Você está na página 1de 16

ELETROMAGNETISMO I 153

17 EQUAÇÕES DE MAXWELL, POTENCIAL


MAGNÉTICO E EQUAÇÕES DE CAMPO

A formulação completa das equações de Maxwell só será possível quando estudarmos os campos
eletromagnéticos variáveis no tempo. Por enquanto, vamos fazer uma abordagem inicial destas
equações, apenas para campos invariantes no tempo. Este capítulo tem por objetivo resgatar os
conceitos apresentados até o momento e formulá-los de uma forma mais concisa, de modo que
permita uma melhor compreensão dos fenômenos já estudados. Em seguida formularemos as
equações de Poisson e de Laplace, deduzidas a partir das equações de Maxwell.

17.1 – AS QUATRO EQUAÇÕES DE MAXWELL PARA CAMPOS ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS


ESTACIONÁRIOS

Como pudemos observar em todo o desenvolvimento deste curso, as leis básicas do eletromagnetismo
foram formuladas por cientistas do século XIX, a partir da observação de fenômenos elétricos e
magnéticos, complementadas por pesquisas experimentais. Com o auxílio das técnicas empregadas em
cálculo diferencial e integral, essas equações receberam uma apresentação formal, mais elegante e
sofisticada. Esse trabalho é devido a James Clerk Maxwell, cientista inglês que deu origem a um famoso
grupo de equações conhecido por Equações de Maxwell.

As equações de Maxwell podem ser escritas tanto na forma integral, como na forma diferencial. Na
verdade, o grupo de equações de Maxwell, na sua forma integral, nada mais é do que a expressão de
leis e conceitos já conhecidos e estudados de campos elétricos e magnéticos.

Na forma integral, para campos invariantes no tempo, já vimos que:


r r
∫ ⋅ dS=∫ ρ dv (C)
.D
s v
(17.1)

r r
∫l E ⋅ dL = 0 (17.2)

r r r r
∫l
H ⋅ d L = ∫ J ⋅ dS (A)
S
(17.3)

r r
∫ B ⋅ dS=0 (17.4)
S

A equação (17.1) é a justificativa matemática para a lei de Gauss, mostrando que o fluxo total que
atravessa uma superfície fechada corresponde à carga elétrica líquida por ela envolvida. Em seguida, a
equação (17.2) mostra que a integral de linha do campo elétrico estático sobre um caminho fechado é
nula, numa clara expressão da lei de Kirchhoff para as malhas em circuitos elétricos em corrente
contínua. Em seqüência a equação (17.3) expressa a lei circuital de Ampère onde a integral de linha do
campo magnético estático sobre um caminho fechado corresponde à corrente elétrica enlaçada por este
percurso. Finalmente, a equação (17.4) mostra que o fluxo total do campo magnético sobre uma
superfície fechada é nulo e demonstra, em um paralelo com a lei de Gauss na equação (17.1), a
inexistência de cargas magnéticas.

A pura aplicação dos teoremas de Stokes e da Divergência permite que as equações de Maxwell sejam
expressas na sua forma diferencial ou pontual. Assim, pela ordem:
r
∇ ⋅ D = ρ (C / m 3 ) (17.5)

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 154

r
∇ × E= 0 (17.6)

r r
∇ × H = J (A / m 2 ) (17.7)

r
∇ ⋅ B= 0 (17.8)

Utilizando as identidades e relações vetoriais já vistas (gradiente, divergente, rotacional, teorema da


divergência, teorema de Stokes), qualquer dos conjuntos de equações pode ser obtido, a partir do outro.

A interpretação física dada para as equações (17.1) e (17.5) é a de que podem existir cargas elétricas
isoladas e que o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície fechada é igual à carga total (líquida)
por ela envolvida.

A segunda dupla, ou seja, as equações (17.2) e (17.6), nos dizem que o campo elétrico estacionário é
de natureza conservativa.

