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Capítulo 10 - Energia ou Carga Específica

Introdução

Energia específica em uma seção do canal é a soma da altura d’água com a


carga cinética. Para uma dada seção do canal e dada vazão, a energia específica é
função somente da seção.

Energia específica - BAKMETEFF

Curvas y x E para q = cte e Y x q para E = cte

Através da seguinte afirmação do canal ser retangular e supor que o coeficiente de


Coriolis ser 1, obtém-se as seguintes fórmula para a vazão específica e energia.

Considerando agora que a energia varia com a altura, para um dado valor constante de q,
pode-se construir um gráfico da equação S no plano E-y.

A=y, que é uma reta a 45°

B= (q²)/2gy

Com estas informações é possível a construção do gráfico que fica o seguinte:

Além do gráfico acima, é possível também a construção do gráfico de “y” por “q”
Um ponto se destaca dos dois gráficos que é o ponto de energia mínima ou de
vazão máxima.
A profundidade associada a estes pontos é denominada profundidade crítica “Yc”.

Observações acerca da figura 10.1:


- Se Y > Yc → V < Vc, logo o escoamento é subcrítico;

- Se Y < Yc → V > Vc, logo o escoamento é supercrítico;


- Se Y = Yc → V = Vc, logo o escoamento é crítico;

Uma diminuição no nível de energia específica disponível “E” provoca um


abaixamento na linha d’água, no escoamento fluvial e uma “elevação” no escoamento
torrencial.

Escoamento crítico

Escoamento crítico é aquele onde a energia específica é mínima para uma dada
vazão, ou o estágio em que a vazão é máxima para uma dada energia específica.
Realizando deduções utilizando conceitos dos capítulos passados, conseguimos
chegar à seguinte conclusão:
A figura a seguir mostra a representação gráfica da equação da energia para um
canal retangular E=f(y) e o seu rebatimento em torno da bissetriz, reta a 45°, cuja função é
y=f(E) e valores das respectivas derivadas.

Com isso pode-se afirmar que:


- Se Fr < 1 → escoamento subcrítico
- Se Fr > 1 → Escoamento supercrítico
- Se Fr = 1 → Escoamento crítico

Um fato importante em um canal retangular é o de que a profundidade crítica


depende somente da vazão por unidade de largura (q=Q/B).

A energia específica mínima ou energia específica crítica pode ser calculada


substituindo equações (10.11 em 10.5 deste livro), onde iremos obter:

A velocidade crítica Vc pode ser calculada a partir da expressão da vazão unitária.


Como , tem-se na condição de regime critico:


Será visto adiante que a velocidade crítica é igual a velocidade de propagação de


uma onda de pequena amplitude, propagando-se sobre a superfície de um meio líquido de
profundidade “y”. Isto representa uma importante característica física do escoamento crítico.

Ic - declividade crítica, que é a declividade de um longo canal em que ocorre


escoamento crítico.

Para um canal retangular de grande largura, pode-se aproximar o raio hidráulico


pela altura d’água.
Logo, através de deduções apresentadas no livro, obtêm-se que:

Este parâmetro também pode ser utilizado como indicador do tipo de escoamento
que está processando, pela comparação com a declividade de fundo “Io”, onde:

- Se Io < Ic, o escoamento uniforme é subcrítico e o canal é dito de fraca


declividade
- Se Io > Ic, o escoamento uniforme é supercrítico e o canal é dito de forte
declividade.

Para determinar variação q x y, para um valor fixado de E , em canal retangular,


pode-se reescrever a equação 10.6 na forma:

Diferenciando a equação 10.15 em relação a y, temos:

Igualando a equação 10.16 a zero, obtemos:

Esta equação admite duas raízes, e , só a segunda raiz tem importância


física, e é igual à altura crítica, dada pela equação 10.12. Esta raiz é um ponto de máximo.
Então, para uma dada E, q é máxima para a lâmina crítica. A expressão de qmáx
pode ser obtida substituindo 10.12 em 10.15, que após simplificada fica:

√ √

Determinação das alturas alternadas em canais retangulares

Em alguns casos é necessário calcular as raízes da equação 10.5:

Dada uma vazão e energia específica, é possível adimensionalizar a equação 10.11,


dividida por yc:
( )

