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6) Análise Diferencial dos Escoamentos

6.1.1) Campo de Velocidade e Aceleração:


Um dos métodos para descrever o movimento dos fluidos é denominado Método
de Euler, onde V é em função de (x, y, z, t).

O vetor aceleração de uma partícula fluida é dado por:

O termo ∂V/∂t é chamado de aceleração local, que desaparece se o escoamento


for permanente. Os demais termos são chamados de aceleração convectiva, que aparece
quando a partícula se desloca por regiões com velocidade variável no espaço.
Já as componentes do vetor aceleração são descritas por:

onde o operador

é denominado derivada material ou derivada substantiva.

6.1.3) Movimento Angular e Deformação:


Nós podemos agrupar as 3 componentes do vetor velocidade angular, w, ou seja

Note que w é igual a metade do rotacional do vetor velocidade,

O vetor vorticidade, 𝜉, é definido por


De modo geral, a rotação (e a vorticidade) é nula quando o rot V = 0. Nós
denominamos de escoamento irrotacional todos os escoamentos que apresentam
rotacional da velocidade nulo em todos os seus pontos.

6.2.1) Equação da Continuidade na Forma Diferencial


A forma final da equação diferencial da conservação da massa (também conhecida
como equação da continuidade) é dada por:

Pode-se utilizar também a notação vetorial:

Se o escoamento é compressível e o regime for permanente:

Para variações de altura desprezíveis, a variação de pressão está relacionada com


a variação de velocidade pela equação de Bernoulli. Sabe-se também que a variação de
pressão é aproximadamente proporcional à variação da massa específica e ao quadrado
da velocidade do som a no fluido. Combinado essas equações, obtemos um critério
explícito para escoamento incompressível:

em que Ma = V/a é o número de Mach adimensional do escoamento. O limite


comumente aceito é Ma ≤ 0,3. Para o ar nas condições padrão, um escoamento pode,
então, ser considerado incompressível se a velocidade for menor que aproximadamente
100 m/s. Além disso, está claro que quase todos os escoamentos de líquidos são
incompressíveis, já que as velocidades de escoamento são baixas e a velocidade do som
é muito alta.

6.2.2) Sistemas de Coordenadas Cilíndrico Polar


A forma diferencial da forma equação da continuidade em coordenadas cilíndricas
é:

6.2.3) Função Corrente


Para um escoamento bidimensional, permanente e incompressível:
A função corrente simplifica bastante a análise do escoamento (podemos
determinar apenas essa função ao invés das componentes das velocidades).
Uma outra vantagem de utilizar a função corrente para descrever os escoamentos
está relacionada ao seguinte fato: as linhas onde 𝜓 é constante também são linhas de
corrente. As linhas de corrente são as linhas do escoamento que sempre são tangentes à
velocidade. A definição da linha de corrente impõe que a inclinação da linha de corrente
em qualquer ponto é dada por:

Existe um número infinito de linhas de corrente para um determinado campo de


escoamento porque é possível construir uma linha de corrente para cada valor de 𝜓.
A vazão em volume, q, entre duas linhas de corrente 𝜓1 e 𝜓2 pode ser determinada
da seguinte forma:

Além disso, a direção do escoamento pode ser estabelecida observando-se se 𝜓


aumenta ou diminui. O escoamento é para direita se 𝜓2 for maior do que 𝜓1, em que os
subscritos 2 e 1 significam superior e inferior, respectivamente; caso contrário o
escoamento é para esquerda.
Para um escoamento bidimensional plano em coordenadas cilíndricas temos:

6.4.4) Escoamento incompressível com simetria axial


Admita que o escoamento seja tridimensional, mas sem variações
circunferenciais, 𝜈! = ∂/∂𝜃 = 0. Um escoamento desses é chamado de escoamento com
simetria axial.
A forma de uma função corrente com simetria axial incompressível 𝜓(r, z) é:

Aqui novamente as linhas de 𝜓 constante são linhas de corrente, mas há um fator


(2𝜋) na vazão volumétrica: 𝑄"→$ = 2𝜋(𝜓2 - 𝜓1).

6.2.5) Escoamento plano compressível permanente


Uma função corrente de escoamento compressível pode ser definida tal que:
Novamente, as linhas de 𝜓 constante são linhas de corrente do escoamento, mas
a variação em 𝜓 agora é igual à vazão em massa, e não em volume.
No entanto, a função corrente compressível não é um grande avanço e terão de ser
adotadas outras hipóteses para obter uma solução analítica para um problema típico.