As equações (17.3) e (17.7) da terceira dupla informam que a corrente total que atravessa uma
superfície aberta é igual à integração do vetor intensidade de campo magnético ao longo do contorno
(caminho fechado) que envolve essa superfície. Passando ao limite, quando essa superfície aberta
tende a zero, a circulação do vetor intensidade de campo magnético nos fornece a densidade e a
direção da corrente elétrica naquele ponto.

Por fim, a quarta dupla, formada pelas equações (17.4) e (17.8), de uma forma elegante mostra que não
é possível a existência de pólos magnéticos isolados; eles sempre ocorrem aos pares.
r r r r
A estas equações adicionamos as expressões relacionando D com E e B com H (chamadas de
relações constitutivas) presentes em qualquer meio onde:
r r
D = εE (C / m 2 ) (17.9)

r r
B = μH ( Wb / m 2 ) (17.10)

O conjunto formado pelas equações de Maxwell, mais essas duas últimas relações, constituem o cerne
da teoria eletromagnética.

Deve-se salientar que as equações aqui apresentadas referem-se a campos eletrostáticos e


magnetostáticos (não variantes com o tempo). Veremos mais tarde as equações de Maxwell também
são formuladas matematicamente para englobar campos elétricos e magnéticos variantes no tempo.

17.2 – POTENCIAL ESCALAR MAGNÉTICO E VETOR POTENCIAL MAGNÉTICO

Uma das maneiras encontradas para resolver problemas de campo eletrostático é pela utilização do
potencial escalar eletrostático V. Dada uma configuração de cargas, a intensidade de campo elétrico
pode ser obtida pelo gradiente dos potenciais eletrostáticos uma dada região. Devido à grande
semelhança nas formulações da eletrostática, somos levados a perguntar se esta forma de solução não
pode ser utilizada na magnetostática, ou seja, definir uma função potencial escalar magnético, a partir
de uma distribuição de correntes, e a partir dela determinar a intensidade de campo magnético. Esta
questão pode ter uma resposta afirmativa, sob certas circunstancias.

Vamos então designar uma função potencial escalar magnético Vm, numa analogia com a eletrostática e
definir que:
r
H = − ∇Vm (A / m) (17.11)

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 155

O sinal negativo para o lado direito da equação 17.11 deve-se estritamente à analogia com a
eletrostática.

Escrevendo a Lei de Ampère na forma pontual e substituindo o vetor intensidade de campo magnético
pelo gradiente negativo da função escalar potencial magnético teremos;
r r
∇ × H = ∇ × (− ∇Vm ) = J (17.12)

As identidades vetoriais mostram que o rotacional do gradiente de qualquer função escalar é


identicamente nulo. Portanto, a função potencial escalar magnético só pode ser definida quando a
r
densidade de corrente no ponto em que H está sendo calculado for igual a zero. Ou seja:
r
∇ × H =0 (17.13)

Como muitos problemas magnéticos envolvem geometrias em que os condutores ocupam uma fração
muito pequena do domínio, o potencial escalar magnético pode ser útil. O potencial escalar magnético
também é aplicável a problemas envolvendo ímãs permanentes.

Uma diferença fundamental entre a função potencial escalar eletrostático e a função potencial escalar
magnético é que a primeira é um campo conservativo, ao passo que a segunda não o é. O potencial
elétrico V é uma função unívoca, ou seja, uma vez que a referência zero seja fixada, existe um, e
somente um valor de V associado a cada ponto do espaço. Este não é o caso de Vm. Para que Vm seja
uma função unívoca, é necessário que não somente a densidade de corrente seja nula no ponto
considerado, mas também que a corrente envolvida pela circuitação do vetor intensidade de campo
magnético na região de interesse também seja nula.

Por exemplo, um condutor conduzindo uma corrente elétrica apresenta uma densidade de corrente
somente no seu interior, o que implica na inexistência de linhas de corrente fora dele. No entanto, fora
do condutor, a circuitação do campo magnético enlaça toda a corrente existente no condutor, mostrando
que neste caso, o potencial escalar magnético não pode ser determinado de forma única.

