
Sons, 1967. 729p.
VARELA, M. Granulometria. Disponível em: http://docente.ifrn.edu.br/marciovarela/
disciplinas/materiais-de-construcao/granulometria-1/granulometria. Acesso em: 20
jun. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Apenas as afirmações I, IV e V estão corretas.
Correção II – Solos grossos possuem alta suscetibilidade à erosão
por apresentarem menor coesão.

Correção III – Solos grossos apresentam alta porosidade, uma vez


que suas partículas são maiores e ao se acomodarem deixam maior
volume e vazios entre as partículas.

Questão 2 – Resposta: C
Resolução: Seria classificado como uma areia argilo siltosa, uma
vez que possui maior quantidade de areia, seguido de argila e silte.
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: B - C - A - B - A.

43
O solo A é denominado de bem graduado e desuniforme por
possuir partículas de tamanhos variados e graduais. O solo B possui
pouca variedade de tamanho de partículas, compreendendo uma
pequena faixa da curva granulométrica, sendo denominado de
mal graduado e uniforme. Já o solo C não possui partículas em
uma faixa específica de tamanho, sendo denominado de solo com
granulometria descontínua. Valores de Cc < 1 são referentes a solos
mal graduados, assim como o solo B. Cu > 15 refere-se a solos
desuniformes, assim como o solo A.

44
Ensaios de Campo: SPT, SPT-T, CPT
e Ensaio da Palheta (VaneTest)
Autor: Flávia Gonçalves
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Conhecer alguns dos ensaios de campo mais


empregados para investigação de subsolo.

• Identificar os procedimentos e resultados dos


ensaios apresentados.

• Entender as vantagens e a aplicabilidade de cada


ensaio mencionado.
1. Ensaios de Campo: SPT, SPT-T, CPT e Ensaio da
Palheta (VaneTest)

Quando se pretende executar qualquer obra de Engenharia Civil, o


conhecimento das condições do subsolo é de extrema importância. A
definição do tipo de solo e a espessura de cada camada são informações
valiosas para garantir a segurança das obras, uma vez que estas
estarão apoiadas sobre o solo, transmitindo sua carga por meio das
fundações. O reconhecimento do subsolo, bem como a determinação
de suas propriedades geotécnicas podem ser realizadas por meio de
investigações geotécnicas de campo. Mesmo que na maioria dos casos
é necessária a utilização de correlações empíricas para converter os
resultados obtidos por estes ensaios em propriedades adequadas para
o projeto, a realidade é que os parâmetros obtidos por eles são os mais
representativos da heterogeneidade que podemos ter dos materiais
prospectados.

Dito isto, neste capítulo você irá conhecer alguns dos métodos de
investigação do subsolo mais empregados atualmente, todos realizados
em campo, compreendendo sua finalidade e possíveis interpretações de
resultados.

1.1 SPT

O ensaio de investigação do subsolo mais popular e econômico é o


Standard Penetration Test (SPT). Ele permite a estimativa da densidade
de solos granulares e da consistência de solos coesivos por meio da
mensuração da resistência dinâmica com o auxílio de um simples
reconhecimento feito por sondagem (SCHNAID; ODEBRECHT,
2012, p. 22).

Este ensaio, padronizado pela NBR 6484 (ABNT, 2020), consiste na


cravação de um amostrador padrão, com 5 cm de diâmetro externo,

46
devido a golpes aplicados pela queda de um martelo padronizado de
65 kg a uma altura de 75 cm. O NSPT é o número de golpes equivalente
ao necessário para o avanço de 30 cm do amostrador, após terem sidos
avançados 15 cm inicialmente, representativo da camada de solo na qual
se fez a cravação. O esquema do ensaio é mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Esquema do ensaio SPT

Fonte: Costa Branco (2017).

Segundo a NBR 8036 (ABNT, 1983), existe um número mínimo de


sondagens que devem ser feitas dependendo da área em planta da
edificação a ser construída. Os critérios são os seguintes:

a. Até 200 m²: 2 sondagens.


b. Até 1200 m²: 1 sondagem a cada 200 m².
c. Entre 200 e 400 m²: 3 sondagens.
d. Entre 1200 e 2400 m²: 1 sondagem a cada 200 m², até 1200 m²,
mais 1 sondagem a cada 400 m² para o restante.
e. Acima de 2400 m²: número de sondagens definido para
cada projeto.

47
Complementando esses prescritos, a NBR 6484 (ABNT, 2020) afirma que
é responsabilidade da contratante a locação dos furos.

Segundo Schnaid e Odebrecht (2012, p. 22), as vantagens do uso do


SPT são a simplicidade do método e do equipamento, o baixo custo
de execução e a obtenção de valores que podem ser relacionados
diretamente com alguns parâmetros empíricos de projeto. Além dos
valores de resistência e coleta de amostras para cada camada, este
ensaio também indica a profundidade do nível freático.

Os equipamentos necessários para o ensaio, segundo a NBR 6484


(ABNT, 2020), são (Figura 2):

a. Tripé: é a estrutura que estabiliza e auxilia o ensaio durante sua


execução. Pode ser mecânico ou manual, possuindo uma roldana
onde o cabo que sustenta o martelo é guiado.

b. Martelo: possui massa fixa padronizada de 65 kg, podendo ser


prismático ou cilíndrico. Possui um pino guia na face inferior que
deve estar perpendicular à superfície a ser cravada.

c. Cabeça de bater: elemento de aço que recebe diretamente o


impacto causado pela queda do martelo, deve ter 83 mm de
diâmetro, 90 mm de altura e massa de 3,5 kg.

d. Bica: também chamada de trépano de lavagem, permite a


injeção de água no furo quando o solo se mostrar resistente ao
trado manual ou quando o nível d’água é encontrado, permite o
recolhimento da água para prosseguimento do ensaio.

e. Tubo de revestimento: elementos de aço que protegem as hastes


e o amostrador das paredes do furo, com diâmetro interno de
63 a 76 mm.

48
f. Hastes: são tubos metálicos retilíneos acoplados com roscas ou
luvas que partem da cabeça de bater até o topo do amostrador,
transferindo a energia do golpe para a cravação, com diâmetro
interno de 25 mm e massa de 3,23 kg/m.

g. Amostrador: com diâmetros externo e interno de 50,8 mm e 34,9


mm, respectivamente, é formado por uma cabeça com orifícios
para saída de ar e água, um corpo bipartido e um bico de aço
temperado.

Figura 2 – Equipamento SPT

Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 24).

49
Para a execução do ensaio, primeiramente escava-se o furo com o
auxílio de um trado concha ou heicoidal até a profundidade de 1
metro. Apoia-se o equipamento com o amostrador no fundo deste
furo e marca-se na haste três segmentos de 15 cm, sendo seguido da
aplicação dos golpes (por meio de sistema manual ou mecanizado)
até o amostrador atingir os 45 cm de cravação. Recolhe-se a amostra
de solo de dentro do amostrador e em seguida, com o auxílio de um
trado concha ou helicoidal, a escavação do furo é avançada até se
atingir o novo metro para a repetição dos procedimentos anteriores.
Para cada metro de profundidade, anota-se o número necessário
para a cravação de cada segmento, por exemplo, 4/15, 10/15,
14/15. O NSPT será a soma do número de golpes para a cravação dos
últimos 30 cm, no caso do exemplo anterior, NSPT = 10 + 14 = 24.
Assim, é possível inferir a resistência e obter amostras de solo para
cada metro de sondagem, até a profundidade exigida em projeto,
traçando o perfil do subsolo, como mostra o relatório da Figura 3.
Vale ressaltar que o NSPT de cada metro é o referente ao número de
golpes dos 45 cm antes de alcançar este metro. Por exemplo, após
a perfuração até 1 metro com o trado, o NSPT dos 45 cm de cravação
seguintes, equivalendo à profundidade de 1,45 m será referente ao
NSPT da profundidade de 2 metros.

50
Figura 3 – Exemplo de relatório de SPT

Fonte: acervo da autora.

Ainda segundo a norma NBR 6484 (ABNT, 2020), a respeito dos critérios
que regem o fim do ensaio:

a. É de responsabilidade técnica da contratante definir o critério de


paralisação de acordo com as necessidades específicas do projeto.
b. Na ausência de critério definido por parte da contratante,
as sondagens devem avançar até que seja atingido um dos
seguintes limites:

I. Até a profundidade na qual forem obtidos 10m de resultados


consecutivos com N iguais ou maiores que 25 golpes.

51
II. Até a profundidade na qual forem obtidos 8m de resultados
consecutivos com N iguais ou maiores que 30 golpes.
III. Até a profundidade na qual forem obtidos 6m de resultados
consecutivos com N iguais ou maiores que 35 golpes.

Caso o solo seja muito mole, pode ser que apenas um golpe do martelo
seja suficiente para avançar o amostrador mais que os 15 cm iniciais.
Assim, adota-se o número de golpes como 1/30, equivalendo a 30 cm
de cravação apenas com um golpe. De forma contrária, quando o solo
é muito resistente, necessitando de mais de 30 golpes (limite para que
não haja danos ao equipamento) para que o amostrador avance 15 cm.
Neste caso, anota-se o resultado como 30/15, por exemplo (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012, p. 27).

Segundo a NBR 6484 (ABNT, 2020), os solos podem ser classificados de


acordo com o valor de resistência NSPT, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 – Classificação dos solos segundo o NSPT


Solo NSPT Classificação
≤4 Fofa(o)
5–8 Pouco Compacta(o)
Areia e silte arenoso 9 – 18 Medianamente Compacta(o)
19 – 40 Compacta(o)
> 40 Muito Compacta(o)
≤2 Muito Mole
3–5 Mole
6 – 10 Média(o)
Argila e silte argiloso
11 – 19 Rija(o)
20 – 30 Muito Rija(o)
> 30 Dura(o)

Fonte: ABNT (2020).

52
ASSIMILE
O valor de NSPT de cada camada é igual à soma do número
de golpes necessários para a cravação do amostrador nos
últimos 30 cm. Os golpes dos primeiros 15 cm não são
levados em consideração no valor final do ensaio de cada
camada, uma vez que pode haver “embuchamento” do solo
dentro do amostrador neste trecho.

1.2 SPT-T

O ensaio de SPT pode estar associado com medidas de torque, passando


a ser denominado de ensaio SPT-T. Este procedimento, desenvolvido
por Ranzini em 1988, consiste na aplicação de um torque por meio
de um torquímetro instalado na parte superior da haste (Figura 4),
possibilitando a rotação do amostrador já cravado no solo (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012, p. 28).

Figura 4 – Equipamento SPT-T

Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 29).

53
A partir dos valores de torque, é possível encontrar o atrito lateral entre
o amostrador e o solo, segundo a Equação 1:

T
Ft =
(40, 53* h − 17, 40)

Equação (1)

Onde Ft é o atrito lateral (kg/cm²), T é o torque (kgf.cm) e h é a


profundidade de cravação do amostrado (cm). A medida de Ft pode
auxiliar na caracterização física do perfil do solo.

1.3 CPT

O ensaio de CPT (Cone Penetration Test), também conhecido por ensaio


de cone ou ensaio de penetração estático, era padronizado no Brasil
pela NBR 12069 (ABNT, 1991), porém esta norma foi cancelada em 2015.
Atualmente, assume-se para a realização do ensaio o método da ASTM
D-3441/2016 (Standard test method for deep quasi-static, cone and friction-
cone penetration tests of soils–Método de ensaio padrão para ensaios de
penetração em quase-estática profunda, cone e fricção-cone dos solos).

Segundo Schnaid e Odebrecht (2012), o ensaio é realizado por meio


da cravação de uma ponteira cônica padronizada no solo com a uma
velocidade constante e também padronizada, o qual possibilita medir
a resistência encontrada tanto na ponta como devido ao atrito lateral
da mesma com o solo. A ponteira cônica tem angulação de ponta de
60° ± 5° e base de 34,8 a 36,0 mm de diâmetro (Figura 5). A velocidade
de cravação é de 20 mm/s ± 5 mm/s. Denomina-se qc como resistência
de ponta, fs resistência lateral e Rf a razão de atrito, sendo esta última
calculada pela relação qc/fs.

54
Figura 5 – Esquema do equipamento CPT e detalhes do cone

Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 42).

O relatório de um ensaio CPT é exemplificado na Figura 6.

Figura 6 – Exemplo de relatório CPT


qc (kPa) fs (kPa) Rf (%) Classificação

Fonte: adaptada de Schnaid e Odebrecht (2012, p. 54).

55
A classificação do solo por profundidade é feita por meio de correlação
de ábacos de classificação (Figura 7), uma vez que neste ensaio não há
coleta de amostras.

Figura 7 – Ábaco de classificação segundo ensaios de CPT

Fonte: Robertson (1990, p. 152).

O ensaio de CPT pode ser de três tipos (SCHNAID; ODEBRECHT,


2012, p. 68):

a. Mecânico: medidas da resistência de ponta (qc) e lateral (fs)


transferidas mecanicamente pelas hastes.
b. Elétrico: medidas de qc e fs diretamente na ponteira por meio de
células de cargas instrumentadas eletricamente.
c. Piezocone: medidas de qc e fs semelhantes ao elétrico somadas
com a medição das pressões neutras (u) geradas durante
a cravação.

Vale ressaltar que, segundo Hachich et al. (1998, p 137-138), os ensaios


de CPT mecânico e elétrico podem gerar algumas diferenças de
resultados, principalmente quando se analisa o atrito lateral. Uma vez
que a maior parte das correlações de resultados de CPT são baseadas
nos ensaios mecânicos, quando são utilizados os parâmetros do ensaio
elétrico, algumas correções devem ser feitas.

56
Segundo Hachich et al. (1998, p. 131), este ensaio tem como vantagens a
rapidez na execução e maior confiabilidade e quantidade de resultados
por camada. Além disso, as características do material prospectado
podem ser obtidas por correlações por meio de um ensaio que minimiza
as perturbações no solo (devido principalmente à variação do estado de
tensões, choques e vibrações) e é reconhecidamente mais preciso que o
SPT. Como desvantagem, no entanto, necessita de um treinamento mais
especializado para sua execução, ou seja, mão de obra qualificada, não
coleta amostra para inspeção visual, há a dificuldade para transportar
o equipamento em regiões de difícil acesso e o equipamento não
penetra camadas muito densas e/ou com a presença de pedregulhos
e matacões, exigindo expertise do profissional que for avaliar seus
critérios de parada.

PARA SABER MAIS


O ensaio CPT com piezocone, denominado de CPT-U,
permite a leitura das pressões neutras geradas durante
o ensaio. O equipamento é dotado de um elemento
filtrante (feito em plástico, cerâmica, aço ou bronze
sinterizado) que deve ser saturado antes do início do
procedimento em campo.

1.4 Ensaio de Palheta (Vane Test)

O ensaio de Palheta, também conhecido como Vane Test, é usado


principalmente em solos argilosos moles para encontrar o valor da
resistência ao cisalhamento não drenada (Su) e é padronizado no Brasil
pela NBR 10905 (ABNT, 1989; SCHNAID; ODEBRECHT, 2012, p. 128).

57
Segundo Schnaid e Odebrecht (2012, p. 128), este procedimento consiste
na cravação de uma palheta em formato de cruz submetida a um torque
para cisalhar o solo por uma rotação constante. O valor do torque (T)
multiplicado pela rotação resulta no valor de Su , uma estimativa de
resistência não drenada (coesão) de argilas moles a muito moles. O
esquema do ensaio está ilustrado na Figura 8.

Figura 8 – Esquema do ensaio de palheta

Fonte: Budhu (2017, p. 140).

A Figura 9 mostra um resultado típico do ensaio de palheta, cujas


leituras possibilitam fazer a leitura de torque, relacionados à rotação
angular, que auxiliam na determinação da resistência não drenada de
argilas moles e muito moles.