6.3) Conservação da Quantidade de Movimento Linear

6.3.1) Descrição das Forças que Atuam no Elemento Diferencial


Nós devemos considerar dois tipos de forças que atuam no elemento fluido: as
forças de superfície (que atuam na superfície do elemento) e as forças de campo (que são
forças distribuídas que atuam no meio do fluido. Só vamos considerar a força de campo
devido à aceleração da gravidade.

As forças superficiais que atuam no elemento são o resultado da interação do


elemento com o meio.

6.3.2) Equações do Movimento


As equações do movimento podem ser obtidas aplicando as expressões para as
forças de campo e de superfície.

6.4) Escoamento Invíscido


As tensões de cisalhamento presentes nos escoamentos são devidas a viscosidade
do fluido. Como para alguns fluidos a viscosidade é muito pequena, parece razoável
admitir que nós podemos desprezar os efeitos de viscosidade (tensões de cisalhamento
nulas) em alguns escoamentos. As tensões normais que atuam num ponto do fluido
independem da direção se não existirem tensões de cisalhamento atuando no fluido.
Vamos definir a pressão, P, como a tensão normal.

6.4.1) As Equações do Movimento de Euler


As equações gerais do movimento, quando aplicadas aos escoamentos invíscidos,
ficam reduzidas a:

Estas relações são conhecidas como equações de Euler.

6.4.2) Fluido Newtoniano: equações de Navier-Stokes


Para um fluido newtoniano, as tensões viscosas são proporcionais às taxas de
deformação do elemento e ao coeficiente de viscosidade. A equação abaixo é a equação
diferencial da quantidade de movimento para um fluido newtoniano com massa específica
e viscosidade constantes:

Essas são as equações de Navier-Stokes. Esse conjunto de três equações


apresentam quatro incógnitas: P, u, v e w. Elas deverão ser combinadas com a relação de
continuidade incompressível para formar quatro equações com essas quatro incógnitas.

6.4.3) A Equação de Bernoulli


Para um escoamento invíscido e incompressível (escoamento ideal):

Ela também pode ser escrita da seguinte forma:


Nós devermos enfatizar que a equação de Bernoulli, está restrita aos escoamentos
ao longo de uma linha de corrente, invíscidos, incompressíveis e que ocorrem em regime
permanente.

6.5) A equação diferencial da quantidade de movimento angular


Não há uma equação diferencial da quantidade de movimento angular. A
aplicação do teorema integral a um elemento diferencial fornece o resultado de que as
tensões de cisalhamento são simétricas.

6.6) Condições de contorno para as equações básicas


Quais são as condições de contorno apropriadas? Primeiro, se o escoamento é não
permanente, deve haver uma condição inicial ou distribuição espacial conhecida para
cada variável.
Depois disso, para todos os instantes t a serem analisados devemos conhecer algo
sobre as variáveis em cada fronteira que limita o escoamento.
Os três tipos mais comuns de fronteiras encontradas na análise de escoamento de
fluidos são: uma parede sólida, uma entrada ou saída e uma interface líquido-gás.
Primeiro, para uma parede sólida, impermeável, não há escorregamento nem salto
de temperatura para um fluido viscoso condutivo.
Segundo, em qualquer seção de entrada ou saída do escoamento, a distribuição
completa de velocidade, pressão e temperatura deve ser conhecida em todos os instantes.

6.6.1) Escoamento incompressível com propriedades constantes


Escoamento com 𝜌, 𝜇 e K constantes é uma simplificação básica. As equações
básicas reduzem-se a:

Podemos usar as seguintes condições de contorno:

6.6.2) Aproximações de escoamento não viscoso


Nesse caso considera-se 𝜇 = 0. A equação da quantidade de movimento reduz-se
a:

Essa é a equação de Euler; ela pode ser integrada ao longo de uma linha de
corrente para obter a equação de Bernoulli. Ao contrário do caso acima, pode ocorrer
deslizamento entre o fluido e a parede, no entanto ele não penetra a parede. A condição
não viscosa adequada é que as velocidades normais devem ser iguais a da superfície
sólida:

Nenhuma condição é imposta sobre o componente tangencial da velocidade na


parede no escoamento não viscoso.

6.4.3) Escoamento irrotacional:


A análise dos escoamentos invíscidos fica mais simples se nós admitirmos que o
escoamento é irrotacional. Devem ser atendidas as seguintes condições:

Um campo de escoamento geral não satisfaz estas três equações. Entretanto, um


escoamento uniforme, satisfaz estas condições. Como u=U (constante), v=0 e w=0, as
equações acima são satisfeitas. Assim, um campo de escoamento uniforme (onde não
existem gradientes de velocidade) é um exemplo de escoamento irrotacional.