Frente às limitações da função potencial escalar magnético, no eletromagnetismo moderno, onde a


determinação de campos eletromagnéticos é feita por recursos numéricos associados a métodos
computacionais, outra função, esta denominada vetor potencial magnético, é mais utilizada, podendo
ser estendida a regiões com densidades de corrente diferentes de zero, e campos magnéticos variáveis
no tempo.

Sabemos que as linhas de força do campo magnético são fechadas, numa clara mostra da inexistência
de cargas magnéticas. Desta forma, o fluxo magnético total que atravessa uma superfície fechada
resulta sempre nulo, ou seja, numero de linhas de campo que entram na superfície é igual ao numero de
linhas que dela saem. A aplicação do teorema da divergência faz então com que a indução magnética
resulte nula. Daí:
r
∇ ⋅ B= 0 (17.14)

O vetor potencial magnético (bem como a função potencial escalar magnético) não possui nenhum
significado físico (pois, ao contrário da eletrostática, não existem cargas magnéticas isoladas). A sua
definição provém de uma lei do cálculo vetorial, que afirma que o divergente do rotacional de qualquer
função vetorial é nulo.
r
Desta forma, deve existir uma função A tal que sua circuitação produza a densidade de fluxo magnético
r
B . Assim,
r r
B=∇ × A (17.15)

Fica assegurado então que:


r
∇ ⋅ (∇ × A ) = 0 (17.16)

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 156

r
A função A é conhecida como o vetor potencial magnético e sua dimensão é Wb/m no Sistema
Internacional de Unidades.

Embora seja possível encontrar expressões matemáticas para o vetor potencial magnético, análogas
àquelas para o potencial eletrostático, em termos de uma integral envolvendo corrente (ou densidade de
corrente), elementos diferenciais de comprimento (ou de superfície, ou de volume) e as distâncias
r
dessas distribuições a pontos onde se deseja calcular o valor de A , não o faremos aqui. Essas
expressões são de uso bastante limitado em casos voltados à prática, com soluções analíticas bastante
complexas e até mesmo impossíveis. Ao invés disso, partindo da definição do vetor potencial magnético
e das leis já conhecidas do eletromagnetismo, vamos formular as equações de campo que servem
como ponto de partida para o cálculo de campos elétricos e magnéticos por métodos numérico-
computacionais.

17.3 – EQUAÇÕES DE POISSON E DE LAPLACE

17.3.1 – Para a Magnetostática

A lei de Ampère para campos eletromagnéticos estáticos na sua forma pontual informa que:
r r
∇ × H=J (17.17)

ou ainda pela relação constitutiva da equação (17.10):


r
⎛ B⎞ r
∇ × ⎜ ⎟⎟= J
⎜ (17.18)
⎝μ⎠

A definição do vetor potencial magnético em (17.15) faz com que a expressão acima fique:

1 r r
∇ × ( ∇ × A) = J (17.19)
μ

Consideremos que o nosso problema tenha um comportamento bidimensional, ou seja, o potencial


magnético só possui a componente na direção z e só varia nas direções x e y, ou: Ax = Ay = 0 e
∂A z ∂z = 0 . Isso pode ser ilustrado pela figura 17.1.

By B

Bx
Az

Figura 17.1 Campo magnético com comportamento bidimensional.


r
Consideremos ainda que o vetor densidade de corrente J , neste caso, só possui a componente em
relação ao eixo z deste sistema cartesiano de coordenadas.

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 157

Desenvolvendo os rotacionais da equação (17.19) com essas simplificações em mente chegaremos à


expressão:

∂ ⎛ ν∂A ⎞ ∂ ⎛ ν∂A ⎞
⎜ ⎟+ ⎜ ⎟ =− J (17.20)
∂x ⎝ ∂x ⎠ ∂y ⎜⎝ ∂y ⎟⎠

em que ν é a relutividade, definida como o inverso da permeabilidade magnética do meio. Se o meio


não for linear, ν terá dependência sobre a indução magnética B e vice-versa. A equação (17.20) é uma
equação diferencial não linear, mais conhecida como função Quase-Poisson (ou equação de Poisson
não linear). Se a relação entre B e H for linear, ν pode ser isolado na equação (17.20), recaindo na
equação de Poisson, dada abaixo.