58
Figura 9 – Curva torque versus rotação angular (A) e relatório típico
do ensaio de palheta (B)

Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 133-134)

Como é um ensaio específico para um tipo de solo, o conhecimento


prévio do mesmo deve existir para a adequada execução e interpretação

59
dos resultados. Sendo assim, existe algumas recomendações a respeito
disso, como por exemplo:

a. O solo deve possui NSPT ≤ 2, equivalendo a uma qc ≤ 1000 kPa.


b. A maior fração textural do solo deve ser a argila (> 50 % dos grãos
maiores que 0,075 mm).
c. Ausência de lentes de areia.

Diversos fatores podem influenciar nos resultados do Vane Test, como


por exemplo (HACHICH et al., 1998, p. 148-150):

a. Forma e dimensão da palheta: a forma mais comum é a


retangular, sendo padronizada pela NBR 10905 com 130 mm de
altura e 65 mm de largura. Recomenda-se ainda que a relação
entre a área da seção transversal da palheta e a área do círculo
produzido pela rotação da mesma não seja maior que 10 %.
b. Velocidade de rotação: a velocidade padrão é de 6°/min,
mantendo a condição não drenada do solo. Devido à flexibilidade
das hastes em grandes profundidades, recomenda-se dobrar a
velocidade de rotação após os 15 metros.
c. Tempo entre a cravação e a rotação: a NBR 10905 prevê um
intervalo de 1 min. entre o momento em que se crava a palheta
e o instante que se inicia a rotação. Tempos superiores a este
podem favorecer a dissipação da poro-pressão, aumentando a
resistência do solo.

Agora que você aprendeu sobre alguns ensaios de campo para


investigação do subsolo, pode se verificar a importância destes
procedimentos e suas aplicabilidades e vantagens. Os resultados
destes ensaios vão auxiliá-lo na tomada de decisões de quais tipos
de fundações você pode utilizar em determinado perfil de solo, por
exemplo, além de indicar a necessidade de alguma análise adicional,
como ensaios laboratoriais.

60
TEORIA EM PRÁTICA
Um engenheiro geotécnico foi solicitado para realizar
uma análise do subsolo de uma região em que não se
tinha informação alguma. Os recursos não eram muito
abundantes e a equipe disponível para realizar o ensaio de
campo não tinha treinamento para realizar ensaios mais
modernos e tecnológicos. Diante disso, qual tipo de ensaio
de investigação do subsolo você indicaria?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Uma investigação do subsolo foi feita em um solo


arenoso, sendo relatadas as camadas e suas espessuras
e resistências, além do nível d’água. Sabendo disso, quais
dos ensaios abaixo podem ter sidos realizados para
obter tais resultados:

I. SPT-T.

II. CPT.

III. SPT.

IV. Ensaio de Palheta.

Assinale a alternativa correta:

a. Apenas as afirmações I e III estão corretas.


b. Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
c. Apenas as afirmações II e IV estão corretas.

61
d. Apenas as afirmações III e IV estão corretas.
e. Todas as afirmações estão corretas.

2. O ensaio de SPT é um dos métodos de investigação do


subsolo mais usado e barato que existe. A simplicidade
da execução garante bons resultados para a escolha e
execução de fundações. O procedimento consiste na
cravação de 45 cm de um amostrador padrão por meio
de golpes de um martelo de massa de 65 kg e altura de
queda de 75 cm, a cada metro de profundidade. O valor
da resistência NSPT de cada metro equivale:

a. Ao número de golpes dos 15 cm iniciais de cravação


do amostrador.
b. À soma do número de golpes dos 30 cm iniciais de
cravação do amostrador.
c. Ao número de golpes dos 15 cm finais de cravação do
amostrador.
d. À soma do número de golpes dos 30 cm finais de
cravação do amostrador.
e. À soma do número de golpes dos 45 cm totais de
cravação do amostrador.

3. Considerando 4 edificações a serem construídas: A –


área em planta de 198 m²; B – área em planta de 1.900
m²; C – área em planta de 350 m²; e D – área em planta
de 985 m²; defina qual o número de sondagens que deve
ser feito:

( ) 2 sondagens.

( ) 3 sondagens.

62
( ) 5 sondagens.

( ) 8 sondagens.

Assinale a alternativa que contenha a sequência correta


das respostas anteriores:

a. D - B - C - A.
b. A - C - B - D.
c. A - C - D - B.
d. B - A - C - D.
e. C - A - D - B.

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6484: Solo – Sondagens de
simples reconhecimentos com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro. 2020.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8036: Programação de
sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. Rio
de Janeiro. 1983.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10905: Solo – Ensaios de
palheta in situ. Rio de Janeiro. 1989.
ASTM. American Society for Testing and Materials. ASTM D-3441: Standard test
method for deep quasi-static, cone and friction-cone penetration tests of soils. 2016.
BUDHU, M. Fundações e estruturas de contenção. 2. ed. Rio de Janeiro: LCT, 2017.
COSTA BRANCO, C.J.M. Notas de Aula – Fundações e Obras de Terra. 2017.
HACHICH W. et al. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. 762 p.
ROBERTSON, P. K. Soil classification using the cone penetration test. Canadian
Geotechnical Journal, v. 27, n. 1, 1990, p. 151-158.
SCHNAID F.; ODEBRECHT E. Ensaios de campo e suas aplicações à Engenharia de
Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2012. 254 p.
VELLOSO, D.A.; LOPES, F.R.– Fundações. v. 2. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.

63
Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
Resolução: Apenas as afirmações I e III estão corretas.
Correção II – O ensaio CPT não fornece o nível d’água, a não ser que
seja do tipo CPT-U.

Correção IV – O ensaio de Palheta só é utilizado em solos argilosos


moles e fornece a resistência não drenada deste solo.

Questão 2 – Resposta: D
Resolução: O NSPT equivale à soma do número de golpes dos 30
cm finais da cravação do amostrador, sendo os 15 cm iniciais
desprezados.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: A - C - D - B
Edificação A – 198 m²: área menor que 200 m², então faz-se 2
sondagens, no mínimo.

Edificação B – 1.900 m²: área entre 1.200 e 2.400 m², então o


número mínimo de sondagens será = 1.200/200 + 700/400 = 7,75 =
8 sondagens.

Edificação C – 350 m²: área entre 200 e 400 m², então faz-se 3
sondagens no mínimo.

Edificação D – 985 m²: área menor que 1.200 m², então o número
mínimo de sondagens será = 985/200 = 4,93 = 5 sondagens.

64
Ensaios de Laboratório
Autor: Flávia Gonçalves
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Apresentar os ensaios empregados em laboratório


para caracterizar e avaliar o comportamento do solo.

• Conhecer os procedimentos e resultados dos


ensaios apresentados.

• Entender a aplicabilidade de cada ensaio de


laboratório mencionado.
1. Ensaios de Laboratório

Para a completa caracterização de um solo temos a necessidade


de fazer, além da prospecção do solo, análises em laboratório. Os
resultados podem auxiliar na compreensão do comportamento
do material sob o qual uma obra será alocada. Sendo assim, este
capítulo o levará a conhecer alguns dos ensaios que podemos realizar,
compreendendo sua metodologia, finalidade e possíveis interpretações
de resultados.

1.1 Ensaios de parâmetros e índices físicos dos solos

No solo, apenas parte do seu volume total é constituído de partículas


sólidas (fase sólida do solo). O restante é denominado fase porosa,
a qual ainda pode ser subdividida em fase líquida e fase gasosa.
Segundo Sousa Pinto (2006), o comportamento do solo é dependente
das proporções relativas destas partes. A Figura 1 representa de forma
simplificada as fases do solo.

Figura 1 – Representação das fases do solo: (A) em sua ocorrência


natural e (B) em função de seus volumes e pesos, subdivididos
proporcionalmente
(A) (B)

Fonte: adaptado de Sousa Pinto (2006, p. 35).

66
Você deve estar se perguntando, mas em que saber sobre as fases do
solo vai me ajudar a entender melhor quais são e como realizamos os
ensaios de laboratório para caracterizar e determinar o comportamento
de um solo? A resposta está ligada ao conceito dos índices e
parâmetros físicos.

Os índices físicos de um solo são:

a. Umidade gravimétrica (ωgravimétrica): É a relação entre o peso da água


( Pw ) e o peso dos sólidos ( PS ).
b. Peso específico natural do solo ( γ ): É a relação entre o peso ou
massa total (P) e o volume total (V).
c. Peso específico dos sólidos (ou dos grãos) ( γS ): É a relação entre o
peso das partículas sólidas ( PS ) e o seu volume ( VS ).
d. Peso específico aparente seco ( γd ): É a relação entre o peso dos
sólidos ( PS ) e o volume total (V).
e. Densidade relativa dos grãos (G): É a relação entre a peso
específico da parte sólida ( γS ) e o peso específico de água pura de
igual volume a 4ºC ( γw , comumente adotada como 10 kN/m³).
f. Peso específico aparente saturado ( γSat ): É a relação entre a soma
do peso de sólidos ( PS + PS ) e água necessária para saturação pelo
volume total (V).
g. Peso específico submerso ( γSub ): É a subtração do peso específico
da água ( γw ) do peso específico aparente saturado ( γSat ).
h. Índices de vazios (e): É a relação entre o volume de vazios ( Vv ) e o
volume das partículas sólidas ( Vs ).
i. Porosidade (η): É a relação entre o volume de vazios ( Vv ) e o
volume total (V).
j. Grau de Saturação (Sr): É a relação entre o volume de água ( Vw ) e
o volume de vazios ( Vv ).

67
ASSIMILE
Comumente não realizamos as determinações em função
do peso, mas sim da massa do material, isso porque é mais
fácil relacionar as determinações feitas em laboratório a
partir da massa aferida em balanças de precisão, sem a
influencia intrínseca da gravidade. Sendo assim, os termos
de peso específico ( γ ) descritos anteriormente, cuja
unidade é kN/m³, podem ser escritos em unidades mais
usuais de massa específica ( ρ ), com a unidade de g/cm³.

Dentre estes, apenas três podem ser determinados em laboratório. Os


demais são obtidos via correlação matemáticas, uma vez que sabemos
que há uma proporção entre as fases do solo. Para os que podemos
determinar, os procedimentos estão apresentados a seguir:

• Umidade gravimétrica:

A umidade gravimétrica é obtida conforme o Anexo 1 da NBR 6457


(ABNT, 2016a). Pode ser executada em amostras deformadas,
indeformadas ou mesmo moldadas para alguma finalidade, por
exemplo, outro ensaio laboratorial. Independente do tipo de amostra,
o procedimento é realizado com a secagem do material em estufa.
Inicialmente pesa-se a cápsula ( P0 ); em seguida, pesa-se o conjunto
cápsula + solo na umidade que se deseja determinar ( P1 ), por exemplo,
em seu estado natural; este conjunto é levado para secar em estufa
a temperatura de ±105 °C até peso constante; por fim, pesa-se
novamente cápsula + solo ( P2 ). Assim, a umidade gravimétrica pode ser
determinada por meio da Equação 1:

( P1 − P0 ) − ( P2 − P0 ) 
ωgravimétrica (%) 
= × 100 Equação 1
( P2 − P0 )

68
Dois exemplos de cálculo de umidade são apresentados a seguir:

Exemplo 1: Uma amostra de solo úmido em cápsula de alumínio tem


uma massa de 501 g. Após ser seca em estufa foi obtida uma massa
seca da amostra ainda na cápsula de alumínio é igual a 403 g. Qual
o teor de umidade gravimétrica do solo considerando a massa da
cápsula de 39 g?

( 501 − 39 ) − ( 403 − 39 ) 
Resolução: ωgravimétrica (%) 
= = × 100 26,9%
( 403 − 39 )

É bastante comum utilizarmos tabelas para determinar a umidade


gravimétrica de um solo. A relação matemática é a mesma. Veja um
exemplo resolvido.

Exemplo 2: Para uma análise em laboratório foram obtidas as seguintes


informações após a determinação das massas das amostras:

Teor de umidade inicial da amostra (%)

Cap 480 212 380

Mc 6,75 6,84 10,02

Mc+Ms+Mw 17,07 17,3 23,56

Mc+Ms 15,89 16,13 22,02

Mw

Ms

W (%)

Média W (%)

Determine a umidade média das amostras apresentadas.

69
Resolução:

Teor de umidade inicial


da amostra (%)
Cap 480 212 380
Mc 6,75 6,84 10,02
Mc+Ms+Mw 17,07 17,3 23,56
Mc+Ms 15,89 16,13 22,02
Mw 1,18 1,17 1,54  (Mc+Ms+Mw) – (Mc+Ms)
Ms 9,14 9,29 12  (Mc+Ms) – (Mc)
W (%) 12,91% 12,59% 12,83%  Mw ÷ Ms
Média W (%) 12,78%  Média entre os três valores anteriores

Uma observação importante: geralmente, a partir do teor de umidade


médio da amostra é verificada a dispersão de 5%. Caso disperse
mais que o indicado, a cápsula dispersante é descartada e a média é
recalculada. No exemplo, considerando a média de 12,78%, o intervalo
válido está entre 12,14% e 13,42%, ou seja, nenhum valor precisa ser
descartado.

• Peso específico natural do solo:

Para a determinação do peso específico do solo em laboratório devemos


obter a massa do corpo de prova com a mensuração da mesma em
balança. A dificuldade está na determinação do volume do material
moldado. Podemos seguir dois procedimentos: no primeiro moldamos
um cilindro ou um paralelogramo do solo cujas dimensões conhecidas
permitam calcular o volume. A imprecisão deste procedimento é
evidente e, por conta disso, esta determinação não é normatizada. A
segunda metodologia, esta sim estabelecida pela norma NBR 16867
(ABNT, 2020), é baseada na determinação a partir de corpos irregulares,
obtendo-se o volume por meio do peso imerso na água, utilizando uma
balança hidrostática (Figura 2).

70
Figura 2 – Esquema da balança hidrostática utilizada para
determinação do peso específico do solo
A B C

D E F

Nota: A: Moldagem do corpo de prova (esférico de aproximadamente 5 cm de diâmetro);


B: Corpo de prova moldado; C: Pesagem do corpo de prova sem parafina; D: Imersão do
corpo de prova em parafina líquida para impermeabilização; E: Pesagem do corpo de
prova parafinado; F: Pesagem do corpo de prova parafinado imerso em água–esquema da
balança hidrostática utilizada na determinação da massa específica do solo, conforme a
NBR 16867/2020.

Fonte: acervo da autora e adaptadas de NBR 16867–ABNT (2020, p. 6).

A massa do corpo de prova, com diâmetro de aproximadamente 5


cm de diâmetro, é determinada em balança convencional sem e com
revestimento de parafina. A parafina é utilizada para impermeabilizar o
corpo de prova. Em seguida, aplicando os princípios da Leis do Empuxo,
e tendo também a massa do corpo de prova parafinado imerso em
água, o volume do solo é definido aplicando as seguintes equações:

Msolo + parafina( ar ) − Msolo + parafina( imerso )


=
VW ( deslocado ) V=
( solo + parafina )
γw
Equação 2

71
M parafina
V( parafina ) = Equação 3
γ parafina

onde γ parafina é obtido na embalagem da mesma

=Vsolo V( solo + parafina ) − V( parafina ) Equação 4

• Peso específico dos sólidos:

Para a determinação do peso específico dos sólidos, o solo precisa


ser previamente preparado. Para tanto, após a coleta de uma
amostra deformada, o solo deve ser seco ao ar (terra fina seca ao
ar – TFSA) até a chamada umidade higroscópica, caracterizada
pelo material não perder mais água para o meio, mantendo-se
em equilíbrio com o ambiente. A determinação desta umidade é
necessária como um fator para corrigir os dados analíticos, de forma
a torná-los comparáveis. Além de seca ao ar, a amostra de solo
precisa ser destorroada. A Figura 3 mostra uma amostra de solo
antes e após o destorroamento.

Figura 3 – Aparência de um solo antes (A) e após destorroamento (B)


A B

Fonte: Souza Silva (2017, p. 28).

