Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Fundamentos de Matemática II
APLICAÇÕES DAS
DERIVADAS PARCIAIS
Gil da Costa Marques
8.1 Introdução
8.2 Taxas de Variação Instantânea de campos
8.3 O gradiente de um Campo Escalar
8.3.1 Os Campos elétrico e gravitacional
8.3.2 Movimento de um fluido: Hidrostática
8.3.3 Propagação do Calor
8.3.4 Força e Energia Potencial
8.4 O divergente de um campo Vetorial
8.4.1 Leis de Conservação
8.4.2 Leis do Eletromagnetismo e da Gravitação
8.5 Rotacional de um Campo Vetorial
8.5.1 Aplicações no Eletromagnetismo
8.5.2 Campos com divergente nulo
8.6 Derivadas de Segunda Ordem
2
8.6.1 O Operador Laplaciano (∇ )
8.6.2 A Equação de Laplace
8.7 Outras Derivadas de Segunda Ordem
8.7.1 Equação das Ondas
8.7.2 Ondas Eletromagnéticas
8.8 Mecânica Quântica e a Química
8.1 Introdução
As leis físicas são enunciadas a partir de determinadas combinações de taxas de variação.
Só a elas podemos atribuir um significado físico. O porquê disso tem a ver com a questão da
isotropia do espaço ou, ainda, com o fato de que, qualquer que seja o referencial, as leis físicas
devem ter a mesma forma nesse referencial. Isso requer que as grandezas físicas sejam grandezas
vetoriais ou escalares. Assim, apenas taxas de variação que resultem em grandezas escalares ou
grandezas vetoriais são relevantes do ponto de vista físico.
Em particular, todas as leis fundamentais das ciências físicas são expressas em termos de taxas
de variação, quer sejam pontuais ou instantâneas. O fato é que as leis físicas são enunciadas a
partir de determinadas taxas de variação ou de combinação delas.
Apenas algumas taxas de variação de campos, ou combinações delas, têm um significado físico.
E esse significado está associado ao fato de que, qualquer que seja o referencial, as leis físicas devem
ter a mesma forma nesse referencial. Isso requer, em última análise, que as taxas de variação, isto
é, as grandezas físicas a elas associadas, sejam grandezas vetoriais ou grandezas escalares. Só tais
categorias de campos são aceitáveis. Na Mecânica quântica e, portanto, em toda a química, um
campo escalar denominado função de onda ocupa um papel central.
O fato é que nem todas as derivadas de campos são úteis na formulação das leis físicas.
Por isso, serão apresentadas, a seguir, as derivadas ou combinações delas, consideradas úteis na
formulação das leis físicas.
Fundamentos de Matemática II
144 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
Por exemplo, definimos um novo campo vetorial C(x, y, z, t) obtido a partir da taxa de
variação instantânea do campo E(x, y, z, t), de acordo com a expressão:
∂E ( x, y , z, t ) ∂E x ∂E y ∂E z
C ( x, y , z, t ) = = i+ j+ k 8.1
∂t ∂t ∂t ∂t
O campo C(x, y, z, t) definido acima é, assim como o campo E(x, y, z, t), um campo vetorial.
Se, por um lado, derivarmos parcialmente com respeito ao tempo um campo escalar, o novo
campo será igualmente um campo escalar. O campo escalar pode ser complexo (depender de
números complexos) e sua derivada parcial com respeito ao tempo pode ter uma interpretação
simples. Por exemplo, na mecânica quântica procuramos campos descrevendo estados estacio-
nários, isto é, estados para os quais vale a seguinte propriedade:
∂Ψ ( x, y , z, t )
ih/ = E Ψ ( x, y , z, t ) 8.2
∂t
( )
dV = ∇V ⋅ dr 8.3
onde o símbolo ∇V representa uma grandeza vetorial, definida por:
∂V ( x, y , z ) ∂V ( x, y , z ) ∂V ( x, y , z )
∇V ( x, y , z ) = i+ j+ k 8.4
∂x ∂y ∂z
Assim, dada uma função escalar, ou campo escalar, V( r, t), podemos construir um campo
vetorial a partir dele. Basta tomar derivadas parciais desse campo escalar e multiplicar essas
derivadas pelos vetores da base cartesiana (os versores dessa base). A essa operação chamamos
aplicar o operador gradiente à função escalar. Assim, consideramos como operador
gradiente (símbolo ∇) aquele que, aplicado a uma função escalar, leva a um campo vetorial
definido através da identidade acima. Assim, esse novo campo, E(x, y, z, t), é definido como:
D ( r , t ) = ∇V ( r , t ) 8.5
Numa região em que se concentram cargas elétricas o espaço fica alterado. Essa alteração
pode ser descrita de duas formas interligadas. As duas fazem uso do conceito de campo.