Dividindo a equação anterior por yc temos:

( )

Os valores de E/yc foram determinados para diferentes valores de y/y c e expostos na


figura 10.6:

Velocidade crítica ou celeridade

A celeridade pode ser definida como velocidade da onda (perturbação) que se


propaga em um canal em relação ao meio, ou seja, medida em relação a corrente e não as
margens.
A expressão da celeridade pode ser estabelecida através da equação da
continuidade e o teorema da quantidade de movimento, em um determinado volume de
controle, desde que seja uma pequena onda gravitacional em um canal retangular,
horizontal e sem atrito de paredes e de fundo.
Quando uma leve perturbação de amplitude δy << y se propaga com velocidade
absoluta Vω (em relação as margens) no sentido do escoamento, tem-se como resultado a
alteração da velocidade de V para V + δV, logo o escoamento não é permanente.
Para trabalhar em um regime permanente, sobrepõe-se ao campo de velocidade
real, um campo de velocidade dado por – Vω. Pode-se aplicar a equação da continuidade e
o teorema da quantidade de movimento.
a) Equação da continuidade

∫⃗

Que após desenvolvida e simplificada fica:

b) Teorema da quantidade de movimento

∑ ∫ ( ⃗ )

Que após desenvolvida e simplificada fica:

Combinando as equações 10.21 e 10.22, tem-se:

Como a equação 10.24 só é válida para ondas de baixa amplitude, para um caso
mais geral utilizamos a equação 10.25 e 10.26:

Assim, se V < Vc, o escoamento é subcrítico, e se V > Vc, o escoamento é


supercrítico e o número de Froude pode ser definido através da expressão 10.27:

Para um canal de qualquer forma, as equações 10.23 e 10.24 são representadas na


forma:

Seção de Controle

São utilizadas para controle de vazão e alteração da profundidade em determinados


pontos do canal a montante e jusante, dependendo do tipo de escoamento. Para um regime
crítico pode ser estabelecida uma relação altura d’água e vazão, logo a seção crítica é uma
seção de controle.

 Estrutura retangular de largura b, relativamente urta para que a perda de


carga seja desprezível.
a) 1. jusante fechada, y = E 0, sem escoamento. Situação correspondente ao
ponto A.
2. jusante aberta até B, cairá uma pequena vazão e altura d’água variando
na curva de vazão A até B.
3. jusante aberta até C, vazão é máxima e a altura d’água é crítica.
4. a partir do ponto C, a comporta de jusante não influenciará no
escoamento, com isso altura se manterá crítica se não houver modificações no canal.
b) 5. Com a comporta de jusante aberta e a de montante fechada, a vazão e
lâmina d’água é igual a zero.
6. Com jusante e montante abertas, y e q aumentarão até que y alcance o
regime crítico e q seja máximo.
No trecho AC o elemento controlador está a jusante e o escoamento é fluvial, no
trecho DC o elemento controlador está há montante e o escoamento é torrencial.
O regime subcrítico é controlado por algumas características colocadas a sua
jusante e as perturbações originadas em determinada posição propagar-se-ão para
montante.
No caso do regime supercrítico, este é controlado por uma característica colocada a
sua montante.

Aplicações da energia específica em transições

O efeito de transição pode alterar o escoamento de varias maneiras, alterando até o


regime de subcrítico para supercrítico ou ao contrário, inclusive gerando o aparecimento de
um ressalto hidráulico.
As aplicações serão inicialmente feitas para seção retangular por simplicidade, mas
as propriedades e características dos escoamentos podem ser estendidos à seção
trapezoidal, tratada mais adiante. As transições analisadas serão curtas e de geometria
suave para que se possa desprezar as perdas de carga.