∂ ⎛ ∂A ⎞ ∂ ⎛ ∂A ⎞ J
⎜ ⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ = − = −μJ (17.21)
∂x ⎝ ∂x ⎠ ∂y ⎝ ∂y ⎠ ν

Se o meio for desprovido de correntes, a equação (17.21) se reduzirá à equação de Laplace:

∂ 2A ∂ 2A
+ =0 (17.22)
∂ x2 ∂ y2

A solução da equação (17.20), que naturalmente engloba as equações (17.21) e (17.22), permite o
conhecimento do campo magnético em qualquer ponto de um circuito magnético. Entretanto esta
equação não possui uma solução analítica conhecida. Por essa razão, a única maneira de fazê-lo é
através de métodos numéricos.

17.3.2 – Para a Eletrostática

A obtenção da Equação de Poisson para a eletrostática é extremamente simples. A partir da forma


pontual da lei de Gauss:
r
∇ ⋅ D =ρ (17.23)

r
Da definição de D :
r r
D =ε E (17.24

r
Sabendo também que o campo elétrico E é determinado pelo gradiente negativo dos potenciais
elétricos, tem-se que:
r
E = − ∇V (17.25

Substituindo (17.25) e (17.24) em (17.23) vem:

− ∇ ⋅ ( ε ∇V ) = ρ (17.26)

ou:

ρ
∇2V=− (17.27)
ε

Essa é a equação de Poisson para a eletrostática, válida para uma região onde a permissividade
elétrica ε do meio é constante. Expandindo-a em coordenadas cartesianas temos:

∂2 V ∂2 V ∂2 V ρ
∇2 V = 2
+ 2
+ 2
=− (17.28)
∂x ∂y ∂z ε

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 158

Se o meio não possuir cargas livres, ou seja, se ρ for igual a zero, a equação (17.28) recairá na
equação de Laplace abaixo:

∂ 2V ∂ 2V ∂ 2V
∇2V = + + =0 (17.29)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

Onde a operação ∇ 2 é chamada de Laplaciano de V. Em coordenadas cilíndricas a expressão para a


equação de Laplace é:

1 ∂ ⎛ ∂V ⎞ 1 ∂ 2 V ∂ 2 V
∇ 2V = ⎜r ⎟+ + =0 (17.30)
r ∂r ⎝ ∂r ⎠ r 2 ∂φ2 ∂z 2

e em coordenadas esféricas temos:

1 ∂ ⎛ 2 ∂V ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂V ⎞ 1 ∂ 2V
∇ 2V = ⎜ r ⎟ + ⎜ senθ ⎟ + =0 (17.31)
r 2 ∂r ⎝ ∂r ⎠ r 2senθ ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ r 2sen 2θ ∂φ2

Tendo em vista que a equação de Poisson considera as características condutivas e dielétricas do


meio, a equação de Laplace é um caso particular para um meio desprovido de cargas elétricas livres.

17.4 – EXEMPLOS DE SOLUÇÃO ANALÍTICA DA EQUAÇÃO DE LAPLACE

As equações de campo obtidas na seção anterior são equações diferenciais onde as soluções
analíticas só são possíveis para problemas muito simples. Os meios devem ser homogêneos e
lineares, bem como a geometria de tratamento bastante simples.

Nesta seção apresentaremos uma maneira para se obter a solução analítica da equação de Laplace
em duas dimensões. Em coordenadas retangulares, teremos para o caso bidimensional:

∂ 2V ∂ 2V
+ =0 (17.32)
∂x 2 ∂y 2

Esta é uma equação diferencial a derivadas parciais de segunda ordem (possui derivadas de
segunda ordem) e primeiro grau (não possui potências além da primeira). A equação (17.27) é a
maneira mais geral de se expressar a variação do potencial eletrostático V em relação à posição
(x,y,z), não sendo específica a nenhum problema em particular. Em outras palavras, para se resolver
um problema em eletrostática utilizando esta equação de um modo particular para cada caso, deve-
se conhecer as condições de contorno do problema.