Assim, pode-se dizer que as cargas elétricas geram um campo escalar conhecido como potencial
elétrico. O potencial elétrico é um campo escalar que depende do ponto do espaço conside-
rado. No caso em que a distribuição de cargas não se altera com o tempo, o potencial depende
apenas das coordenadas do ponto do espaço. Escrevemos:
V = V (r ) 8.6
Existem duas consequências desse fato. A primeira é a de que uma partícula dotada de carga
elétrica Q localizada num ponto dado pelo vetor de posição r adquire uma energia, denomi-
nada energia potencial elétrica, a qual depende do ponto onde ela se encontra, (U(r)). Essa
energia é dada pelo produto da carga da partícula pelo potencial produzido pelas demais, isto é:
U ( r ) = QV ( r ) 8.7
Finalmente, pode-se dizer que existe no mesmo espaço outro campo, de natureza vetorial e
denominado campo elétrico, o qual é dado pelo gradiente do potencial elétrico:
E ( r ) = −∇V ( r ) 8.8
Fundamentos de Matemática II
146 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
A seguir, comentaremos a relação entre o campo elétrico e a força sobre uma partícula
localizada no ponto especificado pelo vetor r.
Analogamente, se numa determinada região existem massas distribuídas ao longo da mesma,
elas dão origem a um campo denominado potencial gravitacional. O potencial gravitacional
V = V(r) é um campo escalar que depende do ponto espaço:
VG = VG ( r ) 8.9
Como consequência desse fato, uma partícula dotada de massa, uma massa M, localizada
num ponto dado pelo vetor de posição adquire uma energia, denominada energia potencial
gravitacional. Essa energia (UG(r)) é dada pelo produto da massa da partícula pelo potencial
gravitacional produzido pelas demais, isto é:
U G ( r ) = MVG ( r ) 8.10
g ( r ) = −∇VG ( r ) 8.11
Como exemplo do uso de derivadas sob a forma da equação 8.5, consideremos o caso da
dinâmica de um fluido. Ele se move como efeito da variação da pressão no interior do fluido.
Assim, sendo a densidade do fluido dada por ρ(x, y, z, t), a taxa de variação instantânea da
velocidade de cada elemento de volume desse fluido é dada pela equação:
dV ( x, y , z, t )
ρ ( x, y , z, t ) = ∇P ( x, y , z, t ) 8.12
dt
a qual pode ser pensada como a lei de Newton para um fluido, uma vez que ela pode ser escrita
como se fosse análoga à lei:
ρ ( x, y , z, t ) a ( x, y , z, t ) = ∇P ( x, y , z, t ) 8.13
Portanto, gradientes de pressão dão origem a movimentos do fluido. Eles agem como forças
impulsionando cada parte do fluido. De acordo com a expressão 8.13, ele flui de regiões de
altas pressões para regiões de baixas pressões.
No caso da hidrostática em que consideramos a densidade independente do tempo e o
fluido sob a ação da gravidade, lembrando que agora a = g, a equação 8.13 se reduz à equação:
ρg = ∇P 8.14
dP
−ρg =
dz
Fundamentos de Matemática II
148 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
FQ = − κ∇T 8.16
onde F Q é um vetor associado ao fluxo de calor e κ é a condutividade térmica do material.
O sinal negativo assegura que o fluxo de calor se dará da região mais quente para a mais fria.
