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6.

6) Escoamentos Potenciais Planos


O maior atrativo da equação de Laplace é sua linearidade. Observe que, devido a
natureza linear da equação, nós podemos somar várias soluções para obter uma outra
solução. Assim se nós conhecermos certas soluções básicas, podemos combiná-las para
obter outras soluções de problemas mais complicados e interessantes.

6.5.1) Escoamento Uniforme


As linhas de corrente são retas paralelas e o módulo da velocidade do escoamento
é constante. Para um escoamento uniforme no sentido positivo do eixo x com u=U e v=0,
o potencial de velocidade é dado por:

A função corrente correspondente a esse potencial pode ser obtida de modo


análogo:

Estes resultados podem ser generalizados para fornecer o potencial de velocidade


e a função corrente para um escoamento uniforme que apresenta um ângulo 𝛼 em relação
ao eixo x. Assim:

6.5.2) Fonte e Sorvedouro


Suponha que o eixo z seja uma espécie de tubo distribuidor bem fino, por meio do
qual o fluido seria emitido uniformemente a uma vazão total Q ao longo do seu
comprimento b. Observando o plano xy, veríamos um escoamento radial. As velocidades
em coordenadas polares são dadas por:

A função corrente e o potencial são dados por:

em que m = Q/(2.𝜋.b) e está em m3/s, sendo uma constante, positiva para fonte, negativa
para um sumidouro.
O 2𝝅 da fórmula acima foi usado por considerarmos um sorvedouro com
escoamento nos 360º. Logo, devemos usar o ângulo para qual o escoamento
encontra-se limitado, caso isso ocorra.

6.5.3) Vórtice
Escoamento onde as linhas de corrente são circulares e concêntricas.
Onde K é uma constante chamada intensidade do vórtice. Pode parecer estranho
que o escoamento num vórtice possa ser irrotacional. Entretanto, é necessário lembrar
que a rotacionalidade se refere a rotação do elemento fluido e não a trajetória seguida
pelo elemento.
A circulação é um conceito matemático normalmente associado ao movimento
vertical. A circulação, Γ, é definida como a integral de linha do componente tangencial
do vetor velocidade tomada em torno de uma curva fechada C no campo de escoamento.
Assim:

A circulação é nula nos escoamentos irrotacionais. Entretanto, a circulação não é


nula se existirem singularidades dentro da curva de integração. Nesse caso, a circulação
em torno de uma trajetória circular de raio r é:

O potencial de velocidade e a função corrente para o vórtice livre normalmente


são escritos em função da circulação.

O 2𝝅 da fórmula acima foi usado por considerarmos um vórtice com


escoamento nos 360º. Logo, devemos usar o ângulo para qual o escoamento
encontra-se limitado, caso isso ocorra.

6.5.4) Superposição: fonte e sumidouro de igual intensidade


Por exemplo, considere uma fonte +m localizada em (x,y)=(-a, 0), combinada com
um sumidouro de igual intensidade -m, localizado em (+a, 0). A função corrente
correspondente é igual a soma das duas:
6.5.5) Fonte e Vórtice na origem
As funções corrente e potencial de velocidade compostas são:

Essa é uma simulação razoavelmente realista de um tornado ou então um “vórtice


de ralo” com drenagem rápida.

6.5.6) Escoamento uniforme mais uma fonte na origem: o semicorpo de Rankine

Ela forma um semicorpo curvo, aproximadamente elíptico, que separa o


escoamento da fonte do escoamento da corrente. A forma do corpo é formada pelas linhas
de correntes particulares 𝝍 = ± 𝝅.m. A semiespessura do corpo (r.sen𝜃), bem a jusante,
é 𝝅.m/U. A superfície superior pode ser traçada pela relação:

O “nariz” do corpo que é um ponto de estagnação, em que V = 0, fica em (x, y) =


(-a, 0), em que a = m/U.
Os componentes das velocidades são:

A velocidade máxima é em 𝜃 ≈ 63º, onde y ≈ 2,04a e Umáx = 1,26U. A espessura


do semicorpo de Rankine é 2𝜋a.
6.5.7) Escoamento em torno de um vórtice
Considere uma corrente uniforme U na direção x escoando em torno de um vórtice
de intensidade K com centro na origem. A função corrente composta é:

Os componentes de velocidade são:

Provavelmente, a coisa mais interessante acerca deste exemplo é que existe uma
força de sustentação não nula, normal à corrente, sobre a superfície de qualquer região
envolvendo o vórtice.

