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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA


E URBANISMO
Departamento de Estruturas

ENERGIA DE DEFORMAÇÃO E
TEOREMAS DA ENERGIA

PROF DR. NILSON TADEU MASCIA

BOLSISTA PED: BRUNO FERNANDES

CAMPINAS, 2017 (REVISÃO 2021)


Sumário
1. Introdução............................................................................................................................... 2
2. Cálculo pelas tensões e deformações ..................................................................................... 4
3. Cálculo pelos esforços solicitantes ......................................................................................... 8
3.1 Análise da expressão geral de U ....................................................................................... 9
4. Cálculo pelas cargas ............................................................................................................. 11
5. Teorema de Maxwell ........................................................................................................... 13
5.1 Generalização do Teorema de Maxwell ......................................................................... 16
6. Teorema de Castigliano ....................................................................................................... 18
6.1 Consequência do Teorema de Castigliano (Teorama de Menabrea) .............................. 20
7. Cálculo do Deslocamento pelo Teorema de Castigliano ..................................................... 21
8. Exemplos .............................................................................................................................. 23
8.1 1º Exemplo ...................................................................................................................... 23
8.2 2º Exemplo ...................................................................................................................... 26
8.3 3º Exemplo ...................................................................................................................... 27
8.4 4º Exemplo ...................................................................................................................... 29
8.5 5º Exemplo ...................................................................................................................... 30
8.6 6º Exemplo ...................................................................................................................... 34
9. Bibliografia.......................................................................................................................... 38

Nota do autor
Esta apostila tem por objetivo dar ao aluno que frequenta o curso de Mecânica dos
Sólidos um material complementar, que o auxilie no acompanhamento das aulas regulares.
Não tem por objetivo substituir livros de Mecânica dos Sólidos nem quaisquer outros
materiais didáticos.

1
ENERGIA DE DEFORMAÇÃO E TEOREMAS DA ENERGIA

1. Introdução

Em mecânica, energia é definida como a capacidade de produzir trabalho, sendo este o


produto de uma força por uma distância na direção do movimento. Nos corpos sólidos
deformáveis, tensões multiplicadas por suas respectivas áreas são forças, e deslocamentos
(deformações associadas a um elemento) são distâncias. O produto dessas duas quantidades é
o trabalho interno realizado em um corpo sob ação externa (forças). Esse trabalho interno é
armazenado em um corpo como energia elástica interna de deformação ou simplesmente
energia de deformação (U).
Tomando-se uma barra submetida a força axial de tração (Fig. 1), por exemplo, um
ensaio de tração, tem-se um exemplo prático e experimental para se analisar o fenômeno de
energia de deformação.

Fig. 1 – Barra tracionada

Pela Lei de Hooke, tem-se:


N=k∆l

Sendo k uma constante.


A energia de deformação (U) corresponde ao trabalho realizado pela força N no
deslocamento ∆l.
Graficamente:

2
Fig. 2 – Energia de deformação desenvolvida na barra tracionada

Da Fig. 2 pode-se inferir que:


Nx =kx
para x=∆l → Nx =N=k∆l. E também:
dU=Nx dx
Integrando tem-se que:
∆l
U= ∫ dU
0

Daí:
∆l ∆l ∆l
𝑘𝑥 2
U= ∫ Nx dx = ∫ kx dx = |
0 0 2 0

k∆l2
U=
2
E ainda com K=N/∆l:
N ∆l2 N∆l
U= =
∆l 2 2

Que corresponde a área do gráfico Nx∆l.


É importante ressaltar que o trabalho realizado por uma carga num deslocamento ∆l
não é U=N∆l e sim, como mostrado, é U = N∆l⁄2, evidenciando assim que a carga N é
usualmente aplicada lentamente na estrutura. Somente em casos de carregamento rápido ou
instantâneo (carga móvel trem-tipo, carga sísmica e carga de vento, por exemplo) que se
considera U=N∆l.

3
Nos próximos capítulos serão apresentados três métodos de cálculo para a energia de
deformação: cálculo pelas tensões e deformações, cálculo pelos esforços solicitantes e cálculo
pelas cargas.