EP = U ( x, y , z ) = U ( r ) 8.17
então, a grandeza física denominada força é uma grandeza derivável desse conceito. Assim, a
força, no caso das forças fundamentais, pode ser escrita como:
F ( x, y , z ) = −∇U ( x, y , z ) 8.18
Portanto, as componentes de uma força conservativa (caso geral das forças à distância) são
dadas como derivadas parciais da energia potencial, isto é,
∂U ( x, y , z ) ∂U ( x, y , z ) ∂U ( x, y , z )
Fx ( x, y , z ) = − Fy ( x, y , z ) = − Fz ( x, y , z ) = − 8.19
∂x ∂y ∂z
∂U ∂U ∂U
onde as derivadas parciais ( , , ) apenas indicam que devemos derivar a função U
∂x ∂y ∂z
como se ela fosse dependente apenas de x, y ou z em cada um dos casos, respectivamente.
A bem da verdade, deve-se frisar que nem todas as forças podem ser escritas como derivadas
sob a forma 8.18. Definem-se forças conservativas como aquelas que podem ser escritas sob
essa forma. Só para tais forças podemos falar em energia associada à interação.
Exemplos
• Exemplo 1
Existe uma forma de energia de uma partícula dotada de massa m, associada à interação gravitacional
com um objeto esférico de massa M, a qual depende da posição da partícula em relação ao centro
do objeto esférico (a Terra, por exemplo). Sendo (x, y, z) as coordenadas do ponto em que se situa a
Fundamentos de Matemática II
150 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
partícula e considerando-se que o objeto esférico está na origem, essa energia potencial é dada por:
mMG
U ( x, y , z ) = − = mV ( x, y , z ) 8.20
x + y2 + z2
2
→ Resolução:
De acordo com a expressão 8.18, temos as componentes da força gravitacional dadas por:
∂ mMG
Fx ( x, y , z ) = − −
∂x 2
x +y +z 2 2
∂ mMG
Fy ( x, y , z ) = − − 8.21
∂y x2 + y2 + z2
∂ mMG
Fz ( x, y , z ) = − −
∂z x2 + y2 + z2
∂
(( x + y + z ) )
mMG ∂ 2 2 2 −1/ 2
Fx ( x, y , z ) = − − = mMG
∂x x + y2 + z2
2
∂x
8.22
1
2
(
=mMG ( − ) ( x 2 + y 2 + z 2 )
−1/ 2 −1
)
2x = −mMG
x
( x2 + y2 + z2 )
3 / 2
x y
x
8.24
= −mMG i + −mMG j + −mMG k
(x + y + z )
2 2 2 3/ 2
(x + y + z )
2 2 2 3/ 2 (x + y + z )
2 2 2 3/ 2
• Exemplo 2
No caso de duas partículas de cargas Q1 e Q2, que estão em posições caracterizadas pelos vetores de
posição r1 e r2, respectivamente, a energia potencial eletrostática de interação entre elas, é dada por:
1 Q1Q2 Q1Q2 1
U= =
4πε0 r1 − r2 4πε0 ( x1 − x2 )
2
+ ( y1 − y2 ) + ( z1 − z2 )
2 2
8.26
QQ
= 1 2
4πε0
(( x − x )
1 2
2
+ ( y1 − y2 ) + ( z1 − z2 )
2
)
2 −1/ 2
Essa energia potencial elétrica é compartilhada pelas duas partículas. A energia será positiva se as
cargas elétricas tiverem o mesmo sinal (nesse caso, as forças são repulsivas) ou, quando as cargas
tiverem sinal oposto (e, portanto, as forças serão atrativas), a energia será negativa.
Determine a força sobre cada uma das partículas.