6.4.4) A Equação de Bernoulli para Escoamento Irrotacional

É idêntica a equação anterior, no entanto a primeira estava com a aplicação restrita


entre dois pontos de uma linha de corrente. A equação acima está restrita a escoamentos
invíscidos, incompressíveis, irrotacionais e que ocorrem em regime permanente.

6.4.5) Potencial de Velocidade


Em um escoamento irrotacional, os componentes do vetor velocidade destes
escoamentos podem ser expressos a partir de uma função escalar 𝜙(x, y, z, t), ou seja,

onde 𝜙 é denominado potencial de velocidade. Linhas de 𝜙 constante são chamadas de


linhas equipotenciais do escoamento.
O potencial de velocidade é uma consequência da irrotacionalidade do campo de
escoamento enquanto que a função corrente é uma consequência da conservação de
massa. É interessante ressaltar que o potencial de velocidade pode ser definido para um
escoamento tridimensional geral enquanto que a função corrente está restrita a
escoamentos bidimensionais.
A equação de conservação de massa para um escoamento incompressível é:
e lembrando que num escoamento irrotacional, V é igual a ∇𝜙, temos

onde ∇2( ) = ∇.∇ ( ) é o operador Laplaciano. Este operador em coordenadas cartesianas


apresenta a seguinte forma:

Esta equação diferencial aparece em muitas áreas da engenharia e da física e é


conhecida como a equação de Laplace. Os escoamentos invíscidos, incompressíveis e
irrotacionais são descritos pela equação de Laplace e este tipo de escoamento
normalmente é denominado escoamento potencial.
Em coordenadas cilíndricas:

6.4.6) Ortogonalidade de linhas de corrente e linhas equipotenciais


Se um escoamento é irrotacional e descrito por apenas duas coordenadas, existem
𝜓 e 𝜙 e as linhas de corrente e as linhas equipotenciais são, em todos os pontos,
mutuamente perpendiculares exceto em um ponto de estagnação.

6.4.7) Geração de vorticidade


A equação de Bernoulli requer escoamento sem atrito e sem trabalho de eixo ou
transferência de calor entre as seções 1 e 2. O escoamento pode ser rotacional ou
irrotacional, sendo este último caso uma condição mais simples, permitindo o uso da
constante de Bernoulli universal.
Um escoamento de fluido que seja inicialmente irrotacional pode se tornar
irrotacional se houver forças viscosas significativas induzidas por jatos, esteiras ou
fronteiras sólidas. Neste caso, a equação de Bernoulli não será válida nessas regiões
viscosas. Isso ocorre próximo a superfícies sólidas, em que a condição de não
escorregamento cria uma camada-limite na qual a velocidade da corrente cai a zero, e em
jatos e esteiras, nos quais correntes de diferentes velocidades se encontram em uma região
de intenso cisalhamento.
De uma forma geral, a camada-limite é laminar, ou suave, próximo ao nariz do
corpo e turbulenta, ou desordenada, em direção à traseira do corpo. Ocorre uma região
separada, ou região morta, nas proximidades do bordo de fuga, seguida de uma esteira
turbulenta não permanente que se estende a jusante.
Algum tipo de teoria de escoamento viscoso, laminar ou turbulento deve ser
aplicado a essas regiões do escoamento; elas são, então, embutidas no escoamento
externo, que é isento de atrito e irrotacional. Se o número de Mach da corrente for menor
do que aproximadamente 0,3, podemos usar a equação de Laplace:
6.5) Alguns escoamentos viscosos incompressíveis ilustrativos
Os escoamentos não viscosos não satisfazem a condição de não escorregamento.
Eles “escorregam” na parede, mas não a atravessam. Para examinarmos as condições
completas viscosas de não escorregamento, devemos trabalhar a equação completa de
Navier-Stokes (4.74), e o resultado em geral não é totalmente irrotacional, nem existe um
potencial de velocidade. Examinamos aqui três casos: (1) escoamento entre placas
paralelas em virtude de uma parede superior em movimento, (2) escoamento entre placas
paralelas por causa de um gradiente de pressão e (3) escoamento entre cilindros
concêntricos com o cilindro interno girando.

6.5.1) Escoamento de Couette entre uma placa fixa e outra móvel


Considere o escoamento viscoso plano incompressível bidimensional entre placas
paralelas separadas por uma distância 2. Admitimos que as placas são muito largas e
muito longas, de forma que o escoamento é essencialmente axial, u ≠ 0, mas y = w = 0.
Neste caso, a placa superior se move a uma velocidade V, mas não há gradiente de
pressão. Despreze os efeitos da gravidade. Aprendemos da equação da continuidade que:

Portanto, há um único componente de velocidade axial não nulo, que varia


somente através do canal. Dizemos que o escoamento é totalmente desenvolvido (bem a
jusante da entrada).
Na equação de Navier-Stokes, muitos termos se anulam e a equação da quantidade
de movimento se reduz simplesmente a:

As duas constantes são encontradas aplicando-se a condição de não


escorregamento nas placas superior e inferior:

Este é o escoamento de Couette em virtude de uma parede móvel: um perfil de


velocidade linear sem escorregamento nas paredes.

