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WILLIAM CÉSAR MARIANO

FUNDAMENTOS DE
ELETRICIDADE E MAGNETISMO
UNIDADE 4

FLUXO ELÉTRICO. LEI DE GAUSS

COMPETÊNCIAS:
Conceituar Fenômenos Elétricos e Magnéticos e diferenciar os comportamentos dos resis-
tores, indutores e capacitores.

1. INTRODUÇÃO
A Lei de Gauss é uma equação usada para o cálculo do vetor campo elétrico em situ-
ações problema que envolvem uma geometria favorável, ou seja, utiliza – se a Lei de
Gauss no cálculo do campo elétrico em problemas que envolvem um alto grau de sime-
tria. Vale a pena mencionar que associado ao campo elétrico, há o vetor deslocamento
elétrico. Esses vetores estão relacionados por meio da constante de proporcionalidade

ε 0 ou permissividade absoluta no vácuo. Tal relação pode ser expressa pela equação
1, abaixo.

  C 
D = ε 0 E  2  (equação 1)
m 

Em nossa unidade focaremos nossa atenção no campo elétrico, E . A Lei de Gauss é
uma das equações básicas da eletrostática e compõe as quatro equações de Maxwell
(Hayt, 1995, 265) mencionada anteriormente. Inicialmente será definido o conceito de
fluxo elétrico através de uma superfície, seguida da expressão característica da Lei de
Gauss e suas aplicações.

1.1. FLUXO ELÉTRICO


Ao empregarmos a Lei de Gauss na solução de problemas que envolvam o cálculo do
campo elétrico, utilizamos o conceito de fluxo elétrico, que representaremos pela letra,
φ . O fluxo elétrico através de uma superfície (ou que atravessa uma superfície) está
relacionado ao número de linhas de força ou de campo que atravessa uma superfície.
Na unidade anterior, vimos que as linhas de campo são usadas para representar a di-
reção e o sentido do campo elétrico gerado por cargas elétricas positivas ou negativas.
A fim de ilustrarmos esse conceito, considere uma carga elétrica pontual qualquer, Q ,
colocada a uma grande distância de uma placa ou uma superfície plana de espessura
desprezível em relação a sua área A, de forma que possamos inicialmente considerar
que o campo elétrico gerado pela carga, atravessa perpendicularmente a superfície,
conforme mostra a figura 01, abaixo.

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Fluxo Elétrico. Lei de Gauss U4

Figura 01. Fluxo elétrico através de uma superfície perpendicular as linhas de campo

Fonte: Mariano (2001, p.27).

O fluxo elétrico em qualquer superfície é proporcional ao campo elétrico, relacionado ao


número de linhas de campo vezes a área A, da superfície. Desta forma, o fluxo pode ser
escrito pela equação 2, abaixo.

 N m2 
φ = E A  (equação 2)
 C 
O caso acima representa a forma mais simples de calcular o fluxo elétrico. Vamos ago-
ra, determinar o fluxo elétrico de forma mais geral, ou seja, suponha que o campo elé-
trico gerado pela carga, forme um ângulo θ qualquer com a superfície, conforme mostra
a figura 02, abaixo.
Figura 02. Fluxo elétrico através de uma superfície qualquer

Fonte: Mariano (2001, p.28).

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U4 Fluxo Elétrico. Lei de Gauss

Se n̂ for o vetor unitário (e, portanto, possui módulo igual a 1), perpendicular a superfí-
cie, então, o fluxo elétrico através da superfície, será representado pelo produto escalar
do vetor campo elétrico e n̂A , ou seja:
  N m2 
ˆ 
φ = E • nA  (equação 3)
 C  
Perceba que θ é o ângulo formado entre os vetores E e n̂ , na figura 02. O vetor
unitário ou versor nˆ será sempre perpendicular a superfície não importando a dire-
ção do vetor campo elétrico. Essa característica é de suma importância para o cál-
culo do fluxo elétrico, independente do ângulo entre a superfície e o campo elétri-
co. Note que no primeiro caso, o da figura 01, o ângulo θ = 0 (caso particular), já
que a superfície é perpendicular ao campo. Assim, o fluxo elétrico dado pelo pro-

duto escalar entre vetores E en̂ , como expresso na equação 3, se resume a:
  
ˆ = E nˆ A cos θ= E 1 A cos 00= E A →φ= E A. Esse resultado é exata-
φ= E • nA
mente o mesmo obtido na equação 2.

