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Equações de Maxwell na forma Tensorial

Fernando Ribeiro Souza

Sabemos que as equações de Maxwell são:

Diante dessas equações podemos escrevê-las na forma tensorial, para isso


iniciaremos falando sobre a geometria da Relatividade Especial que é aquela
estabelecida por Minkowski (hiperbólica). Tempo não é mais absoluto; junto com o
espaço euclidiano tridimensional, forma o espaço-tempo quadridimensional, onde
um evento em um referencial inercial O ocorrendo num "instante" t, na posição
(x,y,z), será grafado como um quadrivetor (um tensor de ordem um),

As coordenadas xµ são denominadas de contra-variantes. Como a métrica


deste espaço não é a identidade, teremos também as coordenadas co-variantes,

Observe a soma implícita nos índices contra e co-variante designados pela


mesma letra. Neste espaço, a distância infinitesimal entre dois pontos (ou eventos)
é
onde a métrica gμν é diagonal,

Esta forma de calcular a distância infinitesimal e o fato dela ser invariante


perante às transformações de Lorentz define a geometria deste espaço (espaço de
Minkowski).

Observe a presença da velocidade da luz, c, sempre multiplicando o tempo t,


para formar x0 = ct, no grupo das equações de Maxwell ligado à indução,

Assim, os campos elétrico E e magnético (rebatizado) cB têm as mesmas


dimensões. Isso sugere "rebatizarmos" também a densidade de corrente para J/c, a
qual passa a ter as mesmas dimensões de densidade de carga . Tomando o
divergente da equação de Maxwell que tem o rotacional do campo magnético e
usando a primeira equação de Maxwell para introduzir a densidade de cargas,
obteremos a equação da continuidade, introduzida primeiramente como uma lei de
conservação (da carga elétrica),

Definimo a equação acima na forma quadrivetor, e a equação abaixo de


calibre de Lorentz está escrita na forma covariante,

A versão covariante do calibre de Lorentz afirma que o quadridivergente do


quadripotencial é nulo. Seria outra lei de conservação? Ou simplesmente a
conservação da carga (elétrica) em termos dos potenciais? Seguindo a mesma
linha, a versão covariante da simetria de calibre é

,
Observe aqui os índices covariantes.
Usando estes dois quadrivetores, a versão covariante das equações de
ondas e para os potenciais, com o calibre de Lorentz é

E os campos elétrico e magnético, o que eles formam no espaço-tempo de


Minkowski? Como já temos os potenciais no espaço-tempo, vamos usá-los para
tentarmos uma versão co-variante para os campos. Para tal, usamos as relações
entre os campos e seus potenciais,

A equação do campo elétrico pode ser reescrita assim:

Estamos usando o quadrivetor potencial na última igualdade. O resultado


acima sugere definirmos um campo eletromagnético Fμν por uma matriz
anti-simétrica (tensor de ordem dois),
Resumo - Movimento de uma partícula num campo gravitacional

Fernando Ribeiro Souza

Considere uma partícula de massa m. Se não houver nenhuma força atuando sobre
ela sua equação de movimento é dada, num sistema de coordenadas S inercial, por
2 2
𝑑 𝑟/𝑑𝑡 = 0
Vamos agora observar esta mesma partícula num outro sistema de coordenadas,
digamos S’ , o qual está em movimento não uniforme em relação ao sistema S. Para
estabelecer a equação de movimento no sistema S’ , temos que relacionar as
coordenadas r’ com r.

Em termos de componentes,

Desta forma, mesmo que a equação de movimento num sistema S seja a de uma
partícula livre, num outro sistema de coordenadas, S’ , esta equação não
necessariamente será de aceleração nula. Assim,