72
Relembrando, o peso específico dos sólidos é a relação entre a
massa de sólidos e o volume de sólidos. A massa de sólidos pode ser
determinada se tivermos a umidade da amostra e a massa úmida
da mesma. Já para a determinação do volume, ao considerarmos a
massa específica da água igual a 1,0 g/cm³, podemos pesar um dado
recipiente totalmente preenchido com água e em seguida preenchido
com solo e água. Com estes dados podemos considerar a diferença
entre eles como sendo a massa (ou volume) de água deslocada. Logo,
temos indiretamente o volume que as partículas sólidas ocupam
dentro do recipiente.

Este procedimento é normatizado pela NBR 6508 (ABNT, 2016c). O


método utiliza picnômetros de 500 mL calibrados (Figura 4) para
partículas que sejam menores que 4,8 mm. Portanto, inicialmente
anota-se a massa da amostra (M), aproximadamente 120 g, e,
conhecendo sua umidade higroscópica, determina-se a massa seca
(M1). Em seguida, a mesma deve ser colocada em um picnômetro,
cujo volume deve ser preenchido com água destilada e novamente
pesado (M2). Adotamos a massa do picnômetro preenchido apenas
com água destilada como M3. Por fim, podemos obter a densidade
dos sólidos por meio da expressão (Equação 5):

M1
ρs = Equação 5
M1 + M3 − M2

Uma observação importante é a de que precisamos retirar as bolhas


de ar presentes na água destilada e no interior dos torrões de solo,
tendo em vista que o volume ocupado pelas bolhas não ocupa o mesmo
espaço da água, prejudicando as pesagens. Sendo assim, a norma indica
a utilização de uma bomba à vácuo.

73
Figura 4 – Representação do ensaio de massa específica dos sólidos
A B C

Fonte: acervo da autora e adaptada de Duarte (2014).

Nota: Figura 4 – A: exemplo de picnômetro (500 mL); B: aplicação de vácuo; C: esquema


de massas determinadas ao longo do ensaio para determinação da massa específica
dos sólidos.

Um exemplo de cálculo da massa específica dos sólidos pode ser


visto a seguir:

Exemplo 3: por meio dos dados obtidos pelo ensaio do picnômetro a


seguir, determine a massa específica dos grãos:

Dados: M1 – Massa de solo seca = 68,52 g; M2 – Massa do picnômetro +


solo + água = 851,25 g; M3 – Massa do picnômetro + água = 807,31 g.

68,52
Resolução: =ρs = 2,79g / cm 3
68,52 + 807,31 − 851,25

PARA SABER MAIS


As fórmulas de definição dos índices físicos não são
práticas para a utilização em cálculos e, assim, acabamos
recorrendo a fórmulas de correlação entre os índices. As
mais comuns são apresentadas a seguir:

74
Mw
Teor de umidade ωgravimétrica =
Ms

M
Massa de sólidos (ou massa seca): Ms =
1+ ω

M γ s . (1 + ω )
Massa específica natural γ nat
= =
V (1 + e )
MS
Massa específica dos sólidos γs =
VS

mS γ γs
Massa específica aparente seca γd
= = =
V (1 + ω ) (1 + e )
γs
Densidade relativa dos grãos G=
γw

MSAT γ s + e . γ w
Massa específica saturada γ sat
= =
V (1 + e )
Massa específica submersa

VV γ s n
Índices de vazios e= = − 1=
VS γ d 1− n

Porosidade

Vw ω . γ s
Grau de Saturação =
Sr =
VV e . γ w

1.2 Ensaio de granulometria do solo

A granulometria do solo é a relação entre as dimensões das partículas


de um solo e as proporções relativas com que as partículas com essas
dimensões ocorrem no solo. Geralmente os solos são divididos em
dois grandes grupos: finos (< 0,075mm) e granulares (> 0,075mm). A
Figura 5 esquematiza esta divisão. Para cada um destes grupos, há um
procedimento a ser realizado em laboratório.

75
Figura 5 – Divisão dos ensaios realizados para a determinação da
granulometria do solo em função dos tamanhos das partículas

Fonte: elaborada pela autora com imagens de Souza Silva (2017, pg. 30-31).

Conforme o prescrito na NBR 7181 (ABNT, 2016e), o ensaio de


granulometria conjunta é executado da seguinte maneira:

• Sedimentações – Determinação da fração fina do solo:

Para a fração fina do solo (partículas menores que 0,075 mm), utiliza-
se o método de sedimentação contínua em meio líquido. A Figura 6
esquematiza a diferença da observação da sedimentação de duas
partículas de diâmetros diferentes em um mesmo meio ao longo do
tempo. É possível compreender que partículas maiores sedimentam
com uma velocidade maior, ou seja, mais rapidamente que partículas
menores. Deste modo, baseado na lei de Stokes, o método descreve
a relação entre o diâmetro das partículas (D) e a sua velocidade de
sedimentação (v) em um meio líquido onde a viscosidade (μ) e peso
específico (g) são conhecidos.

76
Figura 6 – Esquema de sedimentação das partículas ao longo do tempo
A B C D
t0 = 0 t1 t2 t∞=∞

Fonte: adaptada de Dalla Roza (2016).

Conforme a norma, a partir de uma amostra de solo seca ao ar e


destorroada, separa-se uma porção de solo passante pela peneira #10
(2,0 mm). Esta porção deve ser de, aproximadamente, 120 g se for um solo
de caráter granular ou 70 g se o solo tiver caráter fino. A umidade do solo
também precisa ser determinada para que posteriormente tenhamos a
massa seca ou massa de grãos efetivamente utilizada na análise.

Para que as partículas sedimentem isoladamente (sem que partículas


menores sedimentem aderidas a superfície de partículas maiores, o
que nos daria uma falsa ideia das frações do solo), a norma indica a
utilização de um defloculante, que nada mais é do que uma solução
preparada para neutralizar as cargas superficiais das partículas do
solo. São utilizadas 125 cm³ de solução de hexametafosfato de sódio
por análise. Seu preparo contempla a diluição em água destilada de
45,7 g do referido sal para o preparo de 1000 cm³ de solução, além de
tamponamento a um valor de pH entre 8 e 9.

Uma vez colocado em contato o defloculante e o solo, a mistura deve


permanecer em repouso por, pelo menos, 12 horas. Após isso, a
mistura deve ser dispersa em equipamento específico por 15 minutos
e transferida para uma proveta de 1000 cm³, completando com água
destilada até atingir a marca correspondente.

Após a transferência é necessário colocar as partículas em suspensão


por meio de agitação, seja vertendo a proveta ou com o auxílio de
uma haste, para darmos início as leituras. A hora exata do início da

77
sedimentação deve ser anotada. Em seguida, deve-se mergulhar o
densímetro na solução e efetuar as leituras de densidade nos tempos de
sedimentação (t) de 0,5, 1, 2, 4, 8, 15 e 30 minutos, 1, 2, 4, 8 e 24 horas, a
contar do início da sedimentação. É necessário retirar o densímetro da
dispersão nas leituras depois dos dois primeiros minutos e fazer leitura
da temperatura do meio para futuras correções.

Ao finalizar a última leitura, o material da proveta deve ser vertido em


peneira #200 (0,075 mm) e, com água corrente à baixa pressão, deve-se
efetuar a lavagem do material. Apenas partículas maiores que 0,075 mm
de diâmetro equivalente ficarão retidas, ou seja, material granular. Com
o material retido deve ser realizado o ensaio de peneiramento fino.

• Peneiramento fino e grosso – Determinação da fração


granular do solo:

A segunda parte do ensaio de granulometria conjunta é o peneiramento.


Como o próprio nome conota, é a passagem do material por uma sucessão
de peneiras com malhas de aberturas decrescentes. O peneiramento fino
é realizado para a determinação da proporção das partículas que estão,
segundo a ABNT, entre 0,075 mm e 2,0 mm. Já o peneiramento grosso é
utilizado para determinar as proporções das frações maiores que 2,0 mm.

As peneiras utilizadas no ensaio podem ser classificadas como pertencentes


a série normal ou intermediária. A Tabela 1 apresenta a relação entre a
numeração das peneiras e suas aberturas. Ressalta-se que a quantidade de
peneiras utilizadas está relacionada ao delineamento que se quer da curva.
Mais peneiras representarão mais pontos na determinação da curva, o que
fará com que a mesma esteja mais detalhada.

Tabela 1 – Relação entre a numeração das peneiras e suas aberturas


PENEIRAMENTO GROSSO PENEIRAMENTO FINO
Número Abertura (mm) Número Abertura (mm)
3’’ 76,20 10 2,00
2’’ 50,80 12 1,68
1 1/2’’ 38,10 14 1,41

78
1’’ 25,40 16 1,19
3/4’’ 19,00 18 1,000
1/2’’ 12,70 20 0,840
3/8’’ 9,50 25 0,710
4’’ 4,80 30 0,590
5 4,00 35 0,500
6 3,36 40 0,420
7 2,83 45 0,350
8 2,38 50 0,297
- - 60 0,250
- - 70 0,210
- - 80 0,177
- - 100 0,149
- - 120 0,125
- - 140 0,105
- - 200 0,074
- - 270 0,037

Nota: Em azul – série normal; em preto – série intermediária.


Fonte: elaborada pela autora.

Para o peneiramento fino, a partir da amostra lavada e seca em estufa


após a sedimentação, o solo é passado na sequência de peneiras
escolhidas, entre as peneiras # 10 e # 270. A massa de solo retida em
cada peneira deve ser anotada e relacionada com a massa de sólidos
inicialmente aferida para o ensaio de granulometria conjunta.

Já o procedimento para o peneiramento grosso é realizado se partículas


do solo seca e destorroado inicialmente ficarem retidos na # 10. Se isso
acontecer, essa porção de solo deve ser lavada, seca e peneirada na
série de peneiras entre # 3’’ e # 8.

O resultado combinado destas análises nos possibilita plotar uma


curva de distribuição granulométrica do solo. A Figura 7 representa
um exemplo de planilha preenchida com os dados dos ensaios e sua
resposta final: a curva granulométrica do solo.

79
Figura 7 – Exemplo de planilha preenchida com os dados do ensaio
de granulometria conjunta
Análise Granulométrica
NBR : 7181
Classificação : Amostra X Sondagem : X Saco : X Bloco : X
Poço : Prof: X (m)
Local: XXXXXXXXXXX Data : XX/XX/XXXX Operador : XXXXXXXXX
PENEIRAMENTO GROSSO PENEIRAMENTO FINO
TEOR DE UMIDADE TEOR DE UMIDADE
Determinação 1 2 3 Determinação 1 2 3
Cápsula n.o - - - Cápsula n.o 467 59 281
Ms+Mw+Mc (g) - - - Ms+Mw+Mc (g) 62,14 80,95 70,14
Ms+Mc (g) - - - Ms+Mc (g) 60,92 79,28 68,73
Mc (g) - - - Mc (g) 10,83 10,57 10,66
Mw (g) - - - Mw (g) 1,22 1,67 1,41
Ms (g) - - - Ms (g) 50,09 68,71 58,07
ω (%) - - - ω (%) 2,44% 2,43% 2,43%
ω média (%) - ω média (%) 2,43%
ANTES DO ENSAIO - PENEIRAMENTO GROSSO ANTES DO ENSAIO - PENEIRAMENTO FINO
M= - (g) M= 122,00 (g)
ω = - (%) ω = 2,43% (%)
Ms = - (g) Ms = 119,10 (g)
γs = - (g/cm3) ρs = 2,70 (g/cm3)
Obs: Não havia partículas retidas na peneira #10, portanto não foi executado o Obs: Com defloculante
ensaio de peneiramento grosso Hexametafosfato de sódio
Defloculante : 125 ml Densímetro: 166
Tipo : hexametafosfato
Volume :
RESULTADOS - PENEIRAMENTO GROSSO RESULTADOS - PENEIRAMENTO FINO
Peso da amostra seca Peso da amostra seca
# Diâmetro (mm) Pp ( % ) # Diâmetro (mm) Pp ( % )
Retido (g) Que passa (g) Retido (g) Que passa (g)
1'' 25,000 0,00 - 100% 10 2,000 0,00 119,10 100,00%
3/4'' 19,000 0,00 - 100% 16 1,200 8,17 110,93 93,14%
1/2'' 12,500 0,00 - 100% 30 0,600 5,08 105,85 88,88%
3/8'' 9,500 0,00 - 100% 40 0,420 18,89 86,96 73,02%
4 4,800 0,00 - 100% 50 0,300 6,45 80,51 67,60%
100 0,150 15,64 64,87 54,47%
200 0,075 11,90 52,97 44,48%
SEDIMENTAÇÃO
Horário t L T Lc ρw μ Di P (< Di )
Data Correção (AL) Z
(hh:mm) (min) leitura ( °C ) Leit. Corrig. (g/cm³) ( Pa*s ) ( mm ) (%)
0,5 35,5 25,0 4,6 30,9 14,07 0,9971 9,13 0,0679 41,13%
1 27,5 25,0 4,6 22,9 15,56 0,9971 9,13 0,0505 30,48%
2 26,0 25,0 4,6 21,4 15,84 0,9971 9,13 0,0360 28,49%
5 24,2 25,0 4,6 19,6 16,18 0,9971 9,13 0,0230 26,09%
10 22,1 25,0 4,6 17,5 16,57 0,9971 9,13 0,0165 23,30%
20 20,0 25,0 4,6 15,4 16,97 0,9971 9,13 0,0118 20,50%
40 18,0 25,0 4,6 13,4 17,34 0,9971 9,13 0,0084 17,84%
80 15,6 23,0 4,8 10,8 17,83 0,9976 9,56 0,0062 14,38%
240 11,7 26,0 4,3 7,4 18,46 0,9968 8,92 0,0035 9,85%
1440 8,0 27,0 3,8 4,2 19,06 0,9965 8,72 0,0014 5,59%

Diâmetro (mm) Pp (%) 100%

25,000 100,00%
90%
Porcentagem que passa ACUMULADA (%)

19,000 100,00%
12,500 100,00%
80%
9,500 100,00%
4,800 100,00%
70%
2,000 100,00%
1,200 93,14%
60%
0,600 88,88%
0,420 73,02%
50%
0,300 67,60%
0,150 54,47%
40%
0,075 44,48%
0,0679 41,13%
0,0505 30,48% 30%
0,0360 28,49%
0,0230 26,09% 20%
0,0165 23,30%
0,0118 20,50% 10%
0,0084 17,84%
0,0062 14,38% 0%
0,0035 9,85% 0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
0,0014 5,59%
Diâmetro dos grãos (mm)

Fonte: elaborada pela autora.

80
Nota: células em amarelo – anotar durante o ensaio; L: leitura do densímetro; T:
temperatura no momento da leitura; AL: correção da leitura; LC: leitura corrigida; Z:
altura de queda da partícula – dependente da curva de calibração do densímetro –
são duas equações de primeiro grau, a primeira representa a sedimentação nos 4
primeiros minutos e a segunda os demais; ρw: massa específica da água na temperatura
da leitura; μ: viscosidade da água na temperatura da leitura; Di: diâmetro equivalente

– ; P(< Di ) : porcentagem representativa menor que o diâmetro


equivalente - .

1.3 Ensaios de limites de consistência do solo

É a quantidade de água no solo que determina seu estado de


consistência. Quatro são os estados de consistência do solo, divididos
por 3 limites de consistência: limite de liquidez, limite de plasticidade e
limite de contração (Figura 8).

Figura 8 – Estados e limites de consistência

Fonte: elaborada pela autora.

