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Física Experimental 3 - Eletromagnetismo

Experimento 1: Fontes, multímetros e superfícies


equipotenciais

1. Objetivos:

• Aprender o funcionamento básico de fontes de tensão ajustáveis e multímetros;


• Compreender o conceito de diferença de potencial elétrico;
• Traças e visualizar a diferença de potencial e o campo elétrico de diferentes geometrias;
• Compreender a blindagem eletrostática e a sua relação com a Lei de Gauss.

2. Introdução ao Experimento:

2.1 Campo elétrico e Potencial Elétrico

A carga elétrica é uma propriedade fundamental da matéria, sendo responsável pelas


interações eletromagnéticas. Essas interações podem ser descritas no regime estático pela
⃗⃗⃗𝑒 ) entre partículas carregadas.
chamada Lei de Coulomb, que descreve a força eletrostática (𝐹
O conceito de campo elétrico (𝐸⃗ ) ou campo eletrostático permite descrever, de forma mais
fundamental, essa interação. A relação entre o campo de forças e o campo elétrico pode ser
obtido para uma carga fonte 𝑄 usando-se uma carga de prova 𝑞0 , com 𝑄 ≫ 𝑞0 , como descrito
na Eq. 1:
⃗⃗⃗
𝐹𝑒
𝐸⃗ = Eq. 1
𝑞0
Logo, para conhecer o campo elétrico gerado pela carga 𝑄 em um determinado ponto,
deve-se mapear a força elétrica exercida sobre a carga 𝑞0 naquele ponto. Em outras palavras,
uma carga 𝑄 produz um campo no espaço em torno dela e um segundo corpo sofre a ação
desse campo, que é similar à força gravitacional que a Terra exerce sobre um corpo massivo.
É importante ressaltar que o campo elétrico existe independente da existências da carga de
prova.
O painel (a) da Figura 1 apresenta um diagrama considerando a carga de prova 𝑞0 > 0
interagindo repulsivamente com uma carga 𝑄 > 0, resultando numa força elétrica em
ambos os corpos. Usando a Equação 1 é possível obter o campo elétrico no ponto onde estava
localizada a carga 𝑞0 . Mantendo a carga de prova 𝑞0 > 0, a força elétrica de interação e o
campo elétrico de carga 𝑄 < 0 é mostrada no painel (b). Já a Figura 1(c) mostra um exemplo
de como mapear o campo elétrico no espaço gerado por uma carga 𝑄 > 0.
Entretanto, as dificuldades para mapear a força elétrica em um sistema de duas cargas
em diferentes pontos no espaço são imensas. Assim, uma forma alternativa é investigar as
chamadas superfícies equipotenciais, ideia que será descrita a seguir.

Figura 1 - Representação esquemática da força elétrica entre cargas e do campo no entorno de uma carga fonte. (a)
Carga 𝑄 > 0; (b) Carga 𝑄 < 0 e exemplo do mapeamento da força elétrica e obtenção do campo elétrico em diferentes
pontos no espaço.

À primeira vista, o campo elétrico 𝐸⃗ pode parecer algo subjetivo, mas as chamadas
linhas de campo elétrico fornecem uma ajuda valiosa para interpretá-lo de forma mais
realista, como representado na Figura 1(a)-(b). Um linha de campo elétrico é uma linha
imaginária reta ou curva que passa por uma região do espaço de modo que sua tangente em
qualquer ponto forneça a direção e o sentido do campo elétrico considerado. Portanto, as
linhas de campo indicam a direção e o sentido do campo 𝐸⃗ em qualquer ponto e o
espaçamento das linhas fornece uma ideia do módulo do campo 𝐸⃗ em cada ponto. Regiões
onde as linhas de 𝐸⃗ tem maior densidade apresentam um campo elétrico mais intenso e elas
também não podem se cruzar, já que apenas um vetor 𝐸⃗ pode ser obtido em cada ponto no
espaço.