2. Cálculo pelas tensões e deformações

Considerando-se um estado de tensão dado por:

Fig. 3 – Estado geral de tensão num elemento

Tem-se então, sob efeito da força na direção y:

Fy (Fy =σy dx dz)

um deslocamento ∆dy na direção y, valendo:

∆dy=εy dy

4
Fig. 4 – Deslocamento sob efeito da força e tensão na direção y num elemento

Fazendo-se agora:

1 1
dUy = F ∆dy= σy dxdz × εy dy
2 y 2

Tem-se a energia de deformação devido a força Fy no deslocamento εy dy, sendo o


fator 1⁄2 resultante do carregamento lento.
Analogamente, para as forças Fx e Fz, as parcelas de energia de deformação devido as
forças nos deslocamentos ∆dx e ∆dz valem:

1
dUx = σx dydz × εx dx
2

1
dUz = σz dydx × εz dz
2

Sabendo que o produto dxdydz representa um elemento do volume dV tem-se que:

1
dUx = σx εx dV
2
1
dUy = σy εy dV
2
1
dUz = σz εz dV
2

Chegando-se assim nas parcelas de energia de deformação relativas as tensões


normais. Focando-se agora, nas tensões e deformações tangenciais, tem-se:

5
Fig. 5 – Deformação sob efeito da tensão tangencial em yz num elemento

Então:
1 1
dUyz = τyz dxdy γyz dz= τyz γyz dV
2 2

Observando-se que a área de atuação da tensão tangencial τyz é dxdy e que o deslocamento é
dado por γyz dz.

Analogamente, para τxz e τxy tem-se:

1
dUxz = τxz γxz dV
2
1
dUxy = τxy γxy dV
2

Agora pode-se juntar as parcelas de energia de deformação normais e tangenciais e


mais todo o volume do corpo. Portanto:

dU=dUx +dUy +dUz +dUxy +dUxz +dUyz

Dividindo por dV tem-se:

dU 1 1 1 1 1 1
Uo = = σx εx + σy εy + σz εz + τxy γxy + τxz γxz + τyz γyz
dV 2 2 2 2 2 2

Sendo Uo chamado de Energia Específica de Deformação (Utotal ).

6
Em todo volume, tem-se:

U= ∫ Uo dV
v

Chamada de Energia Total Armazenada.

Se se aplicar a Lei de Hooke na expressão de Uo pode-se obter que:

1 1
Uo = [σx 2 +σy 2 +σz 2 -2ν(σx σy +σx σz +σy σz )]+ [τ 2 +τ 2 +τ 2 ]
2E 2G xy xz yz

Se o elemento de volume estivesse orientado segundo as direções principais de tensão


a segunda parcela da equação se anularia e a primeira parcela ficaria:

1
Utotal =Uo = [σ 2 +σ2 2 +σ3 2 -2ν(σ1 σ2 +σ1 σ3 +σ2 σ3 )]
2E 1

σ1 +σ2 +σ3
Se se fizer σ1 =σ2 =σ3 =p e =p tem-se um estado hidrostático de tensão, no qual
3

a energia despendida para a variação de volume vale:

1-2ν
Uo,v =Udil = ( ) (σ1 +σ2 +σ3 )2
6E

esta energia é a Energia de dilatação. Assim é possível determinar diferença:

Uo -Uo,v =Uo,d é denominada de Energia de distorção valendo:


é denominada de Energia de distorção valendo:
1+ν
Uo,d = [(σ1 -σ2 )2 +(σ2 -σ3 )2 +(σ3 -σ1 )2 ]
6E

Onde esta é a parcela de energia de deformação para variar a forma do corpo, como se utiliza
no Critério da Energia de Distorção.

7
3. Cálculo pelos esforços solicitantes

Considerando-se uma viga e nela um estado plano de tensão como mostra a figura a
seguir:

Fig. 6 – Esforços solicitantes na barra e tensões no ponto P

Do estado de tensão tem-se σx e τxy . Da viga os esforços solicitantes N, M e V.