Fundamentos de Matemática II
152 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
→ Resolução:
A força sobre a partícula 1 ( F1 ) é dada por:
∂ Q1Q2 1
F1( x ) = −
∂x1 4πε0 ( x − x ) + ( y − y ) 2 + ( z − z )2
2
1 2 1 2 1 2
QQ x1 − x2
= 1 2
(
4πε0 ( x − x ) 2 + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2 3/ 2
1 2 1 2 1 2 )
∂ Q1Q2 1
F1( y ) = −
∂y1 4πε0 ( x − x ) + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2
2
1 2 1 2 1 2 8.27
QQ y1 − y2
= 1 2
(
4πε0 ( x − x ) 2 + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2 3/ 2
1 2 1 2 1 2 )
∂ Q1Q2 1
F1( z ) = −
∂z1 4πε0 ( x − x ) + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2
2
1 2 1 2 1 2
QQ z1 − z2
= 1 2
(
4πε0 ( x − x ) 2 + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2 3/ 2
1 2 1 2 1 2 )
E, portanto, numa notação simplificada, a força F1 se escreve como:
Q Q r − r
F1 = 1 2 1 2 8.28
4πε0 r1 − r2
Figura 8.5: Duas partículas de carga Q1 e Q2 localizadas nos pontos P1 e P2. As forças podem ser
atrativas ou repulsivas.
∂ Q1Q2 1
F2 ( y ) = −
∂y2 4πε0 ( x − x ) 2 + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2
1 2 1 2 1 2 8.29
QQ − ( y1 − y2 )
= 1 2
( 2 1 2 1 2 )
4πε0 ( x − x ) + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2 3/ 2
1
2
∂ Q1Q2 1
F2 ( z ) = −
∂z2 4πε0 ( x − x ) + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2
2
1 2 1 2 1 2
QQ − ( z1 − z2 )
= 1 2
( 2 1 2 1 2 )
4πε0 ( x − x ) 2 + ( y − y ) 2 + ( z − z ) 2 3/ 2
1
• Exemplo 3
Para entendermos a estreita relação entre força e energia potencial, consideremos o caso de uma
força constante. Escrevemos tal força sob a forma:
F0 = F0 x i + F0 y j + F0 z k 8.32
Fundamentos de Matemática II
154 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
É muito fácil constatar, por meio de uma derivação muito simples, que a função definida por:
onde C é constante, é tal que a força constante dada em 8.32 pode ser derivada da energia potencial
dada pela expressão 8.33. A solução 8.33 envolve uma constante arbitrária, C, a qual é determinada
atribuindo-se o valor da energia potencial num determinado ponto.
Em geral, a energia potencial é determinada de 8.33, com exceção de uma constante, ou seja, a energia
potencial é definida com exceção de uma constante arbitrária. E essa constante pode ser determinada ao
especificarmos que o valor da energia num determinado ponto se anula. Assim, se definirmos que a
energia na origem assume o valor zero, determinamos o valor da constante C. Nesse caso:
U ( 0, 0, 0 ) = 0 ⇒ C =0 8.34
No caso do movimento dos projéteis, admitimos que a força gravitacional seja constante. Assim,
admitindo o eixo z indicando a direção acima da superfície terrestre, escrevemos:
F0 = −mgk 8.35
∂E x ( x, y , z, t ) ∂E y ( x, y , z, t ) ∂E z ( x, y , z, t )
+ + 8.37
∂x ∂y ∂z
∂E ∂E ∂E
∇i E ≡ x + y + z
∂x ∂y ∂z
Assim, obtemos uma grandeza escalar, ρ(x, y, z, t), a partir de taxas de variação pontuais.
Escrevemos tal grandeza escalar como:
ρ( x, y , z, t ) = ∇i E ( x, y , z, t ) 8.38
Consideramos como o divergente de uma função vetorial E(x, y, z, t) a soma das taxas de
variação definida na equação 3.37, ou seja,
∂E x ∂E y ∂E z
Divergente de E =
∇ E = + + 8.39
∂x ∂y ∂z
No caso da carga elétrica ou da massa, a densidade de corrente é dada pelo produto da densi-
dade pela velocidade dos transportadores de carga e/ou massa:
J = ρV 8.41
Fundamentos de Matemática II
156 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
1
∇ ⋅ E ( x , y , z , t ) = ρ( x , y , z , t ) 8.42
ε
∇ ⋅ B( x, y , z, t ) = 0 8.43
Comparando essa lei com a isso implica que não existem fontes nem sorvedouros de cargas
magnéticas, ou seja, não existem monopolos magnéticos.
Na teoria da Gravitação vale uma lei análoga a 8.42, ou seja, o divergente do campo gravi-
tacional é proporcional à densidade de massa:
∇ ⋅ g ( x, y , z ) = −4πGρ( x, y , z, t ) 8.44
Figura. 8.7 Linhas de força de campos com divergente nulo não exibem fontes ou sorvedouros. Suas linhas de força
sempre se fecham.
