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CAPÍTULO 3

HIDROCINEMÁTICA

3.1 Trajetórias e linhas de corrente

Num escoamento liquido existe uma de partículas que se deslocam simultaneamente.

Define-se trajectória de uma partícula com o lugar geométrico dos pontos ocupados pela
partícula ao longo do tempo ou seja, o caminho percorrido pela partícula.

Para definir linhas de corrente, note-se que o vector velocidade é, no caso geral de um
escoamento, função da posição do ponto considerado e do tempo. Por outras palavras, o vector
velocidade num mesmo instante é diferente de ponto para ponto e no mesmo ponto é diferente de
instante para instante (variação simultânea no espaço e no tempo).

Num determinado instante, t, a velocidade constitui um campo de vectores, podendo definir-se


linhas que gozam da propriedade de, em todos seus pontos, a tangente respectiva coincidircom a
direção de velocidade. Tais linhas designam-se por linhas de corrente no instante t.

No caso geral do escoamento, o campo de velocidade e, portanto, as linhas de corrente


modificam-se de instante para instante.

É importante distinguir claramente o conceito de trajetória e da linha de corrente.

Se na superfície livre de um liquido lançarmosum conjunto de partículas flutuantes e filmarmos


o percurso dessas partículas durante um período de tempo muito pequeno, cada uma elas
percorrerá um pequeno segmento de recta na direcção e sentido de velocidade (que se admite
constante durante o tempo de filmagem). As linhas tangentes a esse segmento de recta são linhas
correntes.

O esquema das linhas de correntes pode ser considerado como correspondendo a uma filmagem
instantânea do escoamento (uma única fotografia) e as linhas de corrente referem-se a esse
instante, t.
Fig. 3.1 – trajectória (a mesma partícula ao longo do tempo).

Fig. 3.2 – linhas de corrente (muitas partículas, no mesmo instante).

3.2 – Movimento permanente e movimento variável

Os movimentos dos fluidos podem classificar-se quanto a variação das características do


escoamento no espaço e no tempo.

Chama-se movimento (ou regime) permanente aquele cujas características, em cada ponto, não
variam com o tempo.
Chama-se movimento (ou regime) variável aquele em as características, em cada ponto,
dependem do tempo (variam de instante para instante).

Chama-se movimento (ou regime) permanente uniforme aquele cujas características não
variam com o tempo em cada ponto nem variam d ponto para ponto, ao longo das trajetórias. O
regime permanenteuniforme é assim um caso particular do regime permanente, em que a
velocidade do escoamento se mantem constante ao longo de cada trajetória (nota-se que a
velocidade é uma grande vectorial, sendo portanto constante em instante, direcção e sentido).

Resumindo:

Regime permanente- As características do movimento não variam com o tempo, em cada


ponto.

No casoparticular de as características também não variarem de ponto para ponto ao longo da


trajetória, o regime diz-se permanente uniforme.

Regime variável as características de escoamentovariam em cada ponto, ao longo do tempo.

Para distinguir o regime permanente (não uniforme)do regime permanente uniforme, designa-se
habitualmente o primeiro apenas como regime permanente e o segundo apenas como regime
uniforme.

Num escoamento permanente, as linhas de corrente não se alteram comoo tempo, coincidindo
com as trajectórias. Note-se que a inversão não é verdadeira. As linhas de corrente e as
trajectórias podem coincidir mesmo que o escoamento seja variável(basta que a velocidade varie
apenas em intensidade e sentido, conservando a mesma direcção).

Apresentam-se em seguida exemplos de cada um destes tipos de escoamentos.

Constituem exemplos de movimento uniforme o que se verifica numa conduta cilíndrica,


instaladas entre dois reservatórios de grandes dimensões (nível constante), com excepção dos
trechos muito curtos junto nos extremos – Fig. 3.3. O volume que, na unidade de tempo,
atravessa qualquer secção transversal (caudal) e a distribuição de velocidade, é constante. As
trajetórias são paralelas mantendo-se constantes a velocidade ao longo de cada trajetória (embora
varie de trajetória para trajetória).

Fig. 3.3 – Exemplo de escoamento uniforme

Se na instalação anterior a conduta for tronco-cônico, em vez de cilíndrica, o caudal continuara a


ser igual em todas as secções e invariável com o tempo. Em cada ponto a velocidade é também
invariável com o tempo, mas modifica-se ao longo das trajetórias, pois cresce ou diminui
consoante a conduta se for convergente ou divergente ou divergente. Embora ponto avelocidade
seja invariável com o tempo, uma partícula ao passar de um ponto para o outro, tem a sua
velocidade modificada e possui, portanto, aceleração (positiva ou negativa).
Fig. 3.4 – Exemplo de escoamento permanente

Se um dos reservatórios, por exemplo, o de jusante, for pequeno, o que implica a subida de nível
à medida que decorre o escoamento, o caudal diminui com o mesmo se passando com a
velocidade num ponto qualquer do interior da conduta (seja esta cilíndrica ou tronco-cônica).
Está-se assim na presença de um escoamento variável.

Fig. 3.5 – Exemplo de escoamento variável

Se a partir do regime uniforme da conduta da Fig. 3.3 se fechar um obturador colocado num dos
extremos, por exemplo, no exemplo dejusante, ter-se-á um escoamento variável ate se
estabelecer um novo regime uniforme (ou o repouso, se o obturador for totalmente fechado). Se
não existisse compressibilidade, a passagem para o novo regime uniforme (ou para o repouso)
seria instantâneasem regime variável na transição. O regime variável entre dois regimes
permanentes diz-se transitório.