Relacionando-se ambos e com as propriedades geométrica da seção transversal, A área, S
momento estático e I momento de inercia, tem-se:
N M
σx = + y
A I

VS
τxy =
bI
Substituindo-se tais tensões na expressão a seguir:

U= ∫ Uo dV
v

Tem-se:
1 N2 M2 2 NM 1 V2 S2
Uo = ( 2 + 2 y +2 y) +
2E A I AI 2G b2 I2

E:
l
1 N2 M2 NM V2 A S2
U= ∫ [ [∫ ( 2 + 2 y2 +2 y) dA] + [∫ 2 2 dA]] dx
2E A I AI 2GA bI
0 A A

8
l
1 N2 M2 2
NM V2 A S2
U= ∫ [ [ 2 ∫ dA + 2 ∫ y dA +2 ∫ ydA] + [∫ 2 2 dA]] dx
2E A I AI 2GA b I
0 A A A A

Sendo:

∫ dA =A
A

∫ y2 dA =I
A

∫ ydA =S=0 →momento estático em toda área


A

A S2
∫ dA =c→ fator de forma.
I2 b2
A

Assim:
l
1 N2 M2 cV2
U= ∫ ( + + ) dx
2 EA EI GA
0

Devido à importância desta expressão pode-se acrescentar um momento torçor T e


assim, a expressão anterior torna-se geral escrita por:

l
1 N2 M2 cV2 T2
U= ∫ [ + + + ] dx
2 EA EI GA GIt
0

3.1 Análise da expressão geral de U

Com auxílio das figuras a seguir, que são os deslocamentos elementares numa barra
sujeita aos esforços indicados, tem-se que:

9
N
∆dx=εx dx= dx
EA

M
dϕ= dx
EI

cV
dV= dx
GA

I
dα= dx
GIt

Fig. 7 – Deslocamentos e giros elementares de acordo com o esforço solicitante

Para se obter a energia de deformação basta multiplicar as deformações elementares


pelo esforço solicitante, acrescentado o fator 1/2 do carregamento lento.
Para a obtenção da energia de deformação armazenada em toda a estrutura, sendo esta
composta de várias barras, a integração deve ser estendida para todas as barras.
Em treliças:
l n
1 N2 1 Ni 2 li
U= ∫ dx = ∑
2 EA 2 EAi
0 i=1

Pois M e V valem zero.

10
Em vigas e pórticos:
l
1 M2
U= ∫ dx
2 EI
0

Pois N e V são pequenos em comparação com M na expressão de U.


Em arcos deve-se levar em conta a parcela de N, porém não leva em consideração a
parcela de V. Em estruturas sujeitas a torção, o termo com T é predominante no cálculo de U.

4. Cálculo pelas cargas

Seja uma região de uma estrutura:

Fig. 8 – Efeito da carga no deslocamento de um ponto

Em Ai, um ponto da estrutura, tem-se uma carga aplicada Pi. Seja Bi a posição
deslocada do ponto Ai obtida pela ação do Pi e que Ai e Bi são suficientemente próximos para
se utilizar a teoria de 1ª ordem.

O caminho ̅̅̅̅̅̅̅
Ai -Bi que percorre Ai durante o carregamento depende da maneira e da
sequência de aplicação das cargas, mas, normalmente, será atingido a mesma posição Bi, que
depende apenas dos valores finais das cargas.
O trabalho executado pela carga Pi durante o deslocamento calcula-se pela integral:

ti

Px ⃗⃗⃗
Ti = ∫ ⃗⃗⃗ dt
0

11
Interpretando o trabalho executado pelas cargas como energia potencial perdida, a
soma dos trabalhos Ti deve ser igual a energia de deformação acumulada na estrutura. Isto

permite a conclusão de que o trabalho das cargas não depende do caminho ̅̅̅̅̅̅̅
Ai -Bi percorrido,
mas apenas da posição final deslocada que define as deformações totais e com isto a energia
de deformação.

Deste modo pode-se considerar ̅̅̅̅̅̅̅


Ai -Bi linear e o trabalho da carga Pi vale:

1
Ti = Pi vi
2

onde vi significa a projeção do segmento ̅̅̅̅̅̅̅


Ai -Bi sobre a direção da força.