6.5.2) Escoamento entre duas placas fixas por causa de um gradiente de pressão
Nesse caso, a pressão varia na direção x. Se v = w = 0, a equação da continuidade
nos diz que u = u(y) apenas. A equação da quantidade de movimento x difere apenas
porque a pressão é variável:
Além disso, como v = w = 0 e a gravidade é desprezada, as equações da quantidade
de movimento y e z conduzem a:

Assim:

Por que acrescentamos o fato de que dp/dx é constante? Lembre-se de uma


conclusão útil da teoria da separação de variáveis: se duas grandezas são iguais e uma
varia somente com y e a outra somente com x, então ambas devem ser iguais à mesma
constante. Caso contrário, elas não seriam independentes uma da outra.
Por que dizemos que a constante é negativa? Fisicamente, a pressão deve diminuir
na direção do escoamento para dirigi-lo e vencer a resistência da tensão de cisalhamento
na parede.
A solução fica então:

As constantes são determinadas pela condição de não escorregamento em cada


parede:

Assim, o resultado fica:

O escoamento forma uma parábola de Poiseuille de curvaura negativa constante.


A velocidade máxima ocorre na linha de centro y = 0.

6.5.3) Escoamento totalmente desenvolvido laminar em tubo


Por totalmente desenvolvido entendemos que a região estudada está
suficientemente distante da entrada, de modo que o escoamento é puramente axial, 𝜐% ≠
0, enquanto 𝜐& e 𝜐! são iguais a zero. Desprezamos a gravidade e também supomos que
haja simetria axial. A equação da continuidade em coordenadas cilíndricas se reduz a:

O escoamento prossegue diretamente pelo tubo sem movimento radial. A equação


da quantidade de movimento em r, em coordenadas cilíndricas é simplificada ficando
∂P/∂r = 0, ou P = P(z) apenas. A equação da quantidade de movimento em z, em
coordenadas cilíndricas, reduz-se a:
O termo da aceleração convectiva à esquerda desaparece por causa da equação da
continuidade dada anteriormente. Assim a equação da quantidade de movimento pode ser
rearranjada da seguinte forma:

O resultado fica:

As condições de contorno são de não escorregamento nas paredes e de velocidade


finita na linha de centro. Para evitar uma singularidade logarítmica, a condição na linha
de centro requer que C1 = 0. A solução final e muito conhecida para o escoamento de
Hagen-Poiseuille desenvolvido é:

O conhecimento da distribuição de velocidade permite-nos calcular outros


parâmetros:

Observe que substituímos a igualdade (-dP/dz) = ∆p/L, em que ∆p é a queda de


pressão ao longo de todo o comprimento L do tubo.
Essas fórmulas são válidas desde que o escoamento seja laminar, isto é, quando o
adimensional número de Reynolds do escoamento, ReD = 𝝆.Vmed.(2R)/𝝁, for menor do
que aproximadamente 2100. Observe também que as fórmulas não dependem da
densidade, e a razão para isso é que a aceleração convectiva desse escoamento é zero.

6.5.4) Escoamento entre cilindros longos e concêntricos


Não há movimento axial ou efeito de extremidade 𝜐% = ∂/∂z = 0. Suponha que o
cilindro interno gire com uma velocidade angular 𝜔i. Admita que o cilindro externo seja
fixo. Há uma simetria circular, assim a velocidade não varia com 𝜃 e varia somente com
r.
A equação da continuidade fica:

Como 𝜐& = 0 nos cilindros externo e interno, conclui-se que 𝜐& = 0 em todos os
pontos e o movimento só pode ser puramente circunferencial, 𝜐! = 𝜐! (r).
Para esse problema, a equação da quantidade de movimento em 𝜃 resulta:

As constantes são determinadas pelas condições de não escorregamento nos


cilindros interno e externo:

A solução final para distribuição de velocidade é:

6.5.5) Instabilidade do escoamento com cilindro interno rotativo


A solução clássica do escoamento de Couette da equação acima descreve um perfil
de velocidade de escoamento laminar côncavo, bidimensional fisicamente satisfatório. A
solução é matematicamente exata para um fluido incompressível. No entanto, ele se torna
instável em uma velocidade de rotação relativamente baixa do cilindro interno

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