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Este princı́pio se deve ao filósofo, matemático e fı́sico francês Jean le Rond d’Alembert
(1717-1783).
Seja uma partı́cula sujeita a um sistema de forças P equilibrado como mostrado na figura
1. Agora, se for imposto um deslocamento infinitesimal a esta partı́cula, o trabalho realizado
pela forças será nulo.
O deslocamento dado a partı́cula é arbitrário, é imaginário, sem origem, fictı́cio. Por isto
foi denominado de deslocamento virtual.
Evidentemente, tal conceito de impor um deslocamento arbitrário virtual também pode ser
estendido a um corpo elástico sujeito a um sistema de forças em equilı́brio.
Este sistema de forças reais provoca na estrutura um campo de deslocamentos reais acom-
panhado por suas correspondentes deformações. Estas deformações reais expressas na forma
infinitesimal são função dos correspondentes esforços internos atuantes, N , M e V . Estas
expressões são mostradas abaixo.
N
d∆L = dx força normal (1)
EA
M
dϕ = dx flexão
EI
(2)
V
dh = χ dx força cortante
GA
Resistência dos Materiais - Turma A 350 Capı́tulo 13 - Método da Caega Unitária
Universidade Federal do Rio Grande - FURG 28/08/2022 Escola de Engenharia
Esta força virtual irá provocar um campo de tensões virtuais em equilı́brio com ela.
Se agora for aplicado o teorema dos trabalhos virtuais, ou seja, admitir que ao carrega-
mento virtual atuando na estrutura for imposto o campo de deformações reais, o princı́pio da
conservação da energia estabelece a igualdade entre trabalho de deformação virtual e energia
elástica virtual que pode ser expresso da forma
∫ ∫ ∫
NNL MML VVL
F × δS = dx + dx + χ dx (3)
L EA L EI L GA
Ou seja, aı́ está uma expressão que permite calcular o valor do deslocamento da seção S,
denominado por δS na direção α.
∫ ∫ ∫
NNL MML VVL
δS = dx + dx + χ dx (5)
L EA L EI L GA
Caso a estrutura sob análise esteja também sob a ação de momentos de torção, é suficiente
acrescentar um quarto termo na expressão (5) na forma dos demais. Isto é mostrado abaixo.
∫ ∫ ∫ ∫
NNL MML VVL TTL
δS = dx + dx + χ dx + dx (6)
L EA L EI L GA L GJ
Por outro lado, para determinar deslocamentos de rotação, é suficiente trocar a força
virtual unitária F = 1 por um momento virtual unitário M = 1. Deste modo, a expressão (6)
toma a forma
∫ ∫ ∫ ∫
NNL MML VVL TTL
ϕS = dx + dx + χ dx + dx (7)
L EA L EI L GA L GJ
As expressões (6) e (7) são as expressões do método da carga unitária que permitem
determinar deslocamentos de translação e de rotação.
A aplicação destas expressões é bem simples. Se considera como carregamento real, o
próprio carregamento que atua na estrutura. Desta situação, são determinados as expressões
dos esforços internos N, M, T e V .
A seguir, se considera um carregamento virtual que estará constituı́do por uma única ação
unitária que deve ser admitida atuando na seção onde ser quer determinar o deslocamento
de translação ou de rotação. Desta segunda situação, são determinados as expressões dos
esforços internos N , M , T e V .
Estes conjuntos de esforços internos deverão ser inseridos na expressão (6) ou (7), operadas
as integrações, e se obtendo o deslocamento procurado.
Na aplicação das duas expressões do método da carga unitária, também prevalecem as
mesmas simplificações já descritas para a aplicação do teorema de Castigliano no que diz res-
peito a quais esforços deverão ser considerados e desconsiderados conforme o tipo de estrutura
de barras que se está sendo tratada.
Além de carregamento geral que envolve forças, as denominadas cargas térmicas também
provocam deformações e consequentemente deslocamentos. O método da carga unitária
também pode incluir a ação de cargas térmicas no cálculo dos deslocamentos.
Cabe salientar que para estruturas isostáticas, cargas térmicas provocam apenas desloca-
mentos (deformações) mas não causam tensões.
Quando presentes, cargas térmicas fazem parte do carregamento real.
Basicamente há dois tipos de cargas térmicas.