Somando-se todos os efeitos das cargas tem-se:

1
T= ∑ Pi vi =U
2

A igualdade entre os trabalho externo e interno (Energia de deformação) é


denominada de Teorema de Clapeyron, e como consequência, com o trabalho externo
permite-se calcular o deslocamento quando a carga consiste numa só força. Casos mais
complexos serão vistos quando se estudar o Teorema de Castigliano.
Assim:

Fig. 9 – Deslocamento vertical sob efeito da carga P

Com:
M=-Px ; N=0 e V desprezível

12
Para se descobrir o deslocamento vertical v do ponto de aplicação de P da viga da Fig.
9, tem-se:

l l
1 2 1 2 2 1 P 2 l3
Trabalho Interno→U= ∫ M dx = ∫ P x dx =
2EI 2EI 2 3EI
0 0

1
Trabalho Externo→ T= Pv
2

Igualando U e T, obtém-se:
Pl3
v=
3EI

5. Teorema de Maxwell

O teorema de Maxwell trata de uma estrutura elástica com apenas duas cargas (Pi e Pk)
que podem ser forças ou momentos estáticos. Neste exemplo serão utilizadas forças, pois são
mais visíveis os deslocamentos, e uma viga horizontal. Este caso particular pode ser
extrapolado a estruturas quaisquer, porém preservando-se a ideia do deslocamento v com
projeções nas direções das forças conforme visto no tópico 4.
Assim tem-se uma viga com duas cargas, Pi e Pk, aplicadas nos pontos i e k com a
elástica obtida por este carregamento conforme a Fig.10:

Fig. 10 – Viga sob ação de cargas e deslocamentos correspondentes

As ordenadas vi e vk da elástica pode ser obtida por superposição de efeito (valendo a


teoria de 1ª ordem), como mostra a figura abaixo:

13
Fig. 11 – Superposição de efeitos na viga

onde: δnj indica o deslocamento, sendo o 1º índice, i, a posição do deslocamento e o 2º índice,


j, índica a posição da carga que provocou o deslocamento.
Assim:

vi =Pi δii +Pk δik

vk =Pi δki +Pk δkk

Calcula-se agora o trabalho executado pelas cargas, que deve ser igual a energia de
deformação acumulada na viga deformada. Existem duas formas de carregamento:

 1ª forma de carregamento: Aplica-se apenas Pi que varia de 0 até Pi.

Fig. 12 – Ação de uma carga na viga

Numa segunda fase de carregamento, Pi permanece constante enquanto Pk cresce de 0


até Pk.

Fig. 13 – Ação de duas cargas na viga

14
Apenas as parcelas correspondentes as cargas crescentes levam o fator 1/2, não
aquelas referentes as cargas constantes. Assim o trabalho executado vale:

1 1
T1 = Pi Pi δii +1Pi Pk δik + Pk Pk δkk
2 2

 2ª forma de carregamento:

Fig. 14 – Ação de uma carga, ação de duas cargas na viga

Portanto o trabalho executado vale:

1 1
T2 = Pk Pk δkk + Pi Pi δii +1Pk Pi δki
2 2

A soma dos trabalhos obtida nas duas maneiras de carregamento deve ser,
naturalmente, a mesma conforme Teorema de Clapeyron. Desta maneira:

T1 =T2

1 1 1 1
Pi Pi δii +1Pi Pk δik + Pk Pk δkk = Pk Pk δkk + Pi Pi δii +1Pk Pi δki
2 2 2 2

1Pi Pk δik =1Pk Pi δki

15
δik =δki

que representa o TEOREMA DE MAXWELL de 1864. Seu enunciado diz o seguinte:

“O deslocamento de um ponto i na direção i quando aplicada uma carga no ponto k é


igual ao deslocamento de um ponto k na direção k quando aplicada uma carga no ponto i”.

Passando-se agora esse conceito para as estruturas de engenharia, feito por Otto Mohr
em 1874, que seguem a teoria de 1ª ordem (estruturas planas ou espaciais, isostática ou
hiperestática).
Escolhendo-se dois pontos arbitrários (i e k) da estrutura e duas direções arbitrárias (i
e k) da estrutura, tem-se, como mostra a figura:

Fig. 15 – Efeito de cargas em deslocamentos de pontos

Aplicando no ponto i e na direção pré-fixada Pi, determinar o deslocamento kk’. A


projeção deste deslocamento sobre a direção traçada pelo ponto k é o deslocamento relativo
δki . Pela outra figura determina-se δki e pelo Teorema de Maxwell δki =δik .