Figura 2 - Representação das linhas de campo elétrico e das superfícies equipotenciais. Linhas de Campo elétrico para
uma carga pontual positiva (a) e um dipolo elétrico (b), formado por uma carga positiva e uma negativa. Superfícies
equipotenciais, perpendiculares às linhas de campo elétrico, para uma carga pontual positiva (c) e um dipolo elétrico (d).
Adicionalmente, o campo 𝐸⃗ é um campo conservativo, isto é, seu rotacional é nulo.
Uma importante consequência disso é que o trabalho 𝑊 realizado pela força elétrica
independe da trajetória, isto é, depende apenas do ponto inicial (𝑟⃗𝑖 ) e final (𝑟⃗⃗⃗𝑓 ). Assim, é
possível obter a energia potencial elétrica 𝑈(𝑟), que depende da posição da(s) partícula(s)
carregada(s) no campo elétrico, como sendo:
⃗⃗⃗⃗
𝑟𝑓 ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝑓
∆𝑈(𝑟) = 𝑈(𝑟⃗⃗⃗𝑓 ) − 𝑈(𝑟⃗𝑖 ) = −𝑊𝑖→𝑓 = − ∫ ⃗⃗⃗
𝐹𝑒 . 𝑑𝑟 = −𝑞0 ∫ 𝐸⃗ . 𝑑𝑟 Eq. 2
⃗⃗𝑟⃗𝑖 ⃗⃗𝑟⃗𝑖
À partir da energia potencial elétrica é possível definir o potencial elétrico ou apenas
potencial. Denomina-se, portanto, o potencial elétrico 𝑉 como sendo a energia potencial por
unidade de carga. Logo:
⃗⃗⃗⃗
𝑟𝑓
∆𝑈
∆𝑉 = = − ∫ 𝐸⃗ . 𝑑𝑟 Eq. 3
𝑞0 ⃗⃗𝑟⃗𝑖
na qual a dependência de 𝑉 e 𝑈 com a posição foram suprimidas para facilitar a notação. É
possível concluir à partir da Eq. 3 que, conhecido o campo elétrico, pode-se obter o seu
potencial. Entretanto, como o campo elétrico é uma função vetorial em cada ponto no
espaço, medir o potencial elétrico é muito mais fácil já que é uma função escalar. Assim, para
obter o campo elétrico à partir do potencial elétrico, é necessário obter a relação inversa da
Eq. 3, que resulta em:
𝐸⃗ = −∇𝑉 Eq. 4
Portanto, considerando um sistema cartesiano, é possível obter a componente do
campo elétrico simplesmente derivando parcialmente o potencial elétrico naquela direção,
ou seja,
∂𝑉 ∂𝑉 ∂𝑉
𝐸𝑥 = − ; 𝐸𝑦 = − ; 𝐸𝑧 = − . Eq. 5
∂x ∂y ∂z
De forma aproximada, podemos determinar experimentalmente o campo elétrico
considerando que:
∆𝑉 ∆𝑉 ∆𝑉
𝐸𝑥 = − ; 𝐸𝑦 = − ; 𝐸𝑧 = − . Eq. 6
∆x ∆y ∆z

2.2 Superfície equipotencial

As linhas de campo elétrico auxiliam na visualização do campo elétrico. De modo


análogo, os potenciais em diversos pontos de um campo elétrico podem ser representados
graficamente por superfícies equipotenciais. A ideia básica empregada é a mesma dos mapas
topográficos, na qual as linhas de contorno ligam pontos com a mesma altura. Já uma
superfície equipotencial é uma superfície sobre a qual o potencial elétrico 𝑉 permanece
constante em todos os pontos. Assim, a diferença de potencial entre quaisquer dois pontos
da superfície é nula. Logo, sobre uma equipotencial temos que:
⃗⃗⃗⃗
𝑟𝑓
∆𝑉 = − ∫ 𝐸⃗ . 𝑑𝑟 = 0 Eq. 7
⃗⃗𝑟⃗𝑖
A relação entre as linhas de campo elétrico e as superfícies equipotenciais é que elas
são sempre mutualmente perpendiculares. Essa relação entre ambas está representada nos
painéis (c) e (d) da Figura 2 para uma carga pontual e para um dipolo elétrico.