Vamos resolver a equação (17.32), caso particular da equação (17.27), utilizando o método da
separação de variáveis, onde assumimos que V pode ser expresso como o produto de duas funções
F e G tal que:

V( x, y)= F( x ) G( y) (17.33)

onde: F é função apenas de x e G função apenas de y.

Tomando esta expressão do potencial e aplicando-a na equação (17.32), temos:

d 2 F(x ) d 2 G (y )
G +F =0 (17.34)
dx 2 dy 2

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 159

Dividindo esta equação por F(x)G(y),

1 d 2 F(x ) 1 d 2 G (y )
+ =0 (17.35)
F(x ) dx 2 G (y ) dy 2

Tendo em vista que a soma destes dois termos resulta numa constante e que o primeiro termo é
independente de y e o segundo de x, cada qual será uma constante. Então, podemos escrever:

1 d 2 F(x ) 2
=a (17.36)
F(x ) dx 2

ou:

d 2 F(x )
=a 2 F(x ) (17.37)
2
dx
e, similarmente:

d 2 G (y )
= − a 2 G (y ) (17.38)
2
dy

O problema agora consiste em achar a solução para cada variável separadamente (daí o nome
“separação de variáveis”).

A expressão dada em (17.37) mostra uma equação diferencial ordinária de 2ª ordem e homogênea
cuja solução geral é obtida pelas raízes do correspondente polinômio característico. Desta forma, a
solução geral para a equação (17.37) é:

F(x )= A1e ax + A 2 e −ax (17.39)

ou, de maneira equivalente:

F(x ) =C1 cosh(ax ) + C 2senh (ax ) (17.40)

onde C1 e C2 são constantes arbitrárias, obtidas a partir das condições de contorno do problema
específico.

De maneira semelhante, a solução geral apresentada para a equação (17.38) é:

G (y )= A 3e jay + A 4 e − jay (17.41)

ou,

G (y )=C 3 cos(ay ) + C 4sen (ay ) (17.42)

Qualquer termo em (17.39) é uma solução e a soma deles também é uma solução. Para verificar
isso, basta substituir o valor de F da equação (17.40) na equação (17.37).

Desta forma, a solução geral da equação (17.32) fica:

V(x , y )=( A1e ax + A 2 e −ax )( A 3e jay + A 4 e − jay ) (17.43)

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 160

ou

V(x , y )= [C1 cosh(ax ) + C 2senh (ax )] [C 3 cos(ay ) + C 4sen (a


(17.44)

Assim como as constantes A1, A2, A3 e A4, ou C1, C2, C3 e C4 serão determinadas em função das
condições de contorno do problema em estudo.

Exemplo 17.1
Considere um capacitor de placas paralelas, de área 100 cm2 e distância entre as placas 0.01 m.
Sabe-se que a placa inferior está no potencial zero e a placa superior no potencial 100 V. Utilizando a
equação de Laplace, determine a distribuição de potencial entre as placas, desprezando o
espraiamento das linhas de força do campo elétrico estabelecido.

Solução:

O problema pede na verdade o campo elétrico estabelecido entre as placas. Neste caso, podemos
desconsiderar o efeito das bordas ou o espraiamento das linhas de campo visto que a distância entre
as placas planas é muito menor do que a área delas. Assim o nosso problema recai no clássico
capacitor de placas planas paralelas e infinitas, representado pela figura 17.2 abaixo.

z V = 100 V

z1
V=0

y
Figura 17.2 - Capacitor de placas paralelas.

Não há variação do potencial nas direções y e x, mas apenas na direção z. Portanto a equação de
Laplace se reduz a:

d 2V
=0
dz 2

Pelo fato da segunda derivada de V em relação a z ser zero, a primeira derivada deve ser igual a uma
constante. Desta forma:

dV
= C1
dz

ou:

dV = C1dz

integrando:

∫ dV = ∫ C1dz
ou:

V= C1z + C 2

Utilizando agora as condições de contorno, vamos determinar as constantes C1 e C2.