• Limite de liquidez

A determinação do limite de liquidez é realizada conforme a NBR


6459 (ABNT, 2016b). A partir de uma amostra preparada (seca ao ar e
destorroada), uma porção de solo é colocada em um almofariz, onde
adiciona-se água destilada e se homogeneiza a massa até formar uma
pasta uniforme. Neste momento, a amostra é transferida para Concha

81
de Casagrande (Figura 9(A)), sendo devidamente moldada com cerca
de 1 cm de espessura na parte central da concha e preenchendo,
aproximadamente, 2/3 de seu volume total. Com o auxílio de um cinzel,
uma ranhura deve ser aberta na parte central da amostra (Figura 9(B)).
As inclinações dos taludes criados pela ranhura devem ser 60°. Neste
momento são realizados golpes girando-se a manivela do aparelho a
uma velocidade de duas vezes por segundo, deixando com que a concha
caia em queda livre e bata em uma base que impossibilita o repique,
até ser verificado que os pés dos taludes formados pelo cinzel fechou,
aproximadamente, 1/2 polegada (13 mm)–Figura 9(C). Este é o critério de
parada do ensaio.

Figura 9 – Ensaio de limite de liquidez em execução


A B C

Fonte: adaptada de Souza Silva (2017, p. 32).

Quando atingido o critério de parada, retira-se uma porção de solo


da concha para determinação do teor de umidade do solo ensaiado.
Repete-se esse procedimento para pelo menos cinco teores de umidade
diferentes. Deste modo, para cada número de golpes haverá um teor de
umidade determinado. Com este par-ordenado, é traçado o gráfico do
número de golpes x teor de umidade, onde o número de golpes deve
estar em escala logarítmica (Figura 10). Em seguida, deve-se ajustar uma
reta sobre os pontos amostrais e o limite de liquidez será a umidade
necessária para 25 golpes.

82
Figura 10 – Determinação do limite de liquidez

Fonte: elaborada pela autora.

• Limite de plasticidade

A determinação do limite de plasticidade é realizada conforme a NBR


7180 (ABNT, 2016d). Novamente, a partir de uma amostra preparada
(seca ao ar e destorroada), a uma porção de solo é adicionado água
destilada. Com esta massa de solo, o objetivo é moldar um cilindro
semelhante ao padrão, também chamado de gabarito (diâmetro de
3 mm e comprimento de 100 mm), onde este esteja apresentando
leves fissuras superficiais (Figura 11). Se o cilindro moldado estiver liso,
significa que sua umidade está acima do limite de plasticidade. Caso
contrário, se o cilindro fissurar exageradamente ou mesmo quebrar,
significa que sua umidade está abaixo da umidade que caracteriza o
referido limite. Por fim, para a determinação do limite de plasticidade,
após a moldagem de três cilindros válidos, é feita a média das umidades
determinadas para os cilindros.

83
Figura 11 – Cilindro de amostra do solo (acima) e gabarito (abaixo)

Fonte: Souza Silva (2017, p. 33).

Com estes dois limites é possível definir o índice de plasticidade (IP), por
meio da seguinte equação:

IP = LL – LP Equação 6

A partir disso, o solo pode ser classificado em fracamente plástico


(1<IP≤7), mediamente plástico (7<IP≤15) ou altamente plástico (IP>15).
Fisicamente representa a quantidade de água que seria necessário
acrescentar a um solo para que ele passasse do estado plástico ao
liquido. Outras observações importantes que o IP pode remeter é, por
exemplo, que quanto maior o valor do IP, mais plástico é o solo, ou
mesmo que as argilas são tanto mais compressíveis quanto maior IP.

1.4 Ensaio de compactação do solo

O ensaio de compactação do solo é útil para diversas obras, como


barragens, rodovias e aterros. Trata-se da redução do índice de vazios
do solo, sob ação de uma força mecânica (esforço de compressão). Por
meio da compactação, há a reacomodação da fase sólida e variação na
fase gasosa, mas sem perda da fase líquida (Figura 12).

84
Figura 12 – Esquema para compreensão da compactação do solo

Fonte: elaborada pela autora.

Como proporciona um maior entrosamento dos grãos, a compactação


possibilita ao solo uma melhoria nas suas propriedades mecânicas e
hidráulicas para os fins de construção civil com aumento da sua resistência
ao cisalhamento, diminuição das variações de volume quando solicitado,
reduções da compressibilidade e permeabilidade, entre outros.

É a partir do ensaio realizado em laboratório que é possível


determinar as características de máxima eficiência de compactação,
a fim de que em campo se replique tais determinações. E como este
ensaio é realizado? Conforme é prescrito na norma brasileira NBR
7182 (ABNT, 2016f), são necessários pelo menos 5 pontos, dois no
chamado rama seco, dois no ramo úmido e um próximo ao ponto
máximo da curva, variando os teores de umidade entre si. A partir de
um solo preparado (seco ao ar e destorroado), acrescente-se certa
quantidade de água destilada. A massa é homogeneizada e inicia-se
o processo de compactação. Para a compactação em energia normal
de Proctor, a compactação é realizada em 3 camadas com espessuras
finais aproximadamente iguais, compactadas com 26 golpes por
camada de um soquete padrão (2,5 kg caindo a de uma altura de
30,5 cm). Entre as camadas é importante escarificar o topo de cada
camada, a fim de se promover a aderência entre as camadas. Após
finalizar a terceira camada, o corpo de prova deve ser rasado, tendo
as bordas do cilindro com guia, não podendo faltar material, nem tão
pouco ultrapassar mais do que um centímetro de altura.

85
É importante mencionar que após a compactação é necessário anotar a
massa de solo compactado que preenche o cilindro e retirar 3 cápsulas
de solo para determinação de umidade.

Com os cinco pontos determinados é possível plotar a curva de


compactação do solo (teor de umidade x massa específica seca) – Figura 13.

Figura 13 – Representação de uma curva de compactação do solo


CURVA DE COMPACTAÇÃO DE SOLOS
Local: Mandaguaçu Amostra: 2 - 2600 g
Energia: Normal γs: 2,55 (g/cm³)
Dados do cilindro
n.º: 8 Massa: 4450 (g) Volume: 959,91 (cm³)
Água Adicionada
Umidade do solo (seco em laboratório): 3,2 (%)
Umidade ótima ESTIMADA: 14 (%)
Ponto 1 2 3 4 5 6
Volume (mL) 240 255 272 285 300
Massa específica
Ponto 1 2 3 4 5 6
Cilindro + Solo (g) 6234 6330 6402 6394 6289 -
Solo (g) 1784 1880 1952 1944 1839 -
γ (g/cm³) 1,86 1,96 2,03 2,03 1,92 -
Teor de umidade
Ponto 1 2 3 4 5 6
Nº cápsula A B C D E -
Mc 20,13 18,63 16,61 19,35 15,29 -
Mc + Ms + Mw 58,19 55,32 43,25 53,28 33,46 -
Mc + Ms 54,89 51,42 39,9 48,02 30,23 -
Mw 3,3 3,9 3,35 5,26 3,23 -
Ms 34,76 32,79 23,29 28,67 14,94 -
W 9,49% 11,89% 14,38% 18,35% 21,62% -
Massa específica aparente seca
Ponto 1 2 3 4 5 6
γd (g/cm³) 1,70 1,75 1,78 1,71 1,58 -
Índice de vazios (e) 0,50 0,46 0,43 0,49 0,62 -
Curvas de saturação
Ponto 1 2 3 4 5 6
S (% - γd máximo) 1,97 1,87 1,77 1,63 1,53 -
S (100 %) 2,05 1,96 1,87 1,74 1,64 -

Fonte: elaborada pela autora.

86
O ponto máximo da curva representa o ponto de máxima eficiência
de compactação, cujo par ordenado que o representa é denominado
de ωótima e ρd máx . No exemplo apresentado na Figura 13, estes valores
seriam, aproximadamente, 14,4 % e 1,78 g/cm³, respetivamente.

Agora, sim, você aprendeu sobre alguns ensaios de laboratório para


investigação do solo e entende a importância destes procedimentos,
bem como suas aplicabilidades e vantagens. Quando comparamos
ensaios de campo com os ensaios de laboratório podemos afirmar
que os ensaios de campo podem ser menos precisos, já que precisam
de correlações empíricas para a interpretações dos parâmetros
obtidos, porém possibilitam uma amostragem quase integral e
reconhecimento das camadas de um perfil. Em contrapartida, os
ensaios de laboratório avaliam poucas amostras, o que pode dar a
ideia de pouca representatividade do todo, mas são mais precisos.
Disso podemos concluir que estes dois tipos de investigação são
complementares, ou seja, quando ambos podem ser executados para
o mesmo estudo geotécnico, a apreciação dos resultados será mais
assertiva.

TEORIA EM PRÁTICA
Imagine que você possa ser contratado para fazer uma
avaliação do solo de uma obra de um barramento de
água. Considerando que você tem previamente em mãos
apenas algumas sondagens tipo SPT, quais demais ensaios
poderiam ser necessários para a completa compreensão do
escopo onde a obra será executada? Há algum outro ensaio
que, mesmo que não citado nesta unidade, você pediria
para caraterização do solo do local?

87
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Ao analisar um solo em laboratório, o responsável


técnico determinou que a umidade natural do solo era
de 28%, o peso especifico natural de 17,2 kN/m³, e o
peso específico dos sólidos de 27,2 kN/m³. Considerando
estes dados, julgue as afirmações a seguir:

I. A massa específica aparente seca deste solo é de


1,34 g/cm³.

II. A porosidade é de 102%.

III. O grau de saturação é maior que 100%.

IV. O percentual de água (umidade), em relação a massa


seca, a ser adicionada para saturar o solo é de 9,5%.

Assinale a alternativa correta:

a. Apenas as afirmações II e III estão corretas.


b. Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
c. Apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d. Apenas as afirmações I, III e IV estão corretas.
e. Todas as afirmações estão corretas.

2. A granulometria do solo é a relação entre as


dimensões de suas partículas e as proporções
relativas com que as partículas com essas dimensões
ocorrem no solo. Sobre este ensaio realizado, assinale
a alternativa correta:

a. O ensaio é realizado por meio de uma única técnica, o


peneiramento das partículas.

88
b. Quando as proporções são determinadas, as mesmas
podem ser divididas em argila, areia ou pedregulho.
c. Geralmente os solos são divididos em dois grandes
grupos: fração fina (< 0,075mm) e fração granular (>
0,075 mm).
d. Para a realização do ensaio de granulometria
do solo é necessária uma coleta de amostra de
solo indeformada, mantendo suas características
estruturais.
e. Não há uma norma de padronização para a realização
do ensaio de granulometria.

3. A determinação do limite de liquidez é realizada


conforme a NBR 6459, de 2016. Considerando as etapas
abaixo, sequencie as etapas de realização do ensaio:


A – Aplicar golpes até que o pé do talude feche ½’’;
quando isso acontecer, anotar o número de golpes e
determinar o teor de umidade da amostra ensaiada.

B – Passar a pasta de solo para a concha de Casagrande


com uma altura na parte central de cerca de 1 cm,
preenchendo 2/3 da mesma.

C – Com um cinzel, provocar uma ranhura cujos taludes


tenham inclinação de 60º.

D – A partir do solo preparado, acrescente certa


quantidade de água destilada e homogenize a massa.

E – Plotar os resultados de pelo menos 5 pontos


amostrais, ajustar uma reta média e determinar a
umidade que nesta reta coincide com 25 golpes.

89
Assinale a alternativa que contenha a sequência correta
das respostas anteriores:

a. D - B - C - A - E.
b. A - C - E - B - D.
c. A - E - C - D - B.
d. B - A - C - D - E.
e. C - E - A - D - B.

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6457: Preparação de
amostras de solo para ensaio de compactação e ensaios de caracterização – Método
de ensaio. Rio de Janeiro, 2016a Versão corrigida: 2016.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6459: Determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2016b Versão corrigida: 2017.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6508: Grãos de Solos
que Passam na Peneira 4,8 mm – Determinação da massa específica, da massa
específica aparente e da absorção de água. Rio de Janeiro, 2016c Versão
corrigida: 2:2017.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7180: Solo – Determinação
do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016d.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181: Solo – Análise
Granulométrica. Rio de Janeiro, 2016e Versão corrigida: 2:2018.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182: Solo – Ensaio de
compactação. Rio de Janeiro, 2016f Versão corrigida: 2:2020.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 16867: Solo – Determinação
da massa específica aparente de amostras indeformadas, com emprego – Método
da balança hidrostática. 2020.
DALLA ROZA, A.E. Granulometria dos solos. 2016. 50 p. Disponível em: https://
slideplayer.com.br/slide/5676064/. Acesso em: 19 jul. 2019.
DUARTE, N. Mecânica dos solos. 2014. 34 p. Disponível em: https://edificacoesjt.
files.wordpress.com/2014/09/aula-5-c3adndices-fc3adsicos-alunos.pdf. Acesso em:
20 jul. 2019.
SOUSA PINTO, C. de S. Curso básico de Mecânica dos Solos: com exercícios
resolvidos em 16 aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 355p.

90
SOUZA SILVA, A.C. Caracterização geotécnica por meio das metodologias
SUCS e TRB para os principais solos encontrados em Palmas–TO. Monografia
(Bacharelado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Tocantins. Palmas,
2017. 51p.
VARELA, M. Apostila de Mecânica dos Solos. 2016. 52 p. Disponível em: http://
docente.ifrn.edu.br/marciovarela/disciplinas/mecanica-dos-solos. Acesso em: 12
jul. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
ρ 1,72
Verificação =
I – ρd = = 1,3438 g / cm ³
(1 + w ) (1 + 0,28 )
Correção II – O índice de vazios é de 1,02 ou 102%.
ρs 2,72
e= − 1= − 1= 1,02 ou 102%
ρd 1,3438

A porosidade é de 50,5%.
e 1,02
=n = = 0,505 ou 50,5%
(1 + e ) (1 + 1,02 )
Correção III – O grau de saturação do solo, diferente do teor de
umidade gravimétrica, não pode ser superior a 100%, uma vez
que representa, fisicamente, o volume de seus vazios que estão
preenchidos com água. Neste exercício, o grau de saturação
vale 74,7 %.

=Sr
(=
w × ρs ) ( 0,28 × 2,72 )
= 0,747 ou 74,7%
( e × ρw ) (1,02 × 1)

=Sr 1=
e w ?
s(w × ρ )
→1
(w × 2,72 )
→ w 0,375 ou 37,5%
Verificação IV=
– Sr ( e × ρ = =
w) (1,02 × 1)
37,5% −28% =
9,5%

91
Questão 2 – Resposta: C
Resolução: Geralmente os solos são divididos em dois grandes
grupos: fração fina (< 0,075mm) e fração granular (> 0,075mm).
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: D - B - C - A - E.

92
Classificação dos solos
Autor: Mateus Amarante Constancio
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Entender o conceito de solo e sua origem.

• Conhecer os sistemas de classificação dos solos.

• Entender os ensaios/procedimentos de classificação


dos solos.
1. Solo, sua origem e classificações

Geologicamente, a terra compreende três partes principais, sendo


o núcleo, o manto e a crosta. Para a engenharia civil, é importante
entender melhor os conceitos sobre os principais elementos da crosta
terrestre que compreendem os minerais, as rochas e os solos.

De uma forma geral, os minerais são elementos químicos ou


combinações químicas, naturais, inorgânicos com uma estrutura atômica
ordenada. Os minerais são formados pelo resfriamento do magma.

Um conjunto de minerais formam as rochas, que podem ser


unimerálicas ou pluriminerálicas. Estas rochas, de acordo com a
sua formação, podem ser ígneas ou magmáticas, sedimentares ou
metamórficas. A figura 1 a seguir representa o ciclo evolutivo das rochas.

Figura 1 – Ciclo evolutivo das rochas

Fonte: Das (2014, p .12).

94
Essas rochas formadoras da crosta podem sofrer a sua decomposição
através do intemperismo físico ou químico, formando os solos.
O intemperismo físico compreende a desintegração das rochas
formando sedimentos sem alterar a composição mineralógica da
rocha mãe, por exemplo, a ação física dos vegetais ou variação da
temperatura. O intemperismo químico compreende as reações
químicas entre os minerais constituintes da rocha e soluções aquosas
de diferentes teores, como, por exemplo, a oxidação, a hidratação e
a hidrólise. Portanto, de uma maneira resumida e compreendendo
o ciclo evolutivo dos materiais da crosta, o solo é o resultado da
decomposição das rochas através do intemperismo físico e químico.