O primeiro é a variação uniforme de temperatura, aquecimento uniforme ou resfriamento
uniforme de barras. Este tipo de carga térmica provoca alongamento e encurtamento. Tal
tipo de situação corresponde aos deslocamentos (deformações) provocadas pela força normal.
Assim, tal tipo de carga térmica tem relevância para treliças e para pórticos.
O alongamento/encurtamento provocado por uma variação uniforme de temperatura de
uma barra é dado pela expressão
∆ L = ± α L ∆T (8)
Assim, para os casos onde se tem força normal, a parcela a acrescentar nas expressões (6)
e (7) é
∫
α ∆T N dx (9)
L
Nesta expressão, a integral representa a área do diagrama de força normal para o carre-
gamento virtual na(s) barra(s) sob variação uniforme de temperatura. O valor desta integral
poderá ser positivo ou negativo. Será positivo para aquecimento com tração e resfriamento
com compressão. Caso contrário, o valor será negativo.
O segundo tipo de carga térmica é denominado de gradiente térmico. Há um gradiente
térmico quando há uma diferença de temperatura entre as faces inferior e superior da barra.
Além disso, se admite que ao longo da altura da barra, a temperatura varia linearmente.
Este tipo de carga térmica provoca um encurvamento da barra, ou seja, deslocamentos (de-
formações) correspondentes aos provocados pela flexão. Deste modo, são relevantes para
vigas, pórticos, e grelhas.
Denominando por Ti a temperatura da face inferior da barra e por Ts a temperatura da
face superior, se terá um gradiente térmico quando Ti ̸= Ts .
A figura 4 mostra as duas situações possı́veis, Ti > Ts , e Ti < Ts , indicando o encurva-
mento correspondente.
Aqui se admite que Ti é maior do que Ts . Assim, o comprimento da parte inferior crescerá
em αTi dx, enquanto o comprimento da parte superior aumentará em αTs dx. A constante α
representa o coeficiente de dilatação térmica do material que constitui a barra. Nesta figura
também se pode observar que a seção transversal sofre um giro em torno da linha neutra. De
modo que, o ângulo de giro, dθ, vale
13.4.1 Exemplo 1
Figura 6: Exemplo 1
Solução
Para a determinação do valor da flecha que é o valor do deslocamento vertical em B, o
carregamento virtual deverá ter uma força fictı́cia unitária atuando B. A figura 7 mostra este
carregamento virtual.
MAB = −P x
M BA = −x
MAB = −P x
M BA = −1
Para a viga mostrada na figura 9, determine o valor da flecha na seção média C. Considere
esta viga com rigidez EI constante. Utilize o método da carga unitária.
Figura 9: Exemplo 2
Solução
Para o carregamento virtual se deve considerar uma força unitária vertical atuando em C.
A figura 10 mostra este carregamento virtual.
Se pode observar que para esta situação se tem simetria. Deste modo, se poderá integrar
de uma extremidade até C e multiplicar o resultado por 2.
Os momentos para esta situação valem
qLx qx2
MAC = −
2 2
x
M AC =
2
Assim, a flecha em C é dada por
∫ L/2 ∫ L/2 [( ) ]
dx qLx qx2 ( x ) dx
vC = 2 × MAC M AC =2× −
0 EI 0 2 2 2 EI
∫ L/2 [ ]
qLx2 qx3 dx qL4 qL4
= − = −
0 2 2 EI 48EI 128
5qL4
vC =
384
13.4.3 Exemplo 3
Para a viga mostrada na figura 11, determine o valor da flecha na extremidade livre C.
Considere esta viga com rigidez EI constante. Utilize o método da carga unitária.
Solução
Mais uma vez , como se deseja o valor da flecha em C, o carregamento virtual correspon-
dente estará constituı́do por uma força virtual unitária aplicada em C. A figura 12 mostra
este carregamento virtual.