Queremos colocar em evidência o termo . Para isto, multiplicamos a


equação acima pelo inverso da matriz,

A equação acima mostra que, mesmo que a relação (2) seja uma mera
transformação de coordenadas sem ter dependência explícita em t,
a equação de movimento no sistema de coordenadas S’ terá a forma,

onde definimos o chamado de símbolo de Christoffel Γ como

Γ não seria nulo para uma transformação não linear de coordenadas. A equação de
movimento no sistema de coordenadas S’ mostra que, num sistema de coordenadas
curvilíneas, a trajetória de uma partícula livre se apresenta como se existisse uma
força atuando sobre ela. É óbvio que esta força aparente é uma propriedade
geométrica do sistema de coordenadas em uso. Um ponto importante é que a
aceleração criada por esta força aparente de natureza geométrica do sistema de
coordenadas não depende de qual partícula está em movimento, ou seja, a
aceleração é universal para qualquer tipo de partícula. É aí que entra a possibilidade
de formularmos a força gravitacional como sendo uma propriedade geométrica do
espaço-tempo. A equação de movimento no sistema de coordenadas S’ continua
representando o movimento da partícula livre, apesar dela ter um aspecto diferente
da usual definição de uma partícula livre,

A definição de partícula livre como aquela que tem aceleração nula não parece
satisfatória. Devemos procurar uma outra definição que não dependa da escolha do
sistema de coordenadas. Existe alguma quantidade que seja preservada na
mudança de um sistema de coordenadas para outro? Existe sim, e na geometria
diferencial ela é conhecido como elemento de linha,

onde G = (gij ), chamado de tensor métrico, define a propriedade geométrica do


sistema de coordenadas. Por exemplo, num sistema cartesiano,

e no sistema de coordenadas esféricas,


onde escolhemos x1 = r, x2 = θ, e x3 = φ. Para outro sistema de coordenadas
qualquer, podemos calcular o tensor métrico G pela regra do produto matricial,

onde Λ é uma matriz cujo elemento é definido pela transformação de coordenadas,


xantes → xdepois por

já que temos que ter

Podemos agora formular o conceito de movimento de uma partícula livre. Num


sistema de coordenadas Cartesianas, o movimento de partícula livre é dado por
uma reta no espaço. Desta forma, podemos definir como trajetória, entre dois
pontos no espaço, de uma partícula livre aquela que tem o menor comprimento
entre todas as possíveis trajetórias. Em outras palavras, podemos formular o
problema em termos do princípio variacional. Queremos determinar uma trajetória,

onde s é um parâmetro, que minimize a distância entre dois pontos,

Sendo I uma quantidade escalar, esta equação agora pode ser estendida para
qualquer sistema de coordenadas. A variação deve ser feita em relação à trajetória,

A equação de Euler-Lagrange para a equação acima fica,


Como s é um parâmetro que pode ser ajustado livremente, e podemos escolher a
própria distância percorrida, ou seja

Neste caso, podemos mostrar que a equação resulta em,

é o símbolo de Christoffel.
O que foi descrito acima pode ser estendido para o espaço-tempo. Segundo a
Teoria da Relatividade Restrita, qualquer lei física independe da escolha do sistema
inercial. Um sistema de coordenadas espaço-temporal3 , {xµ, µ = 0, 1, 2, 3} está
relacionada a outro sistema de coordenadas, {x’ µ} por uma transformação de
Lorentz,

onde a matriz de transformação de Lorentz deve satisfazer à invariância da


distância própria,

e G é o tensor métrico para o espaço Minkowskiano (onde vale a relatividade


restrita),

vamos generalizar a TRR para uma transformação local,


Esta transformação deve satisfazer à condição,

onde introduzimos o tensor métrico geral {gµν} para poder tratar os espaços não
Minkowskianos. As leis da física então não devem depender da escolha do sistema
de coordenadas 4 . Vamos agora estudar o movimento de uma partícula livre. O
cálculo é exatamente igual ao caso de 3 dimensões, apenas estendendo os índices.
Temos

onde, para facilitar a notação, introduzimos a notação,

𝑖 0
| | | |
Tomando o limite de 𝑑𝑥 /𝑑𝑥 = 𝑣𝑖/𝑐 ≪ 1 temos
𝑑𝑠 ≃ 𝑐𝑑𝑡.
Finalmente, a equação de movimento fica,

Esta última forma pode ser vista como a equação de movimento de uma partícula
dentro de um potencial gravitacional dado por

Assim, a componente (00) do tensor métrico g00 está associada com o potencial
gravitacional,

no limite da aproximação não relativística.

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