Devido à heterogeneidade do solo e à grande variedade de sua


aplicação, é difícil estabelecer apenas um único critério para a sua
classificação. Analisando o problema sob este ponto de vista, pode
se concluir que há a necessidade de existirem vários sistemas de
classificação, cada qual procurando atender de maneira específica os
vários campos da geotecnia. Os vários sistemas existentes procuram
posicionar o solo estudado dentro de um grupo, para o qual
determinadas propriedades específicas já estão definidas de maneira
qualitativa e ou quantitativa.

Os principais sistemas de classificação de solo e que interessam


particularmente à Mecânica dos Solos são: classificação quanto a
origem, quanto a granulometria e a classificação unificada de solos.

2. Classificação dos solos quanto a sua origem

Quanto à origem, os solos podem ser classificados como solos residuais,


transportados, orgânicos e lateríticos.

95
2.1 Solos residuais

Solo residual é o solo originado da decomposição da rocha mãe e que


não sofreu transporte, encontrando-se, portanto, sobre ela. Pode ser
jovem (Saprolito; Sapros = podre, Litos = pedra) ou maduro.

Pode guardar características da rocha mãe (quando jovem), como cor,


textura, xistosidade e estruturas reliquiares. Além disso, apresentam
granulometria heterogênea e anisotropia em função da rocha mãe.

PARA SABER MAIS


Estruturas reliquiares geram grande influência nas
propriedades do solo, causando anisotropia, resistência,
permeabilidade e deformabilidade em função da
granulometria/rocha mãe.

2.2 Solos transportados

Solo transportado é aquele transportado por um agente externo.

Exemplos:

• Transportado pela água → Aluvionar.


• Transportado por gravidade → Coluvionar.
• Transportado por ventos → Eólicos.

Os solos transportados geralmente apresentam estratificação,


anisotropia da resistência, permeabilidade e deformabilidade (em
função da granulometria).

A figura 2 define resumidamente os solos quanto a sua origem, dividindo


em residuais e transportados e demonstra agente e a nomenclatura
utilizada nos solos.

96
Figura 2 – Fluxograma para identificação de tipos de solo
quanto a origem

Fonte: adaptada de Vaz (1996, p.129).

2.3 Solos lateríticos

Os solos lateríticos são solos de regiões tropicais, de cor avermelhada, com


presença de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. Caracterizados por
serem argilas em grumos com comportamento de granulometria maior.
São porosos, compressíveis e muito resistentes quando compactados.

2.4 Solos orgânicos

Os solos orgânicos são solos de cor escura, com material orgânico


decomposto misturado com minerais, fibroso, com granulometria fina,
alta compressibilidade e baixa resistência.

97
3. Classificação dos solos quanto a sua
granulometria

A classificação granulométrica procura selecionar os solos em função do


tamanho médio de suas partículas minerais constituintes. No Brasil, a
NBR 6502 (ABNT, 1995) que trata da terminologia das rochas e dos solos
traz as seguintes definições:

• Bloco de rocha – fragmentos de rocha com diâmetro


superior a 1,0 m.

• Matacão – fragmento de rocha com uma dimensão compreendida


entre 200 mm e 1,0 m.

• Pedregulho – solos formados por minerais ou partículas de rocha,


com diâmetro compreendido entre 2,0 e 60,0 mm. Divide-se
quanto ao diâmetro em: pedregulho fino (2 a 6 mm), pedregulho
médio (6 a 20 mm) e pedregulho grosso (20 a 60 mm).

• Areia – formado por minerais ou partículas de rochas com


diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. As areias de
acordo com o diâmetro classificam-se em: areia fina (0,06 mm a
0,2 mm), areia média (0,2 mm a 0,6 mm) e areia grossa (0,6 mm
a 2,0 mm).

• Silte – formado por partículas com diâmetros compreendidos


entre 0,002 mm e 0,06 mm.

• Argila – solo de graduação fina constituída por partículas com


dimensões menores que 0,002 mm.

98
3.1 Ensaio de Peneiramento e Sedimentação (Curva
granulométrica)

A análise granulométrica dos solos é o processo que visa definir,


para determinadas faixas pré-estabelecidas de tamanho de grãos, a
porcentagem em peso que cada fração possui em relação à massa
total da amostra em análise. Este ensaio poderá ser realizado de
três maneiras diferentes: apenas o peneiramento para material
granular (areias e pedregulhos), a sedimentação para solos finos
(argilas e siltes) ou, ainda, uma análise granulométrica conjunta,
compreendendo tanto o peneiramento quanto a sedimentação, para
os solos com partículas finas e grossas (NOGUEIRA, 1995).

A análise conjunta (peneiramento + sedimentação) será apenas


utilizada em solos que apresentem mais que 5% de seus grãos
passando na peneira de número #200 (0,075 mm).

A curva granulométrica resultante, juntamente com a escala que


define os intervalos de variação dos tamanhos das partículas para
cada um dos grupos de solo, será utilizada na classificação textural
dos solos. Além de dar nome ao solo, a curva granulométrica
permite, também, obter os valores do diâmetro efetivo e dos
demais diâmetros necessários ao cálculo dos coeficientes de não
uniformidade e de curvatura, dos materiais granulares ou da fração
grossa de um solo (NOGUEIRA, 1995).

A análise granulométrica é regida pela ABNT NBR 7181:2016 Versão


Corrigida 2:2018 (ABNT, 2018) e a preparação da amostra é regida
de acordo com a ABNT NBR 6457:2016 Versão corrigida:2016
(ABNT, 2016).

99
Figura 3 – Exemplo de peneiras

Fonte: acervo do autor.

A determinação da granulometria do solo, no ensaio de sedimentação,


é baseada na Lei de Stokes. Essa lei relaciona o tamanho da partícula
com a velocidade com que ela sedimenta em um meio líquido. Dessa
forma, quanto maior a partícula, mais rapidamente ela irá se depositar
no fundo da proveta de ensaio (RIOS, 1990).

As figuras a seguir mostram o ensaio de sedimentação, podendo notar a


diferença no tempo de sedimentação das partículas (fase inicial e final).

Figura 4 – Fase inicial e final do ensaio de sedimentação

Fonte: acervo do autor.

A curva de distribuição granulométrica é apresentada em gráfico


semilogarítmico (figura 5), onde, em abscissa, constam os logarítmicos
dos tamanhos das partículas e, em ordenadas, a porcentagem
acumulada, em peso, do solo que tem os seus grãos menores do que
um dado diâmetro (porcentagem que passa).

100
Figura 5 – Curva granulométrica

Fonte: acervo do autor.

A partir desta curva granulométrica, ou mais especificamente das


frações proporcionais de cada subdivisão de tamanhos das partículas
de solo, é possível, por exemplo, fazer uma classificação prévia do solo
por meio do triângulo textural de Ferret (Figura 6). Esta textura auxilia
na tomada de decisão de projetos e obras, uma vez que ajuda a apontar
características preponderantes do comportamento do solo.

Figura 6 – Triângulo de Ferret

Fonte: Lemos e Santos (1996, p. 83).

101
ASSIMILE
A análise granulométrica dos solos é uma das
caracterizações obtidas em laboratório e uma das mais
importantes para a mecânica dos solos. Com ela se pode
classificar os solos, dando-lhe um nome em função da
sua granulometria de forma a se ter uma ideia do seu
comportamento, mas que deve ser feito com critério para
não gerar resultados equivocados.

3.2 Ensaio de classificação táctil - visual dos solos

O objetivo deste ensaio é o de classificar aproximadamente amostras


de solos amolgadas através de testes físicos simples, sem a exigência
de equipamentos específicos e métodos complexos de laboratório.

Para classificação dos solos é necessário uma série de ensaios de


laboratório que no campo nem sempre estão disponíveis ou são
possíveis de realizar. Este ensaio experimental mostrou algumas
técnicas empregadas para que possamos analisar um solo in situ
utilizando apenas o tato, a visão, olfato e equipamentos simples
que podem ser adaptados por outros, sem a necessidade de ser
específicos de laboratório.

Os materiais básicos utilizados para este tipo de ensaio simples são:


uma vasilha para colocar as amostras deformadas, bisnaga de água,
peneira número 40 (0,42 mm), proveta, espátulas e placa de vidro.

O ensaio táctil – visual de solos, inicia-se primeiramente


determinando sua procedência, em qual região a amostra de solo
se encontra, o nome, se conhecido, e outras informações que
possam ser úteis. Após a primeira verificação, inicia-se a análise para

102
determinar a cor, o odor e a textura do solo e a ocorrência ou não de
matéria estranha como raízes, conchas ou matéria orgânica. A porção
grossa do solo, se existente, é observada sua graduação, a forma das
partículas e a mineralogia existente. A porção fina se analisa através
da resistência à compressão, à dilatância e à plasticidade e, por
último, é verificada a dispersão do solo em um fluido (água).

Na análise tátil-visual, é verificada a presença de diferentes


granulometrias, como exemplo a presença dos grãos maiores,
como pedregulhos, areias e, também, de granulometria fina, que
são analisados com o tato, podendo diferenciar as areias, que são
ásperas ao tato e apresentam partículas visíveis a olho nu, os siltes,
que são menos ásperos que as areias, mas perceptíveis ao tacto, mas
que são impossíveis distingui-los das areias finas e as argilas. Quando
misturadas com água e em contato com os dedos, apresentam uma
semelhança com pasta de sabão escorregadia e, quando secas,
proporcionam ao tato a sensação de farinha (STANCAT et al., 1981).

Para solos finos, a análise se dá com outros tipos de observações


e que são um pouco mais difíceis de identificar a diferença entres
os solos, necessitando certa experiência para identificar essas
diferenças.

Primeiramente, deve-se passar a amostra na peneira de número


40 e o que passar deve-se adicionar água até a formação de uma
pasta. Os ensaios realizados são o de plasticidade, onde se pega uma
porção dessa pasta e forma-se um filamento (Figura 7), rolando a
pasta em uma placa de vidro ou palma da mão. Depois de formado
o filamento, ele é balançado e é verificado o tempo que leva para
quebrar, a amostra pode ser considerada fraca, média, rígida ou dura
(BARROS, 2008).

103
Figura 7 – Filamento do ensaio de plasticidade

Fonte: acervo do autor.

No ensaio de dilatância, deve-se colocar a pasta na palma de uma mão


virada para cima em forma de concha e com a outra bater nas costas
da que estiver com a pasta para provocar vibrações na mesma. Em solo
que apresenta dilatância ocorre o surgimento de água na superfície
da pasta, e quando se abre a mão, o solo rapidamente se fissura e
torna a absorver a água, indicando facilidade de movimento através
das partículas ou presença de solos grossos, o que se diferencia da
presença de solos finos, em que a fissuração é reduzida e o surgimento
e desaparecimento da água entre as partículas é lento ou não existe, o
que indica a dificuldade de mobilidade da água aderente ou coesa às
partículas de solo (STANCAT et al., 1981). A rapidez com que isso ocorre
é o que permite classificar a dilatância do solo em rápida, média, lenta
e nenhuma.

A resistência à compressão dos solos é o quanto resistente é a amostra


quando comprimida entre os dedos. Neste ensaio, deve-se formar
cubos de 1 cm3 aproximadamente com a pasta e deixá-los secar ao
ar durante 24 horas. Após esse tempo, os cubos são pressionados
com os dedos polegar e indicador, e de acordo com a resistência dos
cubos comprimidos são considerados muito baixa, baixa, média, alta e
muito alta.

O ensaio de dispersão (figura 8) é iniciado colocando uma quantidade


de amostra dentro de um frasco, no caso utilizamos uma proveta, e
completado com água. Esse frasco é agitado e colocado em repouso

104
para que as partículas se sedimentem. As areias sedimentam em torno
de 60 segundos, os siltes demoram de 15 a 60 minutos e as argilas
podem levar horas para sedimentarem (BARROS, 2008). Com este ensaio
é possível determinar aproximadamente as porcentagens dos tamanhos
das partículas existentes na amostra.

Figura 8 – Ensaio de dispersão

Fonte: acervo do autor.

Um erro que pode ocorrer na análise do ensaio de dispersão são os


agregados dos solos finos estarem agregados às partículas maiores e
serem resistentes à desagregação mecânica e no ensaio sedimentarem
com maior rapidez, sendo necessária a adição de defloculantes
(STANCAT et al., 1981).

Os ensaios para análise tátil–visual demonstram como devem ser


feitas as primeiras observações que podem nos dar uma conclusão
aproximada de um solo em campo quando não se tem condições
de levar amostras até o laboratório. São ensaios simples, mas que
devem ser feitos com critérios e bom senso para uma avaliação correta
da análise.

105
A experiência e o constante manuseio comparando os resultados
obtidos em campo com os de laboratório fazem com que o profissional,
com o tempo, se torne apto para conseguir classificar os solos com certa
aproximação À classificação real do solo.

3.3 Classificação Unificada de Solos

Classificação proposta em 1952 pelo U.S. Bureau of Reclamation e U.S.


Corps of Engineers, que tem como origem uma classificação proposta
por Arthur Casagrande para classificar solos em obras na construção de
aeroportos.

Nesta classificação, cada grupo de solos é representado por duas letras:


a primeira relacionada à fração predominante do mineral presente
no solo e a segunda, às características dessa fração. A faixa de solos
granulares foi dividida em dois grupos, pedregulhos (G-gravel) e areias
(S-sand), com as subdivisões:

• W (well): bem graduado, solo não uniforme.

• P (poor): mal graduado, solo uniforme.

• M (mo; mjala; silte): fração fina não plástica.

• C (clay; argila): fração fina plástica.

A faixa dos solos finos foi inicialmente dividida em dois grupos, ou seja,
um grupo formado pelos solos finos com baixa compressibilidade e
outro com alta compressibilidade, representados pelos sufixos L (low)
e H (high). Em cada um dos grupos existem três subdivisões que levam
em conta a predominância da fração fina (silte e argila) e a presença
de matéria orgânica (O). Um solo essencialmente orgânico, turfoso
e altamente compressível, com comportamento muito diferente dos
demais, foi classificado com Pt (peat), muito comum e frequente de se
confundir com OH.

106
Figura 9 – Esquema para classificação no sistema unificado

Fonte: Sousa Pinto (2006, p.57).

Em qualquer obra de geotecnia, os principais fatores a ser analisados


para tomadas de decisões envolvem o tipo de solo e é de fundamental
importância que a classificação seja feita de forma correta e criteriosa
para as tomadas de decisões de parâmetros de projeto e resoluções de
problemas nas obras.

TEORIA EM PRÁTICA
O engenheiro geotécnico recebeu o resultado de uma
sondagem a percussão, onde no relatório constava que,
feita à análise tátil visual, o solo encontrado no local até
10,00 m de profundidade era extremamente argiloso e
resistente.
Baseado neste resultado, o engenheiro decidiu utilizar
tubulões escavados manualmente no projeto. No entanto,
quando se iniciou a obra de escavação, a parede do tubulão
começou a desmoronar, colocando o pessoal da escavação

107
em risco. Diante do exposto, reflita sobre o prejuízo de um
solo classificado erroneamente na tomada de decisões
do projeto. Qual foi o erro na classificação deste solo que
gerou o desmoronamento da escavação?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Assinale a alternativa correta.

A granulometria de um sedimento decresce na


sequência:

a. Areia grossa, cascalho e areia fina.


b. Areia fina, silte e cascalho.
c. Areia, silte e argila.
d. Argila, silte e areia.
e. Silte, areia e argila.

2. Assinale a alternativa correta. Solo residual é aquele:

a. Que permanece no local de sua formação.


b. Formado por resíduos.
c. Que não sofre erosão.
d. Não possui estruturas reliquiares.
e. Transportado pela gravidade.