6.5.8) Uma fileira infinita de vórtices:


Considere uma fileira infinita de vórtices de intensidade K e mesmo espaçamento
“a”. Este caso ilustra o interessante conceito de uma lâmina de vórtices.
Essa soma de vórtices nos fornece a seguinte função corrente:

As linhas de corrente formam o chamado padrão olho de gato. Acima dos olhos
de gato o escoamento é todo para esquerda e abaixo dos olhos de gato o escoamento é
todo para direita. Além disso, esse escoamento para a esquerda (negativo) e para direita
(positivo) tornam-se uniformes, e seus valores são:

A intensidade da camada é definida como:

A circulação em torno de qualquer curva fechada que envolva um pequeno


comprimento dx da lâmina seria:

Logo, a intensidade da lâmina é a circulação por unidade de comprimento da


lâmina. Assim, quando uma lâmina de vórtices é imersa em uma corrente uniforme, 𝛾 é
proporcional à sustentação por unidade de comprimento de qualquer superfície que
envolva a lâmina.
Observe que não há velocidade normal à lâmina na sua superfície. Logo, uma
lâmina de vórtices pode simular o formato de um corpo fino como, por exemplo, uma
placa ou um aerofólio delgado.
6.5.9) Dipolo:
Quando a distância entre uma fonte e um sumidouro tende a zero, temos um
dipolo. Para mantermos a intensidade do escoamento grande o suficiente para exibir
velocidades aceitáveis à medida que “a” se torna pequeno, especificamos que o produto
2.a.m permanece constante. Vamos chamá-lo de constante 𝜆. Logo, a função corrente de
um dipolo é:

A quantidade 𝜆 é chamada de intensidade do dipolo.


O potencial de velocidades de um dipolo será:

As funções do dipolo podem também ser escritas em coordenadas polares:

6.6) Escoamentos planos em torno de formatos de corpo fechado

6.6.1) A oval de Rankine


É formado por um par fonte-sumidouro alinhado com uma corrente uniforme. A
função corrente composta é:

A oval é a linha 𝜓=0. Há pontos de estagnação na frente e na traseira, x = ±L, e


pontos de velocidade máxima e pressão mínima dos ombros da oval y = ±h. Todos esses
parâmetros são dados da maneira abaixo:
Onde:
• 2L é o comprimento total da oval;
• a é a distância das fontes ao centro da oval;
• L – a é a distância da fonte ao seu ponto de estagnação mais próximo;
• 2h é a largura/altura da oval;
• umáx fica no “ombro” (1,74U∞ da figura é apenas um dos casos);
• 2L ≥ 2h; e
• Quando L=h (ou seja, o corpo de Rankine vira um círculo) umáx = 2U∞ e
passamos a adotar as fórmulas do escoamento em torno de um cilindro circular (sem
circulação k será zero) do item abaixo 6.6.3.

No limite, com m/(U.a) → ∞, L/h → 1, e umáx/U∞ → 2, o que equivale ao


escoamento em torno de um cilindro circular.
Todas as ovais de Rankine, exceto aquelas bem delgadas, têm um forte gradiente
de pressão adverso em sua superfície posterior. Assim, a separação da camada limite irá
ocorrer na traseira seguida de uma larga esteira descolada, e o padrão não viscoso não
será realista nessa região.

6.6.2) Oval de Kelvin


Se U∞ for para a direita, o vórtice negativo –K é colocado em y = +a e o
vórtice anti-horário + K é colocado em y = - a.