Redução na largura do canal


Considerando o escoamento na seção 1 fluvial, a altura d’água compatível com a
energia disponível E1 constante, vale y1 (ponto A). A altura d’água na seção 2 é menor y 1 e
maior que yc e corresponde ao ponto B, pois E = cte.
Considerando o escoamento da seção 1 torrencial, a altura d’água compatível com a
energia disponível E1 é constante, vale y1* (ponto A*). A altura d’água na seção 2 é maior
que y1* e menor que yc e corresponde ao ponto B *. Portanto, a altura d’água decresce se o
escoamento a montante for fluvial e cresce se for torrencial, sem haver, em cada caso,
mudança de regime.
Se a largura da seção 2 for reduzida ainda mais, aumentando a vazão unitária, até
que a reta E1= cte tangencie a curva da energia específica desenhada para vazão q c2, a
altura d’água nesta seção será a altura crítica, independente do tipo de escoamento na
seção 1 ser fluvial (A → C) ou torrencial (A * → C).
Trata-se portanto de uma situação limite na qual a energia disponível em 1 ainda é
suficiente para veicular a vazão.
Reduzindo-se ainda mais a largura em 2, conforme a figura 10.11 a, a reta E 1 =cte.
Não cortará a curva da energia desenhada para q2 > qc2.
Supondo que o escoamento em 1 seja fluvial, as pertubações originadas pela
transição propagar-se-ão a montante e a altura d’água deve ajustar-se por si mesma, até
que condições críticas sejam produzidas na seção 2, seção de controle.
Em outras palavras haverá alterações nas condições de montante pelo
aparecimento de uma curva de remanso com a altura d’água na seção 1 aumentando para
o valor y1+, (ponto A1+) até atingir uma energia, necessária para veicular a vazão unitária
q2 > qc2 condizente com a largura da seção 2, b + < bc.
Nesta situação, o escoamento passará de fluvial a montante da transição para crítico
na transição e em sequência torrencial, retornando ao fluvial através de ressalto hidráulico
se, a jusante, o canal for de fraca declividade.
Desta forma a condição limite de largura na seção 2, para que o escoamento se
processe sem que sejam alteradas as condições de montante, é que o escoamento na
seção 2 seja crítico e não haja elevação da linha de energia a montante.
Se o escoamento na seção 1 for torrencial e a largura em 2 for menor que a largura
limite, haverá a formação de um ressalto hidráulico a montante da transição e a perda de
energia que ocorre no ressalto hidráulico torna impossível analisar o problema usando
somente o diagrama de energia específica y x E.
Ocorrência da profundidade crítica

Canal de forte declividade alimentado pelo reservatório y c na crista da entrada do


canal, com:

√ √

E H=E que é a diferença de cotas entre o nível d’água no reservatório, em uma


região não perturbada pela transição, e a cota de fundo do canal na seção de entrada. Esta
característica é válida em situações análogas, para seções diferentes da retangular.

Para o canal de fraca declividade, tem-se, na seção 1, suficientemente afastada da


entrada, o regime uniforme fluvial. Como este regime é controlado por jusante, o
escoamento uniforme ocorre na seção de entrada, seção 2. A vazão escoada pode ser
determinada compatibilizando-se as equações de resistência e da energia específica,
respectivamente:


e

Como o escoamento é fluvial, comandado por jusante e na saída do canal, seção 3,


não existe condicionamento que possam refletir para montante, nesta seção o escoamento
vai ocorrer com a mínima energia específica, ou seja, em regime crítico. Na verdade, devido
ao efeito da curvatura das linhas de corrente no final do canal, a altura crítica não ocorrerá
exatamente na seção 3, no bordo da queda.
Segundo Rouse, para um canal horizontal ou de fraca declividade e seção
retangular, a altura crítica ocorre a uma distância a montante da queda da ordem de 3 a
4 e a altura d’água no bordo da queda, medida verticalmente, é aproximadamente dada
por .
Neste problema de reservatório alimentando um canal, em princípio não se sabe se
o canal é de forte ou fraca declividade, pois não se conhece a vazão escoada. Assim,
inicialmente pode-se levantar a hipótese de que a declividade é forte, determinando-se a
vazão pela equação:

√ √

Se a seção do canal for retangular, e daí a altura crítica e a altura nominal , pela
fórmula de Manning, e verifica-se que a hipótese é verdadeira se < , caso contrário a
declividade é fraca.
Canais de qualquer forma

=>

Nas condições de regime crítico

=>

Combinando-se as equações, pode-se estabelecer a relação entre a energia mínima


Ec, em um canal de forma qualquer, e a geometria do escoamento. Na condição de regime
crítico:

=>

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