2.2 Condutores e superfícies equipotenciais

Quando um condutor está em equilíbrio eletrostático, isto é, quando a carga


resultante está em repouso na sua superfície externa, a superfície do condutor é sempre uma
superfície equipotencial. Assim, o campo elétrico deve ser sempre perpendicular à superfície
do condutor. Além disso, de acordo com a Lei de Gauss, na condição de equilíbrio
eletrostático, o campo elétrico no interior de um condutor é sempre nulo, caso contrário
haveria o movimento de cargas. Isso ocorre mesmo se o condutor for oco ou tiver uma
cavidade, isto é, se tiver uma região sob vácuo em seu interior, já que nessa condição de
equilíbrio eletrostático não deve haver carga resultante tanto na parte oca quanto no interior
do condutor. Em outras palavras, todos os pontos no interior de uma cavidade possuem o
mesmo potencial, que é igual ao potencial na região condutora.

3. Materiais e Equipamentos:

Cuba eletrolítica, solução de água com CuSO4 (0,001 M), papel milimetrado, eletrodos,
suportes, fonte, multímetro e cabos.

Atenção: os instrumentos que vocês estão manipulando devem ser manuseados com
cuidado. Portanto, sempre aja com delicadeza já que outros estudantes irão utilizar esses
materiais.

3.1 Fontes de alimentação: uma introdução

Um dos elementos básicos de circuitos são as fontes de corrente contínua (DC) ou as


baterias, que fornecem ao circuito uma diferença de potencial, denominada força
eletromotriz 𝜀 (f.e.m). Esse elemento é representado usualmente pela letra grega 𝜀.
Uma fonte de tensão ideal é uma fonte que mantém sua diferença de potencial (ddp)
igual para qualquer carga 𝑅𝐶 , ou seja, ela possui resistência interna nula (𝑟𝑖 = 0). Uma fonte
de tensão é representada pelo símbolo na Figura 3(a).

Figura 3 – Representação de (a) fonte de tensão real, (b) fonte de corrente real com uma carga 𝑅𝐶 acoplada.
Da mesma maneira, uma fonte de corrente ideal é uma fonte que produz uma
corrente constante independente da carga, ou seja, possui resistência interna infinita (𝑟𝑖 →
∞). Uma fonte de corrente é representada pelo símbolo na Figura 3(b).
Na prática, no entanto, não existem fontes ideais. Logo, se 𝑅𝐶 ≫ 𝑟𝑖 , a fonte se
comportará como uma fonte de tensão. No entanto, se 𝑅𝐶 ≪ 𝑟𝑖 , a fonte se comportará como
uma fonte de corrente.

3.2 Introdução ao multímetro digital

Para realizar medidas de grandezas relacionadas com eletromagnetismo, usualmente


usamos um equipamento denominado multímetro. De forma geral, o multímetro engloba
diversos instrumentos de medidas acoplados, que são escolhidos através do seletor de
funções na posição central, conforme mostrado na Figura 4. Em um primeiro momento,
iremos utilizar o multímetro nos modos voltímetro, amperímetro e ohmímetro. O último
modo utiliza um método de medida que permite a obtenção direta do valor da resistência de
um resistor.

Figura 4 – Diagrama de um multímetro digital, mostrando a localização do visor, do seletor de funções e do fundo de
escala. Os cabos para conexão ao circuito são do tipo banana e um deles deve estar sempre conectado ao comum. O outro
é conectado à entrada dependendo da função selecionada na chave seletora.

Para operá-lo corretamente como voltímetro ou amperímetro devemos selecionar a


sua função conforme a sua unidade (V para o voltímetro e A para o amperímetro), o tipo de
tensão (alternada ou contínua) e o fundo de escala. Uma vez selecionado, acoplamos:
• o voltímetro em paralelo ao componente a ser medido;
• o amperímetro em série ao circuito.