Para K/(U∞.a) > 10, esse corpo pode ser aproximado por uma oval de Rankine
girada de 90º. Em que 2L passa a ser a altura e 2h a largura.
A velocidade máxima é no “ombro” (Y = L).

6.6.3) Escoamento em torno de um cilindro circular com circulação


Corresponde a uma corrente uniforme, mais um dipolo, mais um vórtice. A
intensidade do dipolo é dada por 𝝀 = U∞.a2. A função corrente é dada por:

A linha 𝜓 = 0 corresponde ao círculo r = a, isto é, o formato do corpo cilíndrico.


À medida que a circulação Γ = 2.𝜋.K aumenta, o escoamento torna-se mais rápido abaixo
do cilindro e mais lento acima dele. Os componentes de velocidade do escoamento são
dados por:

A velocidade na superfície do cilindro é puramente tangencial, conforme se


esperava. A equação para descobrir os pontos de estagnação é dada por V𝜃 = 0:

Para valores pequenos de K, aparecem dois pontos de estagnação sobre a


superfície. O caso-limite ocorre quando os dois pontos de estagnação se encontram no
topo, K/(U∞.a) = 2, 𝜃e = 90º.
Para K > 2.U∞.a, a equação acima não é válida e o único ponto de estagnação
ocorre acima do cilindro, em ponto y = h dado por:

O ponto de maior velocidade e menor pressão na superfície encontra-se em


𝜃=270º. Ao aplicar Bernoulli nesse tipo de configuração, não levou-se em consideração
a variação de z.

OBS: Em todos os casos acima pode ocorrer cavitação na superfície do corpo nos pontos
de menor pressão (maior velocidade) quando a pressão do local atinge a pressão de vapor
do fluido.

6.6.4) O teorema da sustentação de Kutta-Joukowski


Os escoamentos em torno de um cilindro com circulação, desenvolvem uma
sustentação não viscosa para baixo, normal à corrente livre, denominada força de
Magnus-Robins. A sustentação é proporcional à velocidade da corrente e à intensidade
do vórtice. A velocidade acima do cilindro é menor e, portanto, a pressão é maior. O
oposto ocorre na parte de baixo.
Ao calcularmos a força de arrasto para esse cilindro vemos que ela é zero. Esse é
um caso especial do paradoxo de d’Alembert: Segundo a teoria não viscosa, o arrasto
de qualquer corpo de qualquer formato, imerso em uma corrente uniforme, é
identicamente nulo. Esse paradoxo só foi quebrado quando Prandtl evidenciou pela
primeira vez o efeito profundo da camada-limite delgada sobre o padrão de escoamento
na traseira do corpo.
A força de sustentação normal à corrente é dada pela integração das forças de
pressões verticais. Assim:

Segundo a teoria não viscosa, a sustentação por unidade de profundidade de


um cilindro de formato arbitrário imerso em uma corrente uniforme é igual a
𝝆.U∞.𝚪, em que 𝚪 é a circulação líquida total contida no interior do corpo. A direção
da sustentação é a 90º em relação à direção da corrente, girando no sentido contrário
ao da circulação.

6.6.5) Sustentação e arrasto experimentais de cilindros rotativos


A realização física do caso acima poderia ser um cilindro rotativo em uma corrente
livre. A condição de não escorregamento faria o fluido em contato com o cilindro mover-
se tangencialmente à velocidade 𝜗! = a.𝜔, estabelecendo uma circulação líquida.
A teoria não viscosa para a sustentação forneceria:

em que 𝝑𝜽𝒔 = K/a é a velocidade periférica do cilindro.


OBS: Ver exemplo 8.3 (Empuxo)

EXTRA:

• O 16º não é fixo, varia com os valores de CL e CD.


• Para calcular o lift e o drag usa-se a velocidade relativa na fórmula.
• V está alinhado com F (F é a resultante do lift e do drag).
• Lift e Drag são sempre perpendiculares.
• Cres2 = Cdrag2 + Clift2

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