5.1 Generalização do Teorema de Maxwell

Tomando-se momentos fletores estáticos como cargas e aplicando a um pórtico como


o da Fig. 16, tem-se um exemplo de generalização do Teorema de Maxwell.

16
Fig. 16 – Efeito de carga e momento em deslocamento e giro de pontos distintos

A Fig. 16 mostra dois pontos, 1 e 2, e duas direções. Nota-se que a direção 2 seria
perpendicular ao plano do pórtico.
Na Fig. 16 A, tem-se a carga na direção 1 e o deslocamento na direção 2  δ21 .
Na Fig. 16 B, tem-se a carga na direção 2 e o deslocamento na direção 1  δ12 .
Pelo Teorema de Maxwell:
δ21 =δ12

Observação: O nome deslocamento relativo neste caso pode trazer confusão do tipo -
como pode o ângulo δ21 ser igual ao segmento δ12 ? Para determinar as dimensões de δ21
observa-se que a carga que produz este valor não é 1 kN mas 1, sem dimensão. Agora com
cargas em kN obter-se-iam rotações em radianos. A unidade de δ21 é 1/kN. Passa-se agora ao
estudo de δ12 se o momento aplicado tivesse a unidade kN.cm, o deslocamento resultaria em
cm. Para um momento 1 (sem dimensão) obtém-se um δ12 em cm/kN.cm resultando em 1/kN.
Assim torna-se possível a igualdade δ21 =δ12 .
Uma generalização pode ser feita trocando-se os deslocamentos por ações (cargas),
como mostra a Fig. 17:

17
Fig. 17 – Efeito de momento em giro em pontos distintos

Na Fig. 17 A, submetendo a seção 1 a uma rotação 1 aparecerá em 2 um momento


reativo M21 .
Na Fig. 17 B, submetendo a seção 2 a uma rotação 2 aparecerá em 1 um momento
reativo M12 .

De acordo com o Teorema de Maxwell:

M21 =M12

Uma outra extensão do Teorema de Maxwell é o Teorema de Betti, que ao invés de


duas cargas se refere a um grupo de cargas.

6. Teorema de Castigliano

Seja o enunciado do Teorema de Catigliano:

“A derivada parcial da energia de deformação em relação a uma carga Pk é igual ao


deslocamento elástico vk do ponto de aplicação da carga”.

onde vk é definido como a projeção do deslocamento sobre a direção da carga.

18
Este teorema enuncia derivada parcial porque U é função de muitas variáveis.
Considerando as cargas como variáveis independentes, os deslocamentos são funções lineares
delas:

v1 =P1 δ11 +⋯+Pi δ1i +⋯+Pk δ1k +⋯+Pn δ1n

vi =P1 δi1 +⋯+Pi δii +⋯+Pk δik +⋯+Pn δin

vk =P1 δk1 +⋯+Pi δki +⋯+Pk δkk +⋯+Pn δkn

n
1
U= ∑ Pi vi
2
i=1

n n
∂U 1 ∂Pi ∂vi
= [∑ vi + ∑ Pi ]
∂Pk 2 ∂Pk ∂Pk
i=1 i=1

Na primeira soma:
∂Pi
𝑖≠𝑘→ =0
∂Pk

∂Pi
𝑖=𝑘→ =1
∂Pk

Na segunda soma:

∂v1 ∂v2 ∂vn


=δ1k ; =δ2k . . . =δ .
∂Pk ∂Pk ∂Pk nk

Portanto:

∂U 1
= (v + P1 δ1k + P2 δ2k + P3 δ3k + ⋯)
∂Pk 2 k

Mas:

19
vk = P1 δ1k + P2 δ2k + P3 δ3k + ⋯

E pelo Teorema de Maxwell, tem se:

δik =δki

Assim:
∂U 1
= (v + vk )
∂Pk 2 k

∂U
= vk
∂Pk

6.1 Consequência do Teorema de Castigliano ( Teorema de Menabrea)

Seja Pk um valor hiperestático, como de uma viga contínua, mostrada na Fig. 18:

Fig. 18 – Viga hiperestática

tem-se 3 equações de equilíbrio e 4 reações de apoio, portanto uma estrutura uma vez
hiperestática.