Caso o amperímetro seja colocado em paralelo, o fato de sua resistência ser pequena
fará que a corrente no circuito seja desviada para o instrumento de medida. Isto acarretará a
queima do amperímetro.
Alguns multímetros possuem outras funções, dentre as quais destacamos as capazes
de medir a capacitância, a indutância, a frequência e a continuidade.
As incertezas instrumentais associadas aos valores medidos com um multímetro
digital dependem da escala utilizada e vêm especificados no manual de cada instrumento. Por
exemplo, no multímetro digital da marca Minipa e modelo ET-2042E, a incerteza na escala de
tensão contínua é dado por:
± (0.5% + 2𝐷) Eq. 8
Isso significa que: ± (0.5 % do valor da leitura + duas vezes o dígito menos significativo
da escala).
Por exemplo, se obtivermos uma medida de 4,723 V (na escala até 6 V), a incerteza
associada será:
• 0,5 % de 4,723 V = 0,023615 V;
• duas vezes o dígito menos significativo da escala = 2 x 0,001 V = 0,002 V.
Cuidado: esse valor não é “2 x 0.003”!
Portanto, a incerteza será: 0,023615 V + 0,002 V = 0,025615 V.
Considerando a incerteza com dois algarismos significativos, já que o primeiro
algarismo significativo é menor do que 3, e arredondando, temos que a representação final
da grandeza com sua incerteza é:
(4,723 ± 0,026) 𝑉 Eq. 9

O mesmo procedimento é aplicado em qualquer outra escala. O manual dos


multímetros pode ser facilmente encontrado no website do fabricante ou em uma pesquisa
simples usando qualquer buscador. Reforçando: não confunda o dígito menos significativo
da escala com o último dígito da medida realizada.

4. Roteiro:

A seguir é apresentada uma sequência de atividades, compatíveis com o material


disponibilizado, com o intuito de orientar o procedimento experimental a ser realizado. Para
a realização do experimento, entre outras escolhas individuais de cada grupo, sugere-se:

(a) Identificar o material a ser utilizado, procurando entender o funcionamento de cada


componente;
(b) O diagrama de montagem básico é apresentado na Figura 3;
(c) Há alguns pontos importantes na montagem que devem ser considerados para
compreender o experimento. Exemplos: Como obter uma linha/superfície
equipotencial? Por que se usa um sal de cobre na água para realizar o experimento? A
configuração de eletrodos tem simetria? O que ocorre se uma carga for deslocada sobre
uma superfície/linha equipotencial? E se uma carga positiva for liberada próxima ao
eletrodo positivo?
(d) Deixe claro como será feita a leitura e mapeamento das grandezas de interesse,
indicando, por exemplo, quantos pontos serão tomados ou as condições de varredura;
(e) O campo elétrico e as linhas de campo devem ser obtidos à partir do experimento;
(f) Adicionar à configuração de placas paralelas, um anel entre os dois eletrodos. Meça a
diferença de potencial dentro do anel;
(g) Essas observações e análises propostas são apenas um breve guia. Mais análises podem
e devem ser realizadas com os resultados experimentais obtidos.
Figura 3 – Diagrama de montagem do experimento.

6. Exemplos de bibliografias recomentadas para esse experimento:

Abaixo seguem algumas referências sobre os conceitos tratados nesse experimento:

[1] Sears, F. W., Zemansky; M. W.; Young, H. D.; Freedman, R. A. Física III: Eletromagnetismo,
12a. ed., São Paulo: Addison Wesley, 2009, 425 p.

[2] Nussenzveig, H. M. Curso de Física Básica, vol. 3, São Paulo: Edgard Blucher, 2002, 328 p.

[3] R. A. Serway e J. W. Jewett Jr. Física: para cientistas e engenheiros, 3ª ed., São Paulo:
Cengage Learning, 2008. v. 3.

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