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 161

Em z = 0, temos V = 0. Portanto:

0= 0 + C 2 ⇒ C 2 = 0

Em z = 0.01 m, temos V = 100 V. Portanto:

100 = C1 0.01⇒ C1 =10000

Introduzindo os valores de C1 e C2 na equação da solução:

V =10 4 z (V )

O campo elétrico entre as placas será então determinado pelo gradiente dos potenciais onde
r
E = − ∇V . Assim,

r
E = − 10 4 â z

Portanto, constante e de módulo igual a V/d, como era de se esperar.

Exemplo 17.2
Calcule a distribuição da função potencial eletrostático na região interna entre dois planos radiais,
isolados por um gap infinitesimal, conforme ilustrado na figura 17.3.

Figura 17.3 – Dois planos radiais infinitos com ângulo α interior

Solução

Para essa configuração, as superfícies equipotenciais também são planos radiais, e a equação de
Laplace em coordenadas cilíndricas se reduz a:

1 ∂ 2V
∇2V = =0
r 2 ∂φ2

Excluindo r = 0, teremos:

∂ 2V
=0
∂φ2

O que dá como solução

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 162

V = Aφ + B

As condições de contorno permitem obter A e B:

Para φ = 0, V = 0 → B = 0.
Para φ = α, V = V0 → A = V0/α.

Portanto:

φ
V = V0 (V)
α

Exemplo 17.3
Calcule a distribuição da função potencial eletrostático na região interna da calha retangular mostrada
na figura 17.4.

Solução:

z
V =V0
d

V=0 V=0

V=0 x
c
Figura 17.4 Calha retangular (topo isolado).

Este problema recai no caso onde os potenciais são como um produto de funções independentes,
cuja solução geral já discutimos anteriormente. O potencial é uma função de x e de z sob a forma:

V = [C1 cosh (az ) + C 2 senh (az )] [C 3 cos(ax ) + C 4 sen (ax )]

As condições de contorno para este problema específico implicam em:

V = 0 em x = 0, V = 0 em z = 0,

Estas condições fazem nulos os termos com C2 e C4, sendo requerido então que as constantes C1 e
C3 sejam nulas para que V seja igual a zero.

Por outro lado, a condição V = 0 em x = c, leva-nos a concluir que a = nπ/c, onde n é um número
inteiro.

Tendo C1 e C3 nulos a expressão geral contém apenas o produto C2C4 que substituído por C faz com
que a expressão para o potencial torne-se:

⎛ nπz ⎞ ⎛ nπx ⎞
V = C senh ⎜ ⎟sen ⎜ ⎟
⎝ c ⎠ ⎝ c ⎠

Como n pode ser qualquer número inteiro, a expressão para V deve ser escrita como sendo uma
série infinita em que:

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 163


⎛ nπz ⎞ ⎛ nπx ⎞
V = ∑ C n senh ⎜ ⎟ sen ⎜ ⎟
n =1 ⎝ c ⎠ ⎝ c ⎠

A condição V = V0 em z = d, permite escrever:


⎛ nπd ⎞ ⎛ nπx ⎞
V0 = ∑ C n senh⎜⎝ c ⎠
⎟ sen⎜
⎝ c ⎠

n =1

O produto formado pelos dois primeiros termos resulta numa constante e a expressão acima pode ser
escrita


⎛ nπx ⎞
V0 = ∑ b n sen⎜⎝ c ⎠

n =1

Cada constante bn pode ser determinada como um coeficiente de uma série de Fourier em seno
(função ímpar) para f(x) = V0 constante onde 0 < x < c. Desta forma,

2 c nπx 2V0 c nπx


bn =
c ∫0
f ( x ) sen
c
dx =
c ∫0 sen c
dx

⎧ 0 n par
bn = ⎨
⎩4V0 / nπ n ímpar

Daí :