Escolhendo-se como valor desta incógnita R3, as outras reações são obtidas das
equações de equilíbrio. Tem-se assim apenas uma restrição R1, que saí do somatório de forças
em x. Como o ponto de aplicação de R3 é fixo, seu deslocamento é zero e pelo teorema de
Castigliano:

∂U
=0; determinando R3 (Teorema de Menabrea)
∂R3

20
E finalmente pode-se mostrar que existe uma relação entre os teoremas de Maxwell e
Castigliano:

∂2 U ∂ ∂U ∂
= ( )= v =δ
∂Pi ∂Pk ∂Pi ∂Pk ∂Pi k ki
∂2 U ∂ ∂U ∂
= ( )= v =δ
∂Pk ∂Pi ∂Pk ∂Pi ∂Pk i ik

Portanto:
δki =δik

Ou:
∂2 U ∂2 U
=
∂Pi ∂Pk ∂Pk ∂Pi

7. Cálculo do Deslocamento pelo Teorema de Castigliano

Utilizando-se o Teorema de Castigliano para se determinar um deslocamento vk do


ponto i quando uma carga Pk é aplicada em k na direção vk de uma estrutura tem-se:

∂U
vk =
∂Pk

Seja U escrito em termos de esforços solicitantes:

1 N2 M2 cV2 T2
U= ∫( + + + ) dx
2 EA EI GA GIt
est

Assim:

21
∂ 1 N2 M2 cV2 T2
vk = ∫( + + + ) dx
∂Pk 2 EA EI GA GIt
est

N ∂N M ∂M cV ∂V T ∂T
vk = ∫ ( + + + ) dx
EA ∂Pk EI ∂Pk GA ∂Pk GIt ∂Pk
est

Ou ainda:

̅ MM
NN ̅ cVV
̅ TT̅
vk = ∫ ( + + + ) dx
EA EI GA GIt
est

̅ ,M
A integração deve ser estendida a toda estrutura. Os termos N ̅ ,V
̅ eT
̅ são esforços
solicitantes causados por Pk=1, enquanto N,M,V e T são esforços reais provocados pelo
carregamento total dado.

A expressão de vk pode ser utilizada em:


Treliças:

n
Ni ̅̅̅
Ni li
vk = ∑
EAi
i=1

Sendo li e Ai o comprimento e a área de uma barra i.

Pórticos e vigas:

̅
MM
vk = ∫ dx
EI
est

̅
NN
Nos arcos e pórticos em que os esforços N seja considerável, o termo deve ser
EA
levado em conta.

22
8. Exemplos

8.1 1º Exemplo

Determinar o deslocamento total do nó 9. Dados: E=21.000 kN/cm2 e A=3 cm2.

Fig. 19 – Treliça

Deslocamento no nó 9:

δ9 =√δ9h 2 +δ9v 2

Sendo:
δ9h =deslocamento horizontal do nó 9;
δ9v =deslocamento vertical do nó 9.

Aplicando-se Teorema de Castigliano:


n
Ni ̅̅̅
Ni li
δ9h = ∑
EAi
i=1

n
Ni ̿̿̿
Ni li
δ9v = ∑
EAi
i=1

a) Carregamento real: os esforços nas barras e as reações de apoio são indicadas na


Fig.20.

23
Fig. 20 – Esforços e reações nas barras (carregamento real)

b) Carregamento virtual horizontal no nó 9: os esforços nas barras e as reações de


apoio são indicadas na Fig.21.

Fig. 21 – Esforços e reações nas barras (carregamento virtual horizontal)

c) Carregamento virtual vertical no nó 9: os esforços nas barras e as reações de apoio


são indicadas na figura abaixo.