M AC = −x
MBA = −P x − P (x − L/2)
M BA = −x
Deste modo, a expressão para o cálculo do valor da flecha em C é
∫ L/2 ∫ L
dx dx
vC = MCB M CB + MBA M BA
0 EI L/2 EI
∫ L/2 ∫
dx L dx
vC = (−P x)(−x) [−P x − P (x − L/2)](−x)
0 EI L/2 EI
∫ L/2 ∫ L
2 dx dx
vC = Px [P x2 + P (x2 − xL/2)]
0 EI L/2 EI
P L3 2P L3 2P L3 P L3 P L3
vC = + − − +
24EI 3EI 24EI 4EI 16EI
3
7P L
vC =
16EI
12.9.4 Exemplo 4
Para a viga Gerber mostrada na figura 13, determine o valor, em graus, da rotação da
elástica em D. Considere esta viga com rigidez constante EI = 12000 kN m2 . Utilize o
método da carga unitária.
Solução
Tendo em vista que se trata de uma viga Gerber, a primeira atitude é identificar o esquema
de apoio que é mostrado na figura 14.
MDC = −9x
x
M DC = − + 1
4
De modo que
∫ 4
′ dx
vD = MDC M DC
0 EI
∫ 4 ( x ) dx ∫ 4( 2 )
′ 9x dx 9 × 43 9 × 16 −24
vD = (−9x) − + 1 = − 9x = − =
0 4 EI 0 4 EI 12EI 2EI EI
′ 24
vD =− = −2 × 10−3 rad = −0, 11o
12000
O valor negativo encontrado para a rotação indica que ela tem sentido contrário ao sentido
arbitrado para o momento virtual unitário. Portanto, é uma rotação horária.
13.4.5 Exemplo 5
Solução
M AB = y
MDC = 0
M DC = y
qLx qx2
MBC = −
2 2
M BC = H
De modo que
∫ L ∫ L[ ]
dx qHLx qHx2 dx qHL3 qHL3 qHL3
h
δB = MBC M BC = − = − =
0 EI 0 2 2 EI 4EI 6EI 12EI
qHL3 12 × 4 × 53
δBh = = = 0, 042 m = 42 mm
12EI 12 × 12000
13.4.6 Exemplo 6
A treliça mostrada na figura 18 tem suas barras construı́das com uma liga de alumı́nio.
As barras tem idêntica área transversal constituı́das por tubos de 50 mm de diâmetro externo
e parede de espessura igual a 4 mm. Para o carregamento indicado, determine o valor do
deslocamento vertical do nó C em mm. Considere EAl = 72 GP a. Usar o método da carga
unitária.
Solução
Antes de tudo, se irá calcular o valor da rigidez axial EA das barras.
π(502 − 422 )
A= = 578 mm2 = 587 × 10−6 m2
4
EA = 72 × 10−6 × 578 × 10−6 = 41616 kN
Para a aplicação do método, o carregamento virtual deverá estar constituı́do por uma força
virtual vertical em C. A figura 19 mostra a este carregamento virtual.
Do exposto, se deverá resolver a treliça duas vezes. A primeira para o carregamento real e
a segunda para a força virtual. Seguem os valores dos esforços normais para o carregamento
real. Foi utilizado o método dos nós (aqui não mostrado).
N1 = 30 N2 = 0 N3 = −7, 5 N4 = −37, 5 N5 = 0 N6 = 0 N7 = 30
Os valores abaixo mostrados correspondem a segunda solução para o carregamento virtual.
Foi utilizado o método dos nós (aqui não mostrado).
N 1 = 0 N 2 = −1, 333 N 3 = 1 N 4 = −1, 667 N 5 = −1 N 6 = 1, 667 N 7 = 1, 333
13.4.7 Exemplo 7
Seja a treliça do exemplo resolvido anterior. Será admitido que não há forças atuando na
treliça, mas a barra 7 sofre um aquecimento uniforme de 40o C. Qual é o valor do deslocamento
vertical do nó C ? Admitir que o coeficiente de dilatação térmica do material seja α =
1, 6 × 10−6 /o C.
Solução
Para esta nova situação, o carregamento real estará constituı́do apenas pelo aquecimento
uniforme da barra 7. O carregamento virtual é idêntico ao do exemplo anterior pois o que se
deseja saber é o deslocamento vertical do nó C.
Assim,
∫
δCv = α∆T N 7 dx
O valor de N 7 já foi obtido para o exemplo anterior. Está publicado na página anterior e
é de tração.
N 7 = 1, 333
Logo,
δCv = 1, 6 × 10−6 × 40 × (1, 333 × 2) = 0, 00171 m = 1, 71 mm