4V0 1
Cn = p / n impar
nπ senh (nπd / c)

A função potencial será então:

4V0 senh (nπz / c) nπx


V= ∑ sen
n impar nπ senh ( nπd / c) c

17.5 – SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE LAPLACE POR ITERAÇÕES NUMÉRICAS

Na seção anterior apresentamos uma solução exata para a equação de Laplace em um problema
extremamente simples, para efeitos práticos. Apesar da simplicidade da configuração analisada, a
solução analítica já se mostrou bastante complexa. Configurações mais complexas tornam a solução
analítica extremamente difícil, e, na maioria dos casos, impossível. É por essa razão que a solução
de problemas envolvendo as equações de Poisson e Laplace, na maioria dos casos práticos, só é
possível com o uso de métodos numéricos. Métodos numéricos permitem uma solução aproximada
para o problema, de acordo com uma tolerância pré-estabelecida. Para ilustrar a utilização dos
métodos numéricos, nesta seção vamos apresentar um método bastante primitivo para a solução
numérica da equação de Laplace. Este método serviu como ponto de partida para a formulação do
método das diferenças finitas, que em sua formulação no domínio do tempo, FDTD, é largamente
utilizado na solução de problemas envolvendo campos eletromagnéticos variáveis no tempo.

Para simplificar a variação na direção z não existe. Isso reduz o nosso problema a um problema de
campo bidimensional:

∂2 V ∂2 V
+ =0 (17.45)
∂x 2 ∂y 2

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 164

O primeiro termo na equação 17.45 é a derivada parcial segunda de V em relação a x, isto é, a taxa
de variação em relação a x da taxa de variação de V em relação a x. Idem para o 2º termo, em
relação a y. Vamos reescrever a equação 17.45 da seguinte maneira:

(
∂ ∂V ∂x
=
)
∂⎛⎜ ∂V ∂y⎞⎟
⎝ ⎠ (17.46)
∂x ∂y

Considere agora uma distribuição bidimensional de potenciais em torno de um ponto P, como é


mostrado na figura 17.5. Seja o potencial no ponto P igual a V0, e os potenciais nos quatro pontos em
torno dele iguais a V1, V2 V3 e V4, conforme é mostrado. Vamos agora substituir as derivadas na
equação 17.46 por diferenças do tipo (V0 - V1)/Δx (neste caso específico, esta é a inclinação da curva
de V entre os pontos P e 1). A diferença das inclinações, dividida pela distância incremental Δx é
aproximadamente igual a ∂2V/∂x2. A equação de Laplace pode agora ser reescrita como:

[( V2 − V0 ) / Δx] − [( V0 − V1) / Δx] ≅−


[( V3 − V0 ) / Δy] − [( V0 − V4 ) / Δy] (17.47)
Δx Δy

V3 3

Δy
V1 V0 V2
Δx Δx
1 P 2
Δy

V4 4

figura 17.5 - Construção para encontrar o potencial em P.

Fazendo Δx = Δy, teremos:

V1 + V2 + V3 + V4 − 4 V0 ≈ 0 (17.48)

ou:

1
V0 ≈ (V1 + V2 + V3 + V4 ) (17.49)
4

Se conhecermos o potencial nos pontos 1, 2, 3 e 4, podemos calcular o potencial no ponto P de


acordo com a equação 17.49. Em outras palavras, o significado físico da equação de Laplace é que o
potencial em um ponto é simplesmente a média dos potenciais dos quatro pontos que o circundam, a
uma mesma distância.

Exemplo 17.4
Considere a configuração Mostrada na figura 17.6. A placa superior está a um potencial de 40 V, e
isolada. O perfil em forma de U está no potencial zero. Calcular a distribuição de potenciais para esta
configuração, utilizando o método de solução repetitiva da equação de Laplace.