Nota importante: A equação 3 define o cálculo para o fluxo elétrico através de super-
fícies. Entretanto, o fluxo elétrico através de uma superfície é definido através do uso
de integração, trata – se de uma integral dupla através de uma superfície fechada (por
exemplo, uma superfície esférica, ou uma casca cilíndrica, daí a aplicação da Lei de
Gauss em problemas com alto grau de simetria), conforme a equação 5, abaixo.
Para expressarmos a Lei de Gauss, na forma integral, devemos tomar o limite sobre um
elemento infinitesimal de área, nˆ dA e em seguida somarmos a contribuição de cada
um desses elementos, conforme a equação abaixo.
 
lim ∑ E • nˆ dA =
φ= ∫ E • nˆ dA (equação 4)
dA →0

Se a superfície for fechada e veremos nos problemas que esta é a condição perfeita, o
fluxo elétrico pode ser definido como:

φ = ∮ E • nˆ dA (equação 5)
S
A equação 5, diz que o fluxo elétrico é igual a integral, através de uma superfície fecha-
da, do campo elétrico escalar a área da superfície. Dessa forma, a sugestão do autor,
é que o professor poderá utilizar essa abordagem sempre que houver conhecimento
prévio de cálculo.

1.2. LEI DE GAUSS


A expressão para o fluxo elétrico, obtida no item anterior (equação 3) representa parte
da Lei de Gauss e servirá como base para definirmos completamente essa lei.
A Lei de Gauss diz que o fluxo elétrico, através de qualquer superfície fechada é
numericamente igual à carga total líquida, envolvida pela superfície.

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Fluxo Elétrico. Lei de Gauss U4

Esse conceito de “carga líquida” é extremamente importante e fundamental para a apli-


cação da Lei de Gauss na solução de problemas. Considere então, a figura 03. A figura
mostra uma superfície esférica (ou uma casca esférica), de raio r , por onde passa um

campo elétrico E gerado por uma carga Qlíquida . A superfície esférica, também chama-
da de superfície de Gauss, envolve a carga líquida. O campo elétrico gerado pela car-
ga (vamos considera–lá positiva), “deixa” a carga, conforme vimos na unidade anterior e
atravessa todos os pontos da superfície de Gauss. Como a distância do centro da carga
até a superfície ( r ) é constante, o campo elétrico em qualquer ponto da superfície é
Qlíquida
o mesmo e igual, em módulo, a: E=k (unidade 3). Dizemos que as linhas de
campo, nesse caso, são radiais. r2
Figura 03. A Lei de Gauss através de uma superfície esférica fechada

Fonte: Mariano (2001, p.30).

Assim se tomarmos um elemento infinitesimal de área n̂∆A em um ponto qualquer na


superfície, por exemplo, o ponto P, o fluxo elétrico (equação 3) através desse elemento
será igual a:

∆φ= E • nˆ ∆A (equação 6)

Como os vetores E e n̂∆A possuem a mesma direção e sentido (figura 03), o produto
escalar entre eles vale:

  
∆φ = E • nˆ ∆A = E nˆ ∆A cos θ = E 1 ∆A cos 00 = E ∆A → ∆φ = E ∆A (equação 7)
Essa é a contribuição para o fluxo elétrico, através do elemento de área. O fluxo elétri-
co total, através de toda a superfície de Gauss, é resultado da soma de cada uma das
contribuições do fluxo através dos n elementos de área, que resulta em:

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n  n
φ=
=i 1 =i 1
∑E • nˆ∆A= ∑E ∆A →φ= E A (equação 8)

Onde: A representa a área total da superfície de Gauss.

Qlíquida
Se substituirmos E=k que corresponde ao campo elétrico gerado pela carga
r2
líquida e a área da superfície esférica, A = 4π r , na equação 8, teremos:
2

Qlíquida Qlíquida
φ = E A= k
r 2
A → φ= k
r2
( 4π r )
2
(equação 9)

1
Como k =
4πε 0 , a equação 9 torna – se:
1 Qlíquida Qlíquida
= φ
4πε 0 r 2
= 4π r 2
→ φ ( )
ε 0 (equação 10)
Se igualarmos as equações 3 e 10, obteremos a expressão para a Lei de Gauss.