∂E z ∂E y
∂y − ∂z
∂E x ∂E z
− 8.45
∂z ∂x
∂E y ∂E x
∂x − ∂y
a primeira combinação se transforma como a componente x de um vetor, a segunda se trans-
forma como a componente y de um vetor e a terceira se transforma como a componente z.
Assim, podemos formar, a partir de derivadas parciais de uma grandeza vetorial, um novo
campo vetorial dado por:
∂E ∂E ∂E ∂E ∂E ∂E
D = z − y i + x − z j + y − x k 8.46
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
D = ∇×E 8.47
onde D é o campo obtido a partir do rotacional do campo E.
Assim, a partir das derivadas parciais, podemos construir novos campos vetoriais. São
campos derivados. Definimos esse novo vetor como o que é dado pelo determinante de uma
matriz 3 por 3 dada por:
i j k
∂ ∂ ∂
∇ × A = det 8.48
∂x ∂y ∂z
Ax Ay Az
Fundamentos de Matemática II
158 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
B = ∇× A 8.49
Explicitamente, escrevemos:
∂A ∂A ∂A ∂A ∂A ∂A
B = ∇ × A = y − z i + x − z j + y − x k 8.50
∂z ∂y ∂z ∂x ∂x ∂y
Um campo E é dito irrotacional se o seu rotacional for nulo, isto é, se ele satisfizer a condição:
a b
∇×E = 0 8.51
Figura 8.8: (a) Campoirrotacional. (b) Campo com um rotacional não nulo. E ( x, y , z ) = ∇V ( x, y , z ) 8.52
Duas leis do eletromagnetismo são escritas em termos de rotacionais dos campos elétrico e
magnético.Por exemplo, a lei da indução de Faraday pode ser escrita como uma relação entre o
rotacional do campo elétrico e a taxa de variação do campo elétrico,ou seja:
∂B
∇×E = − 8.53
∂t
Ela estabelece que campos magnéticos podem surgir como resultado do movimento de
cargas elétricas, ou mediante variações do campo elétrico com o tempo. O campo magnético
é tal que seu rotacional depende linearmente da densidade de corrente mais a taxa de variação
instantânea do campo elétrico.
Sob certas condições, um campo vetorial pode ter um divergente nulo, isto é,
∇⋅ J = 0 8.55
Campos que satisfazem a equação 8.55 são caracterizados pelo fato de que suas linhas de
força sempre se fecham.
Todo campo com divergência zero, como o campo magnético, pode ser escrito como:
B = ∇× A 8.56
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = ∇ ⋅ ( ∇ ) = + + 8.57
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
Fundamentos de Matemática II
160 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
Quando aplicado a um campo escalar, o laplaciano nos leva a um novo campo escalar dado por:
∂2 ∂2 ∂2
∇2V ( x, y , z ) = ∇ ⋅ ( ∇ )V ( x, y , z ) = 2 + 2 + 2 V ( x, y , z ) 8.58
∂x ∂y ∂z
Quando aplicado sobre um campo vetorial, o resultado é outro campo vetorial:
∂2 ∂2 ∂2
∇2 E ( x, y , z ) = ∇ ⋅ ( ∇ ) E ( x, y , z ) = 2 + 2 + 2 E ( x, y , z ) 8.59
∂x ∂y ∂z
Nesse caso, fica entendido que equações análogas a 8.58 são válidas para cada componente
do campo vetorial.
Assim, quando aplicado sobre uma função escalar ou uma função vetorial, o operador lapla-
ciano preserva o caráter dessas grandezas.
∇2V ( x, y , z ) = ρ ( x, y , z ) 8.60
Além disso, a segunda lei especifica que o campo elétrico produzido pela distribuição está-
tica é tal que uma certa combinação de taxas de variação se anula:
∂E y ∂E x ∂E z ∂E y ∂E x ∂E z
− =0 − =0 − =0 8.62
∂x ∂y ∂y ∂z ∂z ∂x
∇×E = 0 8.63
É bom lembrar que na primeira lei está expressa a ideia de que o efeito da
presença de cargas numa certa região do espaço leva a produzir campos, cuja taxa
de variação das diversas componentes do campo são especificadas por 8.61. Esse é
um conteúdo fundamental da eletrostática. Podemos assim, em principio, deter-
minar o campo gerado pela distribuiçao de carga.