24
Fig. 22 – Esforços e reações nas barras (carregamento virtual vertical)

d) Cálculo do deslocamento δ9

Ni ̅̅̅
Ni li Ni ̿̿̿
Ni li
Barra Ni ̅̅̅
Ni ̿̿̿
Ni
EAi EAi
1-2 30 0 1 0 30
2-3 30 0,5 1 30*0,5 30*1
3-4 0 0 0 0 0
4-5 0 0,5√2 0 0 0
1-4 0 1 0 0 0
2-4 -30√2 -0,5√2 -√2 +30 +60
4-6 -30√2 0 -√2 0 -60
5-7 30 1 1 30 30
7-8 0 0 0 0 0
5-6 0 -0,5 0 0 0
5-3 30 0,5 1 15 30
6-8 -30√2 0 -√2 0 -60
7-9 30 1 1 30 30
8-9 -30√2 0 -√2 0 -60
5-8 0 0 0 0 0
n n

∑ =0,351cm ∑ =1,165cm
i=1 i=1

1
δ9h = [(2×30×0,5+2×30×1)150+30×0,5×150+(-30√2)×(-0,5√2)×150√2]
21000×3

25
δ9h =0,351cm

1
δ9v = {3×[1×1×4×1×0×(-√2)×(-√2)×4×150√2+1×1×150]}
21000×3

δ9v =1,165cm
E o deslocamento total vale:

δ9 =√0,3512 +1,1652 =1,217cm

8.2 2º Exemplo

Calcular o deslocamento v na extremidade livre da viga engastada:

Fig. 23 – Viga engastada com carga concentrada

l
1 M2
U= ∫ dx
2 EI
0

l
∂U M ∂M
=v= ∫ dx
∂P EI ∂P
0

Em uma posição qualquer x tem-se:

26
Fig. 24 – Momento no eixo x

Mx =M ∴ M+Px=0∴M=-Px

∂M
=-x
∂P

l
(-Px)×(-x)
v= ∫ dx
EI
0

l l
P Px3
v= ∫ x2 dx = |
EI 3EI 0
0

Pl3
v=
3EI

8.3 3º Exemplo

Calcular v do meio do vão da viga:

Fig. 25 – Viga bi-apoiada com carga concentrada

27
vk =v; Pk =P

∂U
=v
∂P

Cálculo do momento fletor usando x:

Fig. 26 – Momento a partir do apoio da esquerda

l
0≤x≤
2

P P
Mx - x=0∴Mx =M= x
2 2

∂M x
=
∂P 2

Pela simetria da estrutura, pode-se fazer:

l⁄
2
1 M ∂M
v= ∫ dx
2 EI ∂P
0

l⁄
2
1 Px x
v= ∫ dx
2 2EI 2
0

l⁄
1 P x3 2 Pl3
v= × | → v=
2 4EI 3 0 48EI

28
8.4 4º Exemplo

Calcular o deslocamento v na extremidade livre da viga engastada (Fig. 27a):

Fig. 27 – Viga bi-apoiada com carga distribuída

Para determinar o deslocamento em carregamentos distribuídos, deve-se posicionar


uma carga fictícia Pk no ponto onde deseja-se determinar a flecha v (27b). Esta carga tem
valor nulo e é utilizada apenas na resolução do problema.
No cálculo do momento tem-se:

Fig. 28 – Cálculo do momento

x
Mx +Pk x+qx =0
2

qx2
Mx =-Pk x-
2

29
∂Mx
=-x
∂Pk

l
∂U M ∂M
=v= ∫ dx
∂Pk EI ∂P
0

l
1 qx2
v= ∫ [(-Pk x- ) (-x)] dx
EI 2
0

l
1 qx3
v= ∫ [+Pk x2 + ] dx
EI 2
0

l l
1 Pk x 3 qx4
v= [ | + |]
EI 3 0 8 0

Fazendo Pk=0, tem-se:

ql4
v=
8EI

8.5 5º Exemplo

Determinar as reações de apoio na viga contínua abaixo.

Fig. 29 – Viga contínua em estudo

A estrutura acima é uma vez hiperestática. Para resolver a estrutura em questão, deve-
se transformar a estrutura original em duas estruturas isostáticas, substituindo um dos apoios
por uma força V (incógnita do problema):

30
Fig. 30 – Decomposição em estruturas isostáticas

Pela superposição de efeitos, tem-se:

R1 =A1 +A2

R2 =V

R3 =B1 +B2 =R1 →Por simetria

Pelo teorema de Menabrea:

∂U ∂U
=0; =0
∂Pk ∂V

l
1 M2
U= ∫ dx
2 EI
0

Pela simetria, pode-se resolver a questão utilizando apenas metade da estrutura.


Inicialmente, são calculados os momentos fletores de ambas as estruturas isostática.