Ao regime transitório atrás referido chama-se choque hidráulico ou golpe de arriete e é um


fenômeno de grande importância no que respeita a segurança de condutas em pressão, sobretudo
naquelas onde as extensões são grandes e as velocidades elevadas.

Nos dois casos de escoamento variável apresentados, as linhas de corrente e trajetórias


coincidem. Um exemplo de regime variável em que as linhas de corrente e trajetórias não
coincidem, é o de um reservatório de pequenas dimensões, com um ofício na parede. A
superfície da água ira baixando durante o escoamento e a configuração do jacto ir-se-á
modificando. Fig. 3.6

Fig. 3.6 – Escoamento variável

3.3 – Tubos de corrente, secção recta, isotáquias

Designa-se por tubo de corrente o conjunto de linhas de corrente que apoiam num
contorno fechado qualquer, colocado no interior do escoamento – Fig. 3.7.

A área intersectada num tubo e corrente, perpendicularmente às linhas de corrente,


constitui uma secção recta do escoamento. Se esta secção for infinitamente pequena, ter-se-á um
filamento de corrente.
Fig. 3.7 – Tubo de corrente

Um tubo (ou um canal) onde se processa um escoamento constitui um tubo de corrente.


Uma secção desse tubo(ou canal) perpendicularmente à direcção do escoamento, constitui uma
secção recta desse escoamento.

As linhas que, numa secção recta, unem os pontos com igual velocidade media temporal
V, chama-se isotáquias.

3.4 – Velocidade média numa secção recta

O valor médio espacial das velocidades media temporais V nos diferentes pontos de uma
secçãorecta, chama-se velocidade media U nessa secçãorecta.

3.5 – Caudal

Define-se caudal Q como a volume de fluido escoando através de uma secçãorecta, na


unidade de tempo.

3.6 – Movimentos laminar e movimento turbulento

Os movimentos fluidos podem classificar-se quanto à agitação das partículas liquidas em


dois tipos:
Movimento laminar (ou viscoso), em que cada partícula descreve uma trajectória bem
definida, com velocidade unicamente na direcção e sentido do escoamento (Fig. 3. 8. a).

Movimento turbulento (ou hidráulico), em que cada partícula, além da velocidade no


sentido do escoamento, está animada de agitação, com velocidades transversais ao escoamento
(Fig. 3. 8. b).

O escoamento laminar é caracterizado por caminhamento disciplinado das partículas


fluidas, que seguem trajectórias regulares; as trajectórias de duas partículas vizinhas nunca se
cruzam.

No escoamento turbulento a velocidade num dado ponto varia constantemente em


grandeza e direcção, sem regularidade. As trajectórias são extremamente irregulares. No
escoamento no interior de uma conduta, uma partícula pode localizar-se, num instante, na
vizinhança do eixo, e, no instante seguinte, junto

a) Regime laminar

b) Regime turbulento

Fig. 3.8
Um escoamento tem tanto mais tendência para ser laminar, quanto mais baixa é a
velocidade e o diâmetro do tubo e quanto mais alta é a viscosidade.

A passagem de um movimento laminar para um movimento turbulento dá-se para um


determinado valor de um parâmetro adimensional, chamado Numero de Reynolds.

Embora exista, de facto, uma zona de transição entre os dois tipos de escoamento, a que
corresponde uma certa faixa de variação do Numero de Reynolds, admite-se que a passagem se

dá quando este numero atinge o valor 2 000. Para , o escoamento é turbulento.

A grande maioria dos problemas práticos da hidráulica dizem respeito a movimentos turbulentos
nomeadamente todos aqueles que serelacionam com o transporte de água para irrigação,
abastecimentos, drenagens, produção d energia, etc,.

Continuam a definir-se escoamentos uniformes e permanentes, mesmo nos regimes turbulentos,


tratando-se então de uniformidade ou de permanência de valôr médios no tempo.

A variação da velocidade com o tempo num dado ponto de um escoamento turbulento


permanente está representada na Fig. 3.9 (a) e a de um escoamento turbulento variável na Fig. 3.
9 (b).

Fig. 3.9 – Velocidade em função do tempo num turbulento. Regime permanente (a) e regime
variável (b) .
Um escoamento turbulento diz-se permanente quando, em qualquer dos seus pontos, o valôr
médio da velocidade, V ao longo do tempo, éconstante. A velocidade num dado ponto e num
determinado instante pode considerar-se como a soma vectorial de uma velocidade media no
tempo ou velocidade de transporte, V, (responsável pelo transporte das partículas para jusante), e
de uma velocidade de agitação ou flutuação turbulenta da velocidade, V, de carácter aleatório.

O valor médio no tempo da velocidade de agitação e evidentemente nulo.

A Fig. 3. 10 apresenta a distribuição da velocidade num dado instante numa secção de uma
conduta com escoamento turbulento.

Fig. 3.10 – Distribuição instantânea da velocidade em regime turbulento.

Se o escoamento turbulento for permanente, o caudal numa dada secção (contrariamente ao que
se passa com a velocidade em qualquer dos seus pontos) praticamente não varia, de instante para
instante, em consequência de agitação, pois os efeitos desta sobre o caudal compensam-se na
totalidade da secção.

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