 Qlíquida
=φ E= ˆ
• nA (equação 11)
ε 0

Importante: A sempre será numericamente igual a área da superfície de Gauss e

Qlíquida igual a carga líquida envolvida (no interior) pela superfície. Na figura 03, a carga
Qlíquida é considerada positiva e com isso, conforme dito anteriormente, o campo elé-
trico e o versor n̂ possuem mesma direção e sentido. Se a Qlíquida fosse negativa, a
direção entre esses campos continuaria a mesma, e o sentido seria contrário, de forma
que a equação 6 tornaria – se igual a:
  
∆φ =E • nˆ ∆A =E nˆ ∆A cos θ =E 1 ∆A cos1800 =− E ∆A → ∆φ =− E ∆A (equação 12)

Dessa forma, o sinal negativo na equação acima e que leva em conta uma carga posi-
tiva expressa o sentido do campo elétrico (entrando na carga).

1.3. APLICAÇÕES DA LEI DE GAUSS


A Lei de Gauss pode ser aplicada no cálculo do campo elétrico, em diversos problemas
nos quais a geometria é favorável ou exista um alto grau de simetria. Os exemplos
abaixo ilustram algumas das principais aplicações para a Lei de Gauss e servem ainda
como exemplos e exercícios para o cálculo do campo elétrico.

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Fluxo Elétrico. Lei de Gauss U4

1.3.1. CÁLCULO DO CAMPO ELÉTRICO DEVIDO A UM FIO RETILÍNEO


ELETRIZADO
Nessa primeira aplicação, vamos considerar um fio longo que está eletrizado com uma
densidade linear de carga λ constante e calcular o modulo campo elétrico, a uma dis-
tância genérica r medida a partir do centro do fio até a superfície cilíndrica (casca) de
Gauss de comprimento L, utilizando a Lei de Gauss.
Figura 04. Cálculo do campo elétrico, através da Lei de Gauss, devido a uma densidade linear constante
de cargas

Fonte: Mariano (2001, p.34).

 Q
A partir da Lei de Gauss, ˆ = líquida temos:
E • nA
ε0
 Qlíquida  Qlíquida  Qlíquida
ˆ =
E • nA → E nˆ A cos θ = → E (1) A cos 00 =
ε0 ε0 ε0

Q Qlíquida
Mas, λ= →λ= que se substituída na equação anterior, torna – se:
L L
 λL
E (1) A cos 00 = .
ε0

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Se substituirmos E = E simplesmente para simplificação e A = 2 π r L que represen-
ta a área da superfície cilíndrica de Gauss na equação anterior, teremos:
 λL λL
E (1) A cos 00 =→ E ( 2 π r L ) =que resulta em:
ε0 ε0
λ N
E= (equação 13)
2π r ε 0 C
Esse é o módulo do campo elétrico, a uma distância r do centro do fio (sobre a super-
fície) devido a um fio retilíneo com densidade linear de carga constante.

1.3.2. CÁLCULO DO CAMPO ELÉTRICO DEVIDO A UM PLANO LONGO


ELETRIZADO.
A ideia agora é a de calcular o módulo do campo elétrico devido a um plano longo, de
espessura desprezível, e área A, uniformemente carregado com densidade superficial
de carga σ constante, utilizando a Lei de Gauss. Planos desse tipo são usados, na
prática, na construção de capacitores de placas planas. Em unidade posterior, vere-
mos que capacitores desse tipo são formados por duas placas planas carregadas com
densidades superficiais de carga iguais, porém com sinais opostos, de forma que um
campo elétrico é gerado entre as placas.
Figura 05. Cálculo do campo elétrico, através da Lei de Gauss, devido a uma densidade superficial cons-
tante de cargas

Fonte: Mariano (2001, p.35).

 Q
ˆ = líquida
E • nA
A partir da Lei de Gauss, ε 0 vamos separar a superfície fechada em três
partes: a tampa superior, a inferior, ambas de área A e a lateral, dessa forma, temos:

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Fluxo Elétrico. Lei de Gauss U4

 Qlíquida    Qlíquida
ˆ =
E • nA → E ns A cos θ + E ni A cos θ + E nl A cos θ = →
ε0 ε0

  Qlíquida
E (1) A cos 00 + E (1) A cos 00 + 0 =
ε0
Repare que o produto escalar, tanto na tampa superior quanto inferior resultam em

( E A) uma vez que os vetores E n̂ possuem a mesma direção. A contribuição para
e

o campo elétrico da lateral da superfície cilíndrica é zero, uma vez que os vetores E
e n̂ são perpendiculares e, portanto, formam um ângulo de 900, com produto escalar
nulo. Assim a equação anterior torna – se igual a:

  Qlíquida
E A+ E A =
ε0

Q Qlíquida
Mas, σ= →σ = que se substituída na equação anterior, torna – se:
A A
 σA
2 E A= .
ε0

Se substituirmos E = E simplesmente para simplificação, na equação anterior, teremos:

σA
2E A = que resulta em:
ε0
σ N
E=
2ε0 C (equação 14)

Esse é o módulo do campo elétrico, devido ao plano longo carregado com densidade
superficial de carga constante.