Solução:

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 165

Gap Gap
40 V

Fig 17.6 - Configuração do


exemplo 17.4 0
0

O valor de V no centro do quadrado será

40+0+0+0
=10 (V )
4

O potencial no gap será a média aritmética entre o potencial na placa superior e o potencial nulo:

40+ 0
=20V
2

40 V
20 V 20 V

10 V 0
0

0
Fig 17.7 - 1º cálculo do potencial

O valor do potencial no centro dos novos quadrados será:

40+ 20+10+0
=17.5 ( V)
4

0+0+10+0
=2..5 (V )
4

Calculando novamente os potenciais nos quadrados internos teremos:

10+17.5+ 2.5+ 0 40+17.5+17.5+10


=7.5V , = 21.25V
4 4

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 166

2.5+ 2.5+0+10
= 3.75V
4

40 V 20 V 40 40 40 20
20 V 20
0 0

17.5 17.5 0 17.5 21.3 17.5 0

0 10 V 0 0 7.5 10 V 7.5 0

2.5 2.5 0 2.5 3.8 2.5 0

0 0 0 0 0 0

Fig. 17.8 - 2º cálculo do potencial Fig. 17.9 - 3º cálculo do potencial

Os cálculos de potenciais podem prosseguir indefinidamente. quanto maior for o número de


potenciais calculados por esse processo, maior será a precisão. Finalmente, a figura 17.10 apresenta
um gráfico com o mapeamento dos potenciais eletrostáticos. Cada linha representa um valor de
potencial (30, 20, 15, 10, 5 e 2.5 V)

0 20 40 40 40 20
0

0 17.5 21.3 17.5


0

0 7.5 10 V 7.5

0 2.5 3.8 2.5

0 0 0 0
0

Fig. 17.10 - Mapeamento dos potenciais eletrostáticos

Apresentamos neste capítulo dois exemplos, um com a solução analítica da equação de Laplace,
outro com uma solução numérica. A solução analítica das equações de Laplace e Poisson se
restringem a casos onde a geometria é bastante simples, e por isso ela não é muito utilizada. A
solução numérica dessas equações é bastante comum, e métodos bastantes avançados já foram
desenvolvidos. Apesar de termos realizados exemplos de eletrostática, o mesmo procedimento é
realizado no caso de campos magnéticos, onde as complexidades de geometria e meios magnéticos
não lineares são ainda maior.

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 167

Literatura Adicional Sobre o Assunto:

Eletromagnetismo, J. A. Edminister, capítulo 8. (Disponível na Biblioteca).


Eletromagnetismo, J. D. Krauss, Capítulo 7. (Disponível na Biblioteca).
Eletromagnetismo, W. H. Hayt Jr, Capítulo 7. (Disponível na Biblioteca).

EXERCÍCIOS

1) - Quatro placas de 20 cm de largura formam um quadrado, conforme indicado na figura 3. se as


placas são isoladas entre si, e estão submetidas aos potenciais indicados, encontre o valor do
potencial nos pontos a e b, indicados na figura.

30 V

gap = 1 mm
a 5 cm

40 V 20 V

15 cm
10 cm b

5 cm

10 V
figura 1 - figura do problema 1

2) - Encontre o valor do potencial V nos pontos P1 e P2 da configuração abaixo.

3 cm

V=0

V = 100

9 cm

P1
3 cm

P2 9 cm

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino


ELETROMAGNETISMO I 168

3) - Um potencial em coordenadas cilíndricas é função apenas de r e φ, não o sendo de z. obtenha


as equações diferenciais separadas para R e Φ, onde V = R(r)Φ(φ), e resolva-as. A região é sem
cargas.

4) – Encontre uma expressão para V0 na figura abaixo, em função de V1, V2, V3 e V4, sabendo que
h1, h2, h3 e h4 são diferentes entre si.

V3 3
h3
V1 V0
h1 h2 V2
1 P 2
h4

V4 4

r
5) Dado o campo potencial V(r, φ) = V0 cos φ :
d
a) Mostre que satisfaz a equação de Laplace.
b) Descreva as superfícies de potencial constante.
c) Descreva especificamente as superfícies onde V = V0 e V = 0.
d) Escreva a expressão para o potencial em coordenadas cartesianas.

UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino

Você também pode gostar