3. No teste de dispersão (que faz parte da análise táctil


visual), quando a amostra de solo foi colocada na
proveta e agitada, notou-se que após 60 segundos a
água continuava extremamente turva e com um pouco

108
de sedimento ao fundo. Após horas de observação, a
situação continuava a mesma coisa. Qual o provável tipo
de solo da amostra baseada nestas observações?

a. Silte arenoso.
b. Areia fina, siltosa.
c. Argila siltosa.
d. Areia fina, argilosa.
e. Argila pouco arenosa.

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181: Solo – Análise
Granulométrica. Rio de Janeiro, 2016e Versão corrigida: 2:2018.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6457: Preparação de
amostras de solo para ensaio de compactação e ensaios de caracterização – Método
de ensaio. 2016 Versão corrigida: 2016.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR: 6502:1995. Rochas e Solos–
Terminologia. Rio de Janeiro, 1995.
BARROS, C. L. A. Ensaios Laboratoriais de Mecânica dos Solos – Ensaios
Laboratoriais de Geotecnia. FEC – UNICAMP – Departamento de Geotecnia e
Transporte. Campinas, 2008.
DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Thomson
Learning, 2014. Tradução da 8ª edição norte-americana.
LEMOS, R. C. de.; SANTOS, R. D. dos. Manual de descrição e coleta de solo no
campo. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – Centro Nacional de Pesquisa de
Solos. 3. ed. Campinas-SP, 1996, p. 83.
NOGUEIRA, J. B. Mecânica dos Solos – Ensaio de Laboratório. Escola de
Engenharia de São Carlos–EESC – USP, São Carlos, 1995, 248 p.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de Mecânica dos Solos: com exercícios resolvidos
em 16 aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 355p.
RIOS, J. L. P. Curso de Sedimentologia. CEFET, Rio de Janeiro, 1990.
STANCAT, G.; NOGUEIRA, J. B.; VILAR, O. M. Ensaios de Laboratório em Mecânica
dos Solos. EESC – USP – Departamento de Geotecnia. São Carlos, 1981.
VAZ, L.M. Classificação genética dos solos. São Paulo: Rochas e Solos, 1996.

109
Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: De acordo com a ABNT NBR6502: areia, diâmetros
compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm, silte de 0,06 mm a 0,002
mm; e argila, grãos menores que 0,002 mm.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Solo residual é o solo originado da decomposição da
rocha mãe e que não sofreu transporte, encontrando-se, portanto,
sobre ela.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: As areias sedimentam em torno de 60 segundos, os
siltes demoram de 15 a 60 minutos e as argilas podem levar horas
para sedimentarem. Como no início sedimentou pouco solo e após
horas a solução continuava bastante turva, pode-se concluir que
tem muita argila e um pouco de areia.

110
Resistência ao cisalhamento
Autor: Flávia Gonçalves
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Conhecer os conceitos sobre a resistência ao


cisalhamento dos solos.

• Entender os parâmetros de resistência: coesão e


ângulo de atrito interno.

• Compreender os possíveis ensaios laboratoriais para


determinação dos parâmetros de resistência do solo.
1. Resistência ao Cisalhamento

O solo é um material que reconhecidamente resiste bem às tensões


de compressão, porém apresenta resistência limitada à tração e
ao cisalhamento. Isso significa que ele pode suportar até certo
carregamento sem que haja ruptura ou deslizamentos de massa. A
propriedade de manter a estrutura estável denomina-se resistência ao
cisalhamento e é dependente das características intrínsecas do solo, do
carregamento aplicado e/ou da condição deixada pela intervenção feita
por obras de engenharia.

Deste modo, muitas são as situações em que a compreensão do


fenômeno da resistência ao cisalhamento do solo é necessária: na
avaliação da estabilidade de taludes, cortes ou aterros, na avaliação de
estabilidade de barragens ou aterros sobre solo mole, na determinação
da capacidade de carga de fundações, entre muitos outros. Neste
capítulo você irá conhecer os conceitos básicos sobre a resistência ao
cisalhamento dos solos, bem como os ensaios e os parâmetros obtidos
para esta propriedade.

1.1 Tensões no Plano

Considerando um plano genérico no interior do solo, a tensão que atua


não é perpendicular ao plano, tendo, portanto, uma certa inclinação em
relação a ele. Esta tensão pode ser decomposta em duas componentes:
uma perpendicular ao plano, chamada de tensão normal (σ), e outra
paralela ao plano, denominada de tensão cisalhante (τ), como mostra
a Figura 1. As tensões normais são positivas se estiverem no sentido
de compressão e as tensões cisalhantes são positivas se estiverem no
sentido anti-horário (SOUSA PINTO, 2006, p. 255).

112
Figura 1 – Tensões no interior do solo

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 255).

Segundo Sousa Pinto (2006, p. 255-256), sabe-se que existem três planos
onde não há a componente da tensão cisalhante, sendo as tensões
atuantes perpendiculares ao plano, denominados de planos de tensão
principal e as tensões denominadas de tensões principais. Dentre estas
tensões, há a tensão principal maior (σ1), a tensão principal menor (σ3)
e a tensão principal intermediária (σ2), sendo esta última geralmente
desconsiderada para as análises gerais de mecânica dos solos.

Quando se conhece as tensões principais maior e menor e a inclinação em


relação ao plano principal maior (α) do plano que passa por um ponto, as
tensões normais e cisalhantes neste ponto podem ser encontradas por
meio das Equações 1 e 2, obtidas por relações trigonométricas:

σ1 + σ 3 σ1 − σ 3

2
+
2
* cos(2α ) Equação 1

σ1 − σ 3
τ=
2
* sen(2α ) Equação 2

1.2 Círculo de Mohr

O Círculo de Mohr é a representação gráfica do estado de tensões


atuantes em qualquer plano, um sistema de coordenadas com as

113
abscissas sendo as tensões normais (σ) e as ordenadas sendo as tensões
cisalhantes (τ). Conhecendo-se as tensões principais maior e menor (σ1
e σ3, respectivamente), ou as tensões normais e cisalhantes em dois
planos, é possível se construir o círculo, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Círculo de Mohr

Fonte: Disponível em: <http://download.autodesk.com/us/algor/userguides/mergedProjects/


Results/results_environment/results/Mohrs_Circle.htm>. Acesso em: 31 ago. 2019.

A partir da Figura 2, pode-se concluir que:

a. Planos que formam um ângulo de 45º com os planos principais


indicam as máximas tensões cisalhantes, em módulo.
b. A semidiferença entre as tensões principais maior e menor é
equivalente à máxima tensão cisalhante.
c. Para planos ortogonais, as tensões cisalhantes são iguais, com
sinais contrários.

114
d. Para planos que formam o mesmo ângulo com os planos
principais em sentidos opostos, as tensões normais são iguais
e as tensões cisalhantes possuem sinais contrários, porém,
numericamente iguais.

1.3 Tensões Efetivas

O estado de tensões no solo pode ser indicado por meio de tensões


totais ou tensões efetivas. Esta última leva em consideração o valor da
pressão neutra (u) gerada durante o cisalhamento, sendo este valor
subtraído do valor da tensão normal (SOUSA PINTO, 2006, p. 259). A
Figura 3 representa os Círculos de Mohr para os dois casos.

Figura 3 – Círculos de Mohr para tensões efetivas e totais

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 260).

O círculo da esquerda é o de tensões efetivas, deslocado do da direita


(tensões totais) em um valor equivalente ao da pressão neutra. Isso se
deve ao fato de a pressão neutra agir hidrostaticamente, diminuindo
os valores das tensões normais totais. Caso a u for negativa, o círculo
estaria deslocado para a direita. Outro ponto a ser comentado é que
os valores das tensões cisalhantes não são influenciados pela pressão
neutra, já que a água não transmite esforços de cisalhamento.

115
1.4 Coesão e Ângulo de Atrito Interno

Segundo Coulomb (1773), citado por Caputo (1996, p.159), a resistência


ao cisalhamento dos solos pode ser representada pela Equação 3:

τ = c + σ * tgϕ Equação 3

Onde τ é a tensão cisalhante, σ é a tensão normal e c e φ são a coesão


e o ângulo de atrito interno, respectivamente, sendo dois parâmetros a
serem definidos que influenciam na resistência dos solos.

A coesão pode ser “aparente” ou “verdadeira”, sendo a primeira


dependente da pressão capilar da água, podendo ser anulada quando se
satura ou se seca o solo completamente; e a segunda dependente das
forças eletroquímicas de atração entre as partículas, principalmente as
de argila (VIECILI, 2003, p. 17).

O ângulo de atrito interno está relacionado ao entrosamento e contato


entre as partículas do solo. É o ângulo máximo que a tensão cisalhante
pode ter com tensão normal sem que haja deslizamento ou rolamento
entre as partículas. Este parâmetro possui comportamento distinto
quando se compara um solo granular e um solo fino. No primeiro, a força
de contato entre os grãos é grande, expulsando a água adsorvida pela
superfície das partículas, aumentando o valor do ângulo de atrito interno.
Já nos solos finos, o contato físico entre os grãos é muito pequeno, uma vez
que esta força não é capaz de remover a água adsorvida, reduzindo o valor
do ângulo de atrito interno (DAS; SOBHAN, 2014).

ASSIMILE
A coesão do solo pode ser verdadeira, relacionada aos
agentes cimentantes químicos entre as partículas, ou
aparente, relacionada à pressão capilar da água presente

116
no interior da estrutura, sendo maior quando o solo está
mais seco, por exemplo, quando se faz um castelo de areia
na paria. Esta coesão aparente pode ser eliminada em caso
de completa saturação ou secagem do solo.

1.5 Critérios de Ruptura

Os critérios de ruptura são formulações matemáticas que representam


o comportamento do solo durante o cisalhamento. Segundo Sousa Pinto
(2006, p. 263), os critérios que melhor se encaixam para solos é o de
Coulomb e o de Mohr.

O critério de Coulomb é definido como “Não há ruptura se a tensão de


cisalhamento não ultrapassar um valor dado pela expressão c+f.σ, sendo
c e f constantes do material e σ a tensão normal existente no plano de
cisalhamento” (SOUSA PINTO, 2006, p. 263). Os parâmetros c e f são a
coesão e o coeficiente de atrito, respectivamente, sendo este último
representado pela tangente do ângulo de atrito interno.

Já o critério de Mohr é definido como “Não há ruptura enquanto o círculo


representativo do estado de tensões se encontrar no interior de uma curva,
que é a envoltória dos círculos relativos a estados de ruptura, observados
experimentalmente para o material” (SOUSA PINTO, 2006, p. 263).

Para este critério, a utilização de curvas para representar as envoltórias é


relativamente difícil. Por isso, estas curvas podem ser substituídas por uma
reta que se ajustam adequadamente à envoltória em questão. O ângulo
de atrito é, graficamente, o coeficiente angular da reta que representa a
envoltória de ruptura. O coeficiente linear desta reta, c, já não tem mais
o sentido de coesão, definido anteriormente. Neste caso, este parâmetro
é apenas um coeficiente da equação de resistência, chamado agora
de intercepto coesivo. Quando se substitui a curva pela reta no critério

117
de Mohr, ele se assemelha ao critério de Coulomb, motivo pelo qual
comumente se conhece o critério como de Mohr-Coulomb.

Observando a situação da Figura 4, pode-se ver que o plano de ruptura


se encontra no ponto C, onde o círculo de Mohr tangencia a envoltória,
formado pela tensão normal AB e pela tensão cisalhante BC. Neste
ponto, o plano de ruptura forma com o plano principal maior um ângulo
α. Traçando-se uma paralela à envoltória a partir do centro do círculo,
observa-se que o ângulo 2α equivale à φ mais 90°, podendo então o ângulo
do plano de ruptura ser definido como (SOUSA PINTO, 2006, p. 264):

ϕ
α= 45° + Equação 4
2

Figura 4 – Plano de ruptura

Fonte: adaptada de Sousa Pinto (2006, p. 264).

1.6 Ensaios para determinar a resistência ao cisalhamento

Para se determinar os parâmetros de resistência dos solos (coesão e


ângulo de atrito interno), podem-se realizar três diferentes ensaios:

118
a. Ensaio de cisalhamento direto:

Neste ensaio, um corpo de prova é moldado e colocado em uma


caixa bipartida, com uma das partes móveis, como mostra a Figura 5.
Inicialmente, aplica-se uma força normal (N) e, com a movimentação de
uma das partes da caixa, é aplicada uma força tangencial (T). Estas duas
forças, divididas pela área transversal do corpo de prova, resultam nas
tensões normal (σ) e cisalhante (τ) no plano horizontal imposto (VIECILI,
2003, p. 21).

Figura 5 – Esquema do ensaio de cisalhamento direto

Fonte: Das e Sobhan (2014, p. 359).

Segundo Sousa Pinto (2006, p. 265), como resultados deste ensaio, dois
gráficos são obtidos: Figura 6 (a) – tensão cisalhante versus deslocamento
horizontal no sentido do cisalhamento (d), onde pode-se encontrar
a tensão cisalhante máxima (τmáx) e a tensão cisalhante residual (τres),
esforço que o corpo de prova pode sustentar mesmo após a ruptura; e
Figura 6 (b) – deslocamento vertical (∆h) versus deslocamento horizontal
(d), mostrando se houve uma contração ou expansão do corpo de prova
durante a ruptura.

119
Figura 6 – Gráficos resultantes do ensaio de cisalhamento direto

Fonte: Das e Sobhan (2014, p. 361).

Assim, variando-se o valor da tensão normal aplicada, obtem-se


diferentes curvas. Para cada curva pode ser determinado o par de
valores tensão cisalhante x tensão normal. O critério de análise varia,
podendo ser adotada a análise para o estado limite último (utilizando-se
a máxima tensão cisalhante) ou a análise para o estado limite de serviço
(utilizando-se a tensão cisalhante referente a uma dada deformação
específica). Com estes diferentes pares ordenados de tensão cisalhante
e tensão normal é traçada a envoltória de resistência e determinados os
parâmetros intercepto-coesivos e ângulo de atrito interno do solo.

Cabe ressaltar que há algumas restrições a respeito do ensaio de


cisalhamento direto. Por meio dele não há como encontrar parâmetros
de deformabilidade, pois não se conhece a distorção. Além disso,
o controle das condições de drenagem se torna difícil, pois não há
ferramentas para impedi-las. Ensaios em areias fofas sempre resultarão

120
em parâmetros em termos de tensões efetivas, uma vez que as pressões
neutras são dissipadas. Já para argilas, o ensaio pode ser drenado (muito
lento) ou não drenado (onde os carregamentos são muito rápidos).
Contudo, devido à sua simplicidade e rapidez, é o ensaio mais viável
quando se quer conhecer apenas a resistência do solo (SOUSA PINTO,
2006, p. 266).

b. Ensaio de compressão triaxial:

Neste ensaio, um corpo de prova cilíndrico (de altura geralmente 2,5 a


3 vezes maior que o diâmetro) é submetido a um estado hidrostático
de tensões e a um carregamento axial. A amostra é colocada no interior
de uma câmara e impermeabilizada por meio de uma membrana de
látex. Após o preenchimento total da câmara com água, uma pressão
confinante ( σc ) é aplicada, atuando em todas as direções, conforme a
Figura 7 (VIECILI, 2003, p. 22).

Figura 7 – Esquema do ensaio de compressão triaxial

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 266).

121
A carga axial é medida por um anel dinamométrico ou célula de carga
acoplada ao pistão que penetra na câmara e transmite o carregamento
para a área transversal do corpo de prova por meio de um cabeçote. A
tensão, devido a este carregamento, é chamada de tensão desviatória,
sendo definida pela diferença entre as tensões principais maior e
menor (σ1–σ3).

Ao longo do ensaio, em intervalos de tempos definidos, são feitas as


leituras de carregamento axial e deformação vertical do corpo de prova,
esta última, quando dividida pela altura inicial, resulta na deformação
vertical específica. Com os pares de tensões (σ1 e σ3) de diversos corpos
de provas rompidos, pode-se traçar os círculos de Mohr e a envoltória
de resistência, conforme a Figura 8, e assim obter os valores de c e φ.