1.3.3. CÁLCULO DO CAMPO ELÉTRICO DEVIDO A UM FIO RETILÍNEO


ELETRIZADO.
Nessa aplicação, vamos considerar uma esfera maciça de raio R carregada de forma
uniforme com uma densidade volumétrica de carga ρ constante, e calcular o campo
elétrico em um ponto interior e exterior a esfera, utilizando a Lei de Gauss.

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Figura 06. Cálculo do campo elétrico, através da Lei de Gauss, devido a uma densidade volumétrica
constante de cargas

Fonte: Mariano (2001, p.36).

`  Ponto interno da esfera, rint < R :

rint representa o raio da casca esférica de Gauss em um ponto interno a esfera.

 Q
A partir da Lei de Gauss, ˆ = líquida temos:
E • nA
ε0
 Qlíquida  Qlíquida  Qlíquida
ˆ =
E • nA → E nˆ A cos θ = → E (1) A cos 00 =
ε0 ε0 ε0

Q Qlíquida
Mas, ρ= →ρ= que se substituída na equação anterior, torna – se:
V V
 ρV
E (1) A cos 00 = .
ε0

como nos casos anteriores, A = 4 π r
2
Se substituirmos E =E que representa a

4 3
área da superfície esférica de Gauss e V = π r que é numericamente igual ao volu-
3

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me líquido com carga, envolvido pela superfície de Gauss de raio rint < R na equação
anterior, teremos:

4 
 ρ  π r3 
ρV 3
E (1) A cos 00 =→ E 4 π r 2 =
ε


)
que resulta em:
0 0
ρr N
E= (equação 15)
3ε 0 C
Esse é o módulo do campo elétrico, a uma distância rint tomada no interior da esfera
carregada com densidade volumétrica de carga constante. Perceba que na região inter-
na da esfera, o campo elétrico tem um comportamento linear, ou seja, o campo elétrico,
aumenta à medida que o raio cresce a partir do zero até próximo a superfície da carga.

Ponto externo da esfera, rext > R :

rext representa agora, o raio da casca esférica de Gauss em um ponto externo a esfera.
 Q
ˆ = líquida
E • nA
Utilizamos o mesmo procedimento, ou seja, como ε0 temos:

 Qlíquida  Qlíquida  Qlíquida


ˆ =
E • nA → E nˆ A cos θ = → E (1) A cos 00 =
ε0 ε0 ε0

Q Qlíquida
Mas, ρ= →ρ= que se substituída na equação anterior, torna – se:
V V
 ρV
E (1) A cos 00 = .
ε0

como nos casos anteriores, A = 4 π r que representa a
2
Se substituirmos E =E
área da superfície esférica de Gauss (repare que a área da superfície e a mesma do

4
caso anterior) e V = π R 3 que é numericamente igual ao volume líquido com carga,
3
envolvido pela superfície de Gauss de raio rext > R na equação anterior, teremos:

4 
 ρ  π R3 
ρV 3
E (1) A cos 00 =→ E 4 π r 2 =
ε0
( 
) ε0 que resulta em:

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ρ R3 N
E= (equação 16)
3r2 ε0 C
Esse é o módulo do campo elétrico, a uma distância rext tomada no exterior da esfera
carregada com densidade volumétrica de carga constante. Note que o comportamento

ρr
do campo elétrico é distinto daquele calculado em um ponto interno ( E = ). Para
3ε 0
pontos externos a esfera, o campo elétrico diminui com o quadrado da distância, ou
seja, à medida que a distância em relação a superfície da esfera tende ao infinito, o
campo elétrico nesse ponto tende a zero.

2. ATIVIDADES PRÁTICAS
Exercício

Novamente a sugestão aqui é assistir ao vídeo (link abaixo) dessa série, de forma atenta,
cujo título é “As equações de Maxwell” especificamente o que se refere a Lei de Gauss. Após
assistir ao vídeo produza um texto com suas anotações a respeito do assunto estudado.
A sugestão é que o aluno não se prenda especificamente as equações matemáticas, mas
sim, os conceitos que envolvem as equações. Discuta em sala de aula com seu professor e
colegas os conceitos vistos no vídeo e os compare com os tópicos abordados na unidade 3.

11 Fundamentos de Eletricidade e Magnetismo


EDUCANDO PARA A PAZ

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