Como consequência da lei 8.63, é fácil concluir que sua “solução” é qualquer função da forma:
E ( x, y , z ) = −∇V ( x, y , z ) 8.64
onde V é uma função escalar, já identificada com o potencial elétrico. Assim, o conteúdo da
segunda lei é basicamente estabelecer que o campo eletrostático é um campo conservativo.
A substituição da solução 8.64 em 8.61 nos leva a uma formulação da eletrostática, na qual o
problema agora passa a ser a determinação do potencial a partir da solução da equação diferencial:
ρ ( x, y , z )
∇2V ( x, y , z ) = − 8.65
ε0
que é, em última analise, a equação que resulta das duas outras, 8.61 e 8.63. A equação de
Laplace (8.65) engloba as duas leis da eletrostática.
Para uma onda que se propaga no espaço tridimensional, a equação das ondas se escreve como:
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u 1 ∂ 2u
+ + = 8.66
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2 v 2 ∂ 2t 2
onde v é a velocidade da onda. As ondas acima são ditas ondas escalares. No eletromagnetismo,
estudaremos ondas vetoriais.
Fundamentos de Matemática II
162 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2
1 ∂ u ( x, y , z, t )
2
∇2u ( x, y , z, t ) = 8.67
v2 ∂t 2
Sem entrar em detalhes, o fato é que se pode deduzir, a partir das equações de Maxwell no espaço
livre, que o campo elétrico e também o campo magnético satisfazem a equação de ondas, a saber:
2 ∂2E
∇ E = εµ 2
∂t
8.68
2
∂2B
∇ B = εµ 2
∂t
Explicitamente, escrevemos:
∂ 2 E ( x, y , z, t ) ∂ 2 E ( x, y , z, t ) ∂ 2 E ( x, y , z, t ) ∂ 2 E ( x, y , z, t )
+ + = µε 8.69
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2 ∂t 2
∂ 2 H ( x, y , z, t ) ∂ 2 H ( x, y , z, t ) ∂ 2 H ( x, y , z, t ) ∂ 2 H ( x, y , z, t )
+ + = µε 8.70
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2 ∂t 2
e, portanto, os campos elétrico e magnético podem se propagar como ondas pelo espaço.
Tais ondas recebem o nome de ondas eletromagnéticas. Os campos elétrico e magnético,
nesse caso, são os componentes da onda.A razão para a sua propagação mesmo no vácuo está relacio-
nada ao fenômeno conhecido como indução eletromagnética, ou seja, um campo elétrico que varia
com o tempo induz um
campo magnético que varia
com o tempo e este último,
ao variar com o tempo,
induz um campo elétrico
que varia com o tempo, e
assim sucessivamente.
h/ 2 2
− ∇ + U ( r ) ψ E ( r ) = Eψ E ( r ) 8.71
2m
onde U(r1) é a energia potencial do elétron no átomo e E é a sua energia. Um dos objetivos, ao
buscarmos soluções para tais equações, é o de determinar as energias possíveis do elétron no átomo.
Uma solução do tipo onda estacionária, no contexto da teoria quântica, tem uma interpretação
bastante simples: tais soluções estão associadas ao estado de partículas com energias bem definidas.
Na mecânica quântica, a função de onda ψE (r1) é a amplitude de probabilidade de encon-
trarmos a partícula com energia E, numa posição caracterizada pelo vetor de posição r1.
No contexto quântico, a probabilidade de encontrarmos uma partícula, com energia bem
definida (E) num pequeno elemento de volume, dV, no entorno do ponto caracterizado pelo
vetor r, é dada por:
P ( r ) = ψ E ( r ) ψ E ∗ ( r ) d 3V 8.72
∫∫∫ ψ ( r ) ψ ( r )d V = 1
∗ 3
E E 8.73
Fundamentos de Matemática II