Figura 8 – Resultados do ensaio de compressão triaxial

Fonte: Das e Sobhan (2014).

O ensaio de compressão triaxial pode ser de três tipos, dependendo das


condições de drenagem do corpo de prova (AGUIAR, 2010, p. 10–14):

122
I. Ensaio adensado drenado (CD): neste ensaio, a drenagem é
mantida durante todo o procedimento e, após a aplicação
da pressão confinante, as pressões neutras são dissipadas e
o corpo de prova sofre adensamento. O carregamento axial
é aplicado lentamente, garantindo que não há geração de
pressões neutras, obtendo-se, assim, resultados em termos
de tensões efetivas. Caso o corpo de prova esteja saturado, a
quantidade de água que sai é igual à variação de volume da
amostra. Pode ser também chamado de ensaio lento (S), sendo
mais rápido para solos mais granulares, porém, quando se
analisa solos mais finos, este ensaio pode levar dias para ser
finalizado.

II. Ensaio adensado não drenado (CU): como no anterior,


este ensaio permite a dissipação das pressões neutras e o
adensamento do corpo de prova após a aplicação da pressão
confinante. Porém, ao longo da aplicação do carregamento
axial, a drenagem não é permitida. Pode ser também chamado
de ensaio rápido pré-adensado (R), indicando a resistência
não drenada em função da tensão de adensamento. Como
não há dissipação das pressões neutras, os resultados são em
termos de tensões totais. No entanto, caso haja medição dessas
poropressões, é possível se obter os parâmetros em termos de
tensões efetivas.

III. Ensaio não adensado não drenado (UU): ao contrário dos


anteriores, neste ensaio não há drenagem após a aplicação da
pressão confinante e a amostra não adensa. O teor de umidade
do corpo de prova permanecerá constante, e, caso esteja
saturado, não haverá variação de volume. Pode ser chamado
de ensaio rápido (Q) e seus resultados são em termos de
tensões totais.

123
PARA SABER MAIS
Tanto para o ensaio de cisalhamento direto quanto para
o de compressão triaxial, há o posicionamento de pedras
porosas nas faces superior e inferior do corpo de prova.
Estas pedras têm função de garantir a drenagem da água
sem que haja carreamento de partículas de solo.

c. Ensaio de compressão simples:

O ensaio é um caso especial do ensaio de compressão triaxial visto


anteriormente. Neste ensaio, a tensão confinante é igual a zero e o corpo
de prova posicionado na câmara sem que haja o preenchimento da
mesma com água. Este ensaio é comumente usado para determinação da
resistência não drenada de solos argilosos. Em solos puramente coesivos,
o valor da coesão é igual a metade do valor da resistência à compressão
simples (RCS), conforme a Figura 9 (CAPUTO, 1996, p. 162).

Figura 9 – Círculo de Mohr para o ensaio de compressão simples

Fonte: adaptada de Caputo (2006, p. 163).

TEORIA EM PRÁTICA
Foi solicitado que um engenheiro analisasse a resistência
de um solo obtendo os parâmetros em termos de tensões

124
efetivas. O solo não está na condição saturada e há um
prazo razoável para entrega dos resultados. Dito isso, qual
ensaio laboratorial você recomendaria e o motivo? Além
disso, quais resultados você obteria deste ensaio?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Sobre os conceitos de resistência ao cisalhamento de


solos, analise as afirmações a seguir:

I. As tensões efetivas sempre serão menores que as


tensões totais, independente se as pressões neutras são
positivas ou negativas.

II. O ângulo de atrito interno é maior para solos granulares


do que para os finos.

III. A coesão “aparente” é dependente das forças


eletroquímicas entre as partículas do solo e a
“verdadeira” dependente das pressões capilares.

IV. O plano de ruptura do solo se encontra no ponto onde


o círculo de Mohr tangencia a envoltória, sendo definido
como α = 45º+φ/2.

Assinale a alternativa correta:

a. Apenas as afirmações II e III estão corretas.


b. Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
c. Apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d. Apenas as afirmações III e IV estão corretas.

125
e. Todas as afirmações estão corretas.

2. Sobre o círculo de Mohr, assinale a alternativa correta:

a. Os planos de ruptura que representam as máximas


tensões cisalhantes formam com os planos principais
um ângulo de 90°.
b. A equação (σ1–σ3)/2 é equivalente à máxima tensão
normal ao plano.
c. As tensões cisalhantes são iguais, em módulo, nos
planos ortogonais entre si.
d. Planos de ruptura diferentes, mas que formam o
mesmo ângulo com os planos principais, possuem as
tensões normais e cisalhantes iguais.
e. O plano de ruptura será o que apresentar a tensão
cisalhante máxima do círculo de Mohr.

3. Considerando 4 características de ensaios de


resistência ao cisalhamento: A – ensaio que permite
permanentemente a drenagem e o adensamento do
corpo de prova após aplicação da tensão confinante;
B – ensaio com plano de ruptura imposto na horizontal;
C – ensaio sem drenagem e sem adensamento do corpo
de prova; e D – ensaio com adensamento do corpo de
prova, mas sem drenagem ao longo do carregamento,
defina qual o ensaio que possui tais características:

( ) Cisalhamento direto.

( ) Compressão triaxial – ensaio adensado drenado (CD).

( ) Compressão triaxial – ensaio adensado não drenado (CU).

126
( ) Compressão triaxial – ensaio não adensado não
drenado (UU).

Assinale a alternativa que contenha a sequência correta


das respostas anteriores:

a. D - B - C - A.
b. A - C - B - D.
c. A - C - D - B.
d. B - A - D - C.
e. C - A - D - B.

Referências Bibliográficas
AGUIAR, L. A. Contribuições para a análise do comportamento mecânico de
solos compactados para uso em barragens. 2010, 149 f. Dissertação (Mestrado
em Geotecnia)–Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: Fundamentos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC–Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1988. 244 p.
DAS, B. M; SABHAN, K. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 8. ed. São Paulo:
Thomson Learning, 2014. 577 p. Tradução da 8ª edição norte-americana.
SOUSA PINTO, C. de S. Curso básico de Mecânica dos Solos: com exercícios
resolvidos em 16 aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 355p.
VIECILI, C. Determinação dos parâmetros de resistência do solo de Ijuí a partir
do ensaio de cisalhamento direto. 2003, 76 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Civil)–Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul, Ijuí, 2003.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: Apenas as afirmações II e IV estão corretas.

127
Correção I – As tensões efetivas serão menores, caso as pressões
neutras sejam positivas, e maiores, caso as pressões neutras sejam
negativas.

Correção III – A coesão “verdadeira” é dependente das forças


eletroquímicas entre as partículas do solo e a “aparente”,
dependente das pressões capilares;

Questão 2 – Resposta: C
Resolução: Os planos de ruptura que representam as máximas
tensões cisalhantes formam com os planos principais um
ângulo de 45°.
A equação (σ1–σ3)/2 é equivalente à máxima tensão cisalhante ao
plano; Planos de ruptura diferentes, mas que formam o mesmo
ângulo com os planos principais, possuem as tensões normais
iguais e cisalhantes numericamente iguais, porém com sinais
contrários; O plano de ruptura será o que possui o ponto em que a
envoltória tangencia o círculo de Mohr.

Questão 3 – Resposta: D
Resolução: B - A - D - C.
Característica A – ensaio adensado e drenado ao longo do
carregamento, então é a compressão triaxial do tipo adensado
drenado (CD).

Característica B – ensaio com plano horizontal de ruptura imposto,


então é o cisalhamento direto.

Característica C – ensaio não drenado e não adensado, então é a


compressão triaxial do tipo não adensado e não drenado (UU)

Característica D – ensaio adensado, mas não drenado ao longo do


carregamento, então é a compressão triaxial do tipo adensado não
drenado (CU).

128
Tensão X Deformação X
Resistência dos Solos
Autor: Flávia Gonçalves
Leitor crítico: Alana Dias de Oliveira

Objetivos

• Conhecer os conceitos acerca da compressibilidade


dos solos.

• Entender os fatores que influenciam nesta


característica.

• Compreender o ensaio edométrico e os parâmetros


de adensamento obtidos.
1. Tensão versus Deformação versus
Resistência dos Solos

O estado de tensões a que o solo está submetido em campo influencia


nas suas características de deformação e resistência, sendo duas
propriedades extremamente importantes para a maioria das obras
geotécnicas.

A compressibilidade dos solos é a característica do material de se


deformar sob o efeito de sobrecargas. O solo pode sofrer dois tipos de
deformações: a rápida, chamada de recalque imediato, quando ocorre
logo após a aplicação da carga, e a lenta, chamada de adensamento,
que ocorre ao longo de um determinado período de tempo após a
aplicação da carga. Solos arenosos e argilosos não saturados sofrem
a deformação rápida, enquanto que para solos argilosos saturados as
deformações são lentas, ocorrendo a expulsão da água dos vazios.

Sendo assim, neste capítulo você irá conhecer os conceitos acerca da


compressibilidade do solo, bem como o ensaio apropriado para analisar
tal característica e os parâmetros obtidos.

1.1 Compressibilidade

Sabendo-se que o solo é um sistema multifásico, composto por duas


fases fluidas (gasosa e líquida) e uma fase sólida, as deformações
por compressão podem ser devidas a três fatores (BUENO; VILAR,
1978, p. 81):

a. Compressão da fase sólida.

b. Compressão da fase fluida.

c. Drenagem da fase fluida.

130
Considera-se que as fases sólida e fluida são incompressíveis, pois
deformam muito pouco diante da compressão, sendo as deformações
do solo provenientes principalmente da drenagem da fase fluida
presente nos vazios, conforme Figura 1, onde ∆Hν é a variação da altura
dos vazios devido a saída dos fluidos, acarretando uma diminuição do
volume do solo.

Figura 1 – Compressão do solo

Fonte: adaptada de Bueno e Vilar (1979, p. 81).

Segundo os mesmos autores, a compressão do solo pode ser de


três tipo:

a. Compressão elástica: variações de volume temporárias, que


podem ser reversíveis se houver alívio da sobrecarga, também
chamadas de recalque imediato.

b. Compressão plástica: variações de volume permanentes, não


sendo reversíveis mesmo com o alívio da sobrecarga. No caso
de solos argilosos saturados, estas deformações equivalem ao
recalque por adensamento primário.

c. Compressão por viscosidade ou fluência: variações de volume


mesmo sem a aplicação de sobrecargas, relacionadas à
movimentação das partículas do solo, sendo de pequenas
magnitudes. Estas deformações também são chamadas de
recalque por adensamento secundário.

131
1.2 Recalques

O recalque pode ser definido segundo a Equação 1:

ρt = ρi + ρ a + ρ s Equação 1

Onde ρt é o recalque total, ρi é o recalque imediato, ρa é o recalque por


adensamento primário e ρs é o recalque por adensamento secundário.
Em solos granulares ocorre apenas a parcela do recalque imediato e em
solos finos podem ocorrer as três parcelas (ORTIGÃO, 2007, p. 189-190).

A Figura 2 mostra a evolução dos recalques ao longo do tempo. Observa-


se que os recalques imediatos ocorrem rapidamente após a aplicação da
sobrecarga, os recalques por adensamento primário ocorrem de forma
lenta e gradual, assim como os recalques por adensamento secundário,
este último com menor magnitude.

Figura 2 – Evolução do recalque ao longo do tempo

Fonte: Ortigão (2007, p. 190).

A velocidade do recalque depende da permeabilidade do solo em


questão, onde os solos mais permeáveis recalcam mais rapidamente
que os solos menos permeáveis.

132
ASSIMILE
O solo pode sofrer três tipos de deformações por
compressão: a elástica, cuja variação de volume é
temporária; a plástica, cuja variação de volume é
permanente; e a por viscosidade, cuja variação de volume
é permanente, porém com menor magnitude.

1.3 Recalques imediatos

Os recalques imediatos do solo podem ser calculados segundo a Teoria


da Elasticidade, expresso pela Equação 2 (SOUSA PINTO, 2006, p. 187):

σo * B
=ρi I * *(1 −ν 2 ) Equação 2
E

Onde σo é a pressão distribuída uniformemente na superfície, E é o


módulo de elasticidade do solo, ν é o coeficiente de Poisson, B é a
largura ou diâmetro da área carregada e I é um coeficiente relacionado à
forma da superfície carregada e à forma de aplicação da carga (por meio
de elementos rígidos, como sapatas, ou por meio de elementos flexíveis,
como aterros), conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Coeficiente I
Flexível
Tipo de Placa Rígida
Centro Borda/Canto
Circular 0,79 1,00 0,64
Quadrada 0,86 1,11 0,56
L/B = 2 1,17 1,52 0,75
Retangular L/B = 5 1,66 2,10 1,05
L/B = 10 2,00 2,54 1,27

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 188).

133
No caso de elementos rígidos, os recalques serão uniformes ao longo
de toda a área carregada, e no caso de elementos flexíveis, os recalques
serão maiores no centro, conforme a Figura 3.

Figura 3 – Distribuição dos recalques em superfícies carregadas por


(a) elementos rígidos e (b) elementos flexíveis.

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 187).

Vale ressaltar que há certa dificuldade em se aplicar a Teoria da


Elasticidade para solos, uma vez que o módulo de elasticidade tende
a aumentar com a profundidade e o solo é constituído por diferentes
camadas com comportamentos de compressibilidade distintos que,
quando aplicada a teoria, os resultados nem sempre representam a
realidade (SOUSA PINTO, 2006, p. 188).

1.4 Adensamento

O adensamento é regido pela Teoria do Adensamento, desenvolvida por


Terzaghi. Esta teoria é válida segundo algumas condições (SOUSA PINTO,
2006, p. 206-207):

a. O solo é homogêneo.

b. As fases sólidas e líquidas são incompressíveis.

134
c. A compressão do solo e a percolação da água são
unidimensionais.

d. As propriedades do solo são constantes ao longo do tempo.

e. A lei de Darcy é válida para o fluxo de água.

f. A relação entre as variações do índice de vazios e das cargas


aplicadas é linear.

Taylor desenvolveu uma analogia para a teoria de Terzaghi, onde o


solo saturado é comparado a uma mola presa dentro de um pistão
preenchido com água, cujo êmbolo possui um orifício para a saída do
líquido, representando a permeabilidade do solo (Figura 4). Quando
se aplica uma sobrecarga (∆V), com o orifício fechado, inicialmente a
água resiste ao acréscimo de tensões, aumentando o valor da poro-
pressão sem que haja movimentação do pistão, ou seja, sem variação
de volume (∆V = 0). Ao se abrir o orifício, a água começa a percolar
lentamente e a tensão passa a ser resistida pela mola, que começa
a comprimir fazendo o pistão descer, diminuindo o volume (∆V > 0)
e o valor da pressão neutra. Com o passar do tempo, a água já não
resiste mais a nenhum acréscimo de tensões, sendo a solicitação feita
apenas à mola. Neste momento não há mais percolação de água e
o sistema entra em equilíbrio novamente, porém, com um volume
menor que o inicial, já que houve a variação da altura do pistão (∆h)
(SOUSA PINTO, 2006, p. 205-206). A Figura 5 mostra a transferência de
forças ao longo do tempo no sistema.

135
Figura 4 – Analogia mecânica de Taylor

Fonte: adaptada de Marangon (2018, p. 79).

Figura 5 – Transferência de cargas ao longo do tempo

Fonte: adaptada de Marangon (2018, p. 79).

O adensamento então pode ser expresso pela Equação 3 (ORTIGÃO,


2007, p. 151):

∆e
∆H = * Hd Equação 3
1 + e0

Onde ∆e é a variação do índice de vazios do solo, e0 é o índice de vazios


inicial e Hd é a altura da camada compressível. Esta altura é chamada
de altura de drenagem, sendo a maior distância que a água tem que
percorrer para ser drenada. O valor desta altura depende se a camada
compressível do solo possui uma ou duas faces drenantes, como mostra
a Figura 6. Quando há 2 faces drenantes, o valor de Hd será igual a

136
metade da altura da camada, já que o caminho que a água terá que
percorrer será, no máximo, do centro da camada até a face de baixo ou
de cima. Quando há apenas uma face drenante, o maior caminho que a
água terá que percorrer será do ponto da face não drenante até a face
drenante, equivalendo ao valor total da altura da camada.