31
Fig. 31 – Cálculo do momento da primeira estrutura

M=M1(x) →0≤x≤l

x2 x2
M1(x) +p -A1 x=0∴M1(x) =A1 x-p
2 2

x2
M1(x) =plx-p
2

Fig. 32 – Cálculo do momento da segunda estrutura

M=M2(x) →0≤x≤l
M2(x) +A2 x=0∴M2(x) =-A2 x

V
M2(x) =- x
2

Pela superposição de efeitos, resulta que:

x2 V
M=M(x) =M1(x) +M2(x) = (plx-p ) - ( x)
2 2

32
l
1 M2
U= [ ∫ dx] 2→multiplicado por 2 para fazer toda a estrutura (simetria)
2 EI
0

l
∂U M(x) ∂M(x)
=0=2 ∫ dx
∂V EI ∂V
0

∂M(x) x
=-
∂V 2

l l
M(x) ∂M(x) x2 V x
∫ dx = ∫ (plx-p - x) (- ) dx = 0
EI ∂V 2 2 2
0 0

l
plx2 px3 Vx2
∫ (- + + ) dx = 0
2 4 4
0

l
plx3 px4 Vx3 pl4 pl4 Vl3
- + + | =- + + =0
6 16 12 0 6 16 12

pl pl 3
V= ( - ) 12=2pl- pl
6 16 4

5pl
V=
4

Para encontrar as reações:


5pl 3pl
R1 =A1 +A2 =pl- =
8 8

3pl
R1 =R3 = (por simetria)
8

5pl
R2 =V=
4

33
Conferindo:
3pl 5pl 3pl
R1 +R2 +R3 =2pl∴ + + =2pl→OK!
8 4 8

O diagrama de momento fletor da estrutura fica:

Fig. 33 – Estrutura em estudo

8.6 6º Exemplo

Calcular a força na barra e o deslocamento vertical do ponto B.

34
Fig. 34 – Estrutura em estudo

No estudo desta estrutura, pode-se dividir a estrutura em duas partes, compatibilizando


os deslocamentos. Ao dividir a estrutura, surge também a incógnita hiperestática R.

Fig. 35 – Divisão da estrutura


Tem-se:
l
1 N2
Barra → Ub = ∫ dx
2 EA
0

a
1 M2
Viga → Uv = ∫ dx
2 EI
0

35
Pela compatibilidade de deslocamentos:

vb =∆lb

∂Uv ∂Ub
− =
∂R ∂R

∂Uv ∂Ub
+ =0 (1)
∂R ∂R

Calculando o momento na viga:

Fig. 36 – Momento na viga

Mx +Px-Rx=0∴Mx =Rx-Px

∂Mx
=x
∂R

Calculando a normal na barra:

Fig. 37 – Normal na barra

N=Nx =R

36
∂Nx
=1
∂R

Calculando as derivadas em função de R:

l l l
∂Uv 1 ∂Mx 1 1
= ∫ Mx dx = ∫ (Rx-Px)(x) dx = ∫ Rx2 -Px2 dx
∂R EI ∂R EI EI
0 0 0

∂Uv 1 Rl3 Pl3


= ( - ) (2)
∂R EI 3 3
a a a
∂Ub 1 ∂Nx 1 1
= ∫ Nx dx = ∫ (R)(1) dx = ∫ R dx
∂R EA ∂R EA EA
0 0 0

∂Ub Ra
= (3)
∂R EA

Substituindo (2) e (3) em (1), determina-se o valor da incógnita hiperestática R:

1 Rl3 Pl3 Ra
( - )+ =0
EI 3 3 EA

Rl3 Ra Pl3
+ =
3EI EA 3EI

Pl3
R= 3EI
l3 a
(3EI + EA)

Para se determinar vb utiliza-se de:

37
𝑃𝑙 3
∂Ub Ra (3𝐸𝐼 ) 𝑎
=vb =∆lb = =
∂R EA l3 a
(3EI + EA) EA

9. Bibliografia
POPOV, E. G. - Introdução à Mecânica dos Sólidos. São: Editora Edgar Blumer Ltda,
1978. 534p.
SHIEL, F. - Introdução à Resistência dos Materiais. São Paulo: Harpetc & Row do
Brasil, 1984. 395p.

38

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