Figura 6 – Definição da altura e drenagem da camada


compressível do solo

Fonte: adaptada de Marangon (2018, p. 83).

1.5 Fator tempo

O fator tempo é um parâmetro que relaciona o tempo de recalque, as


características condições de drenagem, resultando em um coeficiente
comparável para diferentes tipos e estruturas de solos. É um parâmetro
adimensional, expresso pela Equação 4 (SOUSA PINTO, 2006, p. 212):

cv * t k t
=T = * 2 Equação 4
Hd 2
γ w * mv H d

Onde cv é o coeficiente de adensamento, t é o tempo que o recalque leva


para estabilizar, Hd é a altura de drenagem da camada, k é o coeficiente
de permeabilidade, γw é o peso específico da água e mv é o coeficiente de
variação volumétrica.

137
1.6 Grau de Adensamento

O grau de adensamento é o progresso do adensamento em um ponto


e tempo específico. A Figura 7 mostra a relação entre a localização do
ponto em questão (Z = z/Hd) com o grau de adensamento (Uz) e o fator
tempo (T) para uma situação de duas faces drenantes e Hd = 1. Cada
curva de T é chamada de isócrona, indicando que em qualquer ponto da
curva o tempo de recalque é o mesmo para diversas profundidades Z
(SOUSA PINTO, 2006, p. 213).

Figura 7 – Grau de adensamento

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 213).

O grau de adensamento médio é a média da soma dos graus de


adensamento ao longo da profundidade, chamado também de

138
porcentagem de recalque. Este parâmetro relaciona o recalque
sofrido em um tempo t e o recalque total. A Tabela 2 indica diferentes
porcentagens de recalque em relação com os fatores de tempo T, que é
calculado segundo as Equações 5 e 6:

a. Se U ≤ 60%:

π
T =
4
*U 2 Equação 5

b. Se U > 60%:

[−0,9332*log(1 − U )] − 0, 0851
T= Equação 6

Tabela 2 – Grau de adensamento médio


U (%) T U (%) T U (%) T U (%) T U (%) T
1 0,0001 21 0,0346 41 0,132 61 0,297 81 0,588
2 0,0003 22 0,0380 42 0,138 62 0,307 82 0,610
3 0,0007 23 0,0415 43 0,145 63 0,318 83 0,633
4 0,0013 24 0,0452 44 0,152 64 0,329 84 0,658
5 0,0020 25 0,0491 45 0,159 65 0,340 85 0,684
6 0,0028 26 0,0531 46 0,166 66 0,351 86 0,712
7 0,0038 27 0,0572 47 0,173 67 0,364 87 0,742
8 0,0050 28 0,0616 48 0,181 68 0,377 88 0,774
9 0,0064 29 0,0660 49 0,189 69 0,389 89 0,809
10 0,0078 30 0,0707 50 0,197 70 0,403 90 0,848
11 0,0095 31 0,0755 51 0,204 71 0,416 91 0,891
12 0,0113 32 0,0804 52 0,212 72 0,431 92 0,938
13 0,0133 33 0,0655 53 0,221 73 0,445 93 0,992
14 0,0154 34 0,0908 54 0,230 74 0,461 94 1,054
15 0,0177 35 0,0962 55 0,239 75 0,477 95 1,128
16 0,0201 36 0,102 56 0,248 76 0,493 96 1,219

139
17 0,0227 37 0,108 57 0,257 77 0,510 97 1,135
18 0,0254 38 0,113 58 0,266 78 0,528 98 1,500
19 0,0283 39 0,119 59 0,276 79 0,547 99 1,781
20 0,0314 40 0,125 60 0,287 80 0,567 100 ∞

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 213).

1.7 Ensaio edométrico

O ensaio edométrico ou de adensamento tem como objetivo obter os


parâmetros necessários para se encontrar os recalques que o solo pode
sofrer (BUENO e VILAR, 1979, p. 90). Para o estudo da compressibilidade
dos solos é utilizado um equipamento chamado de oedômetro, ou
prensa de adensamento, desenvolvido por Terzaghi, conforme a Figura 8
(ORTIGÃO, 2007, p. 133).

Figura 8 – Oedômetro

Fonte: Ortigão (2007, p. 134).

Neste ensaio, um corpo de prova cilíndrico é moldado dentro de um


anel metálico e colocado dentro de uma câmara. As faces drenantes

140
são obtidas por duas pedras porosas colocadas acima e/ou abaixo da
amostra. Uma carga axial é aplicada na parte superior e é distribuída
uniformemente pela área do corpo de prova por um cabeçote. Nesta
situação o solo irá deformar apenas verticalmente, já que o anel
impedirá deformações horizontais (ORTIGÃO, 2007, p.134).

Durante o ensaio, são realizados diferentes estágios de carregamento


axial com aumento gradual da carga. Cada estágio dura, normalmente,
24 horas, tempo esse necessário para que as deformações se
mantenham constantes para cada carga. Ao longo de cada estágio são
feitas leituras de deformação vertical através de um extensômetro,
resultando em uma curva semilogarítmica (BUENO; VILAR, 1979, p. 91),
conforme Figura 9.

Figura 9 – Curva obtida pelo ensaio de adensamento

Fonte: Marangon (2018, p. 143).

Ainda segundo Bueno e Vilar (1979, p. 92), os três trechos da curva são
definidos como:

141
a. Recompressão do solo: trecho quase horizontal que representa
a condição de compressão que o solo já sofreu em campo sob
efeito da máxima tensão, visto que, quando se retira a amostra do
maciço, há um alívio de tensões e uma pequena expansão.
b. Reta virgem: trecho reto e inclinado, representando as
deformações sofridas pelo solo sob efeito de tensões maiores que
a tensão máxima sofrida na natureza, sendo os valores destas
deformações muito significativos.
c. Descarregamento: trecho levemente curvo que representa a fase
de descarregamento do ensaio, onde o solo sofre ligeira expansão.

Segundo Caputo (1996, p. 100), o trecho inicial de recompressão do


solo define a fase do adensamento inicial, sendo este caracterizado
como uma deformação elástica. Já a reta virgem define as fases dos
adensamentos primário e secundário, caracterizados por deformações
elasto-plásticas e residuais, respectivamente. Porém, na prática, não há
uma divisão bem pronunciada entres estas duas fases, sendo as duas
representadas por uma única reta.

1.8 Parâmetros de adensamento

a. Tensão de pré-adensamento:

O ponto que separa o trecho de recompressão e a reta virgem da curva


de adensamento é chamado de tensão de pré-adensamento (σvm), e
é definido como a maior tensão que o solo já esteve submetido na
natureza (BUENO e VILAR, 1979, p. 92). Segundo Caputo (1996, p. 102), o
solo pode ser classificado em três categorias, de acordo com o valor da
tensão de pré-adensamento:

I. Normalmente adensado, quando a tensão de pré-adensamento


é igual à tensão efetiva, indicando que o solo não sofreu maiores
tensões que as atuais.

142
II. Pré-adensado, quando a tensão de pré-adensamento é maior que
a tensão efetiva, indicando que o solo sofreu no passado tensões
maiores que as atuais.
III. Parcialmente adensado, quando a tensão de pré-adensamento
é menor que a tensão efetiva, indicando que o solo ainda não
adensou totalmente sob o peso próprio, não tendo atingido o
equilíbrio.

Marangon (2018) exemplifica as condições de adensamento das argilas


da seguinte maneira:

Figura 10 – Possíveis classificações de adensamento dos solos

Nota: (a) solo normalmente adensado; (b) solo pré-adensado; (c) solo
parcialmente adensado.

Fonte: Marangon (2018, p. 147).

Para se determinar o valor da tensão de pré-adensamento, utiliza-se


diversos métodos, como o de Pacheco Silva. Neste método a reta virgem
é prolongada até a reta horizontal equivalente ao valor do índice de
vazios inicial (e0) da amostra em questão. Do ponto de intersecção,
traça-se uma reta vertical até a curva de adensamento e, em seguida,
a partir deste segundo ponto, traça-se uma outra reta horizontal até o
prolongamento da reta virgem. Este ponto de intersecção é o valor da
tensão de pré-adensamento, na abscissa (SOUSA PINTO, 2006, p. 193).

b. Coeficiente de adensamento:

143
O coeficiente de adensamento (cv) está relacionado à velocidade do
adensamento, sendo ela constante em cada estágio de carregamento.
Segundo Sousa Pinto (2006, p. 227-228), este coeficiente indica a
variação do recalque ao longo do tempo. Um dos métodos para se obtê-
lo é o método gráfico de Taylor, que relaciona o tempo para que ocorra
90% (t90) do adensamento. Este método consiste em:

I. Plotar um gráfico deformação versus raiz quadrada do tempo.

II. Ajustar o trecho inicial da curva em uma reta.

III. Traçar uma distância “d” entre um ponto qualquer desta reta
aproximada até o eixo das ordenadas.

IV. Traçar uma reta, partindo da mesma origem da anterior, de


modo que a reta esteja a uma distância de “1,15 * d” do eixo das
ordenadas, no mesmo ponto escolhido no item c.

V. O ponto de intersecção desta última reta com a curva corresponde


à raiz do tempo para que ocorra 90% do adensamento,
na abscissa.

VI. Elevar este valor ao quadrado para se obter o valor de t90


em segundos.

VII. Encontrar o valor da altura de drenagem (Hd) em cm.

VIII. Obter o valor do fator tempo para 90% de adensamento (T90),


adimensional.

IX. Calcular o valor de cv, em cm²/s, pela Equação 7:

T90 * H d2
cv = Equação 7
t90

Sendo o valor de T90 igual a 0,848, segundo a Tabela 2.

144
c. Outros parâmetros de adensamento:

Outros parâmetros obtidos através do ensaio de adensamento são:


índice de compressão (Cc), índice de recompressão (Cr), coeficiente de
compressibilidade (av) e coeficiente de variação volumétrica (mv). O
índice de compressão refere-se à inclinação da reta virgem da curva de
adensamento, sendo então o coeficiente angular desta reta. Quanto maior
o valor de Cc , mais compressível é o solo. Já o índice de recompressão
nada mais é que o coeficiente angular do trecho inicial da curva, referente
à recompressão do solo (SOUSA PINTO, 2006, p. 191). O coeficiente de
compressibilidade é a inclinação em cada ponto da curva de compressão.
Ao longo do ensaio este valor de av diminui devido ao enrijecimento da
amostra durante o processo de adensamento. Por fim, o coeficiente de
variação volumétrica é a relação entre a deformação volumétrica e a tensão
efetiva. Quanto maior o valor de mv , maior a variação de volume unitário
para determinados acréscimos de tensão (SOUSA PINTO, 2006, p. 187).

PARA SABER MAIS


Alguns solos parcialmente saturados podem sofrer uma
deformação brusca e de grande magnitude quando há
um aumento do grau de saturação devido à percolação
de líquidos inundantes. Esta deformação é chamada de
colapso e sua intensidade depende do teor de umidade do
solo antes da inundação.

TEORIA EM PRÁTICA
Foi solicitado que um engenheiro encontrasse os motivos
do rebaixamento da estrutura de uma ponte. Ao analisar

145
o solo por meio de sondagens e ensaios laboratoriais,
ele concluiu que a camada em que as fundações da obra
se encontravam apoiadas se tratava de um solo argiloso,
com tensão de pré-adensamento menor que as tensões
efetivas de campo. Diante disso, quais os possíveis tipos de
recalques este solo pode ter sofrido após a construção da
ponte e qual a classificação que ele recebe de acordo com a
tensão de pré-adensamento?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Sobre os conceitos de compressibilidade de solos,


analise as afirmações a seguir:

I. As deformações elásticas, também chamadas de


recalques por adensamento secundário, são variações
de volume temporárias do solo, podendo ser reversíveis.

II. As deformações plásticas, conhecidas como recalques


por adensamento primário, são variações de volume
permanentes, não podendo ser revertidas.

III. Solos granulares geralmente sofrem apenas os recalques


por adensamento primário.

IV. Solos finos podem sofrer os três tipos de recalques: o


imediato, por adensamento primário e por adensamento
secundário.

Assinale a alternativa correta:

146
a. Apenas as afirmações II e III estão corretas.
b. Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
c. Apenas as afirmações II e IV estão corretas.
d. Apenas as afirmações III e IV estão corretas.
e. Todas as afirmações estão corretas.

2. Sobre as condições para a validação da Teoria de


Adensamento desenvolvida por Terzaghi, assinale a
alternativa correta:

a. Considera-se a fase sólida incompressível e a fase


fluida compressível.
b. A compressão do solo e a percolação da água ocorrem
em todas as direções.
c. O solo é considerado um material heterogêneo.
d. A variação do índice de vazios e o incremento de
cargas aplicadas possuem uma relação linear.
e. O solo possui propriedades que são variáveis
com o tempo.

3. Sobre a Analogia de Taylor para a Teoria de


Adensamento de Terzaghi, considere as etapas a seguir:

( ) Aplicação da sobrecarga, que é resistida apenas pela


água, com aumento da poro-pressão.

( ) Acréscimo da poro-pressão é nula, sem que haja mais


percolação da água, com a variação da altura do pistão
estabilizada.

( ) A água começa a percolar e a sobrecarga começa a


ser resistida tanto pela água como pela mola, com
rebaixamento do pistão.

147
( ) O sistema entra em equilíbrio com um novo volume.

Assinale a alternativa que contenha a ordem correta


das etapas do processo de adensamento proposto
por Taylor:

a. D - B - C - A.
b. A - C - B - D.
c. A - C - D - B.
d. B - A - D - C.
e. C - A - D - B.

Referências Bibliográficas
BUENO, B. S.; VILAR, O. M. Mecânica dos solos. São Carlos: Universidade de São
Paulo, v. I, 1979.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: Fundamentos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC–Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1988. 244 p.
MARANGON, M. Compressibilidade e adensamento do solo. 2018. Disponível
em: http://www.ufjf.br/nugeo/files/2013/06/Marangon-Cap%C3%ADtulo-03-
Compressibilidade-e-Adensamento-2018-at%C3%A9-pag-90.pdf. Acesso em: 23
jul. 2019.
ORTIGÃO, J. A. R. Introdução à Mecânica dos Solos dos estados críticos. 3. ed. Rio
de Janeiro: Terratek, 2007.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de Mecânica dos Solos: com exercícios resolvidos
em 16 aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 355p.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: Apenas as afirmações II e IV estão corretas.

148
Correção I – As deformações elásticas, também chamadas de
recalques imediatos, são variações de volume temporárias do solo,
podendo ser reversíveis.

Correção III – Solos granulares geralmente sofrem apenas os


recalques imediatos.

Questão 2 – Resposta: D
Resolução: a) Tanto a fase sólida como a fase fluida são
consideradas incompressíveis.
b) A compressão do solo e a percolação da água são
unidimensionais.

c) O solo é considerado um material homogêneo.

e) As propriedades do solo são constantes, não variando


com o tempo.

Questão 3 – Resposta: B
Resolução: A - C - B - D.
Primeiramente, após a aplicação da sobrecarga, quem resiste é
apenas a água, sem variação da altura do pistão e aumento da
poro-pressão. Quando se abre o orifício e permite-se que a água
percole, a sobrecarga passa a ser resistida pela água e pela mola,
com o pistão começando a descer. Por fim, a água para de percolar
e a mola passa a resistir toda a sobrecarga, com a variação de
altura do pistão estabilizada e o acréscimo de poro-pressão igual
a zero. Consequentemente, o sistema entra em equilíbrio com um
novo volume devido ao rebaixamento do pistão.

149
150

Você também pode gostar